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Os Puritanos
e a conversão
Pecado: O Mal sem Par
Samuel Bolton
A Conversão de um Pecador
Nathaniel Vincent
A Coisa Indispensável
Thomas Watson
(Editado por Don Kistler)
Prefácio por Albert N. Martin
PUBLICAÇÕES EVANGÉLICAS SELECIONADAS
Caixa Postal 1287 - 01059-970 - São Paulo-SP
Título original:
The Puritans on Conversion
Editora:
Soli Deo Gloria Publications
Primeira edição em inglês:
1990
Tradução do inglês:
Marlene Marques Prado
Revisão:
Antonio Poccinelli Capa:
Ailton Oliveira Lopes
Primeira edição em português:
1993
Composição e impressão:
Imprensa da Fé
ÍNDICE
Prefácio do Editor
Prefácio por Albert N. Martin
Capítulo 1 - Pecado: O Mal sem Par
Samuel Bolton
Capítulo 2 - A Conversão de um Pecador
Nathaniel Vincent
Capítulo 3 - A Coisa Indispensável
Thomas Watson
SOLI DEO GLORIA PUBLICATIONS
213 W. Vicent St.
Ligonier, PA. 15658
(412) 238-7741
Estes escritos apareceram primeiramente no século 17 em três diferentes
livros. A edição destes trabalhos e de 1990 da Soli Deo Gloria Publications.
Esta compilação de sermões puritanos com mudança estilística e
gramatical é direito autoral.
PREFÁCIO DO EDITOR
Esta coleção de escritos puritanos, composta de dois sermões e de um
tratado, inicia o que esperamos ser uma longa série intitulada Os Puritanos
e______________. O potencial para uma importante série é evidente.
Qualquer pessoa que tenha lido os ricos escritos dos teólogos puritanos tem
sido tocada pelo senso de reverência deles para com Deus e Sua majestade,
respeito à Sua beleza e reconhecimento à Sua soberania. Quem pode gastar
tempo com esses homens sem ter o seu próprio conceito de Deus elevado a
um plano mais alto? Quem pode ler esses mestres das Escrituras sem concluir
que temos perdido o conhecimento íntimo de Deus que eles possuíam?
Com este livro pagamos um tributo àqueles que nos antecederam neste
trabalho. No século 19 a obra de James Nichols e James Sherman abriu
caminho com sua dedicação em amor, pois vemos tantos dos trabalhos dos
Puritanos revisados, editados, e disponíveis uma vez mais. Neste século 20 Jay
Green em sua Sovereign Grace Trust, Iain Murray e a obra de The Banner of
Truth Trust, e Lloyd Sprinkle têm enriquecido a comunidade cristã com suas
reedições dos clássicos puritanos. Indubitavelmente há muitos outros
publicadores, os quais desconhecemos, mas sabemos que Deus os conhece e
os recompensará à altura!
A edição destes três trabalhos em um volume não alterou seu conteúdo
substancialmente. Os parágrafos longos receberam um formato mais
agradável de serem lidos. A pontuação foi adicionada ou suprimida conforme
os padrões mais contemporâneos. A ortografia foi mudada quando necessária.
Palavras cujos significados se tornaram obscuros foram mudadas no texto
para palavras de uso mais comum. Isso foi feito usando-se o Oxford English
Dictionary.
Nenhuma alteração teológica foi feita, pois nós não ousamos pensar que
poderíamos expressar melhor o coração desses homens do que eles mesmos
foram capazes de fazer. Os versículos das Escrituras foram deixados intactos
na forma usada no original, pontuação e tudo mais. A única mudança foi
escrever com maiúscula os pronomes que se referem a Deus.
Nós acreditamos, querido leitor, que nossos esforços serão usados para
aprofundar seu conhecimento dEle e da mesma forma seu amor para com Ele.
Em tal caso, o trabalho envolvido na reprodução e edição destes escritos
nunca será visto como tedioso ou vão. E finalmente, confiamos este trabalho à
Sua soberana mão para usá-lo como Lhe aprouver.
À Sua Glória
DonKistler
Soli Deo Gloria Publications
PREFÁCIO PARA
"OS PURITANOS E A CONVERSÃO"
O tema mais crucial com o qual a mente e o coração humano podem se
ocupar está ligado com a questão, "como pode o pecador se tornar justo diante
de Deus?" Todos os que têm se apegado à fé bíblica e apostólica concordam
que a única base de aceitação dos pecadores por Deus está incluída na obra
dohomem-Deus, Jesus Cristo, Aquele que levou os pecados do Seu povo,
como substituto dele, e adquiriu a justiça perfeita como fruto de Sua vida,
morte e ressurreição (Rom. 5:12).
Entretanto, as Escrituras deixam bem claro que ninguém chega a
possuir a justiça operada por Cristo, exceto através da total conversão a Deus
(Atos 26:16-18; Mateus 18:3). A verdadeira conversão compreende a área na
qual há grande confusão e terrível engano em nossos dias, sim, mesmo entre
os evangélicos que são esclarecidos na questão do fundamento da aceitação
do pecador por Deus. É precisamente na área da apresentação da doutrina
bíblica da conversão que os pregadores puritanos têm muito a nos ensinar.
Enquanto o livro de Joseph Alleine Um Guia Seguro para o Céu e Um
Chamado ao não Convertido de Richard Baxter foram editados inúmeras vezes
nas últimas décadas e se tornaram um modelo da pregação puritana sobre a
doutrina da conversão, os três menores tratados reunidos neste livro nos dão a
essência do mesmo entendimento puritano sobre a doutrina da conversão.
As vantagens desta trilogia é que cada sermão tem sua área distinta de
força na apresentação de uma sã teologia da conversão e um profundo
discernimento pastoral do método de conversão. Contrastando com muitas
pregações e publicações evangélicas em nossos dias, estes três sermões são
marcados por características distintivas no extenso conteúdo da doutrina
puritana da conversão, e a maneira pela qual pregaram essa doutrina.
O CONTEÚDO DA DOUTRINA DA
CONVERSÃO
1. Eles mostram o terrível mal do pecado sem, de modo algum, tirar o
brilho da magnitude da graça de Deus. O tratado de Bolton é muito útil ao
mostrar que ninguém consegue exagerar o tremendo mal do pecado. Além
disso, o referido tratado em conjunto com os outros dois sermões silencia para
sempre qualquer acusação de que uma preocupação com os detalhes e a
extensão do mal do pecado poderiam obscurecer a magnitude da graça de
Deus.
2. Os sermões demonstram a necessidade de um exame consciente do
pecado sem, de modo algum, restringir a liberdade de acesso do pecador a
Cristo ou a necessidade imediata de suplicar a misericórdia perdoadora de
Deus.
3. Cada um destes sermões desperta a consciência sobre a absoluta
necessidade de um profundo e completo arrependimento, se é que deva
existir uma fé genuína na promessa de perdão para os pecadores que crêem.
Ao contrário do conceito de "graça barata" em nossos dias, estes autores
demonstram de uma maneira convincente, que Jesus Cristo veio para salvar
Seu povo de seus pecados, mas não em seus pecados.
4. Cada um destes autores é claro em relação a tão discutida questão, se
Cristo pode ser ou não recebido como Salvador enquanto não conhecido como
Senhor. Como um exemplo dessa asserção, Vincent mostra que na verdadeira
conversão, os convertidos são tirados das "trevas da ignorância". E assim, cita
uma das áreas específicas na qual esta libertação ocorre. Ele escreve: "Ele os
faz saber que Cristo deve ser recebido por fé, que não existe salvação em
nenhum outro, e que é vão esperar qualquer coisa dEle como Salvador, a não
ser que haja consenso em obedecê-lO como Senhor. Estas e outras verdades
não são mais desconhecidas por eles." Mais tarde no mesmo tratado ele
escreve: "O convertido vê Deus como Senhor. Ele se apropria de Sua soberania
e submete-se ao Seu cetro. Na verdade em tempos passados outros senhores tiveram
domínio sobre ele (Is. 26:13), mas agora sua resolução é firme e imperiosa em
não pertencer a nenhum outro Senhor, senão somente a Deus. Sua vontade se
submete em obediência à vontade de Deus e concorda com ela."
5. Estes tratados mostram uma visão da conversão centralizada em
Deus. Embora não haja nada obscurecendo as realidades de paz e de alegria
que goza o penitente e convicto pecador, há uma constante ênfase sobre o fato
de que na conversão é propósito de Deus trazer o pecador de volta à intenção
original para a qual ele foi criado - a saber, para uma vida centralizada em
Deus. Novamente as palavras de Vincent deixam isso bem claro quando ele
escreve: "O convertido vê Deus como seu objetivo máximo, vê que Deus deve
ser glorificado, vê que pode se deleitar em Deus e no Seu plano de conversão.
O pecador é consciente do fato de que ele, enquanto não convertido, viveu
para desonra dAquele que é o seu Criador, em cujas mãos está o seu fôlego de
vida. Agora, entretanto, tem um forte desejo de caminhar de modo digno do
Senhor em tudo o que lhe seja agradável."
6. Eles constantemente descrevem a magnitude da obra da conversão, e
sua total impossibilidade sem a intervenção soberana e direta de Deus. Uma
das maldições de nossos dias é a difundida noção de que a salvação é
"simples". Apesar de que a essência da mensagem da salvação dada por Deus
é realmente simples, para o pecador se desligar completamente de seus
pecados, sua justiça própria, e se entregar a Deus conforme exige o evangelho,
é exatamente o que o nosso Senhor disse: "é impossível para o homem". Estes
autores puritanos tinham captado a realidade dessa declaração do nosso
Senhor, e não temeram apresentá-la de maneira ousada e convincente.
7. Eles nos mostram que é possível pregar as verdades elementares
referentes à conversão, de uma maneira vigorosamente doutrinária e
eminentemente bíblica. Estes sermões em toda a sua extensão mostram as
Escrituras ilustrando e reforçando a si mesmas, e também uma evidente
compreensão do equilíbrio da verdade. Nos seus mais veementes apelos à
consciência de seus ouvintes, estes autores nunca transtornaram o delicado
equilíbrio de uma autêntica teologia sistemática.
A MANEIRA PELA QUAL ELES PREGARAM A
DOUTRINA DA CONVERSÃO
Quando se lê estes sermões fica evidenciada a característica dominante
da maneira e do método de pregação destes homens, contrastando com as
sociáveis, condescentes, casuais pregações, sem confrontação, que marcam
muito do evangelismo atual. Tenho anotado algumas das características da
maneira como são feitas as suas pregações, as quais são dignas de imitação.
1. Eles são modelos de uma santa austeridade e veemente tenacidade
que instam com seus ouvintes para que sejam convertidos. É necessário
somente ler no começo do tratado de Vincent "A Dedicação" e "Carta ao
leitor", para ver que ele não se envergonha de comprometer-se com o grande
objetivo de assegurar a conversão de seus ouvintes. É esta santa paixão e
intrepidez em advertir quanto a uma imediata e sincera obediência a seus
chamados à conversão, que faz com que seus sermões sejam marcados por
profundos apelos à consciência, vigorosas advertências específicas relativas ao
pecado, as lutas da alma e as questões levantadas pela dúvida.
2. Seus sermões são marcados por uma cadeia constrangente de razão e
argumentação. Embora estes homens acreditassem firmemente na morte
espiritual absoluta do pecador, eles não acreditavam que o homem tivesse
perdido sua capacidade de sentir a pressão dos argumentos razoáveis. É
extraordinária a habilidade de tirar as pessoas dos vários "refúgios da
mentira" nos quais tentam se esconder do Deus vivo. Ademais, são levantadas
razões bíblicas e lógicas sobre os terrores ligados ao estado de impenitência e
incredulidade, e também sobre a felicidade e conveniência de se estar num
estado de graça e aceitação por Deus.
3. É evidente que estes homens não temeram ser rotulados como
"exagerados" em seu zelo. Foi dito a respeito do piedoso McCheyne, que
compartilhou muito desse espírito puritano, que "ele pregava como se
estivesse morrendo pela conversão dos homens" .Essa paixão legítima que flui
através dos sermões editados destes homens, saltando através dos séculos e
das mudanças de estilo literário, etc, é uma das evidentes deficiências da atual
pregação evangélica e mesmo da de muitos pregadores reformados. Deus, por
Si não Se envergonha de demonstrar paixão quando Ele admoesta com as
palavras: "Arrependei--vos, arrependei-vos, por que vos morreríeis ? " Estes
homens não se envergonhavam de mostrar a paixão da preocupação genuína
pelas almas de seus ouvintes através de seus apelos bem arrazoados e
eminentemente bíblicos.
Para o leitor que não é familiarizado com os reconhecidos autores
puritanos, a primeira leitura dos tratados deste livro poderia causar uma
impressão errada. Deve ser lembrado que a visão puritana sobre justificação
somente pela fé, através da imputação da justiça de Cristo, era tão clara
quanto a de Martinho Lutero. Este aspecto é certamente destacado nestas
obras. Por exemplo, Bolton escreve: "Cristo não deixou nada para ser feito por
nós, a não ser receber o que Ele adquiriu e entregou às mãos do Pai; nada
além do que pedir uma absolvição, sim, das mãos dAquele que é justo, e que
nunca nos decepcionará; das mãos dAquele que certamente concederá tudo o
que Seu Filho tenha adquirido pela Sua obra redentora". Bolton prossegue
escrevendo: "Oh, como isso deveria fazer-nos promover Cristo, admirar
Cristo, valorizar Cristo! O que aproximaria mais nossos corações de Cristo do
que saber que Ele levou nossos pecados e o fez de modo que nunca jamais
teremos que levá-los se estivermos vinculados a Ele?" Entretanto, para uma
compreensão mais profunda da doutrina puritana da justificação devem ser
lidos trabalhos tais como o Volume 5 de Owen, o Volume 8 de Goodwin e as
seções específicas nas obras de Roberl Traill.
Ao exporem tais textos, como Rom. 4:4-5, estes homens declaram a
graciosidade e a plenitude da salvação fundamentada na obra de Cristo. Mas
quando examinaram textos tais como Lucas 13:24, que nos ordena a que
"esforçemo-nos para entrar pela porta estreita" eles não se detiveram em expor
e aplicar a pressão própria de tais textos.
Se existe qualquer esperança de que a verdadeira doutrina da conversão
seja mais uma vez proclamada no poder e na compaixão do Espírito Santo, é
bem provável que os autores destes sermões e destas páginas sejam os nossos
guias mais úteis.
O editor deve ser elogiado por tornar estes três tratados sobre a
conversão acessíveis a nossa necessitada geração.
Albert N. Martin, Pastor
Igreja Batista da Trindade
Montville, New Jersey
PECADO: O MAL SEM PAR
... porém agora, ó Senhor, peço-te que traspasses a iniqüidade do teu servo; porque
tenho procedido mui loucamente... " (II Samuel 24:10)
Samuel Bolton, D.D.
Falecido Mestre do Colégio de Cristo, Cambridge
(Publicado pela primeira vez em 1657)
PECADO: O MAL SEM PAR
"... porém agora, ó Senhor, peço-te que traspasses a iniqüidade do teu servo; porque
tenho procedido mui loucamente... " (II Samuel 24:10)
Estas palavras foram ditas quando a mão de Deus pesava sobre os
filhos de Israel por causa do pecado de Davi em recensear o povo. Lemos no
versículo 2 que "Davi ordenou a Joabe percorrer todo o Israel e numerar o povo",
porém logo de início "Joabe tentou dissuadi-lo ".
Alguém poderia perguntar: "era contra a lei numerar o povo? Moisés
não fez o mesmo no deserto tanto quanto Josué e Neemias?"
Sim, mas Joabe viu nessa atitude o orgulho do coração de Davi, como se
observa pela sua resposta no versículo 3: "então disse Joabe ao rei: ora,
multiplique o Senhor teu Deus a esse povo cem vezes tanto quanto agora é, e os olhos
do rei meu Senhor o vejam: mas porque deseja o rei meu senhor este negócio? Porém a
palavra do rei prevaleceu contra Joabe" - para a sua infelicidade e às custas de
Israel.
Que felicidade teria sido para Davi e Israel se Joabe não tivesse
concluído o trabalho, porém ele obedeceu e numerou o povo. Eram "...
oitocentos mil homens de guerra, que arrancavam espada; e os homens de
Judá eram quinhentos mil..."
Mas, qual foi o fruto, qual foi o efeito disso?
1. Lê-se: "... e o coração doeu a Davi... " versículo 10. Isto é, sua consciência
o acusou. Se a consciência não for um freio, será um chicote. Se ela não for
refreada, ela será açoitada. Se não ouvirmos os avisos, sentiremos os golpes.
Se ela não nos impedir de pecar pela admoestação, ela nos fará sofrer pela
contrição.
2. Todavia isso não era tudo. Deus o puniria pelo pecado. E nós
podemos reconhecer o pecado através da punição. Ele tinha se gloriado nos
números e por essa razão Deus diminuiria essa soma. Deus submeteria à sua
escolha três julgamentos, os quais seriam: sete anos de fome, três meses
fugindo dos seus inimigos, ou três dias de pestilência. Mas, qualquer um dos
três seria um grande flagelo.
No entanto, atentemos para o comportamento de Davi. Deus o ameaça
com julgamento e ele lamenta pelo seu pecado. "O coração afligido de Davi e
sua oração, embora registrados antes, parecem ser um resultado da descoberta
de seu pecado pelo profeta, como se yê no versículo subseqüente: "...
levantando-se pois Davi pela manhã veio a palavra do Senhor ao profeta Gade, vidente
de Davi... ". Isso revela a razão pela qual o coração de Davi se afligira e porque
ele orou assim, pois o profeta esteve com ele e havia lhe convencido de seu
pecado, tinha anunciado o julgamento de Deus contra ele, depois que "o
coração doeu a Davi" e ele orou, versículo 10: "... Peço-te que traspasses a
iniqüidade de teu servo; porque tenho procedido mui loucamente..."
Aqui, porém, alguém pode interrogar: por que Davi orou pelo perdão
de seu pecado, quando Deus ameaçou com julgamento? Por que ele não pediu
que Deus suspendesse Seus castigos, e assim desviasse Sua ira em vez de
simplesmente suplicar perdão pelo seu pecado? Ou se ele desejou isso, por
que então não suplicou tanto um quanto o outro, unindo-o na mesma petição?
Resposta 1. Para ensinar-nos em todas as opressões e aflições sobre o
nosso homem exterior a voltarmos os nossos pensamentos para o nosso
homem interior e lamentar pelo pecado.
Resposta 2. Porque ele viu o pecado como a causa do julgamento e
portanto, desejou a remoção deste para que o outro fosse retirado.
Resposta 3. Porque ele sabia que o julgamento jamais poderia ser
removido através da misericórdia, a menos que o pecado fosse retirado. Tudo
o que é retido é também uma reserva. Toda libertação é feita em justiça, não
em misericórdia, se permanece o pecado.
Resposta 4. Ele estava mais apreensivo por estar desonrando a Deus
através de seu pecado, do que propriamente com qualquer julgamento que
resultasse do seu pecado.
Resposta 5. Ele vê no pecado o grande mal, e portanto busca a correção
deste mais do que qualquer outro mal: "...traspasses a inqüidade do teu servo...".
No texto observa-se duas partes da oração: (1) Confissão (2) Petição.
1. Confissão, com auto-julgamento: "porque tenho procedido mui
loucamente... "
2. Petição: "... traspasses a iniqüidade do teu servo... ", unida com fé.
Aqui temos (1) o suplicante, Davi, declarando seu relacionamento: "...
teuservo", (2) o suplicado, Deus, (3) a petição em si:"... traspasses (ou perdoes) a
iniqüidade de teu servo...". A frase parece ter relação com o bode expiatório, um
tipo de Cristo, que levou os pecados do povo de Israel para o deserto (Lev.
16:22), dessa forma significando a retirada dos pecados por Cristo.
Há pouca dificuldade nas palavras, a não ser aquela dificuldade que
criemos. Realmente, seria criar uma dificuldade se tentássemos explicar aquilo
que é tão evidente, em vez de expor as palavras. Se eu fosse falar das várias
distinções que os homens fazem do pecado, diria três palavras no hebraico.
Pela primeira eles entendem o significado do pecado original, pela segunda
enfermidades, e pela terceira seus pecados mais graves. Mas após um exame,
descobri-as usadas mescladamente, e portanto tais distinções não tem
fundamento.
As letras das palavras e seu aspecto exterior no texto falam de três
doutrinas:
1. Que os servos de Deus podem cometer pecado, cometer iniqüidade:
"... a iniqüidade de teu servo..."
2. Pecados novos devem ter novos arrependimentos. Se você renova
seus pecados, você deve renovar seu arrependimento.
3. É necessário perdão novo para novas insurreições: "... traspasses...".
Ele não diz: "... assegure-me que estão sendo traspassados...", e sim
"traspasses". Este, porém, não será o assunto de meu discurso agora.
O que pretendo enfocar é o tempo e a ocasião de tais palavras, que foi o
momento da ameaça de Deus contra Davi.
1. O pecado verdadeiramente é, e o povo de Deus entende que o seja, o
mal sem par no mundo.
Ele não disse, "traspasses a praga", nem "traspasses o julgamento", e sim
"traspasses a iniqüidade". Ele olhou para o pecado como o maior mal.
2. Quando Deus ameaça punir o pecado, a melhor coisa é correr para
Deus para que Ele o retire. Ou, quando a mão de Deus é temida ou sentida,
seria sábio para o cristão arrepender-se do pecado, desejando a remoção deste.
Comecemos com o primeiro, o que o pecado realmente é, e que o povo
de Deus entende que ele é o maior mal no mundo. Nós o tomaremos (1) por
partes, (2) as juntaremos. A doutrina se divide em duas partes: (a) que o
pecado é o maior mal no mundo, e (b) que o povo de Deus sabe disso.
Para o primeiro, que o pecado é o maior mal no mundo, posso
demonstrar isso (i) pela comparação desse com outros males, e (ii) pela
demonstração e prova disso.
Se você comparar o mal do pecado com os outros males, verá quão
pequeno os outros males são em relação ao pecado.
1. Antes de tudo mais, os outros males são somente externos. São
relacionados somente ao corpo, o estado, o nome, porém o pecado é um mal
interior, um mal da alma, e este é o pior dos males.
2. Todos os outros males são somente de natureza temporal, eles têm
um fim. Pobreza, doença, desgraça, todos esses são grandes males, mas estes e
todos os outros, têm um fim. A morte põe um fim em todos eles. Contudo, o
mal do pecado é de natureza eterna e nunca terá fim. A eternidade em si
nunca porá um fim nisso.
3. Todos os outros males não fazem do homem o obj eto da ira e da
inimizade de Deus. O homem pode ter todos os outros males e ainda assim
permanecer no amor de Deus. Você pode ser pobre e ainda ser precioso na
avaliação de Deus. Você pode estar debaixo de toda espécie de miséria e ainda
assim ser amado por Deus. Todavia existe um mal que faz da alma o objeto da
ira e da inimizade de Deus. A ausência de todos os outros bens, e a presença
de todos os males criados, não tornará você abominável para Deus se não
houver pecado, contudo, a presença de todos os outros bens e a ausência de
todos os outros males não irão tornar você amado se houver pecado.
4. Todos os outros males somente se oporiam ao seu bem-estar presente,
porque eles não podem roubar as suas futuras alegrias, mas o pecado se
oporia ao seu bem-estar para sempre. Você não pode ser feliz se não for santo.
E ainda mais, este se opõe ao seu ser. Ele o leva a morte. Você pecaria até
morrer, caso Deus não o impedisse e fizesse com que se sentisse um
miserável, por causa do seu pecado.
5. Todos os outros males são destrutivos para o homem em si; eles
lutam contra particularidades. Entretanto este é contrário ao bem universal,
sendo contrário a Deus, e é, até onde pode ser, destrutivo ao próprio ser de
Deus, como mostrarei doravante.
6. Todos os outros males são criações de Deus, e portanto bons. Ele é o
possuidor de tudo; Ele é o autor de tudo o mais. "... sucederá qualquer mal à
cidade, e o Senhor não o terá feito?" (Am. 3:6), significando todos os males de
punição penal, não mal pecaminoso, pois este é criação do diabo e realmente
pior do que tudo mais, sendo todo pecado.
7. Todos os outros males são medicina de Deus e são usados como
remédios, tanto para a prevenção, como para a cura do pecado.
Como prevenção do pecado: para que você não seja condenado com o
mundo, Ele envia aflições e males sobre você (I Cor. 11:32). Ele permitiu a
satanás tentar Paulo e o entregou aos seus ataques, o que no entanto é o maior
mal no mundo e o mais próximo do pecado, o maior mal punível no mundo. E
para que impedisse o pecado, como disse o apóstolo em II Cor. 12:7, Deus
enviou um mensageiro de satanás para esbofeteá-lo, e qual era o motivo? Só
para prevenir o pecado, para que nao se exaltasse, isto é, para que não ficasse
orgulhoso.
