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Oficina de Elaboração de Projetos


“Ser jongueiro não é apenas fazer roda de jongo”, afirmou Lucas, do Jongo Dito Ribeiro
(Campinas-SP). Assim como ele, as demais jovens lideranças jongueiras percebem a
dimensão da responsabilidade que assumiram. Na atual conjuntura, a preservação do jongo
requer a ação dos jovens em busca de estratégias de afirmação e divulgação.


A fim de atender a esta nova demanda, o Pontão de Cultura do Jongo/Caxambu realizou as
oficinas de Desenvolvimento de Projetos Comunitários e de Elaboração de Projetos, entre os
dias 15 e 18 de novembro, no município de Pinheiral Rio de Janeiro. Por meio de dinâmicas,
rodas de conversa e plenárias, os participantes discutiram as características, os mecanismos e
o passo-a-passo para a inscrição de projetos em editais de financiamento a manifestações
culturais.




Os jovens foram recebidos pelo Centro de Referência Afro do Sul Fluminense (Creasf), o Ponto
de Cultura local cujas ações de promoção da cultura negra são muito reconhecidas na
comunidade.
Nem a chuva conteve a empolgação dos jovens. Antes do início da programação oficial, eles já
se confraternizavam com uma roda de jongo para saudar o local, os donos da casa e os
jongueiros mais velhos, responsáveis pela alimentação, limpeza e organização do espaço.
Na primeira dinâmica do evento, as bolsistas do Pontão, Anele Rodrigues e Mariana Nery,
levaram os jovens a quebrar a cabeça. A tarefa consistia na aquisição de um pirulito por
pessoa, pois o doce simbolizava a sobrevivência na brincadeira. Para isso, cada participante
precisava trocar as três balas de cores diferentes que receberam por três balas iguais. Três
balas semelhantes davam direito a um pirulito e mais uma bala, assim como sete balas
garantiam três pirulitos. Os participantes tinham liberdade para decidir quais estratégias usar, a
fim de alcançar o objetivo da dinâmica. Na primeira tentativa, os jovens agiram de forma
individual, o que resultou na sobrevivência de apenas quatro pessoas.




Em um segundo momento, João Paulo, do Jongo de Pinheiral (RJ) e Suellen Tavares, do
Jongo da Serrinha (Madureira-RJ), sugeriram que todos reunissem suas balas e trocassem
sete delas por três pirulitos. Nesta proposta, cinco pessoas ficaram sem pirulitos. Na última
tentativa, este integrante convenceu os demais a coletar todas as balas e trocá-las segundo a
primeira alternativa, três balas iguais por um pirulito e mais uma bala. Dessa forma, todos
conseguiram adquirir um pirulito.
Satisfeito com o resultado, o grupo debateu as estratégias utilizadas e os demais aspectos
verificados durante a dinâmica. O primeiro ponto comentado foi o surgimento de líderes, isto é,
pessoas que apresentaram sugestões para a troca e foram ouvidas. Os jovens consideraram
que a atuação envolveu a confiança e a desconfiança no líder e concluiu que a vitória foi
assegurada em função do trabalho coletivo.


“Se a terceira tentativa desse errado de novo, todos seriam responsáveis, pois se dispuseram a
seguir a sugestão do João Paulo”, salientou Marcos, da comunidade de Carangola (MG). A
partir desta análise, os jovens discutiram quais as más e boas práticas percebidas nas
lideranças adultas das comunidades e esboçaram estratégias para transformar as indesejáveis
em proveitosas.
Entre as más os jovens destacaram a falta de diálogo, o pessimismo e a centralização por
parte dos líderes. Como boas práticas, a troca de saberes, o prazer por trabalhar com o jongo e
o respeito à tradição foram os elementos mais citados. Para contornar as más práticas, as
jovens lideranças propuseram reuniões espontâneas e após as apresentações externas, além
de encontros. O grupo chegou ao consenso quanto ao papel do jovem neste processo, cuja
responsabilidade deve se expressar com iniciativa, foco e o desejo de querer aprender mais.
A sexta-feira começou animada com a chegada dos jovens do Jongo de Piquete (SP). O
mestre Gil abriu a roda e ratificou a responsabilidade dos jovens de preservar o jongo. O líder
também os incentivou a criar seus próprios pontos e pontos de demanda para brincarem uns
com os outros.
As atividades do dia começaram com uma nova dinâmica. Cada participante recebeu uma
bexiga e deveriam impedir que as mesmas tocassem o chão. À medida que a equipe
organizadora retirava alguns jovens da roda, o desafio de manter as bexigas no ar aumentava.
Alguns desistiram da tarefa e saíram da roda por conta própria, o que causou a sobrecarga dos
restantes. Ao final, apenas Sávio Santos, do Caxambu de Miracema (RJ) lutava sozinho com
as bexigas para sustentar a meta.




