A caridade n. 34, outubro de 1983 - número especial
O Beato Giácomo Cusmano e sua obra pelos pobres
1. O BEATO GIÁCOMO CUSMANO
AUTOR: Ir. Gleison s.d.P.
Nasceu em Palermo no dia 15/03/1834. Foi o quarto
filho do casal Giácomo Cusmano e Madalena Patti,
que tiveram outros quatro filhos além de Giácomo:
Vicenzina, Giusepina, Pedro e o caçula Giusepe. No
dia seguinte ao nascimento, foi batizado na Igreja São
Nicolau pelo seu tio materno, Pe.Vicenzo Patti.
Aos 3 anos de idade perdeu sua mãe, vítima do
cólera, passando a ser cuidado pela irmã mais velha,
Vicenzina juntamente com a tia Catarina. Desde
pequeno Giácomo tinha um grande amor pelos
pobres.
Fez sua primeira comunhão sob a orientação de Vincenzina e, como era costume na
família, Giácomo fez seus primeiros estudos em casa, orientado pelo Pe. Francisco
Libani, tendo frequentado posteriormente o colégio Maximo dos jesuítas a fim de
completar o Curso de humanidade e retórica.
Aos 15 anos, sua ânsia em ser missionário o levou a quase façanha de fugir junto com
o superior dos jesuítas de navio para terras distantes. Na continuidade dos estudos,
praticava um útil e benéfico apostolado entre seus companheiros, sendo seus
melhores amigos Enrico Albanese e Michele de Franchis. Tendo concluído seus
estudos de Medicina, se formou ao 21 anos de idade, no dia 11 de julho de 1855. Três
nos antes, a 20/07/1852, perdeu o pai. Como médico era muito bom e atencioso,
sendo que quando era chamado, deixava tudo para acorrer ao leito de qualquer
enfermo, a qualquer hora.
A Itália daquele tempo estava agitada pela revolução, a qual pretendia sua unificação.
Giácomo era, inclusive, cotado para ser o chefe de um grupo revolucionário.
Entretanto, no ano de 1859 o jovem Cusmano foi invadido por dúvidas vindo a
perceber que não era aquele caminho que deveria seguir, pois Deus o chamava para
algo mais. Foi então que ele procurou Monsenhor Domenico Turano, aconselhado por
Vincenzina. Giácomo contou-lhe sua situação. Mons. Turano o aconselhou a mais
intensa vida de oração.
Com o passar do tempo Giácomo foi pedir a bênção a Mons. Turano para fazer parte
dos Capuchinhos, como um frade mendicante, mas o guia espiritual lhe mostrou outro
caminho: o sacerdócio.
O jovem sentia-se indigno do sacerdócio e recusava aquele apelo
de Deus. Entretanto, o confessor dizia-lhe o contrário e o chamado
de Deus acabou vencendo a recusa do jovem Cusmano, que em
08/12/1859 vestiu o hábito talar na Paróquia São Tiago,
inscrevendo-se na Congregação Clerical de Maria Santíssima do
Fervor.
Sob guia do Pe. Pietro Boccone completou em um ano os estudos
de teologia. Então recebeu a tonsura e as ordens menores em
18/03/1860, sendo ordenado sub-diácono aos 24/03, diácono aos
22/09 e, finalmente, sacerdote aos 22/12/1860.
Em poucas palavras traçou o programa de sua vida, ao qual
mostrou-se sempre fiel:
‘’encarnar Cristo em mim mesmo, dar e dar-me como ele para o alívio dos corpos e
para a redenção das almas´´
2. Assim, Pe. Giácomo uniu-se aos Recordantes, cuja missão era assistência aos
moribundos., e rejeitou o ofício de Pároco em São Giuseppe Jato, aceitando ser o
capelão da Igreja dos Santos Quarenta Mártires, no bairro Casaletto. Entretanto, ele
pensava na fundação de uma obra que pudesse irmanar ricos e pobres. Certo dia, na
hora do almoço na casa do amigo de Franchis, viu que a família dele tirava um pouco
de comida do prato de cada um para pôr em outro prato que depois seria dado a um
pobre. Daí surgiu a ideia do "Boccone del Povero".