E como Ele usa todos os outros males para prevenção, do mesmo modo
Ele os usa para a cura do pecado. Não se conhece nenhum remédio que possa
ser tão ruim como é essa doença. Todos os outros males Deus tem permitido
sobre o Seu povo para a cura ou para a recuperação do estado pecaminoso. E
para falar sem exagero, não há tanto mal na condenação de mil mundos de
homens como existe no menor pecado, no menor pensamento pecaminoso que
se levante no espírito, visto que o bem destes carece do bem e da glória de
Deus.
Pela comparação deste mal com os outros males, pode ver que de todos,
o pecado é o mal supremo - o que passaremos a demonstrar a seguir.
1. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que luta contra e se opõe ao maior Bem, deve ser o maior mal,
portanto, o pecado se opõe e luta contra o maior Bem. Por isso um dos Pais da
Igreja chamou o pecado de "Deus-matança", aquele que luta contra o ser e a
essência de Deus, aquele que, se fosse suficientemente forte e infinitamente
mau como Deus é infinitamente bom, porfiaria para "acabar" com Deus. Deus
é summum bonun, e realmente non datur summum malüm, o pecado não pode
ser infinito.
Se o pecado fosse tão mau quanto Deus é bom, isto é, adequada e
proporcionalmente, se fosse infinitamente mau como Deus é bom, o pecado
seria difícil demais para Deus perdoar. Seria difícil demais para Deus
subjugar, difícil demais para Deus vencer. O pecado se empenharia em vencer
Deus.
Realmente há mais mal no menor pecado do que há do bem em
qualquer um dos anjos do céu. Por isso o pecado conquistou-os espoliando
toda a bondade deles, tornando-os demônios, o que não aconteceria se o bem
existente neles tivesse sido maior do que o mal do pecado.
Contudo, ele não é capaz de conquistar a Deus, de vencê-lO (há mais
bem em Deus do que mal em dez milhares de infernos de pecado e por isso
ele não pode vencer o poder de Deus, a misericórdia de Deus, a santidade de
Deus), ainda assim ele batalha e faz complô contra Deus continuamente.
Reúne todas as forças contra Ele e vem em campo aberto desafia- IO todos os
dias.
E não somente isso, quando expulso do campo aberto pelo poder de
Deus e Suas ordenanças, então o pecado tem fortalezas, como diz o apóstolo
em II Cor. 10:4, e a partir delas luta e se opõe a Ele. Usa sua concupisciência
contra Ele, sua vontade contra Ele, seu coração se levanta contra Ele.
Quando o pecado é expulso do campo, ainda leva um longo tempo até
que seja expulso da fortaleza. Quando ele na prática é vencido e conquistado,
mesmo assim, na afeição é difícil de ser vencido. A oposição que há entre
Deus e o seu coração pecaminoso é difícil de ser vencida. Custará a você
muitas batalhas, muitos assaltos, até que possa vencê-lo em suas fortalezas,
vencê-lo em seu coração.
Embora às vezes possa parecer estar vencido e extirpado, ele ainda
posteriormente se refaz e fará novas investidas contra você, para enfraquecê-
lo e feri-lo.
Ora, aqui está a malignidade, a maligna e venenosa natureza do pecado,
embora Deus o tenha conquistado, contudo ele nunca foi enfraquecido, ele
ainda irá agir contra Deus e expelir seu veneno.
Temos um exemplo disso no ladrão sobre a cruz. Quando ele foi
pregado na cruz, mãos e pés cravados, somente um membro não ficou fixo, e
esse membro podia ainda expelir seu veneno, injuriando Cristo. Assim, apesar
de Deus ter crucificado o pecado, enquanto houver vida nele, ele agirá por si e
expelirá veneno contra Deus, o que mostra essa grande oposição entre Deus e
o pecado. E por isso essa obstinação e oposição ao maior Bem deve mostrar
que o pecado é o maior mal.
2. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que é universalmente mal não tendo bem nenhum em si, deve
ser o maior mal do mundo. O pecado é inteiramente mal. Como podemos
dizer de Deus "não há mal nEle pois Ele é bom" então posso dizer do pecado,
não há bem nele, pois ele é inteiramente mal!
Há algo de bom nas piores coisas do mundo e há algo nas piores coisas
para torná-las elegíveis a nossa escolha em alguns casos; algo bom na doença,
algo bom na morte. Entretanto, não há bem algum no pecado e nem pode
qualquer situação no mundo fazer do pecado o objeto de nossa escolha.
Embora um pecado pudesse evitar a morte, ainda assim o pecado é
universalmente mal e não há bem algum nele. Você não deve fazer uso do
pecado a fim de evitar a morte.
Por isso vemos que quando o apóstolo Paulo se referia ao pior pecado,
ele não encontrou nenhuma expressão pior do que esta para descrevê-lo em
Rom. 7:13 "excessivamente maligno ". Ele o chama de excessivamente maligno -
maligníssimo!
3. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que é o único objeto da ira de Deus deve ser o supremo mal.
Mas o pecado é o único objeto, não somente o objeto, porém o único objeto da
ira de Deus. Ele não odeia nada a não ser o pecado. Seu amor flui nos diversos
ribeiros em direção a tudo o que Ele tem criado, contudo a Sua fúria corre por
somente um canal, e este em direção ao pecado.
Se o homem fosse feito o centro de todos os outros males no mundo,
Deus ainda assim poderia amá-lo se o pecado não estivesse nele. Se existe
uma confluência de todos os outros bens, saúde, beleza, riqueza, aprendizado
e tudo o mais, Deus o abomina se existir nele pecado. O amor de Deus não
habitará nele, e sim a Sua ira.
4. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que separa a alma do Bem maior, aquilo que separa a alma e
Deus, o Bem maior, deve ser o maior mal. O pecado faz separação entre a
alma e Deus: "mas as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus" (Is.
59:2), entre sua alma e a graça de Deus, entre sua alma e o conforto de Deus,
sua alma e as bênçãos de Deus.
Diz-se que Naamã era um grande homem, um homem honrado, um
poderoso homem de guerra, porém ele era um homem leproso. (II Reis 5:1).
Quaisquer ornamentos que o homem tenha, quaisquer dons, beleza, bens,
riquezas, etc, entretanto se ele for leproso, apesar de ser um homem letrado,
um homem rico, ele é um homem repulsivo e isso estraga tudo.
5. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que é o fundamento e a causa de todos os outros males deve ser
o mal sem par, pois o pecado é a causa de todos os outros males. O mundo
antigo foi submerso em água? Isso foi por causa do pecado. Sodoma foi
destruída com fogo, se transformando num lago de asfalto até o dia de hoje?
Isso foi por causa do pecado. Jerusalém foi transformado em ruínas? O pecado
fez isso. Se eu continuar citando nunca encontrarei um fim.
O pecado é a causa de todos os males nacionais. A seguir daremos
nomes a alguns deles.
1. Guerras "E se escolhia deuses novos, logo a guerra estava às portas".
(Juízes 5:8).
"De onde vem as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vem dos
vossos deleites?". (Tiago 4:1).
2. Fome "Ele converte a terra frutífera em terreno salgado, pela
maldade dos que nela habitam. (Salmo 107:34). "Por isso também vos dei
limpeza de dentes (por causa de seus pecados) em todas as vossas cidades, e
falta de pão em todos os vossos lugares, etc." (Amós 4:6).
3. Pestilência Observe o pecado de Davi em numerar o povo em
Deuteronômio 28:21: "O Senhor te fará pegar a pestilência, até que te
consuma da terra a que passas a possuir." Como o pecado é a causa dos males
nacionais, assim ele é também a causa dos males pessoais, e eles são (1)
temporais, (2) espirituais, e (3) eternos.
O pecado é a causa, a conseqüência, o responsável por tudo. Todos os
males têm origem no pecado. O pecado é um mal protuberante e todos os
outros males provêm dele. Alguns se manifestam sobre os seus corpos:
doenças, dores, temores, enfraquecimentos. Outros sobre suas almas: medos,
corações feridos, terrores, horrores. Se você pudesse rasgar o pecado,
encontraria tudo isso habitando no interior do menor pecado.
Quer saber de uma coisa? O pecado foi o fundador do inferno, aquele
que assentou a pedra angular da câmara mortuária das trevas, pois antes do
pecado não existia inferno. E ainda, foi o pecado que edificou o inferno e o
tem equipado com aqueles tesouros e riquezas da ira, fogo e enxofre. E não
somente isso, entesoura ira para o dia da ira (Rom. 2:5).
Portanto, sendo um mal universal, um mal católico, o útero dos males e
a causa de tudo, é o maior mal.
6. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que é pior do que o mais terrível dos males, há de ser o pior dos
males, porém o pecado é o mal sem par. Aquilo que é maior do que o maior
mal é excessivamente mau. O inferno é o mais terrível mal, todavia o pecado é
pior do que o inferno em si. O inferno separado do pecado é somente
miserável, não pecaminoso; um lugar punitivo, não um pecado em si.
Separe o inferno do pecado (embora não possamos fazê-lo, ainda
podemos fazer uma separação intelectual, abstrair o inferno do pecado só em
nosso entendimento), digo então que o pecado é pior do que o inferno, porque
o inferno é somente um lugar punitivo, o pecado é um mal excessivamente
maligno. Existe o bem na punição, o bem na justiça, mas não existe bem
nenhum no pecado, portanto, o pecado em si é o maior mal.
Agora vamos ao segundo ponto, que é o principal. O pecado em si, na
compreensão do povo de Deus, é o mal sem par. Seus lamentos pelo pecado, e
seus sofrimentos a fim de evitá-lo, mostra que ele reconhece ser o pecado o
mal sem par.
1. Concernente a seus lamentos pelo pecado - pode ser visto nos salmos
penitenciais de Davi quantas foram as lamentações e os gemidos dele por
causa do pecado. Leiam o Salmo 51. Por que, qual foi a razão para eles? Todos
os sofrimentos, todos os males no mundo não o teriam afetado tanto quanto o
seu pecado. Paulo diz em Rom. 7:24: "Miserável homem que sou! Quem me
livrará do corpo desta morte ? " A morte de seu corpo não era nada para ele em
comparação com o corpo da morte!
Paulo passou por muitas tribulações, suportando grande sofrimento,
como vocês podem ler em II Cor. 11:23-25. No entanto, todos esses flagelos,
essas prisões e perseguições não machucaram tanto o seu coração como o
pecado, isto é, não o poder do pecado, e sim sua simples presença. Ainda que
tenha sofrido muito, não lemos que ele tenha lamentado por tudo isso. Mas
lamentou pelo pecado, "Oh miserável homem que sou! Quem me livrará deste
corpo do pecado?" Assim fez Pedro, Manasses e outros.
2. Concernente ao sofrimento deles para evitar o pecado - Daniel estava
contente ao ser atirado na cova dos leões, os três jovens no fogo, Paulo e Silas
nos troncos. E muitos filhos de Deus escolheram prisões, estacas, fogo, e as
mais ardentes perseguições em vez de pecar, o que claramente evidencia para
nós que consideraram ser o pecado o maior mal.
Eles consideraram-no pior que a pobreza, que é um grande mal.
"Melhor mendigar do que pecar" disse alguém. "Moisés escolheu antes ser
maltratado com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado ".
(Heb. 11:24-28). Alguém semelhante a Moisés, Caleacius Caracciolus, foi um
nobre príncipe e marquês que, para não pecar, deixou tudo o que tinha e foi
morar em pobreza com o povo de Deus, meramente para se deleitar nas
ordenanças.
Músculus, um homem de grande sabedoria e famoso teólogo, em vez de
pecar preferiu se submeter a qualquer condição. A história conta-nos que
sendo despojado de tudo quanto tinha, contentou-se, a fim de não pecar, em
tornar-se um pobre comerciante, tecelão, para conseguir pão para sustentar
sua esposa e filhos. Posteriormente, sendo marginalizado, o mundo
considerando-se bom demais para ele, foi trabalhar com uma pá nas valas
comuns da cidade para conseguir sua sobrevivência. Ele aceitaria qualquer
condição, menos a que o levasse a pecar.
Eles não somente compreenderam que o pecado é um mal pior do que a
pobreza, compreenderam que é algo pior do que a própria morte em si. Este
foi o discurso de Ambrósio: "Você me lançará na prisão? Você tirará minha
vida? Tudo isso é preferível para mim do que o pecado."
Quando Eudóxia, a Imperatriz, ameaçou Crisóstomo, aquele a quem
posteriormente baniria, ele enviou-lhe esta mensagem: "Vá e diga-lhe", disse
ele, "Eu não temo nada neste mundo a não ser o pecado".
3. Eles consideraram o pecado como sendo um mal maior do que a
morte. Basil fala de uma jovem rica, à qual, sendo condenada ao fogo e
sentenciada a perder todos os seus bens por não adorar ídolos, foi oferecida a
promessa de vida e a restituição de seus bens se ela se retratasse. Ela
respondeu, "Adeus vida, que pereça o dinheiro." Olhem para o caso das "Dez
Sangrentas Perseguições" e os nossos recentes dias cruéis sob a rainha Maria, e
encontrarão muitos exemplos dessa natureza.
4. Ademais, eles não somente compreenderam que o pecado é um mal
maior do que a morte; mais do que isso, viram-no como um mal maior do que
o inferno em si. Isto foi o que disse Crisóstomo: "Assim penso, e
conseqüentemente sempre irei pregar, que é mais amargo pecar contra Cristo
do que sofrer os tormentos do inferno."
Anselmo disse que se por um lado lhe fosse apresentado os males do
pecado, e por outro lado os tormentos do inferno, ele preferiria escolher cair
no inferno do que cair em pecado. Tal era a distância que estavam os corações
deles do pecado. E nada é mais comum do que expressões como essas feitas
pelos santos em tentações, em tribulações de espírito, ou num esclarecimento
de seus próprios corações: "Prefiro que me matem, prefiro que me
amaldiçoem, prefiro que me lancem no inferno, do que me permitir pecar
contra Ti."
Isso deve ser o suficiente para esclarecer a parte doutrinária. Agora
vamos à aplicação.
1. CONSEQÜÊNCIA
Se o pecado é o maior mal no mundo, então vamos nos prostrar e
admirar a sabedoria e adorar a bondade de Deus, Aquele que do maior mal,
traria o maior bem, Aquele que faz do maior mal uma ocasião para o maior
bem jamais feito antes. Bernardo foi tão absorvido por tais pensamentos a
ponto de dizer: "Bendito erro que proporcionou tal Redentor."
Deveríamos ficar humilhados pelo erro e agradecidos a Deus pelo
Remédio, e dessa maneira admirar a sabedoria e a bondade que foram
reveladas por causa da maldade do homem para declarar a bondade de Deus;
pelo pecado do homem tornou conhecida e expressa Sua infinita sabedoria,
poder, misericórdia, justiça, etc. Esta seria então uma oportunidade para
manifestar todos os Seus gloriosos atributos; pois Ele traria bem do mal, vida
da morte, céu do inferno, bem do pecado, licor do veneno.
Nunca duvidemos, nunca suspeitemos, de que Deus pode trazer o bem
de qualquer coisa, pode tornar os maiores males na manifestação de Sua
glória e o bem do Seu povo, Ele pode tirar benefício do pecado e do inferno. O
que é para Ele transformar as aflições, perseguições, conspirações
emalignidades do homem? O que é para Ele transformar os problemas,
guerras, etc., em Sua própria glória, e o progresso de Sua causa? Ele que foi
capaz de transformar o maior mal em bem?
Ele que pode transformar o mal do pecado, o qual é a quintessência do
mal e o maior dos males, pode muito mais transformar o mal do problema no
bem de Seu povo. Isso fez com que o apóstolo dissesse que todas as coisas
cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Aquele que tem
experiência disso não precisa duvidar de nada mais. Esse Deus, que pode
transformar o pecado, pode transformar as aflições, cruzes, perseguições e
tantas outras coisas, no bem de Sua Igreja e de Seu povo.
2. CONSEQÜÊNCIA
Daí se conclui que ser entregue ao pecado, é a mais triste punição, o
mais terrível julgamento que existe no mundo.
Esta é a pior punição que Deus impõe sobre os homens, portanto, é a
maior de todas as punições.
Deus normalmente age em etapas em Sua maneira de julgar. Primeiro,
Ele começa com a menor. Se não der resultado, então Ele aumenta a
intensidade. Ele punirá sete vezes mais, e quanto mais longe Ele for maiores
serão Seus golpes.
Esta é a conclusão, o golpe final; esta é a última punição e a maior de
todas elas, entregar o homem ao estado lamentável do pecado, dizendo-lhe:
"Aquele que é sujo, suje-se ainda, aquele que é imundo seja imundo ainda ". Ele disse
isto em Ez. 24:13:"... pois te purifiquei, e tu não te purificaste; nunca mais serás
purificada da tua imundícia..." Ele diz ainda aos israelitas: "Porquanto Efraim
multiplicou os altares para pecar; teve altares para pecar. " (Os. 8:11).
Oh, não há outro julgamento mais triste no mundo do que o homem ser
abandonado à corrupção do seu próprio coração! Isso traz como conseqüência
eterna noite de trevas.
"Bom Deus, liberta-me de mim mesmo" disse Agostinho. Seria melhor
você ser entregue à corrupção dos homens, à malícia e crueldade de homens
sanguinários; melhor ser abandonado a extrema fúria e malícia dos nossos
irlandeses rebeldes do que ser entregue à consupciência do seu próprio
coração. Uma pessoa estaria em vantagem se fosse entregue a satanás do que
ser entregue a si mesma e aos seus pecados.
Segundo lemos em I Cor. 5:5, a pessoa incestuosa foi entregue a satanás,
e foi restaurada novamente. Contudo, nunca lemos de alguém que fosse
entregue a si mesmo e que tenha retornado, de alguém que fosse entregue à
concupiscência do seu próprio coração que tenha se recuperado. Melhor
então, ser entregue a satanás do que ao pecado, pois nenhum outro mal é tão
grave como o pecado.
Trata-se de Deus na posição de juiz, que pode punir um pecado com
outro e amaldiçoar o pecado com dureza de coração. Mas com relação a nós é
um mal pecaminoso. Trazemos o escrito e a cera e Deus coloca Sua chancela
sobre ela, e então somos aprisionados para sempre. E vocês estão caminhando
para esse destino, vocês que andam em pecado e não querem ser corrigidos.
Apesar de Deus ter operado através da doença e das aflições para recuperá-
los, vocês ainda estão de caminho para este julgamento final: "Aquele que está
sujo, suje-se ainda".
3. CONSEQÜÊNCIA
Se o pecado é o maior mal no mundo, então vejam quão loucos são
aqueles que procuram livrar-se de outros males, admitindo o pecado. Aquele
que trabalha para evitar outros males, ou removê-los praticando o pecado,
incorre no maior de todos os males. Ele se mata para salvar-se. Ele se destrói
para preservar-se. Aquele que tenta salvar a sua vida dessa forma, perdê-la-á.
Jamais houve tempos tão ruins que o povo de Deus não pudesse estar
seguro neles se apenas tivesse confessado o pecado. No entanto, ele achou sua
segurança no sofrimento, quando devia tê-la achado na confissão do pecado.
Vemos isso exemplificado na ação dos três jovens: Sadraque, Mesaque e
Abednego.
Este era o argumento dos cristãos primitivos quando foram ameaçados
com prisões e mortes, caso não renunciassem a Cristo. "Bom Imperador, você
ameaça com prisão, mas Cristo ameaça com o inferno!"
Quando Cipriano foi sentenciado a morrer pela mesma causa, o
governador tentou discutir com ele que deveria ter pena de si e renunciar seu
erro ao invés de perder sua vida. Cipriano, porém, respondeu-lhe: "Senhor tu
és meu juiz, e não meu conselheiro. Em tão clara e justa causa não há
necessidade de conselho. Não irei desonrar a justiça da minha causa, entrando
em discussão e conselho como se fosse decidir entre sofrer ou pecar". É como
o caso da jovem de quem Basílio fala, que preferiu dizer adeus à vida e aos
seus bens do que abandonar sua profissão de fé.
Quão deplorável coisa seria assegurarmos as nossas vidas através
daquilo que é a nossa ruína, comprar nossa liberdade através da escravidão,
nossa salvação através do pecado. Vejam o que isso custou a Frances Spira e
Cranmer nos dias da rainha Maria. Cranmer não sabia como vingar-se por seu
próprio ato, a não ser queimando primeiro aquela mão que tinha contribuído
para o pecado.
É melhor ainda estar na prisão do que pelo pecado abrir a porta da
prisão, porque é melhor ser prisioneiro de Deus do que ser um homem livre,
pertencendo ao diabo. Melhor perder tudo do que preservar nossos bens pela
prática do pecado.
E portanto, quaisquer que sejam seus problemas, quaisquer que seja
seus temores, quaisquer que sejam seus perigos, tenham cuidado em
preservar-se ou comprar liberdade ou mesmo vida por um preço tão alto
como abraçar-se ao pecado, desonrando a Deus e ferindo suas próprias
consciências. Tenham cuidado ao se tornarem amigos do homem, fazendo de
Deus o seu inimigo.
Não sabemos ainda qual será o rumo dos nossos tempos, porém está
fora do alcance do poder ou da malícia dos homens fazer de você um
miserável, meu amigo, se eles primeiro não fizerem de você um pecador.
4. CONSEQÜÊNCIA
Se o pecado considerado separadamente é um mal tão grande, o que é
então o pecado circunstancial? O pecado contra o conhecimento? Contra
intenções? Se há tanto mal no pecado, no menor pecado, quanto haveria,
então, no maior? Se os átomos são tão grandes, quão grandes então são as
montanhas? Se os pensamentos impertinentes são tão pecaminosos, tendo
mais pecado neles do que todos os tesouros do céu possam expiar (a exceção
de Deus e Cristo) o que seriam então, os pensamentos rebeldes, os
assassinatos planejados, o adultério, a maldade premeditada, os meios e fins
gananciosos, o desrespeito a Deus, negligenciando e desvalorizando Seus
caminhos? Se há tanto pecado e inferno numa vã e tola palavra, que inferno
de pecado, que montanha de ira há em seus discursos apodrecidos, fétidos,
seus terríveis juramentos de sangue e blasfêmias?
Se existe tanto mal num pecado, considerando-se simplesmente um
pecado, o que devemos pensar do pecado composto, pecado pormenorizado,
pecado feito excessivamente maligno? Pecado contra a sabedoria? Contra as
intenções? Contra as misericórdia? Oh, sente-se e considere um pecado e veja
como ele é grande! Aquele pecado que eu cometi contra o conhecimento,
contra os avisos da consciência, contra o mover do Espírito, etc. E me diga se o
menor pecado não é excessivamente pecaminoso.
5. CONSEQÜÊNCIA
Se o pecado é um mal tão grande, então vejam quão loucos são aqueles
que zombam do pecado: "Os loucos zombam do pecado " (Prov. 14:9), eles
brincam com o pecado. É um esporte jurar, ficar bêbado, etc. Eles irão pecar
por esporte e recreação. É recreação para eles praticar o mal, beber, jurar,
mentir, profanar o dia do Senhor. Estes são loucos. Loucos naturais? Não.
Aquele que prossegue assobiando, tagarelando e na ociosidade, está numa
situação melhor. Este é um louco espiritual, o maior dos loucos.
Vocês se divertiriam com veneno? Vocês se divertiriam com o inferno?
Não, e ainda mais, vocês se divertiriam com sua própria destruição?
Vocês se divertiriam com aquilo que foi tão amargo para Cristo, e que
também lhes será, caso não sejam perdoados?
Quem se divertiria com aquilo que é a miséria dos homens e demônios
perdidos, tanto aqui quanto no inferno eternamente?
Consideraríamos desprezível alguém divertir-se dilacerando o corpo,
ferindo e derramando o sangue de um estranho, de um inimigo, porém
quanto mais do nosso mais querido Amigo? Vocês que se divertem com o
pecado, fazem o mesmo com Cristo. Vocês se divertem matando Cristo,
crucificando-O, dilacerando Seu corpo novamente. Toda blasfêmia é um
punhal no Seu coração, como uma lança no Seu lado novamente.
Divertir-se com o pecado é a maior manifestação da natureza
demoníaca no mundo. Ninguém a não ser os demoníacos fazem isso. Este é o
fardo de Deus. Ele Se queixa disso e considera um alívio ficar livre de vocês:
"Ah! consolar-me-ei acerca de meus adversários." (Is 1:24).
Isto é o ferir a Cristo, o pesar do Espírito, o problema dos anjos, a
destruição das criaturas. Acaso vocês se divertiriam com aquilo que trouxe
todo o mal sobre o homem e mesmo sobre Cristo? Divertir-se--iam com o que
gerou o inferno e o abasteceu, com o que tem sido o tormento das almas e o
será para sempre?
Oh, não se alegrem naquilo que foi o sofrimento de Cristo e será o seu
também para sempre, caso sua alegria no pecado não se transforme em pesar
pelo pecado!
