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ELISIANE SCOTTINI
                    RAQUEL DE SIQUEIRA




VIVENCIANDO A SEXUALIDADE DO ADOLESCENTE EM PROCESSO DE
   ADOECIMENTO SOB O OLHAR DA TEORIA DE IMOGENE KING.




                      FLORIANÓPOLIS
                           2006
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
                CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
               DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
            CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
             ENFERMAGEM ASSISTENCIAL APLICADA




VIVENCIANDO A SEXUALIDADE DO ADOLESCENTE EM PROCESSO
DE ADOECIMENTO SOB O OLHAR DA TEORIA DE IMOGENE KING.



                                    Trabalho de Conclusão do Curso de
                                    Graduação em Enfermagem da
                                    Universidade Federal de Santa
                                    Catarina como requisito da Disciplina
                                    Enfermagem Assistencial da Oitava
                                    Unidade Curricular.

                                    ELISIANE SCOTTINI
                                    RAQUEL DE SIQUEIRA
                                    ORIENTADORA:
                                    ENFª.    DDA      JUSSARA       GUE
                                    MARTINI
                                    SUPERVISORAS:
                                    ENFª. IZIS GORETI COELHO
                                    ENFª. JULIANA HOMEM DA LUZ
                                    BANCA EXAMINADORA:
                                    PROFª. DDA BETINA HORNER
                                    MEIRELLES
                      FLORIANÓPOLIS
                     DEZEMBRO DE 2006.
“Já perdoei erros quase imperdoáveis, tentei substituir

      pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas

    inesquecíveis. Já fiz coisas por impulso, já me

   decepcionei com pessoas quando nunca pensei me

  decepcionar, mas também decepcionei alguém. Já

abracei pra proteger, já dei risada quando não podia,

fiz amigos eternos, amei e fui amado, mas também já

fui rejeitado, fui amado e não amei. Já gritei e pulei

   de tanta felicidade, já vivi de amor e fiz juras

  eternas, “quebrei a cara” muitas vezes! Já chorei

ouvindo música e vendo fotos, já liguei só para escutar

 uma voz, me apaixonei por um sorriso, já pensei que

fosse morrer de tanta saudade e tive medo de perder

alguém especial (e acabei perdendo)! Mas vivi! E ainda

vivo! Não passo pela vida... e você também não deveria

      passar! Viva!!! Bom mesmo é ir à luta com

  determinação, abraçar a vida e viver com paixão,

  perder com classe e vencer com ousadia, porque o

 mundo pertence a quem se atreve e a vida é MUITO

               para ser insignificante.”

                    Charlie Chaplin
AGRADECIMENTOS


       A Deus por tudo o que nos deu e principalmente por ter nos guiado nessa trajetória, nos
dando força para seguir em frente.
       A nossa orientadora Jussara Gue Martini por sua disposição, pela liberdade que nos deu e
por acreditar em nosso trabalho. Obrigada por não nos deixar desistir, mesmo quando as
dificuldades pareciam ser insuperáveis!
       À nossa supervisora, amiga e grande incentivadora Juliana Homem da Luz que muito nos
ajudou durante nossa trajetória. Esteve sempre disposta e pronta a colaborar conosco, dando
apoio e ótimas idéias. Tornou-se para nós um modelo a ser seguido com seu jeito cativante de
cuidar de crianças, adolescentes e acompanhantes.
       À Enfermeira Izis, que aceitou nos supervisionar durante as férias da Ju, nos auxiliando
quando necessário.
       À Professora Betina Meirelles por sua contribuição com o nosso trabalho.
       À Professora Miriam Borenstein que nos ensinou na prática o que é o cuidado
humanizado, não só com pacientes, mas com os acadêmicos também. Obrigada pelo sincero
carinho!
       Aos adolescentes com os quais convivemos e que muito nos ensinaram. Sem vocês, esse
trabalho não existiria. Obrigada por acreditar e fazer parte da nossa formação!
       À equipe de Enfermagem da Unidade A que sempre nos apoiou e nos auxiliou quando
necessário. Obrigada pelo carinho que vocês nos receberam e por serem colaboradoras desse
trabalho.
       Aos nossos amigos e companheiros de lanche, Martha e Júlio. Obrigada pelas terapias em
grupo, pelas palavras de força e incentivo e pelas boas risadas!
       Ao tio G. pela força e ajuda nos momentos necessários. Seus conhecimentos nos foram
muito úteis.
       Aos que souberam compreender nossa ausência, nos momentos em que necessitamos nos
afastar para nos dedicarmos a este trabalho.
AGRADECIMENTOS DE ELISIANE


        À Deus por me dar forças para continuar e por colocar pessoas maravilhosas na minha
vida!
        Aos meus pais, Albano e Delair, porque sem vocês eu não chegaria até aqui. Vocês são os
grandes responsáveis por eu estar aqui hoje. Sempre se sacrificaram para me dar uma boa
formação e se sou o que sou hoje, é por causa de vocês! Nada do que eu diga hoje será suficiente
para agradecê-los. Vocês sempre me apoiaram, me respeitaram e confiaram em minhas decisões.
Entenderam a minha ausência. Espero algum dia poder retribuir um pouco tudo o que vocês
fizeram por mim. Amo vocês!! Muito obrigada.
        Aos meus irmãos, Gianpaolo e Desiree, que sempre me apoiaram. Obrigada pelas brigas,
risadas e pelo carinho. Desculpem pela ausência.
        Aos meus familiares, que assistiram e compartilharam a minha caminhada. Obrigada pelo
carinho, pelas orações e pelo apoio!
        À minha irmã, amiga e companheira, não só de trabalho, mas também de trajetória, Quel.
Você sempre me deu força, esteve presente em momentos importantes da minha vida. Respeitou
meu jeito, minhas decisões, entendia meu mau humor e sempre me fazia rir com as suas
“loirices”. Você é muito, muito especial! Me deu força em vários momentos e nunca deixou que
eu desistisse. Me ensinou a ser mais tolerante, mais carinhosa e paciente. Tenho certeza que a
gente irá rir muito ainda junto, “pagar muito mico”.
Obrigada pela amizade e pelo carinho!! Te amo amiga!
        À família da Quel que me adotou nesses anos. Obrigada pelo carinho, respeito e amor que
vocês sempre tiveram comigo. Tenho certeza que foi Deus que colocou vocês em minha vida,
para compensar um pouco a ausência da minha família.
        Aos amigos do Cepon que ajudaram na minha formação, me apoiaram e sempre estiveram
dispostos a me ajudar.
        Fé, Robs, Ana, Sâmia e Cinthia, amigas com certeza! Vocês sempre me respeitaram e me
incentivaram! Obrigada pelo carinho e amizade.
        Júlio (Amore mio) e Fran: obrigada pelo carinho e pela ajuda sempre! Vocês estavam
presentes quando eu precisei, mesmo à distância.
        À todos que de alguma maneira contribuíram para minha formação: muito obrigada!
AGRADECIMENTOS DE RAQUEL


         Ao meu bom Deus por estar comigo nas horas em que mais precisei e me guiar pelo
melhor caminho.
         À minha mãe querida que em todos os momentos de minha vida esteve comigo, me deu
apoio em minhas decisões, confiando e acreditando em mim. Eu te amo mais do que qualquer
coisa nessa vida e agradeço todos os dias a Deus por você ser assim.
         Ao meu paizão do coração, Tio. Obrigada por acreditar em mim e dar todas as condições
para que eu pudesse chegar até aqui. O que eu sou hoje devo a você, que sempre se esforçou para
que eu pudesse encontrar o meu caminho e esteve sempre ao meu lado, me orientando, para que
eu pudesse tomar as decisões corretas. Você é meu pai, amigo, companheiro e ídolo. Te amo.
         Aos meus irmãos, Tata e Tato, obrigada pelo apoio, risadas, desentendimentos e
reconciliações. Por estarem sempre comigo, cuidarem de mim e me mimarem. Amo vocês
demais.
         Gabriel, meu sobrinho, por ser uma ótima companhia, estar sempre disposto a ajudar e
entender quando eu não podia atendê-lo.
         Dori, Led e Gabi, obrigada pela torcida, apoio e por entenderem minha ausência. Amo
vocês.
         À minha grande amiga e companheira de trabalho, Lisi. Aprendi muito com você nesses
últimos anos. Agradeço pela paciência, por respeitar meu jeito de ser e pela amizade que
construímos nesse período. Não posso deixar de agradecer também pelo meu cantinho em sua
casa sempre que precisei, pelas maravilhosas guloseimas preparadas com carinho e por tudo que
passamos juntas: as risadas, choros, noites em claro, conversas intermináveis e muitos, muitos
planos para o futuro. Chegou a hora de começarmos a realizá-los, amiga. Te amo muito ruiva.
         Carol e Mário, vocês sempre foram ótimos amigos e incentivadores. Acreditaram no meu
potencial até quando eu mesma duvidei dele. Obrigada por tudo. Vocês são meus amores.
         Manu, amigona, sempre disposta a ajudar. Florzinha você é uma pessoa muito especial,
que eu aprendi a amar e respeitar. Agradeço por tudo o que você e o Kile fizeram e fazem por
mim.
         Aos que contribuíram para que eu chegasse até aqui.
RESUMO


       Este trabalho de conclusão de curso relata a prática de cuidado de enfermagem ao
adolescente em processo de adoecimento. Foi desenvolvido na Unidade A do Hospital Infantil
Joana de Gusmão (HIJG), no período de 06 de outubro a 08 de dezembro de 2006, como
cumprimento da disciplina Enfermagem Assistencial Aplicada do Curso de Graduação em
Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Teve como principal objetivo cuidar do
adolescente em processo de adoecimento atendido no serviço de internação da Unidade A, com
enfoque na vivência de sua sexualidade, fundamentado na Teoria de Consecução de Metas
proposta por Imogene King. O trabalho foi realizado com cinco adolescentes, sendo descrito o
processo de cuidado realizado com quatro deles. Utilizamos como metodologia a observação
participante, processo de Enfermagem em consultas e dinâmicas vivenciais com os adolescentes,
acompanhantes e equipe de Enfermagem. Julgamos importante conhecer o significado da
vivência da sexualidade para o adolescente, durante o processo de adoecimento e hospitalização,
a fim de despertar, na equipe de saúde, um olhar mais cuidadoso para os modos de abordagem da
sexualidade desse adolescente, assistindo-o de forma integral. Buscamos, portanto, promover
crescimento profissional e pessoal, adquirir conhecimentos sobre o tema e trocar experiências
durante a vivência com os adolescentes, seus familiares e equipe de enfermagem da unidade de
internação.


DESCRITORES: Adolescência, Enfermagem; Sexualidade.
ABSTRACT


       This course conclusion work reports the Nursing care practice to the teenager in disease
process. It was developed in the Unit A of Childish Hospital Joana de Gusmão (HIJG), in the
period of October 06 to December 08 – 2006, for fulfill of the discipline Nursing Assistance
Applied of the Nursing Graduation Course of the Federal University of Santa Catarina. It had as
main goal, care of the teenager in disease process attended in the internment service of Unit A,
with focus in his sexuality living, based in the Theory of Goal Attainment proposed by Imogene
King. The work was accomplished with five teenagers, being described the care process of four
of them. We use as methodology the active observation, nursing process in consultation and
living dynamics with the teenagers, the companions and the nursing teamwork. We judged
important to know the meaning of the sexuality living to the teenager, during the disease process
and hospitalization, in order to awake the nursing team work, one look more careful with the
approach manners of the sexuality of this teenager, watching him of integral form. We seek
therefore promote professional and personal growth, acquire knowledge on the theme and to
change experiences, during the living with the teenagers, their family and the Unit A nursing
teamwork.


DESCRIBE: Adolescence, Nursing, Sexuality.
SUMÁRIO


1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 14


2. OBJETIVOS.......................................................................................................................................... 18
2.1 Objetivo Geral....................................................................................................................................... 18
2.2 Objetivos Específicos............................................................................................................................ 18


3. REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................................................. 20
3.1 Conhecendo a Trajetória de Imogene M. King.................................................................................... 20
3.2 Teoria de Consecução de Metas........................................................................................................... 20
3.3 Marco conceitual.................................................................................................................................. 21
3.4 Pressupostos.......................................................................................................................................... 21
3.5 Conceitos Inter-relacionados................................................................................................................. 22
3.6 Processo de Enfermagem...................................................................................................................... 24


4. METODOLOGIA.................................................................................................................................. 27
4.1 Local do Estágio.................................................................................................................................... 27
4.2 População Alvo..................................................................................................................................... 28
4.3 Período de Desenvolvimento................................................................................................................ 29
4.4 Aspectos Éticos..................................................................................................................................... 29
4.5 Revisando Objetivos e Avaliando as Estratégias................................................................................. 30
4.6 Consulta de Enfermagem...................................................................................................................... 33


5. REVISÃO DE LITERATURA............................................................................................................. 35
5.1 Adolescência........................................................................................................................................ 35
5.2 Sexualidade na adolescência................................................................................................................. 36
5.3 Bulimia.................................................................................................................................................. 38
5.4 Hipospádia............................................................................................................................................. 40
5.5 Hiperalgesia........................................................................................................................................... 41
6. PROCESSO DE ENFERMAGEM...................................................................................................... 44
6.1 MIA...................................................................................................................................................... 45
6.2 ROBERTA............................................................................................................................................ 51
6.3 MIGUEL.............................................................................................................................................. 57
6.4 DIEGO.................................................................................................................................................   60


7. DINÂMICAS VIVENCIAIS............................................................................................................... 63
7.1 Dinâmicas Vivenciais Realizadas com os Adolescentes...................................................................... 64
7.1.1 Título: Como me Vejo Agora e como Gostaria de Estar................................................................... 64
7.1.2 Título: Maior Presente do Mundo...................................................................................................... 66
7.1.3 Título: Oficina da Beleza I................................................................................................................ 68
7.1.4 Título: Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)........................................................................ 70
7.1.5 Título: Sistemas Reprodutores e Métodos Contraceptivos................................................................ 72
7.1.6 Título: Como Eu Era, Como Eu Estou e Como Eu Gostaria de Estar............................................... 74
7.1.7 Título: A Família Antes e Durante a Internação................................................................................ 78
7.1.8 Título: Conhecendo o Corpo.............................................................................................................. 81
7.1.9 Título: O Que Recebo? O Que Dou?.................................................................................................. 83
7.1.10 Título: Oficina da Beleza II.............................................................................................................. 89


7.2 Dinâmicas Vivenciais Realizadas com as Mães.................................................................................. 90
7.2.1 Título: O Adolescente Antes e Durante a Internação......................................................................... 90


7.3 Dinâmicas Vivenciais Realizadas com a Equipe De Enfermagem....................................................... 95
7.3.1 Título: Sexualidade e Sexo Mais Seguro........................................................................................... 95


8. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................ 98


REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 101


PARECER ................................................................................................................................................. 105
APÊNDICES............................................................................................................................................... 107
Apêndice A: Roteiro de Consulta de Enfermagem
Apêndice B: Questionário de Sexualidade
Apêndice C: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Apêndice D: Resumo Entregue para os Pais e/ou Responsáveis
Apêndice E: Convite da Oficina de Sexualidade para a Equipe de Enfermagem
Apêndice F: Ofício de Pedido de Materiais
Apêndice G: Folderes
Apêndice H: Certificados
Apêndice I: Dinâmicas Vivenciais
Apêndice J: Questionário para Capacitação com Equipe de Enfermagem


ANEXOS..................................................................................................................................................... 153
Anexo I: Doenças Sexualmente Transmissíveis
Anexo II: Sistemas Reprodutores
Anexo III: Carta dos Direitos Sexuais
“Temos o direito de ser igual quando a diferença nos inferioriza,
temos o direito de ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza.”
                           Boaventura Santos
1. INTRODUÇÃO


         O interesse em trabalhar com adolescentes surgiu durante a 4ª unidade curricular, ao
realizarmos uma oficina de sexualidade com estudantes de uma escola pública de um Estado da
Região Sul do Brasil. Nesse momento, percebemos o quanto esse tema causa constrangimento e
medo tanto para os adolescentes, quanto aos adultos, reforçando a necessidade de se trabalhar o
tema com os adolescentes. Na 5ª unidade curricular, tivemos nova oportunidade de discutirmos o
tema, dessa vez com pré-adolescentes de uma outra escola pública de um Estado da Região Sul
do Brasil. Nas duas oportunidades, o tema foi proposto pelos próprios adolescentes. Por tudo o
que foi exposto, e por sentirmos a falta de um estágio em que pudéssemos assistir ao público
dessa faixa etária durante a graduação, decidimos realizar nosso Trabalho de Conclusão de Curso
com adolescentes.
         Para Whaley & Wong (1999, p. 415) “A adolescência, que literalmente significa ‘crescer
dentro da maturidade’, é geralmente considerada como um processo psicológico, social e
maturacional iniciado pelas alterações puberais.”
         A população adolescente no Brasil (entre 10 e 19 anos) corresponde a 21% da população
nacional, segundo o último censo do IBGE. São 35.302.872 adolescentes, dos quais 50,4%
homens e 49,5% mulheres. Destes, 49% são negros e 50% definem-se como brancos (BRASIL,
2006).
         A adolescência é um período que consiste basicamente na dependência da família (pais) e
da escola (professores). Para tentar buscar a sua autonomia, o adolescente recorre ao
estabelecimento de grupos de semelhantes e de relações afetivas. Devido ao processo de
descobertas e de auto-afirmação, inerentes ao período, as relações afetivas tendem a ser fugazes.


                               Segundo estudo da UNICEF (2002), dos adolescentes brasileiros com faixa etária
                         entre 12 e 17 anos, 32,8% já haviam tido relações sexuais. Destes, 61% eram homens e
                         39% mulheres. Segundo o IBGE (2000), 9,5% de adolescentes entre 15 e 19 anos (82%
                         mulheres e 18% homens) vivenciam algum tipo de união, com vida sexual. Quanto à
                         prática do sexo seguro, dados de 2002 (UNICEF) apontaram que 52% dos adolescentes
                         com vida sexual utilizaram o preservativo nas relações sexuais já vivenciadas. Destes,
                         35,1% eram mulheres e 64,9% homens (BRASIL, 2006).


         Dentre os motivos expressos pelos adolescentes para serem sexualmente ativos estão a
necessidade de serem amados, o desejo de conquistar, a necessidade de se sentirem emancipados,
a necessidade de se igualarem aos seus pares e aos adultos e de serem aceitos por seus amigos e a
revolta contra os pais (WONG, 1999, p. 443).
       De acordo com a Federação Brasileira da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia (2001,
p. 89), “acredita-se que anualmente um milhão de jovens na faixa de 15 a 25 anos são atingidos
pelas doenças sexualmente transmissíveis (DST) e que um número significativo destes fica
estéril, como conseqüência da referida doença.”
       A sexualidade é intrínseca ao ser humano e é aprendida e vivenciada desde o nascimento,
porém, ela começa a ser percebida com mais intensidade durante a adolescência.
       Para adolescentes e jovens é através da sexualidade que eles vivenciam descobertas,
experimentações e liberdade, e quando desenvolvem sua capacidade para tomada de decisões, de
escolha, de responsabilidades e de afirmação de identidades. (Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2003, apud BRASIL, 2006).
       Na sua grande maioria, as políticas de saúde pública para adolescentes e jovens ignoram
que a sexualidade faz parte do desenvolvimento humano e da personalidade de cada um,
deixando, assim, de reconhecê-los como pessoas sexuadas, livres e autônomas. Isso fica claro não
somente na nomenclatura dos serviços oferecidos pelos centros de saúde, como também pela
própria estrutura do local. São locais que não oferecem atrativos aos jovens e os programas, como
planejamento familiar, são centralizados na constituição de uma família formal. Tal fato explica a
baixa freqüência de adolescentes nos serviços de saúde.
       Durante o processo de adoecimento, os profissionais de saúde tendem a anular o aspecto
da sexualidade do adolescente.


                              Para o adolescente, a hospitalização acresce a necessidade de adaptar-se ao
                        processo de transição de saúde-doença, evento que, pelo significado de sua imagem
                        corporal nesta fase e pela perda de autonomia compulsória, pode trazer-lhe angústias e
                        conseqüentes comportamentos inefetivos. Neste contexto, o adolescente em fase de
                        construção de sua identidade depara-se com imposições de redefinição da imagem
                        corporal, separação/individuação, elaboração de lutos, escala de valores, convívio com
                        o grupo de iguais, luta e fuga das gerações precedentes, enfrentamento dos ritos de
                        iniciação ao status adulto, papéis sexuais, temporalidade, entre outros... A interrupção
                        dos estudos, o distanciamento dos amigos, o afastamento de casa, a forte ligação com a
                        dor e sofrimento, o administrar o tratamento, o conviver com as condutas invasivas e
                        cirúrgicas necessárias, o lidar com a mudança no ritmo e estilo de vida, o abandono de
                        projetos configuram a transição de saúde-doença (MAAS, 2006, p. 3).