Em 1866 a situação na Sicília voltou a complicar-se. Houve uma intensa rebelião
popular, a supressão das comunidades religiosas e a cólera devastou a cidade de
Palermo. A situação era alarmante : fome, doenças etc. Nesse período uma cena
chocou Pe. Giácomo: ao entrar numa casa viu uma família se alimentando de um cão
cru para matar a fome.
A alma da nascente e tão sonhada obra do "Boccone del Povero" foram a irmã
Vicenzina, a tia Catarina, a sobrinha Madalena e as três irmãs Delise, responsáveis
pela divisão daquilo que provinha das coletas e na determinação de recursos. O berço
da obra foi a Igreja dos Santos Quarenta Mártires, mas foi necessário alugar um lugar
a ela anexo. Todas as tardes cerca de duzentas pessoas ali se alimentavam, sem
contar os atendimentos nas casas.
Pe. Giácomo começou a contar com a ajuda de leigos e mais
de vinte padres. Em 1868 Pe. Giácomo, aproveitando a
viagem de Dom Ercole Tedeschi, enviou uma carta para o
Papa Pio IX pedindo a autorização para apresentar ao
governo um projeto para um asilo de pobres e aceitar a
reabertura de casas religiosas fechadas. Pio IX em 05/08/1865
louvava e bendizia a obra, autorizando-o a pedir para o
governo abrigo aos pobres e reabertura de casas religiosas
fechadas. Em 08/12/1868 o Arcebispo Naselli instituiu
canonicamente a obra sob o titulo de "Boccone del Povero",
sendo que a solene inauguração deu-se em 10/01/1869.
Proposta pelo Arcebispo Naselli, se fez depois inserir no livro
de associação do Bocado uma estampa de Jesus em atitude amorosamente suave, de
um lado acolhendo os pobres e, de outro, as ofertas dos ricos, feliz como se a ele
mesmo fossem dadas.
Cusmano, não se sentiram bem numa vida em comum. Pe. Giácomo, por sua vez, se
fez pobre entre os pobres, cedendo o seu próprio apartamento e indo morar em um
cubículo; frequentemente ele também se improvisava como marceneiro, alfaiate,
sapateiro, fazendo os mais humildes serviços. Em 1870 começou a decadência da
obra: alguns padres se afastaram para assumir encargos eclesiásticos, o Arcebispo
3. Naselli faleceu, muitos cooperadores abandonaram-no e até Vincenzina pensou em
deixá-lo para ir viver num claustro. Dessa forma, por onze anos Pe. Giácomo ficou
com apenas um leigo e com os padres Mammana e Datino. Tudo isso aconteceu para
a ascese mística de sua alma. Em 03/04/1871 Pe. Giácomo foi nomeado membro do
Conselho de Administração do Depósito de Mendicância de Palermo, mas no ano
seguinte, em 1872, Monsenhor Turano tornou-se Bispo de Agrigento e levou o
Cusmano consigo.
Pe. Mammana logo escreveu ao Bispo pedindo a volta do Pe. Giácomo para que ele
cuidasse das obras. Depois de dois meses ele retornou com um vasto programa em
mente: pensava abrir escolas infantis, de instrução profissional de jovens e adultos,
inclusive para surdos-mudos e cegos, colônias agrícolas além de enfermarias para
doentes e hospitais. Em 1874 obteve o Convento e a Igreja de São Marcos,
transferindo para lá os órfãos. Com as dificuldades Pe. Giácomo pensava em entregar
a sua obra para que alguma Congregação a mantivesse; no entanto, por esse período
Pe. Giácomo teve um sonho misterioso no qual apareceu Nossa Senhora abençoando
a obra e dando forças para ele prosseguir seu caminhar: sua obra era uma obra de
Deus!
