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Entrevista com Alan Maia
Experiências e desafios na gestão de ONG
Apresentação
Entrevista com Samira Martins
Comunicação como ferramenta de
mobilização social
Entrevista com Vitória Toledo
Como a Comunicação contribui para iniciativas
sociais com projetos de educação
Entrevista com Leandro Nascimento
Relatório de ONG: a contribuição da Comunicação
Entrevista com Larissa Amorim
A contribuição do estágio para a formação
profissional em Comunicação para o Terceiro Setor
Pág.5
Pág.3
Pág.11
Pág.16
Pág.22
Pág.28
Vivências em Comunicação para o Terceiro Setor II é resultado
das entrevistas realizadas pelo Grupo de Comunicação para o
Terceiro Setor (Gecom) em 2022, reunidas em um e-book
especial para nossos leitores.
Assim como na primeira edição, entrevistamos profissionais da
área de Comunicação para o Terceiro Setor, só que
alternando com conteúdos próprios mensalmente.
Então, tivemos cinco entrevistas enriquecedoras com quem
gera resultados relevantes na Comunicação das ONGs
em que atuam.
Temos a expectativa de que este e-book seja mais uma
referência para os seus estudos, pesquisa ou trabalho e que
contribua de alguma outra forma para o desenvolvimento da
comunicação da sua ONG.
Agradecimentos especiais às fotógrafas Anne Caroline e
Isabela Leal, ao jornalista e revisor Flávio Amaral, à designer
Daiana Santos e à coordenadora de Educação Natasha
Soares. O conhecimento e o talento de cada um provam que o
trabalho em equipe traz resultados impossíveis de serem
realizados sozinhos.
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experiências e amplie
conhecimentos!
É uma iniciativa de comunicação independente com o
objetivo de incentivar, divulgar e valorizar os estudos,
pesquisas e trabalhos de estudantes, pesquisadores e
profissionais de Comunicação para o Terceiro Setor.
O Gecom tem como foco a prestação de serviços de
assessoria e consultoria na área de Comunicação para o
Terceiro Setor e mídias independentes.
Oferece conteúdos informativos e de qualidade aos
pesquisadores, estudantes e profissionais de Comunicação
para capacitar e incentivar a melhoria dos trabalhos nessa
esfera de atuação.
Para saber mais, curta as nossas redes sociais e
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Segundo o livro “O gerente comunicador: um guia prático da
Comunicação Gerencial” (Aberje, 2010), um líder estrategista
deve possuir as seguintes competências: se relacionar com
pessoas, tecnologias e finanças; apurar, comunicar e receber
informações; sintetizar, analisar e criar processos; comandar
rede de assessores; ser equidistante e imparcial para tomar
decisões, principalmente nos momentos de crise.
A partir dessa afirmação, assumimos que um bom gerente e líder
comunicador deve ser estrategista a ponto de estar sempre
buscando aprender algo novo. Aqui queremos destacar aquele
profissional de comunicação que acrescenta outras formações
acadêmicas e faz uso das experiências de vida e profissional
para ter êxito na carreira. São comunicadores que estão em
cargos de liderança não de uma equipe de comunicação, mas à
frente de uma organização social do Terceiro Setor.
É o caso do gestor de Projetos Sociais e fundador da Agência do
Bem, Alan Maia. Graduado em Publicidade e Propaganda e
mestre em Serviço Social pela PUC-Rio, especializado em
Gestão Estratégica de Organizações pela Harvard Business
School, foi orador de turma da faculdade, laureado com o
Prêmio Lions Humanitário e por seis vezes teve projetos
premiados com o Troféu Responsabilidade Social. Aos 43 anos,
Alan é professor de pós-graduação, fellow da Fundação Ford,
nomeado Liderança Pública pelo Movimento Recomeça Rio e
membro do time de consultores do Instituto Ethos - Empresas e
Responsabilidade Social.
Confira, a seguir, a entrevista.
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Gecom: Como a formação em Publicidade tem contribuído para
o seu trabalho de gestão da Agência e quais são seus desafios
nessa função de gestor da ONG?
Alan Maia: Eu acredito que a formação em comunicação, na
verdade em Publicidade, em particular, tem um caráter
generalista. Quer dizer, a gente pode atuar num mercado muito
amplo e, na vertente da Publicidade, a gente também tem a
dimensão comercial do marketing. São princípios que se aplicam
a toda e qualquer organização com ou sem fins lucrativos. Eu
entendo que seja uma formação generalista e que no Terceiro
Setor também se faz. Não apenas ao sentido de encaixe, mas
até uma necessidade grande, porque as organizações do
Terceiro Setor muitas delas são criadas de forma voluntária,
espontânea, com boa fé, mas, às vezes, sem estrutura, sem
estratégia, sem a capacidade de gestão necessária até nesse
sentido de conhecimento de comunicação, de marketing, sem
esse “tino comercial" necessário para buscar os recursos que
servirão para manter a sustentabilidade e a vida financeira
dessa organização, dessa entidade para que continue realizando
suas atividades. Então, eu vejo como uma formação que me foi
muito útil. Eu me vejo em vários momentos atuando na Agência
do Bem ou para outros projetos em que atuo como consultor,
como voluntário - porque sou membro de conselhos -, como
alguém da comunicação, como alguém da publicidade e do
marketing, aplicando ferramentas que essa minha formação
profissional me agregou e estratégias que a vida profissional,
também nesse ramo, me trouxe de experiência aplicada ao
trabalho da realidade social, a realidade do Terceiro Setor.
Então, se não é uma formação, a princípio, pensada com essa
finalidade específica, eu particularmente me sinto muito bem
preparado pelo meu background profissional na área de
comunicação e com uma possibilidade de utilização disso no
universo do Terceiro Setor muito rica, muito ampla. Eu diria que
certamente foi muito útil em tudo aquilo que eu faço.
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Gecom: Fale um pouco sobre a Escola de Música e Cidadania e como
ela tem impactado positivamente as comunidades em que atua.
Alan Maia: A Agência do Bem tem por missão promover o
desenvolvimento humano e a cidadania para as populações de baixa
renda por meio da educação. Então, ao longo desses quase 17 anos de
história, a gente desenvolveu diversos projetos educacionais. Mas
aquele que mais se fortaleceu, se notabilizou e que a gente pode
chamar de carro-chefe da Agência do Bem é esse projeto de
educação musical das Escolas de Música e Cidadania, que a rigor, tem
como propósito a formação cidadã por meio do ensino da música.
Então, a gente tem o foco a formação humana, cidadã dos nossos
alunos e alunas. É um projeto que tem hoje um alcance bastante
grande, está em 27 comunidades em seis estados do Brasil, de norte a
sul. São cerca de dois mil alunos atendidos em 2022 em atividades
semanais contínuas, que se estendem pelo ano inteiro. É um projeto
bastante amplo, bastante complexo, mas que tem resultados incríveis.
A gente atende alunos de 7 a 17 anos, ou seja, desde a infância até o
encaminhamento da vida adulta, da vida profissional, beneficiando
inclusive daquele aluno que tem aptidão, tem talento, tem o desejo em
seguir carreira no ramo artístico. A gente tem, além do ensino de base,
do técnico-musical, a formação humana, cidadã, além de fomentar
também a formação de grupos e bandas, basicamente grupos
orquestrais. O principal deles está aqui no Rio de Janeiro: a Orquestra
e Coro Nova Sinfonia, que tem mais de 10 anos da sua formação inicial.
Centenas de alunos passaram por essa orquestra e grande parte deles
vive da música. São musicistas de orquestra, estão cursando Música na
universidade, estão estudando fora do país, dando aula de música seja
de forma particular ou em escolas de música, em escolas regulares ou
em outros projetos… temos, inclusive, alunos que foram formados por
nós mesmos, foram para a universidade, voltaram e, hoje, estão dando
aula em nosso próprio projeto. É um projeto super bem-sucedido,
premiado. Em termos de impacto social, o nosso levantamento mais
recente mostra que, em três indicadores principais, comparados com os
indicadores nacionais do nosso país, um aluno da Escola de Música e
Cidadania da Agência do Bem tem nove vezes menos chance de
repetir de ano na escola, 53 vezes menos chance de gerar uma
gravidez na adolescência e índice zero de envolvimento com
criminalidade ou atos infracionais. Enfim, é uma iniciativa das mais
bem-sucedidas e que nos enche de orgulho.
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Gecom: De que forma a comunicação contribui para os resultados
deste projeto e da Agência do Bem?
Alan Maia: Um dos grandes desafios do Terceiro Setor é
profissionalizar seu quadro e conseguir aplicar ferramentas de gestão e
um olhar de longo prazo e estratégico em tudo que se faz. Isso não é
fácil, porque a maioria das organizações começa muito pequena.
Então, às vezes, falta mão de obra, falta qualificação dentro do grupo,
falta tempo, falta "braço" para dar conta da demanda do dia-a-dia,
para o atendimento da população, das condições, das rotinas mais
emergenciais, administrativas e tudo o mais. Quando a gente começa a
pensar nessas outras coisas, elas demandam mais tempo, elas
demandam contribuições mais sofisticadas, muitas vezes, então não é
fácil para uma organização pequena, para uma organização com
recursos limitados, que não tem uma esteira de vida, uma história, uma
trajetória muito longa se dedicar a isso e encontrar recursos e pessoas
que possam desenvolver toda essa dimensão estratégica institucional.
Eu tendo a crer que uma comunicação, quando bem feita, consegue
ampliar a visibilidade dos projetos institucionais para um público maior,
consegue promover um engajamento mais qualificado para aquele
público que já conhece e já acompanha, consegue trazer visibilidade
para a organização, para o conjunto da sociedade, para outros
públicos, potenciais doadores e potenciais parceiros. A comunicação
bem feita também tende a engajar o patrocinador quando ele vê a
marca dele aplicada de forma correta, presente de uma forma
esteticamente bem feita, estrategicamente bem colocada, bem
posicionada. Existe uma série de requisitos que permite que uma
comunicação bem planejada seja capaz de trazer retorno para
alavancar oportunidades, atrair recursos humanos ou financeiros,
contribuir para o sucesso e para a longevidade da instituição.