Assim como no dia anterior, os jovens avaliaram seu desempenho na dinâmica. Para Danilo
Soares, da comunidade do Jongo Dito Ribeiro, em Campinas (SP), “cada um deveria ter
cuidado da própria bola, pois se cada um fizesse sua parte seria mais fácil”. O grupo percebeu
o quanto fazem falta um ao outro e contribuem para a existência da rede.


Ainda pela manhã os jovens se dividiram em pequenas equipes para discutir o texto “ O que os
jovens podem fazer pelo jongo hoje?”, elaborado pela líder da comunidade de Campinas,
Alessandra Ribeiro. O conteúdo abordava o papel do jovem na preservação do jongo e nas
demais lutas que integram a realidade da rede, como o combate ao preconceito étnico, a
afirmação da identidade negra, etc. Após discutir o texto, foi realizada uma plenária com as
resoluções dos grupos.
O primeiro grupo afirmou que ser jongueiro vai além das rodas de jongo e inclui realizar ações
nas comunidades. “Em Porciúncula, temos trabalhado para prestar assistência a famílias com
cestas básicas”, contou Jeferson Luís, do Caxambu Michel Tannus. Integrantes das
comunidades de Campinas (SP) e de Angra dos Reis (RJ) destacaram a luta pelo
reconhecimento de seus territórios, a Fazenda Roseira e o Quilombo Santa Rita do Bracuí,
áreas constantemente assediadas pela especulação imobiliária.
A equipe também comentou a importância de buscar mais visibilidade ao jongo de tradição. As
principais estratégias levantadas foram o uso das redes sociais e a divulgação na própria
comunidade, por meio da transmissão do saber às crianças e de apresentações em praças
públicas. Um bom exemplo citado foi a produção de um CD com os pontos na comunidade de
Campinas (SP). Por fim, os jovens reforçaram a necessidade de aprender mais com os mais
velhos sobre a tradição, como a saia, os toques e os pontos. “Se nós que fazemos parte das
comunidades tradicionais fizermos o jongo de forma errada, não fará diferença ter raiz ou não”,
asseverou Lucas, de Campinas (SP).


O segundo grupo criticou a falta de iniciativa demonstrada em certos momentos pelos jovens.
Para eles, é preciso unir o interesse à dedicação, a fim de que o empenho de seus
antepassados para preservar o jongo não tenha sido vão. “Temos que trabalhar em conjunto
com as demais comunidades”, acrescentou Bárbara Tavares, do Jongo de Pinheiral (RJ).
Além das ideias expostas pelos demais, discutir políticas públicas, ações afirmativas e o direito
da mulher foram os destaques do grupo número três. Os integrantes pretendem criar uma
memória do presente para confrontar os estereótipos criados pela sociedade para os
jongueiros, como os pés rachados, o tronco e a senzala. Para alcançar este objetivo, “é
fundamental fazer os projetos e se inscrever nos editais”, disse Gracinha Caetano, do
Caxambu Dona Sebastiana II, em Santo Antônio de Pádua (RJ).
O quarto e último grupo abordou a responsabilidade do jovem e os mecanismos que ele deve
utilizar. De acordo com Jussara Adriano, do Quilombo Santa Rita do Bracuí (Angra dos
Reis/RJ), “é dever do jovem levar as discussões das oficinas para a comunidade, já que muitos
mestres não podem sair de lá”. A equipe também considerou a ação em parceria com as
escolas e com as universidades. “Temos que parar de culpar os outros, ocupar estes espaços
e contar a verdade sobre o jongo”, enfatizou Alessandra SOBRENOME, do Jongo de Barra do
Piraí (RJ).
Nesse contexto, as jovens lideranças jongueiras conversaram sobre a carta elaborada pelo
Danilo Soares, de Campinas (SP), a respeito do surgimento de grupos de jongo parafolclóricos,
que, além de reproduzirem as rodas de forma equivocada, têm oferecido oficinas pagas à
população. A carta fora divulgada no grupo virtual em uma rede social, mas verificou-se que
nem todos contribuíram com a discussão.