6. CONSEQÜÊNCIA
Se o pecado é o maior mal, então vejam a absoluta impossibilidade de
recebermos alívio e socorro da parle de qualquer um debaixo do céu, por
causa da culpa do nosso pecado, a não ser que venha do próprio Senhor Jesus
Cristo. Você, pecador, cometeu um único pecado? Então, disso nem todos os
tesouros da justiça nos céus e na terra são capazes de livrá-lo ou ajudá-lo, a
não ser o Senhor Jesus Cristo. O que é exigido para expiar a culpa de milhares
de pecados é também exigido para expiar a culpa de um só pecado. Infinita
justiça é exigida para um, e não mais é exigida para milhares. E tal justiça,
ninguém tem a não ser Cristo somente.
Ninguém pode nos libertar do mal do pecado, a não ser Aquele que é
justo. Ora, não existe justiça no mundo que seja proporcional ao mal do
pecado senão a justiça de Cristo. A nossa própria justiça, vocês sabem, é muito
pequena e é chamada de trapos de imundícia (Is. 64:6). Um trapo, portanto,
não pode cobrir-nos; uma imundícia, portanto, embora pudesse cobrir-nos,
cobriria somente a imundícia com outra imundícia, como diz o profeta em Is.
30:1: "...se cobriram com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem
pecado a pecado, " ou seja, eles acrescentam o pecado de sua justiça ao pecado
de sua injustiça. Eles cobrem mancha com mancha, adicionam pecado a
pecado, esterco a esterco.
A justiça da lei ainda não seria suficiente, supondo-se que o homem
fosse capaz de cumprir toda a justiça e guardar toda a lei. A obediência
presente, embora supostamente adequada à justiça da lei, jamais irá responder
pelas ofensas e desobediências passadas.
A lei é forte o suficiente para amaldiçoar a milhares, porém é incapaz de
salvar uma só alma. Pode trazer o inferno, a ira e a condenação sobre um
mundo de pecadores, todavia é incapaz de trazer a graça ou dar justificação
para um só deles. O apóstolo nos diz em Rom. 8:3: "Portanto o que era
impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em
semelhança da carne do pecado, condenou o pecado na carne " . O mesmo apóstolo
nos diz em Gal. 3:21: "... se dada fosse uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na
verdade, teria sido pela lei. " O apóstolo também nos diz em Gal. 3:17: "... a lei que
veio quatrocentos e trinta anos depois... ", para mostrar que não precisamos
trabalhar para que sejamos justificados, e sim sermos justificados para sermos
capazes de trabalhar. Se Deus pretendesse que a lei fosse o instrumento da
justificação, Ele teria dado a lei quatrocentos e trinta anos antes da promessa.
E, ainda mais, essa não é a justiça dos anjos (a qual é maior do que a da
lei, visto que os anjos estavam acima do homem em inocência) porque esta
também foi uma justiça criada finita e de maneira alguma proporcional ao mal
do pecado. Se o tivesse sido, um pecado não teria despojado imediatamente
aqueles gloriosos anjos de sua bondade e feito deles demônios, o que o pecado
fez, mostrando que existiu mais mal no pecado do que bem ou justiça neles.
Bem, então isso mostra a absoluta impossibilidade de sermos libertos do
mal do pecado por qualquer outro no céu ou debaixo do céu, que não seja
Jesus Cristo. Nada a não ser infinitude pode lidar com o pecado. É necessário
infinita sabedoria para tratar disso. É necessário infinita misericórdia para
perdoar, infinito poder para subjugar; infinito mérito para purificar e limpar, e
infinita graça para aniquilar o pecado.
Seja lá o que for que vocês pensem sobre o pecado, na verdade ele tem
sido o grande inimigo com o qual Deus e a Sua graça têm contendido
incessantemente desde que o mundo começou. E é por isso que Deus tem Se
empenhado totalmente, até mesmo a Sua infinitude, em nos resgatar, em nos
salvar das mãos e do poder do pecado. Sua infinita sabedoria, poder,
misericórdia, verdade e santidade, tudo tem sido empregado para vencer o
pecado; quero dizer, tanto para subjugar o pecado como para salvar vocês
pecadores.
O grande propósito de Deus ao enviar Cristo ao mundo, Sua
encarnação, humilhação, paixão e morte, foi exatamente este: subjugar e
destruir o pecado. Que grande inimigo era esse para que Deus enviasse Seu
Filho para subjugá-lo? Ele pode Se utilizar de moscas, piolhos, a menor das
criaturas, para destruir a maior e mais poderosa força sobre a terra, mas nada
menos do que Seu Filho era forte o suficiente para conquistar o pecado.
Vocês podem desprezar o pecado tanto quanto queiram, engoli-lo sem
medo, viver nele sem percebê-lo, cometê-lo sem remorso, no entanto isso que
vocês tornam tão sem importância, requereu nada menos do que o infinito
poder de Deus para ser subjugado, a infinita misericórdia de Deus para ser
perdoado, o infinito mérito de Cristo para expiá-lo. Foi isto que feriu e fez
sangrar o coração de Cristo e fará o seu também, se não se interessarem por
Ele.
7. CONSEQÜÊNCIA
Se o pecado é o mal sem par, então vejam o quanto estamos presos a
Cristo, Aquele que carregou os pecados e todos os males de vocês que têm
interesse nEle.
Oh, o amor de Cristo! Quão admirável que Ele pudesse carregar o
pecado, o qual é maior que todas as misérias, um mal maior do que a morte,
do que o inferno em si!
Caro leitor, se houvesse alguém no mundo que ficasse contente em ser
pobre no seu lugar, levar as suas dores, ficar doente, ser preso, morrer por
você, e ainda sofrer a ira de Deus e padecer as dores do inferno no seu lugar, o
quanto você se. consideraria preso e devedor a tal pessoa por tudo isso?
No entanto, Cristo fez isso por você. Ele carregou o pecado - o maior de
todos os males, aquele que abrange todos os outros em si -pois, ninguém
senão Cristo, seria capaz de fazê-lo.
Se Deus colocasse sobre você o menor pecado, simplesmente um
pecado (o qual ninguém exceto Cristo jamais carregou neste mundo), isso o
faria em pedaços com seu peso, ainda que todos os pilares do céu e todos os
anjos gloriosos contribuíssem com sua força para o ajudar a carregá-lo.
O menor pecado merece e atrai para si uma infinita ira que nem você,
nem todos os anjos do céu são capazes de ficar em pé debaixo dela. Os
perdidos carregam esse peso no inferno. Eles sofrem-no, porém sem forças
para suportá-lo. Eles são moribundos sem poder morrer. Sempre consumindo,
nunca consumidos! Portanto, veja quanto você está endividado a Cristo -
Aquele que carregou o pecado, o maior de todos os males, e com o pecado,
todos os tormentos, ira e justiça atribuíveis ao pecado.
O mundo todo não é capaz de expressar que tormentos Cristo suportou
quando levou o pecado, quando Ele suou gotas de sangue, quando Ele lutou
com a justiça e suportou a ira de Deus: quando Ele clamou: "Deus meu, Deus
meu, por que me desamparaste?" Que estranha exclamação dAquele que era o
Filho de Deus, Ele que fez os patriarcas da Igreja Grega dizerem: "Pela virtude
de Teu desconhecido labor, e aqueles sofrimentos não revelados ao homem,
tenhas misericórdia de nós". Não é desonra dizer que quaisquer que fossem os
sofrimentos dos perdidos, Cristo suportou-os, contudo não em espécie. E
portanto, enfatizo novamente o quanto você deve a Cristo que levou seus
pecados para você. De fato, está mais preso ainda por ter sido um ato
voluntário de Cristo; ninguém poderia forçá-lO ou constrangê-lO a isso.
Quanto mais voluntária for a gentileza feita, tanto melhor ela é. A gentileza é
muito mais digna quando feita voluntariamente.
Quando uma cortesia é voluntária, costumamos dizer que é uma dupla
cortesia. A voluntariedade torna tudo maior, pois quanto maior o mal que está
no pecado, maior é o pecado. Isto se aplica ao pecado contra o Espírito Santo.
Ele é praticado com volição desesperada e diabólica.
Quanto maior o desejo de se prestar um serviço, maior será a aceitação
dele. O que quer que você faça para Deus, quanto maior for a vontade de fazê-
lo, maior será a apreciação de Deus. Quanto maior foi a voluntariedade
envolvida naquele ato de Cristo, tanto maior deve ser a nossa vinculação a Ele
por isso.
Ora, se você considerar isto em toda a sua extensão, não encontrará
nisso outra coisa senão amor e pura boa vontade. Sua primeira aquiescência
foi voluntária. Foi um acordo voluntário feito entre Deus e Cristo, um contrato
de bom grado feito no céu com Deus, de que Ele Se incumbiria dessa grande
obra. E Ele veio ao mundo com tanta voluntariedade: "Pelo que, entrando no
mundo, diz: sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me preparaste; holocaustos e
oblações pelo pecado não te agradaram. Então disse: eis aqui venho (no princípio do
livro está escrito de mim), parafazer, ó Deus, a tua vontade " (Heb. 10:5-7),
evidenciando a liberdade e a voluntariedade de Cristo ao incubir-Se desta
obra.
E por isso os anjos entoaram por ocasião da Sua encarnação, boa
vontade para com os homens. Isso mesmo - boa vontade. E quando Ele estava
no mundo, realizou Seu trabalho com a maior boa vontade. Ele nos fala: "para
esse fim eu nasci, e para esse fim eu vim para o mundo ", e Ele disse que estava em
angústia até que chegasse a hora, a saber, em ânsia de amor até que a hora
chegasse.
E quando chegou o momento, foi uma negra e desoladora hora,
chamada "A hora das trevas"; ainda assim Ele não nos abandonou, não nos
deixou. Se o tivesse feito, teria nos deixado no inferno sem qualquer
recuperação. Contudo, Ele não o fez, embora (em relação a Sua humanidade)
isso fizesse da obra de Sua misericórdia uma coisa estranha. Não, Ele carregou
o pecado, levou a ira e derramou até a última gota de sangue do Seu corpo.
Oh, leitores, pensem consigo mesmos, vocês que são o povo de Deus, o
quanto estão dependentes de Cristo!
Quantos de nós podemos dizer como Bernardo: "Tu és minha vida, sou
Tua morte; Tu és minha justiça, sou Teu pecado; Tu és meu céu, sou Teu
inferno; Tu és minhas riquezas, sou Tua pobreza." Oh, quanto vocês estão
dependentes de Cristo, dAquele que carregou o pecado!
E ainda mais, vocês sabem o quanto estão dependentes de Cristo,
dAquele que carregou o pecado de maneira como jamais poderíamos fazê-lo,
pagando assim o débito do qual estamos absolvidos? "Havendo riscado a cédula
que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e
a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz." (Col. 2:14). Como a morte de Cristo
foi o pagamento necessário para nosso resgate, assim também a Sua ressur-
reição constitui-se em nossa absolvição. "O qual por nossos pecados foi entregue, e
ressuscitou para nossa justificação. " (Rom. 4:25). Somos justificados pelo Seu
sangue? Somos. Todavia Ele não ressuscitou formalmente para justificar-nos,
e sim para declarar que já estávamos justificados, que estávamos
desobrigados, e que nossos pecados foram perdoados.
Se Cristo ainda fosse prisioneiro sob as cadeias da morte, não
poderíamos ter nenhuma certeza de que nosso débito fora pago. Como diz o
apóstolo Paulo: "Se Cristo não houvesse ressuscitado, estaríamos ainda em nossos
pecados". Mas agora Cristo - preso, levado prisioneiro, posto no túmulo e
tendo quebrado os grilhões da morte, na qual era impossível prendê-lO -
tendo ressuscitado, declara, por tudo que passou, que nossos pecados estão
perdoados.
Se realmente Cristo levou o pecado e nós também tivéssemos que levá-
lo, qual a nossa vantagem? No entanto, Cristo levou o pecado de maneira tal
que não temos de levá-lo, então quão infinitamente somos devedores a Ele por
isso!
Cristo não deixou nada para fazermos, a não ser receber o que Ele
adquiriu e entregou nas mãos do Pai: nada além de pedir uma absolvição,
sim, e das mãos dEle que é justo e nunca nos decepcionará, das mãos dAquele
que certamente concederá o que quer que seja que Seu Filho tenha tão
custosamente adquirido pela Sua obra expiatória.
Se umhomem morre e deixa legados nas mãos de alguém que é fiel, não
podemos requerê-los? Quando Cristo morreu, Ele confiou todos os Seus
méritos nas mãos de Seu Pai, e Ele não deixou nada para fazermos, a não ser
requerê-los todos.
Deus fez um pacto com Cristo que, se Ele levasse o pecado, não
precisaríamos carregá-lo também; que se Ele morresse pelo pecado, o mesmo
seria perdoado por Ele; pois tudo isso está incluso em Isaías, capítulo 53,
versículo 11: "O trabalho de sua alma ele verá, e ficará satisfeito ".
Ora, Cristo colocou em nossas mãos todas as cédulas e fianças de Seu
Pai, e ainda uma procuração pela qual estamos autorizados a reivindicar tudo
isso das mãos de Deus.
Foi por nós que Cristo Se incumbiu do trabalho e tudo o que Cristo fez
foi para nos comprometer com Deus, para satisfazê-lO e depois comprometê-
lO, fazer de Deus o devedor daqueles que foram Seus devedores. E enquanto
houver uma gota do sangue de Cristo para ser distribuída (o qual nunca se
esgotará, é uma justiça eterna) haverá a misericórdia de Deus, ou melhor, a
justiça de Deus incumbida de transmiti-la a nós que pela fé chegamos a Ele. E
não sobrou nada para fazermos em relação à justificação, a não ser requisitar
tudo o quanto Cristo já adquiriu.
Vivemos no mundo como se tivéssemos que comprar o perdão, quando
temos apenas de recebê-lo. Deus nos detém pelo débito do nosso pecado, mas
vocês pensam que temos de pagar por ele? Ai de nós, pobres criaturas, se
tivéssemos que pagar! Isto não é senão para tirar-nos de nós mesmos e trazer-
nos para Cristo - Aquele que já pagou o débito.
Oh, como isso nos faria proclamar Cristo, admirá-lO, prezá-lO! O que
poderia aproximar mais o nosso coração a Cristo do que o fato de que Ele
levou os nossos pecados, e o fez de modo que nunca teremos que levá-los se
tivermos interesse nEle?
8. CONSEQUÊNCIA
Se o pecado é o maior mal, então isso deve conduzir-nos para:
1. a maior tristeza
2. o maior ódio
3. o maior cuidado em evitá-lo
4. o maior empenho em livrar-nos dele.
Se o pecado é o maior mal, então precisa haver a maior tristeza por sua
causa. Nenhuma aflição, nenhum problema, nenhum mal deve ser tão amargo
para nós como o pecado, porque o pecado é o maior mal. É uma coisa triste
ver nossos corações suscetíveis e sensivelmente afetados com males menores e
problemas, e ainda permanecerem duros e insensíveis ao pecado, o qual é o
maior dos males.
Seria sábio de nossa parte, portanto, quando nenhum outro mal estiver
sobre nós, voltarmos todos os nossos lamentos, lágrimas e tristezas para o
pecado.
É um aforismo na medicina que, se um homem sangrar copiosamente
num lugar, os médicos o farão sangrar em outro lugar, a fim de fazer o fluxo
de sangue mudar de direção. Seria sábio de nossa parte, quando nossas almas
sangrarem e nossos corações lamentarem por outros males, direcionar todos
os lamentos angustiosos para o pecado. Deixem que eles corram pelo canal
certo.
Lágrimas derramadas deveriam ser derramadas novamente se não
foram derramadas pelo pecado. A tristeza é como a influência de Mercúrio:
boa, se unida a outro planeta bom, má, se ligada a um planeta mau. Não é
tanto a tristeza em si como o é a base e a fonte da tristeza. O motivo dela é que
deve chamar a atenção. A tristeza era nula em Judas, sincera em Pedro, foi
nula em Saul, sincera em Davi. Mundana em um, divina em outro - "A tristeza
do mundo opera a morte ". E tal é toda tristeza que não tem o pecado como seu
fundamento, a graça como seu princípio e Deus como seu fim.
Onde o pecado é entendido como sendo o ma ior mal, será objeto da
maior tristeza, tristeza para exceder todas as outras tristezas.
1. Embora nem sempre em quantidade c tamanho, mas em qual ida de
e equivalência: um pouco de ouro vale tanto quanto unia grande quantidade
de terra e entulho.
2. Embora não em força - porém em extensão e continuidade -outras
tristezas são como terra inundada, ocasionada pela tempestade a qual quando
se vai, a inundação desaparece. Esta tristeza divina vem de um manancial, e
tendo uma fonte para alimentá-la, é permanente mesmo quando a outra se
vai. Esta é a diferença entre a tristeza divina e a outra.
As tristezas do povo de Deus, que são espirituais, vêm de um
manancial. A tristeza mundana surge da tempestade, da comoção. As tristezas
do ímpio surgem de suas tristezas emocionais, surgem de uma tempestade, de
peso na consciência, de temor da ira, portanto suas tristezas mundanas
surgem de uma fonte.
Onde o pecado é compreendido como sendo o maior mal, haverá a
maior tristeza, (1) a tristeza é proporcional à medida e gravidade do pecado e
(2) a tristeza é proporcional ao merecimento e valia do pecado.
Como o merecimento do pecado é infinito, então a tristeza por ele deve
ser uma tristeza infinita. Infinito, digo, não em ação e expressão, porém no
desejo e afeição da alma. Aquele cujo coração e olhos secam ao mesmo tempo,
cuja expressão em lágrimas e inclinação à tristeza terminam ao mesmo tempo,
embora tenha chorado um mar de lágrimas, não tem ainda verdadeiramente
chorado pelo pecado. Se a tristeza vem de Deus, há uma disposição ao
lamento mesmo quando cessam as expressões de lamento, porque cada gota
de lágrima vem de uma fonte interior de lágrimas.
Como cada ato de fé surge de uma disposição de crer, um hábito de fé
interior, todo ato de amor surge de um princípio de amor interior, assim toda
expressão de tristeza surge de uma disposição à tristeza no espírito. Por isso
lemos em I Sam. 7:6 que as tristezas dos filhos de Israel são expressas por esta
metáfora:"... e tiraram água (vinda de um poço) e a derramaram perante o Senhor
". Seus olhos não davam vazão à medida que seus corações se enchiam. Seus
olhos não podiam extravasar tão rápido quanto seus corações produziam.
Todas as suas expressões de lamento, estavam aquém da disposição ao
lamento que havia em seus corações.
Esta é a tristeza pelo pecado: uma tristeza proporcional à medida, ao
demérito do pecado; uma tristeza que excede todas as outras tristezas, embora
não em quantidade, mas em qualidade; embora não em força, porém, em
extensão e continuidade.
O pecado é o supremo mal? Então exige que seja manifestada uma
aversão ainda maior. Nada é propriamente o objeto de aversão a não ser o
mal, no entanto, nem todos os tipos de males, e sim o mal do pecado. Males
puníveis são mais objetos de medo do que de aversão, porque eles são males
impróprios. Nada realmente é mal a não ser o que nos torna maus, e esse pode
ser um meio de nos tornarmos bons e, por isso, não é propriamente mal e sim
um objeto de aversão.
O mal pecaminoso é objeto de inimizade por que é mal e, sendo o maior
dos males, deveria então ter o máximo de nossa aversão." Vocês que amam o
Senhor, odeiem o pecado. (Sal. 97:10). Não é suficiente ficar irritado e descontente
com ele, pois é assim que o homem age com alguém que seja seu amigo,
alguém a quem ele ame, no caso de alguma descortesia. Nem é suficiente
desferir golpes contra o pecado, pois assim muitos o fazem hoje e o abraçam
amanhã. Entretanto, vocês precisam se esforçar para matar o pecado. O ódio
procura anular aquilo que ele odeia. Nada a não ser a destruição dele irá
satisfazer a alma que realmente odeia o pecado.
Há muitos erros nos homens com relação à este ponto. Em resumo, eu
mostrarei a vocês os enganos secretos do espírito em relação a isso e quão
longe estão de odiar o pecado.
1. Um homem pode desavir-se com um pecador pelo qual ele foi
persuadido a pecar, e ainda assim não odiar o pecado; pode matar o traidor e
ainda gostar da traição.
2. O homem pode desavir-se consigo mesmo pelo pecado e ainda assim
não odiá-lo quando este o incomoda, pois ele gosta de pecar.
3. O homem pode indispor-se com o pecado e ainda assim não odiá-lo;
atira fora o carvão em brasa quando ele o queima, e ainda assim não se
contraria com o negrume ou a sujeira que vem dele.
Se o pecado é o maior mal, então isso requer o maior cuidado para
evitá-lo. Os homens naturalmente têm medo de cair no mal. Que estudos, que
cuidados, que esforços há para prevenir o mal? Se vocês entendem que o
pecado é o maior mal, devem então não medir esforços em evitá-lo. Vocês
precisam se esforçar para andarem o mais próximo e corretamente com Deus,
a fim de estarem atentos a todas as ocasiões, tentações e seduções que
poderiam atraí-los para o pecado. Ninguém está totalmente seguro; pode cair
em pecado aquele que negligenciar a vigilância cristã.
Assim, onde o pecado é entendido como sendo o maior mal existirá
maior cuidado e seriedade contra o pecado. Tal homem é familiarizado com as
falhas dos outros, as quais para ele não são limites da terra para orientá-lo, e
sim limites da maré e rochas a evitar. Ele é familiarizado com a fraqueza e a
iniqüidade de seu próprio coração e espírito, e por conseguinte vigia. Ele sabe
que não pode confiarem nenhum dos seus membros sem que esse esteja
debaixo de vigilância.
Os olhos estão cheios de pecado: adultério, orgulho, inveja, concu-
piscência dos olhos (I João 2:16) e ele não pode confiar em seus olhos sem o
pacto de Jó: "Fiz um concerto com meus olhos, como eu os colocaria sobre uma
virgem ? (Jó 31:1).
A língua está cheia de pecado: de maldição, murmurações, injúrias,
palavras vãs e não há confiança nela sem o freio de Davi: Eu disse: guardarei os
meus caminhos para não delinqüir com a minha língua" (Sal. 39). Ele conhecia sua
própria fraqueza e iniqüidade, e por isso não ousava confiar em nenhum
membro sem ser vigiado.
Tal homem está familiarizado com o poder e estratégia de satanás, que
é, como Lutero o chamou, um inimigo sutil, cujas tentações são chamadas de
"as profundezas de satanás". Apoc. 2:24; seus ardis, II Cor. 2:11, seus métodos
Ef. 4:14. Ele também adapta espertamente suas tentações.
Tal pessoa está familiarizada com os perigos e as estratégias do pecado,
e como ele é (1) enganoso em seu objetivo; (2) enganoso em seus argumentos;
(3) enganoso em suas pretensões e artimanhas; (4) enganoso em suas intrusões
e (5) enganoso em suas promessas. E assim tal pessoa manterá uma santa
sobriedade, um temor humilde, grande e cuidadoso sobre seu próprio espírito
de modo a não cair em pecado. Ele vê o pecado como seu mal sem par,
emprega seu maior esforço e cuidado para evitá-lo.
Se o pecado é o maior mal, então devemos principalmente nos
empenhar em nos livrar do pecado. Todo homem deveria se esforçar para
livrar-se do mal, e quanto maior o mal, tanto maior deveria ser o desejo dele
de se livrar desse mal. Ora, o pecado é o maior dos males. Quanto mais então
deveríamos labutar e esforçarmo-nos para sermos libertos do maior dos
males?
Ai, ai de mim! O que são os outros males comparados ao mal do pecado
- o qual torna nosso bem em mal? E ainda para se ver a vileza do íntimo dos
homens, ficam felizes em se livrar de todos os outros males, senão o do
pecado. Assim disse Faraó: "Retire esta morte, esta praga." Eles reclamam do
resultado do mal, porém não do mal em si, da punição do mal, no entanto não
do mal punido. Eles uivam sob os castigos e aflições presentes, mas nunca
lamentam o pecado. Eles ficariam felizes em se livrar da dor, todavia ainda
prefeririam manter os dentes. Infelizmente, até que o pecado seja removido,
não seremos tratados em misericórdia, e sim em julgamento; uma temporária
libertação somente nos reservaria o mais severo golpe. Pelo contrário, onde o
pecado é removido, a aflição será removida. Eles são como o corpo e a
sombra: remova o corpo e a sombra será removida. O pecado é o corpo e as
aflições são sua sombra.
Se, por outro lado, as aflições continuam, ainda que Deus tenha levado
embora o pecado, a vileza do mal terá sido retirada. O pecado é a lança de
toda aflição. O pecado é aquilo que amarga toda cruz, e o pecado sendo
retirado, aquilo que é malévolo é retirado e aquilo que é terapêutico e para a
salvação, permanece. Trata-se de resultados mais do que da punição em si.
Tudo acaba na misericórdia quando pela misericórdia o pecado é retirado.
