SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
Baixar para ler offline
114 TAM NAS NUVENS | EXPERIENCES • BRAZIL
“UM ESPETÁCULO DE DANÇA COMEÇA NO CORPO.
No cotovelo, na respiração, na amplitude. Não começa na teoria.
O livro pode ajudar intelectualmente, mas não vai fazer você
dançar.” A frase da coreógrafa Deborah Colker em entrevis-
ta ao educador Charles Watson trata do processo criativo e da
importância de testar, praticar e experimentar.
Iniciativas que têm colocado a educação em uma esfera menos
convencional compartilham desse pensamento. Há escolas espa-
lhadaspelopaísnasquaisaspectoscomoabordagem,metodologia
e experiência do aprendizado são tão importantes quanto o con-
teúdo. São escolas onde o aluno pratica a criatividade e não espe-
ra por insights. Que mostram que, para chegar à solução de novos
problemas, é preciso fazer as perguntas certas. E colocar as ideias
no papel sem medo de errar, já que só não erra quem não tenta.
Perestroika, de Porto Alegre, Escola Design Thinking, de São
Paulo, e os projetos educacionais de Charles Watson, no Rio,
são alguns desses empreendimentos que vêm atraindo curiosos e
inquietos. Gente interessada em saber como se preparar para um
mundoemqueasmudançasacontecememaltavelocidadeeonde
se adaptar é questão de sobrevivência. Um bom caminho para al-
cançar a resposta parece ser simplesmente: comece a dançar.
“A dance performance begins in the body. In the elbow, breathing,
amplitude. It doesn’t begin with theory. Books can help you intel-
lectually, but they won’t make you dance.” This statement by cho-
reographer Deborah Colker in an interview with educator Charles
Watson discusses the creative process and the importance of testing,
practicing and experimenting.
Initiatives which place education in less conventional realms
share this way of thinking. These schools, in which approach, meth-
odology and the learning experience are just as important as con-
tent, have spread across Brazil. They are schools in which students
practice creativity and do not wait for insights. Something which
shows that, to find a solution for a problem, you need to ask the
right questions. And put ideas on paper without a fear of making
mistakes, since only those who never try never make mistakes.
Perestroika in Porto Alegre, Escola Design Thinking in São Pau-
lo and the educational projects of Charles Watson in Rio are some
of these enterprises that have been attracting curious and restless
students. People interested in knowing how to prepare oneself for
a world in which change takes place at high speeds and adapta-
tion is a matter of survival. One good path to finding the answer
seems simple: learn to dance.
APRENDIZ
DE
CRIATIVOCada vez mais escolas seguem a tendência global de fomentar
novos métodos e fluxos de criação. Motivos mais do que
estimulantes para embarcar para destinos como São Paulo,
Rio de Janeiro e Porto Alegre agora mesmo
More and more schools are following the global trend of
fomenting new methods and flows of creativity. Extremely
stimulating reasons for you to take off for destinations like
São Paulo, Rio de Janeiro and Porto Alegre right now
CREATIVE
APPRENTICE
POR/BY MARIANA CASTRO FOTOS/PHOTOS JORGE BISPO
ILUSTRAÇÃO/ILLUSTRATIONERICA MERLO
Brasil
116 TAM NAS NUVENS | BRAZIL
Brasil
S IA D
S IA D
SEM LUGAR-COMUMNO COMMONPLACE
“Com o curso Procedência e Propriedade,
passei a perceber o desenho como veículo para
entender questões sobre mim. Acho que não
é um curso sobre técnicas de desenho, mas sim
sobre tomar consciência de sua postura diante de
um problema. Depois dele, mantive uma rotina
de trabalho e frequentei o grupo de
estudos ministrado por Watson.”
“InthecourseProvenanceandProperty,Icametoseedrawingasa
vehicleforunderstandingmyself.Idon’tseeitasacourseindrawing
techniques,butratherawaytobecomeawareofyourposturewhen
facedwithaproblem.Afterthecourse,Ikeptupaworkroutineand
attendedastudygroupadministeredbyWatson.”
EDUARDO BERLINER, 36
Designer gráfico e artista plástico
Graphic designer and visual artist
Dedicated to the study of the creative process for over 20 years, Scot-
tish educator and researcher Charles Watson has become a master in
debunking clichés. Those who take his courses, whether at his Mundo
Novo workshop or at Parque Lage, both located in Rio de Janeiro, at-
tend his lectures and workshops or participate in the trips he promotes
won’t find a readymade formula for creativity. “People come in search of
answers. What I provoke is reflection,” he says.
One common aspect of the majority of educational projects led by Wat-
son is immersion. He explains that this is how it’s possible to present im-