       No Brasil e em Florianópolis, a principal causa de morbidade hospitalar, em setembro de
2006, na faixa etária dos 10 aos 19 anos, foi queda sem especificação (2123 e 8 adolescentes,
respectivamente), seguida por queda do mesmo nível (724 e 3 adolescentes, respectivamente)
(BRASIL, 2006).
       A adolescência é um período de crise e mudanças, de esquecimento das autoridades no
que diz respeito a programas de saúde, fase em que a sexualidade começa a aflorar mais e as
experiências vivenciadas poderão influenciar na vida adulta. Além disso, a sexualidade é um
processo de aprendizagem e, infelizmente, a estrutura social e cultural repercute na maioria das
vezes de maneira negativa (tabus, mitos, preconceitos, interdições e relações de poder) sobre a
pessoa de modo a torná-la disfuncional.
       Os adolescentes têm direito à educação sexual, ao sigilo sobre a sua atividade sexual, ao
acesso à orientação sobre todos os métodos anticoncepcionais, a serem reconhecidos como
indivíduos autônomos e capazes de assumir a responsabilidade sobre sua saúde (BRASIL, 2006).
       Por todos os fatores apresentados acima, achamos fundamental trabalhar com os
adolescentes o processo de sexualidade vivenciado por eles, especialmente em períodos de
adoecimento.
       A equipe de saúde tem papel de suma importância na educação sexual do adolescente.
Muitos profissionais acabam “cedendo” esse papel de educador para os pais e professores por
falta de preparo nessa área. Já outros, mesmo sem preparo, atuam somente transmitindo valores e
experiências pessoais (geralmente carregadas de pré-julgamentos) deixando de passar
informações realmente importantes.
        Compreendemos, então, a adolescência como um período esquecido em termos de
atenção à saúde. O adolescente vê-se perdido entre o pediatra e o clínico geral, entre o não ser
mais criança e não ser adulto.
“Sem um caminho não tem o ir
Sem a verdade não tem o conhecimento
     Sem a vida não tem viver.”
         Thomas à Kempis
2. OBJETIVOS




      2.1 Objetivo Geral


      Cuidar do adolescente em processo de adoecimento atendido no serviço de internação da
Unidade A, com enfoque na vivência de sua sexualidade, fundamentado no referencial teórico de
Imogene King.


      2.2 Objetivos Específicos


        Aprimorar nossos conhecimentos teórico-práticos sobre a sexualidade do adolescente
        em processo de adoecimento;
        Conhecer a dinâmica de funcionamento do serviço e estrutura física da Unidade A do
        Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), com relação ao atendimento ao adolescente;
        Realizar cuidado de enfermagem segundo a teoria de King com o adolescente em
        processo de adoecimento;
        Conhecer as necessidades do adolescente em processo de adoecimento sobre a sua
        sexualidade;
        Desenvolver educação permanente de acordo com as necessidades identificadas;
        Auxiliar o adolescente em processo de adoecimento no processo de auto-conhecimento.
“Você não pode ensinar nada a um homem;
você pode apenas ajudá-lo a encontrar a resposta dentro dele mesmo."
                          Galileu Galilei
3. REFERENCIAL TEÓRICO




         3.1 Conhecendo a Trajetória de Imogene M. King


         Imogene M. King (nascida em 1923, nos Estados Unidos), completou sua graduação em
Enfermagem em 1945, no St. Johns’s Hospital School of Nursing, Missouri. Em 1948 tornou-se
Bacharel em Ciência da Educação de Enfermagem e nove anos após (1957) conquistou o título
de Mestre em Educação. Obteve o título de Doutora em Enfermagem pela Universidade de
Columbia, Nova Iorque, em 1961 e, em 1980, o título de Doutor Honorário, pela Universidade de
Illinois. Trabalhou como enfermeira assistencial, docente e administradora.
         Escreveu os seguintes livros: Toward a Theory for Nursing: General Concepts of Humans
Behavior (1971) e A Theory for Nursing: Systems, Concepts, Process (1981); sendo que, no
prefácio do primeiro, declara estar propondo uma estrutura conceitual à enfermagem e não uma
teoria de enfermagem. Já no segundo, ela relacionava seus conceitos à estrutura de assistência à
saúde.


         3.2 Teoria de Consecução de Metas


         Segundo George (1993, p.174-175), a estrutura conceitual proposta por King compõem-se
de três sistemas: sistemas pessoais, interpessoais e sociais.
         Os sistemas pessoais são compostos pelos indivíduos, nos quais cada indivíduo é um
sistema pessoal. Os sistemas interpessoais são formados por seres humanos em interação,
formando díades, tríades ou grupos maiores. À medida que aumenta o número de indivíduos que
interagem, aumenta a complexidade das interações. Os sistemas sociais são compostos por
grupos com interesses e necessidades em comum.
         “King desenvolveu a teoria com base em conceitos a partir do foco central que é o alcance
de objetivos de saúde para o cliente. Para ela, isso só pode acontecer através da interação e
transação entre o enfermeiro e cliente” (LEOPARDI, 1999, p. 90 – 91).
3.3 Marco conceitual


         O nosso marco conceitual envolve conceitos como: saúde, ambiente e sociedade,
enfermagem, ser humano enfermeiro e ser humano adolescente.
         Para a organização desse marco conceitual procuramos relacionar nosso pensar com o
pensar de Imogene King, em relação aos pressupostos e conceitos da Teoria de Consecução de
Metas.


         3.4 Pressupostos


         São pressupostos da teórica, segundo Leopardi (1999, p 90 – 91):


                               Os indivíduos são seres sociais, com sentimentos, racionais, perceptivos, reativos,
                         controladores, com propósitos e orientados para ação e no tempo;
                               O processo de interação é influenciado pelas percepções, objetivos, necessidades
                         e valores tanto do cliente quanto do enfermeiro;
                               É responsabilidade do pessoal de saúde informar os indivíduos de todos os
                         aspectos do cuidado à saúde para ajudá-los a tomar decisões conscientes;
                               Pode haver incongruência entre os objetivos dos fornecedores de cuidado e os
                         receptores. As pessoas têm o direito tanto de aceitar quanto de rejeitar qualquer aspecto
                         do cuidado à saúde;
                               Os pacientes querem participar ativamente no processo do cuidado;
                               Os pacientes são consciente, ativa e cognitivamente capazes de participar na
                         tomada de decisões.


         Nossos pressupostos foram construídos baseados no referencial teórico de Imogene King:
          Os adolescentes em processo de adoecimento são seres sociais que têm o direito de
          exercer sua sexualidade.
          É responsabilidade da enfermeira informar aos adolescentes sobre todos os aspectos
          relacionados a sua sexualidade para ajudá-los a tomar decisões conscientes.
          Os adolescentes em processo de adoecimento querem participar ativamente do seu
          cuidado.
          O processo de interação só ocorrerá se o adolescente permitir e/ou estiver interessado.


         Segundo Leopardi (1999, p.91), King faz sua inter-relação de conceitos através de
proposições com sua própria lógica e sistematização e daí estabelece já um modo de realizar
processo de Enfermagem. São elas:
Se a percepção é acurada nas interações, ocorrerão transações;
                               Se o enfermeiro e o cliente fazem transações, os objetivos serão atingidos;
                               Se os objetivos forem atingidos, ocorrerá satisfação;
                               Se ocorrem transações nas interações, o crescimento e desenvolvimento serão
                        fortalecidos;
                               Se as expectativas do papel e seu desempenho são percebidos pelo enfermeiro e
                        pelo cliente e forem congruentes, ocorrem transações;
                               Se houver conflito de papéis, ocorre estresse;
                               Se o enfermeiro, com conhecimentos e habilidades especiais, comunica
                        informações apropriadas, haverá alcance mútuo de objetivos.


       A teoria contribuiu e auxiliou na execução do trabalho, pois partindo das necessidades e
desejos expressos pelos adolescentes, ficou mais fácil interagir com eles, ocorrendo dessa forma a
transação e o alcance dos objetivos propostos.


       3.5 Conceitos Inter-relacionados


       A seguir, apresentaremos os conceitos que consideramos essenciais neste marco
conceitual e suas inter-relações: saúde, ambiente e sociedade, enfermagem e ser humano
adolescente e ser humano enfermeiro.


       SAÚDE


       “Experiências dinâmicas da vida de um ser humano que implicam ajustamentos contínuos
a estressores, no ambiente externo e interno, através do uso adequado dos recursos próprios para
alcançar o máximo potencial para a vida diária.” (KING, apud GEORGE, 1993, p.183).


       Entendemos saúde como a busca do bem-estar físico, psíquico e social, através da
adaptação aos estressores, neste caso a doença. O período da adolescência é, por si só, um
período de adaptação às mudanças e de busca do bem-estar, principalmente psíquico e social.
Essa adaptação se torna ainda mais difícil durante o processo de adoecimento, já que além de
tentar se adaptar às mudanças decorrentes da adolescência há, ainda, a necessidade de adaptação
à doença.
AMBIENTE/SOCIEDADE


       Segundo King (GEORGE, 1993, p.183), ambiente/sociedade é compreendido como
“porção de sistemas sociais de sua estrutura de sistemas abertos”.


       Definimos ambiente/sociedade como o espaço físico e social no qual o ser humano
adolescente em processo de adoecimento vive e interage. Neste caso, o ambiente hospitalar,
carregado do desconhecido, de incertezas, estigmas, medos e muitas vezes, isolamento e
distanciamento do seu grupo de relacionamento.


       ENFERMAGEM


       “Processo de ação, reação e interação, pelo qual enfermeira e cliente partilham
informações sobre suas percepções na situação de enfermagem.” (KING, apud IBDEM, p.183).


       Percebemos a enfermagem como um processo de interação entre o ser humano enfermeiro
e o ser humano adolescente em processo de adoecimento, com a finalidade de trabalhar uma
necessidade percebida por ambos, nesse caso a sexualidade. Nessa interação o adolescente
partilha com o enfermeiro sua percepção sobre a sexualidade enquanto vivencia a doença. Em
contrapartida o enfermeiro partilha com o adolescente de que maneira este pode exercer sua
sexualidade. Tais objetivos só serão alcançados se a interação ocorrer de forma eficaz e se houver
interesse de ambas as partes.


       SER HUMANO


                              São seres sociais, conscientes, racionais, perceptivos, controladores,
                        intencionais, voltados à ação e voltados ao tempo... Possuem três necessidades
                        fundamentais de saúde: informações de saúde que sejam úteis na época certa de
                        sua necessidade e que possam ser utilizadas, necessidade de atendimento que
                        busque prevenção da doença, necessidade de atendimento quando os seres
                        humanos forem incapazes de ajudar a si mesmos (KING, apud GEORGE, 1993,
                        p. 183).
Caracterizamos, neste estudo, como ser humano o adolescente em processo de
adoecimento e a enfermeira.
       O ser humano adolescente em processo de adoecimento é um ser individual capaz de
interagir com outros adolescentes e de exercer a sua sexualidade, independente do seu estado. A
adolescência é um período de crise, caracterizado pelo rápido crescimento e desenvolvimento,
manifestados por transformações físicas, psíquicas e sociais. A crise pode ser intensificada
durante o processo de adoecimento, pelo fato de que estando doente ele acaba se sentindo
diferente/excluído dos outros adolescentes que fazem parte do seu círculo de relacionamentos.
       A enfermeira é a responsável, no processo de cuidado, pela troca de informações com o
adolescente em processo de adoecimento, a fim de que este se torne um ser consciente de suas
ações. Através do cuidado, a enfermeira auxilia o adolescente a enfrentar esse período de
transformações e a encarar a sexualidade como algo inerente ao ser humano que deve ser
vivenciada de forma consciente.




       3.6 Processo de Enfermagem


       O processo é a ação, reação, interação e a cadeia de transação, onde enfermeiro e cliente
compartilham informações acerca de suas percepções, identificam os problemas, estabelecem
objetivos mútuos e concordam com os meios para atingi-los.
       De acordo com King (1971, p. 91), “a enfermeira e o paciente irão aprender e amadurecer
no processo.”
       Para que o processo ocorra, King utiliza uma metodologia baseada no Prontuário
Orientado para o Problema de Weed. O processo inclui os seguintes elementos:
         Dados de base: informações coletadas no prontuário do adolescente (histórico médico,
         exame físico, resultados de exames e informações de familiares e de outros profissionais
         e dos adolescentes através da consulta de Enfermagem).
         Diagnóstico de Enfermagem: sinais e sintomas ou interferências na habilidade em
         vivenciar sua sexualidade. Detecção das necessidades de cuidado relacionadas à
         sexualidade dos adolescentes, permitindo planejar a assistência.
Planejamento: ajuda os indivíduos a atingirem o estado de saúde desejado, através de
meios para cuidados continuados, focalizando a participação do adolescente.
Implementação: ocorre nas atividades que visam à satisfação das metas. É uma
continuação da transação.
Avaliação: avaliação contínua do alcance de metas, pela qual se verifica se os objetivos
foram alcançados.


                     Visto que uma das funções da enfermeira é ajudar o indivíduo a identificar suas
              necessidades e estabelecer metas realistas para satisfazê-las, a enfermeira é responsável
              por usar métodos para garantir informação sobre a percepção do paciente da situação.
              Através da comunicação, a enfermeira observa e registra o que o paciente diz que está
              sentindo ou pensando sobre uma determinada situação. Observações do comportamento
              oferecem, também, pistas sobre as necessidades individuais e a percepção da situação
              pelo paciente (KING, 1971, p.94).
"Quando você tem uma meta,
o que era um obstáculo passa a ser uma das etapas do seu plano."
                    Gerhard Erich Boehme
4. METODOLOGIA




       4.1 Local do Estágio


       A prática assistencial ocorreu na Unidade A do Hospital Infantil Joana de Gusmão
(HIJG).
       O Hospital Infantil Joana de Gusmão situa-se na rua Rui Barbosa, número 152, no bairro
Agronômica em Florianópolis, no estado de Santa Catarina. Foi inaugurado em 13 de março de
1979, ano internacional da criança, substituindo o Hospital Edith Gama Ramos.
       Possui uma área de 22.000 m² e é dividido em Ambulatório (Grupo A, B, C) e
Ambulatório de Oncologia, Hospital Dia, Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais e
nas unidades de internação: A (Adolescente e Apartamento), B, C, D, E, Berçário, Emergência
Interna, Isolamento, Oncologia, Queimados, Ortopedia, Centro Cirúrgico, Unidade de
Tratamento Intensivo (UTI) Geral e UTI Neonatal.
       As unidades são especializadas em: Cardiologia, Cirurgia (Pediátrica Geral, Plástica,
Oftalmologia,   Ortopedia,    Otorrinolaringologia,   Urologia,   Vascular,   Bucomaxilofacial),
Desnutrição, Gastroenterologia, Nefrologia, Neurocirurgia, Neurologia, Oncologia, Queimadura,
Pneumologia e Terapia Intensiva.
       O HIJG atua como pólo de referência Estadual para as patologias de baixa, média e alta
complexidade, sendo: 68,83% pacientes oriundos de Florianópolis e da Grande Florianópolis e
31,17% de outros municípios do Estado de Santa Catarina. Atualmente, conta com 146 leitos
ativos e um quadro funcional composto por 856 servidores.
       Tem como missão prestar, de acordo com princípios éticos e humanizados,
atendimento     preventivo,     curativo     e    social     a    crianças      e   adolescentes,
bem como formar e capacitar recursos humanos e incentivar a pesquisa clínica.
       A Unidade A presta assistência a adolescentes – Sistema Único de Saúde (SUS), assim
como a lactentes, crianças e adolescentes - conveniados/particulares, nas diversas especialidades,
contando atualmente com 20 leitos subdivididos em enfermarias e apartamentos.
       Na Unidade A existe uma sala de recreação que funciona em alguns dias da semana.
Nessa sala há vários jogos e um computador, no qual o adolescente pode acessar a Internet em
horário controlado e com restrições. Além do computador, não há nada que seja específico para a
faixa etária da adolescência. Algumas vezes, adolescentes ficam internados no mesmo quarto que
crianças.
        O HIJG oferece ainda, serviço de pedagogia que funciona todos os dias das 13:30 às 16
horas. Existem duas classes hospitalares: uma de 1ª à 4ª série do ensino fundamental e outra de 5ª
à 8ª série.
        No início do estágio, realizávamos nossas atividades na sala de prescrição médica da
Unidade A. Depois de mais ou menos duas semanas, uma das técnicas da equipe de Enfermagem,
sugeriu uma sala que não estava sendo utilizada no momento, que ficava ao lado da Unidade A.
Após contato com o responsável pela sala, conseguimos autorização para utilizá-la durante nosso
trabalho, proporcionando assim maior privacidade e conforto aos adolescentes.
        A sala possuía dois sofás, uma mesa, duas cadeiras, ramal telefônico e ar condicionado.
Após decorarmos a sala de acordo com a temática e com ajuda dos adolescentes, passamos a
utilizá-la em nossas atividades.




Sala dos Adolescentes       Acadêmicas realizando a limpeza    Acadêmicas e Supervisoras na
                                                                     Inauguração da Sala


        4.2 População Alvo


        A prática assistencial teve como público alvo os adolescentes internados na Unidade A do
Hospital Infantil Joana de Gusmão no período de 06 de outubro a 08 dezembro de 2006.
4.3 Período de Desenvolvimento


        A prática assistencial foi desenvolvida entre os dias 06 de outubro e 08 de dezembro de
2006.


        4.4 Aspectos Éticos


        “O termo Ética refere-se aos padrões de conduta moral, isto é, padrões de comportamento
relativos ao paciente, ao patrão e aos colegas de trabalho.” (Ética Profissional de Enfermagem,
apud www.arquivomedico.hpg.ig.com.br)


                        [...]Respeitar todas as confidências que seus pacientes fizerem durante o
                        serviço; jamais comentar em público durante as horas de folga, qualquer
                        incidente ocorrido no hospital nem de informações sobre seu doente; respeitar
                        sempre a intimidade de seu paciente; não permitir preconceitos de raça, cor,
                        religião ou opção sexual [...] (Ibdem)

        A Resolução 160 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN, 2006), estabelece o
Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem:


                              Art.1ºA Enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde do ser
                        humano e da coletividade. Atua na promoção, proteção, recuperação da saúde e
                        reabilitação das pessoas, respeitando os preceitos éticos e legais [...]
                              Art.3º O Profissional de Enfermagem respeita a vida, a dignidade e os
                        direitos da pessoa humana, em todo o seu ciclo vital, sem discriminação de
                        qualquer natureza [...]

        São deveres do profissional de Enfermagem:

                              [...] Art.21º Cumprir e fazer cumprir os preceitos éticos e leais da
                        profissão.
                              Art.22º Exercer a Enfermagem com justiça, competência,
                        responsabilidade e honestidade.
                              Art.23º Prestar Assistência de Enfermagem à clientela, sem discriminação
                        de qualquer natureza [...]
                              Art.26º Prestar adequadas informações ao cliente e família a respeito da
                        assistência de Enfermagem, possíveis benefícios, riscos e conseqüências que
                        possam ocorrer.
                              Art.27º Respeitar e recorrer o direito do cliente de decidir sobre sua
                        pessoa, seu tratamento e seu bem estar.
                              Art.28º Respeitar o natural pudor, a privacidade e a intimidade do cliente.
Art.29º Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em
                           razão de sua atividade profissional, exceto nos casos previstos em Lei [...]


       É proibido:


                                 [...] Art.54º Publicar trabalho com elementos que identifiquem o cliente,
                           sem sua autorização.
                                 Art.55º Publicar, em seu nome, trabalho científico do qual não tenha
                           participado ou omitir em publicações, nome de colaboradores e/ou orientadores.
                                 Art.56º Utilizar-se sem referência ao autor ou sem autorização expressa,
                           de dados, informações, ou opiniões ainda não publicados.
                                 Art.57º Sobrepor o interesse da ciência ao interesse e segurança da pessoa
                           humana [...]


       Todos os pais ou responsáveis pelos adolescentes recebiam um Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, autorizando a participação do mesmo na atividade. Aos adolescentes foi
garantido o sigilo e a privacidade, assim como a liberdade em se retirar da prática quando
desejasse.
       Tanto pais ou responsáveis como os adolescentes, tinham conhecimento sobre a proposta
da prática assistencial.


    4.5 Revisando Objetivos e Avaliando as Estratégias


    OBJETIVO 1: Aprimorar nossos conhecimentos teórico-práticos sobre a sexualidade do
adolescente em processo de adoecimento.


    Estratégias:
          Fizemos revisão de literatura referente a temática;
          Consultamos dados do Ministério da Saúde;
          Acompanhamos o adolescente em processo de adoecimento, durante o seu período de
          internação;
          Participamos de uma Oficina de Sexualidade e Sexo Mais Seguro, promovida pela
          Fundação Açoriana para o Controle da Aids.
Avaliação: Esse objetivo foi alcançado quando as acadêmicas compreenderam o
processo de desenvolvimento da sexualidade do adolescente em processo de adoecimento.




     OBJETIVO 2: Conhecer a dinâmica de funcionamento do serviço e estrutura física da
Unidade A do Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), com relação ao atendimento ao
adolescente.


     Estratégias:
         Realizamos visita prévia a Unidade A observando rotina de atendimento e conhecendo a
         equipe de Enfermagem;
         Realizamos acolhimento com os adolescentes que vivem em processo de adoecimento ,
         pais ou responsáveis e equipe de Enfermagem;
         Realizamos cuidado de enfermagem, segundo rotina da Unidade A.


     Avaliação: Esse objetivo foi alcançado quando conhecemos o trabalho desenvolvido na
unidade e desenvolvemos a prática segundo as rotinas do local e integrada aos demais
procedimentos de enfermagem.




   OBJETIVO 3: Realizar consulta de enfermagem segundo a teoria de King, com adolescente
em processo de adoecimento.


   Estratégias:
         Estudamos e compreendemos a Teoria de King;
         Construímos um roteiro de consulta baseado na Teoria de King;
         Desenvolvemos consulta de enfermagem com quatro adolescentes em processo de
         adoecimento tendo como base a Teoria de King.


     Avaliação: O objetivo foi alcançado quando realizamos a consulta de Enfermagem com os
adolescentes com base na Teoria de King.
OBJETIVO 4: Conhecer as necessidades do adolescente em processo de adoecimento
sobre sua sexualidade.