Os representantes de cada comunidade opinaram sobre a questão, e a maioria se posicionou
contra a atuação dos grupos parafolclóricos. “Discordo que eles cobrem pelas oficinas de
jongo, pois, na minha comunidade, tudo o que fazemos é de graça”, comentou Érica
SOBRENOME, do Jongo de Barra do Piraí (RJ). Gracinha Caetano acrescentou que o mesmo
ocorre em Santo Antonio de Pádua: “Usamos a mesma roupa há sete anos, porque não temos
recursos”.
Segundo Patrick Nascimento, de Carangola (MG), se as comunidades cobrassem pelas
apresentações e oficinas, “poderiam usar o dinheiro para viajar e pagar as despesas dos
encontros”. Bárbara Tavares revelou os membros dos grupos foram bem recebidos pelas
comunidades e aprenderam sobre o jongo de forma gratuita. “Que direito eles têm de fazer
oficinas pagas se nós os ensinamos sem cobrar nada?”, questionou.
A coordenadora do Pontão, Elaine Monteiro, encerrou a conversa ao frisar que o jongo não
pode ser transformado em mercadoria. Para Elaine, é necessário ocupar o mercado com
projetos que divulguem o jongo preservado nas comunidades e patrimônio imaterial do Brasil.
Os jovens acordaram que os representantes deveriam consultar os líderes da comunidade e, a
partir da opinião dos mesmos, a rede decidiria a respeito do envio da carta. Além desta
resolução, o grupo ressaltou a importância de pensar estratégias para dar maior visibilidade ao
jongo tradicional.


A fim de trabalhar mais profundamente a elaboração dos projetos, os jovens se organizaram
em duplas para preencher um questionário sobre a principal festa promovida na comunidade. O
objetivo da oficina era mostrar que eles já desenvolvem projetos e destacar os itens essenciais
para a inscrição em um edital. Entre as principais perguntas estavam: quem organiza, como
capta recursos para a realização, se recebe apoio de outras instituições, quais são os
benefícios da festa, entre outros.
A oficina teve uma breve pausa para que os visitantes conhecessem o patrimônio histórico de
Pinheiral. Junto a outros municípios, a região foi uma das mais ricas do país durante o cultivo
do café. Mesmo em ruínas, a casa grande da Fazenda São José dos Pinheiros ainda
demonstra a ostentação de riqueza dos senhores. “Quanto mais janelas na casa, mais rico era
o senhor”, contou Maria Amélia, integrante do Creasf. Os irmãos Breves eram proprietários de
uma vasta área que abrangia o Porto de Marambaia ao Quilombo do Bracuí e foram os últimos
a aderir à proibição do tráfico de escravos.




De acordo com o mestre jongueiro e professor de história Gilbertinho, a fazenda possuía um
pelourinho semelhante ao do estado da Bahia, usado para humilhação pública dos escravos.
Apesar da violência, os negros escravizados se organizavam, como Manuel Congo e Mariana
Crioula, que lideram uma revolta onde hoje fica a cidade de Vassouras.