Gecom: O que você recomenda aos profissionais de comunicação que
já ocupam ou almejam alcançar um cargo de gerência de ONG?
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Alan Maia: Esse não é um encaminhamento natural. Via de regra,
profissionais de comunicação, quando estão estudando ou recém-formados,
como em qualquer carreira, tendem a visar aquelas inserções, aquelas
colocações que trazem mais status. A gente quer trabalhar numa emissora
de televisão, numa grande agência, quer trabalhar no setor de marketing e
comunicação de uma grande marca, de uma grande multinacional, por
exemplo. No Terceiro Setor eu tenho uma grata alegria de, eventualmente,
receber colegas não somente da comunicação, mas do mercado em geral,
querendo fazer uma transição de carreira. Mas isso costuma se dar com o
avançar da experiência, na transição da primeira para a segunda década de
vida profissional, geralmente na casa dos trinta anos. Ainda não é muito
natural, infelizmente, a gente encontrar entre universitários, entre aspirantes
a uma carreira na área de comunicação fazer essa formação e se dedicar já
de pronto para o Terceiro Setor, mas, sempre quando aparecem profissionais
buscando uma transição de carreira, geralmente o discurso é: uma busca de
propósito, ou seja, tudo aquilo que minha vida me ofereceu, a formação que
eu tenho, a rede de relacionamentos, capacidade técnica, trabalho, enfim,
quero colocar isso à disposição de uma causa, de um propósito maior do que
enriquecer meu chefe e pagar as contas da minha casa. Muitos que chegam
ao Terceiro Setor, mais cedo ou mais tarde, buscam algum tipo de
colocação diante da vida, diante da existência, algum princípio filosófico,
até mesmo religioso que venha a abraçar. Acho que todos nós temos alguma
coisa a testemunhar nesse sentido. Eu mesmo tenho um caminho parecido,
ainda que precoce. Cada um tem o seu tempo e é muito bom quando isso
chega, mas eu diria que o importante, e é uma carência do setor, é que haja
profissionalização, então quanto mais gente qualificada chegar para
trabalhar no Terceiro Setor, melhor. A área de comunicação das
organizações sociais, sem dúvida, reflete esse sentido de carência. Eu não
tenho dúvida de que há espaço e há necessidade mesmo de que as
organizações do Terceiro Setor incorporem nos seus quadros profissionais de
comunicação. É um ramo a ser desenvolvido e a gente precisa de gente
nova, sangue novo, pensando e trazendo esse sentido de paixão, esse
sentido de vocação para o trabalho social, porque isso é capaz de fazer a
diferença. É isso que nos ajuda nesse grande movimento de transformação,
de luta por um mundo melhor, por uma sociedade mais justa. Eu espero que
muitos colegas comunicadores possam se juntar a nós.
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"A comunicação passou a ser uma preocupação central na dinâmica
dos movimentos sociais. As simples associações espontâneas entre
indivíduos mobilizados diante de uma causa se transformaram em
projetos com objetivos e estrutura bastante elaborados - verdadeiras
instituições com públicos definidos."
A citação acima é do livro "Comunicação e estratégias de mobilização
social", de Márcio Simeone Henriques.
Ainda de acordo com o autor,
"A sobrevivência desses projetos no novo cenário social, onde a
atenção dos indivíduos é disputada entre várias redes de interação,
requer uma intervenção mais especializada e profissional da
comunicação", afirma.
E para ilustrar o papel da comunicação como ferramenta de
mobilização social, entrevistamos a gestora de comunicação na ONG
Nossas, Samira Martins.
Formada em Jornalismo pelo Centro Universitário Una, em Belo
Horizonte (MG), com especialização em Gestão Estratégica em
Comunicação e Negócios pela PUC Minas e em Marketing, Branding e
Growth Hacking pela PUC-RS, atuou como head de comunicação
externa no grupo Invepar, possui uma sólida experiência em
comunicação de projetos no segmento de óleo e gás (novos
combustíveis sustentáveis da Petrobras), infraestrutura (Metrô
Olímpico) e educação. Samira foi também finalista em quatro
categorias do prêmio de melhores práticas em comunicação nos
projetos da Petrobras.
Confira a entrevista.
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Gecom: Conte sobre sua trajetória profissional até chegar à equipe
de comunicação do Nossas.
Samira Martins: Posso falar que, em 15 anos de carreira, passei por
diversos segmentos que me permitem ter uma visão mais global e
estratégica da comunicação e da gestão de marcas. Iniciei minha
carreira profissional no segmento de Educação, atuando como analista
de comunicação e marketing no Centro Universitário Una. Na
sequência, assumi o meu primeiro desafio de liderança bem diferente:
a gestão da comunicação no projeto de construção da planta do
diesel sustentável em uma refinaria da Petrobras. Foi um projeto muito
desafiador e que me rendeu o convite para trabalhar na sede da
Petrobras no Rio de Janeiro, na diretoria que olhava todos os projetos
de engenharia do Brasil. Ainda na petrolífera, fiz uma migração para a
área de Responsabilidade Social. O próximo desafio foi a gestão de
comunicação no projeto da Linha 4, no metrô Olímpico na cidade do
Rio de Janeiro, o que me rendeu, após dois anos, o convite para
trabalhar na sede da Invepar, uma das maiores empresas de
infraestrutura do país, sendo responsável por estratégias de branding,
marketing e digital em diversos segmentos de mobilidade como o Gru
Airport e o MetrôRio. Após tanto tempo de aprendizado, precisava
alinhar os meus conhecimentos a um propósito de vida: fazer uma
comunicação que transforma a sociedade. Por isso, assumi a gerência
de comunicação da ONG Nossas em setembro de 2021.
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Gecom: Qual o papel da comunicação do Nossas nas
campanhas de mobilização da sociedade para uma causa?
Samira Martins: A comunicação tem um papel muito
estratégico na elaboração e divulgação das mobilizações do
Nossas. Além de adotar uma identidade visual que crie conexão
com as causas, trabalhamos também em todas as estratégias de
redes sociais, influenciadores, parcerias e relacionamento com
a imprensa, entendemos como cada causa se conecta com os
ativistas e com a nossa audiência. Além disso, pensamos como
cada campanha pode, de fato, trazer impacto de mudança ou
de escalar o tema para um debate social.
Gecom: Quais os desafios que a comunicação encontra nessas
campanhas?
Samira Martins: A maior dificuldade é, de fato, lidar com
tantas causas e campanhas tão necessárias no Brasil de hoje. A
nossa frase mais conhecida nas redes sociais é que o ativista
não tem um dia de paz e, no Brasil, não tem mesmo. Todos os
dias temos alguma injustiça ou absurdo acontecendo. A grande
dificuldade é trazer um nível de consciência e engajamento
para causas essenciais e, às vezes, não tão óbvias, como a
questão de a licença maternidade contar no tempo de
aposentadoria das mães, do auxílio-camelô no Carnaval do Rio
de Janeiro ou até mesmo de temas que ganharam o debate
nacional, como a pobreza menstrual ou o “pacote da
destruição”¹ que estava em tramitação no Congresso.
¹Em referência ao projeto de desmonte das instituições e enfraquecimento das
políticas públicas ocorrido no período entre 2018 e 2022.
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Gecom: Quais recomendações você compartilha com os
comunicadores que trabalham com campanhas de mobilização
social?
Samira Martins: Que a comunicação do Terceiro Setor
brasileiro esteja aberta ao que chamo de transferência de
domínio. Muitas vezes uma marca comercial e capitalista cria
uma estratégia de comunicação genial e muitas vezes
fechamos os olhos por não comunicar de fato com o nosso
campo. Porém, há de se entender o que foi feito de bom, de
estratégico e trazer isso em uma releitura para a comunicação
do Terceiro Setor. Outro ponto é entender que o nosso trabalho
é 100% focado em pessoas e na conexão com elas, por isso,
fazer pesquisas constantes, observar métricas e se permitir
testar novos formatos de conteúdo para aumentar esse
engajamento. Somente com testes e dados podemos ajustar as
rotas e entender como falar com o nosso público.
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Desenvolver o potencial criativo das crianças e adolescentes periféricos
através da produção audiovisual como forma de expressão e
comunicação, aproximando-os também da linguagem artística do
cinema. Com isso, contribuir para uma formação cultural mais ampla e
novas possibilidades de escolhas profissionais no futuro.
Esse é o objetivo da oficina de audiovisual da ONG Educar+, no
Complexo do Chapadão, em Anchieta, zona norte do Rio de Janeiro, que
tem como missão expandir a perspectiva de mundo de crianças e
adolescentes através da educação e da cultura, contribuindo, assim, para
o seu desenvolvimento social e humano.
Como a Comunicação se relaciona com a educação e pode contribuir
para essa e outras iniciativas sociais com o mesmo objetivo?
Para responder a essa pergunta, entrevistamos Vitória Toledo, voluntária
da equipe de Comunicação da Educar+, graduada em Comunicação
Social com habilitação em Rádio e TV pela Universidade Estadual
Paulista (Unesp).
Gecom: Conte um pouco sobre sua trajetória e como passou a fazer
parte da equipe de Comunicação da Educar+.
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Vitória Toledo: Eu tenho formação em Comunicação Social com foco
em audiovisual, mas sempre trabalhei com mídias sociais. Estou
habituada com gerenciamento de mídias, trabalhei muito tempo com
marketing digital, então era algo em que já tinha vivência. Também já
tinha experiência com trabalho voluntário em ONGs, na minha cidade
natal, São Sebastião do Paraíso, no interior de Minas Gerais. Trabalhava
em uma ONG de educação infantil, na qual as crianças passam o tempo
extra além da escola em um ambiente onde desenvolviam outras
habilidades atreladas à educação. Essa ONG tinha aulas de idiomas,
dança e música. Fui voluntária como professora de ballet de uma turma
de crianças, então já tinha essa experiência de voluntariado. O Educar+
surgiu pra mim no início da pandemia, em 2020, por meio das redes
sociais. Uma pessoa com quem eu tinha contato no Rio de Janeiro estava
divulgando um projeto social do qual a prima dela fazia parte e que
estava precisando de voluntários de diversas áreas. Eles tinham um
projeto de audiovisual com as crianças, então eu fiquei interessada.