     Estratégias:
         Identificamos as necessidades dos adolescentes durante a consulta e cuidado de
         enfermagem;
         Promovemos oficinas e discussões temáticas com os adolescentes da Unidade A, a
         partir das necessidades identificadas.


     Avaliação: O objetivo foi alcançado, pois conseguimos identificar e trabalhar com as
principais dúvidas dos adolescentes sobre o tema.




     OBJETIVO 5: Desenvolver educação permanente de acordo com as necessidades
identificadas.


     Estratégias:
         Realizamos oficinas com dinâmicas, cartazes e discussões em grupo com a equipe de
         Enfermagem, com os pais e com os adolescentes;
         Elaboramos folderes e uma cartilha com enfoque na sexualidade do adolescente.


     Avaliação: Alcançamos o objetivo, pois ao final das oficinas conseguimos satisfazer as
necessidades dos adolescentes, da equipe e dos pais referentes ao tema. Cabe ressaltar, que não
estava em nossos objetivos trabalhar com os pais dos adolescentes. Mas por solicitação dos
mesmos, montamos uma oficina voltada a eles.




     OBJETIVO 6: Auxiliar o adolescente em processo de adoecimento no seu auto-
conhecimento.
Estratégias:
         Promovemos discussões temáticas em oficinas;
         Realizamos a troca de informações durante as consultas de enfermagem.


     Avaliação: O objetivo foi alcançado quando os adolescentes demonstraram compreensão e
aceitação do processo por eles vivenciado.


     4.6 Consulta de Enfermagem


       A consulta de enfermagem foi realizada com os adolescentes da Unidade A, do HIJG,
sendo que para a mesma, nos baseamos nos Princípios e Diretrizes do Atendimento a
Adolescentes e Jovens, do Ministério da Saúde (2005). O mesmo tem como princípios
fundamentais:


                               Ética – a relação profissional de saúde com os adolescentes e jovens deve ser
                         pautada pelos princípios de respeito, autonomia e liberdade, prescritos pelo Estatuto da
                         Criança e do Adolescente e pelos códigos de ética das diferentes categorias.
                               Privacidade – adolescentes e jovens podem ser atendidos sozinhos, caso desejem.
                               Confidencialidade e sigilo – adolescentes e jovens devem ter a garantia de que as
                         informações obtidas no atendimento não serão repassadas aos seus pais e/ou
                         responsáveis, bem como aos seus pares, sem a sua concordância explícita. No entanto,
                         eles devem ser informados sobre as situações que requerem quebra de sigilo, ou seja,
                         sempre que houver risco de vida ou outros riscos relevantes tanto para o cliente quanto
                         para terceiros, a exemplo de situações como abuso sexual, idéia de suicídio, informação
                         de homicídios e outros.


       A consulta foi realizada com o intuito de conhecer os adolescentes e levantar suas
necessidades frente aos modos de viverem a sua sexualidade, seguindo um roteiro (apêndice A).
A partir da consulta, realizávamos atividades para satisfazer as necessidades identificadas.
       Realizamos quatro consultas de Enfermagem, sendo que três destas serão relatadas no
processo de Enfermagem.
       Nas primeiras duas semanas, as consultas foram realizadas na sala de prescrição médica
da Unidade. Após esse período, uma das funcionárias da equipe nos indicou a existência de uma
sala, não utilizada, para a realização das nossas atividades.
“Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia, eu não encho mais a casa de alegria.
    Os anos se passaram enquanto eu dormia, e quem eu queria bem me esquecia.[...]
        Eu não tenho mais a cara que eu tinha, no espelho essa cara não é minha.
Mas é que quando eu me toquei, achei tão estranho, a minha barba estava deste tamanho.”
                                   Arnaldo Antunes
5. REVISÃO DE LITERATURA




       5.1 Adolescência


       A adolescência é uma fase de indefinição, de transição, e ainda, um período passível de
conflitos e crises, porém um período de busca de liberdade. Deve-se distinguir entre a puberdade,
que é um processo de mudança física, e a adolescência, que é, em grande parte, um processo
psicológico de mudança. Esses processos deveriam ser sincronizados, porém, muitas vezes isso
não ocorre, e o adolescente precisa dar conta deste desequilíbrio e o estresse adicional.


                               A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu na Reunião sobre Gravidez e
                         Aborto na Adolescência, em 1974, um conceito de adolescência, caracterizada como
                         uma fase do desenvolvimento humano em que:
                         a. O indivíduo passa do ponto do aparecimento inicial dos caracteres sexuais
                         secundários para a maturidade sexual.
                         b. Os processos psicológicos do indivíduo e as formas de identificação evoluem da fase
                         infantil para a fase adulta.
                         c. Ocorre uma transição do estado de dependência econômica total a outro de relativa
                         independência (OMS, 1975, apud REIS, 1993).


       De acordo com a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, art. 2º, “Considera-se criança, para
os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze
e dezoito anos de idade.”
       Na fase da adolescência, a identidade sexual é formada por fatores de ordem biológica,
psicológica e social. Os fatores biológicos provocam alterações no corpo, desencadeadas pelos
hormônios secretados. Os psicológicos caracterizam-se por uma aceleração do desenvolvimento
cognitivo e uma consolidação da formação da personalidade; socialmente, a adolescência é um
período de preparo intensivo para a idade adulta jovem.
       A adolescência é dividida em três períodos: a adolescência inicial, dos 10 aos 13 anos; a
adolescência média, dos 14 aos 16 anos; e a adolescência tardia, dos 17 aos 20 anos incompletos.
Cada fase tem suas peculiaridades.
       Na adolescência inicial ocorre o aparecimento dos caracteres sexuais secundários. Têm
início as fantasias sexuais (que podem vir acompanhadas pela culpa) e a prática masturbatória,
justificada pela curiosidade acerca das mudanças corporais que iniciam. As relações costumam
ser platônicas, sem contato físico, tais como conversas ao telefone. Na adolescência média o nível
de energia sexual é alto e o contato físico é mais valorizado. O comportamento sexual possui
natureza exploratória, ocorre apenas busca de sensações e os adolescentes costumam negar as
conseqüências do seu comportamento sexual. Na adolescência tardia o comportamento sexual é
mais expressivo e menos exploratório, as relações mais íntimas e há preferência por relações mais
duradouras. Nessa fase, há uma maior preocupação com os riscos e o uso de barreiras protetoras
na relação sexual (REATO, In: FRANÇOSO; GEJER e REATO, 2001).
       Na adolescência, a idade cronológica nem sempre caracteriza biopsicossocialmente o
indivíduo, já que o início e desenvolvimento da puberdade dependem de cada pessoa
(CHIPKEVITCH, 2001, p. S135). É um período em que há necessidade de se fazer descobertas e
conquistas pessoais. É uma época de escolhas e construção de um novo modo de entender a vida,
inclusive a sexual.


       5.2 Sexualidade na adolescência


       A sexualidade é mais ampla que a genitalidade, inclui a reprodução e a busca do prazer
como princípio de equilíbrio biopsicossocial e espiritual.
       A construção da sexualidade tem início a partir das primeiras experiências afetivas com
seus cuidadores e se desenvolve através das relações com a família, amigos e influências
culturais. (SUPLICY, 1994 apud SIQUEIRA, 2003, p. 12)

                              A sexualidade faz parte da personalidade de cada um, é uma necessidade básica e
                        um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida.
                        Sexualidade não é sinônimo de coito (relação sexual) e não se limita à ocorrência ou
                        não de orgasmo. Sexualidade é muito mais que isso, é a energia que motiva a encontrar
                        o amor, contato e intimidade e se expressa na forma de sentir, nos movimentos das
                        pessoas, e como estas tocam e são tocadas. A sexualidade influencia pensamentos,
                        sentimentos, ações e interações e portanto a saúde física e mental. Se saúde é um direito
                        humano fundamental, a saúde sexual também deveria ser considerada um direito
                        humano básico (WHO TECHNICAL REPORTS SERIES, 1975, Saiba mais sobre
                        sexualidade, apud www.adolescencia.org.br).


       A sexualidade de uma pessoa depende de três fatores inter-relacionados: identidade
sexual, identidade de gênero e comportamento sexual. Esses fatores afetam o crescimento,
desenvolvimento e funcionamento de sua personalidade. Identidade sexual é um dos elementos
fundamentais da identidade geral, que é delineada desde os primeiros momentos da vida e
definida na adolescência, compreendendo a interação com os pais, fatores morais, culturais,
sociais, religiosos, entre outros. Identidade de gênero refere-se ao sentido que o indivíduo tem de
sua masculinidade ou feminilidade. A formação da identidade de gênero está baseada em atitudes
parentais e culturais, na genitália externa e na influência genética. O papel de gênero é construído
de forma cumulativa, através de experiências vivenciadas. Ele pode ser descrito como todas as
coisas que a pessoa diz ou faz para mostrar-se detentora da condição de menino ou homem,
menina ou mulher.
       Orientação sexual é a preferência da pessoa para estabelecer vínculos eróticos.
Aprendemos, desde crianças, que a escolha afetivo-sexual deve ser determinada pelo padrão
heterossexual. O problema é que ao passar isso à criança como a única verdade possível a ser
aceita e cumprida, muito dificilmente ela terá, mais tarde, uma visão menos preconceituosa da
homossexualidade.
       Os adolescentes expressam sua sexualidade de diferentes formas, como repressão do
próprio impulso ou aceitação do ato, mesmo sem envolvimento afetivo. O impulso sexual
ocorrerá em diferentes graus de interesse e de libido e sua forma de expressão dependerá da
personalidade, de experiências vivenciadas, das oportunidades que surgem ao longo desse
período, das expectativas sociais, de legados familiares, das expectativas do grupo no qual o
jovem é inserido, dentre outros. O desejo pela relação sexual vai depender da identificação do
adolescente pelo outro.


                                Para o desenvolvimento do papel sexual ou de gênero, o adolescente precisa de
                          pessoas complementares, que desempenham outros papéis, e este contato provoca a
                          necessidade de formar vínculos afetivos, que vão determinar suas novas experiências.
                          Nessa fase, a troca afetiva pode ou não ser valorizada e, dependendo das vivências, essa
                          troca pode determinar dificuldades na formação de vínculos afetivos mais profundos.
                                 [...] A vivência do ato sexual reorganiza suas experiências sexuais anteriores,
                          mas os medos impedem que ele vivencie de forma plena esse momento, o que pode
                          produzir insegurança em relação ao futuro. O significado pessoal que cada adolescente
                          dará à sexualidade pode alterar suas expectativas, criando, ou dissolvendo problemas. O
                          ato sexual pode provocar frustrações, ou ser fonte de estímulo permanente (COSTA et
                          al, 2001, p.S220).


       Um dos pontos mais importantes na sexualidade do adolescente, que acaba afetando
relacionamentos e o próprio ato sexual, é a questão da imagem corporal. Todas as alterações que
ocorrem aos poucos durante a adolescência, exigem sucessivas reconstruções e reformulações da
imagem que temos do próprio corpo. Segundo alguns estudos, a imagem corporal estabelecida
durante a adolescência é aquela que os indivíduos terão durante toda a vida. De acordo com
Whaley & Wong (1999, p. 424), “Eles perderam a segurança de um corpo familiar e sentem
estranheza a respeito de seus corpos alterados.”


                               A imagem corporal rapidamente mutável do adolescente durante o
                         desenvolvimento puberal torna-os bastante inseguros sobre seus corpos. A doença, a
                         intervenção médica ou cirúrgica e a hospitalização aumentam sua preocupação em
                         relação à normalidade. [...] Com freqüência, seus temores pela perda de controle e pela
                         alteração da imagem corporal são demonstrados como confiança excessiva, vaidade ou
                         uma atitude de ‘sabe-tudo’ (WONG, 1999, p. 549).


       A imagem corporal, principalmente das meninas, é, também, profundamente afetada pela
banalização do sexo e erotização precoce. Quando se é criança e se imita a dançarina de um
grupo de axé, a “funkeira”, a modelo internacional ou a atriz/ cantora famosa e de corpo
escultural, não existe a intenção da sensualidade, mas apenas está em uma fase de identificação.
Mas quando a criança cresce e entende o que imitava como objeto de desejo sua auto-estima pode
ser destruída por não conseguir se igualar à pessoa desejada.
       Essa erotização precoce reafirma a discriminação ao corpo “gordinho”. Cada vez mais,
existem adolescentes realizando lipoaspiração, passando horas dentro de uma academia em busca
de um corpo perfeito, cheio de curvas e livre das “gordurinhas”, celulites e estrias. Com isso, o
próprio ato sexual, acaba ficando separado do laço afetivo, pois a mulher entende que para ser
aceita e ser amada, necessita ser desejável. E isso, ela só irá conseguir se tiver o corpo perfeito.
       Nesse aspecto, não só a mídia é culpada, mas também a sociedade. A mídia vende a idéia
do corpo perfeito e da beleza, através do culto à imagem transmitida em programas voltados para
mulheres que vendem produtos para ginástica e para emagrecer, dão dicas de dietas e de cirurgias
para melhorar o aspecto do corpo. A sociedade dá o aval a esses programas, dando audiência e
comprando os produtos anunciados. Cada vez mais, as pessoas ficam escravas da própria
imagem.


       5.3 Bulimia


       A bulimia consiste de episódios recorrentes do consumo de grandes quantidades de
alimentos, num período limitado de tempo, acompanhados por um sentimento de perda do
controle. O indivíduo tem comportamentos compensatórios recorrentes - como vômitos auto-
induzidos, uso de laxantes ou diuréticos, jejum e exercícios excessivos – para evitar o ganho de
peso. Para qualificar o transtorno, a compulsão periódica e os comportamentos compensatórios
inadequados devem ocorrer, em média, pelo menos duas vezes por semana por 3 meses.
(BALLONE, 2003)
       A interrupção social ou desconforto físico terminam o episódio de compulsão periódica,
que freqüentemente é seguido por sentimentos de culpa e depressão.
       Os indivíduos com bulimia avaliam a si mesmos predominantemente com base na forma e
peso do corpo. Basicamente é um paciente com sentimento de inferioridade e auto-estima baixa.
       Os pacientes com bulimia tipicamente se envergonham de seus problemas alimentares e
procuram ocultar seus sintomas. O paciente reconhece o absurdo de seu comportamento, mas por
não conseguir controlá-lo sente-se inferiorizado, incapaz de conter a si mesmo, por isso vê a si
como uma pessoa desprezível.
       As compulsões periódicas geralmente ocorrem em segredo, ou dissimuladas,tanto quanto
possível. Um episódio pode, ou não, ser planejado de antemão e em geral (mas nem sempre) é
caracterizado por um consumo rápido. A compulsão periódica é tipicamente desencadeada por
estados de humor disfóricos, estressores interpessoais, intensa fome após restrição por dietas, ou
sentimentos relacionados a peso, forma do corpo e alimentos. (BALLONE, 2003)
       A técnica compensatória mais comum é a indução de vômito após um episódio de
compulsão periódica. Os efeitos imediatos do vômito incluem alívio do desconforto físico e
redução do medo de ganhar peso.
       A etiologia da doença não é certa ainda. Existem vários possíveis fatores causais:
         Biológicos: os níveis de endorfina plasmática estão aumentados em alguns pacientes
         com bulimia que vomitam, levando a possibilidade de que os sentimentos de bem-estar
         experimentados por alguns deles após o vômito possam ser mediados pelo aumento dos
         níveis de endorfina.
         Sociais: pacientes tendem a ser ambiciosos e respondem às mesmas pressões sociais
         para a magreza. Muitos são deprimidos, e existe uma depressão familiar aumentada.
         Além disso, a grande maioria dos pacientes bulímicos, têm família com menor
         intimidade e maiores conflitos entre os seus membros. A influência cultural tem sido
         apontada como um forte desencadeante, já que o corpo magro é encarado como símbolo
         de beleza, poder, autocontrole e modernidade.
Psicológicos: a doença geralmente atinge a adolescentes, pois estes, têm dificuldades
         com as demandas da adolescência e maior instabilidade emocional.
       O tratamento consiste de várias intervenções incluindo psicoterapia individual de enfoque
cognitivo-comportamental, terapia de grupo, terapia familiar e farmacoterapia.


       5.4 Hipospádia


       Hipospádia é uma malformação congênita, caracterizada pela abertura anormal do meato
urinário, em diferentes locais na face ventral do pênis, ou mais raramente na bolsa escrotal. Na
maioria dos casos é acompanhada por uma alteração do prepúcio, sendo que este passa a ter o
formato de um capuz. Em alguns casos, ao ficar ereto o pênis apresenta curvatura para baixo, em
direção à bolsa escrotal. (MAKSOUD, 1998)
       Esta malformação ocorre por múltiplos fatores, podendo ser genético (Ex.: Sindrome de
Reifenstein) e/ou hormonal (Ex.: deficiência da enzima "5-alfa-redutase", ou deficiência de
receptores hormonais em nível celular do pênis).
       O tratamento começa logo após o nascimento, evitando a circuncisão, pois o prepúcio é
essencial para a reconstrução do pênis. Em alguns casos selecionados há necessidade de
tratamento hormonal pré-operatório. Na maioria dos casos o tratamento cirúrgico é realizado
numa única cirurgia, sendo que a idade ideal para a cirurgia é entre os 6 e 18 meses de vida,
diminuindo o risco de trauma emocional. (TRIGUEIRO)
       O tratamento cirúrgico visa :
         Permitir que o paciente urine de pé.
         Melhora estética
         Evitar as conseqüências psicológicas de órgãos genitais malformados
         Permitir que no futuro tenha função sexual normal.
         20 – 40% necessitam reoperações, por vazamentos (fístula), estreitamentos (estenose)
         ou necrose na nova uretra.
         Infecções urinárias
         Alterações psicológicas (insegurança, baixa-estima, ....)
       As cirurgias complementares para correção destas complicações deverão ser feitas com
intervalo entre elas de no mínimo 6 a 9 meses. O resultado estético definitivo lembra o de uma
circuncisão, e só ocorre após 12 meses da cirurgia, mas sofre alterações, melhorando seu aspecto
durante a puberdade.
       Podem ocorrer complicações pós-operatórias e as mais freqüentes são fístulas, deiscência
de toda a uretra e estenose.


       5.5 Hiperalgesia


       A dor pode ser definida como uma sensação desagradável, de intensidade variável,
decorrente da reação de uma pessoa em relação a lesões reais ou potenciais. Denominamos as
dores em geral de algias. (MERCK SHARP & DOHME)
       Dor é sempre subjetiva, pois é criada por alguns receptores presentes em nosso corpo, que
são traduzidos em uma resposta emocional a esse estímulo.
       Muitas pessoas relatam dor na ausência de lesão tecidual ou de qualquer outra causa
fisiopatológica provável: geralmente isto acontece por motivos psicológicos. A abordagem que se
deve fazer da dor é que ela é um fenômeno biopsicossocial que resulta de uma combinação de
fatores biológicos, psicológicos, comportamentais, sociais e culturais e não uma entidade
dicotômica.
       A experiência dolorosa é um reflexo da raça, cultura, magnitude do estímulo, emoções,
experiências e lembranças passadas e habilidade em entender e compreender suas causas e
conseqüências. (MERCK SHARP & DOHME)
       A dor é uma resposta resultante da integração central de impulsos dos nervos periféricos,
ativados por estímulos locais. Há basicamente três tipos de estimulos que podem levar à geração
dos potenciais de ação nos axônios desses nervos:
         Variações mecânicas ou térmicas que ativam diretamente as terminações nervosas ou
         receptores.
         Fatores químicos libertados na área da terminação nervosa.
         Fatores libertados pelas células inflamatórias como a bradicinina, a serotonina, a
         histamina e as enzimas proteóliticas.
       Existem, basicamente, dois tipos de dor: a aguda (dura um curto período de tempo,
geralmente menos de um mês) e a crônica (persiste ou recorre por mais de 3 meses ou dor
associada à lesão de algum tecido que imagina-se poder evoluir).
A dor é frequentemente acompanhada por respostas: psíquicas (alterações de humor,
tendência ao isolamento, irritabilidade, depressão, ansiedade), somáticas (vocalização, posição
antálgica, reflexo de retirada, entre outras) e viscerais (êmese, sudorese intensa, taquicardia,
variação da pressão arterial).
       Hiperalgesia é a sensibilidade exagerada à dor; hipoalgesia é a diminuição da percepção
nociceptiva e analgesia se refere quando a sensibilidade é suprimida.
“As grandes conquistas da Humanidade têm começo
                      no esforço pessoal de cada um.
               Disciplinando-se e vencendo-se a si mesmo,
o homem consegue agigantar-se, logrando resultados expressivos e valiosos.
        Estas realizações, no entanto, têm início nele próprio [...]”
                           Autor Desconhecido
6. PROCESSO DE ENFERMAGEM




       Para manter o sigilo de identidade dos adolescentes, iremos aqui chamá-los pelo nome dos
integrantes de um grupo de música (RBD) que é a preferência atual de grande parte deles,
inclusive dos que participaram da realização desta atividade. Utilizaremos também apelidos para
manter o sigilo dos médicos ou outras pessoas citadas aqui.
       Iremos aqui, realizar o processo de quatro adolescentes, com os quais conseguimos
realizar um cuidado mais prolongado e de forma integral.
6.1 MIA




       Primeiro passo – Dados de Base:


       Mia, uma adolescente de 13 anos, é natural de Lauro Muller e procedente de Cocal do
Sul. Cursando a 6ª série do ensino fundamental, solteira, mora com pai e a mãe. O irmão mais
velho (27 anos) casou-se há pouco tempo e mora próximo a eles. Ambos foram adotados (e têm
conhecimento do fato) quando tinham 3 meses de idade. São filhos biológicos de mães diferentes.
       Internada na Unidade A do Hospital Infantil desde o dia 14 de setembro de 2006, com o
diagnóstico de bulimia. Faz uso contínuo de Fluoxetina, mas diz que o remédio não causa
nenhum efeito.
       Tem 1,57 metros de altura e 45 quilos. Loira, cabelos compridos e lisos com mechas mais
claras, olhos azuis e pele clara.
       Mia é uma adolescente um pouco tímida, introspectiva, carinhosa, meiga, colaborativa
nas atividades propostas por nós. Preferia conversar sem a presença da mãe e de outras pessoas
do sexo masculino.
       Tem o sonho de ser modelo. Em várias oportunidades relatou que faria qualquer coisa
para alcançar esse objetivo.