O professor criticou a gestão do governo por permitir a deterioração de uma construção que
carrega tantos anos e personagens da história do Brasil. “Esta área era como um campo de
concentração, é o símbolo do nosso sofrimento. Na Europa, os locais estão preservados, mas
aqui a nossa história está em ruínas. O que aconteceu nestas terras não pode ser esquecido”,
argumentou.
O Movimento Negro de Volta Redonda chegou a mobilizar a comunidade em prol do
tombamento do Casarão dos Breves e elaborar um inventário com os pertences. Contudo, o
Casarão sofreu furtos e incêndios e suspeita-se que alguns tenham sido criminosos. A senzala
da fazenda, por sua vez, está preservada.
Para marcar a visita, os visitantes abriram uma grande roda de jongo, chamando a atenção de
algumas pessoas que estavam no local.




De volta à sede do Creasf, ainda havia muito trabalho a fazer. Os jovens retomaram a atividade
com os questionários para decifrar as características da elaboração de projetos através das
informações de cada festa. Havia muitas semelhanças entre as celebrações, principalmente a
falta de apoio das prefeituras em relação a recursos ou estrutura.


À noite, os jovens participaram de um bate-papo com o pai-de-santo Pedro Paulo, que trabalha
tanto com o candomblé quanto com a umbanda na região. Ele contou sobre como os povos
africanos mantiveram suas tradições religiosas ao chegar no Brasil. Segundo ele, os povos
oriundos de Angola e do Congo sofreram mais, pois foram os primeiros a chegar no país. Os
que vieram posteriormente, principalmente de Benin, tiveram mais facilidade para preservar
elementos de sua cultura.
O pai Pedro Paulo tem forte identificação com o jongo, visto que faz parte da família do mestre
Cabiúna. Sua avó nasceu nove dias após a libertação (1889) e iniciou no jongo com apenas 12
anos de idade. Pedro Paulo esclareceu as principais dúvidas que surgiram durante a conversa.
Os jovens descobriram que a umbanda é genuinamente brasileira. Surgiu como religião em
São Gonçalo, no Rio de Janeiro, em 15 de novembro de 1908, mas tem suas origens nas
senzalas. Proibidos de realizar seus rituais livremente, os negros agregaram os santos
católicos e elementos do cardecismo com os orixás africanos.


Pedro Paulo fez questão de destacar a importância de preservar o meio ambiente não somente
por questões espirituais, mas também por espirituais. Ele criticou as práticas de quebrar
garrafas de vidro nas cachoeiras. O ideal seria fazer esses rituais em casas específicas. Ele
tem trabalhado pela renovação para evitar qualquer tipo de prejuízo ao próximo e que traga
somente boas energias. “Você não pode entregar uma oferenda ou acender uma vela se não
tiver entregado o seu próprio coração”, realçou.
Cientes dos requisitos para a inscrição em editais, os jovens colocaram em prática o
conhecimento adquirido com as oficinas e dinâmicas. A própria Rede de Articulação de Jovens
Lideranças Jongueiras foi escolhida como projeto. Em pequenos grupos, eles escreveram cada
divisão de um projeto, entre as quais a apresentação, o objetivo, a justificativa, o cronograma e
o orçamento. A ideia é realizar três encontros locais e quatro gerais durante o ano de 2013, a
fim de fortalecer a rede, atrair os jovens das comunidades que ainda não participam e criar
estratégias para dar visibilidade e, assim, preservar o jongo.




