SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 4
Baixar para ler offline
28/4/2014 Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor! | Negro Belchior
http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/04/28/contra-o-racismo-nada-de-bananas-por-favor/ 1/4
Política Economia Blogs Tablets/Celular Anuncie Assine a Revista
Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por
favor!
negrobelchior / 39 mins atrás
A esquerda, foto de Neymar em apoio a Daniel Alves; A direita foto de Ota Benga, Zoológico do Bronx, Nova York, em 1906.
Por Douglas Belchior
A foto da esquerda todo mundo viu. É o craque Neymar com seu filho no colo e duas bananas, em apoio a Daniel Alves e em
repulsa ao racismo no mundo do futebol.
Já a foto a esquerda, é do pigmeu Ota Benga, que ficou em exibição junto a macacos no zoológico do Bronx, Nova York, em
1906. Ota foi levado do Congo para Nova York e sua exibição em um zoológico americano serviu como um exemplo do quê os
cientistas da época proclamaram ser uma raça evolucionária inferior ao ser humano. A História de Ota serviu para inflamar
crenças sobre a supremacia racial ariana defendida por Hitler. Sua história é contada no documentário “The Human Zoo”.
A comparação entre negros e macacos é racista em sua essência. No entanto muitos não compreendem a gravidade da
utilização da figura do macaco como uma ofensa, um insulto aos negros.
Encontrei essa forte história num artigo sensacional que li dia desses, e que também trazia reflexões de James Bradley,
professor de História da Medicina na Universidade de Melbourne, na Austrália. Ele escreveu um texto com o título “O macaco
como insulto: uma curta história de uma ideia racista”. Termina o artigo dizendo que “O sistema educacional não faz o
suficiente para nos educar sobre a ciência ou a história do ser humano, porque se o fizesse, nós viveríamos o
desaparecimento do uso do macaco como insulto.”
Pesquisa ProcurarInício Sobre o blog Galeria Agenda Contato
97 people like this. Be the first of your friends.Like Share
28/4/2014 Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor! | Negro Belchior
http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/04/28/contra-o-racismo-nada-de-bananas-por-favor/ 2/4
Não, querido Neymar. Não somos todos macacos. Ao menos não para efeito de fazer uso dessa expressão ou ideia como
ferramenta de combate ao racismo.
Mas é bom separar: Uma coisa é a reação de Daniel Alves ao comer a banana jogada ao campo, num evidente e corriqueiro
ato racista por parte da torcida; outra coisa é a campanha de apoio à Daniel e de denúncia ao racismo, promovida por Neymar.
No Brasil, a maioria dos jogadores de futebol advém de camadas mais pobres. Embora isso esteja mudando – porque o futebol
mudou, ainda é assim. Dentre estes, a maioria dos que atingem grande sucesso são negros. Por buscarem o sonho de vencer
na carreira desde cedo, pouco estudam. Os “fora de série”, são descobertos cada vez mais cedo e depois de alçados à
condição de estrelas, vivem um mundo a parte, numa bolha. Poucos foram ou são aqueles que conseguem combinar
genialidade esportiva e alguma coisa na cabeça. E quando o assunto é racismo, a tendência é piorar.
E Daniel comeu a banana! Ironia? Forma de protesto? Inteligência? Ora, ele mesmo respondeu na entrevista seguida ao jogo:
“Tem que ser assim! Não vamos mudar. Há 11 anos convivo com a mesma coisa na Espanha. Temos que rir desses
retardados.”
É uma postura. Não há o que interpretar. Ele elaborou uma reação objetiva ao racismo: Vamos ignorar e rir!
Há um provérbio africano que diz: “Cada um vê o sol do meio dia a partir da janela de sua casa”. Do lugar de onde Daniel fala,
do estrelato esportivo, dos ganhos milionários, da vida feita na Europa, da titularidade na seleção brasileira de futebol, para ele,
isso é o melhor – e mais confortável, a se fazer: Ignorar e rir. Vamos fazer piada! Vamos olhar para esses idiotas racistas e
dizer: sou rico, seu babaca! Sou famoso! Tenho 5 Ferraris, idiota! Pode jogar bananas a vontade!
O racismo os incomoda. E os atinge. Mas de que maneira? Afinal, são ricos! E há quem diga que “enriqueceu, tá resolvido” ou
que “problema é de classe”! O elemento econômico suaviza o efeito do racismo, mas não o anula. Nesse sentido, os racistas e
as bananas prestam um serviço: Lembram a esses meninos que eles são negros e que o dinheiro e a fama não os tornam
brancos!
Daniel Alves, Neymar, Dante, Balotelli e outros tantos jogadores de alto nível e salários pouca chance terão de ser confundidos
com um assaltante e de ficar presos alguns dias como no caso do ator Vinícius; pouco provavelmente serão desaparecidos,
depois de torturados e mortos, como foi Amarildo; nada indica que possam ter seus corpos arrastados por um carro da polícia
como foi Cláudia ou ainda, não terão que correr da polícia e acabar sem vida com seus corpos jogados em uma creche
qualquer. Apesar das bananas, dificilmente serão tratados como animais, ao buscarem vida digna como refugiados em algum