Mandei uma mensagem para as pessoas responsáveis para saber em que
eu poderia ajudar, já que eu tenho essa formação em audiovisual, esse
conhecimento. Como as atividades presenciais estavam paralisadas, eu
morava no interior de Minas Gerais e a ONG fica no Rio de Janeiro, eu
teria que ajudar de forma remota. Foi aí que surgiu o convite para ajudar
na equipe de comunicação, para ajudar justamente nas redes sociais do
projeto, que é o caminho por onde conseguiam captar recursos, doações.
É uma parte importante do funcionamento da ONG. Então, como era
algo possível para ambos os lados, eu passei a fazer parte da equipe de
comunicação, formada 100% por voluntários.
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Gecom: Como a Comunicação contribui com as ações da ONG
Educar+?
Vitória Toledo: Os canais, as mídias sociais do Educar+ são muito
importantes para a ONG. É onde a gente, primeiro, divulga o trabalho,
tudo o que é feito. É uma forma de documentar, de prestar contas com
aquelas pessoas que se comprometem. São voluntários doando, seja
dinheiro, cestas ou qualquer outra forma de doação. As mídias do
Educar+ são, também, um meio de captar mais voluntários, mais
doadores, então, a partir do momento em que a gente mostra para o
mundo tudo o que é feito no Educar+, como a proposta é interessante e
tem um impacto social grande na comunidade, isso acaba atraindo as
pessoas, que se identificam com a causa, com o projeto e, com isso, a
gente acaba crescendo a nossa comunidade de voluntários, de pessoas
que ajudam de diversas formas. A comunicação é uma forma de manter
o contato mais próximo com as pessoas que se identificam com causas
sociais como a nossa e gera uma rede de apoio grande, uma rede de
apoio que continua crescendo. Por isso, a gente segue sempre
abastecendo as nossas redes.
Isso acaba gerando uma rede de conexões também com outros
projetos, outras ONGs e possibilita outros tipos de parcerias. A gente
documenta, fala um pouco sobre a gente, mostra os trabalhos que são
realizados e isso começa a atrair pessoas parecidas, projetos parecidos,
parcerias. Então, é muito importante tanto para a manutenção do
projeto quanto para o seu crescimento.
Eu acho que a área de comunicação consegue manter um projeto
sendo visto pelas pessoas. A partir do momento em que ele é visto, ele
consegue se manter e consegue crescer sua rede de apoio, que é
essencial para a manutenção de suas atividades.
Gecom: Fale um pouco dos projetos que a Educar+ desenvolve com seu
público e que envolvem o uso das ferramentas de comunicação.
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Vitória Toledo: Eu acho importante ressaltar que o Educar+ é muito amplo.
Ele tem muitas e diferentes atividades que desenvolvem potencial humano,
social, crítico das crianças e adolescentes. Então, tem desde oficinas de
alfabetização, incentivo à leitura, oficinas de arte, aulas de capoeira e,
também, o projeto de audiovisual, em parceria com o Cinelab, que utiliza
ferramentas de comunicação de forma mais direta para ensinar as crianças.
Nessas oficinas de audiovisual as crianças acabam conhecendo essa
ferramenta de expressão e comunicação e, consequentemente, descobrem
seu potencial criativo e também uma nova forma de linguagem. Além disso,
ampliam seu conhecimento, sua formação cultural e as possibilidades de
escolhas profissionais, por exemplo. O que eu acho que esse projeto
audiovisual traz mais legal para as crianças é a possibilidade de dar uma
ferramenta que elas possam ter para contar a sua própria história. Elas
podem ser donas de sua própria narrativa a partir do momento em que elas
começam a entender, a dominar as ferramentas. O audiovisual nada mais é
do que um tipo de linguagem, uma ferramenta de comunicação. Através
desse projeto desenvolvido, as crianças têm contato com esse novo mundo,
com essa forma de linguagem e podem usar dela tanto para mostrar a
própria realidade quanto para mostrar a visão que elas têm do mundo.
Ninguém melhor do que elas para mostrar o que elas veem, o que elas vivem.
É uma forma de incentivar o potencial criativo que existe nessas crianças e
adolescentes. Incentivar a imaginação, a criação, o contar histórias. Isso é
muito importante, mesmo.
Gecom: O que você sugere para outras iniciativas sociais que pretendam
desenvolver atividades de comunicação e educação para seu público?
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Vitória Toledo: Possibilitar às crianças ter contato com uma
ferramenta de comunicação específica, descobrir uma nova
forma de se expressar, de contar sua própria narrativa e,
também, de desenvolver suas potencialidades criativas, seu
repertório cultural, entre outras coisas.
Cada iniciativa é muito única, tem um universo próprio, tem os
seus objetivos, então, para cada iniciativa as coisas funcionam
de uma forma. O que eu posso dizer é reforçar a importância da
comunicação para tudo. Quanto mais e melhor a gente se
comunicar, melhor é o mundo em que a gente vive, eu acho.
Melhor as coisas podem funcionar.
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Estagiar jornalismo dentro de uma ONG e depois ser contratado
pela mesma organização é uma oportunidade para poucos. Foi
assim com Larissa Amorim, formada em Jornalismo pela
Faculdade de Comunicação Social da Universidade Estadual do
Rio de Janeiro (Uerj) e pós-graduada em Comunicação
Organizacional Integrada (ESPM), que começou como
estagiária da ONG Casa Fluminense e, atualmente, está como
coordenadora de comunicação da instituição.
Em entrevista ao Gecom, Larissa conta como teve seu talento e
competência valorizados e aproveitados pela Casa Fluminense,
que atua para a construção de políticas públicas na metrópole
do Rio de Janeiro, com foco na redução das desigualdades, no
aprofundamento democrático e no desenvolvimento sustentável.
Gecom: Como surgiu o interesse de estudar e trabalhar com
Comunicação, em especial no Terceiro Setor?
Larissa Amorim: Eu estudei Jornalismo na Faculdade de
Comunicação da Uerj. Durante o período de faculdade, tive a
experiência de estagiar em um programa de educação
ambiental da Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Ali foi
meu primeiro contato com debate de políticas públicas,
sustentabilidade, mobilização e articulação popular no Rio. A
partir daquela rápida experiência, comecei a identificar que a
Comunicação era o que eu queria vivenciar e estar
profissionalmente. A construção que eu queria fazer tinha
relação com políticas públicas, na verdade a minha entrada no
Terceiro Setor tem um pouco a ver com esse entendimento. Ou
seja, não estou falando sobre minha reflexão do Terceiro Setor.
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Larissa Amorim: Tem muito a ver com o perfil específico que
atua, como a Casa hoje, no debate de políticas públicas sobre
redução de desigualdades, ampliação de oportunidades,
garantia de direitos. Então, na sequência a isso, estava
procurando uma outra oportunidade de estágio, entendendo
que ou eu seguia estagiando, ou procurando oportunidades
dentro do poder público, da máquina de estrutura. Tive uma
indicação de um grande amigo, que me falou sobre o trabalho
da Casa, me contou como a Casa atuava, aí eu entendi que
fazia muito sentido atuar no campo da Comunicação. Construir
uma relação com organizações do Terceiro Setor e fazer um
debate programático, de agenda de direitos, de participação
social, popular… foi assim que surgiu meu interesse em estudar
Comunicação no Terceiro Setor. Foi por essa ponte das
políticas públicas, do debate sobre redução de desigualdades,
um debate próximo das periferias. Ao conhecer a atuação da
Casa foi conquistada pelo Terceiro Setor. É a partir da Casa
que eu conheço, na verdade, o Terceiro Setor, outras
organizações e grupos do Rio. Hoje tenho mais clareza da
minha escolha pelo Terceiro Setor como o campo onde quero
continuar atuando, mas é claro, tudo pode mudar.
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Larissa Amorim: O estágio na Casa foi muito importante para o
meu desenvolvimento institucional, porque foi ali que encontrei
oportunidades de colocar em prática, me aproximar um pouco
mais das reflexões, das teorias e dos debates que a gente
encontra e conhece na Universidade. Eu pude vivenciar isso tudo
no estágio da Casa, que inclusive é sempre esse desafio da
distância entre os currículos e a vida prática profissional. Então,
pude encontrar no estágio da Casa uma aproximação maior com
ferramentas, diferentes linhas de atuação dentro da Comunicação.
Me aproximei um pouco mais para pensar produção de conteúdo,
gestão de redes sociais, experiências com a própria comunicação
institucional e organizações. Foi ali, também, que comecei a entrar
em contato com questões de conteúdo, materiais para pensar o
Rio, uma produção de comunicação ora institucional, ora mais
jornalística. Coleta de entrevistas, histórias, narrativas importantes,
narrar territórios e pessoas… foi no estágio na Casa que também
aprendi, de uma forma mais próxima, a produção de comunicação
associada a dados. Foi bem importante para isso. A minha
efetivação profissionalmente foi um processo de construção
interna. A Casa entende a importância de valorizar
estrategicamente a comunicação dentro da estrutura
organizacional. Acho que isso segue sendo um desafio para o
Terceiro Setor. É muito comum a estrutura de equipe de
Comunicação no Terceiro Setor no formato "euquipe". Então, teve
um pouco da inclinação da Casa a formar seus quadros, valorizar
a equipe. Assim, depois do primeiro ano de estágio, eu me tornei
assistente. Foi quando já estava para me formar. Em seguida, me
tornei assessora. Nesse meio tempo, tive uma pequena experiência
fora da Casa. Ela achou que faria sentido atuar numa campanha
política fora da estrutura da Casa pra eu poder viver essa
experiência política (a Casa não tem nenhuma ligação partidária)
e depois voltar. Fiquei pouco tempo como assessora. Houve, então,
uma mudança na coordenação de Comunicação da Casa e, em
2019, assumi a coordenação, onde estou até hoje assumindo esse
desafio dentro desta instituição. Não foi o meu primeiro estágio,
tive outras experiências em outros lugares, mas foi meu primeiro
estágio no Terceiro Setor.
