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O	Arqueiro
GERALDO	JORDÃO	PEREIRA	(1938-2008)	começou	sua	carreira	aos	17	anos,	quando	foi	trabalhar	com	seu	pai,	o	célebre	editor	José
Olympio,	publicando	obras	marcantes	como	O	menino	do	dedo	verde,	de	Maurice	Druon,	e	Minha	vida,	de	Charles	Chaplin.
Em	1976,	fundou	a	Editora	Salamandra	com	o	propósito	de	formar	uma	nova	geração	de	leitores	e	acabou	criando	um	dos	catálogos	infantis
mais	premiados	do	Brasil.	Em	1992,	fugindo	de	sua	linha	editorial,	lançou	Muitas	vidas,	muitos	mestres,	de	Brian	Weiss,	livro	que	deu
origem	à	Editora	Sextante.
Fã	de	histórias	de	suspense,	Geraldo	descobriu	O	Código	Da	Vinci	antes	mesmo	de	ele	ser	lançado	nos	Estados	Unidos.	A	aposta	em
ficção,	que	não	era	o	foco	da	Sextante,	foi	certeira:	o	título	se	transformou	em	um	dos	maiores	fenômenos	editoriais	de	todos	os	tempos.
Mas	 não	 foi	 só	 aos	 livros	 que	 se	 dedicou.	 Com	 seu	 desejo	 de	 ajudar	 o	 próximo,	 Geraldo	 desenvolveu	 diversos	 projetos	 sociais	 que	 se
tornaram	sua	grande	paixão.
Com	 a	 missão	 de	 publicar	 histórias	 empolgantes,	 tornar	 os	 livros	 cada	 vez	 mais	 acessíveis	 e	 despertar	 o	 amor	 pela	 leitura,	 a	 Editora
Arqueiro	é	uma	homenagem	a	esta	figura	extraordinária,	capaz	de	enxergar	mais	além,	mirar	nas	coisas	verdadeiramente	importantes	e	não
perder	o	idealismo	e	a	esperança	diante	dos	desafios	e	contratempos	da	vida.
Título	original:	The	Shadow
Copyright	©	2016	por	Sylvain	Reynard
Copyright	da	tradução	©	2016	por	Editora	Arqueiro	Ltda.
Todos	os	direitos	reservados.	Nenhuma	parte	deste	livro	pode	ser	utilizada	ou	reproduzida	sob	quaisquer	meios	existentes	sem
autorização	por	escrito	dos	editores.
Publicação	feita	mediante	acordo	com	a	editora	original,
Berkeley,	divisão	da	Penguin	Random	House	LLC.
tradução:	Santiago	Nazarian
preparo	de	originais:	Lucas	Bandeira
revisão:	Flávia	Midori	e	Rebeca	Bolite
diagramação:	Abreu’s	System
capa:	Lesley	Worrell
adaptação	de	capa:	Miriam	Lerner
imagens	de	capa:	Shutterstock.	Homem	©	Roman	Seliutin;	ponte	©	ermess
imagens	de	miolo:	estátua	©	Latinstock/	Album/	akg-images/	Akg-Images;
paisagem	©	Ionut	David/	Dreamstime.com
adaptação	para	e-book:	Marcelo	Morais
CIP-BRASIL.	CATALOGAÇÃO	NA	PUBLICAÇÃO
SINDICATO	NACIONAL	DOS	EDITORES	DE	LIVROS,	RJ
R353s 	 	
Reynard,	Sylvain
A	sombra	do	passado	[recurso	eletrônico]/	Sylvain	Reynard;	tradução	de	Santiago	Nazarian.	São	Paulo:	Arqueiro,	2016
recurso	digital								(Noites	em	Florença;	2)
Tradução	de:	The	Shadow
Formato:	ePub
Requisitos	do	sistema:	Adobe	Digital	Editions
Modo	de	acesso:	World	Wide	Web
ISBN	978-85-1512-628-2	(recurso	eletrônico)
1.	Ficção	americana.	2.	Livros	eletrônicos.	I.	Nazarian,	Santiago.	II.	Título.	III.	Série.
16-35841
CDD:	813
CDU:	821.111(73)-3
Todos	os	direitos	reservados,	no	Brasil,	por
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A	meus	professores,	com	gratidão
Judite	e	Holofernes,	circa	1453-1457,	de	Donatello
W
Prólogo
1268
York,	Inglaterra
illiam	não	estava	correndo.
Por	algum	tempo	ele	havia	esperado	nas	sombras	perto	de	um	dos	portões	inferiores	da	cidade
murada	 de	 York,	 seu	 cavalo	 amarrado	 por	 perto.	 Sua	 amada	 Alicia	 não	 aparecera.	 Os	 sinos	 das
completas	 já	 tinham	 soado	 havia	 muito,	 então,	 impaciente	 e	 irritado,	 ele	 deixou	 o	 lugar	 do	 encontro
secreto	e	conduziu	seu	cavalo	na	direção	da	casa	do	pai	dela.
O	pai	de	Alicia	era	um	bom	homem.	Um	comerciante	bem-sucedido	que	havia	trabalhado	muito	para
chegar	ao	topo	da	classe	mercante.	Mas	era	anglo-saxão.	A	origem	de	Alicia,	ainda	mais	sendo	filha	de
comerciante,	 a	 tornava	 uma	 esposa	 inadequada	 para	 William	 aos	 olhos	 de	 sua	 família	 normanda	 e
aristocrática.
Mas	 William	 a	 queria.	 Ele	 a	 havia	 cortejado	 em	 segredo	 e	 os	 dois	 tinham	 feito	 planos	 para	 se
encontrar	e	fugir	para	o	Norte.	Lá	eles	iriam	se	casar	e,	com	as	poucas	joias	e	objetos	que	William
roubara	de	sua	família,	iriam	começar	uma	vida	juntos.
Ele	era	jovem,	forte	e	extremamente	inteligente.	Alicia	era	bela,	boa	e	esforçada.	Juntos	teriam	uma
vida	feliz.
Apesar	de	ter	prometido,	Alicia	não	aparecera.
William	 praguejou	 em	 anglo-normando,	 sua	 língua	 materna,	 supondo	 que	 o	 pai	 de	 Alicia	 tivesse
descoberto	o	plano	de	fuga	e	a	houvesse	confinado	na	casa.
Ele	a	amava.	E	a	teria	mesmo	se	fosse	preciso	lutar	com	o	pai	dela,	espada	com	espada.	Mesmo
agora,	seu	sangue	fervia	nas	veias	e	seu	corpo	se	tensionava	de	desejo	por	ela.	Eles	haviam	concordado
em	 esperar	 até	 estarem	 casados	 para	 dormirem	 juntos,	 mas	 isso	 não	 os	 impediu	 de	 se	 beijarem	 e
usufruírem	de	pequenos	prazeres	sempre	que	puderam.	Ele	estava	ansioso	por	desnudá-la	pela	primeira
vez	e	aprender	os	segredos	de	seu	corpo.
Com	pensamentos	tão	prazerosos	e	sensuais	em	mente,	William	tropeçou.
–	Pelos	ossos	do	Senhor!	–	praguejou,	soltando	as	rédeas	do	cavalo	e	caindo	para	a	frente.
Ouviu	um	gemido	baixo	vindo	do	solo.
Quando	recuperou	o	equilíbrio,	William	se	debruçou	sobre	o	que	parecia	ser	uma	pilha	de	panos.	Um
raio	de	luz	da	lua	saiu	de	trás	das	nuvens,	iluminando	o	obstáculo	em	que	tropeçara.
O	que	ele	imaginara	ser	um	monte	de	tecidos	era	na	verdade	uma	mulher.	Ela	usava	um	manto	escuro
com	capuz,	e	suas	saias	tinham	sido	puxadas	até	a	cintura.	A	parte	inferior	de	seu	corpo	estava	nua;
sangue	manchava	suas	pernas	e	a	fenda	entre	elas.
William	deu	um	passo	para	trás,	horrorizado.
Ele	não	poderia	deixá-la	assim,	mesmo	que	fosse	para	encontrar	ajuda.	O	rapaz	puxou	sua	pesada
saia	azul	para	baixo,	cobrindo-a.
A	mulher	estremeceu	e	se	agitou.
William	aproximou	o	cavalo	e	estava	prestes	a	montar	quando	a	mulher	começou	a	sussurrar.	Ela
moveu	 a	 cabeça	 de	 um	 lado	 para	 outro,	 suas	 longas	 mechas	 de	 cabelo	 escapando	 do	 capuz	 sobre	 os
ombros	como	uma	cortina	rasgada.
Algo	naquele	cabelo	o	deteve.
Ainda	segurando	as	rédeas,	ele	se	inclinou.
A	mulher	tinha	sido	espancada.	Seus	olhos	estavam	roxos	e	um	deles,	fechado	por	causa	do	inchaço.
Seu	rosto	estava	coberto	de	sangue,	e	o	lábio,	partido.
Ela	levantou	a	mão	trêmula	enquanto	piscava	o	único	olho	que	conseguia	mexer.
William	sentiu	o	chão	sumir	sob	seus	pés.
Ele	jogou	as	rédeas	de	lado	e	caiu	de	joelhos.
–	Alicia?	Alicia,	que	desgraça!
Ela	fechou	o	olho	e	tossiu.
Ele	a	ergueu	nos	braços,	aninhando-a	contra	o	peito.
Quando	a	moveu,	Alicia	deu	um	grito.	Ela	se	mexeu	nos	braços	dele,	fraca	demais	para	lutar.	Uma
única	mão	trêmula	buscou	o	tecido	da	saia,	puxando-o	para	se	cobrir.
Ver	aquele	gesto	partiu	seu	coração.
–	Alicia.	–	Sua	voz	falhava.	–	Quem	fez	isso?
–	Estranhos.	–	Ela	respirava	com	dificuldade.	–	Gritei	por	ajuda.	Ninguém	veio.
Os	dedos	dela	puxavam	a	saia.
–	Will	–	conseguiu	dizer,	afundando-se	nele.
Por	um	momento	ela	pareceu	manter	a	respiração,	então	lentamente	seu	corpo	foi	perdendo	as	forças.
William	a	apertou	junto	a	seu	coração	enquanto	a	vida	de	sua	amada	se	esvaía	daquele	corpo.
Ele	olhou	para	o	céu	escuro	e	gritou.
O
Capítulo	1
1o
	de	julho	de	2013
Úmbria,	Itália
Príncipe	de	Florença	estava	parado	em	frente	a	uma	casa	na	Úmbria,	perturbado.
Já	havia	prestado	reverência	à	Princesa	da	região	e	conseguira	evitar	suas	investidas	românticas.
Ele	aproveitara	do	corpo	dela	em	ocasiões	anteriores	–	ela	era	bela,	inteligente,	vibrante	e	sensual,	como
a	 maior	 parte	 das	 de	 sua	 espécie.	 Naquela	 noite,	 porém,	 achou	 seus	 encantos	 insatisfatórios.	 Após
recusar	 educadamente	 o	 convite	 dela	 para	 fornicar,	 o	 Príncipe	 foi	 caçar	 em	 terras	 umbrianas	 com	 a
permissão	dela.
Foi	fácil	localizar	o	professor	Gabriel	Emerson	e	sua	família.	Ele	e	sua	esposa,	Julianne,	eram	donos
da	 casa	 majestosa	 no	 topo	 de	 um	 morro,	 as	 luzes	 das	 janelas	 animando	 a	 escuridão.	 O	 problema	 do
Príncipe	não	estava	em	encontrar	os	Emersons	ou	em	escapar	do	abraço	da	Princesa.	Não,	seu	problema
advinha	de	uma	promessa.
Raven	Wood	era	humana,	tinha	uma	beleza	pouco	convencional	e	muita	coragem.	Também	costumava
proteger	os	outros,	incluindo	estranhos.	Num	momento	de	ternura,	ela	exigiu	que	o	Príncipe	prometesse
poupar	a	vida	dos	Emersons.	Ele	havia	feito	a	promessa	de	boa-fé,	não	apenas	porque	desejava	que	ela
lhe	confessasse	seu	passado	misterioso,	mas	porque	se	importava	com	Raven	e	queria	fazê-la	feliz.
Desde	que	ela	o	abandonara,	deixando	claro	que	não	aceitaria	o	fato	de	ele	ser	incapaz	de	amar,	o
Príncipe	sentira-se	tentado	a	descumprir	sua	promessa	e	punir	o	professor	por	ter	a	audácia	de	alegar	ser
o	 dono	 legítimo	 de	 obras	 de	 arte	 roubadas.	 Não	 era	 desculpa	 ele	 ter	 feito	 isso	 inadvertidamente.	 O
Príncipe	 queria	 vingança	 e,	 agora	 que	 o	 único	 ser	 humano	 no	 mundo	 que	 poderia	 persuadi-lo	 a	 ser
misericordioso	o	havia	rejeitado,	não	tinha	motivo	para	abrir	mão	disso.
Foi	com	esse	estado	de	espírito	que	ele	chegou	à	casa.	Ouviu	Katherine	Picton,	uma	antiga	amiga	da
família,	dar	boa-noite	a	seus	anfitriões	e	Clare,	a	pequena	filha	dos	Emersons,	ser	colocada	na	cama	no
quarto	de	seus	pais.
Esperou	impaciente	enquanto	os	Emersons	relaxavam	na	banheira	da	varanda	do	quarto.
O	 Príncipe	 torceu	 o	 nariz	 assistindo	 à	 interminável	 união	 conjugal.	 Parecia	 que	 toda	 vez	 que
encontrava	o	casal	eles	estavam	metidos	numa	conjunção	carnal.	Ficou	batendo	o	pé,	numa	bota	de	couro,
no	chão	do	jardim,	torcendo	para	que	fossem	rápidos.
Era	uma	noite	sem	estrelas,	escura	e	quieta.	O	céu	era	uma	abóbada	de	veludo	sobre	o	Príncipe	e	a
brisa	de	verão	sussurrava	em	seu	ouvido.	Enquanto	ouvia	Julianne	gritar	de	prazer,	ele	se	lembrou	de
Raven	emitindo	os	mesmos	sons	enquanto	ele	a	amava.
Cerrou	os	dentes.
Amor:	um	eufemismo	gentil	para	a	conjunção	de	corpos	em	nome	do	prazer	físico.
E	ainda	assim	ele	não	podia	fugir	do	termo	quando	se	referia	a	ela.
Havia	se	passado	quase	um	mês	desde	que	ele	sentira	prazer	com	uma	mulher	–	quase	um	mês	desde
que	tivera	Raven	em	sua	cama.	Ele	ainda	podia	sentir	o	calor	da	pele	dela,	as	curvas	macias	de	seu	corpo
enquanto	a	acariciava,	seu	perfume	penetrando	nas	suas	narinas.
Mas	foi	a	lembrança	de	seus	olhos	verdes	que	o	manteve	parado	enquanto	Julianne	beijava	o	marido
e	voltava	ao	quarto	do	casal.	Raven	tinha	olhos	grandes,	repletos	de	sentimentos.
Você	não	se	cansa	da	morte?
A	voz	dela	interrompeu	seus	pensamentos.
A	 verdade	 era	 que,	 sim,	 ele	 se	 cansava	 da	 morte.	 Mesmo	 agora	 ele	 se	 sentia	 angustiado.	 Mas	 o
Príncipe	se	esforçou	para	sufocar	seus	temores	e	escalou	a	parede	da	villa,	ansioso	por	surpreender	o
professor	quando	ele	se	encontrasse	sozinho.
E	conseguiu.
–	 Nos	 encontramos	 novamente.	 –	 O	 tom	 amigável	 do	 Príncipe	 contrastava	 com	 sua	 expressão
ameaçadora.
Espantado,	Gabriel	se	levantou	da	banheira	quente,	seu	corpo	nu	e	molhado	reluzindo	à	luz	fraca	que
vinha	do	quarto.
–	O	que	você	quer?	–	gritou,	fechando	os	punhos.
–	Quero	que	se	cubra,	para	começar.	–	O	Príncipe	jogou	para	o	professor	uma	toalha	que	estava
perto,	olhando-o	com	nojo.
Gabriel	enrolou	a	toalha	ao	redor	da	cintura	e	saiu	da	banheira.	Posicionou	o	corpo	entre	o	Príncipe	e
a	porta	do	quarto,	que	ele	fechou	rapidamente.
–	Perguntei	o	que	você	quer	–	repetiu	o	professor,	numa	postura	decididamente	defensiva.
–	Quero	que	aquilo	que	é	meu	permaneça	meu.	Gostaria	que	você	parasse	de	pegar	minhas	coisas	e
exibi-las	como	se	fossem	suas.
O	professor	olhou	incrédulo	para	o	Príncipe.
–	Não	tenho	nada	seu.	Vá	embora.	Agora.
Pelas	janelas,	por	cima	dos	ombros	do	professor,	o	Príncipe	observou	Julianne	acalentar	a	filha.
–	V
ocê	tem	muitas	riquezas.	Melhor	cuidar	delas	e	não	ir	atrás	do	que	não	é	seu.
–	Novamente	–	disse	o	professor,	com	raiva	–,	estou	pedindo	que	vá	embora.
O	ser	sobrenatural	balançou	a	cabeça,	estudando	o	homem	com	seus	frios	olhos	cinza.
–	Ouvi	dizer	que	você	tem	dificuldade	em	receber	ordens.	Percebo	que	isso	é	verdade.
–	Eu	falei	para	você	ir	embora.	V
ocê	também	não	parece	estar	ouvindo	–	respondeu	o	professor.
–	V
ocê	roubou	minhas	ilustrações.
Ao	primeiro	som	de	protesto	do	professor,	o	Príncipe	levantou	a	mão,	silenciando-o.
–	Sei	que	você	não	as	roubou	pessoalmente,	mas	as	ilustrações	me	pertenciam	antes	de	caírem	nas
mãos	da	família	suíça	que	as	vendeu	para	você.	Eu	as	peguei	de	volta	e	elas	devem	permanecer	comigo.
Para	sempre.
