O documento discute o impacto das obras de reforma dos estádios Mineirão e Independência em Belo Horizonte para as Copas de 2013 e 2014 no trabalho e renda de centenas de pessoas que dependem economicamente dos eventos realizados nos estádios. Muitos comerciantes estão apreensivos com o fechamento dos estádios e falta de apoio para enfrentar o período sem renda, enquanto alguns comércios próximos ao Independência comemoram o aumento nas vendas durante a obra.
1. BELOHORIZONTE,SEGUNDA-FEIRA,8/3/2010HOJEEMDIA-esportes@hojeemdia.com.br
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AsobrasnoIndependênciaseguemavançadasedevemficarprontasatéasegundasemanadesetembrodesteano
BRUNOMORENO
REPÓRTER
Daqui a pouco mais de três
meses, o Mineirão deverá fechar
os portões para começarem as
obras da segunda e terceira eta-
pas da reforma do estádio para
as copas de 2013, das Confedera-
ções,ede2014,doMundo.Comis-
so, centenas de pessoas ficarão
sem trabalho pelo menos até o fi-
nalde2012,previsãodereabertu-
ra do estádio. Muitos deles cria-
ram suas famílias com o dinheiro
ganho com o esforço em função
das partidas de futebol que mo-
vem multidões na capital. Outros
estãoapenascomeçandoatraba-
lhar no Mineirão. Certoé que não
há garantia alguma de trabalho
para eles no estádio no período
da reforma e durante os eventos
das copas, muito menos um pla-
nodetransição.
No total, trabalham den-
tro e fora do estádio até 680
pessoas em dia de jogos, fora
os policiais. A Administração
de Estádios do Estado de Mi-
nas Gerais (Ademg) possui 79
servidores concursados e 120
terceirizados, que devem ser
remanejados. Já os ambulan-
tes somam 530 -150 internos
e 380 externos, em média. A
Ademg afirmou que não tem
responsabilidade sobre esses
ambulantes, por não serem
parceiros comerciais, mas
permissionários. Assim, se
isenta da responsabilidade
de um trabalho conjunto de
transiçãonoperíodo.
Um dos barraqueiros que
estáapreensivoéFranciscoJa-
nuário Gonçalves, o Chiqui-
nho,49anos,há17trabalhan-
do em frente ao portão 9.
“Criei minha família aqui.
Agora, estou pensando em ir
para a Arena do Jacaré, mas o
ruim é que tem que pegar es-
trada”,afirmou.
Ao mesmo tempo, quem
acabou de chegar está achan-
do ruim a obrigatoriedade de
sair. A barraqueira Cláudia
Maria, 32 anos, vende tropei-
ro no entorno do Mineirão há
apenasseismeses,ejáestáso-
frendo com a possibilidade
deterquesairdolocal.“Quan-
do vim para cá, minha renda
melhorou. Agora, quando ti-
verquesair, vouterquepegar
unseventos”,informou.
A mesma postura terá a
cozinheira Tereza Lopes, 51
anos, há seis vendendo comi-
dasnoportão5.“Ninguémfa-
lou nada sobre como será
quando fechar o Mineirão.
Quando o dia chegar, vou ver
o que farei. Não pode é ficar
parado”,enfatizou.
Dentrodoestádio,amaio-
riadosbaresdevefechar.Aex-
pectativa é que alguns pos-
samserviralmoçoaosfuncio-
náriosdareforma.
A comerciante Rosângela
Coutinho, 57 anos, que tem a
permissãodeexplorarcomer-
cialmente dois dos 29 bares
no estádio, e emprega sete
pessoas em cada, trabalha há
12 anos no Mineirão, sempre
trocando de bares, de acordo
comaslicitaçõesanuais.
Ela não está contando
com a possibilidade de ficar
com o bar aberto durante a
obra, e já planejou como fará
para continuar a vida duran-
teareforma.“Com otrabalho
aqui tiro cerca de 40% de mi-
nha renda. Devo abrir uma
empresa de marmitex. Mas,
quando estiver pronto, quero
voltaratrabalharaqui,princi-
palmente durante as copas”,
afirmouacomerciante.