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Gecom: Conforme descrito no Plano Estratégico da Casa
Fluminense 2021-2024, os objetivos elaborados para este período
são: fortalecer lideranças sociais e organizações populares;
monitorar políticas públicas com a rede de parceiros; defender
causas prioritárias na metrópole e desenvolver a sustentabilidade
política, financeira e institucional. Como a comunicação colabora
com esses objetivos?
Larissa Amorim: De muitas formas. A comunicação é uma
coordenação transversal no plano de atuação da Casa. Ela é
muito estratégica. Ela colabora desde a etapa do planejamento
desses objetivos, que organizam quais projetos e quais atividades-
fim a gente vai realizar para concretizá-los. A comunicação
participa do debate sobre que resultados a gente vai comunicar
depois e vai colocar no mundo para contar o que a gente fez.
Então, ela participa desde o início desse processo, da tomada de
decisão sobre quais resultados são mais estratégicos para ser
comunicados e sistematizados e quais atividades, no plano de
trabalho, vão ser realizadas para ajudar a gente a efetivar esses
objetivos. Também é tarefa da comunicação pensar a estratégia
de execução junto às coordenações de mobilização, de
informação, de operações, a coordenação executiva institucional e
como a gente coloca esses projetos no mundo.
Gecom: O que você aconselha aos estudantes de Comunicação
que estão procurando um estágio ou estejam estagiando no
Terceiro Setor?
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Larissa Amorim: A depender do currículo da faculdade, da forma como está
organizada, de que área na comunicação se atua (Publicidade, Relações
Públicas, Jornalismo, estudos de mídias, uma diversidade de linhas de atuação),
da escala territorial, do escopo territorial do Terceiro Setor, acho fundamental se
aproximar do debate que está acontecendo. O Terceiro Setor, em geral, está
dialogando com os desafios estruturais que a gente está vivendo no Rio, no
Sudeste, no Brasil. Vai depender da região onde o estudante vai estar
procurando estágio, vai estar atuando. É importante estar atento aos debates
políticos, desafios socioeconômicos, ao debate sobre as estruturas das
desigualdades do Rio de Janeiro, no Brasil e em outras partes, mas entendendo as
especificidades de cada território, de cada região, de cada lugar. Também
entender como o racismo, o machismo, a homofobia e a misoginia operam nesse
debate sobre o Terceiro Setor. A Comunicação no Terceiro Setor é uma
comunicação de causas que está atrelada ao impacto social que a gente quer
produzir. Eu diria que hoje tem uma tendência forte de Comunicação no Terceiro
Setor voltada para o debate sobre comunicação atrelada à mobilização.
Estratégias de WhatsApp, pensar réguas de engajamento, como que a gente
articula pessoas que estão ativamente relacionadas, que serão multiplicadoras
estrategicamente dos conteúdos de comunicação em determinada organização.
Acho bem estratégico para esses estudantes que queiram pleitear atuação no
Terceiro Setor. Eu diria que no campo da incidência política, também. Começar a
se aproximar um pouco mais desse debate, entendo que aí tem um campo
grande de atuação no Terceiro Setor que tem a ver com a assessoria de
imprensa e a gente vê muita na nossa formação de Comunicação, mas às vezes
também tem a ver com outras tecnologias, com entendimento da estrutura do
Estado, para compreender quem são os tomadores de decisão que precisam ser
pressionados ou mobilizados para que aquele direito, para que aquela luta
naquela comunidade avance.
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Coletar dados, analisá-los, tornar a leitura compreensível após a sua revisão e com
um projeto gráfico adequado são ingredientes que não podem faltar em um
relatório de uma ONG.
Conforme o censo Gife 2018, as ONGs que mostram transparência e confiança
são as que mais geram credibilidade para os apoiadores e um dos instrumentos
que contribui para essa confiabilidade é o relatório.
Na maioria dos casos, um relatório é entregue ao final de algum projeto ou no final
do ano. Como estamos em dezembro, o Gecom, em sua última entrevista de
2022, conversou com o coordenador de comunicação do Instituto da Criança,
Leandro Nascimento, para nos contar como a comunicação contribui para a
elaboração deste importante documento.
Gecom: Conte um pouco sobre sua trajetória e como se tornou coordenador de
comunicação do Instituto da Criança.
Leandro Nascimento: Sou carioca, trabalho desde os 18 anos e sou formado em
Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Durante o estágio, tive minha
primeira vivência com a área social atuando em uma empresa que desenvolve
responsabilidade social na área educacional. Foi então que aprendi sobre
comunicação organizacional e produção de eventos. De lá para cá, já fiz
assessoria de imprensa e produzi festas. No Instituto da Criança, entrei como
analista de comunicação e, há pouco mais de sete anos, me tornei coordenador.
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Gecom:Qual a importância do relatório nas ONGs?
Leandro Nascimento: No Instituto da Criança criamos dois tipos de relatório: o
relatório anual de atividades, no qual apresentamos todas as ações/projetos do
ano, e o relatório final de cada projeto que gerenciamos, aprofundando mais os
resultados quantitativos e qualitativos da ação em questão. Praticar a
transparência prestando contas para parceiros e a sociedade é um fator
fundamental para qualquer organização social. Além disso, é uma forma de
divulgar as ações da organização e demonstrar profissionalismo e preparo por
parte de toda a equipe.
Gecom: Anualmente o Instituto da Criança publica o Balanço Social como seu
relatório de desempenho de gestão e demonstração de resultados, garantindo a
transparência no uso dos recursos. Explique como a comunicação participa desse
processo no Instituto.
Leandro Nascimento: A comunicação do Instituto fica responsável por todas as
etapas da construção do Balanço Social, bem como cronograma, produção
textual, projeto gráfico e revisão. Geralmente, iniciamos o trabalho de construção
do documento já na primeira semana de janeiro. Costumo me reunir com as áreas
para extrair o máximo de informações pertinentes aos projetos e resultados
financeiros. Após aprovado o Balanço, é hora de divulgar. Enviamos para todo o
nosso mailing através de e-mail marketing e também compartilhamos em nossas
mídias sociais. É fundamental que a comunicação se relacione com todas as áreas
da organização para que possa extrair ao máximo todas as informações e
comunicá-las de forma simples e didática.
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Gecom:O que você recomenda aos comunicadores no momento de construir um
relatório para a ONG em que trabalham?
Leandro Nascimento: A organização, em seu relatório de atividades, precisa
definir para quais públicos vai apresentar seus dados de impacto. O mapeamento
é importante para que o relatório gere motivação e, efetivamente, se relacione
com pessoas importantes para a sua organização. Recomendo iniciar o relatório
por um bom roteiro. Nele é fundamental haver uma carta da presidência relatando
os principais pontos do ano, apresentando os resultados quantitativos e qualitativos
dos projetos, valorizando toda a equipe de colaboradores que fizeram o trabalho
acontecer, com textos curtos e de fácil compreensão, além de projeto gráfico
caprichado a partir da estratégia de comunicação adotada pela organização.
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GRUPO DE COMUNICAÇÃO PARA O TERCEIRO SETOR (GECOM)
CNPJ: 29.898.554/0001-30
www.gecomterceirosetor.blogspot.com
EDITOR E JORNALISTA
Charles Monteiro
MTb: 34474/RJ
gecomterceirosetor@gmail.com
JORNALISTA E REVISOR
Flávio Amaral
MTb: 35308/RJ
flavio.cpamaral@gmail.com
FOTÓGRAFAS
Anne Caroline Leopoldo
annecom2n@gmail.com
Isabela Leal
belaleal2@gmail.com
COORDENADORA DE EDUCAÇÃO
Natasha Soares
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DESIGNER
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X
P
E
D
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N
T
E
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VIVÊNCIAS EM
COMUNICAÇÃO PARA O
TERCEIRO SETOR II

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Funçoes e características do rp
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Comunicação contribui para projetos sociais com educação

  • 1. N Ú M E R O 2 - 2 0 2 3 V I V Ê N C I A S I I E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R C O M P A R T I L H E E X P E R I Ê N C I A S E A M P L I E C O N H E C I M E N T O S
  • 2. V I V Ê N C I A S I I E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R Í N D I C E Entrevista com Alan Maia Experiências e desafios na gestão de ONG Apresentação Entrevista com Samira Martins Comunicação como ferramenta de mobilização social Entrevista com Vitória Toledo Como a Comunicação contribui para iniciativas sociais com projetos de educação Entrevista com Leandro Nascimento Relatório de ONG: a contribuição da Comunicação Entrevista com Larissa Amorim A contribuição do estágio para a formação profissional em Comunicação para o Terceiro Setor Pág.5 Pág.3 Pág.11 Pág.16 Pág.22 Pág.28
  • 3. Vivências em Comunicação para o Terceiro Setor II é resultado das entrevistas realizadas pelo Grupo de Comunicação para o Terceiro Setor (Gecom) em 2022, reunidas em um e-book especial para nossos leitores. Assim como na primeira edição, entrevistamos profissionais da área de Comunicação para o Terceiro Setor, só que alternando com conteúdos próprios mensalmente. Então, tivemos cinco entrevistas enriquecedoras com quem gera resultados relevantes na Comunicação das ONGs em que atuam. Temos a expectativa de que este e-book seja mais uma referência para os seus estudos, pesquisa ou trabalho e que contribua de alguma outra forma para o desenvolvimento da comunicação da sua ONG. Agradecimentos especiais às fotógrafas Anne Caroline e Isabela Leal, ao jornalista e revisor Flávio Amaral, à designer Daiana Santos e à coordenadora de Educação Natasha Soares. O conhecimento e o talento de cada um provam que o trabalho em equipe traz resultados impossíveis de serem realizados sozinhos. V I V Ê N C I A S I I A P R E S E N T A Ç Ã O E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R Compartilhe experiências e amplie conhecimentos!
  • 4. É uma iniciativa de comunicação independente com o objetivo de incentivar, divulgar e valorizar os estudos, pesquisas e trabalhos de estudantes, pesquisadores e profissionais de Comunicação para o Terceiro Setor. O Gecom tem como foco a prestação de serviços de assessoria e consultoria na área de Comunicação para o Terceiro Setor e mídias independentes. Oferece conteúdos informativos e de qualidade aos pesquisadores, estudantes e profissionais de Comunicação para capacitar e incentivar a melhoria dos trabalhos nessa esfera de atuação. Para saber mais, curta as nossas redes sociais e cadastre-se para receber o nosso blog post mensalmente. BLOG Acesse: www.gecomterceirosetor.blogspot.com INSTAGRAM Acesse: @gecomterceirosetor FACEBOOK Acesse: GECOM Terceiro Setor V I V Ê N C I A S I I S O B R E O G E C O M E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R
  • 5.