probable ideas. Thus, he takes the person to a neutral place, where noth-
ing that happens is familiar. In the course that he teaches in his workshop
— which attracts mainly designers, artists and architects —, students have
between 10 and 12 hours of classes per day, six days a week, for 35 days.
MeanwhileatParqueLage,wheretheaudienceiscomprisedofpeoplefrom
different areas, between ages 18 and 70, the total is around 120 hours, dis-
tributed over four months. On the trips, Watson accompanies a group to
museums, galleries and the studios of artists — whom he interviews.
Immersionworksbybalancingcertaintiesaboutthecreativeprocess.One
of them is related to talent. The educator cites studies that suggest that, if
talent really exists, it’s unimportant in the education of people who make a
difference. According to him, these individuals normally love what they do,
andthiscreatesagreatertoleranceforintensework.Thosewhoarepassion-
ately involved in a process are available to place themselves in uncomfort-
ablesituations.Forthosewhocreate,discomfortisanally,notanenemy.
In an experience exercise, Watson investigates if students are in a
stage of total presence through their drawings. In other words, a place
where you are what you do. “The advantage is obvious for whom the
activity is the end and not the product,” he explains.
Anotherdisputedideaisyoucreatewhenyou’reinspired.Theteacherob-
serves that inspiration emerges from work, and not the other way around.
Ifyoudon’thaveaconstantrelationshipwithwhatyoudo,youwon’tbefa-
miliar enough to recognize what is important. Another illusion is that free-
dom and creativity are connected. Limits and restrictions are fundamental
factorsinthecreativeprocess.Justlikemistakes—which,afterall,canbethe
answertoaproblemthatisyettoemerge.“Havingawiderangeofanswers
toproblemsthatdon’texistwillprepareyoufortheunknownoftomorrow.”
Dedicado há mais de 20 anos ao estudo do processo criativo,
o educador e pesquisador escocês Charles Watson tornou-se
mestre em derrubar clichês. Quem faz seus cursos, tanto em
seu ateliê Mundo Novo como no Parque Lage, ambos no Rio de
Janeiro, ou ainda quem participa das viagens que promove e de
suas palestras e workshops, não encontra uma fórmula pronta
quando o assunto é criatividade. “As pessoas vêm em busca de
respostas. O que provoco é a reflexão”, diz.
Um traço comum à maioria dos projetos educacionais condu-
zidos por Watson é a imersão. Ele explica que assim é possível
apresentar ideias improváveis. Para isso, leva a pessoa a um lu-
gar neutro, onde nada do que acontece é familiar. No curso que
ministra no ateliê — que recebe principalmente designers, ar-
tistas e arquitetos —, os alunos têm de 10 a 12 horas de aula por
dia, seis vezes por semana, durante 35 dias. Já no do Parque Lage,
com plateia formada por gente de diferentes áreas, de 18 a 70
anos, são cerca de 120 horas, distribuídas em quatro meses. Nas
viagens, Watson acompanha um grupo de pessoas a museus, ga-
lerias e ateliês de artistas — que são entrevistados por ele.
A imersão funciona para balançar certezas sobre o processo cria-
tivo. Uma delas diz respeito a talento. O educador cita pesquisas
que sugerem que, se é que o talento existe, ele é desimportante
na formação de quem faz a diferença. Segundo ele, esse indivíduo
normalmente adora o que faz, e isso cria maior tolerância para o
trabalho intenso. Quem está envolvido com o processo de modo
passional fica mais disponível para se colocar em situações descon-
fortáveis. Para quem cria, o desconforto é aliado, não inimigo.
Em um exercício de vivência, Watson investiga, por meio de
desenhos dos alunos, se eles estão em um estágio de total presença.
Ou seja, um lugar em que você é aquilo que faz. “A vantagem é óbvia
para quem a atividade é o fim e não o produto”, explica.
Outra ideia contestada é a de criar quando inspirado. O professor
observa que a inspiração aflora com o trabalho, e não o oposto. Se
você não tem uma relação constante com aquilo que faz, não terá fa-
miliaridadeparareconheceroqueéimportante.Maisumailusão:co-
nectar liberdade e criatividade. De acordo com ele, o limite e a res-
trição são fatores fundamentais no processo criativo. Assim como o
erro — que, afinal, pode ser a resposta para uma questão que ainda
não surgiu. “Ter um enorme leque de respostas para problemas que
não existem prepara você para um amanhã desconhecido.”
ILUSTRAÇÃO:DAVIAUGUSTO
TAM NAS NUVENS
CharlesWatson—contato@dynamicencounters.com.br
Cursono/Course atParqueLage—www.eavparquelage.rj.gov.br
Opesquisadore
educadorCharles
WatsonnoParque
Lage,noRiodeJaneiro
Researcher and
educator Charles
Watson at Parque Lage
in Rio de Janeiro

