Kenia sofreu um grave acidente de carro em 1995 que deixou seu namorado morto e ela em coma, com muitas lesões. Após 8 meses se recuperando em uma cama, ela passou por uma longa reabilitação para voltar a andar. Anos depois, encontrou na corrida uma forma de superar os traumas físicos e emocionais, completando sua primeira meia maratona. Agora, seu objetivo é correr uma maratona completa em 2015.
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Revista Runners - Dezembro 2014
1. Nascida
de novo
Kenia teve que
recomeçar do zero,
após passar pelo maior
obstáculo de sua vida
Por Gabriela Ingrid
Fotos Paula Giolito
A quela noite de dezembro de
1995 era de festa. Depois da for-matura
do namorado, em Bam-buí
(MG), Kenia Carneiro de Oliveira,
então com 17 anos, entrou no carro do
companheiro e os dois seguiram para
Arcos. O trajeto seria de cerca de 260 km,
quase 4 horas de viagem, mas o tempo
parou em algum ponto da estrada.
Dois micro-ônibus apostavam cor-rida
na rodovia que liga as duas cida-des
e, durante uma ultrapassagem, um
deles perdeu o controle e atingiu o carro
do casal. O namorado bateu a cabeça na
direção e Kenia, que estava sem o cinto de
segurança, foi arremessada pela janela. O
micro-ônibus, após capotar, passou por
cima do corpo dela, que ficou em coma
induzido durante uma semana e teve que
passar por diversas cirurgias. Só quando
saiu do hospital, um mês depois, sua
família deu a notícia: seu namorado não
resistira e havia morrido. “Foi um cho-que,
um abismo”, ela conta hoje.
renascimento
Kenia passou oito meses
na cama após um acidente
[ dezembro | 2014 ] Runner’s World 29
2. Segundo a mineira, a recuperação emo-cional
foi muito mais difícil do que a física.
“Eu tinha 17 anos, muitas fantasias e ilu-sões
permeavam minha cabeça. Sonháva-mos
com um noivado em janeiro de 1996,
no mês do meu aniversário”, conta ela. “Na
época perdi totalmente a fé. Hoje eu sei que
foi Deus quem me salvou, mas eu nunca
entenderei por que uma coisa assim acon-tece
nas nossas vidas. Demorei três anos
para me relacionar de novo.”
No acidente, Kenia teve politrauma-tismo
e o pulmão perfurado e perdeu 4
litros de sangue. Quando saiu do hospital,
só conseguia mover o pescoço e o braço
esquerdo. Foram oito longos meses em
cima de uma cama. “Eu tentei não desis-tir.
Forçava meu corpo a se mexer e fazia
muita fisioterapia”, ela conta. Quando
finalmente conseguiu se levantar, apro-veitava
as manhãs para caminhar com a
mãe. “O esforço foi absurdo, doía muito, já
que minha musculatura estava atrofiada
depois de tantos meses na cama. Mas meu
namorado virou meu anjo da guarda e
meus pais e amigos me deram muita força.
Eu tinha certeza de que voltaria a andar.”
Entre levantar-se da cama e voltar a andar
normalmente foram três meses.
Depois da tempestade
O fim da adolescência foi duro, mas Kenia
acredita que saiu da experiência mais forte
e segura. Ela mudou-se para Três Corações
para se formar em administração, depois
foi para Belo Horizonte e Nova York, onde
morou durante um ano. De lá seguiu
para o Rio, voltou para BH, morou no
Canadá e finalmente estacionou no Rio,
onde vive até hoje. Entre idas e vindas,
Kenia começou a sentir vontade de prati-car
um esporte, mas ainda tinha medo de
se machucar. “Eu pensei que nunca fosse
fazer algo que requer esforço e condicio-namento”,
ela conta. Para tirar a dúvida,
conversou com um ortopedista, que a tran-quilizou:
“Ele disse que já estava tudo calci-ficado
e que eu podia fazer o que quisesse,
desde que não sentisse dor”.
Com o aval do médico, ela passou a
maratona em 2015
A meta de Kenia para o ano
que vem é completar os 42 km
Em agosto deste ano, Kenia completou a Meia Maratona da Cidade do Rio de Janeiro em 2h58.
VIDA NA RAIA Por Jean Galvão
olhar os corredores na orla de forma dife-rente
e se interessou pela corrida. Foi difícil
pegar o jeito, mas há um ano ela entrou no
ritmo. Colocou os 10 km como foco e trei-nou.
Muito. E conseguiu. Depois vieram os
21 km — uma meia em janeiro deste ano e
outra em agosto. Em pouco tempo, Kenia
fez jus ao próprio nome e hoje corre sem
medo: “Eu quero mais. Quero fazer uma
maratona e um duatlo em 2015”.
A administradora, hoje com 36 anos,
corre três vezes por semana e faz spin-ning.
Sempre agitada e animada, Kenia
não deixa a peteca cair: “Com a corrida, eu
pude provar que, mesmo depois de tudo o
que passei, nada é impossível”.
30 Runner’s World [ dezembro | 2014 ]