  • 6. Segundo o livro “O gerente comunicador: um guia prático da Comunicação Gerencial” (Aberje, 2010), um líder estrategista deve possuir as seguintes competências: se relacionar com pessoas, tecnologias e finanças; apurar, comunicar e receber informações; sintetizar, analisar e criar processos; comandar rede de assessores; ser equidistante e imparcial para tomar decisões, principalmente nos momentos de crise. A partir dessa afirmação, assumimos que um bom gerente e líder comunicador deve ser estrategista a ponto de estar sempre buscando aprender algo novo. Aqui queremos destacar aquele profissional de comunicação que acrescenta outras formações acadêmicas e faz uso das experiências de vida e profissional para ter êxito na carreira. São comunicadores que estão em cargos de liderança não de uma equipe de comunicação, mas à frente de uma organização social do Terceiro Setor. É o caso do gestor de Projetos Sociais e fundador da Agência do Bem, Alan Maia. Graduado em Publicidade e Propaganda e mestre em Serviço Social pela PUC-Rio, especializado em Gestão Estratégica de Organizações pela Harvard Business School, foi orador de turma da faculdade, laureado com o Prêmio Lions Humanitário e por seis vezes teve projetos premiados com o Troféu Responsabilidade Social. Aos 43 anos, Alan é professor de pós-graduação, fellow da Fundação Ford, nomeado Liderança Pública pelo Movimento Recomeça Rio e membro do time de consultores do Instituto Ethos - Empresas e Responsabilidade Social. Confira, a seguir, a entrevista. E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R F E V E R E I R O / 2 0 2 2 L Í D E R C O M U N I C A D O R : E X P E R I Ê N C I A S E D E S A F I O S N A G E S T Ã O D E O N G E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 5 / 0 2 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 6
  • 7. Gecom: Como a formação em Publicidade tem contribuído para o seu trabalho de gestão da Agência e quais são seus desafios nessa função de gestor da ONG? Alan Maia: Eu acredito que a formação em comunicação, na verdade em Publicidade, em particular, tem um caráter generalista. Quer dizer, a gente pode atuar num mercado muito amplo e, na vertente da Publicidade, a gente também tem a dimensão comercial do marketing. São princípios que se aplicam a toda e qualquer organização com ou sem fins lucrativos. Eu entendo que seja uma formação generalista e que no Terceiro Setor também se faz. Não apenas ao sentido de encaixe, mas até uma necessidade grande, porque as organizações do Terceiro Setor muitas delas são criadas de forma voluntária, espontânea, com boa fé, mas, às vezes, sem estrutura, sem estratégia, sem a capacidade de gestão necessária até nesse sentido de conhecimento de comunicação, de marketing, sem esse “tino comercial" necessário para buscar os recursos que servirão para manter a sustentabilidade e a vida financeira dessa organização, dessa entidade para que continue realizando suas atividades. Então, eu vejo como uma formação que me foi muito útil. Eu me vejo em vários momentos atuando na Agência do Bem ou para outros projetos em que atuo como consultor, como voluntário - porque sou membro de conselhos -, como alguém da comunicação, como alguém da publicidade e do marketing, aplicando ferramentas que essa minha formação profissional me agregou e estratégias que a vida profissional, também nesse ramo, me trouxe de experiência aplicada ao trabalho da realidade social, a realidade do Terceiro Setor. Então, se não é uma formação, a princípio, pensada com essa finalidade específica, eu particularmente me sinto muito bem preparado pelo meu background profissional na área de comunicação e com uma possibilidade de utilização disso no universo do Terceiro Setor muito rica, muito ampla. Eu diria que certamente foi muito útil em tudo aquilo que eu faço. E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R F E V E R E I R O / 2 0 2 2 L Í D E R C O M U N I C A D O R : E X P E R I Ê N C I A S E D E S A F I O S N A G E S T Ã O D E O N G E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 5 / 0 2 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 7
  • 8. Gecom: Fale um pouco sobre a Escola de Música e Cidadania e como ela tem impactado positivamente as comunidades em que atua. Alan Maia: A Agência do Bem tem por missão promover o desenvolvimento humano e a cidadania para as populações de baixa renda por meio da educação. Então, ao longo desses quase 17 anos de história, a gente desenvolveu diversos projetos educacionais. Mas aquele que mais se fortaleceu, se notabilizou e que a gente pode chamar de carro-chefe da Agência do Bem é esse projeto de educação musical das Escolas de Música e Cidadania, que a rigor, tem como propósito a formação cidadã por meio do ensino da música. Então, a gente tem o foco a formação humana, cidadã dos nossos alunos e alunas. É um projeto que tem hoje um alcance bastante grande, está em 27 comunidades em seis estados do Brasil, de norte a sul. São cerca de dois mil alunos atendidos em 2022 em atividades semanais contínuas, que se estendem pelo ano inteiro. É um projeto bastante amplo, bastante complexo, mas que tem resultados incríveis. A gente atende alunos de 7 a 17 anos, ou seja, desde a infância até o encaminhamento da vida adulta, da vida profissional, beneficiando inclusive daquele aluno que tem aptidão, tem talento, tem o desejo em seguir carreira no ramo artístico. A gente tem, além do ensino de base, do técnico-musical, a formação humana, cidadã, além de fomentar também a formação de grupos e bandas, basicamente grupos orquestrais. O principal deles está aqui no Rio de Janeiro: a Orquestra e Coro Nova Sinfonia, que tem mais de 10 anos da sua formação inicial. Centenas de alunos passaram por essa orquestra e grande parte deles vive da música. São musicistas de orquestra, estão cursando Música na universidade, estão estudando fora do país, dando aula de música seja de forma particular ou em escolas de música, em escolas regulares ou em outros projetos… temos, inclusive, alunos que foram formados por nós mesmos, foram para a universidade, voltaram e, hoje, estão dando aula em nosso próprio projeto. É um projeto super bem-sucedido, premiado. Em termos de impacto social, o nosso levantamento mais recente mostra que, em três indicadores principais, comparados com os indicadores nacionais do nosso país, um aluno da Escola de Música e Cidadania da Agência do Bem tem nove vezes menos chance de repetir de ano na escola, 53 vezes menos chance de gerar uma gravidez na adolescência e índice zero de envolvimento com criminalidade ou atos infracionais. Enfim, é uma iniciativa das mais bem-sucedidas e que nos enche de orgulho. E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R F E V E R E I R O / 2 0 2 2 L Í D E R C O M U N I C A D O R : E X P E R I Ê N C I A S E D E S A F I O S N A G E S T Ã O D E O N G E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 5 / 0 2 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 8
  • 9. Gecom: De que forma a comunicação contribui para os resultados deste projeto e da Agência do Bem? Alan Maia: Um dos grandes desafios do Terceiro Setor é profissionalizar seu quadro e conseguir aplicar ferramentas de gestão e um olhar de longo prazo e estratégico em tudo que se faz. Isso não é fácil, porque a maioria das organizações começa muito pequena. Então, às vezes, falta mão de obra, falta qualificação dentro do grupo, falta tempo, falta "braço" para dar conta da demanda do dia-a-dia, para o atendimento da população, das condições, das rotinas mais emergenciais, administrativas e tudo o mais. Quando a gente começa a pensar nessas outras coisas, elas demandam mais tempo, elas demandam contribuições mais sofisticadas, muitas vezes, então não é fácil para uma organização pequena, para uma organização com recursos limitados, que não tem uma esteira de vida, uma história, uma trajetória muito longa se dedicar a isso e encontrar recursos e pessoas que possam desenvolver toda essa dimensão estratégica institucional. Eu tendo a crer que uma comunicação, quando bem feita, consegue ampliar a visibilidade dos projetos institucionais para um público maior, consegue promover um engajamento mais qualificado para aquele público que já conhece e já acompanha, consegue trazer visibilidade para a organização, para o conjunto da sociedade, para outros públicos, potenciais doadores e potenciais parceiros. A comunicação bem feita também tende a engajar o patrocinador quando ele vê a marca dele aplicada de forma correta, presente de uma forma esteticamente bem feita, estrategicamente bem colocada, bem posicionada. Existe uma série de requisitos que permite que uma comunicação bem planejada seja capaz de trazer retorno para alavancar oportunidades, atrair recursos humanos ou financeiros, contribuir para o sucesso e para a longevidade da instituição. Gecom: O que você recomenda aos profissionais de comunicação que já ocupam ou almejam alcançar um cargo de gerência de ONG? E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R F E V E R E I R O / 2 0 2 2 L Í D E R C O M U N I C A D O R : E X P E R I Ê N C I A S E D E S A F I O S N A G E S T Ã O D E O N G E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 5 / 0 2 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 9