país cordial, de franca democracia racial, assim como as centenas de Haitianos o fazem no Acre e em São Paulo.
O racismo não os atinge dessa maneira. Mas os atinge. E sua reação é proporcional. Cabe a nós dizer que sua reação não
nos serve! Não será possível para nós, negras e negros brasileiros e de todo o mundo, que não tivemos o talento (ou sorte?)
para o estrelato, comer a banana de dinamite, ou chupar as balas dos fuzis, ou descascar a bainha das facas. Cabe a nós
parafrasear Daniel, na invertida: “Não tem que ser assim! Nós precisamos mudar! Convivemos há 500 anos com a mesma
coisa no Brasil. Temos que acabar com esses racistas retardados, especialmente os de farda e gravata”.
Quanto a Neymar, ele é bom de bola. E como quase todo gênio da bola, superacumula inteligência na ponta dos pés. Pousa
com seu filho louro, sem saber que por ser louro, mesmo que se pendure num cacho de bananas, jamais será chamado de
macaco. A ofensa, nesse caso, não fará sentido. Mas pensemos: Sua maneira de rechaçar o racismo foi uma jogada de
marketing ou apenas boa vontade? Seja o que for, não nos serve.
Sou negro, nascido em um país onde a violência e a pobreza são pressupostos para a vida da maior parte da população, que é
negra. Querido Neymar – mas não: Luciano Hulk, Angélica, Reinaldo Azevedo, Aécio Neves, Dilma Rousseff, artistas e
imprensa que de maneira geral exaltou o “devorar da banana” e agora compartilham fotos empunhando a saborosa fruta, neste
país, assim como em todo o mundo, a comparação de uma pessoa negra a um macaco é algo culturalmente ofensivo.
Eu como negro, não admito. Banana não é arma e tampouco serve como símbolo de luta contra o racismo. Ao contrário, o
reafirma na medida em que relaciona o alvo a um macaco e principalmente na medida em que simplifica, desqualifica e pior,
humoriza o debate sobre racismo no Brasil e no mundo.
O racismo é algo muito sério. Vivemos no Brasil uma escalada assombrosa da violência racista. Esse tipo de postura e reação
despolitizadas e alienantes de esportistas, artistas, formadores de opinião e governantes tem um objetivo certo: escamotear
seu real significado do racismo que gera desde bananas em campo de futebol até o genocídio negro que continua em todo o
mundo.
Eu adoro banana. Aqui em casa nunca falta. E acho os macacos bichos incríveis, inteligentes e fortes. Adoro o filme Planeta
dos Macacos e sempre que assisto, especialmente o primeiro, imagino o quanto os seres humanos merecem castigo
parecido. Viemos deles e a história da evolução da espécie é linda. Mas se é para associar a origens, porque não dizer que
#SomosTodosNegros ? Porque não dizer #SomosTodosDeÁfrica ? Porque não lembrar que é de África que viemos, todos e de
todas as cores? E que por isso o racismo, em todas as suas formas, é uma estupidez incompatível com a própria evolução
humana! E se somos, por que nos tratamos assim?
Mas não. E seguem vocês, “olhando pra cá, curiosos, é lógico. Não, não é não, não é o zoológico”.
28/4/2014 Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor! | Negro Belchior
http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/04/28/contra-o-racismo-nada-de-bananas-por-favor/ 3/4
96
Curtir Tweetar
7 0
Torturar o torturador; Assassinar o assassino. O que você acha?
Os haitianos são o problema? Ou o problema é a falta de uma política migratória que respeite os imigrantes?
Homenagem ao aniversário de Hitler em Itajaí – SC
← Torturar o torturador; Assassinar o
assassino. O que você acha?
Portanto, nada de bananas, nada de macacos, por favor!
28 de Abril de 2014 in Destaque.
Related posts
One thought on “Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor!”
Lucila 28 de Abril de 2014 at 20:49
Acho que, pela primeira vez, discordo de você. Não calar, não ignorar, não esperar mudar, mesmo, mas
enfrentar. A disputa nunca irá se extinguir e não se apresentará, sempre, na forma que aprendemos a
combate-la. Quando a minha ideologia não explica um fenômeno é sinal que, como tudo, minha ideologia não
explica tudo. É sinal de que é hora de alteridade. É sinal que não é a ingenuidade, o pensamento monolítico e
o discurso pronto que farão efeito naquela questão. http://pacienciadelenine.wordpress.com/2014/04/28/a-luz-
da-evolucao/?preview=true&preview_id=169&preview_nonce=ddda7bbaa1&post_format=standard
Responder
Deixar uma resposta
O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *
Nome *
Email *
Website
28/4/2014 Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor! | Negro Belchior
http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/04/28/contra-o-racismo-nada-de-bananas-por-favor/ 4/4
Código CAPTCHA
*
Comentário
Pode usar estas etiquetas HTML e atributos: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b>
<blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>
Publicar Comentário
Abril 2014
S T Q Q S S D
« Mar
1 2 3 4 5 6
7 8 9 10 11 12 13
14 15 16 17 18 19 20
21 22 23 24 25 26 27
28 29 30