Se o pecado é o maior mal, então vamos escolher cair em qualquer
grande mal do mundo, exceto no menor mal do pecado. Todos os outros
males têm algum bem neles e são objetos de escolha, no caso de não podermos
evitá-los, mas no caso do pecado é questão de admissão e não de escolha.
Desse modo, vejamos o que Moisés fez, como se lê em Hebreus, capítulo onze.
Ele preferiu ser maltratado com o povo de Deus do que gozar os prazeres do
pecado por um pouco de tempo. Todavia o pecado é totalmente mau, sem
nenhum bem nele, e não existe nada no mundo que deveria nos obrigar a
escolher o pecado.
Seria o pecado o maior mal? Deixemos que isso nos leve a sentir
compaixão e a orarmos por aqueles que estão sob o domínio do pecado. Vocês
se compadecem de amigos doentes, de amigos pobres, amigos arruinados.
Contudo, o que são todos esses males comparados com o mal do pecado? O
que é a pobreza? O que é a doença? O que é qualquer coisa comparada com o
mal do pecado? Todos eles são males exteriores, o pecado é um mal interior.
Tudo isso tem uma natureza temporal, a morte é o fim de tudo, entretanto este
mal é de natureza eterna. Todos os outros males não tornarão ninguém em
objeto da inimizade e ira de Deus. Portanto, gastem algumas lágrimas e
orações por aqueles que estão dominados pelo pecado. "Oh!", disse Abraão:
"Quelsmaelviva diante de ti". Mencionem então os amigos, um irmão, um pai,
etc., que estão debaixo do domínio do pecado, que estão sob a tirania do
pecado. Oh, que vocês possam compadecer-se de suas almas! Oh, que vocês
possam arrebatá-las do domínio do pecado!
Se o pecado é um mal tão grande, então prostremo-nos e admiremos a
grandiosidade da paciência de Deus em suportar os pecadores e a grandeza
da misericórdia de Deus em perdoar o pecado. Admiremos a grandeza da
paciência de Deus em suportar os pecadores. É possível que você, amigo,
tenha sido um pecador depravado, um beberrão,umblasfemomiserável nesses
vinte, trinta, quarenta, talvez sessenta anos ou mais. Deus desistiu de você?
Oh, veja nisso a maravilha da paciência de Deus.
Se não fosse por Deus ser Todo-poderoso na extensão da Sua paciência,
teria sido impossível para Ele suportá-lo por tanto tempo. Assim Ele nos fala
em Os. 11:9: "Eu sou Deus e não homem — eu entrareina cidade para destruí-la ".
EmMal. 3:6 -."EusouJeováe não mudo; por isso vós, ofilhos de Jacó não sois
consumidos ", significando que se Ele não fosse Deus, se não fosse Todo-
poderoso na extensão de Sua paciência, eles teriam sido certamente
eliminados muitos antes.
Se o homem é provocado diariamente e irritado com ofensas e não
revida, atribuímos isso à sua pusilanimidade ou à sua impotência; ou à sua
falta de coragem ou à sua falta de poder. Mas não é assim com Deus. Sua
paciência é o Seu poder (Num. 14:17-18). Quando Deus tinha ameaçado
destruí-los Moisés orou a Deus para perdoá-los, e chamou este ato de Sua
paciência nada menos que Seu poder: "Agora, pois, rogo-te que a força do meu
Senhor se engrandeça; como tens falado, dizendo: o Senhor é longânimo... " Vejam,
Ele faz Sua paciência ser Seu poder. E é isso realmente, se vocês considerarem
o que é o pecado. Eu não direi nada mais sobre o assunto além do que Deus
diz em Lev. 26:21 - pecar é contrariar Deus.
1. Pecar é contrário às obras de Deus. Tão logo que Deus revelou e
aperfeiçoou o sistema do mundo, o pecado deu um golpe na tentativa de
abalar esse sistema, e ele gostaria de ter feito tudo em pedaços. Se não fosse
pela promessa de Cristo, tudo teria se desintegrado.
Se um homem viesse ao atelier de um artesão e com um golpe
quebrasse em pedaços a peça de arte que custou muitos anos de estudo e
dores para idealizá-la, como o artesão suportaria isso? Assim fez o pecado, e
será que Deus deveria suportá-lo? Oh, onipotente paciência!
2. E ainda mais, tudo isso é contrário à natureza de Deus. Ele é santo, o
pecado é obsceno; Deus é puro; o pecado é impuro e, por isso, é comparado
ainda à coisa mais impura do mundo: o veneno de áspides, úlceras, feridas,
etc. Se toda a contaminação nociva do mundo se concentrasse em um antro
comum, não seria igual à contaminação do pecado.
Deus é bom, perfeitamente bom; o pecado é mau, universalmente mau.
Existe o bem em todas as outras coisas, pragas, doenças. O inferno em si tem
um tipo de bem nele. Mas no pecado não. Pecado é a blasfêmia prática do
nome de Deus. É o desafio à Sua justiça, a violência à Sua misericórdia, o
zombar de Sua paciência, o desrespeito ao Seu poder, o desacato ao Seu amor.
É totalmente contrário a Deus.
3. O pecado é contrário à vontade de Deus. Deus nos ordena a fazer
algo. O pecado diz: "Eu não vou fazer isso". "Santificado seja meu sábado", diz
Deus. "Eu não o santificarei", diz o pecado. Aqui há contradição, e quem pode
suportar a contradição?
Isso é considerado como parte importante dos sofrimentos de Cristo
(Heb. 12:3). Ele suportou a contradição dos pecadores contra Si mesmo.
Certamente esse foi um grande sofrimento. Como pode um homem sábio
suportar a contradição de um tolo? É aqui que Cristo -a sabedoria do Pai -
suportou tal contradição dos tolos, a qual Lhe causou grande sofrimento.
O pecado contradiz Deus. Ele põe a vontade contra a sabedoria e o
inferno de uma vontade corrupta contra o céu da infinita sabedoria.
Imaginem! Deus suportando pecadores. Eis a maravilha!
Vocês sabem que em todas as criaturas a oposição opera toda a
combustão. Ela faz toda a guerra na natureza, ela provoca um elemento para
brigar contra outro. Fogo contra água, água contra fogo. Ela faz as muitas
pedras suarem e partir em pedaços.
Percorram toda a criação e não encontrarão nenhuma criatura que possa
suportar ser contrariada. Como pode o pecador viver num mundo onde Deus
e o pecado estão em oposição? Eis aí a maravilha: uma extraordinária
paciência!
O pecado seria um mal tão grande? Então prostremo-nos, e admiremos
a grandeza da misericórdia de Deus em perdoar o pecado. Vejam como o
profeta clama e o admira: "Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a
iniqüidade, e que te esqueces da rebelião do restante da tua herança?... " (Miq. 7:18).
Esta é uma das maiores obras que Deus faz no mundo: perdoar o
pecado. É uma obra na qual Ele revela todos os Seus gloriosos atributos: Sua
sabedoria, Seu poder, Sua justiça, Sua misericórdia, Sua santidade e assim por
diante, ao perdoar o pecado.
Os homens que pensam que a misericórdia perdoadora de Deus é
simples e sem importância, dão dessa forma um sinal evidente de que nunca
receberam perdão, nunca souberam o que era realmente receber o perdão.
Seja houve alguma obra no mundo que pôs Deus à prova, o perdão foi
essa obra. E se algum dia Deus intentou algo de bom para você, Ele o instruirá
e o orientará quanto ao perdão do pecado. Entretanto, Deus humilha os
homens em sua prestação de contas para elevar o conceito deles sobre o
perdão, para promover a grandeza de sua própria misericórdia em perdoar o
pecado. E realmente não precisaríamos de tão grandes preparações e
humilhações ao virmos para Cristo se tivéssemos pensamentos mais elevados
sobre o perdão do pecado. Os homens consideram perdão aquilo que não
passa de um lamento: "Deus, tenha misericórdia!" Cometem uma blasfêmia e
então dizem: "Deus, me perdoe!" ou dizem: "Senhor tenha misericórdia de
mim quando eu morrer!"
Dizem que Luiz II, rei da França, usava um crucif i xo em seu chapéu e
quando ele pecava, beijava o crucifixo e então tudo estava resolvido. Os
papistas fizeram o mesmo com o crucifixo e a confissão. Ah, meus irmãos, se
Deus destinou o bem para vocês, Ele os fará saber o que é perdão. Em Is. 55:8,
quando Deus atraiu os homens para mostrar-lhes o perdão, Ele os chamou
para um lugar alto acima do mundo "... meus pensamentos não são os vossos
pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos ", diz o Senhor. "Se eles
fossem, então Eu não poderia multiplicar o perdão, mas como os céus são
mais altos do que a terra, assim são os Meus pensamentos mais altos do que
seus pensamentos, e Meus caminhos mais altos do que seus caminhos. Eu sou
infinito".
Se a misericórdia criadora de Deus é tão grande, como Davi com dupla
admiração declarou no Sal. 8:1 e no último versículo: "O Senhor, Senhor nosso,
quão admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus "
o que dizer então de Sua misericórdia perdoadora?
Finalmente, seria o pecado um mal tão horrendo? Então vejam que
motivo temos para humilhar nossas almas diante de Deus neste dia devido
termos pensamentos tão superficiais sobre o pecado, e desde que Deus tem
classificado o pecado como o maior de todos os males. Que pensamentos
levianos temos do pecado? Podemos engoli-lo sem medo, podemos viver nele
sem percebê-lo, podemos cometê-lo sem remorso. Tudo isso mostra a
superficialidade dos nossos pensamentos sobre o pecado. Não avaliamos o
pecado como sendo um mal tão grave como realmente ele é.
Agora, para que vocês possam ter conceitos mais adequados sobre a
magnitude dele, para que sejam capazes de ver o pecado como algo
excessivamente maligno, irei apresentá-lo resumidamente sob seis aspectos.
1. Olhem para ele sob o prisma da natureza a qual, embora seja um
cristal pouco transparente, é um refletor autêntico. O pecado tem ofuscado
essa lente, ainda assim ela é capaz de revelar-nos muito do mal do pecado.
Mesmo os pagãos têm visto e julgado por eles mesmos, muitos pecados como
sendo o maior dos males.
Embora os pecados espirituais fossem ocultos a eles, sua luz não era
capaz de descobrir a infidelidade e os pecados íntimos. Todavia eles têm
descoberto os pecados morais, e os evitado, e prefeririam correr o risco de
sofrer do que cometer tais pecados. Os exemplos de Platão, Cipião, Catão, e
muitos outros irão elucidar isso. Tudo isso foi descoberto pelo prisma da
natureza, feito por ela própria, porém não pela mera natureza caída, e sim
pela natureza bem administrada, pela natureza desenvolvida, pela
implantação de princípios morais juntamente com a graça restringedora e de
outros dons comuns do Espírito.
O grande ódio que sentem pelo pecado, o grande cuidado que têm para
evitá-lo, o grande sofrimento que experimentam por não quererem cometer
pecado, deveriam ser suficientes para revelar-nos quão grande é o mal do
pecado - mas interromperemos o assunto aqui.
2. A segunda lente pela qual vocês podem ver até onde vai o pecado é a
lente da lei, a lente que revela o pecado em todas as suas dimensões: a culpa, o
demérito, a corrupção e a malignidade do pecado. Portanto, o apóstolo diz em
Rom. 7:7 "... mas eu não conheci o pecado senão pela lei..." Isto é, eu não teria
conhecido o pecado como sendo tão abominável quanto ele o é, eu não teria
conhecido o pecado em sua amplitude e latitude. Eu não teria conhecido a
gravidade do pecado se não tivesse sido pela lei, se a lei não tivesse sido a
lente para revelar o pecado a mim.
Ela revelou a grandeza do pecado para Davi: "A toda a perfeição vi limite,
mas o teu mandamento éamplíssimo " (Sal. 119:26), isto é, por revelar a extensão
do pecado em proporção a sua amplitude e grandeza.
Que lástima! Isso irá revelar a vocês mais nudez num pecado do que o
mundo todo pode cobrir, mais indigência num pecado do que todos os
tesouros da justiça disponível são capazes de suprir; mais obliqüidade e
injustiça num pecado, num pensamento errado, do que a morte de todos os
homens e o extermínio dos anjos seriam capazes de expiar.
Procurem na lei e vocês descobrirão milhares de pecados que caem sob
toda e qualquer lei de Deus. Eis aqui a lente!
3. Olhem para o pecado sob a lente das dores, feridas penetrantes e
tristezas, as quais os santos encontraram em seu acesso e primeira entrada no
estado de graça, em suas reincidências e retornos à insensatez.
Para o primeiro, vejam que gemidos e humilhações tiveram que
suportar em sua primeira admissão ao estado de graça - Manasses em II Crôn.
33:12, Paulo em Atos, capítulo nove, os judeus convertidos em Atos 2:37 -
admissão semelhante à ocasião quando os pregos perfuraram Cristo, agora
cravados em seus corações como a lança no lado de um animal.
Quantos dos muitos santos que já existiram estiveram presos num leito
de miserável angústia, acamados sob os golpes da justiça possi velmente por
muitos anos, e tudo isso por causa do pecado. Em todas as épocas houve
milhares de exemplos dessa natureza.
Olhem para as angústias e quebrantamentos que os santos t i veram
quesuportar por causa de suas reincidências no pecado. Vejam nos em Pedro e
em Davi. Leiam as tristes expressões que ele tem no Sal. 6:1-7 e no Sal. 32:3-5.
Do mesmo modo no Sal. 51. Como ele lamenta pela sua alma perturbada, seus
ossos quebrados, seus olhos consumidos pela tristeza, sua cama está
encharcada com lágrimas! E tudo isso por causa do pecado. Aqui está a lente
pela qual pode-se ver o mal do pecado como sendo o maior mal. Sim, quando
Deus o enfoca, o menor pecado resultará em tudo isso.
4. Olhem para o pecado em Adão e vejam a extensão dele. Aquele único
pecado de Adão trouxe todas as misérias, doenças, morte e outras desgraças,
sobre toda a sua posteridade desde aquele tempo. O pecado tem sido a
maldição de milhares de homens e ainda continua sendo. A justiça de Deus
ainda não foi satisfeita. Se ela tivesse sido, haveria um fim. Não morreríamos,
nem ficaríamos doentes jamais, etc. Oh, aqui vocês podem ver o pecado em
sua extensão!
5. Olhem para o pecado sobre Cristo. Vejam que humilhações, que
quebrantamentos, que feridas cruciantes, que ira isso trouxe sobre o próprio
Cristo. Foi isso que misturou aquele cálice amargo com ingredientes tão
terríveis, os quais, se tivéssemos que libá-lo quando assim estava temperado,
teriam colocado nossas almas debaixo de uma ira pior do que aquela que
todos os condenados sofremno inferno. Cristo suportou plena justiça por
causa do pecado.
Isso fez com que Ele que era tanto Deus quanto homem, santificado
pelo Espírito para essa missão, fortalecido pela Deidade, suasse gotas de
sangue, e até lutasse, parecendo recuar e orar contra a obra de Sua própria
misericórdia, querendo desistir do propósito de Sua própria vinda ao mundo.
Ah, ninguém sabe senão Cristo, nem é o finito entendimento humano
capaz de conceber, o que Cristo suportou quando estava para carregar o
pecado e com isso lutou contra a infinita ira e justiça do infinito Deus, os
terrores da morte, e os poderes do mundo vindouro. Aqui está uma lente pela
qual vocês podem ver a grandeza, a amplitude, a culpa, o demérito do
pecado, tudo o que é revelado ao indivíduo na morte, sofrimentos,
quebrantamentos e feridas do Filho de Deus.
Você, amigo, que despreza o pecado, vá para Cristo e pergunte a Ele
quão duro isso foi, aquilo que você despreza esmagou-O contra o chão. E o
menor pecado esmagaria você e todos os pilares do céu para o fundo do
inferno para sempre.
6. A sexta lente: olhem para o pecado na condenação eterna da alma,
que nada satisfaria à justiça de Deus a não ser a destruição da criatura. Nem
doenças, nem prisões, nem sangue, nem sofrimentos, a não ser os sofrimentos
do inferno! E esses não por um tempo, mas para sempre! Ah, vejam aqui a
enormidade do pecado, o qual poderia ser ainda mais ampliado
considerando-se a preciosidade da alma, a qual o pecado arruina por toda a
eternidade. E portanto, vocês conheceriam o pecado? Perguntem aos
condenados: o que é pecado? Volvam seus ouvidos ao inferno e ouçam todos
aqueles berros, aqueles gritos, aqueles rugidos dos condenados, e tudo isso
por causa do pecado. Oh, eles foram os prazeres custosamente comprados, os
quais precisam ser conseqüentemente pagos com dores sem fim.
Assim através destas lentes vocês vêem o que é o pecado. E por
conseguinte como devemos ser humilhados por causa de nossa indiferença
em relação ao pecado, o qual é um mal tão grande!
APLICAÇÃO
(1)
Então, se é assim, vejam a necessidade que temos de enfatizar
sobremaneira o pecado em nossas confissões, pois tudo o que podemos dizer
dele será infinitamente deficiente diante da gravidade do pecado. Vocês não
podem tornar o pecado mais grave do que eleja é, elevá-lo acima dele mesmo.
Vocês não podem ter lentes de aumento para tornar o pecado maior do que
eleja é. Vocês têm tais lentes para aumentar o tamanho dos objetos, as quais
são capazes de apresentar pequenas coisas como sendo grandes, ampliando-as
em seu tamanho, mas não têm lentes para multiplicar o pecado e fazê-lo
parecer maior do que ele já é.
Os sofrimentos e as tristezas dos santos, os sofrimentos dos condenados
em relação ao pecado são diminutos. A lente da lei, a lente dos sofrimentos de
Cristo, (o qual é a maior de todas), essas não mostram o pecado maior do que
intrinsecamente ele é, elas somente revelam o pecado em suas exatas
proporções e dimensões.
Não teria sido justo se Deus requeresse mais sangue e colocasse Seu
próprio Filho sob maior sofrimento do que o pecado merecia. Porventura seria
condizente com o amor de Deus, Sua piedade e misericórdia para com Seu
Filho, expô-lO além daquilo que o pecado merecia? Embora haja mais do que
suficiente misericórdia para os maiores pecadores, como o apóstolo diz em I
Tm. 1:14, não houve mais do que justiça suficiente aplicada em Cristo pela
ofensa e culpa do pecado.
A morte de Cristo foi um resgate adequado de nossas almas do pecado,
e ainda haveria um excesso de mérito, uma superabundância de mérito, na
satisfação de Cristo para resgatar milhares de mundos mais do que se
necessita resgatar. Como o pecado é infinito em relação a seu efeito, assim a
satisfação é infinita em relação ao seu mérito. Portanto, a morte de Cristo não
é somente considerado uma satisfação, mas uma aquisição; não somente um
pagamento, e sim uma compra.
A morte de Cristo é a plena satisfação da justiça de Deus pelo pecado, é
a aquisição de todas as coisas boas da misericórdia de Deus pela qual Sua
justiça, quanto ao valor e mérito da satisfação de Cristo, é ligado a nós
indiretamente.
Vejam, então, o que é necessário para acentuar sobremaneira o pecado,
porque não podemos multiplicá-lo ainda mais. Fazendo assim haverá muitos
frutos: (1) isso produzirá vergonha e contrição de espírito por causa do
pecado; e (2) isso fará vocês avançarem e apreciarem melhor a misericórdia.
Quando o débito parece pequeno, estamos prontos e aptos para
subestimar o perdão. No entanto, quando o pecado parece excessivamente
maligno, isso faz com que valorizemos a misericórdia e apreciemos o perdão.
Quando o pecado é visto como o maior mal, misericórdia e perdão serão
compreendidos como os maiores bens.
Isso nos coloca numa posição mais próxima de abandonarmos o
pecado. Como aquele que minimiza o pecado está decidido a permanecer
nele, aquele que realmente enfatiza o pecado deseja ficar livre dele. Além
disso, ficamos irritados conosco mesmos quando consideramos como temos
menosprezado a Deus. Isso produz auto-julgamento e auto-condenação como
vemos em Davi, no Sal. 51. Isso produzirá uma brandura espiritual e
compaixão de coração diante do pecado, porém tenho que deixar isso de lado.
(2)
Se o pecado é o maior mal, então é a maior misericórdia do mundo ficar
livre do pecado. Quanto maior o mal, maior é a misericórdia para se livrar
dele. Ora, o pecado é o maior mal. Portanto verão esse livramento como a
suprema misericórdia que vem através de Cristo: "E Ele se chamará JESUS,
pois, salvará seu povo de seus pecados ". (Mat. 1:21). Como se todas as outras
coisas vindas através de Cristo estivessem incluídas nesta, "Ele salvará seu povo
de seus pecados ". Ele não diz que salvará Seu povo do inferno, mas do pecado;
de nenhum outro mal no mundo, e esta é a maior misericórdia.
Quando Deus quis declarar-Se de forma suprema, ou mesmo expressar
Seu maior pensamento de misericórdia que jamais viera ao Seu coração,
quando Ele quis manifestar a maior obra da Sua misericórdia que ela haveria
de operar, Ele disse nada mais do que isto: "Ele salvará seu povo de seus pecados
". O pecado foi o mal máximo, e portanto, salvar-nos do pecado foi o maior
bem. E por isso Davi no Sal. 32:1-2, declara: "Bem-aventurado é aquele cuja
iniqüidade é perdoada, e cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado é o homem a
quem o Senhor não imputa pecado ".
Na verdade, temos pensamentos insignificantes, pensamentos
mesquinhos sobre o perdão do pecado, e a razão é porque temos pensamentos
superficiais sobre o pecado. Entretanto, se Deus abrisse nosso entendimento e
nos fizesse ver a imensidade e a amplitude do mal do pecado, e se Ele juntasse
o sentido do tato ao da visão e nos fizesse sentir o que é o pecado; se Ele
deixasse a menor faísca de Sua ira cair sobre nosso espírito, por causa do
pecado, isso faria nossas faces cobrirem-se de carvão. Rapidamente
mudaríamos nosso tom e diríamos: "Oh, abençoados sejam para sempre todos
aqueles cuja iniqüidade é perdoada e cujos pecados são cobertos."
Contudo, a fim de que eu não pareça como que desferindo golpes no ar,
iremos circunstanciar essa misericórdia um pouco e vocês verão a grandeza
dela - embora, realmente, fosse suficiente dizer a vocês que o pecado é o maior
mal. Portanto, necessariamente se segue que estarmos livres do pecado é a
maior misericórdia no mundo, a qual se tornará mais claro se considerarmos
as seguintes particularidades.
Primeiro, então, o perdão do pecado é a misericórdia mais
custosamente adquirida e isso é algo para mostrar a grandeza dela. Vocês
sabem, quanto maior for a soma que deve ser paga pela compra de uma coisa
(contanto que não exista falta de sabedoria do comprador ou nenhuma
desonestidade no vendedor), ainda maior, e mais valioso é o bem comprado
ou adquirido. Portanto essa misericórdia, o perdão do pecado, foi a
misericórdia mais custosamente adquirida. Isso custou sangue, segundo Mat.
26:28. Vejam também: "Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire
os pecados'',, como diz o escritor em Heb. 10:4.0 sangue significa isso então?
Trata-se do precioso sangue de Cristo: "Sabendo que não foi com coisas corrup-
tíveis, como prata ou ouro, quefostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por
tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um
cordeiro imaculado e incontaminado".(IPed. 1:18-19). "E este, o sangue de Deus:"...
Para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue." (Atos
20:28).
Agora sentem-se e imaginem que grande misericórdia deve ser esta
equivalendo ao preço de sangue, e este do Filho de Deus. Não havia nenhuma
falta de sabedoria no comprador, Ele não podia ser ludibriado, Ele conhecia o
valor do bem. Nem houve falta de justiça ou bondade do Vendedor. Ele foi
justo e não aceitaria unia gota de sangue a mais do que o bem valia. Ele
também era Pai e não exporia a Seu Filho a maiores sofrimentos além
daqueles que o bem merecia.
Essa misericórdia é mais pura do que todas as outras, o perdão do
pecado, uma misericórdia que vem do coração e da boa vontade de Deus para
com vocês. Deus pode dar-lhes todas as outras coisas e odiá-los. Vocês podem
ser ricos e ainda assim ser reprovados, grandes no mundo presente e malditos
no porvir. Dives pôde ter riqueza, Herodes eloqüência, Saul autoridade,
Agripa vestes gloriosos; um homem pode agir perversamente e ainda assim
prosperar. Essas coisas não são realmente boas ou realmente más. Se boas, os
ímpios não devem tê-las, se más, os santos não devem possuí-las. Essas são
coisas que Deus estende das Suas mãos, não de Seu coração. Esses são favores
gerais, não amor especial. Mas eis aqui um favor especial, peculiar aos santos,
misericórdia pura, a misericórdia que vem das entranhas da misericórdia, do
coração da misericórdia.