–	V
ocê	está	mentindo.	As	ilustrações	pertenciam	à	família	havia	quase	um	século.
–	Sim.	–	O	Príncipe	olhava	para	Gabriel	com	um	ar	desafiador.	–	Antes	disso	elas	eram	minhas.
O	professor	piscou,	confuso.
Quando	recuperou	a	compostura,	seus	olhos	azul-safira	se	estreitaram.
–	 Foi	 você	 que	 entrou	 em	 nosso	 quarto	 de	 hotel	 em	 Florença.	 Eu	 não	 pude	 ver,	 mas	 senti	 sua
presença.	–	Gabriel	abaixou	o	tom	de	voz.	–	O	que	você	é?
–	 O	 que	 eu	 sou	 é	 irrelevante.	 Digamos	 simplesmente	 que	 não	 sou	 humano.	 Também	 não	 estou
acostumado	a	discutir	com	seres	humanos	ou	a	dar-lhes	uma	segunda	chance.
Mais	uma	vez	o	olhar	do	Príncipe	foi	atraído	para	as	figuras	da	mãe	e	da	filha	dentro	da	casa.
–	V
ocê	ama	sua	esposa?
O	corpo	de	Gabriel	se	retesou.
–	Sim.
–	O	suficiente	para	morrer	por	ela?
–	Sem	hesitar.
Gabriel	deu	um	passo	corajoso	à	frente.
Por	um	longo	tempo,	o	Príncipe	e	o	professor	se	encararam.	O	Príncipe	quebrou	o	silêncio.
–	Tenho	mais	respeito	por	um	homem	disposto	a	viver	por	sua	família	do	que	por	um	disposto	a
morrer	por	ela.	Proteja	sua	esposa	e	sua	filha.	Desista	de	qualquer	tentativa	de	recuperar	as	ilustrações	e
convença	os	italianos	a	fazer	o	mesmo.
–	Eu	paguei	caro	por	elas.	Seu	argumento	não	me	parece	convincente.
Os	olhos	do	Príncipe	brilharam	e	ele	rosnou.
O	professor	deu	um	passo	atrás,	o	terror	estampado	em	seu	rosto.
O	vampiro	resistiu	à	vontade	de	atacar,	de	exercer	seu	poder	e	seu	domínio.	Lançou	um	olhar	para
Gabriel,	notando	sua	tensão,	o	cheiro	da	adrenalina	correndo	por	seu	corpo,	seus	batimentos	cardíacos
acelerados,	e	se	perguntou	por	que	ele	não	havia	fugido.
Gabriel	pressionou	as	costas	contra	a	porta	do	quarto,	deixando	claro	que	o	vampiro	teria	que	passar
por	cima	dele	para	atacar	sua	família.	Ele	estava	disposto	a	dar	a	vida	para	proteger	a	esposa	e	a	filha,
que	permaneciam	alegremente	alheias	lá	dentro.
O	Príncipe	pensou	em	outro	ser	humano	protetor,	uma	mulher	que	quase	dera	a	vida	para	impedir	que
um	sem-teto	fosse	espancado	até	a	morte.
Ele	não	gostava	de	ser	lembrado	disso.
–	Sua	esposa	está	doente	–	anunciou	ele	abruptamente,	ajeitando	as	mangas	da	camisa.
A	expressão	de	Gabriel	se	alterou.
–	O	quê?
–	V
ocê	é	um	homem	inteligente,	ou	pelo	menos	é	o	que	dizem.	Estou	certo	de	que	percebe	que	tenho
certas…	habilidades.	Uma	delas	é	sentir	a	doença	dos	humanos.	Não	consigo	identificar	o	problema,	mas
sei	que	há	algo	de	errado	com	sua	esposa,	alguma	coisa	está	fazendo	o	sangue	dela	perder	ferro.	Quando
a	conheci	na	Uffizi,	há	dois	anos,	senti	o	cheiro	da	doença.	O	que	quer	que	seja	ainda	a	ameaça.
Evidentemente	abalado	pela	revelação,	o	professor	virou	a	cabeça	e	olhou	para	Julianne	pela	janela.
–	 V
ocê	 adquiriu	 ilustrações	 que	 foram	 roubadas	 –	 continuou	 o	 Príncipe.	 –	 Eu	 sou	 o	 proprietário
original,	então	as	peguei	de	volta.	Deveria	ter	destruído	você,	mas,	em	vez	disso,	eu	o	presenteei	com
uma	informação	vital	sobre	a	saúde	de	sua	esposa.	Acho	que	concorda	que	fui	mais	do	que	generoso.
Gabriel	voltou	sua	atenção	para	o	Príncipe.	Estava	claro	que	ele	não	sabia	em	que	acreditar,	mas	seu
desejo	de	proteger	a	família	venceu.
–	 V
ou	 abandonar	 a	 investigação	 e	 falar	 com	 a	 Interpol	 pessoalmente	 –	 disse	 Gabriel	 entre	 dentes
cerrados.	–	Não	posso	ser	responsabilizado	pelas	ações	dos	outros.	Se	os	italianos	decidirem	ir	atrás	de
você,	o	azar	é	deles.
–	Se	você	retirar	a	busca,	então	não	teremos	mais	o	que	discutir.
O	Príncipe	lançou	um	olhar	prolongado	para	o	professor,	foi	até	a	beirada	da	varanda	e	se	virou.
Gabriel	continuava	parado	numa	postura	defensiva	na	porta	do	quarto.	Colocou	a	mão	sobre	a	boca,
como	que	para	se	impedir	de	chamar	a	atenção	da	família.
O	Príncipe	o	encarou	com	um	olhar	de	pedra.
–	Certifique-se	de	viver	o	suficiente	para	garantir	que	sua	filha	tenha	uma	boa	vida.	Podem	acontecer
certas	coisas	às	crianças	quando	perdem	o	pai.
Ele	saltou	sobre	o	corrimão	e	voou	até	o	solo	antes	de	desaparecer	na	escuridão.
F
Capítulo	2
6	de	julho	de	2013
Florença,	Itália
icaram	parados	por	um	tempo	que	pareceu	uma	eternidade,	a	jovem	humana	e	o	vampiro	com	muitos
séculos	 de	 idade,	 unidos	 em	 um	 abraço	 desesperado	 no	 telhado	 com	 vista	 para	 a	 Galleria	 degli
Uffizi.
Era	 o	 mais	 improvável	 dos	 casais.	 No	 entanto,	 estava	 claro	 para	 ambos	 que	 formavam	 um	 par
perfeito.
O	coração	de	Raven	estava	pleno,	sua	mente,	relaxada,	seu	corpo,	saciado.	Ele	saiu	de	dentro	dela	e
a	pôs	no	chão	sobre	pés	bambos.
Ajeitou	a	calça	e	tirou	um	lenço	do	bolso.	Sustentando-a	com	um	braço	em	volta	da	cintura,	levantou
sua	saia	e	passou	o	pano	gentilmente	entre	as	pernas	dela.	Quando	terminou,	jogou	o	lenço	de	lado	e
cuidadosamente	abaixou	a	saia	de	Raven.
–	Agora	que	você	me	deu	seu	presente,	preciso	lhe	dar	o	meu.
William	acariciou	a	face	dela,	com	os	olhos	iluminados.
Raven	pôs	a	mão	sobre	o	peito	dele,	em	cima	do	coração.	Sentiu	sob	a	palma	o	estranho	ritmo	e	o
silêncio	quase	assustador.
–	Esse	é	o	meu	presente	–	disse	ela,	baixinho.	–	Pela	maneira	como	você	me	toca,	posso	ver	que	me
ama.
Ele	ergueu	os	dedos	dela	e	os	beijou,	um	a	um.
–	Mas	você	vai	querer	o	meu	outro	presente.
–	Este	é	o	único	que	eu	desejo.	Mas	mesmo	assim	fico	feliz	em	ouvir.
–	Amo	você	–	sussurrou	ele.	–	Defensa.
Ela	sorriu	junto	ao	ombro	dele.
–	Não	sou	mais	uma	criatura	ferida;	sou	uma	protetora.
–	V
ocê	sempre	foi	uma	protetora.	–	Ele	beijou	sua	testa,	então	passou	o	dedo	pela	pálida	cicatriz	que
havia	ali.	–	Certa	vez	você	contou	que	ninguém	jamais	a	defendeu.	Hoje	vou	defendê-la.
–	Como	assim?	–	Ela	recuou,	confusa.
–	Prometi	lhe	dar	justiça.	Sempre	cumpro	minhas	promessas.
Uma	onda	de	ansiedade	a	atravessou.
–	William,	o	que	você	fez?
Ele	abriu	um	sorriso	vagaroso.
–	Fiz,	não;	vou	fazer.	Venha.
William	 a	 puxou	 com	 força	 para	 junto	 de	 si,	 e	 os	 dois	 subiram	 para	 o	 telhado	 até	 seus	 corpos
desaparecerem	na	noite	como	uma	fina	nuvem	de	fumaça.
Na	expectativa	do	que	viria,	Raven	parou	aos	pés	da	grande	escadaria	da	luxuosa	villa	de	William.
–	Por	aqui.	–	Ele	apontou	para	o	corredor.
Ela	olhou	com	desejo	para	o	segundo	andar.
–	Achei	que	iríamos	subir.
Os	olhos	cinzentos	dele	pareceram	brilhar.
–	Vamos	para	a	biblioteca.
Raven	havia	imaginado	que	ele	a	conduziria	(ou	carregaria)	até	o	quarto,	onde	fariam	amor	até	o	pôr
do	sol.	Ela	franziu	a	testa.
–	Por	quê?
–	V
ocê	vai	ver.	–	Ele	pegou	a	mão	dela,	conduzindo-a	pelo	corredor.
A	biblioteca	era	um	belo	cômodo,	com	estantes	que	iam	do	chão	ao	teto,	imensas	janelas	que	cobriam
toda	uma	parede	e	o	teto	alto	em	redoma	inteiramente	de	vidro.	Uma	luz	fraca	vinha	do	lado	de	fora,	mas
Raven	quase	tropeçou	na	penumbra.
William	acendeu	uma	vela	para	ajudá-la.	Vampiros	são	capazes	de	ver	perfeitamente	no	escuro.
–	Não	é	nosso	destino	final	–	explicou	ele.	–	É	apenas	o	vestíbulo.
Ele	se	virou	para	uma	das	estantes	e	empurrou	a	lombada	de	um	exemplar	volumoso	de	Virgílio.	Com
um	ruído,	a	estante	girou,	revelando	uma	passagem	escura.
Raven	 espiou	 dentro	 do	 espaço	 estreito.	 Ela	 não	 havia	 gostado	 da	 última	 jornada	 ao	 submundo,
quando	 ele	 a	 apresentou	 a	 alguns	 de	 seus	 colegas	 vampiros.	 Não	 tinha	 nenhuma	 vontade	 de	 repetir	 a
experiência.
–	Eu	estava	louca	para	passar	a	noite	na	cama	com	você.
William	olhou	para	ela	voraz.
–	Estou	louco	para	isso	também,	pode	acreditar.	Mas	ainda	não	dei	seu	presente.
Ela	olhou	para	a	passagem.
–	Não	gosto	de	surpresas.
–	Dessa	surpresa,	você	vai	gostar.	Eu	garanto.
Ele	a	conduziu	por	uma	escada	em	espiral,	sustentando	cuidadosamente	o	peso	dela,	já	que	Raven
estava	sem	a	bengala.
O	subsolo	da	villa	estava	úmido.	Raven	sentiu	sua	pele	arrepiar	e	deteve	William.
–	Não	pode	me	dar	o	presente	lá	em	cima?	No	seu	quarto?
–	Tenha	paciência,	Cassita.	–	Ele	a	soltou	e	alisou	o	longo	cabelo	preto	dela.	–	Tudo	será	revelado.
Eles	 continuaram	 por	 um	 longo	 corredor	 pontuado	 por	 uma	 série	 de	 pesadas	 portas	 de	 madeira.
Raven	podia	jurar	que	tinha	ouvido	ratos	correndo	e	arranhando	o	chão	atrás	deles.
Ela	se	agarrou	a	William,	até	finalmente	pararem	em	frente	a	uma	grande	porta	de	aparência	antiga.
Estava	fechada	por	fora.	Com	gestos	experientes,	ele	levantou	a	barra	e	a	abriu.	O	corredor	ecoou	com	o
barulho	das	dobradiças	enferrujadas.
Ele	entrou	primeiro	na	sala,	usando	a	vela	que	levava	para	acender	as	tochas	suspensas	nas	paredes.
Logo	o	espaço	úmido	e	gelado	foi	banhado	por	uma	luz	quente	e	tremeluzente.
Raven	hesitou	na	soleira.	Inicialmente,	pensou	que	a	sala	fosse	uma	adega,	mas	ao	observar	o	interior
não	encontrou	nada	parecido	com	garrafas	ou	barris	de	vinho.
Num	 canto,	 havia	 uma	 velha	 mesa	 e	 uma	 cadeira.	 Nas	 paredes,	 além	 dos	 castiçais	 de	 ferro	 que
mantinham	as	tochas	agora	acesas,	havia	um	par	enferrujado	de	algemas	de	ferro	atreladas	a	correntes
longas	e	pesadas.	Apenas	a	ausência	de	armas	e	instrumentos	a	impedia	de	acreditar	que	estava	na	porta
de	uma	câmara	de	tortura.	Então	ela	viu.
No	canto	mais	distante	da	sala	havia	uma	pequena	cela	feita	de	grossas	barras	de	ferro	do	chão	até	o
teto	de	pé-direito	baixo.
A	cela	não	estava	vazia.
Ela	entrou	na	sala,	esmagando	o	cascalho	espalhado	pelo	chão	de	pedra.	A	umidade	parecia	exalar	do
chão,	penetrando	pelas	solas	de	seus	sapatos	e	subindo	por	suas	pernas	nuas.	Ela	estremeceu.
Dentro	da	cela	estava	um	homem,	deitado	no	chão.	Sua	roupa	estava	suja	e	rasgada	e	seu	cabelo,
desgrenhado.	À	luz	fraca	que	atravessava	as	barras	de	ferro,	ela	quase	podia	vislumbrar	seu	rosto.
Raven	levou	a	mão	ao	nariz	por	causa	do	fedor	que	emanava	do	homem,	como	se	ele	não	tomasse
banho	havia	dias	e	usasse	o	chão	da	cela	como	banheiro.	Curiosa,	ela	se	aproximou.
O	prisioneiro	escolheu	aquele	momento	para	se	mover,	revelando	seu	rosto.	Raven	levou	um	susto.
–	Ah,	meu	Deus	–	sussurrou	ela,	parando	onde	estava.
William	se	materializou	ao	seu	lado,	levando	os	lábios	à	orelha	dela.
–	Feliz	aniversário.
Xingando,	Raven	cambaleou	até	a	porta.	Ela	deu	apenas	três	passos	antes	de	despejar	o	conteúdo	de
seu	estômago	no	chão.
–	Não	é	a	reação	que	eu	esperava.	V
ocê	está	bem?
Ela	o	afastou,	vomitando	uma	segunda	vez.	Quando	terminou,	William	tentou	puxá-la	em	direção	à
cadeira.
–	Não.
Raven	afastou	a	mão	dele.	Ele	pareceu	intrigado.
–	E	quanto	ao	seu	presente?
–	Que	presente?
Trêmula,	ela	limpou	a	boca	com	as	costas	da	mão.
–	Eu	lhe	prometi	justiça.	–	Ele	acenou	na	direção	do	prisioneiro.	–	Isso	é	justiça.
Os	olhos	de	Raven	encontraram	os	de	William.
–	Como?
William	sorriu,	seus	dentes	brancos	reluzindo	à	luz	das	tochas.
–	Eu	o	trouxe	aqui	para	que	você	mesma	pudesse	matá-lo.
R
Capítulo	3
aven	sentiu	seu	mundo	girar.
–	Claro,	eu	posso	matá-lo	se	você	preferir.	–	Os	olhos	de	William	brilhavam.	–	Não	precisa	tomar
uma	decisão	agora.	Pode	refletir	sobre	os	detalhes.	Tomei	a	liberdade	de	já	aplicar	nele	bastante	justiça,
mas	nada	perto	do	que	deve	ser	feito.
Com	uma	expressão	intensa,	ele	estendeu	a	mão	em	direção	ao	rosto	dela.
–	Feliz	aniversário,	Cassita.
Raven	evitou	seu	toque.	Parecia	que	as	paredes	se	fechavam	em	torno	dela.	Precisava	escapar.
Contornando	 o	 vômito	 no	 chão,	 ela	 mancou	 em	 direção	 à	 saída.	 Sua	 perna	 direita	 incomodava	 à
medida	que	ela	avançava,	a	dor	lhe	percorrendo	do	tornozelo	aos	quadris.
–	Cassita?	–	William	parecia	confuso.
Ela	o	ignorou,	continuando	a	ir	em	direção	à	porta.
–	Por	favor,	me	ajude.
O	 sussurro	 veio	 da	 cela.	 O	 prisioneiro	 fez	 uma	 série	 de	 ruídos,	 como	 se	 estivesse	 tentando	 se
levantar,	e	um	grunhido	escapou	de	sua	boca	quando	ele	caiu	de	volta	ao	chão.
Raven	deu	um	passo	para	fora	do	quarto.
–	Não	me	deixe	com	ele!	–	berrou	o	prisioneiro.	–	Ele	quer	me	matar.	Ele	me	empurrou	da	escada.
Acho	que	minha	perna	quebrou.
O	choque	evitou	que	Raven	reagisse	aos	gritos	do	homem	–	o	choque	e	a	lenta	compreensão	do	que
William	havia	feito.
O	prisioneiro	bateu	nas	barras	de	ferro.
–	Ele	é	um	animal.	Por	favor,	me	ajude!
Raven	se	virou.
–	Acha	que	ele	é	um	animal	porque	o	empurrou	escada	abaixo?
O	prisioneiro	não	conseguiu	entender	aquela	raiva	repentina	e	inexplicável.
–	Ele	me	sequestrou.	Falou	que	vai	me	matar!