  • 10. Alan Maia: Esse não é um encaminhamento natural. Via de regra, profissionais de comunicação, quando estão estudando ou recém-formados, como em qualquer carreira, tendem a visar aquelas inserções, aquelas colocações que trazem mais status. A gente quer trabalhar numa emissora de televisão, numa grande agência, quer trabalhar no setor de marketing e comunicação de uma grande marca, de uma grande multinacional, por exemplo. No Terceiro Setor eu tenho uma grata alegria de, eventualmente, receber colegas não somente da comunicação, mas do mercado em geral, querendo fazer uma transição de carreira. Mas isso costuma se dar com o avançar da experiência, na transição da primeira para a segunda década de vida profissional, geralmente na casa dos trinta anos. Ainda não é muito natural, infelizmente, a gente encontrar entre universitários, entre aspirantes a uma carreira na área de comunicação fazer essa formação e se dedicar já de pronto para o Terceiro Setor, mas, sempre quando aparecem profissionais buscando uma transição de carreira, geralmente o discurso é: uma busca de propósito, ou seja, tudo aquilo que minha vida me ofereceu, a formação que eu tenho, a rede de relacionamentos, capacidade técnica, trabalho, enfim, quero colocar isso à disposição de uma causa, de um propósito maior do que enriquecer meu chefe e pagar as contas da minha casa. Muitos que chegam ao Terceiro Setor, mais cedo ou mais tarde, buscam algum tipo de colocação diante da vida, diante da existência, algum princípio filosófico, até mesmo religioso que venha a abraçar. Acho que todos nós temos alguma coisa a testemunhar nesse sentido. Eu mesmo tenho um caminho parecido, ainda que precoce. Cada um tem o seu tempo e é muito bom quando isso chega, mas eu diria que o importante, e é uma carência do setor, é que haja profissionalização, então quanto mais gente qualificada chegar para trabalhar no Terceiro Setor, melhor. A área de comunicação das organizações sociais, sem dúvida, reflete esse sentido de carência. Eu não tenho dúvida de que há espaço e há necessidade mesmo de que as organizações do Terceiro Setor incorporem nos seus quadros profissionais de comunicação. É um ramo a ser desenvolvido e a gente precisa de gente nova, sangue novo, pensando e trazendo esse sentido de paixão, esse sentido de vocação para o trabalho social, porque isso é capaz de fazer a diferença. É isso que nos ajuda nesse grande movimento de transformação, de luta por um mundo melhor, por uma sociedade mais justa. Eu espero que muitos colegas comunicadores possam se juntar a nós. E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R F E V E R E I R O / 2 0 2 2 L Í D E R C O M U N I C A D O R : E X P E R I Ê N C I A S E D E S A F I O S N A G E S T Ã O D E O N G E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 5 / 0 2 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 1 0
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  • 12. "A comunicação passou a ser uma preocupação central na dinâmica dos movimentos sociais. As simples associações espontâneas entre indivíduos mobilizados diante de uma causa se transformaram em projetos com objetivos e estrutura bastante elaborados - verdadeiras instituições com públicos definidos." A citação acima é do livro "Comunicação e estratégias de mobilização social", de Márcio Simeone Henriques. Ainda de acordo com o autor, "A sobrevivência desses projetos no novo cenário social, onde a atenção dos indivíduos é disputada entre várias redes de interação, requer uma intervenção mais especializada e profissional da comunicação", afirma. E para ilustrar o papel da comunicação como ferramenta de mobilização social, entrevistamos a gestora de comunicação na ONG Nossas, Samira Martins. Formada em Jornalismo pelo Centro Universitário Una, em Belo Horizonte (MG), com especialização em Gestão Estratégica em Comunicação e Negócios pela PUC Minas e em Marketing, Branding e Growth Hacking pela PUC-RS, atuou como head de comunicação externa no grupo Invepar, possui uma sólida experiência em comunicação de projetos no segmento de óleo e gás (novos combustíveis sustentáveis da Petrobras), infraestrutura (Metrô Olímpico) e educação. Samira foi também finalista em quatro categorias do prêmio de melhores práticas em comunicação nos projetos da Petrobras. Confira a entrevista. C O M U N I C A Ç Ã O C O M O F E R R A M E N T A D E M O B I L I Z A Ç Ã O S O C I A L E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 9 / 0 4 / 2 0 2 2 E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R A B R I L / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 1 2
  • 13. Gecom: Conte sobre sua trajetória profissional até chegar à equipe de comunicação do Nossas. Samira Martins: Posso falar que, em 15 anos de carreira, passei por diversos segmentos que me permitem ter uma visão mais global e estratégica da comunicação e da gestão de marcas. Iniciei minha carreira profissional no segmento de Educação, atuando como analista de comunicação e marketing no Centro Universitário Una. Na sequência, assumi o meu primeiro desafio de liderança bem diferente: a gestão da comunicação no projeto de construção da planta do diesel sustentável em uma refinaria da Petrobras. Foi um projeto muito desafiador e que me rendeu o convite para trabalhar na sede da Petrobras no Rio de Janeiro, na diretoria que olhava todos os projetos de engenharia do Brasil. Ainda na petrolífera, fiz uma migração para a área de Responsabilidade Social. O próximo desafio foi a gestão de comunicação no projeto da Linha 4, no metrô Olímpico na cidade do Rio de Janeiro, o que me rendeu, após dois anos, o convite para trabalhar na sede da Invepar, uma das maiores empresas de infraestrutura do país, sendo responsável por estratégias de branding, marketing e digital em diversos segmentos de mobilidade como o Gru Airport e o MetrôRio. Após tanto tempo de aprendizado, precisava alinhar os meus conhecimentos a um propósito de vida: fazer uma comunicação que transforma a sociedade. Por isso, assumi a gerência de comunicação da ONG Nossas em setembro de 2021. E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R A B R I L / 2 0 2 2 C O M U N I C A Ç Ã O C O M O F E R R A M E N T A D E M O B I L I Z A Ç Ã O S O C I A L E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 9 / 0 4 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 1 3
  • 14. Gecom: Qual o papel da comunicação do Nossas nas campanhas de mobilização da sociedade para uma causa? Samira Martins: A comunicação tem um papel muito estratégico na elaboração e divulgação das mobilizações do Nossas. Além de adotar uma identidade visual que crie conexão com as causas, trabalhamos também em todas as estratégias de redes sociais, influenciadores, parcerias e relacionamento com a imprensa, entendemos como cada causa se conecta com os ativistas e com a nossa audiência. Além disso, pensamos como cada campanha pode, de fato, trazer impacto de mudança ou de escalar o tema para um debate social. Gecom: Quais os desafios que a comunicação encontra nessas campanhas? Samira Martins: A maior dificuldade é, de fato, lidar com tantas causas e campanhas tão necessárias no Brasil de hoje. A nossa frase mais conhecida nas redes sociais é que o ativista não tem um dia de paz e, no Brasil, não tem mesmo. Todos os dias temos alguma injustiça ou absurdo acontecendo. A grande dificuldade é trazer um nível de consciência e engajamento para causas essenciais e, às vezes, não tão óbvias, como a questão de a licença maternidade contar no tempo de aposentadoria das mães, do auxílio-camelô no Carnaval do Rio de Janeiro ou até mesmo de temas que ganharam o debate nacional, como a pobreza menstrual ou o “pacote da destruição”¹ que estava em tramitação no Congresso. ¹Em referência ao projeto de desmonte das instituições e enfraquecimento das políticas públicas ocorrido no período entre 2018 e 2022. E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R A B R I L / 2 0 2 2 C O M U N I C A Ç Ã O C O M O F E R R A M E N T A D E M O B I L I Z A Ç Ã O S O C I A L E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 9 / 0 4 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 1 4
  • 15. Gecom: Quais recomendações você compartilha com os comunicadores que trabalham com campanhas de mobilização social? Samira Martins: Que a comunicação do Terceiro Setor brasileiro esteja aberta ao que chamo de transferência de domínio. Muitas vezes uma marca comercial e capitalista cria uma estratégia de comunicação genial e muitas vezes fechamos os olhos por não comunicar de fato com o nosso campo. Porém, há de se entender o que foi feito de bom, de estratégico e trazer isso em uma releitura para a comunicação do Terceiro Setor. Outro ponto é entender que o nosso trabalho é 100% focado em pessoas e na conexão com elas, por isso, fazer pesquisas constantes, observar métricas e se permitir testar novos formatos de conteúdo para aumentar esse engajamento. Somente com testes e dados podemos ajustar as rotas e entender como falar com o nosso público. E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R A B R I L / 2 0 2 2 C O M U N I C A Ç Ã O C O M O F E R R A M E N T A D E M O B I L I Z A Ç Ã O S O C I A L E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 9 / 0 4 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 1 5
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  • 17. Desenvolver o potencial criativo das crianças e adolescentes periféricos através da produção audiovisual como forma de expressão e comunicação, aproximando-os também da linguagem artística do cinema. Com isso, contribuir para uma formação cultural mais ampla e novas possibilidades de escolhas profissionais no futuro. Esse é o objetivo da oficina de audiovisual da ONG Educar+, no Complexo do Chapadão, em Anchieta, zona norte do Rio de Janeiro, que tem como missão expandir a perspectiva de mundo de crianças e adolescentes através da educação e da cultura, contribuindo, assim, para o seu desenvolvimento social e humano. Como a Comunicação se relaciona com a educação e pode contribuir para essa e outras iniciativas sociais com o mesmo objetivo? Para responder a essa pergunta, entrevistamos Vitória Toledo, voluntária da equipe de Comunicação da Educar+, graduada em Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Gecom: Conte um pouco sobre sua trajetória e como passou a fazer parte da equipe de Comunicação da Educar+. C O M O A C O M U N I C A Ç Ã O C O N T R I B U I P A R A I N I C I A T I V A S S O C I A I S C O M P R O J E T O S D E E D U C A Ç Ã O E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 6 / 0 8 / 2 0 2 2 E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R A G O S T O / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 1 7
  • 18. Vitória Toledo: Eu tenho formação em Comunicação Social com foco em audiovisual, mas sempre trabalhei com mídias sociais. Estou habituada com gerenciamento de mídias, trabalhei muito tempo com marketing digital, então era algo em que já tinha vivência. Também já tinha experiência com trabalho voluntário em ONGs, na minha cidade natal, São Sebastião do Paraíso, no interior de Minas Gerais. Trabalhava em uma ONG de educação infantil, na qual as crianças passam o tempo extra além da escola em um ambiente onde desenvolviam outras habilidades atreladas à educação. Essa ONG tinha aulas de idiomas, dança e música. Fui voluntária como professora de ballet de uma turma de crianças, então já tinha essa experiência de voluntariado. O Educar+ surgiu pra mim no início da pandemia, em 2020, por meio das redes sociais. Uma pessoa com quem eu tinha contato no Rio de Janeiro estava divulgando um projeto social do qual a prima dela fazia parte e que estava precisando de voluntários de diversas áreas. Eles tinham um projeto de audiovisual com as crianças, então eu fiquei interessada. Mandei uma mensagem para as pessoas responsáveis para saber em que eu poderia ajudar, já que eu tenho essa formação em audiovisual, esse conhecimento. Como as atividades presenciais estavam paralisadas, eu morava no interior de Minas Gerais e a ONG fica no Rio de Janeiro, eu teria que ajudar de forma remota. Foi aí que surgiu o convite para ajudar na equipe de comunicação, para ajudar justamente nas redes sociais do projeto, que é o caminho por onde conseguiam captar recursos, doações. É uma parte importante do funcionamento da ONG. Então, como era algo possível para ambos os lados, eu passei a fazer parte da equipe de comunicação, formada 100% por voluntários. E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R A G O S T O / 2 0 2 2 C O M O A C O M U N I C A Ç Ã O C O N T R I B U I P A R A I N I C I A T I V A S S O C I A I S C O M P R O J E T O S D E E D U C A Ç Ã O E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 6 / 0 8 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 1 8