Pinheiral é um lugar cheio de causos e histórias. O alçapão da morte na casa dos Breves, a
lenda do lobisomem, o mestre jongueiro que fazia o tempo mudar ao declarar seus pontos. Em
meio à tamanha riqueza cultural, a Rede de Articulação de Jovens Lideranças Jongueiras
também avança por construir sua própria história. Assim como os negros escravizados na
Fazenda São José dos Pinheiros, eles reafirmam sua identidade e optam por enfrentar os
desafios. Podem não ser heróis, porém sua contribuição ao jongo e à cultura negra jamais será
esquecida.
Oficina ensina jovens a elaborar projetos para preservar o jongo

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Oficina ensina jovens a elaborar projetos para preservar o jongo

  • 1. Oficina de Elaboração de Projetos “Ser jongueiro não é apenas fazer roda de jongo”, afirmou Lucas, do Jongo Dito Ribeiro (Campinas-SP). Assim como ele, as demais jovens lideranças jongueiras percebem a dimensão da responsabilidade que assumiram. Na atual conjuntura, a preservação do jongo requer a ação dos jovens em busca de estratégias de afirmação e divulgação. A fim de atender a esta nova demanda, o Pontão de Cultura do Jongo/Caxambu realizou as oficinas de Desenvolvimento de Projetos Comunitários e de Elaboração de Projetos, entre os dias 15 e 18 de novembro, no município de Pinheiral Rio de Janeiro. Por meio de dinâmicas, rodas de conversa e plenárias, os participantes discutiram as características, os mecanismos e o passo-a-passo para a inscrição de projetos em editais de financiamento a manifestações culturais. Os jovens foram recebidos pelo Centro de Referência Afro do Sul Fluminense (Creasf), o Ponto de Cultura local cujas ações de promoção da cultura negra são muito reconhecidas na comunidade.
  • 2. Nem a chuva conteve a empolgação dos jovens. Antes do início da programação oficial, eles já se confraternizavam com uma roda de jongo para saudar o local, os donos da casa e os jongueiros mais velhos, responsáveis pela alimentação, limpeza e organização do espaço.
  • 3. Na primeira dinâmica do evento, as bolsistas do Pontão, Anele Rodrigues e Mariana Nery, levaram os jovens a quebrar a cabeça. A tarefa consistia na aquisição de um pirulito por pessoa, pois o doce simbolizava a sobrevivência na brincadeira. Para isso, cada participante precisava trocar as três balas de cores diferentes que receberam por três balas iguais. Três balas semelhantes davam direito a um pirulito e mais uma bala, assim como sete balas garantiam três pirulitos. Os participantes tinham liberdade para decidir quais estratégias usar, a fim de alcançar o objetivo da dinâmica. Na primeira tentativa, os jovens agiram de forma individual, o que resultou na sobrevivência de apenas quatro pessoas. Em um segundo momento, João Paulo, do Jongo de Pinheiral (RJ) e Suellen Tavares, do Jongo da Serrinha (Madureira-RJ), sugeriram que todos reunissem suas balas e trocassem sete delas por três pirulitos. Nesta proposta, cinco pessoas ficaram sem pirulitos. Na última tentativa, este integrante convenceu os demais a coletar todas as balas e trocá-las segundo a primeira alternativa, três balas iguais por um pirulito e mais uma bala. Dessa forma, todos conseguiram adquirir um pirulito.
  • 4. Satisfeito com o resultado, o grupo debateu as estratégias utilizadas e os demais aspectos verificados durante a dinâmica. O primeiro ponto comentado foi o surgimento de líderes, isto é, pessoas que apresentaram sugestões para a troca e foram ouvidas. Os jovens consideraram que a atuação envolveu a confiança e a desconfiança no líder e concluiu que a vitória foi assegurada em função do trabalho coletivo. “Se a terceira tentativa desse errado de novo, todos seriam responsáveis, pois se dispuseram a seguir a sugestão do João Paulo”, salientou Marcos, da comunidade de Carangola (MG). A partir desta análise, os jovens discutiram quais as más e boas práticas percebidas nas lideranças adultas das comunidades e esboçaram estratégias para transformar as indesejáveis em proveitosas.