–	Pare	com	essa	merda,	David	–	exaltou-se	ela.	–	Sei	que	é	você.
O	homem	piscou	na	direção	dela	por	tempo	demais	antes	de	balançar	a	cabeça.
–	Meu	nome	é	Greg.	V
ocê	precisa	me	ajudar.
Raven	mancou	na	direção	dele	o	mais	rápido	que	pôde.
–	É	Jane,	seu	babaca.	–	Ela	apontou	para	o	próprio	corpo.	–	Talvez	você	não	tenha	me	reconhecido
com	minha	perna	machucada.
O	prisioneiro	agarrou	as	barras	com	ambas	as	mãos,	seus	olhos	frenéticos	cravados	nos	dela.
–	Meu	nome	é	Greg.	Sou	de	Sacramento,	Califórnia.	Nunca	a	vi	antes,	juro	por	Deus.
–	Mentira	–	disse	Raven.	–	Acha	que	eu	não	o	reconheceria?	Acha	que	eu	esqueceria	sua	voz,	seu
monstro	de	merda?
Ela	ficou	calada	por	um	momento,	fervendo	de	raiva.
–	V
ocê	abusou	da	minha	irmã!
Raven	se	abaixou,	pegou	uma	pedra	do	chão	e	atirou-a	nele.	A	pedra	bateu	numa	das	barras	de	ferro	e
o	homem	recuou	um	segundo	antes	do	impacto.
–	Ela	só	tinha	5	anos.	Era	um	bebê!
Raven	catou	mais	pedras	e	seguiu	arremessando-as	no	prisioneiro.	Algumas	passaram	pelas	barras,
acertando-o	no	peito.
O	homem	caiu	de	costas,	usando	as	mãos	para	se	proteger.
–	Meu	nome	é	Greg.	Tenho	esposa	e	dois	filhos.	Nunca	a	vi	antes.
–	Mentiroso!	–	rugiu	Raven.	–	Eu	passei	noites	acordada	tentando	protegê-la.	V
ocê	a	pegou	mesmo
assim.	Gritei	pela	minha	mãe	e	você	me	empurrou	escada	abaixo	para	eu	me	calar.	Não	vai	me	calar
agora,	seu	merda	imprestável.	V
ocê	diz	que	quebrou	a	perna?	–	Ela	se	abaixou	para	olhá-lo	nos	olhos.	–
Está	doendo?	Tem	medo	de	nunca	mais	andar	direito?
O	homem	a	encarou	como	se	ela	fosse	louca.
–	Quem	se	importa	com	a	merda	da	sua	perna?	Estou	aleijada!	Nunca	mais	vou	correr.	–	Ela	cuspiu
nele	por	entre	as	barras.	–	Odeio	você!
Abafando	um	grito,	ela	tentou	acertá-lo	com	os	punhos.	O	homem	arrastou	sua	perna	ferida	e	rastejou
para	os	fundos	da	cela,	fugindo	dos	golpes	dela.
–	V
ocês	pegaram	o	cara	errado	–	reclamou	ele.	–	Juro	por	Deus,	meu	nome	é	Greg.	Nunca	machuquei
ninguém.	Precisam	acreditar	em	mim.
Raven	cuspiu	novamente,	agarrando	firme	as	barras	de	ferro.
–	Espero	que	você	queime	no	inferno.	Espero	que	nunca	mais	volte	a	andar!
William	 surgiu	 ao	 lado	 de	 Raven	 e	 tocou	 seus	 dedos	 fechados.	 Seus	 olhos	 se	 encontraram.	 De
repente,	ela	irrompeu	em	lágrimas.
–	Sou	inocente.	–	A	voz	do	prisioneiro	ficou	mais	desesperada.	–	Juro	por	Deus,	vocês	pegaram	o
cara	errado.
William	mostrou	os	dentes	e	rosnou.	Um	líquido	vazou	pela	calça	do	prisioneiro	e	se	espalhou	pelo
chão.	Ele	cobriu	a	cabeça	com	os	braços,	enrolando-se	como	uma	bola.
–	Mais	uma	palavra	e	arranco	sua	língua.
William	gentilmente	tirou	as	mãos	de	Raven	das	barras	de	ferro.
–	Não	fale	com	ela.
O	prisioneiro	tremia	no	canto	e	também	começou	a	chorar.
Com	 um	 rugido	 final,	 William	 pegou	 Raven	 nos	 braços.	 Apagou	 as	 tochas	 e	 a	 carregou	 da	 sala,
fechando	a	porta	atrás	deles.
D
Capítulo	4
izer	que	William	estava	preocupado	com	a	reação	de	Raven	seria	pouco.	O	choro	dela	–	um	ruído
fúnebre	e	angustiante	–	o	torturava.
Ele	a	havia	magoado	quando	tudo	o	que	ele	queria	era	agradar.	De	fato,	uma	parte	dele	desejava
causar	sofrimento	ao	homem	que	a	tinha	ferido.	Mas	ele	reconhecia	que	a	vingança	era	dela,	não	dele.
Ele	tinha	o	poder	para	dar	a	ela	a	chance	de	se	vingar	e	dera.	Então,	não	esperava	que	a	raiva	de	Raven
se	tornasse	mágoa.
Definitivamente,	ele	não	entendia	os	seres	humanos.
A	culpa	–	uma	emoção	bem	humana	–	banhava	o	coração	deles.	A	imagem	de	Raven	sofrendo	o	fez	se
sentir	impotente,	algo	atípico	para	um	ser	tão	velho	quanto	ele.
Foi	tomado	por	um	mar	de	lembranças,	como	um	raio	que	ilumina	o	céu	escuro.	Segurava	Alicia	nos
braços	enquanto	ela	dava	seu	último	suspiro.	E	não	houvera	nada	que	ele	pudesse	fazer.
Fracassara	com	Alicia.	Mas	ele	era	diferente	agora,	tinha	poderes	diferentes.	Se	fracassasse	com
Raven,	estaria	acabado.
Ele	se	sentou	ao	lado	dela	na	cama,	colocando	a	mão	em	suas	costas.
–	Cassita.
Raven	continuou	a	chorar,	encolhida,	parecendo	não	estar	ouvindo.
Ele	acariciou	as	costas	dela	sem	jeito,	perguntando-se	se	deveria	chamar	Lucia.	Provavelmente	ela
iria	sugerir	que	eles	administrassem	um	sedativo.	William	não	sabia	se	tinha	algo	assim	em	casa.	A	maior
parte	dos	suprimentos	médicos	fora	usada	em	maio,	quando	ele	trouxera	Raven	de	volta	da	morte.
Lembrou-se	da	noite	em	que	trouxera	Raven	para	casa,	com	a	vida	por	um	fio.	Injetou	nela	uma	das
safras	mais	antigas	de	sua	coleção.	Enquanto	o	sangue	de	vampiro	percorria	suas	veias,	ela	o	encarou
com	olhos	grandes	e	assustados.	Ele	não	soubera	como	confortá-la	e,	sem	perceber,	começara	a	falar	em
latim	e	anglo-normando.	As	frases	sussurradas	tiveram	pouco	efeito.	Em	determinado	momento,	precisou
sedá-la,	para	evitar	que	ela	puxasse	o	tubo	de	transfusão.
Vê-la	chorar	era	bem	mais	perturbador	agora,	porque	ele	a	amava.
–	Cassita	–	disse	ele	com	firmeza.	–	Cassita,	me	escute.
–	Minha	irmã.	–	Ela	conseguiu	pronunciar	entre	soluços.	–	Foi	minha	c-culpa.
–	Não	–	rebateu	William	num	tom	ameaçador.	Ela	não	respondeu.	–	Não	foi	sua	culpa.	–	Ele	agarrou
o	braço	dela	para	obter	toda	a	sua	atenção.	–	V
ocê	a	protegeu.	V
ocê	a	afastou	dele.
Raven	 continuou	 chorando.	 Ele	 ficou	 calado,	 na	 esperança	 de	 que	 ela	 chorasse	 até	 seus	 olhos
secarem,	e	finalmente	ela	parou.	Mas	o	que	veio	em	seguida	foi	muito	mais	inquietante.	Ela	se	deitou	de
lado,	olhando	para	a	parede	sem	piscar.
Ele	falou	com	ela,	mas	ela	não	respondeu.	Tentou	movê-la,	mas	o	corpo	dela	mantinha-se	na	mesma
posição,	 como	 se	 seus	 músculos	 tivessem	 enrijecido.	 Ainda	 mais	 alarmado,	 percebeu	 que	 seu	 pulso
estava	irregular	e	sua	respiração,	curta.	Apesar	do	frio,	sua	testa	estava	banhada	de	suor.
As	mudanças	físicas	em	Raven	o	assustaram.	Temia	que	tivesse	ferido	sua	mente	de	alguma	forma,
causando	um	dano	irreparável.
Minutos	se	passaram	e	a	ansiedade	dele	cresceu.	Deixando	a	cautela	de	lado,	colocou	as	mãos	no
rosto	de	Raven	e	olhou	em	seus	olhos.
–	Raven,	concentre-se	no	som	da	minha	voz.
Ela	não	pareceu	ouvi-lo.
–	Seu	corpo	vai	relaxar	e	você	vai	dormir.	Vai	descansar	em	paz	até	de	manhã,	sem	preocupações.
Passaram-se	alguns	momentos	sem	que	houvesse	reação,	e	William	repetiu	as	instruções.
Sua	angústia	aumentou.	Não	estava	nem	um	pouco	confiante	no	controle	da	mente.	Ele	era	adepto	da
técnica,	mas	Raven	tinha	uma	mente	forte.	E	se	de	alguma	forma	encontrar	o	padrasto	tivesse	rompido	sua
mente…
Raven	piscou	e	então	seus	grandes	olhos	verdes	o	focalizaram.
–	Escute	minha	voz	–	repetiu.	–	Respire	profundamente	e	relaxe	seu	corpo.
Imediatamente,	a	visão	de	Raven	ficou	turva.	Em	pouco	tempo,	sua	respiração	se	acalmou	e	seus
músculos	relaxaram.
–	Boa	menina.	–	Ele	soltou	o	ar	aliviado.	–	Feche	os	olhos.
Ela	obedeceu	e	ele	a	soltou,	puxando	as	cobertas	e	arrumando-as	sobre	seu	corpo.
–	Descanse	bem,	meu	amor.
Beijou	a	testa	de	Raven,	escutando	a	pulsação	e	a	respiração	dela	se	normalizarem.
Por	 vários	 minutos	 ele	 a	 observou	 dormir.	 Seu	 alívio	 repentino	 deu	 lugar	 a	 um	 desconforto.	 Ela
estava	agora	sob	seu	controle,	e	ele	nunca	havia	ficado	tão	pouco	à	vontade	como	mestre.
Um	 pássaro	 na	 gaiola	 nunca	 é	 tão	 bonito	 quanto	 um	 pássaro	 livre.	 Lembrou-se	 das	 próprias
palavras.
Convenceu-se	de	que	havia	sido	necessário	usar	o	controle	da	mente	nesse	caso.	Ela	estava	muito
perturbada.	Algo	terrível	se	passava	com	ela.	Ele	interviera	antes	de	ficar	pior,	ou	irreversível.
Duvidava	que	ela	visse	a	situação	da	mesma	forma	quando	ele	pudesse	se	explicar.	Ele	não	estava
ansioso	por	ter	essa	conversa.
Seu	olhar	vagou	até	a	versão	da	Primavera	pendurada	em	sua	parede.	O	rosto	de	sua	antiga	amante,
Allegra,	o	assombrava.	Foi	tomado	pela	lembrança	de	seu	corpo	quebrado	no	chão	sob	a	torre	do	sino
depois	que	ela	pulou	para	a	morte.
O	 suicídio	 de	 Allegra	 fora	 resultado	 de	 repulsa	 e	 desespero.	 Centenas	 de	 anos	 depois,	 aquele
incidente	ainda	o	perturbava.	E	talvez,	apesar	de	não	querer	admitir,	também	se	sentisse	responsável.
Ele	olhou	novamente	para	a	bela	mulher	de	cabelo	escuro	que	dormia	em	sua	cama.	Havia	apenas
algumas	horas	que	se	reencontraram.	Não	estava	preparado	para	perdê-la.
William	imaginara	que	ela	ficaria	feliz	com	o	presente,	um	inclusive	que	lhe	dera	bastante	trabalho
para	encontrar.	Ele	achou	que	ela	iria	aproveitar	a	oportunidade	para	exercer	justiça	sobre	o	homem	que
havia	ferido	sua	perna	e	abusado	de	sua	irmã.	Em	vez	disso,	ela	ficou	horrorizada	e	transtornada.	Mesmo
agora,	o	som	de	seu	choro	magoado	ainda	ecoava	em	seus	ouvidos.
E	ele	era	responsável.
Ele	deu	um	beijo	na	cabeça	dela	antes	de	colocar	nela	a	pulseira	que	a	marcava	como	dele.	Ela	a
devolvera	quando	se	separaram.	Era	certo	que	ela	a	usasse	novamente.
Os	lábios	dele	roçaram	a	pele	pálida	que	cobria	as	veias	no	pulso	dela.	Ele	estava	com	fome,	era
verdade,	mas	não	conseguia	pensar	em	se	alimentar	agora.	Deixou-a	em	seu	sono	artificial	e	se	moveu
rapidamente	para	o	primeiro	andar.	Lucia	e	Ambrogio	receberam	instruções	detalhadas	sobre	Raven	e	o
prisioneiro	 no	 calabouço.	 Então	 William	 mandou	 uma	 mensagem	 para	 Stefan,	 o	 médico-chefe	 do
principado,	pedindo-lhe	que	fosse	para	os	aposentos	particulares	no	Palazzo	Riccardi.
Por	fim,	William	abandonou	a	villa,	viajando	para	o	Palazzo	por	uma	série	de	passagens	secretas	sob
a	cidade	de	Florença.	Ele	não	rezou.	Deus	o	havia	amaldiçoado,	assim	como	a	seus	irmãos.	Não	havia
sentido	em	rebaixar-se	diante	dele	para	pedir	um	favor,	mesmo	por	Raven.
Ele	esperava	sinceramente	que	qualquer	dano	que	tivesse	causado	pudesse	ser	desfeito.
S
Capítulo	5
tefan	 de	 Montreal	 era	 o	 médico	 do	 principado	 de	 Florença.	 Ele	 era	 muito	 mais	 jovem	 do	 que	 o
Príncipe	e	os	outros	membros	do	Consilium,	que	comandava	Florença.	Mas	havia	sido	treinado	na
medicina	 do	 século	 XX,	 seu	 conhecimento	 em	 saúde	 e	 ciência	 contemporâneas	 era	 valorizado	 e	 sua
juventude	como	vampiro,	ignorada.
Mesmo	assim,	quando	o	Príncipe	o	convocou	ao	Palazzo	Riccardi,	Stefan	temeu	que	seus	serviços
estivessem	prestes	a	ser	dispensados.	Nos	últimos	anos,	o	Príncipe	havia	executado	dois	membros	do
Consilium	 por	 fracassarem	 em	 suas	 tarefas.	 Stefan	 estava	 muito	 preocupado,	 imaginando	 que	 seria	 o
terceiro.
Ele	tentou	se	acalmar	pensando	que,	se	o	Príncipe	desejava	executá-lo,	ele	o	faria	na	reunião	do
Consilium	e	não	numa	de	suas	residências.	No	entanto,	era	um	conforto	inútil.
–	 Gosta	 dessa	 safra?	 –	 O	 Príncipe	 apontou	 para	 o	 sangue	 humano	 aquecido	 que	 Stefan	 estava
bebericando	nervosamente.
–	Jovem	e	doce.	Obrigado,	meu	senhor.
Stefan	tentou	manter-se	calmo	enquanto	esperava	o	Príncipe	revelar	a	razão	por	trás	de	seu	chamado,
passando	a	taça	de	uma	mão	para	a	outra	conforme	o	tempo	passava.
O	 vampiro	 mais	 velho	 mantinha-se	 de	 pé	 ao	 lado	 de	 uma	 janela,	 aparentemente	 perdido	 em
pensamentos.	Sua	taça	de	sangue	permanecia	intacta	na	mesa.
Stefan	achou	aquilo	curioso.
–	Acho	que	quebrei	meu	bichinho	de	estimação	–	finalmente	falou	o	Príncipe,	ainda	de	costas	para	o
médico.
Stefan	pousou	o	copo	numa	mesa	de	canto.
–	Morreu?
–	Quê?	Não.
O	Príncipe	se	virou	e	franziu	o	cenho.
–	Perdoe-me	pela	pergunta	íntima,	meu	senhor.	Ele	se	alimentou	do	senhor?
O	Príncipe	crispou	os	lábios.
–	Não.	E	não	é	o	corpo	dela	que	está	quebrado.	É	a	mente.
–	Mentes	humanas,	como	corpos	humanos,	são	facilmente	quebradas.	–	Stefan	entrelaçou	seus	dedos.
–	É	da	natureza	deles	serem	fracos.
O	Príncipe	o	olhou	com	frieza	antes	de	levantar	sua	taça	e	beber.
–	Mentes	quebradas	podem	ser	consertadas?	Eu	tenho	esse	bichinho	há	pouco	tempo.	É	uma	pena	ter
que	me	desfazer	dela	tão	cedo.
–	O	efeito	do	sangue	de	vampiros	em	corpos	humanos	é	bem	documentado.	Já	o	efeito	em	mentes
humanas	é	menos	conhecido.	Quem	desperdiçaria	seu	sangue	num	bichinho	com	a	mente	quebrada?	–	O
médico	deu	uma	risada.
Ele	percebeu	a	cara	fechada	do	Príncipe	e	parou	abruptamente	de	rir.
–	Nunca	vi	um	paciente	psiquiátrico	ingerir	sangue	de	vampiro.	Admito	que	seria	um	experimento
interessante,	mas	não	posso	prometer	resultados	positivos.
O	Príncipe	colocou	a	taça	de	volta	na	mesa	e	passou	seus	dedos	pálidos	pela	borda.