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Mais procurados (12)

Injusticas Na Lingua Portuguesa
Injusticas Na Lingua PortuguesaInjusticas Na Lingua Portuguesa
Injusticas Na Lingua Portuguesa
 
Livros sobre consciência negra
Livros sobre consciência negraLivros sobre consciência negra
Livros sobre consciência negra
 
Brasil - O Crioulo
Brasil - O CriouloBrasil - O Crioulo
Brasil - O Crioulo
 
Dia Da Consciência Negra
Dia Da Consciência NegraDia Da Consciência Negra
Dia Da Consciência Negra
 
Consciencia Negra1
Consciencia Negra1Consciencia Negra1
Consciencia Negra1
 
Consciência negra
Consciência negraConsciência negra
Consciência negra
 
*
**
*
 
Dia da consciência negra
Dia da consciência negraDia da consciência negra
Dia da consciência negra
 
Consciência negra por simone helen drumond
Consciência negra por simone helen drumondConsciência negra por simone helen drumond
Consciência negra por simone helen drumond
 
CONSCIÊNCIA NEGRA
CONSCIÊNCIA NEGRACONSCIÊNCIA NEGRA
CONSCIÊNCIA NEGRA
 
Diz Jornal - Edição 188
Diz Jornal - Edição 188Diz Jornal - Edição 188
Diz Jornal - Edição 188
 