Esta é a misericórdia mais autêntica que todas as outras, o perdão do
pecado. Não houve nada para obrigar Deus a fazer isso, nem houve nada que
pudéssemos fazer para adquiri-la. Todas as nossas orações, nossas lágrimas,
nossas obras, não poderiam comprar o perdão de um pecado sequer. Não
poderíamos comprá-lo se dependesse do que fazemos e se dependesse do que
sofremos, nem se pudéssemos sofrer tanto quanto todos os santos sofreram
desde o começo do mundo até hoje.
Se pudéssemos chorar tantas lágrimas quanto o mar possa conter, se
pudéssemos nos humilhar tantos dias quantos o mundo já passou desde o
momento da criação, tudo isso seria muito pouco para comprar o perdão de
um único pecado, ainda que fizéssemos tudo isso sem pecado.
No entanto, que lástima! Tudo o que podemos fazer está tão longe de
cancelar qualquer dívida culposa do passado que, ao contrário, nos torna
ainda mais endividados. Tão longe estamos de adquirir o perdão que o que
fazemos será aumentar a insubordinação. Não precisamos trabalhar para
sermos justificados, porém somos justificados para que possamos trabalhar.
De modo que é a misericórdia mais gratuita. E por conseguinte, nas Escrituras
lemos que isso tudo é atribuído à graça. "Para que, sendo justificados pela sua
graça " (Tito 3:7); "Deus justifica o ímpio. " (Rom.3:24). Não há motivo em nós,
tudo vem de Deus. E verão isso claramente em Is. 43:23-25: "... não me
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A conversão segundo os puritanos

  • 1. E-book digitalizado e doado por: Mazinho Rodrigues Revisão e versão em “doc” por: Levita Digital www.bibliotecacrista.com.br
  • 2. Os Puritanos e a conversão Pecado: O Mal sem Par Samuel Bolton A Conversão de um Pecador Nathaniel Vincent A Coisa Indispensável Thomas Watson (Editado por Don Kistler) Prefácio por Albert N. Martin PUBLICAÇÕES EVANGÉLICAS SELECIONADAS Caixa Postal 1287 - 01059-970 - São Paulo-SP
  • 3. Título original: The Puritans on Conversion Editora: Soli Deo Gloria Publications Primeira edição em inglês: 1990 Tradução do inglês: Marlene Marques Prado Revisão: Antonio Poccinelli Capa: Ailton Oliveira Lopes Primeira edição em português: 1993 Composição e impressão: Imprensa da Fé
  • 4. ÍNDICE Prefácio do Editor Prefácio por Albert N. Martin Capítulo 1 - Pecado: O Mal sem Par Samuel Bolton Capítulo 2 - A Conversão de um Pecador Nathaniel Vincent Capítulo 3 - A Coisa Indispensável Thomas Watson SOLI DEO GLORIA PUBLICATIONS 213 W. Vicent St. Ligonier, PA. 15658 (412) 238-7741 Estes escritos apareceram primeiramente no século 17 em três diferentes livros. A edição destes trabalhos e de 1990 da Soli Deo Gloria Publications. Esta compilação de sermões puritanos com mudança estilística e gramatical é direito autoral.
  • 5. PREFÁCIO DO EDITOR Esta coleção de escritos puritanos, composta de dois sermões e de um tratado, inicia o que esperamos ser uma longa série intitulada Os Puritanos e______________. O potencial para uma importante série é evidente. Qualquer pessoa que tenha lido os ricos escritos dos teólogos puritanos tem sido tocada pelo senso de reverência deles para com Deus e Sua majestade, respeito à Sua beleza e reconhecimento à Sua soberania. Quem pode gastar tempo com esses homens sem ter o seu próprio conceito de Deus elevado a um plano mais alto? Quem pode ler esses mestres das Escrituras sem concluir que temos perdido o conhecimento íntimo de Deus que eles possuíam? Com este livro pagamos um tributo àqueles que nos antecederam neste trabalho. No século 19 a obra de James Nichols e James Sherman abriu caminho com sua dedicação em amor, pois vemos tantos dos trabalhos dos Puritanos revisados, editados, e disponíveis uma vez mais. Neste século 20 Jay Green em sua Sovereign Grace Trust, Iain Murray e a obra de The Banner of Truth Trust, e Lloyd Sprinkle têm enriquecido a comunidade cristã com suas reedições dos clássicos puritanos. Indubitavelmente há muitos outros publicadores, os quais desconhecemos, mas sabemos que Deus os conhece e os recompensará à altura! A edição destes três trabalhos em um volume não alterou seu conteúdo substancialmente. Os parágrafos longos receberam um formato mais agradável de serem lidos. A pontuação foi adicionada ou suprimida conforme os padrões mais contemporâneos. A ortografia foi mudada quando necessária. Palavras cujos significados se tornaram obscuros foram mudadas no texto para palavras de uso mais comum. Isso foi feito usando-se o Oxford English Dictionary. Nenhuma alteração teológica foi feita, pois nós não ousamos pensar que poderíamos expressar melhor o coração desses homens do que eles mesmos foram capazes de fazer. Os versículos das Escrituras foram deixados intactos na forma usada no original, pontuação e tudo mais. A única mudança foi escrever com maiúscula os pronomes que se referem a Deus. Nós acreditamos, querido leitor, que nossos esforços serão usados para aprofundar seu conhecimento dEle e da mesma forma seu amor para com Ele. Em tal caso, o trabalho envolvido na reprodução e edição destes escritos nunca será visto como tedioso ou vão. E finalmente, confiamos este trabalho à Sua soberana mão para usá-lo como Lhe aprouver. À Sua Glória DonKistler Soli Deo Gloria Publications
  • 6. PREFÁCIO PARA "OS PURITANOS E A CONVERSÃO" O tema mais crucial com o qual a mente e o coração humano podem se ocupar está ligado com a questão, "como pode o pecador se tornar justo diante de Deus?" Todos os que têm se apegado à fé bíblica e apostólica concordam que a única base de aceitação dos pecadores por Deus está incluída na obra dohomem-Deus, Jesus Cristo, Aquele que levou os pecados do Seu povo, como substituto dele, e adquiriu a justiça perfeita como fruto de Sua vida, morte e ressurreição (Rom. 5:12). Entretanto, as Escrituras deixam bem claro que ninguém chega a possuir a justiça operada por Cristo, exceto através da total conversão a Deus (Atos 26:16-18; Mateus 18:3). A verdadeira conversão compreende a área na qual há grande confusão e terrível engano em nossos dias, sim, mesmo entre os evangélicos que são esclarecidos na questão do fundamento da aceitação do pecador por Deus. É precisamente na área da apresentação da doutrina bíblica da conversão que os pregadores puritanos têm muito a nos ensinar. Enquanto o livro de Joseph Alleine Um Guia Seguro para o Céu e Um Chamado ao não Convertido de Richard Baxter foram editados inúmeras vezes nas últimas décadas e se tornaram um modelo da pregação puritana sobre a doutrina da conversão, os três menores tratados reunidos neste livro nos dão a essência do mesmo entendimento puritano sobre a doutrina da conversão. As vantagens desta trilogia é que cada sermão tem sua área distinta de força na apresentação de uma sã teologia da conversão e um profundo discernimento pastoral do método de conversão. Contrastando com muitas pregações e publicações evangélicas em nossos dias, estes três sermões são marcados por características distintivas no extenso conteúdo da doutrina puritana da conversão, e a maneira pela qual pregaram essa doutrina.
  • 7. O CONTEÚDO DA DOUTRINA DA CONVERSÃO 1. Eles mostram o terrível mal do pecado sem, de modo algum, tirar o brilho da magnitude da graça de Deus. O tratado de Bolton é muito útil ao mostrar que ninguém consegue exagerar o tremendo mal do pecado. Além disso, o referido tratado em conjunto com os outros dois sermões silencia para sempre qualquer acusação de que uma preocupação com os detalhes e a extensão do mal do pecado poderiam obscurecer a magnitude da graça de Deus. 2. Os sermões demonstram a necessidade de um exame consciente do pecado sem, de modo algum, restringir a liberdade de acesso do pecador a Cristo ou a necessidade imediata de suplicar a misericórdia perdoadora de Deus. 3. Cada um destes sermões desperta a consciência sobre a absoluta necessidade de um profundo e completo arrependimento, se é que deva existir uma fé genuína na promessa de perdão para os pecadores que crêem. Ao contrário do conceito de "graça barata" em nossos dias, estes autores demonstram de uma maneira convincente, que Jesus Cristo veio para salvar Seu povo de seus pecados, mas não em seus pecados. 4. Cada um destes autores é claro em relação a tão discutida questão, se Cristo pode ser ou não recebido como Salvador enquanto não conhecido como Senhor. Como um exemplo dessa asserção, Vincent mostra que na verdadeira conversão, os convertidos são tirados das "trevas da ignorância". E assim, cita uma das áreas específicas na qual esta libertação ocorre. Ele escreve: "Ele os faz saber que Cristo deve ser recebido por fé, que não existe salvação em nenhum outro, e que é vão esperar qualquer coisa dEle como Salvador, a não ser que haja consenso em obedecê-lO como Senhor. Estas e outras verdades não são mais desconhecidas por eles." Mais tarde no mesmo tratado ele escreve: "O convertido vê Deus como Senhor. Ele se apropria de Sua soberania e submete-se ao Seu cetro. Na verdade em tempos passados outros senhores tiveram domínio sobre ele (Is. 26:13), mas agora sua resolução é firme e imperiosa em não pertencer a nenhum outro Senhor, senão somente a Deus. Sua vontade se submete em obediência à vontade de Deus e concorda com ela." 5. Estes tratados mostram uma visão da conversão centralizada em Deus. Embora não haja nada obscurecendo as realidades de paz e de alegria que goza o penitente e convicto pecador, há uma constante ênfase sobre o fato de que na conversão é propósito de Deus trazer o pecador de volta à intenção original para a qual ele foi criado - a saber, para uma vida centralizada em Deus. Novamente as palavras de Vincent deixam isso bem claro quando ele escreve: "O convertido vê Deus como seu objetivo máximo, vê que Deus deve
  • 8. ser glorificado, vê que pode se deleitar em Deus e no Seu plano de conversão. O pecador é consciente do fato de que ele, enquanto não convertido, viveu para desonra dAquele que é o seu Criador, em cujas mãos está o seu fôlego de vida. Agora, entretanto, tem um forte desejo de caminhar de modo digno do Senhor em tudo o que lhe seja agradável." 6. Eles constantemente descrevem a magnitude da obra da conversão, e sua total impossibilidade sem a intervenção soberana e direta de Deus. Uma das maldições de nossos dias é a difundida noção de que a salvação é "simples". Apesar de que a essência da mensagem da salvação dada por Deus é realmente simples, para o pecador se desligar completamente de seus pecados, sua justiça própria, e se entregar a Deus conforme exige o evangelho, é exatamente o que o nosso Senhor disse: "é impossível para o homem". Estes autores puritanos tinham captado a realidade dessa declaração do nosso Senhor, e não temeram apresentá-la de maneira ousada e convincente. 7. Eles nos mostram que é possível pregar as verdades elementares referentes à conversão, de uma maneira vigorosamente doutrinária e eminentemente bíblica. Estes sermões em toda a sua extensão mostram as Escrituras ilustrando e reforçando a si mesmas, e também uma evidente compreensão do equilíbrio da verdade. Nos seus mais veementes apelos à consciência de seus ouvintes, estes autores nunca transtornaram o delicado equilíbrio de uma autêntica teologia sistemática.
  • 9. A MANEIRA PELA QUAL ELES PREGARAM A DOUTRINA DA CONVERSÃO Quando se lê estes sermões fica evidenciada a característica dominante da maneira e do método de pregação destes homens, contrastando com as sociáveis, condescentes, casuais pregações, sem confrontação, que marcam muito do evangelismo atual. Tenho anotado algumas das características da maneira como são feitas as suas pregações, as quais são dignas de imitação. 1. Eles são modelos de uma santa austeridade e veemente tenacidade que instam com seus ouvintes para que sejam convertidos. É necessário somente ler no começo do tratado de Vincent "A Dedicação" e "Carta ao leitor", para ver que ele não se envergonha de comprometer-se com o grande objetivo de assegurar a conversão de seus ouvintes. É esta santa paixão e intrepidez em advertir quanto a uma imediata e sincera obediência a seus chamados à conversão, que faz com que seus sermões sejam marcados por profundos apelos à consciência, vigorosas advertências específicas relativas ao pecado, as lutas da alma e as questões levantadas pela dúvida. 2. Seus sermões são marcados por uma cadeia constrangente de razão e argumentação. Embora estes homens acreditassem firmemente na morte espiritual absoluta do pecador, eles não acreditavam que o homem tivesse perdido sua capacidade de sentir a pressão dos argumentos razoáveis. É extraordinária a habilidade de tirar as pessoas dos vários "refúgios da mentira" nos quais tentam se esconder do Deus vivo. Ademais, são levantadas razões bíblicas e lógicas sobre os terrores ligados ao estado de impenitência e incredulidade, e também sobre a felicidade e conveniência de se estar num estado de graça e aceitação por Deus. 3. É evidente que estes homens não temeram ser rotulados como "exagerados" em seu zelo. Foi dito a respeito do piedoso McCheyne, que compartilhou muito desse espírito puritano, que "ele pregava como se estivesse morrendo pela conversão dos homens" .Essa paixão legítima que flui através dos sermões editados destes homens, saltando através dos séculos e das mudanças de estilo literário, etc, é uma das evidentes deficiências da atual pregação evangélica e mesmo da de muitos pregadores reformados. Deus, por Si não Se envergonha de demonstrar paixão quando Ele admoesta com as palavras: "Arrependei--vos, arrependei-vos, por que vos morreríeis ? " Estes homens não se envergonhavam de mostrar a paixão da preocupação genuína pelas almas de seus ouvintes através de seus apelos bem arrazoados e eminentemente bíblicos. Para o leitor que não é familiarizado com os reconhecidos autores puritanos, a primeira leitura dos tratados deste livro poderia causar uma
  • 10. impressão errada. Deve ser lembrado que a visão puritana sobre justificação somente pela fé, através da imputação da justiça de Cristo, era tão clara quanto a de Martinho Lutero. Este aspecto é certamente destacado nestas obras. Por exemplo, Bolton escreve: "Cristo não deixou nada para ser feito por nós, a não ser receber o que Ele adquiriu e entregou às mãos do Pai; nada além do que pedir uma absolvição, sim, das mãos dAquele que é justo, e que nunca nos decepcionará; das mãos dAquele que certamente concederá tudo o que Seu Filho tenha adquirido pela Sua obra redentora". Bolton prossegue escrevendo: "Oh, como isso deveria fazer-nos promover Cristo, admirar Cristo, valorizar Cristo! O que aproximaria mais nossos corações de Cristo do que saber que Ele levou nossos pecados e o fez de modo que nunca jamais teremos que levá-los se estivermos vinculados a Ele?" Entretanto, para uma compreensão mais profunda da doutrina puritana da justificação devem ser lidos trabalhos tais como o Volume 5 de Owen, o Volume 8 de Goodwin e as seções específicas nas obras de Roberl Traill. Ao exporem tais textos, como Rom. 4:4-5, estes homens declaram a graciosidade e a plenitude da salvação fundamentada na obra de Cristo. Mas quando examinaram textos tais como Lucas 13:24, que nos ordena a que "esforçemo-nos para entrar pela porta estreita" eles não se detiveram em expor e aplicar a pressão própria de tais textos. Se existe qualquer esperança de que a verdadeira doutrina da conversão seja mais uma vez proclamada no poder e na compaixão do Espírito Santo, é bem provável que os autores destes sermões e destas páginas sejam os nossos guias mais úteis. O editor deve ser elogiado por tornar estes três tratados sobre a conversão acessíveis a nossa necessitada geração. Albert N. Martin, Pastor Igreja Batista da Trindade Montville, New Jersey
  • 11. PECADO: O MAL SEM PAR ... porém agora, ó Senhor, peço-te que traspasses a iniqüidade do teu servo; porque tenho procedido mui loucamente... " (II Samuel 24:10) Samuel Bolton, D.D. Falecido Mestre do Colégio de Cristo, Cambridge (Publicado pela primeira vez em 1657)
  • 12. PECADO: O MAL SEM PAR "... porém agora, ó Senhor, peço-te que traspasses a iniqüidade do teu servo; porque tenho procedido mui loucamente... " (II Samuel 24:10) Estas palavras foram ditas quando a mão de Deus pesava sobre os filhos de Israel por causa do pecado de Davi em recensear o povo. Lemos no versículo 2 que "Davi ordenou a Joabe percorrer todo o Israel e numerar o povo", porém logo de início "Joabe tentou dissuadi-lo ". Alguém poderia perguntar: "era contra a lei numerar o povo? Moisés não fez o mesmo no deserto tanto quanto Josué e Neemias?" Sim, mas Joabe viu nessa atitude o orgulho do coração de Davi, como se observa pela sua resposta no versículo 3: "então disse Joabe ao rei: ora, multiplique o Senhor teu Deus a esse povo cem vezes tanto quanto agora é, e os olhos do rei meu Senhor o vejam: mas porque deseja o rei meu senhor este negócio? Porém a palavra do rei prevaleceu contra Joabe" - para a sua infelicidade e às custas de Israel. Que felicidade teria sido para Davi e Israel se Joabe não tivesse concluído o trabalho, porém ele obedeceu e numerou o povo. Eram "... oitocentos mil homens de guerra, que arrancavam espada; e os homens de Judá eram quinhentos mil..." Mas, qual foi o fruto, qual foi o efeito disso? 1. Lê-se: "... e o coração doeu a Davi... " versículo 10. Isto é, sua consciência o acusou. Se a consciência não for um freio, será um chicote. Se ela não for refreada, ela será açoitada. Se não ouvirmos os avisos, sentiremos os golpes. Se ela não nos impedir de pecar pela admoestação, ela nos fará sofrer pela contrição. 2. Todavia isso não era tudo. Deus o puniria pelo pecado. E nós podemos reconhecer o pecado através da punição. Ele tinha se gloriado nos números e por essa razão Deus diminuiria essa soma. Deus submeteria à sua escolha três julgamentos, os quais seriam: sete anos de fome, três meses fugindo dos seus inimigos, ou três dias de pestilência. Mas, qualquer um dos três seria um grande flagelo. No entanto, atentemos para o comportamento de Davi. Deus o ameaça com julgamento e ele lamenta pelo seu pecado. "O coração afligido de Davi e sua oração, embora registrados antes, parecem ser um resultado da descoberta de seu pecado pelo profeta, como se yê no versículo subseqüente: "... levantando-se pois Davi pela manhã veio a palavra do Senhor ao profeta Gade, vidente de Davi... ". Isso revela a razão pela qual o coração de Davi se afligira e porque ele orou assim, pois o profeta esteve com ele e havia lhe convencido de seu pecado, tinha anunciado o julgamento de Deus contra ele, depois que "o
  • 13. coração doeu a Davi" e ele orou, versículo 10: "... Peço-te que traspasses a iniqüidade de teu servo; porque tenho procedido mui loucamente..." Aqui, porém, alguém pode interrogar: por que Davi orou pelo perdão de seu pecado, quando Deus ameaçou com julgamento? Por que ele não pediu que Deus suspendesse Seus castigos, e assim desviasse Sua ira em vez de simplesmente suplicar perdão pelo seu pecado? Ou se ele desejou isso, por que então não suplicou tanto um quanto o outro, unindo-o na mesma petição? Resposta 1. Para ensinar-nos em todas as opressões e aflições sobre o nosso homem exterior a voltarmos os nossos pensamentos para o nosso homem interior e lamentar pelo pecado. Resposta 2. Porque ele viu o pecado como a causa do julgamento e portanto, desejou a remoção deste para que o outro fosse retirado. Resposta 3. Porque ele sabia que o julgamento jamais poderia ser removido através da misericórdia, a menos que o pecado fosse retirado. Tudo o que é retido é também uma reserva. Toda libertação é feita em justiça, não em misericórdia, se permanece o pecado. Resposta 4. Ele estava mais apreensivo por estar desonrando a Deus através de seu pecado, do que propriamente com qualquer julgamento que resultasse do seu pecado. Resposta 5. Ele vê no pecado o grande mal, e portanto busca a correção deste mais do que qualquer outro mal: "...traspasses a inqüidade do teu servo...". No texto observa-se duas partes da oração: (1) Confissão (2) Petição. 1. Confissão, com auto-julgamento: "porque tenho procedido mui loucamente... " 2. Petição: "... traspasses a iniqüidade do teu servo... ", unida com fé. Aqui temos (1) o suplicante, Davi, declarando seu relacionamento: "... teuservo", (2) o suplicado, Deus, (3) a petição em si:"... traspasses (ou perdoes) a iniqüidade de teu servo...". A frase parece ter relação com o bode expiatório, um tipo de Cristo, que levou os pecados do povo de Israel para o deserto (Lev. 16:22), dessa forma significando a retirada dos pecados por Cristo. Há pouca dificuldade nas palavras, a não ser aquela dificuldade que criemos. Realmente, seria criar uma dificuldade se tentássemos explicar aquilo que é tão evidente, em vez de expor as palavras. Se eu fosse falar das várias distinções que os homens fazem do pecado, diria três palavras no hebraico. Pela primeira eles entendem o significado do pecado original, pela segunda enfermidades, e pela terceira seus pecados mais graves. Mas após um exame, descobri-as usadas mescladamente, e portanto tais distinções não tem fundamento. As letras das palavras e seu aspecto exterior no texto falam de três doutrinas: 1. Que os servos de Deus podem cometer pecado, cometer iniqüidade: "... a iniqüidade de teu servo..."
  • 14. 2. Pecados novos devem ter novos arrependimentos. Se você renova seus pecados, você deve renovar seu arrependimento. 3. É necessário perdão novo para novas insurreições: "... traspasses...". Ele não diz: "... assegure-me que estão sendo traspassados...", e sim "traspasses". Este, porém, não será o assunto de meu discurso agora. O que pretendo enfocar é o tempo e a ocasião de tais palavras, que foi o momento da ameaça de Deus contra Davi. 1. O pecado verdadeiramente é, e o povo de Deus entende que o seja, o mal sem par no mundo. Ele não disse, "traspasses a praga", nem "traspasses o julgamento", e sim "traspasses a iniqüidade". Ele olhou para o pecado como o maior mal. 2. Quando Deus ameaça punir o pecado, a melhor coisa é correr para Deus para que Ele o retire. Ou, quando a mão de Deus é temida ou sentida, seria sábio para o cristão arrepender-se do pecado, desejando a remoção deste. Comecemos com o primeiro, o que o pecado realmente é, e que o povo de Deus entende que ele é o maior mal no mundo. Nós o tomaremos (1) por partes, (2) as juntaremos. A doutrina se divide em duas partes: (a) que o pecado é o maior mal no mundo, e (b) que o povo de Deus sabe disso. Para o primeiro, que o pecado é o maior mal no mundo, posso demonstrar isso (i) pela comparação desse com outros males, e (ii) pela demonstração e prova disso. Se você comparar o mal do pecado com os outros males, verá quão pequeno os outros males são em relação ao pecado. 1. Antes de tudo mais, os outros males são somente externos. São relacionados somente ao corpo, o estado, o nome, porém o pecado é um mal interior, um mal da alma, e este é o pior dos males. 2. Todos os outros males são somente de natureza temporal, eles têm um fim. Pobreza, doença, desgraça, todos esses são grandes males, mas estes e todos os outros, têm um fim. A morte põe um fim em todos eles. Contudo, o mal do pecado é de natureza eterna e nunca terá fim. A eternidade em si nunca porá um fim nisso. 3. Todos os outros males não fazem do homem o obj eto da ira e da inimizade de Deus. O homem pode ter todos os outros males e ainda assim permanecer no amor de Deus. Você pode ser pobre e ainda ser precioso na avaliação de Deus. Você pode estar debaixo de toda espécie de miséria e ainda assim ser amado por Deus. Todavia existe um mal que faz da alma o objeto da ira e da inimizade de Deus. A ausência de todos os outros bens, e a presença de todos os males criados, não tornará você abominável para Deus se não houver pecado, contudo, a presença de todos os outros bens e a ausência de todos os outros males não irão tornar você amado se houver pecado. 4. Todos os outros males somente se oporiam ao seu bem-estar presente, porque eles não podem roubar as suas futuras alegrias, mas o pecado se oporia ao seu bem-estar para sempre. Você não pode ser feliz se não for santo.