–	Em	seu	treinamento	médico	você	deve	ter	lidado	com	a	mente.
–	Sim,	quando	eu	era	estudante.	Mas	sou	cirurgião,	não	psiquiatra.	Eu	servi	no	Corpo	Médico	do
Exército	Canadense	durante	a	Primeira	Guerra,	antes	de	eu	ser	transformado.	Vi	homens	enlouquecerem
na	batalha	e	ordenei	que	fossem	dispensados.	Perdoe-me,	mas	era	especialista	em	remover	estilhaços	e
amputar	membros,	não	em	tratar	de	traumas	de	guerra.
–	Então	há	tratamentos?	–	O	tom	do	Príncipe	era	notadamente	dócil.
–	Naquele	tempo	usávamos	psicoterapia	freudiana,	repouso,	terapia	de	eletrochoque…
A	voz	de	Stefan	falhou.	Ele	deu	uns	goles	em	sua	bebida	fortificante.
–	A	psiquiatria	contemporânea	é	muito	mais	avançada.	Agora	a	maior	parte	dos	distúrbios	é	tratada
com	drogas	e	terapia.	Depende	da	condição	e	do	paciente.
O	Príncipe	assentiu	distraído,	bebericando	de	sua	taça	novamente.
Stefan	se	inclinou	para	a	frente	na	cadeira.
–	Talvez,	se	V
ossa	Senhoria	puder	me	dizer	o	que	precipitou	a	quebra	de	seu	bichinho,	eu	possa
ajudar.
–	Ela	sofreu	um	trauma	quando	criança.	Recentemente	teve	um	encontro	inesperado	com	a	pessoa	que
causou	o	trauma.	Sua	reação	foi…	intrigante.
–	Intrigante	de	que	forma?
–	Ela	vomitou	e	gritou	obscenidades.	Ela	o	acertou	e	depois	caiu	em	soluços	incontroláveis.
–	Ah	–	disse	Stefan.	–	Perdoe-me,	meu	senhor,	mas	essa	reação	não	é	intrigante	para	mim.	Claramente
o	bichinho	ficou	perturbado	em	ver	a	pessoa	e	agiu	de	acordo	com	o	que	sentiu.
–	Essa	não	foi	a	parte	intrigante.	Depois	disso,	ela	ficou	deitada	imóvel,	olhos	esbugalhados,	mas
sem	ver	nada,	com	respiração	entrecortada.	Ela	não	respondeu	à	minha	voz,	e,	quando	tentei	movê-la,	o
corpo	dela	estava	rígido.
–	Por	quanto	tempo	ela	permaneceu	assim?
–	Até	eu	usar	minha	mente	para	controlá-la	e	fazê-la	dormir.
Stefan	levantou	as	sobrancelhas.
–	Não	costuma	ficar	sob	seu	controle?
O	Príncipe	abriu	um	sorriso	devagar.
–	Prefiro	que	minha	comida	tenha	um	pouco	mais	de	vida.
O	médico	levantou	a	taça	em	saudação.
–	Alguém	tão	antigo	quanto	o	senhor	não	precisa	de	controle	mental.	Mas	não	fico	surpreso	de	que
seu	bichinho	tenha	precisado.	O	que	o	senhor	descreve	parece	uma	condição	chamada	de	catatonia.	Um
médico	humano	teria	feito	testes	em	seu	bichinho	e	o	medicado.	Onde	está	agora?
–	Ainda	dormindo.
–	Tentou	acordá-lo?
–	Não.
–	 Talvez	 o	 senhor	 enfrente	 alguns	 problemas.	 Catatonia,	 trauma	 e	 controle	 mental	 são	 uma
combinação	pesada.	Mesmo	que	consiga	acordar	o	bichinho,	ele	pode	não	ser	o	mesmo	de	antes.
O	Príncipe	pareceu	angustiado,	mas	logo	retomou	o	controle.
–	Quer	dizer	que	o	dano	pode	ser	irreparável?
–	É	possível.	O	bichinho	teve	um	colapso	e	o	senhor	usou	controle	mental	sobre	ele,	o	que	pode
piorar	os	problemas.	Imagine	que	usou	um	martelo	para	reparar	um	vaso	quebrado.	Tudo	o	que	sobra	são
estilhaços.
–	Sard!	–	praguejou	o	Príncipe,	sem	elevar	o	tom	de	voz.	–	E	se	você	tratá-la?
A	mão	de	Stefan	tremia	quando	ele	levou	seu	copo	até	a	mesinha	de	canto.
–	Sou	seu	servo	e	farei,	é	claro,	como	manda.	Mas	há	pouco	que	eu	seja	capaz	de	fazer	que	um
psiquiatra	 humano	 especializado	 nesse	 tipo	 de	 caso	 não	 faria	 com	 mais	 eficiência.	 V
ocê	 teria	 que
remover	o	controle	mental	antes	de	hospitalizar	seu	bichinho,	isto	é,	se	o	controle	puder	ser	removido.	Se
a	mente	de	seu	bichinho	estiver	realmente	quebrada,	a	solução	mais	fácil	seria	mantê-lo	sob	controle
mental	até	o	senhor	se	cansar	dele.	Claro…	–	Ele	fez	um	gesto	vago.
–	O	quê?	–	perguntou	o	Príncipe	num	tom	incisivo.
–	Controle	mental	funciona	apenas	porque	a	mente	consciente	está	sendo	influenciada.	As	memórias
do	bichinho	ainda	estariam	intactas,	mas	não	disponíveis	para	a	mente	consciente.	Como	médico,	temo
que	 seu	 bichinho	 ainda	 tenha	 problemas	 psiquiátricos	 que	 o	 controle	 da	 mente	 não	 eliminaria.	 Por
exemplo,	pode	permanecer	catatônico.
–	E	se	eu	executasse	o	homem	que	a	traumatizou?	E	a	convidasse	para	assistir?
Stefan	conteve	um	sorriso.
–	 Com	 todo	 o	 respeito,	 meu	 senhor,	 está	 pensando	 como	 um	 vampiro.	 Se	 seu	 bichinho	 está
traumatizado	meramente	por	ver	o	homem,	pense	no	que	aconteceria	se	fosse	forçado	a	testemunhar	sua
execução.	–	Ele	interrompeu	o	contato	visual	e	esfregou	a	nuca.	–	Posso	falar	livremente?
–	Por	isso	trouxe	você	aqui.	–	O	Príncipe	se	apoiou	na	mesa,	cruzando	os	braços	sobre	o	peito.
–	Se	prefere	que	seus	bichinhos	tenham	vida,	o	nível	de	controle	mental	necessário	para	administrar
uma	mente	quebrada	seria	demais.	Como	disse,	seria	melhor	encontrar	outro	bichinho	mais	saudável.
Mesmo	sob	seu	controle	mental,	o	bichinho	pode	se	tornar	imprevisível,	instável.	–	Ele	agarrou	os	braços
da	cadeira.	–	Um	risco	de	segurança.
O	Príncipe	deu	um	grande	gole	na	bebida.
–	Obrigado,	Stefan.	V
ou	pensar	em	sua	opinião.	–	Seus	olhos	cinza	se	fixaram	no	vampiro	mais	novo.
–	Tenho	certeza	de	que	você	vai	manter	esta	conversa	em	segredo.
–	Sim,	meu	senhor.
–	Bom.	–	O	Príncipe	passou	o	dedo	pela	beirada	da	taça	antes	de	levá-la	à	boca.	–	Eis	uma	notável
informação	sobre	a	história	do	principado:	ainda	não	executei	um	canadense.
–	Que	eu	não	seja	o	primeiro,	meu	senhor.
Stefan	fez	uma	reverência	e	saiu	apressado	dos	aposentos	do	Príncipe.
O
Capítulo	6
sono	de	Raven	foi	pesado	e	profundo,	como	um	cobertor	de	lã	numa	noite	fria	de	inverno.	Ela	vagou
por	cores	e	sentimentos,	sem	sonhos.	Seu	corpo	parecia	flutuar	sem	amarras.	Foi	uma	experiência
estranha.
Ela	escutou	William	chamar	seu	nome,	como	se	estivesse	distante.	Teve	dificuldade	para	abrir	os
olhos	e	o	encontrou	ao	lado	dela,	observando-a	silenciosamente.
William	levantou	o	queixo	de	Raven	com	um	dedo	frio	e	olhou	profundamente	em	seus	olhos.
–	Raven,	eu	a	liberto.	Sua	mente	é	sua	novamente.
Ela	sentiu	a	neblina	escura	evaporar	e	piscou	confusa	contra	as	luzes	do	quarto.	Seu	olhar	se	deteve
na	versão	original	da	Primavera	de	Botticelli	pendurada	na	parede.	Sempre	estivera	lá,	então	não	se
surpreendeu.
Mas	ficou	chocada	ao	descobrir	que,	ao	lado,	William	havia	pendurado	o	retrato	dele	que	ela	mesma
fizera	de	memória	–	o	desenho	que	ela	deixou	para	trás	quando	eles	se	separaram.
Seus	batimentos	cardíacos	se	aceleraram.
Ela	inspecionou	ao	redor,	notando	as	cortinas	cor	de	vinho	que	cercavam	a	grande	cama	de	dossel.
–	Cassita?	–	O	rosto	de	William	estava	marcado	de	preocupação.	–	Como	se	sente?
Ele	levantou	a	mão	para	segurar	o	rosto	dela.
O	prazer	que	Raven	sentia	ao	vê-lo	desintegrou-se	quando	se	lembrou	de	que	William	havia	partido
seu	coração.	Ele	não	havia	correspondido	a	seu	amor	e	ela	não	estava	disposta	a	aceitar	nada	menos	que
isso.
Ela	virou	a	cabeça	e	a	mão	dele	caiu.
–	Por	que	estou	aqui?
–	Para	ficar	comigo,	é	claro.	–	William	parecia	estranhamente	confuso.
Raven	lançou-lhe	um	olhar	duro	antes	de	se	mover	debaixo	da	roupa	de	cama	antiquada.
–	Nós	terminamos.	Terminamos	há	um	tempo.	Isso	não	tem	graça.
–	Terminamos?
Raven	pôde	sentir	algo	bem	parecido	com	pânico	na	voz	dele.	Mas	isso	era	impossível.	William	era
estoico	e	inexpugnável.	Ele	nunca	entraria	em	pânico.
–	Sim.	Nós	terminamos,	não	lembra?	Não	posso	acreditar	que	me	trouxe	aqui.
–	Cassita.	–	William	colocou	a	mão	no	braço	dela,	seu	dedo	acariciando	a	pele	ao	lado	da	pulseira.
–	Pare	de	me	chamar	assim.	–	Ela	afastou	a	mão	dele	e	rapidamente	tirou	a	pulseira,	que	estendeu
para	ele.	–	Eu	devolvi	isso	por	um	motivo.	Pare	de	agir	como	se	nada	tivesse	mudado.
Como	ele	se	recusou	a	pegar	a	pulseira,	ela	a	jogou	sobre	os	lençóis.	Colocou	as	pernas	para	fora	da
cama	e	ficou	de	pé.	Quando	seus	pés	tocaram	o	carpete,	ela	foi	tomada	por	uma	sensação	estranha.
Sua	perna	direita	a	incomodava,	como	costumava	acontecer	quando	ela	ficava	de	pé	depois	de	um
tempo	 deitada.	 Mas	 não	 foi	 essa	 sensação	 que	 chamou	 sua	 atenção.	 Ela	 se	 sentia	 curiosamente	 nua
debaixo	do	vestido.	Então	passou	as	mãos	pela	barriga.	Num	gesto	brusco,	ficou	de	costas	para	William	e
discretamente	deslizou	a	mão	sob	a	saia	do	vestido.	Quando	sentiu	apenas	pele,	congelou.
–	Onde	está	minha	calcinha?
William	ficou	de	pé	num	instante.
–	Raven,	me	escute.	Nós…
–	O	que	aconteceu	com	minha	calcinha?	–	Ela	se	virou	para	ele	com	raiva.
Ele	apertou	os	lábios	e	seus	olhos	acinzentados	se	nublaram.
–	É	um	vestido	bonito.
–	Não	me	importo	com	o	que	estou	vestindo	–	rebateu	ela.	–	O	que	me	preocupa	é	o	que	não	estou
vestindo.	 Nós	 terminamos.	 Não	 o	 vejo	 há	 um	 mês.	 Agora	 acordo	 na	 sua	 cama	 sem	 lembrar	 a	 noite
anterior	e	não	estou	usando	nada	por	baixo!
–	Não	se	lembra	da	noite	passada?	–	perguntou	ele	numa	voz	baixa,	lenta	e	cheia	de	decepção.
Ela	levantou	os	braços,	irritada.
–	Do	que	eu	deveria	me	lembrar?	Diga.
William	começou	a	falar,	mas	depois	pareceu	refletir	melhor.	Encarou-a	por	um	tempo,	enquanto	ela
fechava	e	abria	os	punhos.
–	A	cor	do	seu	vestido	combina	com	você	–	disse	ele	finalmente.	–	Foi	para	uma	ocasião	especial?
Raven	fechou	a	cara.
–	Gina	e	Patrick	fizeram	uma	festa	de	aniversário	para	mim.	Por	que	isso	importa?
–	Eu	visitei	você	depois,	no	seu	apartamento.
–	Por	quê?
–	Porque	era	seu	aniversário.	–	Ele	falava	com	uma	voz	suave.	–	Porque	eu	me	importo	com	você.
Raven	fechou	os	olhos	e	grunhiu.
–	Por	que	está	fazendo	isso?
–	Estou	tentando	ajudar,	Raven.	Juro.	A	festa	foi	na	noite	passada.	V
ocê	pode	me	acompanhar	até	lá
embaixo	e	ligar	para	seus	amigos	para	confirmar	a	data.	–	Ele	apontou	para	a	porta	do	quarto.
Raven	abaixou	a	cabeça	para	examinar	as	dobras	de	seu	vestido	verde.	A	palma	de	sua	mão	flutuou
sobre	o	tecido	como	um	pássaro	sobre	o	gramado.	Ela	se	distraiu	com	o	movimento	relaxante.
–	Eu	me	lembro	da	festa.	Dei	ao	primo	de	Gina	uma	carona	para	casa	depois.
–	E	então?	–	insistiu	William.
–	Fui	para	casa.	–	Raven	fechou	os	olhos,	lembrando-se	de	chegar	a	sua	cozinha.
E	ver	a	bela	figura	de	William,	sentado	à	mesa.
–	Eu	estava	esperando	por	você	–	cochichou	ele.
Imagens	tomaram	sua	mente.
–	Nós	voamos	juntos	sobre	os	telhados.	V
ocê	me	levou	para	o	Duomo	e	me	mostrou	sua	cidade.	–	Ela
engoliu	em	seco.	–	V
ocê	me	disse…
–	Sim?	–	perguntou	ele,	ansioso.
Ela	abriu	os	olhos.	Uma	expressão	de	incredulidade	cruzou	seus	traços	adoráveis.
–	Eu	disse	que	a	amava.	–	Ele	se	aproximou	dela	cuidadosamente	e	passou	as	costas	da	mão	no	rosto
dela.	–	V
ocê	me	conhece,	Cassita.	Eu	acho…	–	Ele	parou,	seus	velhos	olhos	torturados.	–	Espero	que
você	saiba	que	eu	nunca	a	tomaria	contra	sua	vontade.
Entreolharam-se	por	um	longo	tempo	e	ela	assentiu.
Ele	acariciou	o	queixo	dela.
–	V
ocê	não	está	usando	calcinha	porque	viemos	juntos,	você	a	tirou	apenas	depois	que	confessei	que
a	amava.	Eu	me	entreguei	a	você	e	você	se	entregou	a	mim.	Fizemos	nossos	votos	no	telhado	diante	da
Galleria	degli	Uffizi.
O	rosto	de	Raven	corou.
–	Eu	me	lembro.
–	Foi	um	ato	de	amor,	Cassita,	não	de	fingimento.
A	 mente	 dela	 percorreu	 as	 imagens	 da	 noite	 anterior	 –	 as	 palavras	 dele	 no	 Duomo,	 o	 encontro
apaixonado	no	topo	da	galeria	e	a	história	de	Alicia,	a	amante	assassinada	dele.
As	emoções	ferviam	e	tomaram	conta	dela.	Ela	se	jogou	nos	braços	dele,	pressionando	o	rosto	contra
seu	peito.
–	V
ocê	voltou	para	mim.
–	Eu	nunca	parti.
Ele	 levantou	 o	 rosto	 de	 Raven	 e	 a	 beijou	 com	 firmeza	 –	 um	 beijo	 determinado	 e	 marcante,	 para
demonstrar	sua	sinceridade.
–	Eu	nunca	a	deixei	–	disse	ele,	ainda	pressionando	os	lábios	contra	os	dela.	–	Era	eu	a	sombra	na
sua	parede.	E,	mesmo	se	você	me	mandasse	embora,	eu	teria	permanecido	como	sua	sombra.
–	Fiquei	tão	triste	quando	nos	separamos.	Era	como	se	tivesse	uma	pedra	em	meu	peito.
William	apertou	o	abraço	e	por	algum	tempo	eles	ficaram	nos	braços	um	do	outro.	Ele	deleitou-se
com	a	maciez,	o	calor,	todo	o	ser	dela.
–	O	sol	já	vai	se	pôr.	–	Ele	roçou	seus	lábios	nos	dela	novamente.	–	V
ocê	dormiu	o	dia	todo.
–	Não	entendo	por	que	meu	cérebro	ficou	tão	confuso.	–	Ela	piscou.	–	V
ocê	não	me	deu	sangue	de
vampiro,	deu?
Ele	retesou-se.
–	William?
–	Não,	nada	de	sangue	de	vampiro.	–	Ele	forçou	um	sorriso.
Raven	olhou	para	sua	perna	direita,	que	ainda	trazia	a	cicatriz.	Ela	a	testou,	encontrando	a	mesma
limitação	 de	 movimento	 que	 tinha	 no	 dia	 anterior.	 Claramente,	 não	 havia	 recebido	 as	 propriedades
curativas	do	sangue	de	vampiro.