                         “Eu venderia a minha mãe para ser modelo. Se eu não puder ser eu vou continuar com
                         a bulimia.” (Mia. DIÁRIO DE CAMPO, 23/10/2006).


       Gostaria de ser mais magra, alta e ter cabelo crespo. Não se considera uma menina bonita,
mesmo quando as pessoas a elogiam.


                         “Quando a pessoa me fala que eu sou bonita, eu as vezes penso que ele só fala para me
                         agradar.” (Mia. CONSULTA DE ENFERMAGEM, 27/10/2006).


       Afirma já ter ficado com dois rapazes: um de 15 e outro de 16 anos. Na primeira vez ficou
com vergonha, pois não sabia beijar. Na segunda vez arrependeu-se de ter ficado, mas não quis
falar o motivo quando questionada. É virgem e considera a virgindade importante.
“A mulher tem que se cuidar e só perder a virgindade quando encontrar o cara que ame
                         ela de verdade e ela também.” (Mia, QUESTIONÁRIO DE SEXUALIDADE,
                         23/10/2006)


          Mia já conversou sobre sexualidade com sua mãe e disse que a conversa foi boa, mas não
trouxe nada de novo. Sente muita vergonha em falar sobre o assunto. Quando tem dúvidas sobre
o tema, costuma conversar com amigas. Não tem a equipe de saúde como referência para tirar
suas dúvidas sobre sua doença e sobre sexualidade. Diz que gostaria de saber mais sobre as
Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), mas que não liga muito. Acha a Unidade A muito
infantilizada e que não tem muitas coisas para fazer. Ela sempre nos dizia que gostava muito
quando ficávamos com eles, mesmo que fosse só conversando, pois assim o tempo passava mais
rápido.
          Descreve-se como uma garota sonhadora, teimosa, ciumenta, simpática e, às vezes,
tímida. Tem medo de ficar gorda, não realizar seus sonhos (de ser atriz, modelo e falar inglês) e
de morrer. Ao ser questionada sobre o porquê teme tanto ficar gorda, preferiu não falar do
assunto. Para manter o peso, realizava caminhadas e abdominais diários, sendo que estes últimos
realizava em qualquer tempo livre que tinha. Relata que sempre teve cuidados de higiene e
conforto com o corpo, mas que após os “distúrbios” (sic) ela descuidou-se. Considera os olhos
como a parte mais sedutora de seu corpo e gostaria de fazer uma Lipoaspiração na barriga para
“deixá-la retinha” (sic). Gostava mais do corpo de quando era mais nova, pois era bem mais
magra.

                         “No meu caso eu comecei a querer ficar magra por causa que na TV todos falavam que
                         o corpo perfeito era o magro e que pra ser modelo é preciso ser bem magra e alta”
                         (Mia. OFICINA IMAGEM CORPORAL II, 06/11/2006)


          A mãe relata que no ano passado Mia reprovou na escola e após isso percebeu que a filha
começou a ficar mal. No início desse ano, Mia menstruou durante 40 dias e por isso teve anemia
e depressão. Teve grande perda de peso e iniciou tratamento para engordar. Quando Mia
melhorou e ganhou peso, iniciou com os vômitos escondidos. A família só percebeu que algo
estava errado, quando viram o rápido emagrecimento de Mia (5 kg em menos de uma semana).
Então, ela foi internada em uma clínica psiquiátrica durante 4 dias, e após foi encaminha ao
HIJG.
A menarca aconteceu aos 11 anos de idade. Há três meses não menstrua e acredita que
seja devido a bulimia. A mãe conta que Mia teve muitas dificuldades em aceitar as mudanças do
corpo decorrentes da puberdade.


                        “Para ela usar sutiã, teve que apanhar do irmão porque não queria usar. Quando ficou
                        mocinha foi um trabalho, porque não queria usar absorvente.” (Mãe da Mia. OFICINA
                        DE RELACIONAMENTO COM PAIS, 08/11/2006).


       A mãe sente-se muito assustada com a doença de Mia, pois os médicos falaram que se
não cuidar pode levar a morte. Ela acha que a filha começou com os vômitos por influência ou da
novela Páginas da Vida (a qual possui uma personagem adolescente com Bulimia) ou Rebelde
(novela para o público adolescente, na qual todos são magros e bonitos), ou então porque um
rapaz da escola falou que para ela ser modelo teria que ser mais magra que o normal. A mãe acha
que Mia ainda vai dar muito problema, pois não está curada e ainda se acha gorda. Acha, ainda,
que Mia continua vomitando e que está sempre fazendo caminhadas pelo hospital. Em casa fica
sempre desfilando em frente ao espelho e trocando de roupa.
       Mia tem no irmão mais velho a figura de pai, e não se sente bem com a perseguição da
mãe. Esta perseguição foi observada também por nós durante as atividades realizadas. A mãe de
Mia a todo momento ia verificar se a filha estava conosco e pedia que a acompanhássemos na
volta ao quarto. Em várias oportunidades Mia referiu que não gostava da atitude da mãe em
relação a ela e de ser supervisionada de tal maneira.


                        “Gostaria que minha mãe conversasse mais comigo e não ficasse só brigando e me
                        perseguindo.”   (Mia.  OFICINA      DE    RELACIONAMENTO           COM      OS
                        ADOLESCENTES, 06/11/2006).


       Mãe afirma que Mia disse que se o irmão tiver um filho vai sentir muito ciúme.

                        “Mia e o irmão se dão muito bem, tipo pai e filha. O pai não desejava adotar Mia e
                        sempre criticava ela por qualquer coisinha. Ele não fala direito com os filhos.” (Mãe de
                        Mia, OFICINA DE RELACIONAMENTO COM PAIS, 08/11/2006)


       Em sua primeira Licença Hospitalar (LH) o irmão não foi orientado sobre a dieta de Mia
e ofereceu diversos sanduíches que ela aceitou. Após a ingestão, ela induziu vômito. O pai
instigou Mia a não falar aos médicos que ela havia vomitado e que ele preferia ficar sozinho em
casa a ficar com ela e a mãe. Além disso, ela recebeu visitas dos ex-colegas de classe, mas não
gostou, pois estava com vergonha por estar gorda. Mia se pesou uma vez durante a licença, com
medo de ter ganhado muito peso.
       Mia referiu que sempre sofreu agressões físicas e verbais por parte da família. A mãe
ameaçava devolvê-la à mãe biológica. Diz que o irmão briga muito com ela e que implica demais
com o que ela faz. Que a trata como se fosse pai dela e que se ele souber que ela já ficou com
alguém, vai brigar com ela. Gosta da cunhada e diz que a mesma a defende, às vezes.
       Em uma das consultas com a psiquiatra, relatou que sente culpa por ter magoado os pais
durante as discussões.
       Em todas as nossas conversas, Mia sempre se referiu a bulimia como sendo um “distúrbio
alimentar”. Em nenhum momento, falou diretamente sobre a doença conosco. Na verdade, ela
sempre fugia do assunto.


                         “Vocês sabem o que eu tenho né?... Tô aqui por causa do distúrbio.” (Mia.
                         CONSULTA DE ENFERMAGEM, 27/10/2006).




       Segundo passo – Diagnósticos de Enfermagem:


         Auto-Estima     perturbada    relacionada   ao   fracasso   escolar   e   problemas   de
         relacionamentos familiares, evidenciada por verbalização.
         Imagem Corporal perturbada relacionada a percepções irreais sobre a sua aparência, à
         Bulimia Nervosa e às mudanças do desenvolvimento, evidenciada por verbalização e
         desenhos.
         Controle Ineficaz do Regime Terapêutico relacionado a conflitos familiares e não
         aceitação do problema, evidenciado por verbalização de paciente e familiar.
         Risco para Crescimento e Desenvolvimento Retardado relacionado ao peso abaixo do
         ideal e baixa ingesta alimentar.
         Nutrição Desequilibrada: Menos que as Necessidades corporais relacionada ao vômito
         auto-induzido, exercícios físicos em excesso considerando-se a ingesta calórica ou
         recusa em comer, secundárias á Bulimia.
Processos Familiares Interrompidos relacionados ao impacto da Bulimia na família, à
 hospitalização da adolescente e às mudanças emocionais na família devido ao
 tratamento da adolescente.
 Enfrentamento Ineficaz relacionado aos recursos psicológicos inadequados para adaptar-
 se a mudanças físicas e emocionais, evidenciados por verbalização e atitudes da
 adolescente.


Terceiro passo – Planejamento:


1. Estabelecer um relacionamento confiável entre as acadêmicas e a adolescente.
2. Encorajar a adolescente a expressar os sentimentos, expectativas e preocupações
   especialmente sobre a forma como pensa ou vê a si mesma.
3. Esclarecer qualquer concepção errônea que a adolescente tenha sobre si mesma ou
   sobre as pessoas que prestam cuidado a ela.
4. Proporcionar privacidade e ambiente seguro.
5. Evitar a crítica negativa.
6. Promover a interação social.
7. Proporcionar informações confiáveis e reforçar as informações já fornecidas.
8. Proporcionar oportunidades para discutir as preocupações da mãe.
9. Discutir com os pais a necessidade da adolescente de “fazer parte”.
10. Incluir Mia nas decisões sobre o seu cuidado.
11. Proporcionar oportunidades para o envolvimento em outras atividades (filmes, bate-
   papos, entre outros).
12. Explicar a importância da nutrição adequada.
13. Auxiliar a mãe e a adolescente na vivência da situação.
14. Reconhecer os pontos fortes da adolescente e da mãe.
15. Informar à mãe sobre os efeitos da hospitalização prolongada na adolescente.
   Fornecer aconselhamento sobre questões relacionadas à puberdade, saúde e
   sexualidade.
Quarto passo – Implementação:


       Durante as oficinas, dinâmicas e conversas incentivamos Mia a participar das atividades e
plano terapêutico, estabelecidos por nós e Instituição. Sempre ressaltamos a importância de amar-
se e trabalhamos a sua auto-estima e auto-imagem, de forma clara e realista.
       Procuramos estabelecer uma relação de confiança com Mia e sua mãe. Durante a Oficina
de Relacionamento, realizada com os pais, enfatizamos o quanto era importante a mãe conversar,
confiar e respeitar a filha. Ressaltamos à mãe de Mia que as revoltas e comportamento agressivo
por parte da adolescente são normais à idade e ao fato de estar hospitalizada há muito tempo.
       Colocamos a Mia a importância de impor suas vontades e sentir-se responsável por suas
decisões e parte integrante da família.
       Realizamos oficinas com Mia e com sua mãe, separadamente, a partir das necessidades de
cada uma.


       Quinto passo – Avaliação:


       No início, sentíamos um certo distanciamento por parte de Mia, mesmo esta tendo
demonstrado interesse em participar do trabalho. Com o tempo, houve uma aproximação maior
devido a interação estabelecida entre Mia e nós. Ao longo do trabalho, ela começou a sentir-se
mais a vontade em falar conosco e passou a nos procurar para realização das atividades ou
somente para conversar.
       As metas traçadas com Mia e sua mãe apresentaram resultado satisfatório, contudo,
acreditamos que deve ser mais discutido com Mia a sua imagem corporal. Apesar de ter tido uma
melhora da primeira oficina de imagem corporal para a segunda, ainda há muito o que ser
trabalhado sobre esse aspecto. Também deve ser conversado e explicado mais para a mãe, a
importância de confiar e deixar que Mia tome para si a responsabilidade sobre sua doença.
6.2 ROBERTA




       Primeiro passo – Dados de Base:


       Roberta, 12 anos e 9 meses é natural de Santo Amaro e procedente de Palhoça. Cursando
a 7ª série do Ensino Fundamental, católica, solteira, mora em uma casa com a mãe, o padrasto, a
irmã de 10 anos e o irmão de 3 anos. O pai biológico faleceu quando a mãe estava grávida dela
de 6 meses.
       Internada na Unidade A desde o dia 08 de outubro de 2006, com o diagnóstico de dor à
esclarecer. Há mais ou menos 51 dias realizou uma ooforectomia à direita e fixação do ovário à
esquerda, evoluindo com dor abdominal contínua em flanco inferior esquerdo. Refere que a dor
que ela sente agora é a mesma que sentia antes da cirurgia. Durante as crises de dor, o abdome
fica distendido e endurecido, doloroso à palpação em flanco inferior esquerdo, além de sentir
náuseas. Faz uso contínuo de anticoncepcional, o que acha extremamente desagradável pois vai
retardar o crescimento e dar forma ao corpo mais rápido.
       Após algumas semanas internada, realizou uma videolaparoscopia, na qual foi constatada
uma aderência das alças intestinais. Mesmo depois de realizar o “descolamento’, ela refere
continuidade da dor, com períodos de agudização. O médico suspeita de dor psicológica, o que a
deixa extremamente irritada. A psicóloga que acompanha o caso, diz que ela não tem
características de dor psicológica.
       Tem 1,60 metros de altura e 51 quilos. Cabelos cacheados, longos e loiros, olhos azuis e
pele clara. Roberta é uma adolescente simpática, sorridente, extrovertida e colaborativa nas
atividades propostas por nós.
       Tem o sonho de ser médica cirurgiã pediátrica, como o Dr. Xavier. Considera-se teimosa,
alegre, nervosa, amorosa, carinhosa, simpática e apaixonada. Acha que o que tem de mais sedutor
é a boca, os olhos e o visual. A menarca aconteceu com 11 anos. Afirma que não faria plástica.


                        “Não, pois eu sou bonita do jeito que eu sou e não do jeito que os outros querem que eu
                        seja.” (Roberta, QUESTIONÁRIO DE SEXUALIDADE, 23/10/2006).
Para ela sexualidade é o mesmo que relação sexual. Já conversou sobre o assunto com a
mãe, que é professora, e que sentiu-se normal. Geralmente, conversa com uma amiga quando tem
dúvidas sobre o tema. Não tem os profissionais de saúde como referência para falar de suas
dúvidas sobre sexualidade, prefere pesquisar em qualquer outro lugar antes.
       Roberta relata que se a cicatriz da cirurgia fosse um pouquinho maior não usaria biquíni
na praia, porque senão apareceria.
       Considera a Unidade A um pouco infantilizada. Gostaria que tivesse mais atividades
voltadas para a faixa etária dela e que pudesse entrar no MSN e em bate-papo na internet. Diz que
tem uns profissionais que são bravos e ficam falando coisas que ela não gosta, que ela finge a dor
e que a dor é psicológica.
       Não conta tudo para a mãe, porque tem coisas que se a mãe souber bateria nela. Para o
padrasto não conta nada porque não tem liberdade. Já foi em matinê na New Time, no carnaval e
na Festa do Divino sem a mãe saber, mas com a autorização da avó paterna. Quem a levou foi a
prima de 16 anos. Acha que é mais madura do que as meninas da idade dela.
       Afirma já ter ficado com dois meninos. Um de 19 anos e um de 18 anos. O de 19 anos a
traiu com a melhor amiga. Ele até tentou transar com ela, mas ela não sentia confiança. Roberta
diz que só gosta de homens mais velhos.


                        “Homens mais velhos são mais maduros. Eu sou muito madura para os meninos mais
                        novos.” (Roberta, DIÁRIO DE CAMPO, 23/10/2006).


       Nutre uma paixão pelo Dr. Xavier, o médico residente responsável pelo caso dela, por
isso, não quer ir de alta. Gostaria de namorá-lo, mesmo não conhecendo muito a personalidade
dele. Pensou em se declarar antes da videolaparoscopia, mas ficou com vergonha.
       É virgem, e diz que quer que a primeira relação sexual seja quando ela estiver madura,
não importa a idade, mas que gostaria que fosse com o Dr. Xavier. Gostaria que iniciasse como
uma brincadeira: um faria a pergunta e o outro respondia, se respondesse certo o parceiro tiraria
uma peça da roupa. Após isso, ocorreria beijos e agarramentos, para depois eles “fazerem
besteira”. Então, eles jantariam, fariam novamente “besteira” e tomariam banho juntos.


                        “Essa noite, sonhei que fui ao motel com o Dr. Felipe e que fiz besteira.” (Roberta,
                        DIÁRIO DE CAMPO, 23/10/2006).
Em todas as conversas, sempre, se refere ao ato sexual como besteira. Gostaria que sua
primeira relação fosse perfeita. Diz também, que já teve um tempo que só pensava em sexo, e
sempre com o Dr. Xavier, o qual já conhecia antes dessa internação, pois consultava-se com ele.
Disse que já assistiu a filmes pornôs, mas que achou “nojento”.
       Roberta afirma que trocaria a família, largaria tudo para ficar com o Dr. Xavier. Diz que
em uma consulta, ele colocou a mão na perna dela e que ela derreteu-se toda com isso. Acha que
o que sente é errado.

                        “É uma paixão louca. É meu primeiro amor Eu dou a vida por ele.. Vai demorar muito
                        para eu conseguir esquecer ele.” (Roberta, DIÁRIO DE CAMPO, 23/10/2006).


       Descreve o namorado perfeito como sendo carinhoso, calmo, atencioso, fiel, paciente,
trabalhador e independente. Mas acha que é muito nova ainda para namorar, pretende esperar até
os 15 anos de idade.
       Gosta de ser adolescente, acha que é bom porque se apaixona e sai com as amigas. Só
acha ruim não poder sair sem permissão e ter um amor não correspondido.
       Obteve alta e retornou uma semana depois, referindo continuação dos episódios de dor.
Durante várias crises, foi medicada com placebo tendo melhora da dor. Iniciou tratamento com
médica especialista em dor. A mãe de Roberta acredita que a dor seja psicológica também, já
que após realizar vários exames, nenhum deles constatou qualquer problema.
       Durante o período de cuidado, observamos que os episódios de dor iniciavam de repente.
Durante os mesmos, Roberta ficava prostrada, com fácies de dor e abdome tornava-se muito
mais distendido. Apresentava sudorese e em algumas vezes taquicardia.
       Por várias vezes, ressaltou que não gostaria de ir para casa, pois teria que ficar longe do
Dr. Xavier. No início ela até tentava disfarçar essa “paixão”, mas depois ela passou a falar para
todos sobre ela.


       Segundo passo – Diagnósticos de Enfermagem:


         Conforto prejudicado, relacionado à dor aguda, evidenciado por fácies de dor,
         verbalização da adolescente e da mãe e observação das acadêmicas e equipe de
         Enfermagem.
Risco para crescimento e desenvolvimento retardados, relacionado ao uso de
   anticoncepcionais e hospitalização repetida e prolongada.
   Enfrentamento ineficaz relacionado à hospitalização prolongada, e a recursos
   psicológicos inadequados para adaptar-se a conscientização sexual.
   Risco para Imagem Corporal Perturbada, relacionado a cicatriz cirúrgica.
   Processos Familiares Interrompidos relacionados ao impacto da doença na família, à
   hospitalização da adolescente e às mudanças emocionais na família devido ao
   tratamento da adolescente.


 Terceiro passo – Planejamento:


1. Estabelecer um relacionamento confiável entre as acadêmicas e a adolescente.
2. Encorajar a adolescente a expressar os sentimentos, expectativas e preocupações
especialmente sobre as possíveis causas da dor, sobre a maneira como se vê e sobre os
efeitos do uso contínuo do anticoncepcional.
3. Proporcionar informações sobre as possíveis causas da dor, duração, métodos
investigativos e tratamento.
4. Proporcionar o alívio ideal da dor com os analgésicos prescritos.
5. Ensinar medidas não-invasivas de alívio da dor.
6. Encorajar a família a dar atenção, mesmo quando a adolescente não estiver sentindo
dor.
7. Encorajar os membros da família a compartilharem suas preocupações de forma
particular.
8. Proporcionar oportunidades de interação com outros adolescentes da mesma idade na
Unidade.
9. Proporcionar oportunidades para envolvimento em várias atividades, como leitura,
assistir filmes, bate-papos, entre outros.
10. Encorajar a auto-avaliação do próprio comportamento (Isso deu certo? Como você se
sentiu? O que você aprendeu?).
11. Auxiliar a adolescente a solucionar os problemas de maneira construtiva.
12. Informar à mãe sobre os efeitos da hospitalização prolongada.
13. Discutir as vantagens da alta hospitalar com adolescente.
      14. Ressaltar os cuidados com a cicatriz cirúrgica.
      15. Fornecer aconselhamento sobre questões relacionadas à puberdade, saúde e
      sexualidade.