  • 5. Entre as más os jovens destacaram a falta de diálogo, o pessimismo e a centralização por parte dos líderes. Como boas práticas, a troca de saberes, o prazer por trabalhar com o jongo e o respeito à tradição foram os elementos mais citados. Para contornar as más práticas, as jovens lideranças propuseram reuniões espontâneas e após as apresentações externas, além de encontros. O grupo chegou ao consenso quanto ao papel do jovem neste processo, cuja responsabilidade deve se expressar com iniciativa, foco e o desejo de querer aprender mais.
  • 6. A sexta-feira começou animada com a chegada dos jovens do Jongo de Piquete (SP). O mestre Gil abriu a roda e ratificou a responsabilidade dos jovens de preservar o jongo. O líder também os incentivou a criar seus próprios pontos e pontos de demanda para brincarem uns com os outros.
  • 7. As atividades do dia começaram com uma nova dinâmica. Cada participante recebeu uma bexiga e deveriam impedir que as mesmas tocassem o chão. À medida que a equipe organizadora retirava alguns jovens da roda, o desafio de manter as bexigas no ar aumentava. Alguns desistiram da tarefa e saíram da roda por conta própria, o que causou a sobrecarga dos restantes. Ao final, apenas Sávio Santos, do Caxambu de Miracema (RJ) lutava sozinho com as bexigas para sustentar a meta. Assim como no dia anterior, os jovens avaliaram seu desempenho na dinâmica. Para Danilo Soares, da comunidade do Jongo Dito Ribeiro, em Campinas (SP), “cada um deveria ter cuidado da própria bola, pois se cada um fizesse sua parte seria mais fácil”. O grupo percebeu o quanto fazem falta um ao outro e contribuem para a existência da rede. Ainda pela manhã os jovens se dividiram em pequenas equipes para discutir o texto “ O que os jovens podem fazer pelo jongo hoje?”, elaborado pela líder da comunidade de Campinas, Alessandra Ribeiro. O conteúdo abordava o papel do jovem na preservação do jongo e nas demais lutas que integram a realidade da rede, como o combate ao preconceito étnico, a afirmação da identidade negra, etc. Após discutir o texto, foi realizada uma plenária com as resoluções dos grupos.
  • 8. O primeiro grupo afirmou que ser jongueiro vai além das rodas de jongo e inclui realizar ações nas comunidades. “Em Porciúncula, temos trabalhado para prestar assistência a famílias com cestas básicas”, contou Jeferson Luís, do Caxambu Michel Tannus. Integrantes das comunidades de Campinas (SP) e de Angra dos Reis (RJ) destacaram a luta pelo reconhecimento de seus territórios, a Fazenda Roseira e o Quilombo Santa Rita do Bracuí, áreas constantemente assediadas pela especulação imobiliária.
  • 9. A equipe também comentou a importância de buscar mais visibilidade ao jongo de tradição. As principais estratégias levantadas foram o uso das redes sociais e a divulgação na própria comunidade, por meio da transmissão do saber às crianças e de apresentações em praças públicas. Um bom exemplo citado foi a produção de um CD com os pontos na comunidade de Campinas (SP). Por fim, os jovens reforçaram a necessidade de aprender mais com os mais velhos sobre a tradição, como a saia, os toques e os pontos. “Se nós que fazemos parte das comunidades tradicionais fizermos o jongo de forma errada, não fará diferença ter raiz ou não”, asseverou Lucas, de Campinas (SP). O segundo grupo criticou a falta de iniciativa demonstrada em certos momentos pelos jovens. Para eles, é preciso unir o interesse à dedicação, a fim de que o empenho de seus antepassados para preservar o jongo não tenha sido vão. “Temos que trabalhar em conjunto com as demais comunidades”, acrescentou Bárbara Tavares, do Jongo de Pinheiral (RJ).
  • 10. Além das ideias expostas pelos demais, discutir políticas públicas, ações afirmativas e o direito da mulher foram os destaques do grupo número três. Os integrantes pretendem criar uma memória do presente para confrontar os estereótipos criados pela sociedade para os jongueiros, como os pés rachados, o tronco e a senzala. Para alcançar este objetivo, “é fundamental fazer os projetos e se inscrever nos editais”, disse Gracinha Caetano, do Caxambu Dona Sebastiana II, em Santo Antônio de Pádua (RJ).