–	Como	está	se	sentindo?
Os	olhos	dele	buscaram	os	dela.	Raven	esfregou	a	testa.
–	Estou	bem.	Eu	me	lembro	do	que	fizemos	na	galeria.	E	de	você	me	dizer	que	ia	me	trazer	para	cá,
mas	não	de	nada	depois.
William	hesitou	antes	de	seus	lábios	se	abrirem	num	sorriso	malicioso.
–	Eu	devo	ter	acabado	com	sua	energia.
–	Adormeci	no	caminho?
–	Tenho	certeza	de	que	está	com	fome.	–	Ele	beijou	a	testa	dela,	então	se	virou	para	a	porta.	–	V
ou
pedir	a	Lucia	que	prepare	o	jantar.
Raven	pegou	a	mão	dele	e	o	puxou.	William	não	resistiu	e	olhou	para	as	mãos	dos	dois	unidas.	Ele
era	de	tamanho	e	constituição	médios,	mas	extremamente	poderoso,	mesmo	para	um	vampiro.	Controlava
sua	força	quando	estava	perto	dela.	Do	contrário,	ela	nunca	seria	capaz	de	detê-lo.
–	Está	escondendo	algo.
Raven	estreitou	os	olhos	verdes.	Ele	soltou	sua	mão	e	esticou	o	braço.
–	É	claro	que	não.
–	V
ocê	mudou	de	assunto	quando	fiz	uma	pergunta	simples.	E	seus	olhos	escondem	algo.
Ele	encarou,	sem	se	mover,	como	um	cervo	que	tenta	evitar	um	predador.
Raven	bufou.
–	Sei	que	você	não	me	deu	sangue	de	vampiro.	Se	tivesse	dado,	minha	perna	não	estaria	doendo.	Mas
é	 difícil	 acreditar	 que	 eu	 tenha	 dormido	 tão	 profundamente	 e	 acordado	 tão	 confusa	 depois	 de
acontecimentos	comuns.
–	Às	vezes	a	ignorância	é	uma	bênção.	–	Ele	falava	em	voz	baixa.	–	Há	mil	coisas	que	eu	desejava
poder	esquecer.
–	V
ocê	está	me	assustando.
William	pareceu	considerar	a	observação	dela.	Suspirou	e	afastou	os	cabelos	dela	do	rosto.
–	Algo	ocorreu	que	pode	ter	afetado	sua	memória,	mas	foi	uma	consequência	indesejada.
–	Não	gosto	de	sentir	que	não	tenho	controle	sobre	minhas	lembranças,	de	maneira	intencional	ou	não.
Por	que	parece	culpado?
Ele	retirou	a	mão.
–	Culpa	é	para	humanos.
–	V
ocê	achava	que	amor	fosse	uma	emoção	humana.	Ainda	assim	disse	que	me	amava.
Ele	ficou	emburrado.
–	Eu	não	disse	simplesmente	que	amava,	eu	amo.
Raven	abaixou	o	olhar	para	seu	pé	direito,	que	formava	um	ângulo	estranho.
–	 Ficamos	 separados	 por	 um	 mês.	 V
ocê	 estava	 livre	 para	 procurar	 qualquer	 uma	 que	 desejasse,
incluindo	Aoibhe.	Não	precisa	apagar	minha	memória	para	esconder	isso.
–	Não	estou	escondendo	aventuras	sexuais	–	grunhiu	William.	–	Aoibhe	não	me	interessa.	Achei	que
tinha	deixado	isso	claro.	A	única	pessoa	que	desejo	é	você.	Minha	última	relação	sexual	foi	com	você,	no
topo	da	galeria.	E	antes	disso	também	tinha	sido	com	você,	antes	de	você	me	deixar.
O	Príncipe	fez	uma	pausa	antes	de	continuar.
–	Não	vivi	uma	vida	casta	neste	corpo.	Mas	não	sou	dado	à	libertinagem,	especialmente	agora	que
tenho	a	mulher	que	quero.	–	William	pegou	o	queixo	dela.	–	V
ou	contar	sobre	a	noite	passada	depois	que
você	tiver	comido	e	bebido.	Meu	objetivo	é	protegê-la,	não	a	ferir.	Espero	que	acredite	nisso.
Raven	começou	a	protestar,	mas	desistiu.	Ela	não	tinha	razão	para	duvidar	dele.	Ainda	assim,	sabia
que	 ele	 estava	 escondendo	 algo,	 e,	 quaisquer	 que	 fossem,	 algumas	 de	 suas	 memórias	 haviam	 sido
perdidas.
Mas	ele	prometera	contar	a	ela.	Daria	a	ele	o	benefício	da	dúvida,	pelo	menos	até	depois	do	jantar.
–	Preciso	tomar	um	banho	e	me	trocar	antes	de	comermos.	–	Ela	tocou	a	barra	de	seu	vestido	com
pesar,	notando	algumas	manchas.
William	indicou	o	armário.
–	Há	roupas	para	você.	Escolha	o	que	quiser.
–	Deve	ter	esperado	minha	volta.
–	Esperado,	não.	–	Ele	trouxe	a	mão	dela	à	sua	boca	e	a	beijou.	–	Torcido.
–	Toma	um	banho	comigo?
William	piscou.
–	Perdão?
Raven	fez	um	bico.
–	Acho	que	não	havia	me	perguntado	isso.	Vampiros	tomam	banho?
–	Claro.	–	Ele	farejou.	–	Nosso	olfato	é	muito	aguçado.	Alguns	dos	meus	irmãos	deixam	a	desejar
quanto	à	limpeza,	mas	eu	faço	questão	de	evitá-los.
Raven	arqueou	uma	sobrancelha	e	ele	continuou:
–	 É	 verdade.	 Alguns	 séculos	 atrás	 um	 montanhês	 da	 Escócia	 e	 um	 de	 seus	 entes	 próximos	 se
candidataram	a	se	juntar	a	meu	principado.	Eu	os	rejeitei	só	pelo	cheiro.
Raven	riu,	o	som	alegre	tomando	a	grandiosa	suíte	master.
Ele	pareceu	pensativo.
–	Nunca	tomei	banho	com	outra	pessoa.
–	Nem	eu.	Mas	parece	divertido.
William	deu	uma	risadinha	e	a	seguiu	para	o	banheiro	da	suíte.
Quando	se	aproximava	da	porta,	ela	olhou	por	sobre	o	ombro	e	notou	que	ele	observava	a	perna
ferida	dela.	De	repente	sentiu	um	calor,	mas	não	de	uma	forma	prazerosa.
–	Sei	que	é	feio.
Ele	parou.
–	O	que	é	feio?
–	Minha	perna.	A	forma	como	eu	ando.	Na	noite	em	que	aqueles	homens	me	atacaram,	um	deles	me
chamou	de	Quasímodo.
–	Quasi	modo?	Não	faz	sentido.
–	Eles	não	estavam	falando	latim.	Quasímodo	é	o	nome	do	corcunda	no	romance	de	Victor	Hugo,	O
corcunda	de	Notre	Dame.
–	E	a	chamaram	disso?	–	O	tom	de	William	era	decidido.
–	Acabei	de	me	lembrar.
–	Estou	feliz	por	tê-los	matado,	por	sua	blasfêmia	e	por	todo	o	resto.
–	Estou	feliz	por	ter	me	salvado,	William.	Sempre	serei	grata.	Mas	sinto	muito	que	os	tenha	matado.
Ela	deu	as	costas	e	entrou	no	banheiro.
William	 fechou	 a	 cara,	 lembrando-se	 do	 prisioneiro	 que	 mantinha	 no	 calabouço	 alguns	 andares
abaixo.	Ele	abriu	o	chuveiro,	ajustando	a	temperatura	da	água,	e	chamou	Raven	para	testá-la.	Vampiros
podem	sentir	calor	e	frio,	mas	apenas	vagamente.	Temia	que	a	água	estivesse	quente	demais.
Raven	 observou	 enquanto	 ele	 se	 desnudava	 rapidamente,	 dobrando	 cada	 peça	 de	 roupa	 preta	 e
colocando-as	na	penteadeira.
Ela	ficou	limpando	fiapos	imaginários	do	vestido	enquanto	ele	permanecia	na	frente	dela,	nu.
William	tinha	menos	de	1,80	metro	de	altura,	era	esguio	e	forte.	Raven	ficou	um	momento	apreciando
a	musculatura	definida	do	peito	e	da	barriga	dele	e	a	constituição	forte	de	suas	coxas.	Nem	mesmo	uma
estátua	entalhada	pelo	escultor	mais	talentoso	representaria	um	ser	com	tamanha	perfeição.	O	rosto	dele	a
fazia	lembrar	um	anjo,	com	olhos	acinzentados	intensos	que	agora	olhavam	para	ela,	ansiosos.
Ela	escondeu	o	rosto.
–	V
ocê	disse	que	me	amava.
–	Eu	disse.	E	falo	sério.
–	O	amor	é	uma	coisa	estranha.	Eu	já	o	vi.	Fiquei	feliz	quando	outros	o	encontraram.	Mas	nunca
acreditei	que	fosse	para	mim.
–	Por	que	uma	jovem	bela	e	forte	não	deveria	encontrar	amor?
–	Porque,	como	você	costuma	dizer,	seres	humanos	são	superficiais.
–	O	amor	é	profundo.	–	A	voz	dele	ecoou	no	banheiro.
–	O	amor	é	ter	o	poder	de	destruir	outra	pessoa.
William	se	aproximou.
–	Tem	medo	de	ser	destruída?
–	Destruída,	consumida,	traída.
Ela	começou	a	mexer	no	decote	de	seu	vestido.	William	colocou	a	mão	sobre	a	dela,	detendo-a.
–	O	amor	cria,	não	destrói.
Seus	lábios	tocaram	o	lugar	onde	o	pescoço	dela	se	juntava	com	o	ombro.	Ele	a	beijou	devagar,
traçando	o	caminho	de	sua	clavícula	nua.	Segurou	o	zíper	do	vestido	dela.
–	Permita	que	eu	faça.
Ele	abriu	o	vestido,	deixando-o	cair	no	piso	de	mármore.	Em	seguida,	tirou	o	sutiã.	Finalmente	ela
estava	tão	nua	quanto	ele,	e	os	olhos	de	William	percorreram	deliciados	o	corpo	dela.
–	Eis	um	banquete	para	meus	sentidos	assim	como	para	meu	coração.
Seus	dedos	pálidos	acariciaram	a	bochecha,	a	boca	e	o	pescoço	de	Raven.	Suas	mãos	fortes	pegaram
os	seios	dela,	acariciaram	a	barriga	e	os	quadris.	Finalmente	seus	olhos	encontraram	os	dela.
–	O	poder	que	você	descreve	é	o	poder	que	existe	aqui.	–	Ele	tocou	a	testa	de	Raven	antes	de	levar	a
mão	até	o	coração	dela.	–	E	aqui.	É	o	poder	que	tem	sobre	mim.	Poder	que	nenhuma	outra	possuiu	desde
que	eu	era	humano.	–	Ele	levou	os	lábios	à	orelha	dela.	–	Seus	medos	são	compartilhados.
Com	um	lento	beijo	no	pescoço,	ele	a	conduziu	para	o	chuveiro,	ficando	atrás	de	Raven	enquanto	a
água	caía	sobre	ela.	Raven	fechou	os	olhos	e	levantou	o	rosto,	como	uma	flor	seguindo	o	sol.	A	água
quente	encharcou	seu	cabelo	e	escorreu	pelas	curvas	generosas	de	seu	corpo.
–	Nunca	tomei	banho	com	outra	pessoa.	O	que	acontece	em	seguida?
William	descansou	as	mãos	nos	ombros	dela.	Ela	limpou	a	água	de	seu	rosto.
–	O	que	você	quiser.	Apenas	não	me	deixe	cair.
O	rosto	de	William	desceu	para	a	perna	direita	dela,	que	ela	acariciava.
–	Está	doendo	muito?
–	Piora	depois	que	fico	deitada.	Às	vezes	eu	caio.
William	passou	o	braço	pela	cintura	dela,	puxando-a	de	costas	até	seu	peito.
–	Então	eu	devo	me	certificar	de	que	consigo	pegá-la.
Ela	o	beijou,	se	esticando	para	correr	os	dedos	pelo	cabelo	molhado	dele	enquanto	a	água	caía	sobre
os	ombros.	Movia-se	com	a	avidez	nascida	do	amor,	do	afeto	e	do	alívio	de	lembrar	que	não	o	havia
perdido.
Ele	era	dela.
Mesmo	agora,	nua,	com	uma	miríade	de	falhas	que	poucos	homens	deixavam	de	notar,	ele	a	abraçou.
Ele	abraçou	suas	imperfeições.
Ele	a	amava.
Suas	mãos	frias	queimavam	a	pele	dela,	e	ele	a	puxou,	com	os	dedos	bem	abertos	sobre	sua	barriga,
até	que	as	costas	de	Raven	entrassem	em	contato	com	o	que	surgia	entre	as	pernas	dele.	Ela	entregou	seu
peso	e	ele	a	segurou	firme,	mordiscando	e	lambendo	os	lábios	dela	antes	de	deixá-la	colocar	a	língua	na
boca	dele.
Ele	 manteve	 a	 intrusão	 por	 alguns	 segundos,	 então,	 com	 um	 grunhido,	 girou-a,	 pressionando	 seus
peitos	juntos.
Raven	olhou	para	os	olhos	cinzentos,	que	pareciam	queimar.
–	Tem	certeza?
Ela	assentiu.
–	Preciso	de	palavras,	Raven.	Preciso	saber	que	você	quer.
–	Eu	quero	você.
Ele	a	beijou,	sua	língua	penetrando	e	saindo	da	boca	dela	num	ritmo	sensual.	Ela	virou	a	cabeça,
recebendo-o,	 enquanto	 a	 água	 continuava	 a	 cair.	 As	 mãos	 passeavam	 pela	 pele	 lisa	 enquanto	 a	 parte
inferior	de	seus	corpos	se	alinhava.	Ela	tocava	o	pescoço	dele,	seus	ombros,	seu	bíceps,	segurando-os
firmemente	num	esforço	de	permanecer	ereta.
William	não	era	um	amante	manso.	Em	seus	braços,	ela	sentia	seu	controle,	seu	desejo,	e	a	guerra	que
se	deflagrava	entre	os	dois	sentimentos	dentro	dele.	Mas	ele	nunca	a	machucava	e	sempre	se	preocupava
em	dar	prazer	antes	de	tê-lo.	Geralmente	mais	de	uma	vez.
–	V
ocê	é	um	sonho	–	suspirou	ela.	–	Um	sonho	de	amor	que	eu	nunca	achei	que	fosse	ter.
William	cravou	os	olhos	nos	nela.	Sem	aviso,	ele	a	levantou,	puxando	as	coxas	de	Raven	ao	redor	de
seus	quadris.	Baixou	a	boca	aos	seios	dela,	provando	e	provocando	antes	de	sugar	gotas	d’água	de	sua
carne	ávida.
Ela	envolveu	os	braços	no	pescoço	dele,	sentindo-o	entre	suas	pernas.	Ele	a	levantou	mais	alto,	com
as	mãos	em	suas	costas,	certificando-se	de	que	estavam	corretamente	alinhados.
–	Respire	–	ordenou,	com	os	olhos	penetrando	nos	dela.
Ele	era	o	vampiro,	orgulhoso	e	poderoso,	no	limite	do	controle.	Ele	mostrou	os	dentes	como	por
instinto	e	um	rosnado	escapou	de	seu	peito.
–	Apenas	não	me	quebre	–	sussurrou	ela,	afastando	uma	mecha	loura	da	testa	dele.
A	expressão	de	William	ficou	ainda	mais	feroz.
–	Não	vou.	Qualquer	que	seja	o	mal	que	eu	faça	a	você,	juro	curar.
Ele	calou	a	resposta	dela	com	seu	beijo	e	então,	com	uma	única	estocada,	entrou	nela.
Seus	beijos	ficaram	ferozes	como	seus	movimentos,	entrando	e	saindo	dela,	seguidamente.	Segurava-
a	com	mais	força	enquanto	levantava	e	a	movia	no	ritmo	de	seu	próprio	movimento.
Raven	se	agarrou	a	ele,	puxando-o	para	mais	perto,	para	que	ele	pudesse	ir	mais	fundo.	Não	que	ele
precisasse	de	encorajamento.
Seus	seios	roçavam	contra	o	peito	dele,	o	que	a	excitava	ainda	mais.	Ela	ignorou	a	água,	o	cheiro	do
sabão	 e	 de	 William,	 e	 o	 irritante	 desconforto	 em	 sua	 perna	 e	 no	 tornozelo.	 Estava	 concentrada	 na
sensação	enquanto	ele	a	levava	rapidamente	à	beira	do	orgasmo.
Antes	que	pudesse	dar	sinal	de	que	estava	perto,	Raven	chegou	ao	clímax,	a	mão	no	pescoço	dele
enquanto	ela	jogava	a	cabeça	para	trás.	William	manteve	o	ritmo	até	ela	terminar,	seu	rosto	descendo	até
os	seios	dela,	levando	um	deles	até	a	boca.
Quando	ela	abriu	os	olhos,	ela	o	encontrou	olhando	para	ela,	faminto.
–	Estou	apenas	começando	–	disse	ele	rouco.	–	Respire.
W
Capítulo	7
illiam	levantou-se	da	cama,	sem	se	dar	o	trabalho	de	se	vestir.
Ele	havia	passado	duas	horas	intensas	com	Raven,	que	agora	estava	aninhada	no	lençol,	relaxada
e	feliz.
Na	mente	antiquada	de	William,	nada	do	que	acontecera	significara	fazer	amor.	Amor	era	algo	que
existia	ou	não,	não	algo	que	se	fazia,	e	muito	menos	pela	experiência	(reconhecidamente	agradável)	de
unir	corpos.
