1. «PERCURSO DE VIDA»
DR. ALMEIDA GONÇALVES
06 de Maio 2011, 21:30h
Fórum Actor Mário Viegas
Centro Cultural Regional de Santarém
participação musical do consagrado
"QUARTETO LACERDA"
obras de Mozart e Luís de Freitas Branco
2. Almeida Gonçalves
percurso de vida
José Carlos d’Almeida Gonçalves nasceu em 1929 no Vale de Santarém. Naquele tempo, as suas férias grandes, muito
longas, eram passadas inteiramente nesta localidade. A recordação dos trajectos em charrette com o avô para o campo e para as compras
em Santarém, constitui uma das melhores da sua infância. Em criança não gostava de Lisboa, onde “vegetava” quase 9 meses por ano e vivia,
entusiasticamente, quando na sua terra natal. Foi aqui que aprendeu a montar a cavalo.
Só começou a gostar de Lisboa quando se interessou pela cultura, durante a adolescência. Estudou piano e, depois, composição
com Joly Braga Santos e teve longo contacto com Luís de Freitas Branco.
Especialista em Dermatovenereologia em 1961, trabalhou no Instituto Português de Oncologia (IPO), durante 25 anos. Foi 1º
Assistente do Instituto de Assistência aos Leprosos em Lisboa durante 15 anos.
Em 1964 iniciou a carreira nos Hospitais Civis de Lisboa e em todos os Concursos de Dermatologia foi classificado em 1º lugar.
O seu filho Luís sofre do sindroma “autismo precoce infantil”. Como não havia qualquer conhecimento desta doença em Portugal,
foi forçado a estudar para conseguir o seu diagnóstico. Na ausência de assistência para estes doentes, criou a “Associação Portuguesa para
Protecção das Crianças Autistas”, em 1971, bem como a primeira Escola especializada no seu tratamento. Quer uma quer outra foram as
primeiras da Península Ibérica. Fez as duas primeiras conferências médicas sobre esta matéria, em Portugal (1971/2).
O IPO recebia, então, doentes com tumores, de grande parte do país. A partir de 1974, iniciou o estudo da Criocirurgia, (tratamento
de lesões cutâneas por frio intenso) o que desenvolveu, sendo considerado, presentemente, autoridade mundial no tratamento de
carcinomas avançados externos (pele, mama e vulva) por este método. Foi Presidente da “International Society of Criosurgery” de 1998 a
2001. Presentemente, é Membro Honorário.
Ainda no IPO criou o método de tratamento, denominado “Quimiocirurgia Simplificada”, ou seja tratamento por produto cáustico,
denominado cloreto de zinco.
Pouco a pouco, foi aumentando a assistência a tumores malignos mais graves e mais invasivos, criando numerosos protocolos para
cancros considerados cirurgicamente inoperáveis.
Desgostoso com a falta de apoio institucional decidiu abandonar o IPO e abrir novo Serviço de Dermatologia em Santarém em 1986.
Além da situação desconfortável no IPO havia também a necessidade de ambiente mais acolhedor e estável para o seu filho autista, bem
como o desejo de regressar à sua terra, onde pudesse ter, com conforto, gatos, cães e cavalos.
No Hospital Distrital de Santarém criou o Serviço de Dermatologia, onde continuou os trabalhos de investigação.
Quando se inaugurou a Consulta de Dermatologia do Hospital Distrital de Santarém dedicou especial atenção à secção de oncologia
cutânea. Nos primeiros anos a dimensão média dos tumores era elevada, sendo muitos tumores avançados e, de difícil resolução. A maioria
foi tratada ou por criocirurgia ou por quimiocirurgia, tendo evitado muitas mortes e muitas amputações de extremidades dos membros.
Com a colaboração da equipa médica, cujo número de elementos foi aumentando até aos cinco elementos actuais, foram feitas
numerosas sessões de divulgação junto dos médicos dos Centros de Saúde. O Ribatejo tem características urbanísticas especiais: não há
grandes cidades. Daqui resulta que qualquer êxito terapêutico tenha repercussão popular imediata, aumentando a confiança no Serviço e
sugerindo a vinda ao Hospital de doentes com tumores até aí negligenciados. Em consequência a dimensão média dos tumores e a respectiva
gravidade tem vindo a diminuir, inclusive a do melanoma.
A equipa hospitalar conseguiu melhorar a assistência de tumores grandes devido à eficiência dos tratamentos e à actividade
didáctica feita nos Postos Médicos dos Serviços de Saúde da Região.
Iniciou, ainda no Instituto Português de Oncologia, o estudo da sub-especialidade patologia vulvar (isto é de doenças e terapêuticas
específicas), continuada no Hospital Distrital de Santarém, onde criou a segunda consulta desta competência do País, em 1986. Nesta
consulta está sempre presente um dermatologista e um ginecologista, o que foi inovador.
Com apoio do Dr. Manuel Neves-e-Castro desenvolveu técnica para o estudo e tratamento hormonal do acne e do hirsutismo, nas
raparigas
Tem numerosos artigos publicados, cerca de 40, quase todos em inglês, sendo citado em artigos e livros estrangeiros, sobretudo
norte-americanos e argentinos.
Escreveu dois capítulos para livro editado em Viena, Áustria, em 2001.
Foi convidado, em anos sucessivos, para conferências em vários países da América Latina, onde o seu trabalho é muito conhecido
e apreciado (mais do que em Portugal). As visitas só foram interrompidas por motivo de doença, há quatro anos.
Criou a nova técnica “Criocirurgia Fraccionada” enquanto médico do Hospital Distrital de Santarém, cujo artigo, publicado em 2009,
em revista americana foi considerado um dos 10 melhores do Mundo nos últimos dois anos, na área da criocirurgia.
Jubilado aos 70 anos, foi Consultor do Hospital em tempo parcial, durante 7 anos até a doença forçar a sua interrupção.
Não só a música foi importante na sua vida, tendo sido sempre amante de literatura e artes plásticas. Recentemente colaborou
na organização do “Estúdio Sérgio Eloy”, no Vale de Santarém, onde pequena parte da sua obra está em exposição permanente (as visitas
do Estúdio são marcadas pelo telefone 243 769 380). Este, artista, de qualidade superlativa, foi o primeiro fotógrafo português a criar a
fotografia abstracta.