Até quando
Até quandoAté quando
Até quando
 

Destaque

Destaque (20)

Ley del procedimiento administrativo general
Ley del procedimiento administrativo generalLey del procedimiento administrativo general
Ley del procedimiento administrativo general
 
Tarea web 2.0
Tarea web 2.0Tarea web 2.0
Tarea web 2.0
 
13 01-11
13 01-1113 01-11
13 01-11
 
Red Ciudadana Nuestra Córdoba: A 30 años de democracia, ¿cómo nos vemos los c...
Red Ciudadana Nuestra Córdoba: A 30 años de democracia, ¿cómo nos vemos los c...Red Ciudadana Nuestra Córdoba: A 30 años de democracia, ¿cómo nos vemos los c...
Red Ciudadana Nuestra Córdoba: A 30 años de democracia, ¿cómo nos vemos los c...
 
Juicio Concursal Necesario 1
Juicio Concursal Necesario 1Juicio Concursal Necesario 1
Juicio Concursal Necesario 1
 
Apostila constitucional
Apostila constitucionalApostila constitucional
Apostila constitucional
 
Lei complementar 082_de_09-05-2012
Lei complementar 082_de_09-05-2012Lei complementar 082_de_09-05-2012
Lei complementar 082_de_09-05-2012
 
Coleção pensar&agir filosofia - herman régis [2ºano]
Coleção pensar&agir   filosofia - herman régis [2ºano]Coleção pensar&agir   filosofia - herman régis [2ºano]
Coleção pensar&agir filosofia - herman régis [2ºano]
 
Noções de direito penal knjnjo
Noções de direito penal knjnjoNoções de direito penal knjnjo
Noções de direito penal knjnjo
 
Rju atual. 06-05-2010
Rju atual. 06-05-2010Rju atual. 06-05-2010
Rju atual. 06-05-2010
 
2319 13700-2-pb (1)
2319 13700-2-pb (1)2319 13700-2-pb (1)
2319 13700-2-pb (1)
 
Apostila constitucionalnmnm
Apostila constitucionalnmnmApostila constitucionalnmnm
Apostila constitucionalnmnm
 
Sociologia rural 4
Sociologia rural 4Sociologia rural 4
Sociologia rural 4
 
Sabiduria Japonesa
Sabiduria JaponesaSabiduria Japonesa
Sabiduria Japonesa
 
Pao Ho6 Turismo Sexual Femenino
Pao Ho6 Turismo Sexual FemeninoPao Ho6 Turismo Sexual Femenino
Pao Ho6 Turismo Sexual Femenino
 
presentacion
presentacionpresentacion
presentacion
 
13 11-2014
13 11-201413 11-2014
13 11-2014
 
Noções de direito penal
Noções de direito penalNoções de direito penal
Noções de direito penal
 
735 ementa
735 ementa735 ementa
735 ementa
 
texto Analise critica do curriculo
texto Analise critica do curriculotexto Analise critica do curriculo
texto Analise critica do curriculo
 

Semelhante a Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor! negro belchior

O Preço da Cor - autora SIMOES, Janice M.M. Bacharelanda.pdf
O Preço da Cor - autora SIMOES, Janice M.M. Bacharelanda.pdfO Preço da Cor - autora SIMOES, Janice M.M. Bacharelanda.pdf
O Preço da Cor - autora SIMOES, Janice M.M. Bacharelanda.pdfJaniceSimoes2
 
Onde Voce Guarda O Seu Racismo Mauricio Santoro
Onde Voce Guarda O Seu Racismo   Mauricio SantoroOnde Voce Guarda O Seu Racismo   Mauricio Santoro
Onde Voce Guarda O Seu Racismo Mauricio Santoroguesta7e113
 
80272028 gentili-e-a-inteligencia-do-seculo-xxi
80272028 gentili-e-a-inteligencia-do-seculo-xxi80272028 gentili-e-a-inteligencia-do-seculo-xxi
80272028 gentili-e-a-inteligencia-do-seculo-xxityromello
 
