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Aula 16 - Custeio baseado em Atividades (ABC)
Objetivos
• Compreender o Custeio Baseado em Atividades.
• Entender a metodologia de aplicação do ABC.
• Estudar um exemplo de aplicação do Custeio ABC.
Introdução
Na última aula, aprendemos conceitos relacionados ao Custeio Baseado em Atividades -
ABC.
Vimos as razões para sua aplicação, vantagens e desvantagens e também um esquema
básico de utilização, incluindo as etapas que devem compor o cálculo. Essas etapas são:
1. identificação das atividades e seus respectivos custos;
2. alocação do custo departamental ao custo da atividade;
3. identificação dos direcionadores de custo;
4. divisão do custo da atividade pelo direcionador.
Na aula de hoje, usaremos um exemplo para ilustrar a aplicação do ABC.
Aplicação do Custeio ABC
Vamos inicialmente caracterizar a nossa empresa. É uma indústria de confecção, que
produz camisas e calças para ambos os sexos. Utiliza, como insumos diretos, apenas
matéria-prima e mão-de-obra, que são consumidos em 2 departamentos produtivos,
denominados Departamento de Corte e Departamento de Costura, para a fabricação dos
produtos mencionados.
Os gastos indiretos são relativos a salários indiretos, nos quais já estão incluídos os
encargos sociais e trabalhistas, materiais indiretos como materiais de escritório,
materiais de higiene e limpeza, e ainda materiais diretos como aviamentos, mas
classificados como indiretos pela dificuldade de alocação direta. Além desses, possui
gastos indiretos relativos à depreciação dos equipamentos e das instalações.
A empresa já está estruturada em 5 departamentos. Além dos 2 departamentos
produtivos, o de Corte e o de Costura, conta também com um Departamento de
Compras, um Departamento de Almoxarifado e um Departamento de Planejamento e
Controle da Produção - PCP.
Os custos diretos de produção, separados por produtos, estão apresentados na TAB. 1.
TABELA 1
Custos diretos de produção
Tipo de gasto Compras Almoxarifado PCP % camisa % calça
Materiais diretos 80.000 120.000 200.000 0,4 0,6
Mão de obra direta 60.000 100.000 160.000 0,375 0,625
Total 140.000 220.000 360.000
Observamos que os custos diretos são divididos entre materiais diretos e mão-de obra-
direta. Para a fabricação de camisas, são consumidos $80.000 de materiais diretos, o que
equivale a 40%, e os restantes 60%, ou $120.000, são direcionados à produção de
calças.
Com relação à mão-de-obra direta, a produção de camisas consome $60.000 e a de
calças, $100.000, com proporções de 37,5% e 62,5%, respectivamente.
Os custos indiretos de fabricação estão apresentados na TAB. 2.
TABELA 2
Custos indiretos de fabricação
Tipo de gasto Compras Almoxarifado PCP Corte Costura Total
Salários indiretos 30000 20000 20000 80000 100000 250000
Materiais
indiretos
30000 20000 30000 50000 70000 200000
Depreciação 10000 25000 15000 40000 60000 150000
Total 70000 65000 65000 170000 230000 600000
Observamos que são 3 custos indiretos, que já foram separados por departamentos,
conforme registros da empresa.
Os custos dos departamentos produtivos, Corte e Costura, são responsáveis por
aproximadamente 67% dos custos indiretos totais ($400.000/$600.000), restando os
outros 33% para os departamentos auxiliares.
O total de custos indiretos supera o total de custos diretos – $600.000 contra $360.000,
evidenciando a propriedade do Custeio Baseado em Atividades.
No entanto, a título de ilustração e para posterior comparação, realizaremos primeiro a
apropriação de custos indiretos por meio de rateio.
Podemos nos basear em 3 critérios, a princípio: total de custos diretos, total de materiais
diretos e total de mão-de-obra direta. Iremos proceder a 2 rateios, com base em
materiais diretos e mão-de-obra direta, os quais estão apresentados nas TAB. 3 e 4.
TABELA 3
CIF- materiais diretos
CIF/MD Camisa Calça
Salários indiretos 100.000,00 150.000,00
Materiais indiretos 80.000,00 120.000,00
Depreciação 60.000,00 90.000,00
Total 240.000,00 360.000,00
O cálculo foi feito da seguinte maneira: A proporção de salários indiretos direcionada à
produção de camisas resultou da multiplicação da participação das camisas no consumo
de materiais diretos igual a 40%; pelo total dos salários indiretos igual a $250.000,
resultando em $100.000. Repetindo os passos para os outros itens, encontramos os
valores de $80.000 e $60.000, totalizando $240.000 de custos indiretos aplicados à
produção de camisas.