Associação
querrecursos
doFAT
O presidente da Associa-
ção dos Barraqueiros da Área
Externa do Mineirão
(Abaem),ErnaniFranciscoPe-
reira,reclamaquenãofoipro-
curado para discutir a situa-
ção dostrabalhadoresque ele
representa.
“Nóssomososuportedos
eventos que são realizados
aqui. Como faremos para
manter a renda dessas famí-
lias? Ainda não houve essa
preocupação e o Mineirãovai
ficar fechado por dois anos e
meio. É muito tempo”, recla-
mou.
Uma alternativa vislum-
brada por Pereira é a utiliza-
ção dos recursos do Fundo de
Amparo ao Trabalhador, o
FAT,doGovernofederal.
“Os pescadores não rece-
bem um auxílio quando fi-
cam proibidos de pescar? En-
tão, ficaremos impossibilita-
dosdetrabalharondesempre
trabalhamos. Merecemos is-
so.VamosconversarcomaSe-
cretariade(Estado)deDesen-
volvimento Social (Sedese)
para ver a possibilidade de
conseguir esse recurso”,
anunciouopresidente.
A Adaem planeja fazer as-
sembleias com seus mem-
bros para discutir a questão e
verqualposiçãotomar.
Comérciodo
Horto
comemora
Enquanto no Mineirão os
comerciantes estão apreensi-
vos quanto ao o que irá acon-
tecer durante e após a refor-
ma no Estádio, nos arredores
do Independência, no Horto,
muitoscomemoram.Umade-
las é a cozinheira Hermínia
deAraújo,71anos,conhecida
como tia Morena. Ela mora
exatamenteemfrenteaos an-
tigos portões de entrada da
Rua Pitangui, e já comemora
anovafasedobairro.
Até janeiro deste ano,
quandooestádio fechoupara
areformacompleta,que deve
ficar pronta até a segunda se-
mana de setembro, Morena
só abria a varanda da sua casa
para vender cerveja, refrige-
rante, tropeiro, macarrão na
chapa e sanduíches em dias
de jogos, ou seja, no máximo
duasvezesporsemana.
Agora, com o movimento
da obra, ela serve prato feito e
marmitex a R$ 5,5 todos os
dias.Maisainda,arrumoutra-
balhoparaanetaNathaliaSil-
va Araújo, 21 anos, que estava
desempregada. Apaixonada
por futebol, Morena mora no
mesmolotedesdequeoInde-
pendência foi inaugurado,
em1950,paraaCopadoMun-
do. “Eu vi os jogos e, agora,
com a reforma, o estádio vai
melhorar. Não me incomodo
com o barulho das máquinas
e dos caminhões. É minha
contribuição para a melhoria
detodos”,enfatizou.
Pensionista, Morena está
feliz da vida e garante que o
complementodarendaestáan-
dando bem, mas quer mais.
“Estamos vendendo pelo me-
nos dez pratos/marmitex e
queremoschegara50”,avisou.
Já o bar da Sandrinha, co-
nhecido reduto dos america-
nos antes dos jogos no está-
dio,agoratambémestáinves-
tindo pesado no almoço diá-
rio, mas também ganhou
umanovafunção.Muitostor-
cedores americanos estão in-
do ao bar para assistir aos jo-
gos na televisão do salão do
bar, que tem pouco mais de
20metrosquadrados.
“Estamos vendendo mais
comida, mas eu torço para
que passe logo, porque sinto
falta da torcida. Quando eles
vêm aqui, eu trabalho e parti-
cipo também”, afirmou a
americana, que faz o famoso
“decatropeirão”,emhomena-
gem ao decacampeonato do
Coelho(1916-1925).i
LUCASPRATES
SandrinhaservealmoçoedeixatorcedoresassistirajogosRosângelapretendemontarumaempresademarmitex
CARLOSRHIENCK
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LUCASPRATESCARLOSRHIENCK
LUCASPRATES
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Trabalhadoresabandonados
REFORMADOSESTÁDIOS