  • 15. E ainda mais, este se opõe ao seu ser. Ele o leva a morte. Você pecaria até morrer, caso Deus não o impedisse e fizesse com que se sentisse um miserável, por causa do seu pecado. 5. Todos os outros males são destrutivos para o homem em si; eles lutam contra particularidades. Entretanto este é contrário ao bem universal, sendo contrário a Deus, e é, até onde pode ser, destrutivo ao próprio ser de Deus, como mostrarei doravante. 6. Todos os outros males são criações de Deus, e portanto bons. Ele é o possuidor de tudo; Ele é o autor de tudo o mais. "... sucederá qualquer mal à cidade, e o Senhor não o terá feito?" (Am. 3:6), significando todos os males de punição penal, não mal pecaminoso, pois este é criação do diabo e realmente pior do que tudo mais, sendo todo pecado. 7. Todos os outros males são medicina de Deus e são usados como remédios, tanto para a prevenção, como para a cura do pecado. Como prevenção do pecado: para que você não seja condenado com o mundo, Ele envia aflições e males sobre você (I Cor. 11:32). Ele permitiu a satanás tentar Paulo e o entregou aos seus ataques, o que no entanto é o maior mal no mundo e o mais próximo do pecado, o maior mal punível no mundo. E para que impedisse o pecado, como disse o apóstolo em II Cor. 12:7, Deus enviou um mensageiro de satanás para esbofeteá-lo, e qual era o motivo? Só para prevenir o pecado, para que nao se exaltasse, isto é, para que não ficasse orgulhoso. E como Ele usa todos os outros males para prevenção, do mesmo modo Ele os usa para a cura do pecado. Não se conhece nenhum remédio que possa ser tão ruim como é essa doença. Todos os outros males Deus tem permitido sobre o Seu povo para a cura ou para a recuperação do estado pecaminoso. E para falar sem exagero, não há tanto mal na condenação de mil mundos de homens como existe no menor pecado, no menor pensamento pecaminoso que se levante no espírito, visto que o bem destes carece do bem e da glória de Deus. Pela comparação deste mal com os outros males, pode ver que de todos, o pecado é o mal supremo - o que passaremos a demonstrar a seguir. 1. DEMONSTRAÇÃO Aquilo que luta contra e se opõe ao maior Bem, deve ser o maior mal, portanto, o pecado se opõe e luta contra o maior Bem. Por isso um dos Pais da Igreja chamou o pecado de "Deus-matança", aquele que luta contra o ser e a essência de Deus, aquele que, se fosse suficientemente forte e infinitamente mau como Deus é infinitamente bom, porfiaria para "acabar" com Deus. Deus é summum bonun, e realmente non datur summum malüm, o pecado não pode ser infinito.
  • 16. Se o pecado fosse tão mau quanto Deus é bom, isto é, adequada e proporcionalmente, se fosse infinitamente mau como Deus é bom, o pecado seria difícil demais para Deus perdoar. Seria difícil demais para Deus subjugar, difícil demais para Deus vencer. O pecado se empenharia em vencer Deus. Realmente há mais mal no menor pecado do que há do bem em qualquer um dos anjos do céu. Por isso o pecado conquistou-os espoliando toda a bondade deles, tornando-os demônios, o que não aconteceria se o bem existente neles tivesse sido maior do que o mal do pecado. Contudo, ele não é capaz de conquistar a Deus, de vencê-lO (há mais bem em Deus do que mal em dez milhares de infernos de pecado e por isso ele não pode vencer o poder de Deus, a misericórdia de Deus, a santidade de Deus), ainda assim ele batalha e faz complô contra Deus continuamente. Reúne todas as forças contra Ele e vem em campo aberto desafia- IO todos os dias. E não somente isso, quando expulso do campo aberto pelo poder de Deus e Suas ordenanças, então o pecado tem fortalezas, como diz o apóstolo em II Cor. 10:4, e a partir delas luta e se opõe a Ele. Usa sua concupisciência contra Ele, sua vontade contra Ele, seu coração se levanta contra Ele. Quando o pecado é expulso do campo, ainda leva um longo tempo até que seja expulso da fortaleza. Quando ele na prática é vencido e conquistado, mesmo assim, na afeição é difícil de ser vencido. A oposição que há entre Deus e o seu coração pecaminoso é difícil de ser vencida. Custará a você muitas batalhas, muitos assaltos, até que possa vencê-lo em suas fortalezas, vencê-lo em seu coração. Embora às vezes possa parecer estar vencido e extirpado, ele ainda posteriormente se refaz e fará novas investidas contra você, para enfraquecê- lo e feri-lo. Ora, aqui está a malignidade, a maligna e venenosa natureza do pecado, embora Deus o tenha conquistado, contudo ele nunca foi enfraquecido, ele ainda irá agir contra Deus e expelir seu veneno. Temos um exemplo disso no ladrão sobre a cruz. Quando ele foi pregado na cruz, mãos e pés cravados, somente um membro não ficou fixo, e esse membro podia ainda expelir seu veneno, injuriando Cristo. Assim, apesar de Deus ter crucificado o pecado, enquanto houver vida nele, ele agirá por si e expelirá veneno contra Deus, o que mostra essa grande oposição entre Deus e o pecado. E por isso essa obstinação e oposição ao maior Bem deve mostrar que o pecado é o maior mal. 2. DEMONSTRAÇÃO
  • 17. Aquilo que é universalmente mal não tendo bem nenhum em si, deve ser o maior mal do mundo. O pecado é inteiramente mal. Como podemos dizer de Deus "não há mal nEle pois Ele é bom" então posso dizer do pecado, não há bem nele, pois ele é inteiramente mal! Há algo de bom nas piores coisas do mundo e há algo nas piores coisas para torná-las elegíveis a nossa escolha em alguns casos; algo bom na doença, algo bom na morte. Entretanto, não há bem algum no pecado e nem pode qualquer situação no mundo fazer do pecado o objeto de nossa escolha. Embora um pecado pudesse evitar a morte, ainda assim o pecado é universalmente mal e não há bem algum nele. Você não deve fazer uso do pecado a fim de evitar a morte. Por isso vemos que quando o apóstolo Paulo se referia ao pior pecado, ele não encontrou nenhuma expressão pior do que esta para descrevê-lo em Rom. 7:13 "excessivamente maligno ". Ele o chama de excessivamente maligno - maligníssimo! 3. DEMONSTRAÇÃO Aquilo que é o único objeto da ira de Deus deve ser o supremo mal. Mas o pecado é o único objeto, não somente o objeto, porém o único objeto da ira de Deus. Ele não odeia nada a não ser o pecado. Seu amor flui nos diversos ribeiros em direção a tudo o que Ele tem criado, contudo a Sua fúria corre por somente um canal, e este em direção ao pecado. Se o homem fosse feito o centro de todos os outros males no mundo, Deus ainda assim poderia amá-lo se o pecado não estivesse nele. Se existe uma confluência de todos os outros bens, saúde, beleza, riqueza, aprendizado e tudo o mais, Deus o abomina se existir nele pecado. O amor de Deus não habitará nele, e sim a Sua ira. 4. DEMONSTRAÇÃO Aquilo que separa a alma do Bem maior, aquilo que separa a alma e Deus, o Bem maior, deve ser o maior mal. O pecado faz separação entre a alma e Deus: "mas as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus" (Is. 59:2), entre sua alma e a graça de Deus, entre sua alma e o conforto de Deus, sua alma e as bênçãos de Deus. Diz-se que Naamã era um grande homem, um homem honrado, um poderoso homem de guerra, porém ele era um homem leproso. (II Reis 5:1). Quaisquer ornamentos que o homem tenha, quaisquer dons, beleza, bens,
  • 18. riquezas, etc, entretanto se ele for leproso, apesar de ser um homem letrado, um homem rico, ele é um homem repulsivo e isso estraga tudo. 5. DEMONSTRAÇÃO Aquilo que é o fundamento e a causa de todos os outros males deve ser o mal sem par, pois o pecado é a causa de todos os outros males. O mundo antigo foi submerso em água? Isso foi por causa do pecado. Sodoma foi destruída com fogo, se transformando num lago de asfalto até o dia de hoje? Isso foi por causa do pecado. Jerusalém foi transformado em ruínas? O pecado fez isso. Se eu continuar citando nunca encontrarei um fim. O pecado é a causa de todos os males nacionais. A seguir daremos nomes a alguns deles. 1. Guerras "E se escolhia deuses novos, logo a guerra estava às portas". (Juízes 5:8). "De onde vem as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vem dos vossos deleites?". (Tiago 4:1). 2. Fome "Ele converte a terra frutífera em terreno salgado, pela maldade dos que nela habitam. (Salmo 107:34). "Por isso também vos dei limpeza de dentes (por causa de seus pecados) em todas as vossas cidades, e falta de pão em todos os vossos lugares, etc." (Amós 4:6). 3. Pestilência Observe o pecado de Davi em numerar o povo em Deuteronômio 28:21: "O Senhor te fará pegar a pestilência, até que te consuma da terra a que passas a possuir." Como o pecado é a causa dos males nacionais, assim ele é também a causa dos males pessoais, e eles são (1) temporais, (2) espirituais, e (3) eternos. O pecado é a causa, a conseqüência, o responsável por tudo. Todos os males têm origem no pecado. O pecado é um mal protuberante e todos os outros males provêm dele. Alguns se manifestam sobre os seus corpos: doenças, dores, temores, enfraquecimentos. Outros sobre suas almas: medos, corações feridos, terrores, horrores. Se você pudesse rasgar o pecado, encontraria tudo isso habitando no interior do menor pecado. Quer saber de uma coisa? O pecado foi o fundador do inferno, aquele que assentou a pedra angular da câmara mortuária das trevas, pois antes do pecado não existia inferno. E ainda, foi o pecado que edificou o inferno e o tem equipado com aqueles tesouros e riquezas da ira, fogo e enxofre. E não somente isso, entesoura ira para o dia da ira (Rom. 2:5). Portanto, sendo um mal universal, um mal católico, o útero dos males e a causa de tudo, é o maior mal. 6. DEMONSTRAÇÃO
  • 19. Aquilo que é pior do que o mais terrível dos males, há de ser o pior dos males, porém o pecado é o mal sem par. Aquilo que é maior do que o maior mal é excessivamente mau. O inferno é o mais terrível mal, todavia o pecado é pior do que o inferno em si. O inferno separado do pecado é somente miserável, não pecaminoso; um lugar punitivo, não um pecado em si. Separe o inferno do pecado (embora não possamos fazê-lo, ainda podemos fazer uma separação intelectual, abstrair o inferno do pecado só em nosso entendimento), digo então que o pecado é pior do que o inferno, porque o inferno é somente um lugar punitivo, o pecado é um mal excessivamente maligno. Existe o bem na punição, o bem na justiça, mas não existe bem nenhum no pecado, portanto, o pecado em si é o maior mal. Agora vamos ao segundo ponto, que é o principal. O pecado em si, na compreensão do povo de Deus, é o mal sem par. Seus lamentos pelo pecado, e seus sofrimentos a fim de evitá-lo, mostra que ele reconhece ser o pecado o mal sem par. 1. Concernente a seus lamentos pelo pecado - pode ser visto nos salmos penitenciais de Davi quantas foram as lamentações e os gemidos dele por causa do pecado. Leiam o Salmo 51. Por que, qual foi a razão para eles? Todos os sofrimentos, todos os males no mundo não o teriam afetado tanto quanto o seu pecado. Paulo diz em Rom. 7:24: "Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte ? " A morte de seu corpo não era nada para ele em comparação com o corpo da morte! Paulo passou por muitas tribulações, suportando grande sofrimento, como vocês podem ler em II Cor. 11:23-25. No entanto, todos esses flagelos, essas prisões e perseguições não machucaram tanto o seu coração como o pecado, isto é, não o poder do pecado, e sim sua simples presença. Ainda que tenha sofrido muito, não lemos que ele tenha lamentado por tudo isso. Mas lamentou pelo pecado, "Oh miserável homem que sou! Quem me livrará deste corpo do pecado?" Assim fez Pedro, Manasses e outros. 2. Concernente ao sofrimento deles para evitar o pecado - Daniel estava contente ao ser atirado na cova dos leões, os três jovens no fogo, Paulo e Silas nos troncos. E muitos filhos de Deus escolheram prisões, estacas, fogo, e as mais ardentes perseguições em vez de pecar, o que claramente evidencia para nós que consideraram ser o pecado o maior mal. Eles consideraram-no pior que a pobreza, que é um grande mal. "Melhor mendigar do que pecar" disse alguém. "Moisés escolheu antes ser maltratado com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado ". (Heb. 11:24-28). Alguém semelhante a Moisés, Caleacius Caracciolus, foi um nobre príncipe e marquês que, para não pecar, deixou tudo o que tinha e foi morar em pobreza com o povo de Deus, meramente para se deleitar nas ordenanças. Músculus, um homem de grande sabedoria e famoso teólogo, em vez de pecar preferiu se submeter a qualquer condição. A história conta-nos que
  • 20. sendo despojado de tudo quanto tinha, contentou-se, a fim de não pecar, em tornar-se um pobre comerciante, tecelão, para conseguir pão para sustentar sua esposa e filhos. Posteriormente, sendo marginalizado, o mundo considerando-se bom demais para ele, foi trabalhar com uma pá nas valas comuns da cidade para conseguir sua sobrevivência. Ele aceitaria qualquer condição, menos a que o levasse a pecar. Eles não somente compreenderam que o pecado é um mal pior do que a pobreza, compreenderam que é algo pior do que a própria morte em si. Este foi o discurso de Ambrósio: "Você me lançará na prisão? Você tirará minha vida? Tudo isso é preferível para mim do que o pecado." Quando Eudóxia, a Imperatriz, ameaçou Crisóstomo, aquele a quem posteriormente baniria, ele enviou-lhe esta mensagem: "Vá e diga-lhe", disse ele, "Eu não temo nada neste mundo a não ser o pecado". 3. Eles consideraram o pecado como sendo um mal maior do que a morte. Basil fala de uma jovem rica, à qual, sendo condenada ao fogo e sentenciada a perder todos os seus bens por não adorar ídolos, foi oferecida a promessa de vida e a restituição de seus bens se ela se retratasse. Ela respondeu, "Adeus vida, que pereça o dinheiro." Olhem para o caso das "Dez Sangrentas Perseguições" e os nossos recentes dias cruéis sob a rainha Maria, e encontrarão muitos exemplos dessa natureza. 4. Ademais, eles não somente compreenderam que o pecado é um mal maior do que a morte; mais do que isso, viram-no como um mal maior do que o inferno em si. Isto foi o que disse Crisóstomo: "Assim penso, e conseqüentemente sempre irei pregar, que é mais amargo pecar contra Cristo do que sofrer os tormentos do inferno." Anselmo disse que se por um lado lhe fosse apresentado os males do pecado, e por outro lado os tormentos do inferno, ele preferiria escolher cair no inferno do que cair em pecado. Tal era a distância que estavam os corações deles do pecado. E nada é mais comum do que expressões como essas feitas pelos santos em tentações, em tribulações de espírito, ou num esclarecimento de seus próprios corações: "Prefiro que me matem, prefiro que me amaldiçoem, prefiro que me lancem no inferno, do que me permitir pecar contra Ti." Isso deve ser o suficiente para esclarecer a parte doutrinária. Agora vamos à aplicação. 1. CONSEQÜÊNCIA Se o pecado é o maior mal no mundo, então vamos nos prostrar e admirar a sabedoria e adorar a bondade de Deus, Aquele que do maior mal, traria o maior bem, Aquele que faz do maior mal uma ocasião para o maior
  • 21. bem jamais feito antes. Bernardo foi tão absorvido por tais pensamentos a ponto de dizer: "Bendito erro que proporcionou tal Redentor." Deveríamos ficar humilhados pelo erro e agradecidos a Deus pelo Remédio, e dessa maneira admirar a sabedoria e a bondade que foram reveladas por causa da maldade do homem para declarar a bondade de Deus; pelo pecado do homem tornou conhecida e expressa Sua infinita sabedoria, poder, misericórdia, justiça, etc. Esta seria então uma oportunidade para manifestar todos os Seus gloriosos atributos; pois Ele traria bem do mal, vida da morte, céu do inferno, bem do pecado, licor do veneno. Nunca duvidemos, nunca suspeitemos, de que Deus pode trazer o bem de qualquer coisa, pode tornar os maiores males na manifestação de Sua glória e o bem do Seu povo, Ele pode tirar benefício do pecado e do inferno. O que é para Ele transformar as aflições, perseguições, conspirações emalignidades do homem? O que é para Ele transformar os problemas, guerras, etc., em Sua própria glória, e o progresso de Sua causa? Ele que foi capaz de transformar o maior mal em bem? Ele que pode transformar o mal do pecado, o qual é a quintessência do mal e o maior dos males, pode muito mais transformar o mal do problema no bem de Seu povo. Isso fez com que o apóstolo dissesse que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Aquele que tem experiência disso não precisa duvidar de nada mais. Esse Deus, que pode transformar o pecado, pode transformar as aflições, cruzes, perseguições e tantas outras coisas, no bem de Sua Igreja e de Seu povo. 2. CONSEQÜÊNCIA Daí se conclui que ser entregue ao pecado, é a mais triste punição, o mais terrível julgamento que existe no mundo. Esta é a pior punição que Deus impõe sobre os homens, portanto, é a maior de todas as punições. Deus normalmente age em etapas em Sua maneira de julgar. Primeiro, Ele começa com a menor. Se não der resultado, então Ele aumenta a intensidade. Ele punirá sete vezes mais, e quanto mais longe Ele for maiores serão Seus golpes. Esta é a conclusão, o golpe final; esta é a última punição e a maior de todas elas, entregar o homem ao estado lamentável do pecado, dizendo-lhe: "Aquele que é sujo, suje-se ainda, aquele que é imundo seja imundo ainda ". Ele disse isto em Ez. 24:13:"... pois te purifiquei, e tu não te purificaste; nunca mais serás purificada da tua imundícia..." Ele diz ainda aos israelitas: "Porquanto Efraim multiplicou os altares para pecar; teve altares para pecar. " (Os. 8:11). Oh, não há outro julgamento mais triste no mundo do que o homem ser abandonado à corrupção do seu próprio coração! Isso traz como conseqüência eterna noite de trevas.
  • 22. "Bom Deus, liberta-me de mim mesmo" disse Agostinho. Seria melhor você ser entregue à corrupção dos homens, à malícia e crueldade de homens sanguinários; melhor ser abandonado a extrema fúria e malícia dos nossos irlandeses rebeldes do que ser entregue à consupciência do seu próprio coração. Uma pessoa estaria em vantagem se fosse entregue a satanás do que ser entregue a si mesma e aos seus pecados. Segundo lemos em I Cor. 5:5, a pessoa incestuosa foi entregue a satanás, e foi restaurada novamente. Contudo, nunca lemos de alguém que fosse entregue a si mesmo e que tenha retornado, de alguém que fosse entregue à concupiscência do seu próprio coração que tenha se recuperado. Melhor então, ser entregue a satanás do que ao pecado, pois nenhum outro mal é tão grave como o pecado. Trata-se de Deus na posição de juiz, que pode punir um pecado com outro e amaldiçoar o pecado com dureza de coração. Mas com relação a nós é um mal pecaminoso. Trazemos o escrito e a cera e Deus coloca Sua chancela sobre ela, e então somos aprisionados para sempre. E vocês estão caminhando para esse destino, vocês que andam em pecado e não querem ser corrigidos. Apesar de Deus ter operado através da doença e das aflições para recuperá- los, vocês ainda estão de caminho para este julgamento final: "Aquele que está sujo, suje-se ainda". 3. CONSEQÜÊNCIA Se o pecado é o maior mal no mundo, então vejam quão loucos são aqueles que procuram livrar-se de outros males, admitindo o pecado. Aquele que trabalha para evitar outros males, ou removê-los praticando o pecado, incorre no maior de todos os males. Ele se mata para salvar-se. Ele se destrói para preservar-se. Aquele que tenta salvar a sua vida dessa forma, perdê-la-á. Jamais houve tempos tão ruins que o povo de Deus não pudesse estar seguro neles se apenas tivesse confessado o pecado. No entanto, ele achou sua segurança no sofrimento, quando devia tê-la achado na confissão do pecado. Vemos isso exemplificado na ação dos três jovens: Sadraque, Mesaque e Abednego. Este era o argumento dos cristãos primitivos quando foram ameaçados com prisões e mortes, caso não renunciassem a Cristo. "Bom Imperador, você ameaça com prisão, mas Cristo ameaça com o inferno!" Quando Cipriano foi sentenciado a morrer pela mesma causa, o governador tentou discutir com ele que deveria ter pena de si e renunciar seu erro ao invés de perder sua vida. Cipriano, porém, respondeu-lhe: "Senhor tu és meu juiz, e não meu conselheiro. Em tão clara e justa causa não há necessidade de conselho. Não irei desonrar a justiça da minha causa, entrando em discussão e conselho como se fosse decidir entre sofrer ou pecar". É como
  • 23. o caso da jovem de quem Basílio fala, que preferiu dizer adeus à vida e aos seus bens do que abandonar sua profissão de fé. Quão deplorável coisa seria assegurarmos as nossas vidas através daquilo que é a nossa ruína, comprar nossa liberdade através da escravidão, nossa salvação através do pecado. Vejam o que isso custou a Frances Spira e Cranmer nos dias da rainha Maria. Cranmer não sabia como vingar-se por seu próprio ato, a não ser queimando primeiro aquela mão que tinha contribuído para o pecado. É melhor ainda estar na prisão do que pelo pecado abrir a porta da prisão, porque é melhor ser prisioneiro de Deus do que ser um homem livre, pertencendo ao diabo. Melhor perder tudo do que preservar nossos bens pela prática do pecado. E portanto, quaisquer que sejam seus problemas, quaisquer que seja seus temores, quaisquer que sejam seus perigos, tenham cuidado em preservar-se ou comprar liberdade ou mesmo vida por um preço tão alto como abraçar-se ao pecado, desonrando a Deus e ferindo suas próprias consciências. Tenham cuidado ao se tornarem amigos do homem, fazendo de Deus o seu inimigo. Não sabemos ainda qual será o rumo dos nossos tempos, porém está fora do alcance do poder ou da malícia dos homens fazer de você um miserável, meu amigo, se eles primeiro não fizerem de você um pecador. 4. CONSEQÜÊNCIA Se o pecado considerado separadamente é um mal tão grande, o que é então o pecado circunstancial? O pecado contra o conhecimento? Contra intenções? Se há tanto mal no pecado, no menor pecado, quanto haveria, então, no maior? Se os átomos são tão grandes, quão grandes então são as montanhas? Se os pensamentos impertinentes são tão pecaminosos, tendo mais pecado neles do que todos os tesouros do céu possam expiar (a exceção de Deus e Cristo) o que seriam então, os pensamentos rebeldes, os assassinatos planejados, o adultério, a maldade premeditada, os meios e fins gananciosos, o desrespeito a Deus, negligenciando e desvalorizando Seus caminhos? Se há tanto pecado e inferno numa vã e tola palavra, que inferno de pecado, que montanha de ira há em seus discursos apodrecidos, fétidos, seus terríveis juramentos de sangue e blasfêmias? Se existe tanto mal num pecado, considerando-se simplesmente um pecado, o que devemos pensar do pecado composto, pecado pormenorizado, pecado feito excessivamente maligno? Pecado contra a sabedoria? Contra as intenções? Contra as misericórdia? Oh, sente-se e considere um pecado e veja como ele é grande! Aquele pecado que eu cometi contra o conhecimento, contra os avisos da consciência, contra o mover do Espírito, etc. E me diga se o menor pecado não é excessivamente pecaminoso.