  • 11. O quarto e último grupo abordou a responsabilidade do jovem e os mecanismos que ele deve utilizar. De acordo com Jussara Adriano, do Quilombo Santa Rita do Bracuí (Angra dos Reis/RJ), “é dever do jovem levar as discussões das oficinas para a comunidade, já que muitos mestres não podem sair de lá”. A equipe também considerou a ação em parceria com as escolas e com as universidades. “Temos que parar de culpar os outros, ocupar estes espaços e contar a verdade sobre o jongo”, enfatizou Alessandra SOBRENOME, do Jongo de Barra do Piraí (RJ).
  • 12. Nesse contexto, as jovens lideranças jongueiras conversaram sobre a carta elaborada pelo Danilo Soares, de Campinas (SP), a respeito do surgimento de grupos de jongo parafolclóricos, que, além de reproduzirem as rodas de forma equivocada, têm oferecido oficinas pagas à população. A carta fora divulgada no grupo virtual em uma rede social, mas verificou-se que nem todos contribuíram com a discussão. Os representantes de cada comunidade opinaram sobre a questão, e a maioria se posicionou contra a atuação dos grupos parafolclóricos. “Discordo que eles cobrem pelas oficinas de jongo, pois, na minha comunidade, tudo o que fazemos é de graça”, comentou Érica SOBRENOME, do Jongo de Barra do Piraí (RJ). Gracinha Caetano acrescentou que o mesmo ocorre em Santo Antonio de Pádua: “Usamos a mesma roupa há sete anos, porque não temos recursos”.
  • 13. Segundo Patrick Nascimento, de Carangola (MG), se as comunidades cobrassem pelas apresentações e oficinas, “poderiam usar o dinheiro para viajar e pagar as despesas dos encontros”. Bárbara Tavares revelou os membros dos grupos foram bem recebidos pelas comunidades e aprenderam sobre o jongo de forma gratuita. “Que direito eles têm de fazer oficinas pagas se nós os ensinamos sem cobrar nada?”, questionou.
  • 14. A coordenadora do Pontão, Elaine Monteiro, encerrou a conversa ao frisar que o jongo não pode ser transformado em mercadoria. Para Elaine, é necessário ocupar o mercado com projetos que divulguem o jongo preservado nas comunidades e patrimônio imaterial do Brasil. Os jovens acordaram que os representantes deveriam consultar os líderes da comunidade e, a partir da opinião dos mesmos, a rede decidiria a respeito do envio da carta. Além desta resolução, o grupo ressaltou a importância de pensar estratégias para dar maior visibilidade ao jongo tradicional. A fim de trabalhar mais profundamente a elaboração dos projetos, os jovens se organizaram em duplas para preencher um questionário sobre a principal festa promovida na comunidade. O objetivo da oficina era mostrar que eles já desenvolvem projetos e destacar os itens essenciais para a inscrição em um edital. Entre as principais perguntas estavam: quem organiza, como capta recursos para a realização, se recebe apoio de outras instituições, quais são os benefícios da festa, entre outros.
  • 15. A oficina teve uma breve pausa para que os visitantes conhecessem o patrimônio histórico de Pinheiral. Junto a outros municípios, a região foi uma das mais ricas do país durante o cultivo
  • 16. do café. Mesmo em ruínas, a casa grande da Fazenda São José dos Pinheiros ainda demonstra a ostentação de riqueza dos senhores. “Quanto mais janelas na casa, mais rico era o senhor”, contou Maria Amélia, integrante do Creasf. Os irmãos Breves eram proprietários de uma vasta área que abrangia o Porto de Marambaia ao Quilombo do Bracuí e foram os últimos a aderir à proibição do tráfico de escravos. De acordo com o mestre jongueiro e professor de história Gilbertinho, a fazenda possuía um pelourinho semelhante ao do estado da Bahia, usado para humilhação pública dos escravos. Apesar da violência, os negros escravizados se organizavam, como Manuel Congo e Mariana Crioula, que lideram uma revolta onde hoje fica a cidade de Vassouras. O professor criticou a gestão do governo por permitir a deterioração de uma construção que carrega tantos anos e personagens da história do Brasil. “Esta área era como um campo de concentração, é o símbolo do nosso sofrimento. Na Europa, os locais estão preservados, mas aqui a nossa história está em ruínas. O que aconteceu nestas terras não pode ser esquecido”, argumentou.