Mas	ele	desejava	a	mulher	curvilínea	que	o	observava	sobre	sua	taça	de	vinho.	Estava	faminto	por
ela,	seu	corpo	e	seu	sangue,	com	um	desejo	que	beirava	o	desespero.
Ele	também	a	amava.
Mas	também	não	conseguia	evitar	comparar	o	atual	estado	dela	com	aquele	da	noite	anterior	–	as
lágrimas,	o	choro	e	o	silêncio	punitivo.	A	avaliação	de	Stefan	ecoava	em	seu	ouvido.	Ainda	que	estivesse
aliviado	por	ela	ter	acordado	com	a	mente	funcionando,	temia	sua	reação	quando	lhe	contasse	sobre	o
padrasto.	Também	temia	como	ela	reagiria	ao	saber	que	ele	usara	o	controle	mental,	mesmo	que	sentisse
que	tivera	motivos	para	usá-lo.	Essas	angústias	estragavam	o	clima.
–	O	que	está	fazendo?	–	Raven	colocou	sua	taça	de	vinho	ao	lado	de	um	prato	de	comida	que	ela
havia	beliscado	preguiçosamente	depois	do	sexo.
–	Me	vestindo	–	disse	ele	secamente,	colocando	um	jeans	preto.
Manteve-se	 de	 costas	 para	 ela	 enquanto	 abotoava	 uma	 camisa	 social	 preta,	 enfiando-a
meticulosamente	no	jeans.
–	V
ocê	já	acabou	comigo.
Notando	o	tom	dela,	William	se	virou.	Raven	parecia	ter	os	sentimentos	feridos.
–	Nunca	vou	ter	acabado	com	você.	–	Ele	tornou	a	voz	gentil	enquanto	seus	olhos	percorriam	o	corpo
dela.	–	Mas	seus	seios	estão	sensíveis,	assim	como	a	carne	entre	suas	pernas.	Preciso	esperar.
A	mão	de	Raven	desceu	pelo	seu	abdome.
–	V
ocê	notou?
–	 Essa	 é	 uma	 pergunta	 genuína?	 Ou	 está	 supondo	 que	 eu	 simplesmente	 a	 usaria	 você	 até	 que
expirasse?
Ela	se	virou,	assustada	com	a	raiva	dele.
–	 Perdoe-me.	 –	 Ele	 rangeu	 os	 dentes.	 –	 Eu	 deveria	 ter	 explicado	 que	 estou	 me	 vestindo	 porque
preciso	me	alimentar.
–	V
ocê	fica	irritável	quando	está	com	fome.	Já	reparei.
Raven	lançou-lhe	um	olhar	amargo.
Ele	se	sentou	ao	lado	dela	na	cama	e	pousou	um	beijo	arrependido	nos	lábios	dela.
–	V
ocê	poderia	se	alimentar	de	mim	–	sugeriu	ela.
–	 Sinto	 necessidade	 de	 algo	 mais	 forte.	 –	 Os	 olhos	 dele	 foram	 até	 onde	 a	 mão	 dela	 pousava,
descansando	no	colo.	–	Eu	vou	me	alimentar	de	você	novamente.	Em	breve.
Ela	apontou	vagamente	para	onde	o	olhar	dele	havia	parado.
–	Certamente.	–	Ele	abriu	um	meio	sorriso.	–	Acho	que	sua	carne	ferida	se	beneficiaria	da	frieza	da
minha	língua.	Quando	chegar	o	momento	certo,	vou	provar	o	sangue	que	flui	por	sua	coxa.
Raven	ficou	boquiaberta.
William	apreciou	a	surpresa	curiosa	dela.	Ele	também	gostava	de	ver	Raven	enrolada	nos	lençóis.
Era	uma	imagem	que	deveria	ser	capturada	numa	pintura	e	pendurada	em	sua	parede.	Perguntou-se	se
confiaria	num	artista	para	pintar	Raven	num	momento	tão	íntimo,	mesmo	se	a	nudez	dela	fosse	coberta.
Concluiu	imediatamente	que	não.
–	Junte-se	a	mim	na	sala	de	visitas.	Lucy	vai	guiá-la.
–	O	que	devo	usar?
Ele	apontou	para	os	lençóis.
Ela	franziu	a	testa.
–	Não	posso	descer	assim.
–	Esta	é	minha	casa.	V
ocê	pode	usar,	ou	não	usar,	o	que	quiser.
Ela	cobriu-se	mais	com	o	lençol.
–	Mesmo	se	fosse	Halloween	e	você	estivesse	dando	uma	festa	a	fantasia,	eu	não	andaria	por	aí
enrolada	num	lençol.
William	ficou	intrigado	com	a	observação	dela,	mas	não	se	deu	o	trabalho	de	questioná-la.	Foi	até	o
armário	e	remexeu	em	alguns	cabides.
–	Eu	estava	ansioso	por	vê-la	neste	vestido.	–	Ele	colocou	um	longo	vestido	de	noite	de	cetim	preto
sobre	a	cama.
O	vestido	era	elegante	mas	sensual,	com	um	decote	muito	profundo	nas	costas.	A	frente	era	quase	tão
ousada,	com	um	V	que	iria	realçar	seus	seios	generosos.
Raven	olhou	para	ele	com	sobrancelhas	erguidas.
–	Sério?
–	V
ocê	também	pode	usar	um	roupão,	mas	acho	desnecessário.	Venha	até	mim	quando	estiver	pronta	e
eu	 conto	 o	 que	 aconteceu	 na	 noite	 passada.	 –	 Ele	 tentou	 manter	 o	 tom	 casual,	 mas	 sabia	 que	 havia
fracassado.
Raven	encarou	atentamente	o	vestido	provocante	jogado	sobre	a	cama	e	assentiu.
William	se	retirou	para	a	adega	que	ficava	embaixo	da	villa,	alheio	aos	gritos	e	ao	choro	que	vinham
do	calabouço.	Não	sentia	remorso	por	manter	o	pedófilo	prisioneiro.	Ele	sempre	desprezara	os	pedófilos
e	havia	proibido	a	prática	em	seu	principado.
O	animal	que	estava	na	jaula	no	fim	do	corredor	havia	abusado	da	irmã	mais	nova	de	Raven.	William
lera	os	relatos.	Também	vira	as	fotografias	dos	ferimentos	de	Raven.
Ele	conhecia	a	escuridão.	Conhecia	o	mal.	Mas	também	sabia	que	havia	aspectos	da	maldade	que	iam
além	de	qualquer	coisa	que	ele	pudesse	compreender.	Não	perdia	tempo	tentando	resolver	os	enigmas	do
mal.	 O	 mal	 tinha	 sua	 própria	 lógica	 e	 não	 era	 algo	 que	 ele,	 considerando	 seu	 próprio	 código	 moral,
poderia	entender.
E	os	humanos	acham	que	nós	que	somos	monstros.
Ele	tinha	visto	muitas	coisas	desde	o	século	XIII.	Muito	poucos	acontecimentos	na	história	humana	o
surpreendiam	ou	chocavam,	coberto	como	ele	estava	em	indiferença.	Ainda	assim	ele	não	era	insensível
a	Raven	ou	ao	sofrimento	dela.
Ele	se	arrependia	de	não	ter	matado	o	pedófilo	quando	teve	chance.
Um	 atestado	 de	 óbito	 teria	 sido	 um	 excelente	 presente	 de	 aniversário.	 Por	 que	 diabo	 ele	 havia
hesitado?
William	murmurou	um	palavrão.	Sabia	o	motivo.
Sua	mão	pairou	sobre	as	mais	valiosas	safras	de	sua	adega,	então	parou.	Seria	fácil,	fácil	demais,
matar	o	pedófilo	e	mentir	sobre	isso.	Mas	Raven	já	havia	demonstrado	que	sabia	quando	ele	tentava
enganá-la.
Ele	precisava	de	sangue	de	vampiro	antigo	para	fortalecer	sua	confiança	e	encontrar	as	palavras	para
contar	a	Raven	quem	ele	mantinha	no	calabouço.	Além	disso,	precisaria	confessar	ter	usado	controle
mental	nela.	Não	era	uma	conversa	pela	qual	ansiava,	muito	menos	por	seu	inevitável	desdobramento.
Suas	mãos	se	fecharam	sobre	uma	valiosa	garrafa,	escolhida	pela	força	que	o	dono	original	possuíra.
William	precisava	do	sangue	de	um	antigo	mentiroso,	havia	muito	morto,	para	lhe	dar	coragem	para	dizer
a	verdade.
Pouco	depois,	William	estava	sentado	numa	grande	cadeira	em	frente	à	lareira,	de	cara	fechada.	A	noite
de	verão	estava	muito	quente,	mas	William	gostava	do	fogo.	Algo	em	seu	movimento,	em	seu	som	e	seu
cheiro	o	confortava.
Raven	não	reclamou	do	calor.	Ela	se	sentou	à	direita	dele	numa	cadeira	idêntica,	com	a	perna	ferida
dobrada	sob	o	corpo,	bebericando	uma	pequena	taça	de	Vin	Santo.
Ele	havia	quase	terminado.	Tentou	beber	discretamente,	para	não	a	perturbar,	mas	estava	determinado
a	não	esconder	sua	alimentação	dela.
–	É	bom?
Ela	apontou	para	o	cálice	ornado	de	ouro	em	sua	mão.
–	Muito.	–	Ele	levantou	a	bebida.	–	É	do	antigo	Príncipe	de	Florença.	Gostaria	de	provar?
–	Não,	obrigada.
–	Provavelmente	é	uma	decisão	sábia.	Ele	possuía	perversidade	em	abundância.
William	bebeu	com	parcimônia	antes	de	colocar	a	taça	de	volta	na	mesa.	Para	vampiros,	sangue	e
sexo	andavam	juntos.	Agora	que	ele	saciara	um	apetite,	sentia	o	outro	surgir.	Luxúria	era	certamente	um
dos	mais	antigos	vícios	de	William,	e	ele	a	sentia	pulsando	por	seu	corpo.
Ele	se	permitiu	o	luxo	de	admirar	a	aparência	de	sua	amante.	Seu	longo	cabelo	escuro	era	ondulado,
tendo	secado	ao	ar.	Sua	pele	trazia	o	brilho	luminoso	de	uma	mulher	satisfeita	na	cama	e	seus	olhos
verdes	estavam	brilhantes	e	claros.
Ele	se	flagrou	observando	os	seios	que	podiam	ser	entrevistos	pelo	profundo	decote	do	vestido.	Eram
perfeitos,	tentadores.	Ele	lambeu	os	lábios,	lembrando-se	do	gosto	daqueles	seios	em	sua	boca.
Raven	deixou	sua	bebida	de	lado	e	apontou	para	o	quarto	escuro,	iluminado	apenas	pela	lareira	e	por
uma	única	vela	que	queimava	na	mesa	ao	lado	dela.
–	Estou	começando	a	achar	que	você	não	gosta	de	eletricidade.
Lentamente	o	vampiro	levantou	os	olhos	para	encontrar	os	dela.
–	Ficamos	mais	confortáveis	no	escuro.
–	Sinto	muito.
–	Luz	forte	me	incomoda	–	confessou	ele,	as	palavras	escapando	de	sua	boca.
Ela	tinha	esse	dom	–	essa	forma	de	olhar	para	ele	com	seus	grandes	olhos	que	o	fazia	revelar	seu
segredos.
–	Eu	não	sabia.	–	Raven	franziu	a	testa,	preocupada.	–	V
ocê	manteve	as	luzes	acesas	lá	em	cima.
–	Queria	vê-la.
Ela	sorriu	sem	entusiasmo	e	apontou	para	a	bebida.
–	Sangue	de	vampiro	não	parece	afetá-lo.
–	Isso	não	é	verdade.	–	William	relaxou	em	sua	cadeira.	–	Vampiros	não	são	humanos,	então	o	sangue
não	nos	afeta	da	mesma	forma.	Mas	ingerir	sangue	de	um	vampiro	poderoso	aumenta	minha	força.	–	E
minha	libido,	ele	acrescentou,	mas	apenas	para	si	mesmo.
–	É	por	isso	que	você	não	é	afetado	por	relíquias	sagradas?	Porque	bebe	sangue	de	vampiro?
William	começou	a	falar,	mas	rapidamente	conteve	sua	reação.
–	Não.
–	V
ocê	disse	que	não	sabe	por	que	é	diferente	dos	outros,	por	que	pode	caminhar	à	luz	do	sol	e	em
terreno	sagrado.	Mas	sabe	por	que	as	relíquias	não	o	afetam?
William	se	forçou	a	adotar	uma	expressão	neutra.
–	Tenho	uma	hipótese,	mas	não	uma	prova	concreta.
–	Estou	ansiosa	para	saber	qual	é.
Ela	ficou	mais	confortável	na	cadeira.	O	olhar	dele	subiu	para	o	pescoço	dela.
–	Não	esta	noite.	Temos	coisas	mais	importantes	para	conversar.
Ela	deu	de	ombros	e	bebericou	o	vinho,	escondendo-se	atrás	da	taça.	William	teve	a	impressão	de
que	havia	sido	testado	e	falhara.
–	Não	divido	meus	segredos	com	ninguém.	–	Ele	olhou	para	suas	mãos,	revirando-as	à	luz	da	lareira.
–	Por	isso	mexeu	em	minha	memória?	Porque	descobri	um	dos	seus	segredos?
–	Não	–	respondeu	William	secamente.
Ele	levantou	seu	cálice.
–	A	história	das	relíquias	tem	a	ver	com	a	noite	em	que	fui	transformado.	Foi	uma	época	sombria.
Nunca	falei	sobre	isso.	Quanto	ao	sangue,	sim,	me	deixa	mais	forte.	Mas	sou	antigo,	então	os	efeitos	são
mais	fracos	do	que	em	um	jovem.
Ele	esvaziou	seu	cálice	em	dois	goles	antes	de	fazer	contato	visual	com	ela	e	lamber	os	lábios.	Raven
olhou	para	a	boca	de	William,	ao	mesmo	tempo	enojada	e	hipnotizada.
–	Por	que	tenho	a	impressão	de	que	você	está	tentando	me	seduzir?
–	Porque	não	há	nada	que	eu	queira	mais	do	que	possuí-la	agora.	Eu	poderia	pegá-la	no	colo	e	dar
prazer	a	você	ou	poderíamos	copular	no	chão,	ao	lado	do	fogo.
Raven	hesitou;	as	palavras	de	seu	belo	e	talentoso	amante	eram	mais	do	que	uma	provocação.
–	Eu	pedi	que	me	contasse.	V
ocê	disse	que	o	faria.
–	Alguns	conhecimentos	são	perigosos.
–	Ótimo.	–	Ela	parecia	frustrada.	–	Não	vou	discutir	sobre	cada	informação	que	você	se	recusar	a
dividir.	Vamos	falar	sobre	amnésia.	A	última	vez	que	tive	problemas	de	memória	foi	quando	você	me	deu
sangue	de	vampiro.
–	V
ocê	foi	ferida	na	cabeça.	É	possível	que	sua	perda	de	memória	tenha	sido	causada	por	isso.
–	Então	não	é	sempre	que	sangue	de	vampiro	causa	perda	de	memória?
–	Pode	causar	perda	de	memória,	sim,	mas	euforia	é	o	efeito	colateral	mais	comum.
Ela	cruzou	os	braços	sobre	o	peito.
–	Não	me	sinto	nem	um	pouco	eufórica	no	momento.	O	que	aconteceu	na	noite	passada?
Ela	voltou	a	atenção	para	o	fogo,	como	se	buscasse	nas	chamas	a	coragem	e	a	sabedoria	de	que
precisava.
–	Antes	de	começar,	preciso	saber	como	está	se	sentindo.
–	Bem.	Por	que	fica	me	perguntando	isso?
Ele	examinou	o	rosto	dela.
–	Não	se	sente…	chateada?
–	Estou	irritada	por	você	ficar	fugindo	das	minhas	perguntas.
Ele	suspirou.
–	Então	vamos	começar.	V
ocê	se	lembra	de	negociar	comigo	a	vida	de	Emerson?
Raven	sentiu	um	aperto	no	coração	e	as	narinas	de	William	foram	tomadas	pelo	cheiro	do	pânico
repentino	dela.
–	V
ocê	não	matou	o	professor	Emerson,	matou?	Não	depois	de	prometer	que	não	o	faria.
Os	olhos	cinzentos	de	William	cravaram-se	em	Raven.
–	Mantenho	minhas	promessas,	como	explicarei	em	breve.	Fiz	uma	visita	a	ele	na	Úmbria.	Ele	e	sua
família	estão	vivos,	mas	a	Sra.	Emerson	necessita	de	um	médico.
Raven	lançou-lhe	um	olhar	horrorizado.
Ele	balançou	a	cabeça.
–	V
ocê	não	compreendeu.	Ela	tem	algum	tipo	de	doença.	Senti	pelo	cheiro	e	informei	ao	marido.
Como	 eu	 disse,	 mantenho	 minhas	 promessas.	 V
ocê	 concordou	 em	 me	 contar	 sobre	 o	 “acidente”	 –	 ele
olhou	 para	 a	 perna	 direita	 dela	 –	 e	 eu	 concordei	 em	 poupar	 os	 Emersons.	 No	 dia	 seguinte	 à	 nossa
conversa,	enviei	Luka	para	os	Estados	Unidos,	para	investigar.
–	Investigar	sobre	os	Emersons?
–	Não,	sobre	você.
–	Achou	que	eu	tinha	inventado	tudo?	–	Ela	deslizou	a	perna	que	estava	debaixo	dela,	colocando
ambos	os	pés	no	chão.
–	De	forma	alguma.	Na	verdade,	achei	que	você	havia	me	contado	apenas	parte	do	que	aconteceu.
Ela	fez	uma	careta.
–	Contei	o	suficiente.
–	 Por	 razões	 que	 logo	 vou	 esclarecer,	 pedi	 que	 Luka	 fizesse	 uma	 investigação	 completa.	 Ele	 me
forneceu	alguns	registros	do	processo,	depoimentos	de	testemunhas,	transcrições,	arquivos	médicos.
A	cor	se	esvaiu	do	rosto	de	Raven.