  • 19. Gecom: Como a Comunicação contribui com as ações da ONG Educar+? Vitória Toledo: Os canais, as mídias sociais do Educar+ são muito importantes para a ONG. É onde a gente, primeiro, divulga o trabalho, tudo o que é feito. É uma forma de documentar, de prestar contas com aquelas pessoas que se comprometem. São voluntários doando, seja dinheiro, cestas ou qualquer outra forma de doação. As mídias do Educar+ são, também, um meio de captar mais voluntários, mais doadores, então, a partir do momento em que a gente mostra para o mundo tudo o que é feito no Educar+, como a proposta é interessante e tem um impacto social grande na comunidade, isso acaba atraindo as pessoas, que se identificam com a causa, com o projeto e, com isso, a gente acaba crescendo a nossa comunidade de voluntários, de pessoas que ajudam de diversas formas. A comunicação é uma forma de manter o contato mais próximo com as pessoas que se identificam com causas sociais como a nossa e gera uma rede de apoio grande, uma rede de apoio que continua crescendo. Por isso, a gente segue sempre abastecendo as nossas redes. Isso acaba gerando uma rede de conexões também com outros projetos, outras ONGs e possibilita outros tipos de parcerias. A gente documenta, fala um pouco sobre a gente, mostra os trabalhos que são realizados e isso começa a atrair pessoas parecidas, projetos parecidos, parcerias. Então, é muito importante tanto para a manutenção do projeto quanto para o seu crescimento. Eu acho que a área de comunicação consegue manter um projeto sendo visto pelas pessoas. A partir do momento em que ele é visto, ele consegue se manter e consegue crescer sua rede de apoio, que é essencial para a manutenção de suas atividades. Gecom: Fale um pouco dos projetos que a Educar+ desenvolve com seu público e que envolvem o uso das ferramentas de comunicação. E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R A G O S T O / 2 0 2 2 C O M O A C O M U N I C A Ç Ã O C O N T R I B U I P A R A I N I C I A T I V A S S O C I A I S C O M P R O J E T O S D E E D U C A Ç Ã O E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 6 / 0 8 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 1 9
  • 20. Vitória Toledo: Eu acho importante ressaltar que o Educar+ é muito amplo. Ele tem muitas e diferentes atividades que desenvolvem potencial humano, social, crítico das crianças e adolescentes. Então, tem desde oficinas de alfabetização, incentivo à leitura, oficinas de arte, aulas de capoeira e, também, o projeto de audiovisual, em parceria com o Cinelab, que utiliza ferramentas de comunicação de forma mais direta para ensinar as crianças. Nessas oficinas de audiovisual as crianças acabam conhecendo essa ferramenta de expressão e comunicação e, consequentemente, descobrem seu potencial criativo e também uma nova forma de linguagem. Além disso, ampliam seu conhecimento, sua formação cultural e as possibilidades de escolhas profissionais, por exemplo. O que eu acho que esse projeto audiovisual traz mais legal para as crianças é a possibilidade de dar uma ferramenta que elas possam ter para contar a sua própria história. Elas podem ser donas de sua própria narrativa a partir do momento em que elas começam a entender, a dominar as ferramentas. O audiovisual nada mais é do que um tipo de linguagem, uma ferramenta de comunicação. Através desse projeto desenvolvido, as crianças têm contato com esse novo mundo, com essa forma de linguagem e podem usar dela tanto para mostrar a própria realidade quanto para mostrar a visão que elas têm do mundo. Ninguém melhor do que elas para mostrar o que elas veem, o que elas vivem. É uma forma de incentivar o potencial criativo que existe nessas crianças e adolescentes. Incentivar a imaginação, a criação, o contar histórias. Isso é muito importante, mesmo. Gecom: O que você sugere para outras iniciativas sociais que pretendam desenvolver atividades de comunicação e educação para seu público? E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R A G O S T O / 2 0 2 2 C O M O A C O M U N I C A Ç Ã O C O N T R I B U I P A R A I N I C I A T I V A S S O C I A I S C O M P R O J E T O S D E E D U C A Ç Ã O E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 6 / 0 8 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 2 0
  • 21. Vitória Toledo: Possibilitar às crianças ter contato com uma ferramenta de comunicação específica, descobrir uma nova forma de se expressar, de contar sua própria narrativa e, também, de desenvolver suas potencialidades criativas, seu repertório cultural, entre outras coisas. Cada iniciativa é muito única, tem um universo próprio, tem os seus objetivos, então, para cada iniciativa as coisas funcionam de uma forma. O que eu posso dizer é reforçar a importância da comunicação para tudo. Quanto mais e melhor a gente se comunicar, melhor é o mundo em que a gente vive, eu acho. Melhor as coisas podem funcionar. E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R A G O S T O / 2 0 2 2 C O M O A C O M U N I C A Ç Ã O C O N T R I B U I P A R A I N I C I A T I V A S S O C I A I S C O M P R O J E T O S D E E D U C A Ç Ã O E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 6 / 0 8 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 2 1
  • 22.
  • 23. Estagiar jornalismo dentro de uma ONG e depois ser contratado pela mesma organização é uma oportunidade para poucos. Foi assim com Larissa Amorim, formada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e pós-graduada em Comunicação Organizacional Integrada (ESPM), que começou como estagiária da ONG Casa Fluminense e, atualmente, está como coordenadora de comunicação da instituição. Em entrevista ao Gecom, Larissa conta como teve seu talento e competência valorizados e aproveitados pela Casa Fluminense, que atua para a construção de políticas públicas na metrópole do Rio de Janeiro, com foco na redução das desigualdades, no aprofundamento democrático e no desenvolvimento sustentável. Gecom: Como surgiu o interesse de estudar e trabalhar com Comunicação, em especial no Terceiro Setor? Larissa Amorim: Eu estudei Jornalismo na Faculdade de Comunicação da Uerj. Durante o período de faculdade, tive a experiência de estagiar em um programa de educação ambiental da Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Ali foi meu primeiro contato com debate de políticas públicas, sustentabilidade, mobilização e articulação popular no Rio. A partir daquela rápida experiência, comecei a identificar que a Comunicação era o que eu queria vivenciar e estar profissionalmente. A construção que eu queria fazer tinha relação com políticas públicas, na verdade a minha entrada no Terceiro Setor tem um pouco a ver com esse entendimento. Ou seja, não estou falando sobre minha reflexão do Terceiro Setor. A C O N T R I B U I Ç Ã O D O E S T Á G I O P A R A A F O R M A Ç Ã O P R O F I S S I O N A L E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 8 / 1 0 / 2 0 2 2 E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R O U T U B R O / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 2 3
  • 24. Larissa Amorim: Tem muito a ver com o perfil específico que atua, como a Casa hoje, no debate de políticas públicas sobre redução de desigualdades, ampliação de oportunidades, garantia de direitos. Então, na sequência a isso, estava procurando uma outra oportunidade de estágio, entendendo que ou eu seguia estagiando, ou procurando oportunidades dentro do poder público, da máquina de estrutura. Tive uma indicação de um grande amigo, que me falou sobre o trabalho da Casa, me contou como a Casa atuava, aí eu entendi que fazia muito sentido atuar no campo da Comunicação. Construir uma relação com organizações do Terceiro Setor e fazer um debate programático, de agenda de direitos, de participação social, popular… foi assim que surgiu meu interesse em estudar Comunicação no Terceiro Setor. Foi por essa ponte das políticas públicas, do debate sobre redução de desigualdades, um debate próximo das periferias. Ao conhecer a atuação da Casa foi conquistada pelo Terceiro Setor. É a partir da Casa que eu conheço, na verdade, o Terceiro Setor, outras organizações e grupos do Rio. Hoje tenho mais clareza da minha escolha pelo Terceiro Setor como o campo onde quero continuar atuando, mas é claro, tudo pode mudar. E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R O U T U B R O / 2 0 2 2 A C O N T R I B U I Ç Ã O D O E S T Á G I O P A R A A F O R M A Ç Ã O P R O F I S S I O N A L E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 8 / 1 0 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 2 4
  • 25. Larissa Amorim: O estágio na Casa foi muito importante para o meu desenvolvimento institucional, porque foi ali que encontrei oportunidades de colocar em prática, me aproximar um pouco mais das reflexões, das teorias e dos debates que a gente encontra e conhece na Universidade. Eu pude vivenciar isso tudo no estágio da Casa, que inclusive é sempre esse desafio da distância entre os currículos e a vida prática profissional. Então, pude encontrar no estágio da Casa uma aproximação maior com ferramentas, diferentes linhas de atuação dentro da Comunicação. Me aproximei um pouco mais para pensar produção de conteúdo, gestão de redes sociais, experiências com a própria comunicação institucional e organizações. Foi ali, também, que comecei a entrar em contato com questões de conteúdo, materiais para pensar o Rio, uma produção de comunicação ora institucional, ora mais jornalística. Coleta de entrevistas, histórias, narrativas importantes, narrar territórios e pessoas… foi no estágio na Casa que também aprendi, de uma forma mais próxima, a produção de comunicação associada a dados. Foi bem importante para isso. A minha efetivação profissionalmente foi um processo de construção interna. A Casa entende a importância de valorizar estrategicamente a comunicação dentro da estrutura organizacional. Acho que isso segue sendo um desafio para o Terceiro Setor. É muito comum a estrutura de equipe de Comunicação no Terceiro Setor no formato "euquipe". Então, teve um pouco da inclinação da Casa a formar seus quadros, valorizar a equipe. Assim, depois do primeiro ano de estágio, eu me tornei assistente. Foi quando já estava para me formar. Em seguida, me tornei assessora. Nesse meio tempo, tive uma pequena experiência fora da Casa. Ela achou que faria sentido atuar numa campanha política fora da estrutura da Casa pra eu poder viver essa experiência política (a Casa não tem nenhuma ligação partidária) e depois voltar. Fiquei pouco tempo como assessora. Houve, então, uma mudança na coordenação de Comunicação da Casa e, em 2019, assumi a coordenação, onde estou até hoje assumindo esse desafio dentro desta instituição. Não foi o meu primeiro estágio, tive outras experiências em outros lugares, mas foi meu primeiro estágio no Terceiro Setor. E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R O U T U B R O / 2 0 2 2 A C O N T R I B U I Ç Ã O D O E S T Á G I O P A R A A F O R M A Ç Ã O P R O F I S S I O N A L E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 8 / 1 0 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 2 5