       Quarto passo – Implementação:


       Durante as oficinas, dinâmicas e conversas incentivamos Roberta a participar das
atividades e plano terapêutico, estabelecidos por nós e Instituição. Procuramos estabelecer uma
relação de confiança com Roberta e sua mãe.
       Sempre a questionávamos sobre se o que ela sentia pelo Dr. Xavier era paixão, ou um
encantamento por ele agir carinhosamente com ela. Roberta referiu que era os dois. Colocamos
que o Dr. Xavier possuía namorada e que era extremamente apaixonado por ela e que por isso, a
paixão que ela sentia por ele não teria sucesso. Ela dizia que sabia, mas que não conseguia
esquecê-lo. Porém, percebemos que ela não fazia questão de esquecê-lo por três motivos:
primeiro pelo fato dela alardear a todos (exceto claro Dr. Xavier) a sua “paixão”; segundo,
porque sempre que tentávamos mudar de assunto, quando ela começava a falar do Dr. Xavier, ela
persistia no mesmo; e em terceiro, porque sempre que podia estava à procura dele pelo hospital.
       Nas oficinas tentávamos conversar sobre outras coisas, para não estimular a imaginação
de Roberta quanto ao Dr. Xavier.     Em uma das nossas conversas, ela chegou até mesmo a
contar um sonho que teve sobre ele e nós, mas que no decorrer nos pareceu ser uma invenção
dela, porque percebemos que ela começou a enrolar e a se contradizer na história.
       Discutimos com Roberta as vantagens em ela não estar no hospital, o que ela poderia
fazer estando em casa e com colegas da sua idade.
       Realizamos oficinas com Roberta e com sua mãe, separadamente, a partir das
necessidades de cada uma.


       Quinto passo – Avaliação:


       Conseguimos estabelecer um relacionamento de confiança desde o início das atividades,
tanto com Roberta como com sua mãe. No final, porém, ela relutava um pouco em realizar
algumas atividades propostas, solicitando para que fôssemos caminhar pelo hospital,
principalmente pela Emergência e Centro Cirúrgico (sempre à procura do Dr. Xavier).
Percebemos que ela já nos via mais como amigas, do que como profissionais.
       A mãe de Roberta falava sempre o quanto acha sua filha madura. Acreditamos que isso
interfere no modo como Roberta expressa sua sexualidade e acha-se, igualmente, madura, apesar
de suas atitudes não confirmarem esse fato. Na verdade, suas atitudes são próprias da faixa etária
em que se encontra.
       As metas traçadas por nós e por Roberta apresentaram resultado satisfatório, mas
acreditamos que seria necessário um acompanhamento psicológico para auxiliá-la a vivenciar sua
sexualidade de forma mais saudável e conseguir lidar com as “paixões” próprias da fase.
Cuidando da sexualidade do adolescente em tratamento
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Cuidando da sexualidade do adolescente em tratamento