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Escolas criativas no Brasil: aprendizagem por imersão e desconstrução de mitos

Cad infantil2 arte_anual
Cad infantil2 arte_anualCad infantil2 arte_anual
Cad infantil2 arte_anualRita Monteiro
 
Instituto ayrton-senna-macrocompetencia-abertura-ao-novo
Instituto ayrton-senna-macrocompetencia-abertura-ao-novoInstituto ayrton-senna-macrocompetencia-abertura-ao-novo
Instituto ayrton-senna-macrocompetencia-abertura-ao-novoDrikalourenço Soares de Lima
 
Projeto desenho completo
Projeto desenho completoProjeto desenho completo
Projeto desenho completoRose Silva
 
Afinal, quem é este tal de adolescente?
Afinal, quem é este tal de adolescente?Afinal, quem é este tal de adolescente?
Afinal, quem é este tal de adolescente?Juliana Soares
 
RELATO DE EXPERIÊNCIA: oficina de arte com jornal no desenvolvimento do traba...
RELATO DE EXPERIÊNCIA: oficina de arte com jornal no desenvolvimento do traba...RELATO DE EXPERIÊNCIA: oficina de arte com jornal no desenvolvimento do traba...
RELATO DE EXPERIÊNCIA: oficina de arte com jornal no desenvolvimento do traba...Wecsley Oliveira
 
Pedagogia de Projetos na Ed. Infantil
Pedagogia de Projetos na Ed. InfantilPedagogia de Projetos na Ed. Infantil
Pedagogia de Projetos na Ed. InfantilVania Duarte
 
Pesquisa em educação conferência com nóvoa
Pesquisa em educação  conferência com nóvoa Pesquisa em educação  conferência com nóvoa
Pesquisa em educação conferência com nóvoa Maria Bárbara Floriano
 
Release - A educação do querer, ferramentas para o autoconhecimento e a auto-...
Release - A educação do querer, ferramentas para o autoconhecimento e a auto-...Release - A educação do querer, ferramentas para o autoconhecimento e a auto-...
Release - A educação do querer, ferramentas para o autoconhecimento e a auto-...Renata Di Nizo
 
Para ler quando tiver vontade... (2)
Para ler quando tiver vontade... (2)Para ler quando tiver vontade... (2)
Para ler quando tiver vontade... (2)Denise Vilardo
 
Tempo de procura, encontro e celebração
Tempo de procura, encontro e celebraçãoTempo de procura, encontro e celebração
Tempo de procura, encontro e celebraçãojosematiasalves
 
Palestra apresentação Semente, sobre educação com significado, da Casa Sou.l
Palestra apresentação Semente, sobre educação com significado, da Casa Sou.lPalestra apresentação Semente, sobre educação com significado, da Casa Sou.l
Palestra apresentação Semente, sobre educação com significado, da Casa Sou.lCarolina Bergier
 
Apresentação Henrique Szklo
Apresentação Henrique SzkloApresentação Henrique Szklo
Apresentação Henrique SzkloHenrique Szklo
 
Artigo o desenho no desenvolvimento infantil
Artigo o desenho no desenvolvimento infantilArtigo o desenho no desenvolvimento infantil
Artigo o desenho no desenvolvimento infantilariana limonta
 
Reflexões a cerca das dificuldades de aprendizagens em leitura e escrita uma...
Reflexões a cerca das dificuldades de aprendizagens em leitura e escrita  uma...Reflexões a cerca das dificuldades de aprendizagens em leitura e escrita  uma...
Reflexões a cerca das dificuldades de aprendizagens em leitura e escrita uma...Suely Magalhaes
 

