Portugal enfrenta desafios financeiros e secas frequentes que devastam o país. A água é um recurso precioso e escasso, especialmente com o crescimento populacional e industrial. Tecnologias avançadas são necessárias para fornecer água potável às indústrias e residências, mas países pobres têm dificuldade em acessá-las.
1. P
ortugal atravessa um período difícil, devido à situação
delicada das suas finanças públicas. Esperemos, e eu
acreditonisso,queoGovernoconsigaaplicarumapo-
lítica fiscal harmoniosa, e não opressiva, para que o País volte
aotrilhodocrescimento.MasPortugaltemde
enfrentaroutroproblema:aseca,queanoapós
ano, devasta este magnífico território. Tive o
prazerrecentedepassarfériasemMonchique,
na Costa Vicentina e no Alentejo. Que regiões
magníficas, mas também que desespero!
Meiosreduzidosporcortesorçamentais,re-
giões despovoadas (porque os habitantes vão
à procura da fortuna para horizontes longín-
quos), pessoas mal intencionadas (que trans-
formam a paisagem em chamas e fumo), des-
campados com chagas recentes e tanta gente
dependente da indústria da madeira a perder
o emprego... também isto tem seguramente
incidência na economia nacional.
Todos conhecemos a importância da água,
fontedevida.Asuafaltaéumaverdadeirairo-
nianumpaíscomoPortugal,ondemetadeda
fronteira é o mar. Mas a verdade é que os re-
cursos hídricos mundiais são constituídos por
97% de água do mar e só 3% da água é potá-
vel. Esta tornou-se um bem precioso, a que
apenas alguns «privilegiados» têm acesso – e
que, frequentemente, usam e abusam desse
privilégio.Porexemplo,acidadedeLasVegas,
emplenodeserto,temumconsumoporhabi-
tantesuperiora1.200litrospordia,enquanto
seconsideraqueomínimovitalsesituaemcer-
ca de 77 litros. Este facto não passou despercebido à indús-
tria, que vê no sector da água um potencial importante e ne-
leestácadavezmaisactivo.BastapensarqueoBancoMundial
considera que seria necessário investir de 60 a 80 mil mi-
lhões de dólares por ano para responder às necessidades bá-
sicas (na realidade só 40% desse valor é investido).
Existem vários actores neste sector, entre os quais os muni-
cípioseassociedadesespecializadas.Osprimeirossãoosacto-
resmaisimportantes,pormotivoshistóricos,masossegundos
estãoasubstituí-losprogressivamente.Essasubstituiçãonãose
deve só ao aumento dos custos de tratamento e distribuição
deáguapotávelpelosmunicípios,mastambémàprocuracres-
cente das indústrias, que exigem água de grande qualidade.
Senão vejamos: uma fábrica de aço necessita de 235 mil li-
tros de água para produzir uma tonelada de metal, enquanto
são precisos 5.100 litros para obter a mesma quantidade de ci-
mento. Outros sectores industriais ditos mais «nobres», como
uma fábrica de micro chips para os nossos queridos computa-
dores exige 400 mil litros de água por hora! Estes valores im-
pressionantesnãodiminuirãoacurtoprazo,seconsiderarmos
um crescimento demográfico e económico constante.
Paraobteressasquantidadesdeáguadeboaqualidade,tan-
to para a indústria como para o consumo doméstico, é neces-
sário recorrer à tecnologia. Por exemplo, o processo comple-
xodedessalinizaçãodaáguadomartornaváriospaísescostei-
rostotalmentedependentesdetécnicasavançadasque,porve-
zes, são inacessíveis a países mais pobres.
Emgeral,paranós,simplesconsumidores,osectordaágua
resume-se à imagem de um cano que chega até nossas casas.
Sem imaginarmos que, por trás, está em causa uma avança-
da tecnologia.
Masasofisticaçãonãoacabaaqui.Em2000,
aPictetFundslançouumfundodenominado
PF-Water,queéúnicodoseugéneroemtodo
o mundo, com um património de 550 milhõ-
es de euros, e que é hoje considerado um
«fundo verde», ainda que tal não seja a sua fi-
losofia. Este fundo investe em sociedades que
têm, pelo menos, 20% da sua actividade no
sectordaágua,ouseja,nadistribuição,notra-
tamento e na tecnologia da água, bem como
nas águas minerais engarrafadas. Tomemos
o exemplo da sociedade Veolia Environne-
ment, uma das principais na composição da
carteira do fundo, que investe a longo prazo
nas infra-estruturas de tratamento e distribui-
çãodeáguaemváriascidades.AVeoliaassina
acordosa25ou30anoscomosmunicípios,o
quepermitequeestesseconcentremnoutras
prioridades, enquanto a companhia assegura
umrendimentoalongoprazo,graçasàfactu-
ração do serviço aos consumidores.
O objectivo destas linhas era o de realçar a
importância da água nas nossas sociedades,
nosmomentosdramáticosqueváriospaísesda
EuropadoSulenfrentam.Temosdenosmen-
talizar que o simples facto de abrir ou fechar
uma torneira é um acto de responsabilidade.
Bastarafastar-nosdacidadeemquevivemosparaverificarque
os campos estão cada vez mais negros e despovoados por cau-
sa dos incêndios. Protejamos, pois, este bem essencial: a natu-
reza vai agradecer-nos e todos ganhamos com isso. sP
A falta de
água é uma
verdadeira
ironia num País
como Portugal,
onde metade da
fronteira é o mar.
Mas essa falta
só nos deve
alertar para a
necessidade
crescente de
proteger este
bem essencial
»OPINIÃO
Por Amancio Perez
Director de vendas para Espanha e Portugal
da Pictet Funds
E se lhe cortassem
a água uns dias?
64»16 de Setembro 2005 »PRÉMIO
OPINIÃO última 13/09/05 18:38 Page 64