  • 1. ELISIANE SCOTTINI RAQUEL DE SIQUEIRA VIVENCIANDO A SEXUALIDADE DO ADOLESCENTE EM PROCESSO DE ADOECIMENTO SOB O OLHAR DA TEORIA DE IMOGENE KING. FLORIANÓPOLIS 2006
  • 2. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM ENFERMAGEM ASSISTENCIAL APLICADA VIVENCIANDO A SEXUALIDADE DO ADOLESCENTE EM PROCESSO DE ADOECIMENTO SOB O OLHAR DA TEORIA DE IMOGENE KING. Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito da Disciplina Enfermagem Assistencial da Oitava Unidade Curricular. ELISIANE SCOTTINI RAQUEL DE SIQUEIRA ORIENTADORA: ENFª. DDA JUSSARA GUE MARTINI SUPERVISORAS: ENFª. IZIS GORETI COELHO ENFª. JULIANA HOMEM DA LUZ BANCA EXAMINADORA: PROFª. DDA BETINA HORNER MEIRELLES FLORIANÓPOLIS DEZEMBRO DE 2006.
  • 3. “Já perdoei erros quase imperdoáveis, tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis. Já fiz coisas por impulso, já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém. Já abracei pra proteger, já dei risada quando não podia, fiz amigos eternos, amei e fui amado, mas também já fui rejeitado, fui amado e não amei. Já gritei e pulei de tanta felicidade, já vivi de amor e fiz juras eternas, “quebrei a cara” muitas vezes! Já chorei ouvindo música e vendo fotos, já liguei só para escutar uma voz, me apaixonei por um sorriso, já pensei que fosse morrer de tanta saudade e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo)! Mas vivi! E ainda vivo! Não passo pela vida... e você também não deveria passar! Viva!!! Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é MUITO para ser insignificante.” Charlie Chaplin
  • 4. AGRADECIMENTOS A Deus por tudo o que nos deu e principalmente por ter nos guiado nessa trajetória, nos dando força para seguir em frente. A nossa orientadora Jussara Gue Martini por sua disposição, pela liberdade que nos deu e por acreditar em nosso trabalho. Obrigada por não nos deixar desistir, mesmo quando as dificuldades pareciam ser insuperáveis! À nossa supervisora, amiga e grande incentivadora Juliana Homem da Luz que muito nos ajudou durante nossa trajetória. Esteve sempre disposta e pronta a colaborar conosco, dando apoio e ótimas idéias. Tornou-se para nós um modelo a ser seguido com seu jeito cativante de cuidar de crianças, adolescentes e acompanhantes. À Enfermeira Izis, que aceitou nos supervisionar durante as férias da Ju, nos auxiliando quando necessário. À Professora Betina Meirelles por sua contribuição com o nosso trabalho. À Professora Miriam Borenstein que nos ensinou na prática o que é o cuidado humanizado, não só com pacientes, mas com os acadêmicos também. Obrigada pelo sincero carinho! Aos adolescentes com os quais convivemos e que muito nos ensinaram. Sem vocês, esse trabalho não existiria. Obrigada por acreditar e fazer parte da nossa formação! À equipe de Enfermagem da Unidade A que sempre nos apoiou e nos auxiliou quando necessário. Obrigada pelo carinho que vocês nos receberam e por serem colaboradoras desse trabalho. Aos nossos amigos e companheiros de lanche, Martha e Júlio. Obrigada pelas terapias em grupo, pelas palavras de força e incentivo e pelas boas risadas! Ao tio G. pela força e ajuda nos momentos necessários. Seus conhecimentos nos foram muito úteis. Aos que souberam compreender nossa ausência, nos momentos em que necessitamos nos afastar para nos dedicarmos a este trabalho.
  • 5. AGRADECIMENTOS DE ELISIANE À Deus por me dar forças para continuar e por colocar pessoas maravilhosas na minha vida! Aos meus pais, Albano e Delair, porque sem vocês eu não chegaria até aqui. Vocês são os grandes responsáveis por eu estar aqui hoje. Sempre se sacrificaram para me dar uma boa formação e se sou o que sou hoje, é por causa de vocês! Nada do que eu diga hoje será suficiente para agradecê-los. Vocês sempre me apoiaram, me respeitaram e confiaram em minhas decisões. Entenderam a minha ausência. Espero algum dia poder retribuir um pouco tudo o que vocês fizeram por mim. Amo vocês!! Muito obrigada. Aos meus irmãos, Gianpaolo e Desiree, que sempre me apoiaram. Obrigada pelas brigas, risadas e pelo carinho. Desculpem pela ausência. Aos meus familiares, que assistiram e compartilharam a minha caminhada. Obrigada pelo carinho, pelas orações e pelo apoio! À minha irmã, amiga e companheira, não só de trabalho, mas também de trajetória, Quel. Você sempre me deu força, esteve presente em momentos importantes da minha vida. Respeitou meu jeito, minhas decisões, entendia meu mau humor e sempre me fazia rir com as suas “loirices”. Você é muito, muito especial! Me deu força em vários momentos e nunca deixou que eu desistisse. Me ensinou a ser mais tolerante, mais carinhosa e paciente. Tenho certeza que a gente irá rir muito ainda junto, “pagar muito mico”. Obrigada pela amizade e pelo carinho!! Te amo amiga! À família da Quel que me adotou nesses anos. Obrigada pelo carinho, respeito e amor que vocês sempre tiveram comigo. Tenho certeza que foi Deus que colocou vocês em minha vida, para compensar um pouco a ausência da minha família. Aos amigos do Cepon que ajudaram na minha formação, me apoiaram e sempre estiveram dispostos a me ajudar. Fé, Robs, Ana, Sâmia e Cinthia, amigas com certeza! Vocês sempre me respeitaram e me incentivaram! Obrigada pelo carinho e amizade. Júlio (Amore mio) e Fran: obrigada pelo carinho e pela ajuda sempre! Vocês estavam presentes quando eu precisei, mesmo à distância. À todos que de alguma maneira contribuíram para minha formação: muito obrigada!
  • 6. AGRADECIMENTOS DE RAQUEL Ao meu bom Deus por estar comigo nas horas em que mais precisei e me guiar pelo melhor caminho. À minha mãe querida que em todos os momentos de minha vida esteve comigo, me deu apoio em minhas decisões, confiando e acreditando em mim. Eu te amo mais do que qualquer coisa nessa vida e agradeço todos os dias a Deus por você ser assim. Ao meu paizão do coração, Tio. Obrigada por acreditar em mim e dar todas as condições para que eu pudesse chegar até aqui. O que eu sou hoje devo a você, que sempre se esforçou para que eu pudesse encontrar o meu caminho e esteve sempre ao meu lado, me orientando, para que eu pudesse tomar as decisões corretas. Você é meu pai, amigo, companheiro e ídolo. Te amo. Aos meus irmãos, Tata e Tato, obrigada pelo apoio, risadas, desentendimentos e reconciliações. Por estarem sempre comigo, cuidarem de mim e me mimarem. Amo vocês demais. Gabriel, meu sobrinho, por ser uma ótima companhia, estar sempre disposto a ajudar e entender quando eu não podia atendê-lo. Dori, Led e Gabi, obrigada pela torcida, apoio e por entenderem minha ausência. Amo vocês. À minha grande amiga e companheira de trabalho, Lisi. Aprendi muito com você nesses últimos anos. Agradeço pela paciência, por respeitar meu jeito de ser e pela amizade que construímos nesse período. Não posso deixar de agradecer também pelo meu cantinho em sua casa sempre que precisei, pelas maravilhosas guloseimas preparadas com carinho e por tudo que passamos juntas: as risadas, choros, noites em claro, conversas intermináveis e muitos, muitos planos para o futuro. Chegou a hora de começarmos a realizá-los, amiga. Te amo muito ruiva. Carol e Mário, vocês sempre foram ótimos amigos e incentivadores. Acreditaram no meu potencial até quando eu mesma duvidei dele. Obrigada por tudo. Vocês são meus amores. Manu, amigona, sempre disposta a ajudar. Florzinha você é uma pessoa muito especial, que eu aprendi a amar e respeitar. Agradeço por tudo o que você e o Kile fizeram e fazem por mim. Aos que contribuíram para que eu chegasse até aqui.
  • 7. RESUMO Este trabalho de conclusão de curso relata a prática de cuidado de enfermagem ao adolescente em processo de adoecimento. Foi desenvolvido na Unidade A do Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), no período de 06 de outubro a 08 de dezembro de 2006, como cumprimento da disciplina Enfermagem Assistencial Aplicada do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Teve como principal objetivo cuidar do adolescente em processo de adoecimento atendido no serviço de internação da Unidade A, com enfoque na vivência de sua sexualidade, fundamentado na Teoria de Consecução de Metas proposta por Imogene King. O trabalho foi realizado com cinco adolescentes, sendo descrito o processo de cuidado realizado com quatro deles. Utilizamos como metodologia a observação participante, processo de Enfermagem em consultas e dinâmicas vivenciais com os adolescentes, acompanhantes e equipe de Enfermagem. Julgamos importante conhecer o significado da vivência da sexualidade para o adolescente, durante o processo de adoecimento e hospitalização, a fim de despertar, na equipe de saúde, um olhar mais cuidadoso para os modos de abordagem da sexualidade desse adolescente, assistindo-o de forma integral. Buscamos, portanto, promover crescimento profissional e pessoal, adquirir conhecimentos sobre o tema e trocar experiências durante a vivência com os adolescentes, seus familiares e equipe de enfermagem da unidade de internação. DESCRITORES: Adolescência, Enfermagem; Sexualidade.
  • 8. ABSTRACT This course conclusion work reports the Nursing care practice to the teenager in disease process. It was developed in the Unit A of Childish Hospital Joana de Gusmão (HIJG), in the period of October 06 to December 08 – 2006, for fulfill of the discipline Nursing Assistance Applied of the Nursing Graduation Course of the Federal University of Santa Catarina. It had as main goal, care of the teenager in disease process attended in the internment service of Unit A, with focus in his sexuality living, based in the Theory of Goal Attainment proposed by Imogene King. The work was accomplished with five teenagers, being described the care process of four of them. We use as methodology the active observation, nursing process in consultation and living dynamics with the teenagers, the companions and the nursing teamwork. We judged important to know the meaning of the sexuality living to the teenager, during the disease process and hospitalization, in order to awake the nursing team work, one look more careful with the approach manners of the sexuality of this teenager, watching him of integral form. We seek therefore promote professional and personal growth, acquire knowledge on the theme and to change experiences, during the living with the teenagers, their family and the Unit A nursing teamwork. DESCRIBE: Adolescence, Nursing, Sexuality.
  • 9. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 14 2. OBJETIVOS.......................................................................................................................................... 18 2.1 Objetivo Geral....................................................................................................................................... 18 2.2 Objetivos Específicos............................................................................................................................ 18 3. REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................................................. 20 3.1 Conhecendo a Trajetória de Imogene M. King.................................................................................... 20 3.2 Teoria de Consecução de Metas........................................................................................................... 20 3.3 Marco conceitual.................................................................................................................................. 21 3.4 Pressupostos.......................................................................................................................................... 21 3.5 Conceitos Inter-relacionados................................................................................................................. 22 3.6 Processo de Enfermagem...................................................................................................................... 24 4. METODOLOGIA.................................................................................................................................. 27 4.1 Local do Estágio.................................................................................................................................... 27 4.2 População Alvo..................................................................................................................................... 28 4.3 Período de Desenvolvimento................................................................................................................ 29 4.4 Aspectos Éticos..................................................................................................................................... 29 4.5 Revisando Objetivos e Avaliando as Estratégias................................................................................. 30 4.6 Consulta de Enfermagem...................................................................................................................... 33 5. REVISÃO DE LITERATURA............................................................................................................. 35 5.1 Adolescência........................................................................................................................................ 35 5.2 Sexualidade na adolescência................................................................................................................. 36 5.3 Bulimia.................................................................................................................................................. 38 5.4 Hipospádia............................................................................................................................................. 40 5.5 Hiperalgesia........................................................................................................................................... 41
  • 10. 6. PROCESSO DE ENFERMAGEM...................................................................................................... 44 6.1 MIA...................................................................................................................................................... 45 6.2 ROBERTA............................................................................................................................................ 51 6.3 MIGUEL.............................................................................................................................................. 57 6.4 DIEGO................................................................................................................................................. 60 7. DINÂMICAS VIVENCIAIS............................................................................................................... 63 7.1 Dinâmicas Vivenciais Realizadas com os Adolescentes...................................................................... 64 7.1.1 Título: Como me Vejo Agora e como Gostaria de Estar................................................................... 64 7.1.2 Título: Maior Presente do Mundo...................................................................................................... 66 7.1.3 Título: Oficina da Beleza I................................................................................................................ 68 7.1.4 Título: Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)........................................................................ 70 7.1.5 Título: Sistemas Reprodutores e Métodos Contraceptivos................................................................ 72 7.1.6 Título: Como Eu Era, Como Eu Estou e Como Eu Gostaria de Estar............................................... 74 7.1.7 Título: A Família Antes e Durante a Internação................................................................................ 78 7.1.8 Título: Conhecendo o Corpo.............................................................................................................. 81 7.1.9 Título: O Que Recebo? O Que Dou?.................................................................................................. 83 7.1.10 Título: Oficina da Beleza II.............................................................................................................. 89 7.2 Dinâmicas Vivenciais Realizadas com as Mães.................................................................................. 90 7.2.1 Título: O Adolescente Antes e Durante a Internação......................................................................... 90 7.3 Dinâmicas Vivenciais Realizadas com a Equipe De Enfermagem....................................................... 95 7.3.1 Título: Sexualidade e Sexo Mais Seguro........................................................................................... 95 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................ 98 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 101 PARECER ................................................................................................................................................. 105
  • 11. APÊNDICES............................................................................................................................................... 107 Apêndice A: Roteiro de Consulta de Enfermagem Apêndice B: Questionário de Sexualidade Apêndice C: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Apêndice D: Resumo Entregue para os Pais e/ou Responsáveis Apêndice E: Convite da Oficina de Sexualidade para a Equipe de Enfermagem Apêndice F: Ofício de Pedido de Materiais Apêndice G: Folderes Apêndice H: Certificados Apêndice I: Dinâmicas Vivenciais Apêndice J: Questionário para Capacitação com Equipe de Enfermagem ANEXOS..................................................................................................................................................... 153 Anexo I: Doenças Sexualmente Transmissíveis Anexo II: Sistemas Reprodutores Anexo III: Carta dos Direitos Sexuais
  • 12.
  • 13. “Temos o direito de ser igual quando a diferença nos inferioriza, temos o direito de ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza.” Boaventura Santos
  • 14. 1. INTRODUÇÃO O interesse em trabalhar com adolescentes surgiu durante a 4ª unidade curricular, ao realizarmos uma oficina de sexualidade com estudantes de uma escola pública de um Estado da Região Sul do Brasil. Nesse momento, percebemos o quanto esse tema causa constrangimento e medo tanto para os adolescentes, quanto aos adultos, reforçando a necessidade de se trabalhar o tema com os adolescentes. Na 5ª unidade curricular, tivemos nova oportunidade de discutirmos o tema, dessa vez com pré-adolescentes de uma outra escola pública de um Estado da Região Sul do Brasil. Nas duas oportunidades, o tema foi proposto pelos próprios adolescentes. Por tudo o que foi exposto, e por sentirmos a falta de um estágio em que pudéssemos assistir ao público dessa faixa etária durante a graduação, decidimos realizar nosso Trabalho de Conclusão de Curso com adolescentes. Para Whaley & Wong (1999, p. 415) “A adolescência, que literalmente significa ‘crescer dentro da maturidade’, é geralmente considerada como um processo psicológico, social e maturacional iniciado pelas alterações puberais.” A população adolescente no Brasil (entre 10 e 19 anos) corresponde a 21% da população nacional, segundo o último censo do IBGE. São 35.302.872 adolescentes, dos quais 50,4% homens e 49,5% mulheres. Destes, 49% são negros e 50% definem-se como brancos (BRASIL, 2006). A adolescência é um período que consiste basicamente na dependência da família (pais) e da escola (professores). Para tentar buscar a sua autonomia, o adolescente recorre ao estabelecimento de grupos de semelhantes e de relações afetivas. Devido ao processo de descobertas e de auto-afirmação, inerentes ao período, as relações afetivas tendem a ser fugazes. Segundo estudo da UNICEF (2002), dos adolescentes brasileiros com faixa etária entre 12 e 17 anos, 32,8% já haviam tido relações sexuais. Destes, 61% eram homens e 39% mulheres. Segundo o IBGE (2000), 9,5% de adolescentes entre 15 e 19 anos (82% mulheres e 18% homens) vivenciam algum tipo de união, com vida sexual. Quanto à prática do sexo seguro, dados de 2002 (UNICEF) apontaram que 52% dos adolescentes com vida sexual utilizaram o preservativo nas relações sexuais já vivenciadas. Destes, 35,1% eram mulheres e 64,9% homens (BRASIL, 2006). Dentre os motivos expressos pelos adolescentes para serem sexualmente ativos estão a necessidade de serem amados, o desejo de conquistar, a necessidade de se sentirem emancipados,
  • 15. a necessidade de se igualarem aos seus pares e aos adultos e de serem aceitos por seus amigos e a revolta contra os pais (WONG, 1999, p. 443). De acordo com a Federação Brasileira da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia (2001, p. 89), “acredita-se que anualmente um milhão de jovens na faixa de 15 a 25 anos são atingidos pelas doenças sexualmente transmissíveis (DST) e que um número significativo destes fica estéril, como conseqüência da referida doença.” A sexualidade é intrínseca ao ser humano e é aprendida e vivenciada desde o nascimento, porém, ela começa a ser percebida com mais intensidade durante a adolescência. Para adolescentes e jovens é através da sexualidade que eles vivenciam descobertas, experimentações e liberdade, e quando desenvolvem sua capacidade para tomada de decisões, de escolha, de responsabilidades e de afirmação de identidades. (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2003, apud BRASIL, 2006). Na sua grande maioria, as políticas de saúde pública para adolescentes e jovens ignoram que a sexualidade faz parte do desenvolvimento humano e da personalidade de cada um, deixando, assim, de reconhecê-los como pessoas sexuadas, livres e autônomas. Isso fica claro não somente na nomenclatura dos serviços oferecidos pelos centros de saúde, como também pela própria estrutura do local. São locais que não oferecem atrativos aos jovens e os programas, como planejamento familiar, são centralizados na constituição de uma família formal. Tal fato explica a baixa freqüência de adolescentes nos serviços de saúde. Durante o processo de adoecimento, os profissionais de saúde tendem a anular o aspecto da sexualidade do adolescente. Para o adolescente, a hospitalização acresce a necessidade de adaptar-se ao processo de transição de saúde-doença, evento que, pelo significado de sua imagem corporal nesta fase e pela perda de autonomia compulsória, pode trazer-lhe angústias e conseqüentes comportamentos inefetivos. Neste contexto, o adolescente em fase de construção de sua identidade depara-se com imposições de redefinição da imagem corporal, separação/individuação, elaboração de lutos, escala de valores, convívio com o grupo de iguais, luta e fuga das gerações precedentes, enfrentamento dos ritos de iniciação ao status adulto, papéis sexuais, temporalidade, entre outros... A interrupção dos estudos, o distanciamento dos amigos, o afastamento de casa, a forte ligação com a dor e sofrimento, o administrar o tratamento, o conviver com as condutas invasivas e cirúrgicas necessárias, o lidar com a mudança no ritmo e estilo de vida, o abandono de projetos configuram a transição de saúde-doença (MAAS, 2006, p. 3). No Brasil e em Florianópolis, a principal causa de morbidade hospitalar, em setembro de 2006, na faixa etária dos 10 aos 19 anos, foi queda sem especificação (2123 e 8 adolescentes,
  • 16. respectivamente), seguida por queda do mesmo nível (724 e 3 adolescentes, respectivamente) (BRASIL, 2006). A adolescência é um período de crise e mudanças, de esquecimento das autoridades no que diz respeito a programas de saúde, fase em que a sexualidade começa a aflorar mais e as experiências vivenciadas poderão influenciar na vida adulta. Além disso, a sexualidade é um processo de aprendizagem e, infelizmente, a estrutura social e cultural repercute na maioria das vezes de maneira negativa (tabus, mitos, preconceitos, interdições e relações de poder) sobre a pessoa de modo a torná-la disfuncional. Os adolescentes têm direito à educação sexual, ao sigilo sobre a sua atividade sexual, ao acesso à orientação sobre todos os métodos anticoncepcionais, a serem reconhecidos como indivíduos autônomos e capazes de assumir a responsabilidade sobre sua saúde (BRASIL, 2006). Por todos os fatores apresentados acima, achamos fundamental trabalhar com os adolescentes o processo de sexualidade vivenciado por eles, especialmente em períodos de adoecimento. A equipe de saúde tem papel de suma importância na educação sexual do adolescente. Muitos profissionais acabam “cedendo” esse papel de educador para os pais e professores por falta de preparo nessa área. Já outros, mesmo sem preparo, atuam somente transmitindo valores e experiências pessoais (geralmente carregadas de pré-julgamentos) deixando de passar informações realmente importantes. Compreendemos, então, a adolescência como um período esquecido em termos de atenção à saúde. O adolescente vê-se perdido entre o pediatra e o clínico geral, entre o não ser mais criança e não ser adulto.
  • 17. “Sem um caminho não tem o ir Sem a verdade não tem o conhecimento Sem a vida não tem viver.” Thomas à Kempis
  • 18. 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Cuidar do adolescente em processo de adoecimento atendido no serviço de internação da Unidade A, com enfoque na vivência de sua sexualidade, fundamentado no referencial teórico de Imogene King. 2.2 Objetivos Específicos Aprimorar nossos conhecimentos teórico-práticos sobre a sexualidade do adolescente em processo de adoecimento; Conhecer a dinâmica de funcionamento do serviço e estrutura física da Unidade A do Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), com relação ao atendimento ao adolescente; Realizar cuidado de enfermagem segundo a teoria de King com o adolescente em processo de adoecimento; Conhecer as necessidades do adolescente em processo de adoecimento sobre a sua sexualidade; Desenvolver educação permanente de acordo com as necessidades identificadas; Auxiliar o adolescente em processo de adoecimento no processo de auto-conhecimento.
  • 19. “Você não pode ensinar nada a um homem; você pode apenas ajudá-lo a encontrar a resposta dentro dele mesmo." Galileu Galilei
  • 20. 3. REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Conhecendo a Trajetória de Imogene M. King Imogene M. King (nascida em 1923, nos Estados Unidos), completou sua graduação em Enfermagem em 1945, no St. Johns’s Hospital School of Nursing, Missouri. Em 1948 tornou-se Bacharel em Ciência da Educação de Enfermagem e nove anos após (1957) conquistou o título de Mestre em Educação. Obteve o título de Doutora em Enfermagem pela Universidade de Columbia, Nova Iorque, em 1961 e, em 1980, o título de Doutor Honorário, pela Universidade de Illinois. Trabalhou como enfermeira assistencial, docente e administradora. Escreveu os seguintes livros: Toward a Theory for Nursing: General Concepts of Humans Behavior (1971) e A Theory for Nursing: Systems, Concepts, Process (1981); sendo que, no prefácio do primeiro, declara estar propondo uma estrutura conceitual à enfermagem e não uma teoria de enfermagem. Já no segundo, ela relacionava seus conceitos à estrutura de assistência à saúde. 3.2 Teoria de Consecução de Metas Segundo George (1993, p.174-175), a estrutura conceitual proposta por King compõem-se de três sistemas: sistemas pessoais, interpessoais e sociais. Os sistemas pessoais são compostos pelos indivíduos, nos quais cada indivíduo é um sistema pessoal. Os sistemas interpessoais são formados por seres humanos em interação, formando díades, tríades ou grupos maiores. À medida que aumenta o número de indivíduos que interagem, aumenta a complexidade das interações. Os sistemas sociais são compostos por grupos com interesses e necessidades em comum. “King desenvolveu a teoria com base em conceitos a partir do foco central que é o alcance de objetivos de saúde para o cliente. Para ela, isso só pode acontecer através da interação e transação entre o enfermeiro e cliente” (LEOPARDI, 1999, p. 90 – 91).
  • 21. 3.3 Marco conceitual O nosso marco conceitual envolve conceitos como: saúde, ambiente e sociedade, enfermagem, ser humano enfermeiro e ser humano adolescente. Para a organização desse marco conceitual procuramos relacionar nosso pensar com o pensar de Imogene King, em relação aos pressupostos e conceitos da Teoria de Consecução de Metas. 3.4 Pressupostos São pressupostos da teórica, segundo Leopardi (1999, p 90 – 91): Os indivíduos são seres sociais, com sentimentos, racionais, perceptivos, reativos, controladores, com propósitos e orientados para ação e no tempo; O processo de interação é influenciado pelas percepções, objetivos, necessidades e valores tanto do cliente quanto do enfermeiro; É responsabilidade do pessoal de saúde informar os indivíduos de todos os aspectos do cuidado à saúde para ajudá-los a tomar decisões conscientes; Pode haver incongruência entre os objetivos dos fornecedores de cuidado e os receptores. As pessoas têm o direito tanto de aceitar quanto de rejeitar qualquer aspecto do cuidado à saúde; Os pacientes querem participar ativamente no processo do cuidado; Os pacientes são consciente, ativa e cognitivamente capazes de participar na tomada de decisões. Nossos pressupostos foram construídos baseados no referencial teórico de Imogene King: Os adolescentes em processo de adoecimento são seres sociais que têm o direito de exercer sua sexualidade. É responsabilidade da enfermeira informar aos adolescentes sobre todos os aspectos relacionados a sua sexualidade para ajudá-los a tomar decisões conscientes. Os adolescentes em processo de adoecimento querem participar ativamente do seu cuidado. O processo de interação só ocorrerá se o adolescente permitir e/ou estiver interessado. Segundo Leopardi (1999, p.91), King faz sua inter-relação de conceitos através de proposições com sua própria lógica e sistematização e daí estabelece já um modo de realizar processo de Enfermagem. São elas:
  • 22. Se a percepção é acurada nas interações, ocorrerão transações; Se o enfermeiro e o cliente fazem transações, os objetivos serão atingidos; Se os objetivos forem atingidos, ocorrerá satisfação; Se ocorrem transações nas interações, o crescimento e desenvolvimento serão fortalecidos; Se as expectativas do papel e seu desempenho são percebidos pelo enfermeiro e pelo cliente e forem congruentes, ocorrem transações; Se houver conflito de papéis, ocorre estresse; Se o enfermeiro, com conhecimentos e habilidades especiais, comunica informações apropriadas, haverá alcance mútuo de objetivos. A teoria contribuiu e auxiliou na execução do trabalho, pois partindo das necessidades e desejos expressos pelos adolescentes, ficou mais fácil interagir com eles, ocorrendo dessa forma a transação e o alcance dos objetivos propostos. 3.5 Conceitos Inter-relacionados A seguir, apresentaremos os conceitos que consideramos essenciais neste marco conceitual e suas inter-relações: saúde, ambiente e sociedade, enfermagem e ser humano adolescente e ser humano enfermeiro. SAÚDE “Experiências dinâmicas da vida de um ser humano que implicam ajustamentos contínuos a estressores, no ambiente externo e interno, através do uso adequado dos recursos próprios para alcançar o máximo potencial para a vida diária.” (KING, apud GEORGE, 1993, p.183). Entendemos saúde como a busca do bem-estar físico, psíquico e social, através da adaptação aos estressores, neste caso a doença. O período da adolescência é, por si só, um período de adaptação às mudanças e de busca do bem-estar, principalmente psíquico e social. Essa adaptação se torna ainda mais difícil durante o processo de adoecimento, já que além de tentar se adaptar às mudanças decorrentes da adolescência há, ainda, a necessidade de adaptação à doença.
  • 23. AMBIENTE/SOCIEDADE Segundo King (GEORGE, 1993, p.183), ambiente/sociedade é compreendido como “porção de sistemas sociais de sua estrutura de sistemas abertos”. Definimos ambiente/sociedade como o espaço físico e social no qual o ser humano adolescente em processo de adoecimento vive e interage. Neste caso, o ambiente hospitalar, carregado do desconhecido, de incertezas, estigmas, medos e muitas vezes, isolamento e distanciamento do seu grupo de relacionamento. ENFERMAGEM “Processo de ação, reação e interação, pelo qual enfermeira e cliente partilham informações sobre suas percepções na situação de enfermagem.” (KING, apud IBDEM, p.183). Percebemos a enfermagem como um processo de interação entre o ser humano enfermeiro e o ser humano adolescente em processo de adoecimento, com a finalidade de trabalhar uma necessidade percebida por ambos, nesse caso a sexualidade. Nessa interação o adolescente partilha com o enfermeiro sua percepção sobre a sexualidade enquanto vivencia a doença. Em contrapartida o enfermeiro partilha com o adolescente de que maneira este pode exercer sua sexualidade. Tais objetivos só serão alcançados se a interação ocorrer de forma eficaz e se houver interesse de ambas as partes. SER HUMANO São seres sociais, conscientes, racionais, perceptivos, controladores, intencionais, voltados à ação e voltados ao tempo... Possuem três necessidades fundamentais de saúde: informações de saúde que sejam úteis na época certa de sua necessidade e que possam ser utilizadas, necessidade de atendimento que busque prevenção da doença, necessidade de atendimento quando os seres humanos forem incapazes de ajudar a si mesmos (KING, apud GEORGE, 1993, p. 183).
  • 24. Caracterizamos, neste estudo, como ser humano o adolescente em processo de adoecimento e a enfermeira. O ser humano adolescente em processo de adoecimento é um ser individual capaz de interagir com outros adolescentes e de exercer a sua sexualidade, independente do seu estado. A adolescência é um período de crise, caracterizado pelo rápido crescimento e desenvolvimento, manifestados por transformações físicas, psíquicas e sociais. A crise pode ser intensificada durante o processo de adoecimento, pelo fato de que estando doente ele acaba se sentindo diferente/excluído dos outros adolescentes que fazem parte do seu círculo de relacionamentos. A enfermeira é a responsável, no processo de cuidado, pela troca de informações com o adolescente em processo de adoecimento, a fim de que este se torne um ser consciente de suas ações. Através do cuidado, a enfermeira auxilia o adolescente a enfrentar esse período de transformações e a encarar a sexualidade como algo inerente ao ser humano que deve ser vivenciada de forma consciente. 3.6 Processo de Enfermagem O processo é a ação, reação, interação e a cadeia de transação, onde enfermeiro e cliente compartilham informações acerca de suas percepções, identificam os problemas, estabelecem objetivos mútuos e concordam com os meios para atingi-los. De acordo com King (1971, p. 91), “a enfermeira e o paciente irão aprender e amadurecer no processo.” Para que o processo ocorra, King utiliza uma metodologia baseada no Prontuário Orientado para o Problema de Weed. O processo inclui os seguintes elementos: Dados de base: informações coletadas no prontuário do adolescente (histórico médico, exame físico, resultados de exames e informações de familiares e de outros profissionais e dos adolescentes através da consulta de Enfermagem). Diagnóstico de Enfermagem: sinais e sintomas ou interferências na habilidade em vivenciar sua sexualidade. Detecção das necessidades de cuidado relacionadas à sexualidade dos adolescentes, permitindo planejar a assistência.
  • 25. Planejamento: ajuda os indivíduos a atingirem o estado de saúde desejado, através de meios para cuidados continuados, focalizando a participação do adolescente. Implementação: ocorre nas atividades que visam à satisfação das metas. É uma continuação da transação. Avaliação: avaliação contínua do alcance de metas, pela qual se verifica se os objetivos foram alcançados. Visto que uma das funções da enfermeira é ajudar o indivíduo a identificar suas necessidades e estabelecer metas realistas para satisfazê-las, a enfermeira é responsável por usar métodos para garantir informação sobre a percepção do paciente da situação. Através da comunicação, a enfermeira observa e registra o que o paciente diz que está sentindo ou pensando sobre uma determinada situação. Observações do comportamento oferecem, também, pistas sobre as necessidades individuais e a percepção da situação pelo paciente (KING, 1971, p.94).
  • 26. "Quando você tem uma meta, o que era um obstáculo passa a ser uma das etapas do seu plano." Gerhard Erich Boehme
  • 27. 4. METODOLOGIA 4.1 Local do Estágio A prática assistencial ocorreu na Unidade A do Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG). O Hospital Infantil Joana de Gusmão situa-se na rua Rui Barbosa, número 152, no bairro Agronômica em Florianópolis, no estado de Santa Catarina. Foi inaugurado em 13 de março de 1979, ano internacional da criança, substituindo o Hospital Edith Gama Ramos. Possui uma área de 22.000 m² e é dividido em Ambulatório (Grupo A, B, C) e Ambulatório de Oncologia, Hospital Dia, Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais e nas unidades de internação: A (Adolescente e Apartamento), B, C, D, E, Berçário, Emergência Interna, Isolamento, Oncologia, Queimados, Ortopedia, Centro Cirúrgico, Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Geral e UTI Neonatal. As unidades são especializadas em: Cardiologia, Cirurgia (Pediátrica Geral, Plástica, Oftalmologia, Ortopedia, Otorrinolaringologia, Urologia, Vascular, Bucomaxilofacial), Desnutrição, Gastroenterologia, Nefrologia, Neurocirurgia, Neurologia, Oncologia, Queimadura, Pneumologia e Terapia Intensiva. O HIJG atua como pólo de referência Estadual para as patologias de baixa, média e alta complexidade, sendo: 68,83% pacientes oriundos de Florianópolis e da Grande Florianópolis e 31,17% de outros municípios do Estado de Santa Catarina. Atualmente, conta com 146 leitos ativos e um quadro funcional composto por 856 servidores. Tem como missão prestar, de acordo com princípios éticos e humanizados, atendimento preventivo, curativo e social a crianças e adolescentes, bem como formar e capacitar recursos humanos e incentivar a pesquisa clínica. A Unidade A presta assistência a adolescentes – Sistema Único de Saúde (SUS), assim como a lactentes, crianças e adolescentes - conveniados/particulares, nas diversas especialidades, contando atualmente com 20 leitos subdivididos em enfermarias e apartamentos. Na Unidade A existe uma sala de recreação que funciona em alguns dias da semana. Nessa sala há vários jogos e um computador, no qual o adolescente pode acessar a Internet em
  • 28. horário controlado e com restrições. Além do computador, não há nada que seja específico para a faixa etária da adolescência. Algumas vezes, adolescentes ficam internados no mesmo quarto que crianças. O HIJG oferece ainda, serviço de pedagogia que funciona todos os dias das 13:30 às 16 horas. Existem duas classes hospitalares: uma de 1ª à 4ª série do ensino fundamental e outra de 5ª à 8ª série. No início do estágio, realizávamos nossas atividades na sala de prescrição médica da Unidade A. Depois de mais ou menos duas semanas, uma das técnicas da equipe de Enfermagem, sugeriu uma sala que não estava sendo utilizada no momento, que ficava ao lado da Unidade A. Após contato com o responsável pela sala, conseguimos autorização para utilizá-la durante nosso trabalho, proporcionando assim maior privacidade e conforto aos adolescentes. A sala possuía dois sofás, uma mesa, duas cadeiras, ramal telefônico e ar condicionado. Após decorarmos a sala de acordo com a temática e com ajuda dos adolescentes, passamos a utilizá-la em nossas atividades. Sala dos Adolescentes Acadêmicas realizando a limpeza Acadêmicas e Supervisoras na Inauguração da Sala 4.2 População Alvo A prática assistencial teve como público alvo os adolescentes internados na Unidade A do Hospital Infantil Joana de Gusmão no período de 06 de outubro a 08 dezembro de 2006.
  • 29. 4.3 Período de Desenvolvimento A prática assistencial foi desenvolvida entre os dias 06 de outubro e 08 de dezembro de 2006. 4.4 Aspectos Éticos “O termo Ética refere-se aos padrões de conduta moral, isto é, padrões de comportamento relativos ao paciente, ao patrão e aos colegas de trabalho.” (Ética Profissional de Enfermagem, apud www.arquivomedico.hpg.ig.com.br) [...]Respeitar todas as confidências que seus pacientes fizerem durante o serviço; jamais comentar em público durante as horas de folga, qualquer incidente ocorrido no hospital nem de informações sobre seu doente; respeitar sempre a intimidade de seu paciente; não permitir preconceitos de raça, cor, religião ou opção sexual [...] (Ibdem) A Resolução 160 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN, 2006), estabelece o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem: Art.1ºA Enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde do ser humano e da coletividade. Atua na promoção, proteção, recuperação da saúde e reabilitação das pessoas, respeitando os preceitos éticos e legais [...] Art.3º O Profissional de Enfermagem respeita a vida, a dignidade e os direitos da pessoa humana, em todo o seu ciclo vital, sem discriminação de qualquer natureza [...] São deveres do profissional de Enfermagem: [...] Art.21º Cumprir e fazer cumprir os preceitos éticos e leais da profissão. Art.22º Exercer a Enfermagem com justiça, competência, responsabilidade e honestidade. Art.23º Prestar Assistência de Enfermagem à clientela, sem discriminação de qualquer natureza [...] Art.26º Prestar adequadas informações ao cliente e família a respeito da assistência de Enfermagem, possíveis benefícios, riscos e conseqüências que possam ocorrer. Art.27º Respeitar e recorrer o direito do cliente de decidir sobre sua pessoa, seu tratamento e seu bem estar. Art.28º Respeitar o natural pudor, a privacidade e a intimidade do cliente.
  • 30. Art.29º Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua atividade profissional, exceto nos casos previstos em Lei [...] É proibido: [...] Art.54º Publicar trabalho com elementos que identifiquem o cliente, sem sua autorização. Art.55º Publicar, em seu nome, trabalho científico do qual não tenha participado ou omitir em publicações, nome de colaboradores e/ou orientadores. Art.56º Utilizar-se sem referência ao autor ou sem autorização expressa, de dados, informações, ou opiniões ainda não publicados. Art.57º Sobrepor o interesse da ciência ao interesse e segurança da pessoa humana [...] Todos os pais ou responsáveis pelos adolescentes recebiam um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando a participação do mesmo na atividade. Aos adolescentes foi garantido o sigilo e a privacidade, assim como a liberdade em se retirar da prática quando desejasse. Tanto pais ou responsáveis como os adolescentes, tinham conhecimento sobre a proposta da prática assistencial. 4.5 Revisando Objetivos e Avaliando as Estratégias OBJETIVO 1: Aprimorar nossos conhecimentos teórico-práticos sobre a sexualidade do adolescente em processo de adoecimento. Estratégias: Fizemos revisão de literatura referente a temática; Consultamos dados do Ministério da Saúde; Acompanhamos o adolescente em processo de adoecimento, durante o seu período de internação; Participamos de uma Oficina de Sexualidade e Sexo Mais Seguro, promovida pela Fundação Açoriana para o Controle da Aids.
  • 31. Avaliação: Esse objetivo foi alcançado quando as acadêmicas compreenderam o processo de desenvolvimento da sexualidade do adolescente em processo de adoecimento. OBJETIVO 2: Conhecer a dinâmica de funcionamento do serviço e estrutura física da Unidade A do Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), com relação ao atendimento ao adolescente. Estratégias: Realizamos visita prévia a Unidade A observando rotina de atendimento e conhecendo a equipe de Enfermagem; Realizamos acolhimento com os adolescentes que vivem em processo de adoecimento , pais ou responsáveis e equipe de Enfermagem; Realizamos cuidado de enfermagem, segundo rotina da Unidade A. Avaliação: Esse objetivo foi alcançado quando conhecemos o trabalho desenvolvido na unidade e desenvolvemos a prática segundo as rotinas do local e integrada aos demais procedimentos de enfermagem. OBJETIVO 3: Realizar consulta de enfermagem segundo a teoria de King, com adolescente em processo de adoecimento. Estratégias: Estudamos e compreendemos a Teoria de King; Construímos um roteiro de consulta baseado na Teoria de King; Desenvolvemos consulta de enfermagem com quatro adolescentes em processo de adoecimento tendo como base a Teoria de King. Avaliação: O objetivo foi alcançado quando realizamos a consulta de Enfermagem com os adolescentes com base na Teoria de King.
  • 32. OBJETIVO 4: Conhecer as necessidades do adolescente em processo de adoecimento sobre sua sexualidade. Estratégias: Identificamos as necessidades dos adolescentes durante a consulta e cuidado de enfermagem; Promovemos oficinas e discussões temáticas com os adolescentes da Unidade A, a partir das necessidades identificadas. Avaliação: O objetivo foi alcançado, pois conseguimos identificar e trabalhar com as principais dúvidas dos adolescentes sobre o tema. OBJETIVO 5: Desenvolver educação permanente de acordo com as necessidades identificadas. Estratégias: Realizamos oficinas com dinâmicas, cartazes e discussões em grupo com a equipe de Enfermagem, com os pais e com os adolescentes; Elaboramos folderes e uma cartilha com enfoque na sexualidade do adolescente. Avaliação: Alcançamos o objetivo, pois ao final das oficinas conseguimos satisfazer as necessidades dos adolescentes, da equipe e dos pais referentes ao tema. Cabe ressaltar, que não estava em nossos objetivos trabalhar com os pais dos adolescentes. Mas por solicitação dos mesmos, montamos uma oficina voltada a eles. OBJETIVO 6: Auxiliar o adolescente em processo de adoecimento no seu auto- conhecimento.
  • 33. Estratégias: Promovemos discussões temáticas em oficinas; Realizamos a troca de informações durante as consultas de enfermagem. Avaliação: O objetivo foi alcançado quando os adolescentes demonstraram compreensão e aceitação do processo por eles vivenciado. 4.6 Consulta de Enfermagem A consulta de enfermagem foi realizada com os adolescentes da Unidade A, do HIJG, sendo que para a mesma, nos baseamos nos Princípios e Diretrizes do Atendimento a Adolescentes e Jovens, do Ministério da Saúde (2005). O mesmo tem como princípios fundamentais: Ética – a relação profissional de saúde com os adolescentes e jovens deve ser pautada pelos princípios de respeito, autonomia e liberdade, prescritos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pelos códigos de ética das diferentes categorias. Privacidade – adolescentes e jovens podem ser atendidos sozinhos, caso desejem. Confidencialidade e sigilo – adolescentes e jovens devem ter a garantia de que as informações obtidas no atendimento não serão repassadas aos seus pais e/ou responsáveis, bem como aos seus pares, sem a sua concordância explícita. No entanto, eles devem ser informados sobre as situações que requerem quebra de sigilo, ou seja, sempre que houver risco de vida ou outros riscos relevantes tanto para o cliente quanto para terceiros, a exemplo de situações como abuso sexual, idéia de suicídio, informação de homicídios e outros. A consulta foi realizada com o intuito de conhecer os adolescentes e levantar suas necessidades frente aos modos de viverem a sua sexualidade, seguindo um roteiro (apêndice A). A partir da consulta, realizávamos atividades para satisfazer as necessidades identificadas. Realizamos quatro consultas de Enfermagem, sendo que três destas serão relatadas no processo de Enfermagem. Nas primeiras duas semanas, as consultas foram realizadas na sala de prescrição médica da Unidade. Após esse período, uma das funcionárias da equipe nos indicou a existência de uma sala, não utilizada, para a realização das nossas atividades.
  • 34. “Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia, eu não encho mais a casa de alegria. Os anos se passaram enquanto eu dormia, e quem eu queria bem me esquecia.[...] Eu não tenho mais a cara que eu tinha, no espelho essa cara não é minha. Mas é que quando eu me toquei, achei tão estranho, a minha barba estava deste tamanho.” Arnaldo Antunes
  • 35. 5. REVISÃO DE LITERATURA 5.1 Adolescência A adolescência é uma fase de indefinição, de transição, e ainda, um período passível de conflitos e crises, porém um período de busca de liberdade. Deve-se distinguir entre a puberdade, que é um processo de mudança física, e a adolescência, que é, em grande parte, um processo psicológico de mudança. Esses processos deveriam ser sincronizados, porém, muitas vezes isso não ocorre, e o adolescente precisa dar conta deste desequilíbrio e o estresse adicional. A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu na Reunião sobre Gravidez e Aborto na Adolescência, em 1974, um conceito de adolescência, caracterizada como uma fase do desenvolvimento humano em que: a. O indivíduo passa do ponto do aparecimento inicial dos caracteres sexuais secundários para a maturidade sexual. b. Os processos psicológicos do indivíduo e as formas de identificação evoluem da fase infantil para a fase adulta. c. Ocorre uma transição do estado de dependência econômica total a outro de relativa independência (OMS, 1975, apud REIS, 1993). De acordo com a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, art. 2º, “Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.” Na fase da adolescência, a identidade sexual é formada por fatores de ordem biológica, psicológica e social. Os fatores biológicos provocam alterações no corpo, desencadeadas pelos hormônios secretados. Os psicológicos caracterizam-se por uma aceleração do desenvolvimento cognitivo e uma consolidação da formação da personalidade; socialmente, a adolescência é um período de preparo intensivo para a idade adulta jovem. A adolescência é dividida em três períodos: a adolescência inicial, dos 10 aos 13 anos; a adolescência média, dos 14 aos 16 anos; e a adolescência tardia, dos 17 aos 20 anos incompletos. Cada fase tem suas peculiaridades. Na adolescência inicial ocorre o aparecimento dos caracteres sexuais secundários. Têm início as fantasias sexuais (que podem vir acompanhadas pela culpa) e a prática masturbatória, justificada pela curiosidade acerca das mudanças corporais que iniciam. As relações costumam
  • 36. ser platônicas, sem contato físico, tais como conversas ao telefone. Na adolescência média o nível de energia sexual é alto e o contato físico é mais valorizado. O comportamento sexual possui natureza exploratória, ocorre apenas busca de sensações e os adolescentes costumam negar as conseqüências do seu comportamento sexual. Na adolescência tardia o comportamento sexual é mais expressivo e menos exploratório, as relações mais íntimas e há preferência por relações mais duradouras. Nessa fase, há uma maior preocupação com os riscos e o uso de barreiras protetoras na relação sexual (REATO, In: FRANÇOSO; GEJER e REATO, 2001). Na adolescência, a idade cronológica nem sempre caracteriza biopsicossocialmente o indivíduo, já que o início e desenvolvimento da puberdade dependem de cada pessoa (CHIPKEVITCH, 2001, p. S135). É um período em que há necessidade de se fazer descobertas e conquistas pessoais. É uma época de escolhas e construção de um novo modo de entender a vida, inclusive a sexual. 5.2 Sexualidade na adolescência A sexualidade é mais ampla que a genitalidade, inclui a reprodução e a busca do prazer como princípio de equilíbrio biopsicossocial e espiritual. A construção da sexualidade tem início a partir das primeiras experiências afetivas com seus cuidadores e se desenvolve através das relações com a família, amigos e influências culturais. (SUPLICY, 1994 apud SIQUEIRA, 2003, p. 12) A sexualidade faz parte da personalidade de cada um, é uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida. Sexualidade não é sinônimo de coito (relação sexual) e não se limita à ocorrência ou não de orgasmo. Sexualidade é muito mais que isso, é a energia que motiva a encontrar o amor, contato e intimidade e se expressa na forma de sentir, nos movimentos das pessoas, e como estas tocam e são tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e portanto a saúde física e mental. Se saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deveria ser considerada um direito humano básico (WHO TECHNICAL REPORTS SERIES, 1975, Saiba mais sobre sexualidade, apud www.adolescencia.org.br). A sexualidade de uma pessoa depende de três fatores inter-relacionados: identidade sexual, identidade de gênero e comportamento sexual. Esses fatores afetam o crescimento, desenvolvimento e funcionamento de sua personalidade. Identidade sexual é um dos elementos fundamentais da identidade geral, que é delineada desde os primeiros momentos da vida e
  • 37. definida na adolescência, compreendendo a interação com os pais, fatores morais, culturais, sociais, religiosos, entre outros. Identidade de gênero refere-se ao sentido que o indivíduo tem de sua masculinidade ou feminilidade. A formação da identidade de gênero está baseada em atitudes parentais e culturais, na genitália externa e na influência genética. O papel de gênero é construído de forma cumulativa, através de experiências vivenciadas. Ele pode ser descrito como todas as coisas que a pessoa diz ou faz para mostrar-se detentora da condição de menino ou homem, menina ou mulher. Orientação sexual é a preferência da pessoa para estabelecer vínculos eróticos. Aprendemos, desde crianças, que a escolha afetivo-sexual deve ser determinada pelo padrão heterossexual. O problema é que ao passar isso à criança como a única verdade possível a ser aceita e cumprida, muito dificilmente ela terá, mais tarde, uma visão menos preconceituosa da homossexualidade. Os adolescentes expressam sua sexualidade de diferentes formas, como repressão do próprio impulso ou aceitação do ato, mesmo sem envolvimento afetivo. O impulso sexual ocorrerá em diferentes graus de interesse e de libido e sua forma de expressão dependerá da personalidade, de experiências vivenciadas, das oportunidades que surgem ao longo desse período, das expectativas sociais, de legados familiares, das expectativas do grupo no qual o jovem é inserido, dentre outros. O desejo pela relação sexual vai depender da identificação do adolescente pelo outro. Para o desenvolvimento do papel sexual ou de gênero, o adolescente precisa de pessoas complementares, que desempenham outros papéis, e este contato provoca a necessidade de formar vínculos afetivos, que vão determinar suas novas experiências. Nessa fase, a troca afetiva pode ou não ser valorizada e, dependendo das vivências, essa troca pode determinar dificuldades na formação de vínculos afetivos mais profundos. [...] A vivência do ato sexual reorganiza suas experiências sexuais anteriores, mas os medos impedem que ele vivencie de forma plena esse momento, o que pode produzir insegurança em relação ao futuro. O significado pessoal que cada adolescente dará à sexualidade pode alterar suas expectativas, criando, ou dissolvendo problemas. O ato sexual pode provocar frustrações, ou ser fonte de estímulo permanente (COSTA et al, 2001, p.S220). Um dos pontos mais importantes na sexualidade do adolescente, que acaba afetando relacionamentos e o próprio ato sexual, é a questão da imagem corporal. Todas as alterações que ocorrem aos poucos durante a adolescência, exigem sucessivas reconstruções e reformulações da imagem que temos do próprio corpo. Segundo alguns estudos, a imagem corporal estabelecida
  • 38. durante a adolescência é aquela que os indivíduos terão durante toda a vida. De acordo com Whaley & Wong (1999, p. 424), “Eles perderam a segurança de um corpo familiar e sentem estranheza a respeito de seus corpos alterados.” A imagem corporal rapidamente mutável do adolescente durante o desenvolvimento puberal torna-os bastante inseguros sobre seus corpos. A doença, a intervenção médica ou cirúrgica e a hospitalização aumentam sua preocupação em relação à normalidade. [...] Com freqüência, seus temores pela perda de controle e pela alteração da imagem corporal são demonstrados como confiança excessiva, vaidade ou uma atitude de ‘sabe-tudo’ (WONG, 1999, p. 549). A imagem corporal, principalmente das meninas, é, também, profundamente afetada pela banalização do sexo e erotização precoce. Quando se é criança e se imita a dançarina de um grupo de axé, a “funkeira”, a modelo internacional ou a atriz/ cantora famosa e de corpo escultural, não existe a intenção da sensualidade, mas apenas está em uma fase de identificação. Mas quando a criança cresce e entende o que imitava como objeto de desejo sua auto-estima pode ser destruída por não conseguir se igualar à pessoa desejada. Essa erotização precoce reafirma a discriminação ao corpo “gordinho”. Cada vez mais, existem adolescentes realizando lipoaspiração, passando horas dentro de uma academia em busca de um corpo perfeito, cheio de curvas e livre das “gordurinhas”, celulites e estrias. Com isso, o próprio ato sexual, acaba ficando separado do laço afetivo, pois a mulher entende que para ser aceita e ser amada, necessita ser desejável. E isso, ela só irá conseguir se tiver o corpo perfeito. Nesse aspecto, não só a mídia é culpada, mas também a sociedade. A mídia vende a idéia do corpo perfeito e da beleza, através do culto à imagem transmitida em programas voltados para mulheres que vendem produtos para ginástica e para emagrecer, dão dicas de dietas e de cirurgias para melhorar o aspecto do corpo. A sociedade dá o aval a esses programas, dando audiência e comprando os produtos anunciados. Cada vez mais, as pessoas ficam escravas da própria imagem. 5.3 Bulimia A bulimia consiste de episódios recorrentes do consumo de grandes quantidades de alimentos, num período limitado de tempo, acompanhados por um sentimento de perda do controle. O indivíduo tem comportamentos compensatórios recorrentes - como vômitos auto-