Semelhante a Escolas criativas no Brasil: aprendizagem por imersão e desconstrução de mitos (20)

Projeto de vida
Projeto de vidaProjeto de vida
Projeto de vida
 
Cad infantil2 arte_anual
Cad infantil2 arte_anualCad infantil2 arte_anual
Cad infantil2 arte_anual
 
Instituto ayrton-senna-macrocompetencia-abertura-ao-novo
Instituto ayrton-senna-macrocompetencia-abertura-ao-novoInstituto ayrton-senna-macrocompetencia-abertura-ao-novo
Instituto ayrton-senna-macrocompetencia-abertura-ao-novo
 
Projeto desenho completo
Projeto desenho completoProjeto desenho completo
Projeto desenho completo
 
Afinal, quem é este tal de adolescente?
Afinal, quem é este tal de adolescente?Afinal, quem é este tal de adolescente?
Afinal, quem é este tal de adolescente?
 
ApresentaçãO2
ApresentaçãO2ApresentaçãO2
ApresentaçãO2
 
ApresentaçãO2
ApresentaçãO2ApresentaçãO2
ApresentaçãO2
 
Clipping - Escola de Criatividade
Clipping - Escola de CriatividadeClipping - Escola de Criatividade
Clipping - Escola de Criatividade
 
Arteterapia
ArteterapiaArteterapia
Arteterapia
 
RELATO DE EXPERIÊNCIA: oficina de arte com jornal no desenvolvimento do traba...
RELATO DE EXPERIÊNCIA: oficina de arte com jornal no desenvolvimento do traba...RELATO DE EXPERIÊNCIA: oficina de arte com jornal no desenvolvimento do traba...
RELATO DE EXPERIÊNCIA: oficina de arte com jornal no desenvolvimento do traba...
 
Pedagogia de Projetos na Ed. Infantil
Pedagogia de Projetos na Ed. InfantilPedagogia de Projetos na Ed. Infantil
Pedagogia de Projetos na Ed. Infantil
 
Pesquisa em educação conferência com nóvoa
Pesquisa em educação  conferência com nóvoa Pesquisa em educação  conferência com nóvoa
Pesquisa em educação conferência com nóvoa
 
Release - A educação do querer, ferramentas para o autoconhecimento e a auto-...
Release - A educação do querer, ferramentas para o autoconhecimento e a auto-...Release - A educação do querer, ferramentas para o autoconhecimento e a auto-...
Release - A educação do querer, ferramentas para o autoconhecimento e a auto-...
 
Para ler quando tiver vontade... (2)
Para ler quando tiver vontade... (2)Para ler quando tiver vontade... (2)
Para ler quando tiver vontade... (2)
 
Tempo de procura, encontro e celebração
Tempo de procura, encontro e celebraçãoTempo de procura, encontro e celebração
Tempo de procura, encontro e celebração
 
Palestra apresentação Semente, sobre educação com significado, da Casa Sou.l
Palestra apresentação Semente, sobre educação com significado, da Casa Sou.lPalestra apresentação Semente, sobre educação com significado, da Casa Sou.l
Palestra apresentação Semente, sobre educação com significado, da Casa Sou.l
 
Apresentação Henrique Szklo
Apresentação Henrique SzkloApresentação Henrique Szklo
Apresentação Henrique Szklo
 
Artigo o desenho no desenvolvimento infantil
Artigo o desenho no desenvolvimento infantilArtigo o desenho no desenvolvimento infantil
Artigo o desenho no desenvolvimento infantil
 
Reflexões a cerca das dificuldades de aprendizagens em leitura e escrita uma...
Reflexões a cerca das dificuldades de aprendizagens em leitura e escrita  uma...Reflexões a cerca das dificuldades de aprendizagens em leitura e escrita  uma...
Reflexões a cerca das dificuldades de aprendizagens em leitura e escrita uma...
 