–	Mas	são	confidenciais.
–	 Dinheiro	 pode	 ser	 um	 poderoso	 incentivo.	 Quando	 não	 funcionou,	 Luka	 fez	 uso	 de	 meios	 mais
criativos.
Raven	apertou	bem	os	olhos	e	se	remexeu	em	sua	cadeira.
William	adotou	um	tom	mais	suave.
–	Vi	os	relatos	e	as	fotos.	O	que	descobri	me	deixou	mais	do	que	bravo,	Cassita.	Me	magoou.	Mais
do	 que	 posso	 expressar.	 V
ocê	 suportou	 muito	 mais	 do	 que	 apenas	 uma	 queda	 das	 escadas	 enquanto
protegia	sua	irmã.	Havia	diversos	hematomas	e	ferimentos	nos	seus	braços.
Inconscientemente,	 Raven	 tocou	 o	 braço	 esquerdo	 abaixo	 do	 cotovelo.	 William	 seguiu	 atento	 o
movimento	dela.
–	O	arquivo	sobre	sua	irmã	esclareceu	o	que	você	havia	me	contado.	Eu	queria	ir	aos	Estados	Unidos
para	lidar	diretamente	com	a	situação,	mas	por	vários	motivos	tive	que	permanecer	aqui.	Mandei	Luka
para	observar	sua	irmã	e	sua	mãe.	Como	você	disse,	sua	irmã	é	bem-sucedida	e	parece	satisfeita	com	o
homem	que	escolheu.	Suponho	que	saiba	sobre	o	novo	casamento	de	sua	mãe.
–	Cara	me	contou.
–	Se	coubesse	a	mim	decidir,	eu	teria	matado	sua	mãe.	Nenhum	adulto	razoável	poderia	ter	ignorado
o	que	acontecia	dentro	da	própria	casa.	Ela	escolheu	ignorar	os	sinais	e	por	isso	deveria	ser	punida.
Porém,	você	me	pediu	que	não	a	machucasse.	Mas	seu	padrasto…
Raven	se	levantou,	interrompendo-o.
–	É	o	suficiente.
Ela	deu	as	costas	para	ele,	pegando	o	roupão	que	fora	jogado	descuidadamente	sobre	as	costas	da
cadeira.	Ela	o	vestiu,	cobrindo	o	máximo	de	pele	possível	antes	de	amarrar	o	cinto	com	força.
–	Acho	deprimente	que	você	só	se	disponha	a	compartilhar	as	informações	mais	básicas	sobre	si
mesmo	e	ainda	assim	se	sinta	compelido	a	mandar	um	investigador	para	a	Flórida	a	fim	de	descobrir	tudo
sobre	mim	e	minha	família	disfuncional.
William	observou	os	movimentos	de	Raven	com	preocupação	crescente.	Podia	perceber	o	pico	de
adrenalina	no	sangue	dela	e	sentia	seus	próprios	pulmões,	por	mais	supérfluos	que	fossem,	contraídos.
Era	uma	sensação	terrível	saber	que	estava	ferindo	a	pessoa	que	amava.	E	ele	ainda	não	havia	lembrado
a	ela	quem	estava	deitado	numa	cela	sob	o	piso.
Ele	precisava	prosseguir	com	mais	cuidado.
–	Não	tenho	prazer	em	voltar	a	esses	assuntos	–	disse	ele	gentilmente.	–	Longe	disso.	Tente	imaginar,
se	puder,	como	seria	se	nossas	posições	fossem	invertidas.	Como	você	se	sentiria	se	descobrisse	que	eu
passei	por	essas	experiências	quando	criança?
–	 Eu	 provavelmente	 me	 sentiria	 como	 você.	 Mas	 não	 o	 faria	 falar	 sobre	 isso,	 porque	 sei	 que	 só
pioraria	as	coisas.	–	Raven	segurou	o	roupão	com	os	dedos	trêmulos,	de	modo	a	cobrir	parte	do	pescoço.
–	Existe	um	propósito	no	que	estou	contando,	juro.	Algo	a	perturbou	noite	passada,	e,	por	alguma
razão,	sua	mente	bloqueou	isso.	Eu	preferiria	terminar	minha	história	aqui.	–	Ele	hesitou.	–	Mas,	se	você
insistir	em	ouvir	o	que	aconteceu,	devo	contar.
–	 Já	 que	 chegamos	 tão	 longe.	 –	 Ela	 cambaleou	 ao	 redor	 da	 cadeira,	 pegou	 a	 taça	 e	 bebeu	 o	 que
restava.
–	Gostaria	de	mais?
Ela	abaixou	a	taça	com	um	baque	alto.
–	É	ruim	assim?
Como	ele	não	respondeu,	Raven	se	sentou	pesadamente	na	cadeira.
–	Conte.
William	observou	enquanto	ela	se	encolhia,	aconchegando	a	bochecha	no	encosto	da	cadeira.	Ele
passou	a	mão	sobre	o	rosto.
–	Fiz	uma	promessa	a	você	depois	de	nossa	conversa.	Prometi	que	lhe	daria	justiça.	Foi	por	isso	que
enviei	Luka	aos	Estados	Unidos.	Ele	descobriu	que	seu	padrasto	e	os	advogados	dele	manipularam	o
sistema	 e	 a	 investigação	 do	 incidente	 envolvendo	 você	 e	 sua	 irmã.	 Foi	 por	 isso	 que	 ele	 escapou	 da
punição.	Quando	Luka	o	localizou,	descobriu	que	o	homem	usou	identidades	falsas	antes	e	depois	de
casar	com	sua	mãe.	Na	verdade,	o	casamento	dele	com	sua	mãe	foi	uma	fraude,	porque	ele	já	era	casado.
–	Ele	era	um	filho	da	puta	doente.	Isso	não	me	surpreende.	–	O	tom	de	Raven	era	cortante.
–	A	investigação	de	Luka	revelou	um	padrão.	Na	maior	parte	da	vida	adulta,	seu	padrasto	migrava	de
uma	mãe	solteira	para	outra,	infiltrando-se	na	vida	delas	com	o	propósito	de	ganhar	acesso	a	seus	filhos.
William	fez	uma	pausa,	observando	a	reação	de	Raven.	Ela	continuava	parada,	olhando	para	o	fogo.
–	Seu	padrasto	estava	vivendo	na	Califórnia	com	uma	viúva	e	seus	filhos	pequenos.	O	casamento	é
inválido	porque	ele	ainda	é	casado	com	sua	primeira	e	única	esposa	legal.
Agora	Raven	olhou	para	ele.
–	Os	meninos,	ele…?
–	Parece	que	o	gosto	dele	é	por	meninas.	Mas	Luka	descobriu…	–	William	parou,	pois	o	rosto	de
Raven	 havia	 tomado	 um	 tom	 esverdeado.	 Aproximou-se	 dela,	 agachando-se	 ao	 lado	 da	 cadeira.	 –
Cassita,	olhe	para	mim.
Como	ela	se	recusou,	William	colocou	a	mão	sobre	o	joelho	dela.
–	 Acabou.	 Luka	 expôs	 seu	 padrasto	 e	 o	 grupo	 a	 que	 ele	 era	 associado.	 Muitas	 crianças	 foram
resgatadas,	incluindo	aqueles	garotos.	Todos	os	pedófilos	foram	presos.
–	Havia	muitos?	–	sussurrou	ela,	sua	expressão	aflita.
William	sentiu	seus	pulmões	se	apertarem	mais.	Ele	queria	poder	mentir,	enganá-la,	qualquer	coisa
para	protegê-la.	Era	bem	possível	que	ela	reagisse	como	na	noite	anterior,	e	toda	a	sua	honestidade	seria
desperdiçada.
Ele	respirou	fundo,	mesmo	que	fosse	desnecessário.
–	Sim.	Por	sua	causa	as	crianças	foram	salvas.
William	observou	enquanto	a	mão	dela,	pousada	sobre	a	barriga,	lentamente	se	fechava	num	punho.
–	Foi	por	minha	causa	que	elas	se	feriram.
–	Isso	é	mentira.	V
ocê	é	a	razão	pela	qual	eu	fui	procurá-lo.	V
ocê	é	a	razão	pela	qual	eles	foram
encontrados.
–	Eu	o	deixei	escapar.	Se	tivesse	sido	preso	na	Flórida,	ele	não	teria	feito	mal	a	todas	essas	crianças.
Ele	ficou	de	pé	e	inclinou-se	sobre	ela.
–	Não	assuma	pecados	que	não	são	seus.
–	Ele	vem	fazendo	isso	há	anos.	Eu	deveria	tê-lo	detido.
–	 Me	 diga	 que	 poder	 você	 tinha	 aos	 12	 anos	 no	 hospital	 com	 uma	 perna	 quebrada.	 Seu	 padrasto
poderia	ter	atacado	sua	irmã	uma	segunda	vez,	mas	você	a	tirou	da	casa.	V
ocê	a	protegeu.
–	Ele	abusou	dela	de	qualquer	forma.	–	Raven	segurou	seu	roupão,	apertando	o	tecido.
–	Ele	foi	pego	agora.	E	não	vai	escapar.
–	Mas	eu	deveria	ter	feito	mais.	Depois,	quando	já	tinha	idade	suficiente.	Podia	ter	prestado	outras
queixas.	Ter	ido	até	a	imprensa.	–	Ela	levantou	o	olhar	para	ele.	–	V
ocê	é	rico?
William	franziu	a	testa.
–	Sim.	Por	quê?
–	Muito	rico?
Ele	relaxou	a	postura,	colocando	as	mãos	nos	bolsos	da	calça.
–	Tenho	propriedades	e	investimentos.	Mantenho	uma	quantia	razoável	nos	bancos	suíços.
–	É	muito?
Ele	parou.
–	O	suficiente	para	desestabilizar	a	Europa.
Percebendo	a	respiração	entrecortada	dela,	ele	se	apressou	em	explicar.
–	Tenho	adquirido	posses	desde	o	século	XIII.	Exceto	pelo	roubo	das	minhas	ilustrações,	ninguém
nunca	tirou	nada	de	mim.	Pelo	menos	não	por	muito	tempo.
–	Então	você	pode	ajudá-las.	–	Ela	se	endireitou	na	cadeira.	–	Pode	proteger	as	crianças,	garantir	que
frequentem	a	escola.	Dar	uma	chance	de	verem	coisas	belas.
–	Por	quê?
–	Porque	estou	pedindo.	–	Ela	o	olhava	com	olhos	suplicantes.
–	Não	pretendo	recusar	–	respondeu	ele.	–	Mas	por	que	me	pede	isso?
–	Para	que	possam	ver	uma	luz	que	brilha	na	escuridão.
William	não	sabia	o	que	pensar	dela	–	essa	adorável	jovem	que	tinha	o	coração	exposto.	Essa	moça
nobre,	feroz	e	generosa	que	tratava	o	sofrimento	humano	como	se	fosse	responsabilidade	dela.
Ele	tocou	a	face	de	Raven.
–	V
ocê	é	a	luz	que	brilha	na	minha	escuridão.	–	Então	colocou	a	mão	na	cabeça	dela,	como	um	padre
que	benze	um	acólito.	–	Foi	por	isso	que	estudou	arte,	para	que	pudesse	encontrar	a	luz?
–	Quando	se	está	cercado	de	feiura,	você	só	pode	querer	a	beleza.	Fiz	tudo	o	que	pude	para	me
certificar	 de	 que	 estaria	 cercada	 por	 coisas	 bonitas	 pelo	 resto	 da	 minha	 vida.	 Padre	 Kavanaugh	 me
ajudou.
William	congelou.	Odiava	padres	quase	tanto	quanto	odiava	Deus,	por	mais	de	um	motivo.	Ele	retirou
a	mão.
–	V
ou	instruir	Luka	a	fazer	o	necessário	para	ajudar	as	crianças.	Anonimamente,	é	claro.
–	Obrigada.
Ele	fez	uma	reverência.
Raven	mudou	subitamente	de	assunto.
–	O	que	minha	história	tem	a	ver	com	a	noite	passada?
–	Houve	um	incidente.	V
ocê	ficou	chateada.	V
ocê	não	se	acalmava	e	eu	não	sabia	o	que	fazer.	–	Ele
oscilou	com	o	peso	de	um	pé	para	o	outro.	–	Eu	usei	controle	mental.
–	V
ocê	o	quê?	–	Raven	ficou	de	pé	num	salto,	esquecendo-se	de	sua	perna	frágil.	Ela	teria	caído,	mas
William	a	amparou.	Ela	empurrou	o	braço	dele,	tentando	recuperar	o	equilíbrio.	–	Por	que	fez	isso?
–	Ouça.	–	Ele	agarrou	o	braço	dela,	puxando-a	contra	si.	–	V
ocê	estava	chorando	e	histérica.	Eu	não
sabia	o	que	fazer.
–	Histérica?	–	Ela	colocou	as	mãos	no	peito	dele	e	o	empurrou.
Os	 homens	 sempre	 desqualificam	 as	 mulheres	 como	 sendo	 histéricas.	 É	 a	 forma	 de	 dizerem	 que
nossos	sentimentos	não	importam.
–	Não	estou	desqualificando	você.	–	Segurou-a	com	mais	força.	–	Depois	que	parou	de	chorar,	você
se	 deitou	 na	 cama,	 encarando	 a	 parede.	 V
ocê	 não	 se	 movia.	 Não	 respondia.	 Ver	 seu	 sofrimento	 me
desarmou.	Não	podia	suportar	ficar	parado	sem	fazer	nada.	V
ocê,	mais	que	todos,	deveria	entender.
Ela	o	empurrou	mais	uma	vez.
–	Isso	não	justifica	ferrar	com	minha	mente.
–	Não?	V
ocê	se	arriscou	a	ser	estuprada	e	assassinada	para	impedir	o	espancamento	de	um	sem-teto.
V
ocê	 se	 pronunciou	 para	 proteger	 Aoibhe	 quando	 aqueles	 assassinos	 a	 encurralaram.	 –	 Suas	 mãos
deslizaram	dos	cotovelos	de	Raven	para	sua	cintura.	–	V
ocê	arriscou	sua	vida	ficando	entre	mim	e	os
caçadores.	Por	quê?	Porque	você	me	ama.	Não	vê?	Eu	colocaria	meu	braço	no	fogo	para	diminuir	seu
sofrimento.
Raven	acalmou-se	um	pouco.
–	Não	pode	usar	controle	mental	sempre	que	eu	estiver	chateada.
–	Não	foi	só	por	causa	da	sua	reação.
–	Então	o	que	foi?
A	boca	de	William	se	fechou	de	vez.
–	O	que	foi,	William?	–	insistiu	ela.
Ele	se	certificou	de	que	ela	estava	equilibrada	antes	de	soltá-la.	Deu-lhe	as	costas	e	caminhou	até	a
lareira,	colocando	uma	das	mãos	na	cornija.
–	Responda,	droga!
–	 Fiquei	 com	 medo.	 –	 No	 momento	 em	 que	 as	 palavras	 escaparam	 de	 seus	 lábios,	 William	 se
arrependeu.
–	Medo?	–	repetiu	Raven.	–	V
ocê	é	um	vampiro.	É	um	príncipe.	Do	que	poderia	ter	medo?
–	 Sard!	 –	 xingou	 ele,	 colocando	 a	 outra	 mão	 sobre	 a	 cornija.	 Abaixou	 a	 cabeça,	 apoiando-a
pesadamente	contra	as	mãos.
–	William?
–	Fiquei	com	medo	de	tê-la	quebrado.
R
Capítulo	8
aven	analisou	o	perfil	do	vampiro	e	a	forma	como	a	luz	tremeluzente	da	lareira	dançava	por	seus
traços.
Ele	era	bonito	e	terrível,	um	sombrio	anjo	vingador	com	algo	semelhante	a	agonia	irradiando	de	seus
olhos.
–	Eu	quebrei	Allegra.	Ela	subiu	no	topo	da	torre	do	campanário	e	saltou.	–	Os	olhos	dele	cravaram-se
nos	dela.	–	Fiquei	com	medo	de	que,	em	minha	busca	por	justiça,	eu	a	tivesse	quebrado.	Então	fiz	o	que
pude	para	aplacar	seu	sofrimento.	Fui	sincero	sobre	o	que	disse	lá	em	cima,	Cassita.	Seus	medos	são
compartilhados.
Raven	desviou	os	olhos,	remexendo	na	faixa	de	seu	roupão.
–	Como	funciona?
Um	par	de	sapatos	pretos	brilhantes	entrou	em	seu	campo	de	visão,	parando	a	poucos	centímetros	de
seus	pés	nus.	Um	único	dedo	levantou	seu	queixo.
–	É	parecido	com	hipnose,	creio.	Nem	todos	os	seres	humanos	são	suscetíveis	ao	controle	mental.
V
ocê,	por	exemplo,	tem	uma	mente	forte	o	suficiente	para	resistir.
–	Então	por	que	funcionou	na	noite	passada?
Ele	a	soltou.
–	Porque	você	estava	exaurida.
Raven	bufou.
–	Tudo	bem,	entendo	que	você	tenha	me	hipnotizado	ou	o	que	seja	porque	eu	estava	chateada.	Mas
quero	que	me	prometa	que	não	vai	fazer	isso	de	novo.
Ele	assentiu.
–	Preciso	das	palavras,	William.
Ele	fechou	os	punhos.
–	Eu…	prometo.
Ela	ficou	tensa,	preparando-se	para	a	próxima	revelação.
–	Agora	me	conte	exatamente	por	que	eu	estava	chorando.
–	E	se	aquilo	recomeçar?	–	Sua	voz	trazia	um	aviso.	–	V
ocê	teve	uma	reação	extrema.	O	que	vai
acontecer	se	piorar?
Raven	esfregou	os	olhos	com	os	punhos.
–	Eu	só	me	lembro	de	fragmentos	da	semana	que	passei	aqui	depois	que	você	me	resgatou.	E	mesmo
esses	flashes	estão	nublados.
–	V
ocê	ficou	inconsciente	a	maior	parte	do	tempo.