Assim, em 23/05/1880, Festa da Santíssima Trindade,
receberam o hábito seis noviças, às quais Pe. Giácomo
chamou de "Servas dos Pobres": Irmã Madalena Vicenzina
Cusmano, Irmã Maria Madalena Cusmano, Irmã Maria Rosaria
Caravello, Irmã Maria Naimo, Irmã Maria Poietra Naimo e Irmã
Maria Sofia Winter.
Pe. Giácomo aceitou então a proposta do Senhor Barão de
Niccolò Turrisi de obter a Quinta Casa no Melo que era antiga
casa de retiros dos jesuítas. Em 1881 chegou as Irmãs sob a
direção do Pe. Salvatore Gambino; haviam ali 52 pessoas.
Em 05/01/1882, acompanhado pela Irmã e outras cinco
religiosas, Pe. Giácomo chegou em Agrigento para cuidar de
um orfanato, o qual se encontrava em uma situação horrível. Em 01/05/1882 as 30
órfãs da V Casa ocuparam um novo edifício localizado em Terre Rosse, o qual seria
um orfanato feminino. A 05/04/1883 ele partiu com mais oito irmãs para Valguarnera
Caropepe, para uma nova fundação. No dia 06/04 celebrou na Igreja Matriz deste
lugar a Missa e depois seguiu em procissão com Cristo Eucarístico até a nova casa.
No natal de 1883 cinco irmãs com a Madre Vicenzina tomaram a direção da casa de
Monreale. Aos 10/07/1884 chegaram as irmãs em São Cataldo, acompanhadas pelo
Pe. Gambino, onde passaram a cuidar do orfanato e do hospital.
Aos 04/10/1884 Pe. Giácomo entregou o hábito aos primeiros
Irmãos Servos dos Pobres, para cuidarem dos órfãos e
auxiliarem a obra. Em 1885 a cidade de Palermo foi vítima
novamente do cólera e Pe. Giácomo não dormia bem, sempre
preocupado com as casas da obra. Em 24/11 as carroças
carregadas de madeiras e outros materiais de construção
começaram a chegar em São Giuseppe Jato, na colônia
agrícola da família do Pe. Giácomo. Tendo sido terminada a
construção, em 1886 recebeu ali os primeiros pobres.
Em janeiro de 1886 foi inaugurada a casa de Canicatti, onde
as irmãs, entre elas Madre Vicenzina, foram recebidas
acompanhadas pelo Pe. Boscarini.
Aos 21/11/1887, Festa da Apresentação de Nosssa Senhora
no Templo, na Igreja de São Marcos, a comunidade tão sonhada e desejada recebeu
oficialmente a sanção canônica. Ali Pe. Giácomo, com a presença do Exmo. Cardeal
Arcebispo de Palermo Dom Miguel Ângelo Celesia, entregou aos primeiros Padres
Missionários Servos dos Pobres o crucifixo.
4. Depois de ver que toda a sua obra alcançara êxito e que tudo
provinha de Deus, Pe. Giácomo exclamou a 09/02/1888 que a
sua missão estava terminada. Aos 17/02 começou a
enfraquecer-se por febre e, a partir daí, foi só sofrimento e
cada vez mais a sua doença ia aumentando. No dia 13/03 os
médicos o examinaram e consideraram-no curado. Entretanto,
às quatro horas da manhã do dia 14/03/1888 Pe. Giácomo
veio a falecer santamente.
A piedade de Pe. Giácomo exprimiu-se na devoção à
Santíssima Trindade, ao Sagrado Coração de Jesus, além da
piedade eucarística, da qual nasceu a ideia do Bocado do
Pobre, e da piedade mariana, na qual chamava Maria Mãe da
Misericórdia. Entre suas virtudes poderíamos citar a caridade,
a humildade e a mansidão. O Santo Padre Papa João Paulo II beatificou, na Praça de
São Pedro, no Vaticano, o Pe. Giácomo Cusmano, a 30/10/1983.
Os Servos dos Pobres encontram-se, atualmente, presentes na Itália, no Brasil, no
México, na República Democrática do Congo, nas Filipinas, e na Índia.