  • 24. 5. CONSEQÜÊNCIA Se o pecado é um mal tão grande, então vejam quão loucos são aqueles que zombam do pecado: "Os loucos zombam do pecado " (Prov. 14:9), eles brincam com o pecado. É um esporte jurar, ficar bêbado, etc. Eles irão pecar por esporte e recreação. É recreação para eles praticar o mal, beber, jurar, mentir, profanar o dia do Senhor. Estes são loucos. Loucos naturais? Não. Aquele que prossegue assobiando, tagarelando e na ociosidade, está numa situação melhor. Este é um louco espiritual, o maior dos loucos. Vocês se divertiriam com veneno? Vocês se divertiriam com o inferno? Não, e ainda mais, vocês se divertiriam com sua própria destruição? Vocês se divertiriam com aquilo que foi tão amargo para Cristo, e que também lhes será, caso não sejam perdoados? Quem se divertiria com aquilo que é a miséria dos homens e demônios perdidos, tanto aqui quanto no inferno eternamente? Consideraríamos desprezível alguém divertir-se dilacerando o corpo, ferindo e derramando o sangue de um estranho, de um inimigo, porém quanto mais do nosso mais querido Amigo? Vocês que se divertem com o pecado, fazem o mesmo com Cristo. Vocês se divertem matando Cristo, crucificando-O, dilacerando Seu corpo novamente. Toda blasfêmia é um punhal no Seu coração, como uma lança no Seu lado novamente. Divertir-se com o pecado é a maior manifestação da natureza demoníaca no mundo. Ninguém a não ser os demoníacos fazem isso. Este é o fardo de Deus. Ele Se queixa disso e considera um alívio ficar livre de vocês: "Ah! consolar-me-ei acerca de meus adversários." (Is 1:24). Isto é o ferir a Cristo, o pesar do Espírito, o problema dos anjos, a destruição das criaturas. Acaso vocês se divertiriam com aquilo que trouxe todo o mal sobre o homem e mesmo sobre Cristo? Divertir-se--iam com o que gerou o inferno e o abasteceu, com o que tem sido o tormento das almas e o será para sempre? Oh, não se alegrem naquilo que foi o sofrimento de Cristo e será o seu também para sempre, caso sua alegria no pecado não se transforme em pesar pelo pecado! 6. CONSEQÜÊNCIA Se o pecado é o maior mal, então vejam a absoluta impossibilidade de recebermos alívio e socorro da parle de qualquer um debaixo do céu, por causa da culpa do nosso pecado, a não ser que venha do próprio Senhor Jesus Cristo. Você, pecador, cometeu um único pecado? Então, disso nem todos os tesouros da justiça nos céus e na terra são capazes de livrá-lo ou ajudá-lo, a não ser o Senhor Jesus Cristo. O que é exigido para expiar a culpa de milhares de pecados é também exigido para expiar a culpa de um só pecado. Infinita
  • 25. justiça é exigida para um, e não mais é exigida para milhares. E tal justiça, ninguém tem a não ser Cristo somente. Ninguém pode nos libertar do mal do pecado, a não ser Aquele que é justo. Ora, não existe justiça no mundo que seja proporcional ao mal do pecado senão a justiça de Cristo. A nossa própria justiça, vocês sabem, é muito pequena e é chamada de trapos de imundícia (Is. 64:6). Um trapo, portanto, não pode cobrir-nos; uma imundícia, portanto, embora pudesse cobrir-nos, cobriria somente a imundícia com outra imundícia, como diz o profeta em Is. 30:1: "...se cobriram com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem pecado a pecado, " ou seja, eles acrescentam o pecado de sua justiça ao pecado de sua injustiça. Eles cobrem mancha com mancha, adicionam pecado a pecado, esterco a esterco. A justiça da lei ainda não seria suficiente, supondo-se que o homem fosse capaz de cumprir toda a justiça e guardar toda a lei. A obediência presente, embora supostamente adequada à justiça da lei, jamais irá responder pelas ofensas e desobediências passadas. A lei é forte o suficiente para amaldiçoar a milhares, porém é incapaz de salvar uma só alma. Pode trazer o inferno, a ira e a condenação sobre um mundo de pecadores, todavia é incapaz de trazer a graça ou dar justificação para um só deles. O apóstolo nos diz em Rom. 8:3: "Portanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, condenou o pecado na carne " . O mesmo apóstolo nos diz em Gal. 3:21: "... se dada fosse uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei. " O apóstolo também nos diz em Gal. 3:17: "... a lei que veio quatrocentos e trinta anos depois... ", para mostrar que não precisamos trabalhar para que sejamos justificados, e sim sermos justificados para sermos capazes de trabalhar. Se Deus pretendesse que a lei fosse o instrumento da justificação, Ele teria dado a lei quatrocentos e trinta anos antes da promessa. E, ainda mais, essa não é a justiça dos anjos (a qual é maior do que a da lei, visto que os anjos estavam acima do homem em inocência) porque esta também foi uma justiça criada finita e de maneira alguma proporcional ao mal do pecado. Se o tivesse sido, um pecado não teria despojado imediatamente aqueles gloriosos anjos de sua bondade e feito deles demônios, o que o pecado fez, mostrando que existiu mais mal no pecado do que bem ou justiça neles. Bem, então isso mostra a absoluta impossibilidade de sermos libertos do mal do pecado por qualquer outro no céu ou debaixo do céu, que não seja Jesus Cristo. Nada a não ser infinitude pode lidar com o pecado. É necessário infinita sabedoria para tratar disso. É necessário infinita misericórdia para perdoar, infinito poder para subjugar; infinito mérito para purificar e limpar, e infinita graça para aniquilar o pecado. Seja lá o que for que vocês pensem sobre o pecado, na verdade ele tem sido o grande inimigo com o qual Deus e a Sua graça têm contendido incessantemente desde que o mundo começou. E é por isso que Deus tem Se
  • 26. empenhado totalmente, até mesmo a Sua infinitude, em nos resgatar, em nos salvar das mãos e do poder do pecado. Sua infinita sabedoria, poder, misericórdia, verdade e santidade, tudo tem sido empregado para vencer o pecado; quero dizer, tanto para subjugar o pecado como para salvar vocês pecadores. O grande propósito de Deus ao enviar Cristo ao mundo, Sua encarnação, humilhação, paixão e morte, foi exatamente este: subjugar e destruir o pecado. Que grande inimigo era esse para que Deus enviasse Seu Filho para subjugá-lo? Ele pode Se utilizar de moscas, piolhos, a menor das criaturas, para destruir a maior e mais poderosa força sobre a terra, mas nada menos do que Seu Filho era forte o suficiente para conquistar o pecado. Vocês podem desprezar o pecado tanto quanto queiram, engoli-lo sem medo, viver nele sem percebê-lo, cometê-lo sem remorso, no entanto isso que vocês tornam tão sem importância, requereu nada menos do que o infinito poder de Deus para ser subjugado, a infinita misericórdia de Deus para ser perdoado, o infinito mérito de Cristo para expiá-lo. Foi isto que feriu e fez sangrar o coração de Cristo e fará o seu também, se não se interessarem por Ele. 7. CONSEQÜÊNCIA Se o pecado é o mal sem par, então vejam o quanto estamos presos a Cristo, Aquele que carregou os pecados e todos os males de vocês que têm interesse nEle. Oh, o amor de Cristo! Quão admirável que Ele pudesse carregar o pecado, o qual é maior que todas as misérias, um mal maior do que a morte, do que o inferno em si! Caro leitor, se houvesse alguém no mundo que ficasse contente em ser pobre no seu lugar, levar as suas dores, ficar doente, ser preso, morrer por você, e ainda sofrer a ira de Deus e padecer as dores do inferno no seu lugar, o quanto você se. consideraria preso e devedor a tal pessoa por tudo isso? No entanto, Cristo fez isso por você. Ele carregou o pecado - o maior de todos os males, aquele que abrange todos os outros em si -pois, ninguém senão Cristo, seria capaz de fazê-lo. Se Deus colocasse sobre você o menor pecado, simplesmente um pecado (o qual ninguém exceto Cristo jamais carregou neste mundo), isso o faria em pedaços com seu peso, ainda que todos os pilares do céu e todos os anjos gloriosos contribuíssem com sua força para o ajudar a carregá-lo. O menor pecado merece e atrai para si uma infinita ira que nem você, nem todos os anjos do céu são capazes de ficar em pé debaixo dela. Os perdidos carregam esse peso no inferno. Eles sofrem-no, porém sem forças para suportá-lo. Eles são moribundos sem poder morrer. Sempre consumindo, nunca consumidos! Portanto, veja quanto você está endividado a Cristo -
  • 27. Aquele que carregou o pecado, o maior de todos os males, e com o pecado, todos os tormentos, ira e justiça atribuíveis ao pecado. O mundo todo não é capaz de expressar que tormentos Cristo suportou quando levou o pecado, quando Ele suou gotas de sangue, quando Ele lutou com a justiça e suportou a ira de Deus: quando Ele clamou: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Que estranha exclamação dAquele que era o Filho de Deus, Ele que fez os patriarcas da Igreja Grega dizerem: "Pela virtude de Teu desconhecido labor, e aqueles sofrimentos não revelados ao homem, tenhas misericórdia de nós". Não é desonra dizer que quaisquer que fossem os sofrimentos dos perdidos, Cristo suportou-os, contudo não em espécie. E portanto, enfatizo novamente o quanto você deve a Cristo que levou seus pecados para você. De fato, está mais preso ainda por ter sido um ato voluntário de Cristo; ninguém poderia forçá-lO ou constrangê-lO a isso. Quanto mais voluntária for a gentileza feita, tanto melhor ela é. A gentileza é muito mais digna quando feita voluntariamente. Quando uma cortesia é voluntária, costumamos dizer que é uma dupla cortesia. A voluntariedade torna tudo maior, pois quanto maior o mal que está no pecado, maior é o pecado. Isto se aplica ao pecado contra o Espírito Santo. Ele é praticado com volição desesperada e diabólica. Quanto maior o desejo de se prestar um serviço, maior será a aceitação dele. O que quer que você faça para Deus, quanto maior for a vontade de fazê- lo, maior será a apreciação de Deus. Quanto maior foi a voluntariedade envolvida naquele ato de Cristo, tanto maior deve ser a nossa vinculação a Ele por isso. Ora, se você considerar isto em toda a sua extensão, não encontrará nisso outra coisa senão amor e pura boa vontade. Sua primeira aquiescência foi voluntária. Foi um acordo voluntário feito entre Deus e Cristo, um contrato de bom grado feito no céu com Deus, de que Ele Se incumbiria dessa grande obra. E Ele veio ao mundo com tanta voluntariedade: "Pelo que, entrando no mundo, diz: sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me preparaste; holocaustos e oblações pelo pecado não te agradaram. Então disse: eis aqui venho (no princípio do livro está escrito de mim), parafazer, ó Deus, a tua vontade " (Heb. 10:5-7), evidenciando a liberdade e a voluntariedade de Cristo ao incubir-Se desta obra. E por isso os anjos entoaram por ocasião da Sua encarnação, boa vontade para com os homens. Isso mesmo - boa vontade. E quando Ele estava no mundo, realizou Seu trabalho com a maior boa vontade. Ele nos fala: "para esse fim eu nasci, e para esse fim eu vim para o mundo ", e Ele disse que estava em angústia até que chegasse a hora, a saber, em ânsia de amor até que a hora chegasse. E quando chegou o momento, foi uma negra e desoladora hora, chamada "A hora das trevas"; ainda assim Ele não nos abandonou, não nos deixou. Se o tivesse feito, teria nos deixado no inferno sem qualquer
  • 28. recuperação. Contudo, Ele não o fez, embora (em relação a Sua humanidade) isso fizesse da obra de Sua misericórdia uma coisa estranha. Não, Ele carregou o pecado, levou a ira e derramou até a última gota de sangue do Seu corpo. Oh, leitores, pensem consigo mesmos, vocês que são o povo de Deus, o quanto estão dependentes de Cristo! Quantos de nós podemos dizer como Bernardo: "Tu és minha vida, sou Tua morte; Tu és minha justiça, sou Teu pecado; Tu és meu céu, sou Teu inferno; Tu és minhas riquezas, sou Tua pobreza." Oh, quanto vocês estão dependentes de Cristo, dAquele que carregou o pecado! E ainda mais, vocês sabem o quanto estão dependentes de Cristo, dAquele que carregou o pecado de maneira como jamais poderíamos fazê-lo, pagando assim o débito do qual estamos absolvidos? "Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz." (Col. 2:14). Como a morte de Cristo foi o pagamento necessário para nosso resgate, assim também a Sua ressur- reição constitui-se em nossa absolvição. "O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação. " (Rom. 4:25). Somos justificados pelo Seu sangue? Somos. Todavia Ele não ressuscitou formalmente para justificar-nos, e sim para declarar que já estávamos justificados, que estávamos desobrigados, e que nossos pecados foram perdoados. Se Cristo ainda fosse prisioneiro sob as cadeias da morte, não poderíamos ter nenhuma certeza de que nosso débito fora pago. Como diz o apóstolo Paulo: "Se Cristo não houvesse ressuscitado, estaríamos ainda em nossos pecados". Mas agora Cristo - preso, levado prisioneiro, posto no túmulo e tendo quebrado os grilhões da morte, na qual era impossível prendê-lO - tendo ressuscitado, declara, por tudo que passou, que nossos pecados estão perdoados. Se realmente Cristo levou o pecado e nós também tivéssemos que levá- lo, qual a nossa vantagem? No entanto, Cristo levou o pecado de maneira tal que não temos de levá-lo, então quão infinitamente somos devedores a Ele por isso! Cristo não deixou nada para fazermos, a não ser receber o que Ele adquiriu e entregou nas mãos do Pai: nada além de pedir uma absolvição, sim, e das mãos dEle que é justo e nunca nos decepcionará, das mãos dAquele que certamente concederá o que quer que seja que Seu Filho tenha tão custosamente adquirido pela Sua obra expiatória. Se umhomem morre e deixa legados nas mãos de alguém que é fiel, não podemos requerê-los? Quando Cristo morreu, Ele confiou todos os Seus méritos nas mãos de Seu Pai, e Ele não deixou nada para fazermos, a não ser requerê-los todos. Deus fez um pacto com Cristo que, se Ele levasse o pecado, não precisaríamos carregá-lo também; que se Ele morresse pelo pecado, o mesmo
  • 29. seria perdoado por Ele; pois tudo isso está incluso em Isaías, capítulo 53, versículo 11: "O trabalho de sua alma ele verá, e ficará satisfeito ". Ora, Cristo colocou em nossas mãos todas as cédulas e fianças de Seu Pai, e ainda uma procuração pela qual estamos autorizados a reivindicar tudo isso das mãos de Deus. Foi por nós que Cristo Se incumbiu do trabalho e tudo o que Cristo fez foi para nos comprometer com Deus, para satisfazê-lO e depois comprometê- lO, fazer de Deus o devedor daqueles que foram Seus devedores. E enquanto houver uma gota do sangue de Cristo para ser distribuída (o qual nunca se esgotará, é uma justiça eterna) haverá a misericórdia de Deus, ou melhor, a justiça de Deus incumbida de transmiti-la a nós que pela fé chegamos a Ele. E não sobrou nada para fazermos em relação à justificação, a não ser requisitar tudo o quanto Cristo já adquiriu. Vivemos no mundo como se tivéssemos que comprar o perdão, quando temos apenas de recebê-lo. Deus nos detém pelo débito do nosso pecado, mas vocês pensam que temos de pagar por ele? Ai de nós, pobres criaturas, se tivéssemos que pagar! Isto não é senão para tirar-nos de nós mesmos e trazer- nos para Cristo - Aquele que já pagou o débito. Oh, como isso nos faria proclamar Cristo, admirá-lO, prezá-lO! O que poderia aproximar mais o nosso coração a Cristo do que o fato de que Ele levou os nossos pecados, e o fez de modo que nunca teremos que levá-los se tivermos interesse nEle? 8. CONSEQUÊNCIA Se o pecado é o maior mal, então isso deve conduzir-nos para: 1. a maior tristeza 2. o maior ódio 3. o maior cuidado em evitá-lo 4. o maior empenho em livrar-nos dele. Se o pecado é o maior mal, então precisa haver a maior tristeza por sua causa. Nenhuma aflição, nenhum problema, nenhum mal deve ser tão amargo para nós como o pecado, porque o pecado é o maior mal. É uma coisa triste ver nossos corações suscetíveis e sensivelmente afetados com males menores e problemas, e ainda permanecerem duros e insensíveis ao pecado, o qual é o maior dos males. Seria sábio de nossa parte, portanto, quando nenhum outro mal estiver sobre nós, voltarmos todos os nossos lamentos, lágrimas e tristezas para o pecado. É um aforismo na medicina que, se um homem sangrar copiosamente num lugar, os médicos o farão sangrar em outro lugar, a fim de fazer o fluxo de sangue mudar de direção. Seria sábio de nossa parte, quando nossas almas sangrarem e nossos corações lamentarem por outros males, direcionar todos
  • 30. os lamentos angustiosos para o pecado. Deixem que eles corram pelo canal certo. Lágrimas derramadas deveriam ser derramadas novamente se não foram derramadas pelo pecado. A tristeza é como a influência de Mercúrio: boa, se unida a outro planeta bom, má, se ligada a um planeta mau. Não é tanto a tristeza em si como o é a base e a fonte da tristeza. O motivo dela é que deve chamar a atenção. A tristeza era nula em Judas, sincera em Pedro, foi nula em Saul, sincera em Davi. Mundana em um, divina em outro - "A tristeza do mundo opera a morte ". E tal é toda tristeza que não tem o pecado como seu fundamento, a graça como seu princípio e Deus como seu fim. Onde o pecado é entendido como sendo o ma ior mal, será objeto da maior tristeza, tristeza para exceder todas as outras tristezas. 1. Embora nem sempre em quantidade c tamanho, mas em qual ida de e equivalência: um pouco de ouro vale tanto quanto unia grande quantidade de terra e entulho. 2. Embora não em força - porém em extensão e continuidade -outras tristezas são como terra inundada, ocasionada pela tempestade a qual quando se vai, a inundação desaparece. Esta tristeza divina vem de um manancial, e tendo uma fonte para alimentá-la, é permanente mesmo quando a outra se vai. Esta é a diferença entre a tristeza divina e a outra. As tristezas do povo de Deus, que são espirituais, vêm de um manancial. A tristeza mundana surge da tempestade, da comoção. As tristezas do ímpio surgem de suas tristezas emocionais, surgem de uma tempestade, de peso na consciência, de temor da ira, portanto suas tristezas mundanas surgem de uma fonte. Onde o pecado é compreendido como sendo o maior mal, haverá a maior tristeza, (1) a tristeza é proporcional à medida e gravidade do pecado e (2) a tristeza é proporcional ao merecimento e valia do pecado. Como o merecimento do pecado é infinito, então a tristeza por ele deve ser uma tristeza infinita. Infinito, digo, não em ação e expressão, porém no desejo e afeição da alma. Aquele cujo coração e olhos secam ao mesmo tempo, cuja expressão em lágrimas e inclinação à tristeza terminam ao mesmo tempo, embora tenha chorado um mar de lágrimas, não tem ainda verdadeiramente chorado pelo pecado. Se a tristeza vem de Deus, há uma disposição ao lamento mesmo quando cessam as expressões de lamento, porque cada gota de lágrima vem de uma fonte interior de lágrimas. Como cada ato de fé surge de uma disposição de crer, um hábito de fé interior, todo ato de amor surge de um princípio de amor interior, assim toda expressão de tristeza surge de uma disposição à tristeza no espírito. Por isso lemos em I Sam. 7:6 que as tristezas dos filhos de Israel são expressas por esta metáfora:"... e tiraram água (vinda de um poço) e a derramaram perante o Senhor ". Seus olhos não davam vazão à medida que seus corações se enchiam. Seus olhos não podiam extravasar tão rápido quanto seus corações produziam.
  • 31. Todas as suas expressões de lamento, estavam aquém da disposição ao lamento que havia em seus corações. Esta é a tristeza pelo pecado: uma tristeza proporcional à medida, ao demérito do pecado; uma tristeza que excede todas as outras tristezas, embora não em quantidade, mas em qualidade; embora não em força, porém, em extensão e continuidade. O pecado é o supremo mal? Então exige que seja manifestada uma aversão ainda maior. Nada é propriamente o objeto de aversão a não ser o mal, no entanto, nem todos os tipos de males, e sim o mal do pecado. Males puníveis são mais objetos de medo do que de aversão, porque eles são males impróprios. Nada realmente é mal a não ser o que nos torna maus, e esse pode ser um meio de nos tornarmos bons e, por isso, não é propriamente mal e sim um objeto de aversão. O mal pecaminoso é objeto de inimizade por que é mal e, sendo o maior dos males, deveria então ter o máximo de nossa aversão." Vocês que amam o Senhor, odeiem o pecado. (Sal. 97:10). Não é suficiente ficar irritado e descontente com ele, pois é assim que o homem age com alguém que seja seu amigo, alguém a quem ele ame, no caso de alguma descortesia. Nem é suficiente desferir golpes contra o pecado, pois assim muitos o fazem hoje e o abraçam amanhã. Entretanto, vocês precisam se esforçar para matar o pecado. O ódio procura anular aquilo que ele odeia. Nada a não ser a destruição dele irá satisfazer a alma que realmente odeia o pecado. Há muitos erros nos homens com relação à este ponto. Em resumo, eu mostrarei a vocês os enganos secretos do espírito em relação a isso e quão longe estão de odiar o pecado. 1. Um homem pode desavir-se com um pecador pelo qual ele foi persuadido a pecar, e ainda assim não odiar o pecado; pode matar o traidor e ainda gostar da traição. 2. O homem pode desavir-se consigo mesmo pelo pecado e ainda assim não odiá-lo quando este o incomoda, pois ele gosta de pecar. 3. O homem pode indispor-se com o pecado e ainda assim não odiá-lo; atira fora o carvão em brasa quando ele o queima, e ainda assim não se contraria com o negrume ou a sujeira que vem dele. Se o pecado é o maior mal, então isso requer o maior cuidado para evitá-lo. Os homens naturalmente têm medo de cair no mal. Que estudos, que cuidados, que esforços há para prevenir o mal? Se vocês entendem que o pecado é o maior mal, devem então não medir esforços em evitá-lo. Vocês precisam se esforçar para andarem o mais próximo e corretamente com Deus, a fim de estarem atentos a todas as ocasiões, tentações e seduções que poderiam atraí-los para o pecado. Ninguém está totalmente seguro; pode cair em pecado aquele que negligenciar a vigilância cristã. Assim, onde o pecado é entendido como sendo o maior mal existirá maior cuidado e seriedade contra o pecado. Tal homem é familiarizado com as
  • 32. falhas dos outros, as quais para ele não são limites da terra para orientá-lo, e sim limites da maré e rochas a evitar. Ele é familiarizado com a fraqueza e a iniqüidade de seu próprio coração e espírito, e por conseguinte vigia. Ele sabe que não pode confiarem nenhum dos seus membros sem que esse esteja debaixo de vigilância. Os olhos estão cheios de pecado: adultério, orgulho, inveja, concu- piscência dos olhos (I João 2:16) e ele não pode confiar em seus olhos sem o pacto de Jó: "Fiz um concerto com meus olhos, como eu os colocaria sobre uma virgem ? (Jó 31:1). A língua está cheia de pecado: de maldição, murmurações, injúrias, palavras vãs e não há confiança nela sem o freio de Davi: Eu disse: guardarei os meus caminhos para não delinqüir com a minha língua" (Sal. 39). Ele conhecia sua própria fraqueza e iniqüidade, e por isso não ousava confiar em nenhum membro sem ser vigiado. Tal homem está familiarizado com o poder e estratégia de satanás, que é, como Lutero o chamou, um inimigo sutil, cujas tentações são chamadas de "as profundezas de satanás". Apoc. 2:24; seus ardis, II Cor. 2:11, seus métodos Ef. 4:14. Ele também adapta espertamente suas tentações. Tal pessoa está familiarizada com os perigos e as estratégias do pecado, e como ele é (1) enganoso em seu objetivo; (2) enganoso em seus argumentos; (3) enganoso em suas pretensões e artimanhas; (4) enganoso em suas intrusões e (5) enganoso em suas promessas. E assim tal pessoa manterá uma santa sobriedade, um temor humilde, grande e cuidadoso sobre seu próprio espírito de modo a não cair em pecado. Ele vê o pecado como seu mal sem par, emprega seu maior esforço e cuidado para evitá-lo. Se o pecado é o maior mal, então devemos principalmente nos empenhar em nos livrar do pecado. Todo homem deveria se esforçar para livrar-se do mal, e quanto maior o mal, tanto maior deveria ser o desejo dele de se livrar desse mal. Ora, o pecado é o maior dos males. Quanto mais então deveríamos labutar e esforçarmo-nos para sermos libertos do maior dos males? Ai, ai de mim! O que são os outros males comparados ao mal do pecado - o qual torna nosso bem em mal? E ainda para se ver a vileza do íntimo dos homens, ficam felizes em se livrar de todos os outros males, senão o do pecado. Assim disse Faraó: "Retire esta morte, esta praga." Eles reclamam do resultado do mal, porém não do mal em si, da punição do mal, no entanto não do mal punido. Eles uivam sob os castigos e aflições presentes, mas nunca lamentam o pecado. Eles ficariam felizes em se livrar da dor, todavia ainda prefeririam manter os dentes. Infelizmente, até que o pecado seja removido, não seremos tratados em misericórdia, e sim em julgamento; uma temporária libertação somente nos reservaria o mais severo golpe. Pelo contrário, onde o pecado é removido, a aflição será removida. Eles são como o corpo e a
  • 33. sombra: remova o corpo e a sombra será removida. O pecado é o corpo e as aflições são sua sombra. Se, por outro lado, as aflições continuam, ainda que Deus tenha levado embora o pecado, a vileza do mal terá sido retirada. O pecado é a lança de toda aflição. O pecado é aquilo que amarga toda cruz, e o pecado sendo retirado, aquilo que é malévolo é retirado e aquilo que é terapêutico e para a salvação, permanece. Trata-se de resultados mais do que da punição em si. Tudo acaba na misericórdia quando pela misericórdia o pecado é retirado. Se o pecado é o maior mal, então vamos escolher cair em qualquer grande mal do mundo, exceto no menor mal do pecado. Todos os outros males têm algum bem neles e são objetos de escolha, no caso de não podermos evitá-los, mas no caso do pecado é questão de admissão e não de escolha. Desse modo, vejamos o que Moisés fez, como se lê em Hebreus, capítulo onze. Ele preferiu ser maltratado com o povo de Deus do que gozar os prazeres do pecado por um pouco de tempo. Todavia o pecado é totalmente mau, sem nenhum bem nele, e não existe nada no mundo que deveria nos obrigar a escolher o pecado. Seria o pecado o maior mal? Deixemos que isso nos leve a sentir compaixão e a orarmos por aqueles que estão sob o domínio do pecado. Vocês se compadecem de amigos doentes, de amigos pobres, amigos arruinados. Contudo, o que são todos esses males comparados com o mal do pecado? O que é a pobreza? O que é a doença? O que é qualquer coisa comparada com o mal do pecado? Todos eles são males exteriores, o pecado é um mal interior. Tudo isso tem uma natureza temporal, a morte é o fim de tudo, entretanto este mal é de natureza eterna. Todos os outros males não tornarão ninguém em objeto da inimizade e ira de Deus. Portanto, gastem algumas lágrimas e orações por aqueles que estão dominados pelo pecado. "Oh!", disse Abraão: "Quelsmaelviva diante de ti". Mencionem então os amigos, um irmão, um pai, etc., que estão debaixo do domínio do pecado, que estão sob a tirania do pecado. Oh, que vocês possam compadecer-se de suas almas! Oh, que vocês possam arrebatá-las do domínio do pecado! Se o pecado é um mal tão grande, então prostremo-nos e admiremos a grandiosidade da paciência de Deus em suportar os pecadores e a grandeza da misericórdia de Deus em perdoar o pecado. Admiremos a grandeza da paciência de Deus em suportar os pecadores. É possível que você, amigo, tenha sido um pecador depravado, um beberrão,umblasfemomiserável nesses vinte, trinta, quarenta, talvez sessenta anos ou mais. Deus desistiu de você? Oh, veja nisso a maravilha da paciência de Deus. Se não fosse por Deus ser Todo-poderoso na extensão da Sua paciência, teria sido impossível para Ele suportá-lo por tanto tempo. Assim Ele nos fala em Os. 11:9: "Eu sou Deus e não homem — eu entrareina cidade para destruí-la ". EmMal. 3:6 -."EusouJeováe não mudo; por isso vós, ofilhos de Jacó não sois consumidos ", significando que se Ele não fosse Deus, se não fosse Todo-
  • 34. poderoso na extensão de Sua paciência, eles teriam sido certamente eliminados muitos antes. Se o homem é provocado diariamente e irritado com ofensas e não revida, atribuímos isso à sua pusilanimidade ou à sua impotência; ou à sua falta de coragem ou à sua falta de poder. Mas não é assim com Deus. Sua paciência é o Seu poder (Num. 14:17-18). Quando Deus tinha ameaçado destruí-los Moisés orou a Deus para perdoá-los, e chamou este ato de Sua paciência nada menos que Seu poder: "Agora, pois, rogo-te que a força do meu Senhor se engrandeça; como tens falado, dizendo: o Senhor é longânimo... " Vejam, Ele faz Sua paciência ser Seu poder. E é isso realmente, se vocês considerarem o que é o pecado. Eu não direi nada mais sobre o assunto além do que Deus diz em Lev. 26:21 - pecar é contrariar Deus. 1. Pecar é contrário às obras de Deus. Tão logo que Deus revelou e aperfeiçoou o sistema do mundo, o pecado deu um golpe na tentativa de abalar esse sistema, e ele gostaria de ter feito tudo em pedaços. Se não fosse pela promessa de Cristo, tudo teria se desintegrado. Se um homem viesse ao atelier de um artesão e com um golpe quebrasse em pedaços a peça de arte que custou muitos anos de estudo e dores para idealizá-la, como o artesão suportaria isso? Assim fez o pecado, e será que Deus deveria suportá-lo? Oh, onipotente paciência! 2. E ainda mais, tudo isso é contrário à natureza de Deus. Ele é santo, o pecado é obsceno; Deus é puro; o pecado é impuro e, por isso, é comparado ainda à coisa mais impura do mundo: o veneno de áspides, úlceras, feridas, etc. Se toda a contaminação nociva do mundo se concentrasse em um antro comum, não seria igual à contaminação do pecado. Deus é bom, perfeitamente bom; o pecado é mau, universalmente mau. Existe o bem em todas as outras coisas, pragas, doenças. O inferno em si tem um tipo de bem nele. Mas no pecado não. Pecado é a blasfêmia prática do nome de Deus. É o desafio à Sua justiça, a violência à Sua misericórdia, o zombar de Sua paciência, o desrespeito ao Seu poder, o desacato ao Seu amor. É totalmente contrário a Deus. 3. O pecado é contrário à vontade de Deus. Deus nos ordena a fazer algo. O pecado diz: "Eu não vou fazer isso". "Santificado seja meu sábado", diz Deus. "Eu não o santificarei", diz o pecado. Aqui há contradição, e quem pode suportar a contradição? Isso é considerado como parte importante dos sofrimentos de Cristo (Heb. 12:3). Ele suportou a contradição dos pecadores contra Si mesmo. Certamente esse foi um grande sofrimento. Como pode um homem sábio suportar a contradição de um tolo? É aqui que Cristo -a sabedoria do Pai - suportou tal contradição dos tolos, a qual Lhe causou grande sofrimento. O pecado contradiz Deus. Ele põe a vontade contra a sabedoria e o inferno de uma vontade corrupta contra o céu da infinita sabedoria. Imaginem! Deus suportando pecadores. Eis a maravilha!