  • 17. O Movimento Negro de Volta Redonda chegou a mobilizar a comunidade em prol do tombamento do Casarão dos Breves e elaborar um inventário com os pertences. Contudo, o Casarão sofreu furtos e incêndios e suspeita-se que alguns tenham sido criminosos. A senzala da fazenda, por sua vez, está preservada.
  • 18. Para marcar a visita, os visitantes abriram uma grande roda de jongo, chamando a atenção de algumas pessoas que estavam no local. De volta à sede do Creasf, ainda havia muito trabalho a fazer. Os jovens retomaram a atividade com os questionários para decifrar as características da elaboração de projetos através das informações de cada festa. Havia muitas semelhanças entre as celebrações, principalmente a falta de apoio das prefeituras em relação a recursos ou estrutura. À noite, os jovens participaram de um bate-papo com o pai-de-santo Pedro Paulo, que trabalha tanto com o candomblé quanto com a umbanda na região. Ele contou sobre como os povos africanos mantiveram suas tradições religiosas ao chegar no Brasil. Segundo ele, os povos oriundos de Angola e do Congo sofreram mais, pois foram os primeiros a chegar no país. Os que vieram posteriormente, principalmente de Benin, tiveram mais facilidade para preservar elementos de sua cultura.
  • 19. O pai Pedro Paulo tem forte identificação com o jongo, visto que faz parte da família do mestre Cabiúna. Sua avó nasceu nove dias após a libertação (1889) e iniciou no jongo com apenas 12 anos de idade. Pedro Paulo esclareceu as principais dúvidas que surgiram durante a conversa. Os jovens descobriram que a umbanda é genuinamente brasileira. Surgiu como religião em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, em 15 de novembro de 1908, mas tem suas origens nas senzalas. Proibidos de realizar seus rituais livremente, os negros agregaram os santos católicos e elementos do cardecismo com os orixás africanos. Pedro Paulo fez questão de destacar a importância de preservar o meio ambiente não somente por questões espirituais, mas também por espirituais. Ele criticou as práticas de quebrar garrafas de vidro nas cachoeiras. O ideal seria fazer esses rituais em casas específicas. Ele tem trabalhado pela renovação para evitar qualquer tipo de prejuízo ao próximo e que traga somente boas energias. “Você não pode entregar uma oferenda ou acender uma vela se não tiver entregado o seu próprio coração”, realçou.
  • 20.
  • 21. Cientes dos requisitos para a inscrição em editais, os jovens colocaram em prática o conhecimento adquirido com as oficinas e dinâmicas. A própria Rede de Articulação de Jovens Lideranças Jongueiras foi escolhida como projeto. Em pequenos grupos, eles escreveram cada divisão de um projeto, entre as quais a apresentação, o objetivo, a justificativa, o cronograma e o orçamento. A ideia é realizar três encontros locais e quatro gerais durante o ano de 2013, a fim de fortalecer a rede, atrair os jovens das comunidades que ainda não participam e criar estratégias para dar visibilidade e, assim, preservar o jongo. Pinheiral é um lugar cheio de causos e histórias. O alçapão da morte na casa dos Breves, a lenda do lobisomem, o mestre jongueiro que fazia o tempo mudar ao declarar seus pontos. Em meio à tamanha riqueza cultural, a Rede de Articulação de Jovens Lideranças Jongueiras também avança por construir sua própria história. Assim como os negros escravizados na Fazenda São José dos Pinheiros, eles reafirmam sua identidade e optam por enfrentar os desafios. Podem não ser heróis, porém sua contribuição ao jongo e à cultura negra jamais será esquecida.