  • 26. Gecom: Conforme descrito no Plano Estratégico da Casa Fluminense 2021-2024, os objetivos elaborados para este período são: fortalecer lideranças sociais e organizações populares; monitorar políticas públicas com a rede de parceiros; defender causas prioritárias na metrópole e desenvolver a sustentabilidade política, financeira e institucional. Como a comunicação colabora com esses objetivos? Larissa Amorim: De muitas formas. A comunicação é uma coordenação transversal no plano de atuação da Casa. Ela é muito estratégica. Ela colabora desde a etapa do planejamento desses objetivos, que organizam quais projetos e quais atividades- fim a gente vai realizar para concretizá-los. A comunicação participa do debate sobre que resultados a gente vai comunicar depois e vai colocar no mundo para contar o que a gente fez. Então, ela participa desde o início desse processo, da tomada de decisão sobre quais resultados são mais estratégicos para ser comunicados e sistematizados e quais atividades, no plano de trabalho, vão ser realizadas para ajudar a gente a efetivar esses objetivos. Também é tarefa da comunicação pensar a estratégia de execução junto às coordenações de mobilização, de informação, de operações, a coordenação executiva institucional e como a gente coloca esses projetos no mundo. Gecom: O que você aconselha aos estudantes de Comunicação que estão procurando um estágio ou estejam estagiando no Terceiro Setor? E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R O U T U B R O / 2 0 2 2 A C O N T R I B U I Ç Ã O D O E S T Á G I O P A R A A F O R M A Ç Ã O P R O F I S S I O N A L E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 8 / 1 0 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 2 6
  • 27. Larissa Amorim: A depender do currículo da faculdade, da forma como está organizada, de que área na comunicação se atua (Publicidade, Relações Públicas, Jornalismo, estudos de mídias, uma diversidade de linhas de atuação), da escala territorial, do escopo territorial do Terceiro Setor, acho fundamental se aproximar do debate que está acontecendo. O Terceiro Setor, em geral, está dialogando com os desafios estruturais que a gente está vivendo no Rio, no Sudeste, no Brasil. Vai depender da região onde o estudante vai estar procurando estágio, vai estar atuando. É importante estar atento aos debates políticos, desafios socioeconômicos, ao debate sobre as estruturas das desigualdades do Rio de Janeiro, no Brasil e em outras partes, mas entendendo as especificidades de cada território, de cada região, de cada lugar. Também entender como o racismo, o machismo, a homofobia e a misoginia operam nesse debate sobre o Terceiro Setor. A Comunicação no Terceiro Setor é uma comunicação de causas que está atrelada ao impacto social que a gente quer produzir. Eu diria que hoje tem uma tendência forte de Comunicação no Terceiro Setor voltada para o debate sobre comunicação atrelada à mobilização. Estratégias de WhatsApp, pensar réguas de engajamento, como que a gente articula pessoas que estão ativamente relacionadas, que serão multiplicadoras estrategicamente dos conteúdos de comunicação em determinada organização. Acho bem estratégico para esses estudantes que queiram pleitear atuação no Terceiro Setor. Eu diria que no campo da incidência política, também. Começar a se aproximar um pouco mais desse debate, entendo que aí tem um campo grande de atuação no Terceiro Setor que tem a ver com a assessoria de imprensa e a gente vê muita na nossa formação de Comunicação, mas às vezes também tem a ver com outras tecnologias, com entendimento da estrutura do Estado, para compreender quem são os tomadores de decisão que precisam ser pressionados ou mobilizados para que aquele direito, para que aquela luta naquela comunidade avance. E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R O U T U B R O / 2 0 2 2 A C O N T R I B U I Ç Ã O D O E S T Á G I O P A R A A F O R M A Ç Ã O P R O F I S S I O N A L E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 2 8 / 1 0 / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 2 7
  • 28.
  • 29. Coletar dados, analisá-los, tornar a leitura compreensível após a sua revisão e com um projeto gráfico adequado são ingredientes que não podem faltar em um relatório de uma ONG. Conforme o censo Gife 2018, as ONGs que mostram transparência e confiança são as que mais geram credibilidade para os apoiadores e um dos instrumentos que contribui para essa confiabilidade é o relatório. Na maioria dos casos, um relatório é entregue ao final de algum projeto ou no final do ano. Como estamos em dezembro, o Gecom, em sua última entrevista de 2022, conversou com o coordenador de comunicação do Instituto da Criança, Leandro Nascimento, para nos contar como a comunicação contribui para a elaboração deste importante documento. Gecom: Conte um pouco sobre sua trajetória e como se tornou coordenador de comunicação do Instituto da Criança. Leandro Nascimento: Sou carioca, trabalho desde os 18 anos e sou formado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Durante o estágio, tive minha primeira vivência com a área social atuando em uma empresa que desenvolve responsabilidade social na área educacional. Foi então que aprendi sobre comunicação organizacional e produção de eventos. De lá para cá, já fiz assessoria de imprensa e produzi festas. No Instituto da Criança, entrei como analista de comunicação e, há pouco mais de sete anos, me tornei coordenador. R E L A T Ó R I O D E O N G : A C O N T R I B U I Ç Ã O D A C O M U N I C A Ç Ã O E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 3 0 / 1 2 / 2 0 2 2 E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R D E Z E M B R O / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 2 9
  • 30. Gecom:Qual a importância do relatório nas ONGs? Leandro Nascimento: No Instituto da Criança criamos dois tipos de relatório: o relatório anual de atividades, no qual apresentamos todas as ações/projetos do ano, e o relatório final de cada projeto que gerenciamos, aprofundando mais os resultados quantitativos e qualitativos da ação em questão. Praticar a transparência prestando contas para parceiros e a sociedade é um fator fundamental para qualquer organização social. Além disso, é uma forma de divulgar as ações da organização e demonstrar profissionalismo e preparo por parte de toda a equipe. Gecom: Anualmente o Instituto da Criança publica o Balanço Social como seu relatório de desempenho de gestão e demonstração de resultados, garantindo a transparência no uso dos recursos. Explique como a comunicação participa desse processo no Instituto. Leandro Nascimento: A comunicação do Instituto fica responsável por todas as etapas da construção do Balanço Social, bem como cronograma, produção textual, projeto gráfico e revisão. Geralmente, iniciamos o trabalho de construção do documento já na primeira semana de janeiro. Costumo me reunir com as áreas para extrair o máximo de informações pertinentes aos projetos e resultados financeiros. Após aprovado o Balanço, é hora de divulgar. Enviamos para todo o nosso mailing através de e-mail marketing e também compartilhamos em nossas mídias sociais. É fundamental que a comunicação se relacione com todas as áreas da organização para que possa extrair ao máximo todas as informações e comunicá-las de forma simples e didática. L Í D E R C O M U N I C A D O R : R E L A T Ó R I O D E O N G : A C O N T R I B U I Ç Ã O D A C O M U N I C A Ç Ã O E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 3 0 / 1 2 / 2 0 2 2 E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R D E Z E M B R O / 2 0 2 2 V I V Ê N C I A S I I 3 0
  • 31. Gecom:O que você recomenda aos comunicadores no momento de construir um relatório para a ONG em que trabalham? Leandro Nascimento: A organização, em seu relatório de atividades, precisa definir para quais públicos vai apresentar seus dados de impacto. O mapeamento é importante para que o relatório gere motivação e, efetivamente, se relacione com pessoas importantes para a sua organização. Recomendo iniciar o relatório por um bom roteiro. Nele é fundamental haver uma carta da presidência relatando os principais pontos do ano, apresentando os resultados quantitativos e qualitativos dos projetos, valorizando toda a equipe de colaboradores que fizeram o trabalho acontecer, com textos curtos e de fácil compreensão, além de projeto gráfico caprichado a partir da estratégia de comunicação adotada pela organização. V I V Ê N C I A S I I E M C O M U N I C A Ç Ã O P A R A O T E R C E I R O S E T O R D E Z E M B R O / 2 0 2 2 R E L A T Ó R I O D E O N G : A C O N T R I B U I Ç Ã O D A C O M U N I C A Ç Ã O E N T R E V I S T A P U B L I C A D A E M 3 0 / 1 2 / 2 0 2 2 3 1
  • 32. GRUPO DE COMUNICAÇÃO PARA O TERCEIRO SETOR (GECOM) CNPJ: 29.898.554/0001-30 www.gecomterceirosetor.blogspot.com EDITOR E JORNALISTA Charles Monteiro MTb: 34474/RJ gecomterceirosetor@gmail.com JORNALISTA E REVISOR Flávio Amaral MTb: 35308/RJ flavio.cpamaral@gmail.com FOTÓGRAFAS Anne Caroline Leopoldo annecom2n@gmail.com Isabela Leal belaleal2@gmail.com COORDENADORA DE EDUCAÇÃO Natasha Soares sfr.natasha@gmail.com PROJETO GRÁFICO DESIGNER Daiana dos Santos daianadasilvadossantos@gmail.com E X P E D I N T E
  • 33. É uma publicação gratuita do Gecom. Todos os direitos reservados. É proibida a total ou parcial reprodução dos textos e imagens para fins comerciais. Em caso de citações em outros meios, mencionar a devida fonte. VIVÊNCIAS EM COMUNICAÇÃO PARA O TERCEIRO SETOR II