Revista Outro Lado da História - edição 2
Revista Outro Lado da História - edição 2Revista Outro Lado da História - edição 2
Revista Outro Lado da História - edição 2Douglas Nunes
 
Acre e-book nº 024 (março, abril e maio 2022))
Acre e-book nº 024 (março, abril e maio 2022))Acre e-book nº 024 (março, abril e maio 2022))
Acre e-book nº 024 (março, abril e maio 2022))AMEOPOEMA Editora
 
Revista NEGRO UNIVERSO n° 1, maio 2010
Revista NEGRO UNIVERSO n° 1, maio 2010Revista NEGRO UNIVERSO n° 1, maio 2010
Revista NEGRO UNIVERSO n° 1, maio 2010oficinativa
 
Simulacro Da Brancura Marcio Andre Dos Santos
Simulacro Da Brancura   Marcio Andre Dos SantosSimulacro Da Brancura   Marcio Andre Dos Santos
Simulacro Da Brancura Marcio Andre Dos Santosguesta7e113
 
Simulacro Da Brancura Marcio Andre Dos Santos
Simulacro Da Brancura   Marcio Andre Dos SantosSimulacro Da Brancura   Marcio Andre Dos Santos
Simulacro Da Brancura Marcio Andre Dos Santosguesta7e113
 
Simulacro Da Brancura Marcio Andre Dos Santos
Simulacro Da Brancura   Marcio Andre Dos SantosSimulacro Da Brancura   Marcio Andre Dos Santos
Simulacro Da Brancura Marcio Andre Dos Santosguesta7e113
 

Semelhante a Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor! negro belchior (20)

O Preço da Cor - autora SIMOES, Janice M.M. Bacharelanda.pdf
O Preço da Cor - autora SIMOES, Janice M.M. Bacharelanda.pdfO Preço da Cor - autora SIMOES, Janice M.M. Bacharelanda.pdf
O Preço da Cor - autora SIMOES, Janice M.M. Bacharelanda.pdf
 
Racismo é burrice
Racismo é burriceRacismo é burrice
Racismo é burrice
 
Estereótipos sobre o racista
Estereótipos sobre o racistaEstereótipos sobre o racista
Estereótipos sobre o racista
 
Onde Voce Guarda O Seu Racismo Mauricio Santoro
Onde Voce Guarda O Seu Racismo   Mauricio SantoroOnde Voce Guarda O Seu Racismo   Mauricio Santoro
Onde Voce Guarda O Seu Racismo Mauricio Santoro
 
Projeto - Racismo e Preconceito
Projeto - Racismo e PreconceitoProjeto - Racismo e Preconceito
Projeto - Racismo e Preconceito
 
80272028 gentili-e-a-inteligencia-do-seculo-xxi
80272028 gentili-e-a-inteligencia-do-seculo-xxi80272028 gentili-e-a-inteligencia-do-seculo-xxi
80272028 gentili-e-a-inteligencia-do-seculo-xxi
 
Revista Outro Lado da História - edição 2
Revista Outro Lado da História - edição 2Revista Outro Lado da História - edição 2
Revista Outro Lado da História - edição 2
 
Educação Antirracista-1.pptx
Educação Antirracista-1.pptxEducação Antirracista-1.pptx
Educação Antirracista-1.pptx
 
Racismo "virtual"?
Racismo "virtual"?Racismo "virtual"?
Racismo "virtual"?
 