Para as calças, basta multiplicar a participação relativa de 60% pelos mesmos valores,
para encontrarmos $150.000, $120.000 e $90.000, somando $360.000. A soma das duas
alcança $600.000, valor dos custos indiretos de fabricação.
Quando utilizamos a participação da mão-de-obra direta para ratear custos indiretos,
encontramos os valores mostrados na TAB. 4.
TABELA 4
CIF, mão de obra direta
CIF/MD Camisa Calça
Salários indiretos 93.750,00 156.250,00
Materiais indiretos 75.000,00 125.000,00
Depreciação 56.250,00 93.750,00
Total 225.000,00 375.000,00
Nesse caso, as participações relativas são diferentes, de 37,5% para camisas e 62,5%
para calças.
Repetindo o raciocínio anterior, encontramos valores de $93.750, $75.000 e $56.250
para serem aplicados na fabricação de camisas, totalizando $225.000. Para a produção
de calças, encontramos $156.250, $125.000 e $93.750, alcançando a soma de $375.000.
Por esses dois critérios, já são significativas as diferenças, variando entre $225.000 e
$240.000 para camisas e entre $360.000 e $375.000 para calças. Qual deles seria mais
realista e mais adequado?
Vamos agora iniciar a aplicação do Custeio ABC ao nosso exemplo. O primeiro passo
deve ser identificar as atividades de cada departamento e de seus respectivos
direcionadores. O QUADRO 1 ilustra essas informações.
QUADRO 1
Departamentos, atividades e direcionadores de custo
Departamento Atividade Direcionador
Compras Comprar materiais Nº pedidos
Almoxarifado Entregar materiais Nº requisições
PCP Controle da produção Horas PCP
Corte Corte Horas corte
Costura Costura Horas costura
O Departamento de Compras executa a atividade de comprar materiais, e o seu
direcionador de custos é o número de pedidos atendidos. O departamento de
almoxarifado tem a entrega de materiais como atividade, e o número de requisições
atendidas como direcionador.
O Planejamento e Controle da Produção detém a atividade de controlar a produção e as
horas de PCP como direcionadores de custos. O Departamento de Corte executa a
atividade de cortar tecidos, e o Departamento de Costura executa a costura como
atividade, sendo horas de corte e horas de costura seus direcionadores, respectivamente.
Iremos agora alocar às atividades os custos dos departamentos, o que pode ser feito
mediante análise dos apontamentos da empresa (essa etapa já foi realizada). Com base
nesses apontamentos, encontramos os resultados mostrados na TAB. 2.
O próximo passo é definir os direcionadores de custos e seus valores. Os direcionadores
apresentados e os seus valores, retirados também dos registros da empresa, são
apresentados na TAB. 5.
TABELA 5
Direcionadores de custos
Direcionadores Camisa Calça Total % camisa % calça
Nº pedidos 60 90 150 0,40 0,60
Nº requisições 10 40 50 0,20 0,80
Horas PCP 40 60 100 0,40 0,60
Horas corte 150 50 200 0,75 0,25
Horas costura 70 30 100 0,70 0,30
Podemos finalmente aplicar os custos das atividades aos produtos, resultados
apresentados na TAB. 6.
TABELA 6
Direcionadores de custos
Custos por produto Camisa Calça
Comprar materiais 28.000,00 42.000,00
Entregar materiais 13.000,00 52.000,00
Controle produção 26.000,00 39.000,00
Corte 127.500,00 42.500,00
Costura 161.000,00 69.000,00
Total 355.500,00 244.500,00
Observamos que, de um total de 150 pedidos feitos pelo Departamento de Compras, 60
foram para a confecção de camisas e 90 para a de calças, 40% e 60% respectivamente.
Aplicando esses percentuais ao custo da atividade (0,4X$70.000 e 0,6X$70.000),
encontramos $28.000 para camisas e $42.000 para calças.
Quanto ao número de requisições, 10 foram para a produção de camisas e 40 para a de
calças, respectivamente 20% e 80%.
Fazendo os cálculos, teremos 0,2X$65.000 e 0,8X$65.000, alcançando $13.000 e
$52.000, para camisas e calças, respectivamente.
Das horas de PCP, 40 foram distribuídas para a fabricação de camisas e 60 para a de
calças, o que corresponde a proporções respectivas de 40% e 60%.