  • 39. induzidos, uso de laxantes ou diuréticos, jejum e exercícios excessivos – para evitar o ganho de peso. Para qualificar o transtorno, a compulsão periódica e os comportamentos compensatórios inadequados devem ocorrer, em média, pelo menos duas vezes por semana por 3 meses. (BALLONE, 2003) A interrupção social ou desconforto físico terminam o episódio de compulsão periódica, que freqüentemente é seguido por sentimentos de culpa e depressão. Os indivíduos com bulimia avaliam a si mesmos predominantemente com base na forma e peso do corpo. Basicamente é um paciente com sentimento de inferioridade e auto-estima baixa. Os pacientes com bulimia tipicamente se envergonham de seus problemas alimentares e procuram ocultar seus sintomas. O paciente reconhece o absurdo de seu comportamento, mas por não conseguir controlá-lo sente-se inferiorizado, incapaz de conter a si mesmo, por isso vê a si como uma pessoa desprezível. As compulsões periódicas geralmente ocorrem em segredo, ou dissimuladas,tanto quanto possível. Um episódio pode, ou não, ser planejado de antemão e em geral (mas nem sempre) é caracterizado por um consumo rápido. A compulsão periódica é tipicamente desencadeada por estados de humor disfóricos, estressores interpessoais, intensa fome após restrição por dietas, ou sentimentos relacionados a peso, forma do corpo e alimentos. (BALLONE, 2003) A técnica compensatória mais comum é a indução de vômito após um episódio de compulsão periódica. Os efeitos imediatos do vômito incluem alívio do desconforto físico e redução do medo de ganhar peso. A etiologia da doença não é certa ainda. Existem vários possíveis fatores causais: Biológicos: os níveis de endorfina plasmática estão aumentados em alguns pacientes com bulimia que vomitam, levando a possibilidade de que os sentimentos de bem-estar experimentados por alguns deles após o vômito possam ser mediados pelo aumento dos níveis de endorfina. Sociais: pacientes tendem a ser ambiciosos e respondem às mesmas pressões sociais para a magreza. Muitos são deprimidos, e existe uma depressão familiar aumentada. Além disso, a grande maioria dos pacientes bulímicos, têm família com menor intimidade e maiores conflitos entre os seus membros. A influência cultural tem sido apontada como um forte desencadeante, já que o corpo magro é encarado como símbolo de beleza, poder, autocontrole e modernidade.
  • 40. Psicológicos: a doença geralmente atinge a adolescentes, pois estes, têm dificuldades com as demandas da adolescência e maior instabilidade emocional. O tratamento consiste de várias intervenções incluindo psicoterapia individual de enfoque cognitivo-comportamental, terapia de grupo, terapia familiar e farmacoterapia. 5.4 Hipospádia Hipospádia é uma malformação congênita, caracterizada pela abertura anormal do meato urinário, em diferentes locais na face ventral do pênis, ou mais raramente na bolsa escrotal. Na maioria dos casos é acompanhada por uma alteração do prepúcio, sendo que este passa a ter o formato de um capuz. Em alguns casos, ao ficar ereto o pênis apresenta curvatura para baixo, em direção à bolsa escrotal. (MAKSOUD, 1998) Esta malformação ocorre por múltiplos fatores, podendo ser genético (Ex.: Sindrome de Reifenstein) e/ou hormonal (Ex.: deficiência da enzima "5-alfa-redutase", ou deficiência de receptores hormonais em nível celular do pênis). O tratamento começa logo após o nascimento, evitando a circuncisão, pois o prepúcio é essencial para a reconstrução do pênis. Em alguns casos selecionados há necessidade de tratamento hormonal pré-operatório. Na maioria dos casos o tratamento cirúrgico é realizado numa única cirurgia, sendo que a idade ideal para a cirurgia é entre os 6 e 18 meses de vida, diminuindo o risco de trauma emocional. (TRIGUEIRO) O tratamento cirúrgico visa : Permitir que o paciente urine de pé. Melhora estética Evitar as conseqüências psicológicas de órgãos genitais malformados Permitir que no futuro tenha função sexual normal. 20 – 40% necessitam reoperações, por vazamentos (fístula), estreitamentos (estenose) ou necrose na nova uretra. Infecções urinárias Alterações psicológicas (insegurança, baixa-estima, ....) As cirurgias complementares para correção destas complicações deverão ser feitas com intervalo entre elas de no mínimo 6 a 9 meses. O resultado estético definitivo lembra o de uma
  • 41. circuncisão, e só ocorre após 12 meses da cirurgia, mas sofre alterações, melhorando seu aspecto durante a puberdade. Podem ocorrer complicações pós-operatórias e as mais freqüentes são fístulas, deiscência de toda a uretra e estenose. 5.5 Hiperalgesia A dor pode ser definida como uma sensação desagradável, de intensidade variável, decorrente da reação de uma pessoa em relação a lesões reais ou potenciais. Denominamos as dores em geral de algias. (MERCK SHARP & DOHME) Dor é sempre subjetiva, pois é criada por alguns receptores presentes em nosso corpo, que são traduzidos em uma resposta emocional a esse estímulo. Muitas pessoas relatam dor na ausência de lesão tecidual ou de qualquer outra causa fisiopatológica provável: geralmente isto acontece por motivos psicológicos. A abordagem que se deve fazer da dor é que ela é um fenômeno biopsicossocial que resulta de uma combinação de fatores biológicos, psicológicos, comportamentais, sociais e culturais e não uma entidade dicotômica. A experiência dolorosa é um reflexo da raça, cultura, magnitude do estímulo, emoções, experiências e lembranças passadas e habilidade em entender e compreender suas causas e conseqüências. (MERCK SHARP & DOHME) A dor é uma resposta resultante da integração central de impulsos dos nervos periféricos, ativados por estímulos locais. Há basicamente três tipos de estimulos que podem levar à geração dos potenciais de ação nos axônios desses nervos: Variações mecânicas ou térmicas que ativam diretamente as terminações nervosas ou receptores. Fatores químicos libertados na área da terminação nervosa. Fatores libertados pelas células inflamatórias como a bradicinina, a serotonina, a histamina e as enzimas proteóliticas. Existem, basicamente, dois tipos de dor: a aguda (dura um curto período de tempo, geralmente menos de um mês) e a crônica (persiste ou recorre por mais de 3 meses ou dor associada à lesão de algum tecido que imagina-se poder evoluir).
  • 42. A dor é frequentemente acompanhada por respostas: psíquicas (alterações de humor, tendência ao isolamento, irritabilidade, depressão, ansiedade), somáticas (vocalização, posição antálgica, reflexo de retirada, entre outras) e viscerais (êmese, sudorese intensa, taquicardia, variação da pressão arterial). Hiperalgesia é a sensibilidade exagerada à dor; hipoalgesia é a diminuição da percepção nociceptiva e analgesia se refere quando a sensibilidade é suprimida.
  • 43. “As grandes conquistas da Humanidade têm começo no esforço pessoal de cada um. Disciplinando-se e vencendo-se a si mesmo, o homem consegue agigantar-se, logrando resultados expressivos e valiosos. Estas realizações, no entanto, têm início nele próprio [...]” Autor Desconhecido
  • 44. 6. PROCESSO DE ENFERMAGEM Para manter o sigilo de identidade dos adolescentes, iremos aqui chamá-los pelo nome dos integrantes de um grupo de música (RBD) que é a preferência atual de grande parte deles, inclusive dos que participaram da realização desta atividade. Utilizaremos também apelidos para manter o sigilo dos médicos ou outras pessoas citadas aqui. Iremos aqui, realizar o processo de quatro adolescentes, com os quais conseguimos realizar um cuidado mais prolongado e de forma integral.
  • 45. 6.1 MIA Primeiro passo – Dados de Base: Mia, uma adolescente de 13 anos, é natural de Lauro Muller e procedente de Cocal do Sul. Cursando a 6ª série do ensino fundamental, solteira, mora com pai e a mãe. O irmão mais velho (27 anos) casou-se há pouco tempo e mora próximo a eles. Ambos foram adotados (e têm conhecimento do fato) quando tinham 3 meses de idade. São filhos biológicos de mães diferentes. Internada na Unidade A do Hospital Infantil desde o dia 14 de setembro de 2006, com o diagnóstico de bulimia. Faz uso contínuo de Fluoxetina, mas diz que o remédio não causa nenhum efeito. Tem 1,57 metros de altura e 45 quilos. Loira, cabelos compridos e lisos com mechas mais claras, olhos azuis e pele clara. Mia é uma adolescente um pouco tímida, introspectiva, carinhosa, meiga, colaborativa nas atividades propostas por nós. Preferia conversar sem a presença da mãe e de outras pessoas do sexo masculino. Tem o sonho de ser modelo. Em várias oportunidades relatou que faria qualquer coisa para alcançar esse objetivo. “Eu venderia a minha mãe para ser modelo. Se eu não puder ser eu vou continuar com a bulimia.” (Mia. DIÁRIO DE CAMPO, 23/10/2006). Gostaria de ser mais magra, alta e ter cabelo crespo. Não se considera uma menina bonita, mesmo quando as pessoas a elogiam. “Quando a pessoa me fala que eu sou bonita, eu as vezes penso que ele só fala para me agradar.” (Mia. CONSULTA DE ENFERMAGEM, 27/10/2006). Afirma já ter ficado com dois rapazes: um de 15 e outro de 16 anos. Na primeira vez ficou com vergonha, pois não sabia beijar. Na segunda vez arrependeu-se de ter ficado, mas não quis falar o motivo quando questionada. É virgem e considera a virgindade importante.
  • 46. “A mulher tem que se cuidar e só perder a virgindade quando encontrar o cara que ame ela de verdade e ela também.” (Mia, QUESTIONÁRIO DE SEXUALIDADE, 23/10/2006) Mia já conversou sobre sexualidade com sua mãe e disse que a conversa foi boa, mas não trouxe nada de novo. Sente muita vergonha em falar sobre o assunto. Quando tem dúvidas sobre o tema, costuma conversar com amigas. Não tem a equipe de saúde como referência para tirar suas dúvidas sobre sua doença e sobre sexualidade. Diz que gostaria de saber mais sobre as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), mas que não liga muito. Acha a Unidade A muito infantilizada e que não tem muitas coisas para fazer. Ela sempre nos dizia que gostava muito quando ficávamos com eles, mesmo que fosse só conversando, pois assim o tempo passava mais rápido. Descreve-se como uma garota sonhadora, teimosa, ciumenta, simpática e, às vezes, tímida. Tem medo de ficar gorda, não realizar seus sonhos (de ser atriz, modelo e falar inglês) e de morrer. Ao ser questionada sobre o porquê teme tanto ficar gorda, preferiu não falar do assunto. Para manter o peso, realizava caminhadas e abdominais diários, sendo que estes últimos realizava em qualquer tempo livre que tinha. Relata que sempre teve cuidados de higiene e conforto com o corpo, mas que após os “distúrbios” (sic) ela descuidou-se. Considera os olhos como a parte mais sedutora de seu corpo e gostaria de fazer uma Lipoaspiração na barriga para “deixá-la retinha” (sic). Gostava mais do corpo de quando era mais nova, pois era bem mais magra. “No meu caso eu comecei a querer ficar magra por causa que na TV todos falavam que o corpo perfeito era o magro e que pra ser modelo é preciso ser bem magra e alta” (Mia. OFICINA IMAGEM CORPORAL II, 06/11/2006) A mãe relata que no ano passado Mia reprovou na escola e após isso percebeu que a filha começou a ficar mal. No início desse ano, Mia menstruou durante 40 dias e por isso teve anemia e depressão. Teve grande perda de peso e iniciou tratamento para engordar. Quando Mia melhorou e ganhou peso, iniciou com os vômitos escondidos. A família só percebeu que algo estava errado, quando viram o rápido emagrecimento de Mia (5 kg em menos de uma semana). Então, ela foi internada em uma clínica psiquiátrica durante 4 dias, e após foi encaminha ao HIJG.
  • 47. A menarca aconteceu aos 11 anos de idade. Há três meses não menstrua e acredita que seja devido a bulimia. A mãe conta que Mia teve muitas dificuldades em aceitar as mudanças do corpo decorrentes da puberdade. “Para ela usar sutiã, teve que apanhar do irmão porque não queria usar. Quando ficou mocinha foi um trabalho, porque não queria usar absorvente.” (Mãe da Mia. OFICINA DE RELACIONAMENTO COM PAIS, 08/11/2006). A mãe sente-se muito assustada com a doença de Mia, pois os médicos falaram que se não cuidar pode levar a morte. Ela acha que a filha começou com os vômitos por influência ou da novela Páginas da Vida (a qual possui uma personagem adolescente com Bulimia) ou Rebelde (novela para o público adolescente, na qual todos são magros e bonitos), ou então porque um rapaz da escola falou que para ela ser modelo teria que ser mais magra que o normal. A mãe acha que Mia ainda vai dar muito problema, pois não está curada e ainda se acha gorda. Acha, ainda, que Mia continua vomitando e que está sempre fazendo caminhadas pelo hospital. Em casa fica sempre desfilando em frente ao espelho e trocando de roupa. Mia tem no irmão mais velho a figura de pai, e não se sente bem com a perseguição da mãe. Esta perseguição foi observada também por nós durante as atividades realizadas. A mãe de Mia a todo momento ia verificar se a filha estava conosco e pedia que a acompanhássemos na volta ao quarto. Em várias oportunidades Mia referiu que não gostava da atitude da mãe em relação a ela e de ser supervisionada de tal maneira. “Gostaria que minha mãe conversasse mais comigo e não ficasse só brigando e me perseguindo.” (Mia. OFICINA DE RELACIONAMENTO COM OS ADOLESCENTES, 06/11/2006). Mãe afirma que Mia disse que se o irmão tiver um filho vai sentir muito ciúme. “Mia e o irmão se dão muito bem, tipo pai e filha. O pai não desejava adotar Mia e sempre criticava ela por qualquer coisinha. Ele não fala direito com os filhos.” (Mãe de Mia, OFICINA DE RELACIONAMENTO COM PAIS, 08/11/2006) Em sua primeira Licença Hospitalar (LH) o irmão não foi orientado sobre a dieta de Mia e ofereceu diversos sanduíches que ela aceitou. Após a ingestão, ela induziu vômito. O pai instigou Mia a não falar aos médicos que ela havia vomitado e que ele preferia ficar sozinho em casa a ficar com ela e a mãe. Além disso, ela recebeu visitas dos ex-colegas de classe, mas não
  • 48. gostou, pois estava com vergonha por estar gorda. Mia se pesou uma vez durante a licença, com medo de ter ganhado muito peso. Mia referiu que sempre sofreu agressões físicas e verbais por parte da família. A mãe ameaçava devolvê-la à mãe biológica. Diz que o irmão briga muito com ela e que implica demais com o que ela faz. Que a trata como se fosse pai dela e que se ele souber que ela já ficou com alguém, vai brigar com ela. Gosta da cunhada e diz que a mesma a defende, às vezes. Em uma das consultas com a psiquiatra, relatou que sente culpa por ter magoado os pais durante as discussões. Em todas as nossas conversas, Mia sempre se referiu a bulimia como sendo um “distúrbio alimentar”. Em nenhum momento, falou diretamente sobre a doença conosco. Na verdade, ela sempre fugia do assunto. “Vocês sabem o que eu tenho né?... Tô aqui por causa do distúrbio.” (Mia. CONSULTA DE ENFERMAGEM, 27/10/2006). Segundo passo – Diagnósticos de Enfermagem: Auto-Estima perturbada relacionada ao fracasso escolar e problemas de relacionamentos familiares, evidenciada por verbalização. Imagem Corporal perturbada relacionada a percepções irreais sobre a sua aparência, à Bulimia Nervosa e às mudanças do desenvolvimento, evidenciada por verbalização e desenhos. Controle Ineficaz do Regime Terapêutico relacionado a conflitos familiares e não aceitação do problema, evidenciado por verbalização de paciente e familiar. Risco para Crescimento e Desenvolvimento Retardado relacionado ao peso abaixo do ideal e baixa ingesta alimentar. Nutrição Desequilibrada: Menos que as Necessidades corporais relacionada ao vômito auto-induzido, exercícios físicos em excesso considerando-se a ingesta calórica ou recusa em comer, secundárias á Bulimia.
  • 49. Processos Familiares Interrompidos relacionados ao impacto da Bulimia na família, à hospitalização da adolescente e às mudanças emocionais na família devido ao tratamento da adolescente. Enfrentamento Ineficaz relacionado aos recursos psicológicos inadequados para adaptar- se a mudanças físicas e emocionais, evidenciados por verbalização e atitudes da adolescente. Terceiro passo – Planejamento: 1. Estabelecer um relacionamento confiável entre as acadêmicas e a adolescente. 2. Encorajar a adolescente a expressar os sentimentos, expectativas e preocupações especialmente sobre a forma como pensa ou vê a si mesma. 3. Esclarecer qualquer concepção errônea que a adolescente tenha sobre si mesma ou sobre as pessoas que prestam cuidado a ela. 4. Proporcionar privacidade e ambiente seguro. 5. Evitar a crítica negativa. 6. Promover a interação social. 7. Proporcionar informações confiáveis e reforçar as informações já fornecidas. 8. Proporcionar oportunidades para discutir as preocupações da mãe. 9. Discutir com os pais a necessidade da adolescente de “fazer parte”. 10. Incluir Mia nas decisões sobre o seu cuidado. 11. Proporcionar oportunidades para o envolvimento em outras atividades (filmes, bate- papos, entre outros). 12. Explicar a importância da nutrição adequada. 13. Auxiliar a mãe e a adolescente na vivência da situação. 14. Reconhecer os pontos fortes da adolescente e da mãe. 15. Informar à mãe sobre os efeitos da hospitalização prolongada na adolescente. Fornecer aconselhamento sobre questões relacionadas à puberdade, saúde e sexualidade.
  • 50. Quarto passo – Implementação: Durante as oficinas, dinâmicas e conversas incentivamos Mia a participar das atividades e plano terapêutico, estabelecidos por nós e Instituição. Sempre ressaltamos a importância de amar- se e trabalhamos a sua auto-estima e auto-imagem, de forma clara e realista. Procuramos estabelecer uma relação de confiança com Mia e sua mãe. Durante a Oficina de Relacionamento, realizada com os pais, enfatizamos o quanto era importante a mãe conversar, confiar e respeitar a filha. Ressaltamos à mãe de Mia que as revoltas e comportamento agressivo por parte da adolescente são normais à idade e ao fato de estar hospitalizada há muito tempo. Colocamos a Mia a importância de impor suas vontades e sentir-se responsável por suas decisões e parte integrante da família. Realizamos oficinas com Mia e com sua mãe, separadamente, a partir das necessidades de cada uma. Quinto passo – Avaliação: No início, sentíamos um certo distanciamento por parte de Mia, mesmo esta tendo demonstrado interesse em participar do trabalho. Com o tempo, houve uma aproximação maior devido a interação estabelecida entre Mia e nós. Ao longo do trabalho, ela começou a sentir-se mais a vontade em falar conosco e passou a nos procurar para realização das atividades ou somente para conversar. As metas traçadas com Mia e sua mãe apresentaram resultado satisfatório, contudo, acreditamos que deve ser mais discutido com Mia a sua imagem corporal. Apesar de ter tido uma melhora da primeira oficina de imagem corporal para a segunda, ainda há muito o que ser trabalhado sobre esse aspecto. Também deve ser conversado e explicado mais para a mãe, a importância de confiar e deixar que Mia tome para si a responsabilidade sobre sua doença.
  • 51. 6.2 ROBERTA Primeiro passo – Dados de Base: Roberta, 12 anos e 9 meses é natural de Santo Amaro e procedente de Palhoça. Cursando a 7ª série do Ensino Fundamental, católica, solteira, mora em uma casa com a mãe, o padrasto, a irmã de 10 anos e o irmão de 3 anos. O pai biológico faleceu quando a mãe estava grávida dela de 6 meses. Internada na Unidade A desde o dia 08 de outubro de 2006, com o diagnóstico de dor à esclarecer. Há mais ou menos 51 dias realizou uma ooforectomia à direita e fixação do ovário à esquerda, evoluindo com dor abdominal contínua em flanco inferior esquerdo. Refere que a dor que ela sente agora é a mesma que sentia antes da cirurgia. Durante as crises de dor, o abdome fica distendido e endurecido, doloroso à palpação em flanco inferior esquerdo, além de sentir náuseas. Faz uso contínuo de anticoncepcional, o que acha extremamente desagradável pois vai retardar o crescimento e dar forma ao corpo mais rápido. Após algumas semanas internada, realizou uma videolaparoscopia, na qual foi constatada uma aderência das alças intestinais. Mesmo depois de realizar o “descolamento’, ela refere continuidade da dor, com períodos de agudização. O médico suspeita de dor psicológica, o que a deixa extremamente irritada. A psicóloga que acompanha o caso, diz que ela não tem características de dor psicológica. Tem 1,60 metros de altura e 51 quilos. Cabelos cacheados, longos e loiros, olhos azuis e pele clara. Roberta é uma adolescente simpática, sorridente, extrovertida e colaborativa nas atividades propostas por nós. Tem o sonho de ser médica cirurgiã pediátrica, como o Dr. Xavier. Considera-se teimosa, alegre, nervosa, amorosa, carinhosa, simpática e apaixonada. Acha que o que tem de mais sedutor é a boca, os olhos e o visual. A menarca aconteceu com 11 anos. Afirma que não faria plástica. “Não, pois eu sou bonita do jeito que eu sou e não do jeito que os outros querem que eu seja.” (Roberta, QUESTIONÁRIO DE SEXUALIDADE, 23/10/2006).
  • 52. Para ela sexualidade é o mesmo que relação sexual. Já conversou sobre o assunto com a mãe, que é professora, e que sentiu-se normal. Geralmente, conversa com uma amiga quando tem dúvidas sobre o tema. Não tem os profissionais de saúde como referência para falar de suas dúvidas sobre sexualidade, prefere pesquisar em qualquer outro lugar antes. Roberta relata que se a cicatriz da cirurgia fosse um pouquinho maior não usaria biquíni na praia, porque senão apareceria. Considera a Unidade A um pouco infantilizada. Gostaria que tivesse mais atividades voltadas para a faixa etária dela e que pudesse entrar no MSN e em bate-papo na internet. Diz que tem uns profissionais que são bravos e ficam falando coisas que ela não gosta, que ela finge a dor e que a dor é psicológica. Não conta tudo para a mãe, porque tem coisas que se a mãe souber bateria nela. Para o padrasto não conta nada porque não tem liberdade. Já foi em matinê na New Time, no carnaval e na Festa do Divino sem a mãe saber, mas com a autorização da avó paterna. Quem a levou foi a prima de 16 anos. Acha que é mais madura do que as meninas da idade dela. Afirma já ter ficado com dois meninos. Um de 19 anos e um de 18 anos. O de 19 anos a traiu com a melhor amiga. Ele até tentou transar com ela, mas ela não sentia confiança. Roberta diz que só gosta de homens mais velhos. “Homens mais velhos são mais maduros. Eu sou muito madura para os meninos mais novos.” (Roberta, DIÁRIO DE CAMPO, 23/10/2006). Nutre uma paixão pelo Dr. Xavier, o médico residente responsável pelo caso dela, por isso, não quer ir de alta. Gostaria de namorá-lo, mesmo não conhecendo muito a personalidade dele. Pensou em se declarar antes da videolaparoscopia, mas ficou com vergonha. É virgem, e diz que quer que a primeira relação sexual seja quando ela estiver madura, não importa a idade, mas que gostaria que fosse com o Dr. Xavier. Gostaria que iniciasse como uma brincadeira: um faria a pergunta e o outro respondia, se respondesse certo o parceiro tiraria uma peça da roupa. Após isso, ocorreria beijos e agarramentos, para depois eles “fazerem besteira”. Então, eles jantariam, fariam novamente “besteira” e tomariam banho juntos. “Essa noite, sonhei que fui ao motel com o Dr. Felipe e que fiz besteira.” (Roberta, DIÁRIO DE CAMPO, 23/10/2006).
  • 53. Em todas as conversas, sempre, se refere ao ato sexual como besteira. Gostaria que sua primeira relação fosse perfeita. Diz também, que já teve um tempo que só pensava em sexo, e sempre com o Dr. Xavier, o qual já conhecia antes dessa internação, pois consultava-se com ele. Disse que já assistiu a filmes pornôs, mas que achou “nojento”. Roberta afirma que trocaria a família, largaria tudo para ficar com o Dr. Xavier. Diz que em uma consulta, ele colocou a mão na perna dela e que ela derreteu-se toda com isso. Acha que o que sente é errado. “É uma paixão louca. É meu primeiro amor Eu dou a vida por ele.. Vai demorar muito para eu conseguir esquecer ele.” (Roberta, DIÁRIO DE CAMPO, 23/10/2006). Descreve o namorado perfeito como sendo carinhoso, calmo, atencioso, fiel, paciente, trabalhador e independente. Mas acha que é muito nova ainda para namorar, pretende esperar até os 15 anos de idade. Gosta de ser adolescente, acha que é bom porque se apaixona e sai com as amigas. Só acha ruim não poder sair sem permissão e ter um amor não correspondido. Obteve alta e retornou uma semana depois, referindo continuação dos episódios de dor. Durante várias crises, foi medicada com placebo tendo melhora da dor. Iniciou tratamento com médica especialista em dor. A mãe de Roberta acredita que a dor seja psicológica também, já que após realizar vários exames, nenhum deles constatou qualquer problema. Durante o período de cuidado, observamos que os episódios de dor iniciavam de repente. Durante os mesmos, Roberta ficava prostrada, com fácies de dor e abdome tornava-se muito mais distendido. Apresentava sudorese e em algumas vezes taquicardia. Por várias vezes, ressaltou que não gostaria de ir para casa, pois teria que ficar longe do Dr. Xavier. No início ela até tentava disfarçar essa “paixão”, mas depois ela passou a falar para todos sobre ela. Segundo passo – Diagnósticos de Enfermagem: Conforto prejudicado, relacionado à dor aguda, evidenciado por fácies de dor, verbalização da adolescente e da mãe e observação das acadêmicas e equipe de Enfermagem.
  • 54. Risco para crescimento e desenvolvimento retardados, relacionado ao uso de anticoncepcionais e hospitalização repetida e prolongada. Enfrentamento ineficaz relacionado à hospitalização prolongada, e a recursos psicológicos inadequados para adaptar-se a conscientização sexual. Risco para Imagem Corporal Perturbada, relacionado a cicatriz cirúrgica. Processos Familiares Interrompidos relacionados ao impacto da doença na família, à hospitalização da adolescente e às mudanças emocionais na família devido ao tratamento da adolescente. Terceiro passo – Planejamento: 1. Estabelecer um relacionamento confiável entre as acadêmicas e a adolescente. 2. Encorajar a adolescente a expressar os sentimentos, expectativas e preocupações especialmente sobre as possíveis causas da dor, sobre a maneira como se vê e sobre os efeitos do uso contínuo do anticoncepcional. 3. Proporcionar informações sobre as possíveis causas da dor, duração, métodos investigativos e tratamento. 4. Proporcionar o alívio ideal da dor com os analgésicos prescritos. 5. Ensinar medidas não-invasivas de alívio da dor. 6. Encorajar a família a dar atenção, mesmo quando a adolescente não estiver sentindo dor. 7. Encorajar os membros da família a compartilharem suas preocupações de forma particular. 8. Proporcionar oportunidades de interação com outros adolescentes da mesma idade na Unidade. 9. Proporcionar oportunidades para envolvimento em várias atividades, como leitura, assistir filmes, bate-papos, entre outros. 10. Encorajar a auto-avaliação do próprio comportamento (Isso deu certo? Como você se sentiu? O que você aprendeu?). 11. Auxiliar a adolescente a solucionar os problemas de maneira construtiva. 12. Informar à mãe sobre os efeitos da hospitalização prolongada.
  • 55. 13. Discutir as vantagens da alta hospitalar com adolescente. 14. Ressaltar os cuidados com a cicatriz cirúrgica. 15. Fornecer aconselhamento sobre questões relacionadas à puberdade, saúde e sexualidade. Quarto passo – Implementação: Durante as oficinas, dinâmicas e conversas incentivamos Roberta a participar das atividades e plano terapêutico, estabelecidos por nós e Instituição. Procuramos estabelecer uma relação de confiança com Roberta e sua mãe. Sempre a questionávamos sobre se o que ela sentia pelo Dr. Xavier era paixão, ou um encantamento por ele agir carinhosamente com ela. Roberta referiu que era os dois. Colocamos que o Dr. Xavier possuía namorada e que era extremamente apaixonado por ela e que por isso, a paixão que ela sentia por ele não teria sucesso. Ela dizia que sabia, mas que não conseguia esquecê-lo. Porém, percebemos que ela não fazia questão de esquecê-lo por três motivos: primeiro pelo fato dela alardear a todos (exceto claro Dr. Xavier) a sua “paixão”; segundo, porque sempre que tentávamos mudar de assunto, quando ela começava a falar do Dr. Xavier, ela persistia no mesmo; e em terceiro, porque sempre que podia estava à procura dele pelo hospital. Nas oficinas tentávamos conversar sobre outras coisas, para não estimular a imaginação de Roberta quanto ao Dr. Xavier. Em uma das nossas conversas, ela chegou até mesmo a contar um sonho que teve sobre ele e nós, mas que no decorrer nos pareceu ser uma invenção dela, porque percebemos que ela começou a enrolar e a se contradizer na história. Discutimos com Roberta as vantagens em ela não estar no hospital, o que ela poderia fazer estando em casa e com colegas da sua idade. Realizamos oficinas com Roberta e com sua mãe, separadamente, a partir das necessidades de cada uma. Quinto passo – Avaliação: Conseguimos estabelecer um relacionamento de confiança desde o início das atividades, tanto com Roberta como com sua mãe. No final, porém, ela relutava um pouco em realizar
  • 56. algumas atividades propostas, solicitando para que fôssemos caminhar pelo hospital, principalmente pela Emergência e Centro Cirúrgico (sempre à procura do Dr. Xavier). Percebemos que ela já nos via mais como amigas, do que como profissionais. A mãe de Roberta falava sempre o quanto acha sua filha madura. Acreditamos que isso interfere no modo como Roberta expressa sua sexualidade e acha-se, igualmente, madura, apesar de suas atitudes não confirmarem esse fato. Na verdade, suas atitudes são próprias da faixa etária em que se encontra. As metas traçadas por nós e por Roberta apresentaram resultado satisfatório, mas acreditamos que seria necessário um acompanhamento psicológico para auxiliá-la a vivenciar sua sexualidade de forma mais saudável e conseguir lidar com as “paixões” próprias da fase.