  • 35. Vocês sabem que em todas as criaturas a oposição opera toda a combustão. Ela faz toda a guerra na natureza, ela provoca um elemento para brigar contra outro. Fogo contra água, água contra fogo. Ela faz as muitas pedras suarem e partir em pedaços. Percorram toda a criação e não encontrarão nenhuma criatura que possa suportar ser contrariada. Como pode o pecador viver num mundo onde Deus e o pecado estão em oposição? Eis aí a maravilha: uma extraordinária paciência! O pecado seria um mal tão grande? Então prostremo-nos, e admiremos a grandeza da misericórdia de Deus em perdoar o pecado. Vejam como o profeta clama e o admira: "Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniqüidade, e que te esqueces da rebelião do restante da tua herança?... " (Miq. 7:18). Esta é uma das maiores obras que Deus faz no mundo: perdoar o pecado. É uma obra na qual Ele revela todos os Seus gloriosos atributos: Sua sabedoria, Seu poder, Sua justiça, Sua misericórdia, Sua santidade e assim por diante, ao perdoar o pecado. Os homens que pensam que a misericórdia perdoadora de Deus é simples e sem importância, dão dessa forma um sinal evidente de que nunca receberam perdão, nunca souberam o que era realmente receber o perdão. Seja houve alguma obra no mundo que pôs Deus à prova, o perdão foi essa obra. E se algum dia Deus intentou algo de bom para você, Ele o instruirá e o orientará quanto ao perdão do pecado. Entretanto, Deus humilha os homens em sua prestação de contas para elevar o conceito deles sobre o perdão, para promover a grandeza de sua própria misericórdia em perdoar o pecado. E realmente não precisaríamos de tão grandes preparações e humilhações ao virmos para Cristo se tivéssemos pensamentos mais elevados sobre o perdão do pecado. Os homens consideram perdão aquilo que não passa de um lamento: "Deus, tenha misericórdia!" Cometem uma blasfêmia e então dizem: "Deus, me perdoe!" ou dizem: "Senhor tenha misericórdia de mim quando eu morrer!" Dizem que Luiz II, rei da França, usava um crucif i xo em seu chapéu e quando ele pecava, beijava o crucifixo e então tudo estava resolvido. Os papistas fizeram o mesmo com o crucifixo e a confissão. Ah, meus irmãos, se Deus destinou o bem para vocês, Ele os fará saber o que é perdão. Em Is. 55:8, quando Deus atraiu os homens para mostrar-lhes o perdão, Ele os chamou para um lugar alto acima do mundo "... meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos ", diz o Senhor. "Se eles fossem, então Eu não poderia multiplicar o perdão, mas como os céus são mais altos do que a terra, assim são os Meus pensamentos mais altos do que seus pensamentos, e Meus caminhos mais altos do que seus caminhos. Eu sou infinito". Se a misericórdia criadora de Deus é tão grande, como Davi com dupla admiração declarou no Sal. 8:1 e no último versículo: "O Senhor, Senhor nosso,
  • 36. quão admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus " o que dizer então de Sua misericórdia perdoadora? Finalmente, seria o pecado um mal tão horrendo? Então vejam que motivo temos para humilhar nossas almas diante de Deus neste dia devido termos pensamentos tão superficiais sobre o pecado, e desde que Deus tem classificado o pecado como o maior de todos os males. Que pensamentos levianos temos do pecado? Podemos engoli-lo sem medo, podemos viver nele sem percebê-lo, podemos cometê-lo sem remorso. Tudo isso mostra a superficialidade dos nossos pensamentos sobre o pecado. Não avaliamos o pecado como sendo um mal tão grave como realmente ele é. Agora, para que vocês possam ter conceitos mais adequados sobre a magnitude dele, para que sejam capazes de ver o pecado como algo excessivamente maligno, irei apresentá-lo resumidamente sob seis aspectos. 1. Olhem para ele sob o prisma da natureza a qual, embora seja um cristal pouco transparente, é um refletor autêntico. O pecado tem ofuscado essa lente, ainda assim ela é capaz de revelar-nos muito do mal do pecado. Mesmo os pagãos têm visto e julgado por eles mesmos, muitos pecados como sendo o maior dos males. Embora os pecados espirituais fossem ocultos a eles, sua luz não era capaz de descobrir a infidelidade e os pecados íntimos. Todavia eles têm descoberto os pecados morais, e os evitado, e prefeririam correr o risco de sofrer do que cometer tais pecados. Os exemplos de Platão, Cipião, Catão, e muitos outros irão elucidar isso. Tudo isso foi descoberto pelo prisma da natureza, feito por ela própria, porém não pela mera natureza caída, e sim pela natureza bem administrada, pela natureza desenvolvida, pela implantação de princípios morais juntamente com a graça restringedora e de outros dons comuns do Espírito. O grande ódio que sentem pelo pecado, o grande cuidado que têm para evitá-lo, o grande sofrimento que experimentam por não quererem cometer pecado, deveriam ser suficientes para revelar-nos quão grande é o mal do pecado - mas interromperemos o assunto aqui. 2. A segunda lente pela qual vocês podem ver até onde vai o pecado é a lente da lei, a lente que revela o pecado em todas as suas dimensões: a culpa, o demérito, a corrupção e a malignidade do pecado. Portanto, o apóstolo diz em Rom. 7:7 "... mas eu não conheci o pecado senão pela lei..." Isto é, eu não teria conhecido o pecado como sendo tão abominável quanto ele o é, eu não teria conhecido o pecado em sua amplitude e latitude. Eu não teria conhecido a gravidade do pecado se não tivesse sido pela lei, se a lei não tivesse sido a lente para revelar o pecado a mim. Ela revelou a grandeza do pecado para Davi: "A toda a perfeição vi limite, mas o teu mandamento éamplíssimo " (Sal. 119:26), isto é, por revelar a extensão do pecado em proporção a sua amplitude e grandeza.
  • 37. Que lástima! Isso irá revelar a vocês mais nudez num pecado do que o mundo todo pode cobrir, mais indigência num pecado do que todos os tesouros da justiça disponível são capazes de suprir; mais obliqüidade e injustiça num pecado, num pensamento errado, do que a morte de todos os homens e o extermínio dos anjos seriam capazes de expiar. Procurem na lei e vocês descobrirão milhares de pecados que caem sob toda e qualquer lei de Deus. Eis aqui a lente! 3. Olhem para o pecado sob a lente das dores, feridas penetrantes e tristezas, as quais os santos encontraram em seu acesso e primeira entrada no estado de graça, em suas reincidências e retornos à insensatez. Para o primeiro, vejam que gemidos e humilhações tiveram que suportar em sua primeira admissão ao estado de graça - Manasses em II Crôn. 33:12, Paulo em Atos, capítulo nove, os judeus convertidos em Atos 2:37 - admissão semelhante à ocasião quando os pregos perfuraram Cristo, agora cravados em seus corações como a lança no lado de um animal. Quantos dos muitos santos que já existiram estiveram presos num leito de miserável angústia, acamados sob os golpes da justiça possi velmente por muitos anos, e tudo isso por causa do pecado. Em todas as épocas houve milhares de exemplos dessa natureza. Olhem para as angústias e quebrantamentos que os santos t i veram quesuportar por causa de suas reincidências no pecado. Vejam nos em Pedro e em Davi. Leiam as tristes expressões que ele tem no Sal. 6:1-7 e no Sal. 32:3-5. Do mesmo modo no Sal. 51. Como ele lamenta pela sua alma perturbada, seus ossos quebrados, seus olhos consumidos pela tristeza, sua cama está encharcada com lágrimas! E tudo isso por causa do pecado. Aqui está a lente pela qual pode-se ver o mal do pecado como sendo o maior mal. Sim, quando Deus o enfoca, o menor pecado resultará em tudo isso. 4. Olhem para o pecado em Adão e vejam a extensão dele. Aquele único pecado de Adão trouxe todas as misérias, doenças, morte e outras desgraças, sobre toda a sua posteridade desde aquele tempo. O pecado tem sido a maldição de milhares de homens e ainda continua sendo. A justiça de Deus ainda não foi satisfeita. Se ela tivesse sido, haveria um fim. Não morreríamos, nem ficaríamos doentes jamais, etc. Oh, aqui vocês podem ver o pecado em sua extensão! 5. Olhem para o pecado sobre Cristo. Vejam que humilhações, que quebrantamentos, que feridas cruciantes, que ira isso trouxe sobre o próprio Cristo. Foi isso que misturou aquele cálice amargo com ingredientes tão terríveis, os quais, se tivéssemos que libá-lo quando assim estava temperado, teriam colocado nossas almas debaixo de uma ira pior do que aquela que todos os condenados sofremno inferno. Cristo suportou plena justiça por causa do pecado. Isso fez com que Ele que era tanto Deus quanto homem, santificado pelo Espírito para essa missão, fortalecido pela Deidade, suasse gotas de
  • 38. sangue, e até lutasse, parecendo recuar e orar contra a obra de Sua própria misericórdia, querendo desistir do propósito de Sua própria vinda ao mundo. Ah, ninguém sabe senão Cristo, nem é o finito entendimento humano capaz de conceber, o que Cristo suportou quando estava para carregar o pecado e com isso lutou contra a infinita ira e justiça do infinito Deus, os terrores da morte, e os poderes do mundo vindouro. Aqui está uma lente pela qual vocês podem ver a grandeza, a amplitude, a culpa, o demérito do pecado, tudo o que é revelado ao indivíduo na morte, sofrimentos, quebrantamentos e feridas do Filho de Deus. Você, amigo, que despreza o pecado, vá para Cristo e pergunte a Ele quão duro isso foi, aquilo que você despreza esmagou-O contra o chão. E o menor pecado esmagaria você e todos os pilares do céu para o fundo do inferno para sempre. 6. A sexta lente: olhem para o pecado na condenação eterna da alma, que nada satisfaria à justiça de Deus a não ser a destruição da criatura. Nem doenças, nem prisões, nem sangue, nem sofrimentos, a não ser os sofrimentos do inferno! E esses não por um tempo, mas para sempre! Ah, vejam aqui a enormidade do pecado, o qual poderia ser ainda mais ampliado considerando-se a preciosidade da alma, a qual o pecado arruina por toda a eternidade. E portanto, vocês conheceriam o pecado? Perguntem aos condenados: o que é pecado? Volvam seus ouvidos ao inferno e ouçam todos aqueles berros, aqueles gritos, aqueles rugidos dos condenados, e tudo isso por causa do pecado. Oh, eles foram os prazeres custosamente comprados, os quais precisam ser conseqüentemente pagos com dores sem fim. Assim através destas lentes vocês vêem o que é o pecado. E por conseguinte como devemos ser humilhados por causa de nossa indiferença em relação ao pecado, o qual é um mal tão grande! APLICAÇÃO (1) Então, se é assim, vejam a necessidade que temos de enfatizar sobremaneira o pecado em nossas confissões, pois tudo o que podemos dizer dele será infinitamente deficiente diante da gravidade do pecado. Vocês não podem tornar o pecado mais grave do que eleja é, elevá-lo acima dele mesmo. Vocês não podem ter lentes de aumento para tornar o pecado maior do que eleja é. Vocês têm tais lentes para aumentar o tamanho dos objetos, as quais são capazes de apresentar pequenas coisas como sendo grandes, ampliando-as em seu tamanho, mas não têm lentes para multiplicar o pecado e fazê-lo parecer maior do que ele já é.
  • 39. Os sofrimentos e as tristezas dos santos, os sofrimentos dos condenados em relação ao pecado são diminutos. A lente da lei, a lente dos sofrimentos de Cristo, (o qual é a maior de todas), essas não mostram o pecado maior do que intrinsecamente ele é, elas somente revelam o pecado em suas exatas proporções e dimensões. Não teria sido justo se Deus requeresse mais sangue e colocasse Seu próprio Filho sob maior sofrimento do que o pecado merecia. Porventura seria condizente com o amor de Deus, Sua piedade e misericórdia para com Seu Filho, expô-lO além daquilo que o pecado merecia? Embora haja mais do que suficiente misericórdia para os maiores pecadores, como o apóstolo diz em I Tm. 1:14, não houve mais do que justiça suficiente aplicada em Cristo pela ofensa e culpa do pecado. A morte de Cristo foi um resgate adequado de nossas almas do pecado, e ainda haveria um excesso de mérito, uma superabundância de mérito, na satisfação de Cristo para resgatar milhares de mundos mais do que se necessita resgatar. Como o pecado é infinito em relação a seu efeito, assim a satisfação é infinita em relação ao seu mérito. Portanto, a morte de Cristo não é somente considerado uma satisfação, mas uma aquisição; não somente um pagamento, e sim uma compra. A morte de Cristo é a plena satisfação da justiça de Deus pelo pecado, é a aquisição de todas as coisas boas da misericórdia de Deus pela qual Sua justiça, quanto ao valor e mérito da satisfação de Cristo, é ligado a nós indiretamente. Vejam, então, o que é necessário para acentuar sobremaneira o pecado, porque não podemos multiplicá-lo ainda mais. Fazendo assim haverá muitos frutos: (1) isso produzirá vergonha e contrição de espírito por causa do pecado; e (2) isso fará vocês avançarem e apreciarem melhor a misericórdia. Quando o débito parece pequeno, estamos prontos e aptos para subestimar o perdão. No entanto, quando o pecado parece excessivamente maligno, isso faz com que valorizemos a misericórdia e apreciemos o perdão. Quando o pecado é visto como o maior mal, misericórdia e perdão serão compreendidos como os maiores bens. Isso nos coloca numa posição mais próxima de abandonarmos o pecado. Como aquele que minimiza o pecado está decidido a permanecer nele, aquele que realmente enfatiza o pecado deseja ficar livre dele. Além disso, ficamos irritados conosco mesmos quando consideramos como temos menosprezado a Deus. Isso produz auto-julgamento e auto-condenação como vemos em Davi, no Sal. 51. Isso produzirá uma brandura espiritual e compaixão de coração diante do pecado, porém tenho que deixar isso de lado. (2)
  • 40. Se o pecado é o maior mal, então é a maior misericórdia do mundo ficar livre do pecado. Quanto maior o mal, maior é a misericórdia para se livrar dele. Ora, o pecado é o maior mal. Portanto verão esse livramento como a suprema misericórdia que vem através de Cristo: "E Ele se chamará JESUS, pois, salvará seu povo de seus pecados ". (Mat. 1:21). Como se todas as outras coisas vindas através de Cristo estivessem incluídas nesta, "Ele salvará seu povo de seus pecados ". Ele não diz que salvará Seu povo do inferno, mas do pecado; de nenhum outro mal no mundo, e esta é a maior misericórdia. Quando Deus quis declarar-Se de forma suprema, ou mesmo expressar Seu maior pensamento de misericórdia que jamais viera ao Seu coração, quando Ele quis manifestar a maior obra da Sua misericórdia que ela haveria de operar, Ele disse nada mais do que isto: "Ele salvará seu povo de seus pecados ". O pecado foi o mal máximo, e portanto, salvar-nos do pecado foi o maior bem. E por isso Davi no Sal. 32:1-2, declara: "Bem-aventurado é aquele cuja iniqüidade é perdoada, e cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado é o homem a quem o Senhor não imputa pecado ". Na verdade, temos pensamentos insignificantes, pensamentos mesquinhos sobre o perdão do pecado, e a razão é porque temos pensamentos superficiais sobre o pecado. Entretanto, se Deus abrisse nosso entendimento e nos fizesse ver a imensidade e a amplitude do mal do pecado, e se Ele juntasse o sentido do tato ao da visão e nos fizesse sentir o que é o pecado; se Ele deixasse a menor faísca de Sua ira cair sobre nosso espírito, por causa do pecado, isso faria nossas faces cobrirem-se de carvão. Rapidamente mudaríamos nosso tom e diríamos: "Oh, abençoados sejam para sempre todos aqueles cuja iniqüidade é perdoada e cujos pecados são cobertos." Contudo, a fim de que eu não pareça como que desferindo golpes no ar, iremos circunstanciar essa misericórdia um pouco e vocês verão a grandeza dela - embora, realmente, fosse suficiente dizer a vocês que o pecado é o maior mal. Portanto, necessariamente se segue que estarmos livres do pecado é a maior misericórdia no mundo, a qual se tornará mais claro se considerarmos as seguintes particularidades. Primeiro, então, o perdão do pecado é a misericórdia mais custosamente adquirida e isso é algo para mostrar a grandeza dela. Vocês sabem, quanto maior for a soma que deve ser paga pela compra de uma coisa (contanto que não exista falta de sabedoria do comprador ou nenhuma desonestidade no vendedor), ainda maior, e mais valioso é o bem comprado ou adquirido. Portanto essa misericórdia, o perdão do pecado, foi a misericórdia mais custosamente adquirida. Isso custou sangue, segundo Mat. 26:28. Vejam também: "Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados'',, como diz o escritor em Heb. 10:4.0 sangue significa isso então? Trata-se do precioso sangue de Cristo: "Sabendo que não foi com coisas corrup- tíveis, como prata ou ouro, quefostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um
  • 41. cordeiro imaculado e incontaminado".(IPed. 1:18-19). "E este, o sangue de Deus:"... Para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue." (Atos 20:28). Agora sentem-se e imaginem que grande misericórdia deve ser esta equivalendo ao preço de sangue, e este do Filho de Deus. Não havia nenhuma falta de sabedoria no comprador, Ele não podia ser ludibriado, Ele conhecia o valor do bem. Nem houve falta de justiça ou bondade do Vendedor. Ele foi justo e não aceitaria unia gota de sangue a mais do que o bem valia. Ele também era Pai e não exporia a Seu Filho a maiores sofrimentos além daqueles que o bem merecia. Essa misericórdia é mais pura do que todas as outras, o perdão do pecado, uma misericórdia que vem do coração e da boa vontade de Deus para com vocês. Deus pode dar-lhes todas as outras coisas e odiá-los. Vocês podem ser ricos e ainda assim ser reprovados, grandes no mundo presente e malditos no porvir. Dives pôde ter riqueza, Herodes eloqüência, Saul autoridade, Agripa vestes gloriosos; um homem pode agir perversamente e ainda assim prosperar. Essas coisas não são realmente boas ou realmente más. Se boas, os ímpios não devem tê-las, se más, os santos não devem possuí-las. Essas são coisas que Deus estende das Suas mãos, não de Seu coração. Esses são favores gerais, não amor especial. Mas eis aqui um favor especial, peculiar aos santos, misericórdia pura, a misericórdia que vem das entranhas da misericórdia, do coração da misericórdia. Esta é a misericórdia mais autêntica que todas as outras, o perdão do pecado. Não houve nada para obrigar Deus a fazer isso, nem houve nada que pudéssemos fazer para adquiri-la. Todas as nossas orações, nossas lágrimas, nossas obras, não poderiam comprar o perdão de um pecado sequer. Não poderíamos comprá-lo se dependesse do que fazemos e se dependesse do que sofremos, nem se pudéssemos sofrer tanto quanto todos os santos sofreram desde o começo do mundo até hoje. Se pudéssemos chorar tantas lágrimas quanto o mar possa conter, se pudéssemos nos humilhar tantos dias quantos o mundo já passou desde o momento da criação, tudo isso seria muito pouco para comprar o perdão de um único pecado, ainda que fizéssemos tudo isso sem pecado. No entanto, que lástima! Tudo o que podemos fazer está tão longe de cancelar qualquer dívida culposa do passado que, ao contrário, nos torna ainda mais endividados. Tão longe estamos de adquirir o perdão que o que fazemos será aumentar a insubordinação. Não precisamos trabalhar para sermos justificados, porém somos justificados para que possamos trabalhar. De modo que é a misericórdia mais gratuita. E por conseguinte, nas Escrituras lemos que isso tudo é atribuído à graça. "Para que, sendo justificados pela sua graça " (Tito 3:7); "Deus justifica o ímpio. " (Rom.3:24). Não há motivo em nós, tudo vem de Deus. E verão isso claramente em Is. 43:23-25: "... não me compraste por dinheiro, cana aromática, nem com a gordura dos teus sacrifícios me