Racismo e discriminação racial
Racismo e discriminação racialRacismo e discriminação racial
Racismo e discriminação racial
 
Prova de ensino religioso 8 ano 4b pet 4
Prova de ensino religioso 8 ano 4b pet 4Prova de ensino religioso 8 ano 4b pet 4
Prova de ensino religioso 8 ano 4b pet 4
 
Mario moreno
Mario morenoMario moreno
Mario moreno
 
Mario moreno
Mario morenoMario moreno
Mario moreno
 
341 an 20_julho_2011.ok
341 an 20_julho_2011.ok341 an 20_julho_2011.ok
341 an 20_julho_2011.ok
 
341 an 20_julho_2011.ok
341 an 20_julho_2011.ok341 an 20_julho_2011.ok
341 an 20_julho_2011.ok
 
Acre e-book nº 024 (março, abril e maio 2022))
Acre e-book nº 024 (março, abril e maio 2022))Acre e-book nº 024 (março, abril e maio 2022))
Acre e-book nº 024 (março, abril e maio 2022))
 
Revista NEGRO UNIVERSO n° 1, maio 2010
Revista NEGRO UNIVERSO n° 1, maio 2010Revista NEGRO UNIVERSO n° 1, maio 2010
Revista NEGRO UNIVERSO n° 1, maio 2010
 
Simulacro Da Brancura Marcio Andre Dos Santos
Simulacro Da Brancura   Marcio Andre Dos SantosSimulacro Da Brancura   Marcio Andre Dos Santos
Simulacro Da Brancura Marcio Andre Dos Santos
 
Simulacro Da Brancura Marcio Andre Dos Santos
Simulacro Da Brancura   Marcio Andre Dos SantosSimulacro Da Brancura   Marcio Andre Dos Santos
Simulacro Da Brancura Marcio Andre Dos Santos
 
Simulacro Da Brancura Marcio Andre Dos Santos
Simulacro Da Brancura   Marcio Andre Dos SantosSimulacro Da Brancura   Marcio Andre Dos Santos
Simulacro Da Brancura Marcio Andre Dos Santos
 

Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor! negro belchior

  • 1. 28/4/2014 Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor! | Negro Belchior http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/04/28/contra-o-racismo-nada-de-bananas-por-favor/ 1/4 Política Economia Blogs Tablets/Celular Anuncie Assine a Revista Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor! negrobelchior / 39 mins atrás A esquerda, foto de Neymar em apoio a Daniel Alves; A direita foto de Ota Benga, Zoológico do Bronx, Nova York, em 1906. Por Douglas Belchior A foto da esquerda todo mundo viu. É o craque Neymar com seu filho no colo e duas bananas, em apoio a Daniel Alves e em repulsa ao racismo no mundo do futebol. Já a foto a esquerda, é do pigmeu Ota Benga, que ficou em exibição junto a macacos no zoológico do Bronx, Nova York, em 1906. Ota foi levado do Congo para Nova York e sua exibição em um zoológico americano serviu como um exemplo do quê os cientistas da época proclamaram ser uma raça evolucionária inferior ao ser humano. A História de Ota serviu para inflamar crenças sobre a supremacia racial ariana defendida por Hitler. Sua história é contada no documentário “The Human Zoo”. A comparação entre negros e macacos é racista em sua essência. No entanto muitos não compreendem a gravidade da utilização da figura do macaco como uma ofensa, um insulto aos negros. Encontrei essa forte história num artigo sensacional que li dia desses, e que também trazia reflexões de James Bradley, professor de História da Medicina na Universidade de Melbourne, na Austrália. Ele escreveu um texto com o título “O macaco como insulto: uma curta história de uma ideia racista”. Termina o artigo dizendo que “O sistema educacional não faz o suficiente para nos educar sobre a ciência ou a história do ser humano, porque se o fizesse, nós viveríamos o desaparecimento do uso do macaco como insulto.” Pesquisa ProcurarInício Sobre o blog Galeria Agenda Contato 97 people like this. Be the first of your friends.Like Share
  • 2. 28/4/2014 Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor! | Negro Belchior http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/04/28/contra-o-racismo-nada-de-bananas-por-favor/ 2/4 Não, querido Neymar. Não somos todos macacos. Ao menos não para efeito de fazer uso dessa expressão ou ideia como ferramenta de combate ao racismo. Mas é bom separar: Uma coisa é a reação de Daniel Alves ao comer a banana jogada ao campo, num evidente e corriqueiro ato racista por parte da torcida; outra coisa é a campanha de apoio à Daniel e de denúncia ao racismo, promovida por Neymar. No Brasil, a maioria dos jogadores de futebol advém de camadas mais pobres. Embora isso esteja mudando – porque o futebol mudou, ainda é assim. Dentre estes, a maioria dos que atingem grande sucesso são negros. Por buscarem o sonho de vencer na carreira desde cedo, pouco estudam. Os “fora de série”, são descobertos cada vez mais cedo e depois de alçados à condição de estrelas, vivem um mundo a parte, numa bolha. Poucos foram ou são aqueles que conseguem combinar genialidade esportiva e alguma coisa na cabeça. E quando o assunto é racismo, a tendência é piorar. E Daniel comeu a banana! Ironia? Forma de protesto? Inteligência? Ora, ele mesmo respondeu na entrevista seguida ao jogo: “Tem que ser assim! Não vamos mudar. Há 11 anos convivo com a mesma coisa na Espanha. Temos que rir desses retardados.” É uma postura. Não há o que interpretar. Ele elaborou uma reação objetiva ao racismo: Vamos ignorar e rir! Há um provérbio africano que diz: “Cada um vê o sol do meio dia a partir da janela de sua casa”. Do lugar de onde Daniel fala, do estrelato esportivo, dos ganhos milionários, da vida feita na Europa, da titularidade na seleção brasileira de futebol, para ele, isso é o melhor – e mais confortável, a se fazer: Ignorar e rir. Vamos fazer piada! Vamos olhar para esses idiotas racistas e dizer: sou rico, seu babaca! Sou famoso! Tenho 5 Ferraris, idiota! Pode jogar bananas a vontade! O racismo os incomoda. E os atinge. Mas de que maneira? Afinal, são ricos! E há quem diga que “enriqueceu, tá resolvido” ou que “problema é de classe”! O elemento econômico suaviza o efeito do racismo, mas não o anula. Nesse sentido, os racistas e as bananas prestam um serviço: Lembram a esses meninos que eles são negros e que o dinheiro e a fama não os tornam brancos! Daniel Alves, Neymar, Dante, Balotelli e outros tantos jogadores de alto nível e salários pouca chance terão de ser confundidos com um assaltante e de ficar presos alguns dias como no caso do ator Vinícius; pouco provavelmente serão desaparecidos, depois de torturados e mortos, como foi Amarildo; nada indica que possam ter seus corpos arrastados por um carro da polícia como foi Cláudia ou ainda, não terão que correr da polícia e acabar sem vida com seus corpos jogados em uma creche qualquer. Apesar das bananas, dificilmente serão