Pesquisa
PesquisaPesquisa
Pesquisa
 

Escolas criativas no Brasil: aprendizagem por imersão e desconstrução de mitos

  • 1. 114 TAM NAS NUVENS | EXPERIENCES • BRAZIL “UM ESPETÁCULO DE DANÇA COMEÇA NO CORPO. No cotovelo, na respiração, na amplitude. Não começa na teoria. O livro pode ajudar intelectualmente, mas não vai fazer você dançar.” A frase da coreógrafa Deborah Colker em entrevis- ta ao educador Charles Watson trata do processo criativo e da importância de testar, praticar e experimentar. Iniciativas que têm colocado a educação em uma esfera menos convencional compartilham desse pensamento. Há escolas espa- lhadaspelopaísnasquaisaspectoscomoabordagem,metodologia e experiência do aprendizado são tão importantes quanto o con- teúdo. São escolas onde o aluno pratica a criatividade e não espe- ra por insights. Que mostram que, para chegar à solução de novos problemas, é preciso fazer as perguntas certas. E colocar as ideias no papel sem medo de errar, já que só não erra quem não tenta. Perestroika, de Porto Alegre, Escola Design Thinking, de São Paulo, e os projetos educacionais de Charles Watson, no Rio, são alguns desses empreendimentos que vêm atraindo curiosos e inquietos. Gente interessada em saber como se preparar para um mundoemqueasmudançasacontecememaltavelocidadeeonde se adaptar é questão de sobrevivência. Um bom caminho para al- cançar a resposta parece ser simplesmente: comece a dançar. “A dance performance begins in the body. In the elbow, breathing, amplitude. It doesn’t begin with theory. Books can help you intel- lectually, but they won’t make you dance.” This statement by cho- reographer Deborah Colker in an interview with educator Charles Watson discusses the creative process and the importance of testing, practicing and experimenting. Initiatives which place education in less conventional realms share this way of thinking. These schools, in which approach, meth- odology and the learning experience are just as important as con- tent, have spread across Brazil. They are schools in which students practice creativity and do not wait for insights. Something which shows that, to find a solution for a problem, you need to ask the right questions. And put ideas on paper without a fear of making mistakes, since only those who never try never make mistakes. Perestroika in Porto Alegre, Escola Design Thinking in São Pau- lo and the educational projects of Charles Watson in Rio are some of these enterprises that have been attracting curious and restless students. People interested in knowing how to prepare oneself for a world in which change takes place at high speeds and adapta- tion is a matter of survival. One good path to finding the answer seems simple: learn to dance. APRENDIZ DE CRIATIVOCada vez mais escolas seguem a tendência global de fomentar novos métodos e fluxos de criação. Motivos mais do que estimulantes para embarcar para destinos como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre agora mesmo More and more schools are following the global trend of fomenting new methods and flows of creativity. Extremely stimulating reasons for you to take off for destinations like São Paulo, Rio de Janeiro and Porto Alegre right now CREATIVE APPRENTICE POR/BY MARIANA CASTRO FOTOS/PHOTOS JORGE BISPO ILUSTRAÇÃO/ILLUSTRATIONERICA MERLO Brasil
  • 2. 116 TAM NAS NUVENS | BRAZIL Brasil S IA D S IA D SEM LUGAR-COMUMNO COMMONPLACE “Com o curso Procedência e Propriedade, passei a perceber o desenho como veículo para entender questões sobre mim. Acho que não é um curso sobre técnicas de desenho, mas sim sobre tomar consciência de sua postura diante de um problema. Depois dele, mantive uma rotina de trabalho e frequentei o grupo de estudos ministrado por Watson.” “InthecourseProvenanceandProperty,Icametoseedrawingasa vehicleforunderstandingmyself.Idon’tseeitasacourseindrawing techniques,butratherawaytobecomeawareofyourposturewhen facedwithaproblem.Afterthecourse,Ikeptupaworkroutineand attendedastudygroupadministeredbyWatson.” EDUARDO BERLINER, 36 Designer gráfico e artista plástico Graphic designer and visual artist Dedicated to the study of the creative process for over 20 years, Scot- tish educator and researcher Charles Watson has become a master in debunking clichés. Those who take his courses, whether at his Mundo Novo workshop or at Parque Lage, both located in Rio de Janeiro, at- tend his lectures and workshops or participate in the trips he promotes won’t find a readymade formula for creativity. “People come in search of answers. What I provoke is reflection,” he says. One common aspect of the majority of educational projects led by Wat- son is immersion. He explains that this is how it’s