–	 Decidi	 que	 não	 queria	 reviver	 aqueles	 momentos.	 Mas	 preciso	 saber	 o	 que	 aconteceu	 na	 noite
passada.
–	Muito	bem.	–	William	indicou	com	a	cabeça	uma	cadeira	para	que	ela	se	sentasse.
–	Apenas	desembuche.
Ele	pegou	os	dedos	quentes	dela	com	seus	dedos	frios,	aconchegando	a	mão	dela	na	sua.
–	Mandei	Luka	atrás	de	seu	padrasto	porque	pretendia	matá-lo.	Era	o	mínimo	de	justiça	que	você
merecia	e	eu	queria	dar	isso	a	você.	Porém,	quando	o	momento	chegou,	nós	estávamos	separados.	A
execução	dele	não	era	uma	decisão	que	achei	que	me	coubesse.
Raven	arregalou	os	olhos.
–	William,	o	que	você	fez?
–	Eu	o	derrubei	das	escadas.
–	O	quê?
–	Torci	o	braço	dele,	da	forma	como	você	descreveu	que	ele	torceu	o	seu.	A	perna	dele	agora	está
quebrada	 e	 ele	 tem	 outros	 ferimentos	 menores.	 –	 Não	 havia	 remorso	 no	 rosto	 de	 William.	 –	 Decidi
reservar	a	punição	para	que	você	a	executasse.
O	rosto	de	Raven	ficou	pálido	e	ela	se	afastou.
–	Onde	ele	está?
William	apontou	para	o	piso.
–	Lá	embaixo.
Levou	certo	tempo	para	Raven	processar	o	que	William	estava	dizendo.
–	Ele	está	aqui?	–	murmurou	ela.	–	Nesta	casa?
–	Sim.
–	Preciso	sair	daqui.	–	Ela	mancou	em	direção	à	porta	que	levava	ao	corredor.
–	Está	trancado	numa	cela,	embaixo	da	villa.	–	William	falava	rapidamente.	–	Ele	nunca	mais	vai
machucá-la.	Isso	eu	juro.
–	Por	que	você	o	trouxe	aqui?
–	Eu	prometi	justiça.
–	Justiça.	–	Ela	riu	amargamente.	–	É	tarde	demais.
–	Nunca	é	tarde	demais	para	justiça.	Depois	que	me	tornei	vampiro,	anos	depois	de	Alicia	ter	sido
morta,	localizei	os	assassinos	e	acabei	com	eles.
O	lábio	inferior	de	Raven	tremeu.
–	Onde	você	estava	quando	eu	tinha	12	anos?
William	a	alcançou	e	a	envolveu	com	os	braços.
–	V
ocê	é	minha	agora.	Ninguém	mais	pode	tocá-la.	Ninguém	vai	feri-la.	E	qualquer	um	que	já	fez	isso
vai	pagar.
Ela	se	agarrou	a	ele,	escondendo	o	rosto	em	sua	camisa.	Ele	a	abraçou	com	mais	força.
–	Sua	reação	à	presença	dele	agora	é	apenas	um	décimo	do	que	demonstrou	ontem.
–	Eu	odeio	aquele	homem,	William.	Claro	que	vou	ter	uma	reação	extrema.
–	Cometi	um	erro	levando-a	até	ele.	Encará-lo	foi	um	choque	grande	demais	para	você.
Raven	levantou	o	rosto.
–	Eu	o	vi?
–	É	uma	misericórdia	que	você	não	se	lembre.	Acho	que	foi	o	fato	de	vê-lo	que	lhe	causou	tanta
agonia.
Raven	começou	a	tremer.	Ele	se	afastou	e	começou	a	acariciar	os	braços	dela.
–	Cassita,	olhe	para	mim.	–	Ele	parou	até	ela	fazer	contato	visual	novamente.	–	Está	segura	agora.
Está	aqui	comigo	e	não	precisa	vê-lo	novamente.
–	V
ocê	vai	matá-lo?
–	Ou	poderíamos	entregá-lo	para	Aoibhe.
–	Por	que	Aoibhe?
–	Ela	caça	e	mata	estupradores.	Duvido	que	seja	preciso	muito	para	persuadi-la	a	se	livrar	de	seu
padrasto.	Ela	iria	gostar	de	torturá-lo.
Raven	pareceu	horrorizada.
–	Cassita,	preferia	eu	mesmo	matá-lo.	Mas	foi	você	que	ele	feriu.	V
ocê	deve	decidir.
–	Eu	nunca	quis	matá-lo.	Só	queria	que	Cara	estivesse	em	segurança.
William	se	inclinou	para	a	frente,	baixando	a	voz	para	um	sussurro	urgente.
–	Diga	a	palavra	e	eu	irei	castigá-lo.	Deixe	o	destino	dele	comigo.	V
ocê	não	precisa	saber.
–	Mas	eu	saberia.
Os	olhos	cinzentos	dele	reluziram.
–	Não	verá	remorso	no	meu	rosto.	Não	sinto	nenhum.
Raven	ficou	em	silêncio.
Um	rugido	subiu	do	peito	de	William.
–	Seu	padrasto	merece	ser	morto.	Ele	bateu	em	você.	Tentou	matá-la	porque	você	estava	protegendo
sua	irmã.
–	Eu	fracassei,	William.	–	Ela	se	soltou	dos	braços	dele,	seu	olhar	descendo	para	as	tábuas	do	chão.
Ele	trincou	os	dentes.
–	V
ocê	não	fracassou.	V
ocê	a	protegeu.	Não	apenas	uma,	mas	várias	vezes.	E,	em	troca,	ele	jogou
você	escada	abaixo.	Diga	uma	palavra	e	ele	vai	dar	seu	último	suspiro	com	minha	mão	em	seu	pescoço.
–	O	que	ele	fez	com	as	outras	foi	pior.
–	Então	faça	isso	por	elas.	Faça	por	sua	irmã.	–	William	cerrou	os	punhos,	seu	corpo	tremendo.
De	repente,	Raven	passou	por	ele,	mancando	em	direção	à	porta.
–	Não	posso	tomar	essa	decisão.
–	Se	você	não	pode,	então	quem?
–	Cara.
“E
Capítulo	9
s	una	condición	natural	de	las	mujeres	desdeñar	a	quien	las	quiere	y	amar	a	quien	las	aborrece.”
Uma	voz	baixa	e	aveludada	emergiu	da	escuridão,	atiçando	os	ouvidos	de	Aoibhe	enquanto	ela
pisava	levemente	sobre	cinzas	e	fragmentos	de	osso.	Era	uma	imagem	impressionante,	uma	vampira	alta	e
linda	subindo	o	cemitério	secreto	do	lado	de	fora	da	cidade	de	Florença.	O	ar	estava	tomado	pelo	cheiro
da	morte	e	por	outro	aroma	mais	prazeroso.
–	Apareça	ou	eu	mato	você,	e	desta	vez	não	lhe	darei	o	poder	da	ressurreição.	–	Aoibhe	falava	numa
voz	baixa,	a	cadência	irlandesa	dando	às	palavras	uma	qualidade	musical.
Uma	figura	encapuzada	saiu	de	trás	de	uma	árvore	e	fez	uma	reverência	elegante.
–	Boa	noite,	Lady	Aoibhe	–	cumprimentou	ele	em	inglês.	–	Está	bonita,	como	sempre.
–	É	melhor	que	isso	seja	importante.	–	Ela	examinou	a	área,	seus	sentidos	atentos.	–	É	perigoso	nos
encontrarmos.
A	figura	riu.
–	Por	que	se	preocupa?	Seu	belo	rosto	e	suas	belas	mentiras	sempre	a	salvarão.	Se	eu	for	visto,
minha	vida	está	acabada.
Ela	levantou	o	rosto	majestosamente.
–	Diga	o	que	você	quer	e	seja	rápido.	Se	convocarem	uma	reunião	do	Consilium,	minha	ausência	será
notada.
–	Se	o	sistema	de	segurança	continuar	como	era,	eles	já	sabem	que	você	deixou	a	cidade.	–	A	figura
jogou	o	capuz	para	trás,	expondo	uma	cabeleira	preta	volumosa.
–	V
ocê	parece	incrivelmente	bem	para	um	vampiro	morto.	–	Aoibhe	sorriu.
Ibarra	se	moveu	na	direção	dela,	mas	Aoibhe	o	evitou,	recuando	vários	passos.
–	Não	me	toque.	Não	posso	voltar	à	cidade	com	seu	cheiro.	Fiquei	surpresa	de	ler	sua	carta.	Achei
que	você	havia	retornado	à	sua	terra.
Ele	deu	de	ombros.
–	É	mais	conveniente	planejar	minha	vingança	aqui.	Quais	são	as	notícias	do	principado?
–	Caçadores	conseguiram	se	infiltrar	na	cidade.	Um	grupo	me	atacou,	mas	o	Príncipe	veio	ao	meu
resgate.
Ibarra	a	encarou	surpreso.	De	repente,	seus	olhos	escuros	se	estreitaram.
–	Por	que	ele	ajudaria	você?	Ele	tem	prazer	em	matar	membros	do	Consilium.
–	Somos	aliados,	ele	e	eu	–	vangloriou-se	Aoibhe.	–	Ele	sabe	que	há	traidores	entre	nós.	E	confia	em
mim.
O	basco	lançou	para	ela	um	olhar	calculista	e	frio	antes	de	balançar	lentamente	a	cabeça.
–	Por	que	você	não	os	encontrou	ainda?
–	Eles	têm	se	mantido	bem	escondidos	enquanto	criam	suspeitas	sobre	os	outros.	Venderam	mapas
dos	sistemas	de	segurança	para	os	venezianos,	mas	implicaram	o	grupo	de	Christopher.	Ajudaram	a	fera	a
entrar	na	cidade,	culpando	você	e	causando	sua	execução.
–	Precisamos	encontrá-los.	Não	vou	descansar	até	fazê-los	pagar	–	grunhiu	Ibarra.
–	Quero	minha	vingança	também.	Após	sua	morte,	eles	colaboraram	com	os	caçadores,	dizendo	a	eles
onde	encontrar	a	mim	e	ao	Príncipe.	Eu	escapei	com	vida	por	pouco.
Os	olhos	castanho-escuros	de	Ibarra	se	ergueram.
–	V
ocês	dois	estavam	juntos?
Aoibhe	jogou	seu	longo	cabelo	vermelho	para	o	lado.
–	Sim,	e	daí?
–	Sua	lealdade	está	dividida.
Ela	soltou	um	palavrão	em	irlandês.
–	Seu	ciúme	cansa.	V
ocê	declarou	lealdade	a	mim,	Ibarra.	Eu	salvei	sua	vida	e	guardei	seus	segredos.
Irrite-me	e	informarei	ao	Príncipe	que	está	vivo.
Ibarra	deu	um	pulo	na	direção	dela,	que	saltou	para	o	outro	lado,	mostrando	os	dentes.
–	Sou	a	melhor	amiga	que	você	tem,	basco.	Não	me	provoque.
Ele	hesitou.	Então,	com	muito	esforço,	pareceu	se	acalmar.
–	Fizemos	um	pacto	de	derrubar	o	Príncipe.
–	Ainda	temos	um	pacto.	Ajude-me	a	destruí-lo	e	juntos	governaremos	Florença.	Oponha-se	a	mim	e
verei	sua	cabeça	exposta	numa	lança	no	centro	da	grande	praça.	De	novo.
Os	dois	seres	sobrenaturais	trocaram	um	longo	olhar.	Então,	surpreendentemente,	a	boca	de	Ibarra
formou	um	sorriso.
–	V
ocê	é	mais	perigosa	do	que	ele.
–	Dificilmente.	–	A	postura	dela	relaxou,	mas	Aoibhe	ainda	manteve	distância.	–	Agora,	continuando
meu	relatório.	As	fronteiras	parecem	seguras	e	os	caçadores	foram	mortos.
–	Existem	outros.	Encontrei	um	grupo	a	menos	de	80	quilômetros	daqui.
Aoibhe	ficou	assustada.
–	Estavam	vindo	para	cá?
–	Mantive	distância,	mas	eu	poderia	ser	persuadido	a	descobrir	mais.	–	Ele	estudou	os	traços	dela.	–
Quem	você	suspeita	que	seja	o	traidor?
–	Max	está	envolvido,	tenho	certeza.
–	Max	é	preguiçoso	e	burro,	para	a	minha	sorte.	Ele	não	se	deu	o	trabalho	de	queimar	meu	corpo.
Aoibhe	sorriu.
–	Incrível	como	inimigos	logo	se	tornam	aliados.	Eu	concordo,	Max	não	é	inteligente	o	suficiente
para	planejar	um	golpe.	Alguém	o	está	guiando.
–	Niccolò.
–	Ele	é	a	escolha	óbvia	–	refletiu	ela.	–	Mas	por	que	não	tomou	o	controle	quando	estávamos	em
guerra	com	Veneza?	Ele	assumiu	o	papel	de	príncipe	para	os	venezianos	acharem	que	haviam	sido	bem-
sucedidos	na	tentativa	de	assassinato.
–	Ele	sabe	que	não	é	forte	o	suficiente	para	derrubar	o	Príncipe,	mesmo	com	a	ajuda	de	Max.
–	É	verdade.	–	Ela	estremeceu.	–	Seria	necessário	um	exército	para	derrubá-lo.	Quanto	mais	eu	vejo
o	poder	dele,	mais	percebo	que	precisamos	da	cidade	toda	do	nosso	lado.
Ibarra	se	aproximou.
–	O	que	não	está	me	contando?
Ela	sorriu	astutamente.
–	Nada	que	você	já	não	saiba.	Ele	é	antigo,	talvez	o	mais	poderoso	depois	do	Romano.	E	parece	ter
um	estranho	tipo	de	mágica	que	protege	a	ele	e	à	sua	preciosa	villa.
–	Qual	é	a	fonte	dessa	mágica?
–	Se	eu	soubesse,	não	precisaria	da	sua	ajuda	para	matá-lo.
Ibarra	segurou	o	cabo	da	espada	pendurada	em	seu	cinto.
–	Matar	o	Príncipe	será	difícil.	Poderíamos	começar	com	um	alvo	mais	fácil.
–	Quem?
–	Niccolò.
–	Se	ele	é	o	traidor,	precisamos	dele	vivo,	fazendo	seu	trabalho	–	disse	Aoibhe.	–	Esperamos	que	ele
derrube	o	Príncipe,	então	o	matamos	e	tomamos	o	principado.
Os	olhos	de	Ibarra	brilharam.
–	V
ocê	não	estará	viva	para	fazer	isso.
Ela	franziu	a	testa.
–	Por	que	não?
–	Não	leu	a	obra	dele?	Ele	fala	em	eliminar	as	ameaças	ao	principado	antes	de	transferir	o	poder.	Se
Niccolò	é	o	traidor,	ele	vai	matar	todos	no	Consilium	exceto	seu	aliado	mais	próximo	antes	de	dar	cabo
do	Príncipe.
Aoibhe	estalou	a	língua.
–	Não	tinha	pensado	nisso.
–	Então	você	precisa	da	minha	ajuda	afinal.	–	Ele	piscou	para	irritá-la.
–	Está	perdendo	tempo	–	reclamou	ela.	–	O	que	devemos	fazer?
–	Concordo	que	seria	mais	fácil	esperar	e	matar	o	sucessor	do	Príncipe,	já	que	certamente	não	será
tão	poderoso	quanto	ele.	Mas	o	golpe	pode	fracassar.	Se	estivermos	do	lado	errado,	o	Príncipe	acabará
conosco.	E	há	a	dificuldade	extra	de	evitar	sermos	assassinados	pelo	traidor,	caso	ele	decida	eliminar
seus	rivais.
–	Eu	me	esforçarei	ao	máximo	para	ficar	viva	–	respondeu	Aoibhe	secamente.
–	Precisamos	descobrir	o	traidor	logo.	E	precisamos	tomar	cuidado,	especialmente	perto	dos	outros
membros	do	Consilium.	Não	confie	em	ninguém.
Aoibhe	levantou	uma	sobrancelha.	Levou	um	momento	para	examinar	as	cercanias,	a	cidade	que	se
estendia	abaixo	deles,	reluzindo	como	uma	joia,	e	os	bosques	escuros	em	volta.
–	É	perigoso	demais	para	você	na	Toscana.	V
olte	para	a	companhia	dos	bascos	e	eu	aviso	quando	for
seguro	para	você	voltar.
–	Como	vamos	tomar	o	poder	se	eu	estiver	a	quilômetros	daqui?
–	Observando	e	esperando.	Quem	quer	que	esteja	por	trás	dos	ataques	deve	estar	impaciente.	Vamos
esperar	que	eles	se	revelem	e	os	ajudamos	no	golpe.
–	É	uma	proposta	arriscada.	Eles	podem	decidir	acabar	com	você	primeiro.
Ela	alisou	o	vestido.
–	Sei	como	me	proteger.
–	E	quanto	a	Lorenzo?
Aoibhe	acenou	com	a	mão,	impaciente.
–	Já	me	cansei	dele	há	um	século.	Estou	ansiosa	por	matá-lo,	mas	só	depois	que	o	Príncipe	estiver
morto.
–	E	quanto	ao	Romano?	Ou	à	Cúria?
–	Nenhum	dos	dois	vai	interferir	a	não	ser	que	o	conflito	se	torne	visível.	Desde	que	os	humanos
continuem	ignorantes,	estamos	seguros.	Deixe	os	traidores	arriscarem	se	expor	e	destituírem	o	Príncipe,
enquanto	aguardamos	uma	oportunidade.
Uma	risada	leve	veio	dos	lábios	de	Ibarra.
–	V
ocê	é	bem	mais	esperta	e	perigosa	do	que	esse	rostinho	lindo	sugere.
–	Homens	me	subestimam	há	séculos.	–	Sua	voz	ficou	áspera.	–	Não	cometa	o	mesmo	erro.
–	Ah,	não	vou,	bela	Aoibhe.	–	Ibarra	olhou-a	de	cima	a	baixo.	–	Não	vou.
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