tratados como animais, ao buscarem vida digna como refugiados em algum país cordial, de franca democracia racial, assim como as centenas de Haitianos o fazem no Acre e em São Paulo. O racismo não os atinge dessa maneira. Mas os atinge. E sua reação é proporcional. Cabe a nós dizer que sua reação não nos serve! Não será possível para nós, negras e negros brasileiros e de todo o mundo, que não tivemos o talento (ou sorte?) para o estrelato, comer a banana de dinamite, ou chupar as balas dos fuzis, ou descascar a bainha das facas. Cabe a nós parafrasear Daniel, na invertida: “Não tem que ser assim! Nós precisamos mudar! Convivemos há 500 anos com a mesma coisa no Brasil. Temos que acabar com esses racistas retardados, especialmente os de farda e gravata”. Quanto a Neymar, ele é bom de bola. E como quase todo gênio da bola, superacumula inteligência na ponta dos pés. Pousa com seu filho louro, sem saber que por ser louro, mesmo que se pendure num cacho de bananas, jamais será chamado de macaco. A ofensa, nesse caso, não fará sentido. Mas pensemos: Sua maneira de rechaçar o racismo foi uma jogada de marketing ou apenas boa vontade? Seja o que for, não nos serve. Sou negro, nascido em um país onde a violência e a pobreza são pressupostos para a vida da maior parte da população, que é negra. Querido Neymar – mas não: Luciano Hulk, Angélica, Reinaldo Azevedo, Aécio Neves, Dilma Rousseff, artistas e imprensa que de maneira geral exaltou o “devorar da banana” e agora compartilham fotos empunhando a saborosa fruta, neste país, assim como em todo o mundo, a comparação de uma pessoa negra a um macaco é algo culturalmente ofensivo. Eu como negro, não admito. Banana não é arma e tampouco serve como símbolo de luta contra o racismo. Ao contrário, o reafirma na medida em que relaciona o alvo a um macaco e principalmente na medida em que simplifica, desqualifica e pior, humoriza o debate sobre racismo no Brasil e no mundo. O racismo é algo muito sério. Vivemos no Brasil uma escalada assombrosa da violência racista. Esse tipo de postura e reação despolitizadas e alienantes de esportistas, artistas, formadores de opinião e governantes tem um objetivo certo: escamotear seu real significado do racismo que gera desde bananas em campo de futebol até o genocídio negro que continua em todo o mundo. Eu adoro banana. Aqui em casa nunca falta. E acho os macacos bichos incríveis, inteligentes e fortes. Adoro o filme Planeta dos Macacos e sempre que assisto, especialmente o primeiro, imagino o quanto os seres humanos merecem castigo parecido. Viemos deles e a história da evolução da espécie é linda. Mas se é para associar a origens, porque não dizer que #SomosTodosNegros ? Porque não dizer #SomosTodosDeÁfrica ? Porque não lembrar que é de África que viemos, todos e de todas as cores? E que por isso o racismo, em todas as suas formas, é uma estupidez incompatível com a própria evolução humana! E se somos, por que nos tratamos assim? Mas não. E seguem vocês, “olhando pra cá, curiosos, é lógico. Não, não é não, não é o zoológico”.
  • 3. 28/4/2014 Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor! | Negro Belchior http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/04/28/contra-o-racismo-nada-de-bananas-por-favor/ 3/4 96 Curtir Tweetar 7 0 Torturar o torturador; Assassinar o assassino. O que você acha? Os haitianos são o problema? Ou o problema é a falta de uma política migratória que respeite os imigrantes? Homenagem ao aniversário de Hitler em Itajaí – SC ← Torturar o torturador; Assassinar o assassino. O que você acha? Portanto, nada de bananas, nada de macacos, por favor! 28 de Abril de 2014 in Destaque. Related posts One thought on “Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor!” Lucila 28 de Abril de 2014 at 20:49 Acho que, pela primeira vez, discordo de você. Não calar, não ignorar, não esperar mudar, mesmo, mas enfrentar. A disputa nunca irá se extinguir e não se apresentará, sempre, na forma que aprendemos a combate-la. Quando a minha ideologia não explica um fenômeno é sinal que, como tudo, minha ideologia não explica tudo. É sinal de que é hora de alteridade. É sinal que não é a ingenuidade, o pensamento monolítico e o discurso pronto que farão efeito naquela questão. http://pacienciadelenine.wordpress.com/2014/04/28/a-luz- da-evolucao/?preview=true&preview_id=169&preview_nonce=ddda7bbaa1&post_format=standard Responder Deixar uma resposta O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com * Nome * Email * Website
  • 4. 28/4/2014 Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor! | Negro Belchior http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/04/28/contra-o-racismo-nada-de-bananas-por-favor/ 4/4 Código CAPTCHA * Comentário Pode usar estas etiquetas HTML e atributos: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong> Publicar Comentário Abril 2014 S T Q Q S S D « Mar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30