possible to present im- probable ideas. Thus, he takes the person to a neutral place, where noth- ing that happens is familiar. In the course that he teaches in his workshop — which attracts mainly designers, artists and architects —, students have between 10 and 12 hours of classes per day, six days a week, for 35 days. MeanwhileatParqueLage,wheretheaudienceiscomprisedofpeoplefrom different areas, between ages 18 and 70, the total is around 120 hours, dis- tributed over four months. On the trips, Watson accompanies a group to museums, galleries and the studios of artists — whom he interviews. Immersionworksbybalancingcertaintiesaboutthecreativeprocess.One of them is related to talent. The educator cites studies that suggest that, if talent really exists, it’s unimportant in the education of people who make a difference. According to him, these individuals normally love what they do, andthiscreatesagreatertoleranceforintensework.Thosewhoarepassion- ately involved in a process are available to place themselves in uncomfort- ablesituations.Forthosewhocreate,discomfortisanally,notanenemy. In an experience exercise, Watson investigates if students are in a stage of total presence through their drawings. In other words, a place where you are what you do. “The advantage is obvious for whom the activity is the end and not the product,” he explains. Anotherdisputedideaisyoucreatewhenyou’reinspired.Theteacherob- serves that inspiration emerges from work, and not the other way around. Ifyoudon’thaveaconstantrelationshipwithwhatyoudo,youwon’tbefa- miliar enough to recognize what is important. Another illusion is that free- dom and creativity are connected. Limits and restrictions are fundamental factorsinthecreativeprocess.Justlikemistakes—which,afterall,canbethe answertoaproblemthatisyettoemerge.“Havingawiderangeofanswers toproblemsthatdon’texistwillprepareyoufortheunknownoftomorrow.” Dedicado há mais de 20 anos ao estudo do processo criativo, o educador e pesquisador escocês Charles Watson tornou-se mestre em derrubar clichês. Quem faz seus cursos, tanto em seu ateliê Mundo Novo como no Parque Lage, ambos no Rio de Janeiro, ou ainda quem participa das viagens que promove e de suas palestras e workshops, não encontra uma fórmula pronta quando o assunto é criatividade. “As pessoas vêm em busca de respostas. O que provoco é a reflexão”, diz. Um traço comum à maioria dos projetos educacionais condu- zidos por Watson é a imersão. Ele explica que assim é possível apresentar ideias improváveis. Para isso, leva a pessoa a um lu- gar neutro, onde nada do que acontece é familiar. No curso que ministra no ateliê — que recebe principalmente designers, ar- tistas e arquitetos —, os alunos têm de 10 a 12 horas de aula por dia, seis vezes por semana, durante 35 dias. Já no do Parque Lage, com plateia formada por gente de diferentes áreas, de 18 a 70 anos, são cerca de 120 horas, distribuídas em quatro meses. Nas viagens, Watson acompanha um grupo de pessoas a museus, ga- lerias e ateliês de artistas — que são entrevistados por ele. A imersão funciona para balançar certezas sobre o processo cria- tivo. Uma delas diz respeito a talento. O educador cita pesquisas que sugerem que, se é que o talento existe, ele é desimportante na formação de quem faz a diferença. Segundo ele, esse indivíduo normalmente adora o que faz, e isso cria maior tolerância para o trabalho intenso. Quem está envolvido com o processo de modo passional fica mais disponível para se colocar em situações descon- fortáveis. Para quem cria, o desconforto é aliado, não inimigo. Em um exercício de vivência, Watson investiga, por meio de desenhos dos alunos, se eles estão em um estágio de total presença. Ou seja, um lugar em que você é aquilo que faz. “A vantagem é óbvia para quem a atividade é o fim e não o produto”, explica. Outra ideia contestada é a de criar quando inspirado. O professor observa que a inspiração aflora com o trabalho, e não o oposto. Se você não tem uma relação constante com aquilo que faz, não terá fa- miliaridadeparareconheceroqueéimportante.Maisumailusão:co- nectar liberdade e criatividade. De acordo com ele, o limite e a res- trição são fatores fundamentais no processo criativo. Assim como o erro — que, afinal, pode ser a resposta para uma questão que ainda não surgiu. “Ter um enorme leque de respostas para problemas que não existem prepara você para um amanhã desconhecido.” ILUSTRAÇÃO:DAVIAUGUSTO
  • 3. TAM NAS NUVENS CharlesWatson—contato@dynamicencounters.com.br Cursono/Course atParqueLage—www.eavparquelage.rj.gov.br Opesquisadore educadorCharles WatsonnoParque Lage,noRiodeJaneiro Researcher and educator Charles Watson at Parque Lage in Rio de Janeiro