Aplicando os percentuais, encontramos $26.000 (0,4X$65.000) para camisas e $39.000
(0,6X$65.000) para calças.
A confecção de camisas consumiu 75% das horas de corte ou 150 horas, restando 25%
para calças, ou 50 horas.
Os cálculos indicam custos de $127.500 para camisas (0,75X$170.000) e $42.500 para
calças (0,25X$170.000)
A atividade costura foi dividida entre 70 horas para a produção de camisa e 30 para a de
calças, 70% e 30% respectivamente.
Pelos cálculos encontramos $161.000 para camisas (0,7X$230.000) e $69.000 para
calças (0,3X$230.000).
Os valores totais indicam que os custos indiretos aplicados à produção de camisas
alcançam $355.500 e $244.500 para calças.
Fazendo um quadro comparativo com os outros dois critérios de rateio elaborados,
encontramos os dados da TAB. 7.
TABELA 7
Custo total - ABC, rateio por materiais diretos e por mão-de-obra direta
Item
ABC Material direto Mão-de-obra direta
Camisa Calça Camisa Calça Camisa Calça
Custo direto 140.000,00 220.000,00 140.000 220.000 140.000,00 220.000,00
Custo indireto 355.500,00 244.500,00 240.000,00 360.000,00 225.000,00 375.000,00
Custo total 495.500,00 464.500,00 380.000,00 580.000,00 365.000,00 595.000,00
Produção 100.000,00 200.000,00 100.000,00 200.000,00 100.000,00 200.000,00
Custo unitário 4,96 2,32 3,80 2,90 3,65 2,98
Os resultados são bastante divergentes. Nos dois critérios de rateio, os custos indiretos
tiveram maior peso na produção de calça, ao passo que no ABC a fabricação de camisas
recebeu maior volume de recursos.
Dividindo o custo total pelo número de unidades produzidas (linha de produção),
encontramos o custo unitário. Observamos então que o custo de fabricação de uma
camisa é mais que o dobro do que o de uma calça, isso pelo método ABC.
Considerando os outros métodos, a produção de camisas é sempre mais dispendiosa,
porém a diferença é significativamente reduzida.
Considerando que o Custeio Baseado em Atividades utiliza critérios mais racionais, na
medida em que emprega direcionadores relacionados ás atividades desempenhadas,
podemos imaginar que os dados deste são bem mais confiáveis que os demais.
Depois de vermos a aplicação do Custeio ABC, podemos encerrar a aula de hoje. No
próximo encontro, teremos uma atividade prática de Custeio ABC.
Resumo
Vimos como se aplica o ABC. Primeiramente, identificamos as atividades e seus
respectivos custos. Depois identificamos os direcionadores de custos e por fim
aplicamos os custos indiretos aos produtos.
Atividade
Como eu já lhe disse, caro aluno, na próxima aula, desenvolveremos um exemplo da
aplicação de Custeio ABC. Assim, hoje você está livre de trabalho. Pode descansar um
pouco mais para enfrentar bem o desafio da aula que vem.
Também não temos referências, já que trabalhamos com um exemplo prático.
Até breve!
Aula 17 - Custeio Baseado em
Atividades (ABC)
Objetivos
• Rever os conceitos de Custeio Baseado em Atividades
• Rever a metodologia de aplicação do ABC
• Aplicar o Custeio ABC
Introdução
Hoje iremos desenvolver uma atividade voltada para a aplicação do Custeio ABC.
Vamos inicialmente caracterizar a nossa empresa. É uma indústria que fabrica pré-
moldados em concreto, especificamente mourões e postes, o primeiro de formato
retangular e o segundo em formato tipo T. Utiliza como insumos diretos areia, brita,
cimento, ferragem e mão-de-obra, os quais são consumidos em 2 departamentos
produtivos, denominados Departamento de Mistura e Departamento de Prensagem.
Os gastos indiretos são relativos a salários indiretos, nos quais já estão incluídos os
encargos sociais e trabalhistas, materiais indiretos, como materiais de escritório,
materiais de higiene e limpeza, e ainda materiais diretos, como graxas e lubrificantes,
energia elétrica, arame para armação, mas classificados como indiretos pela dificuldade
de alocação direta. Além desses, há gastos indiretos relativos à depreciação dos
equipamentos e das instalações.
A empresa já está estruturada em 5 departamentos. Além dos 2 departamentos
produtivos, Mistura e Prensagem, conta também com um Departamento de Compras,
um Departamento de Almoxarifado e um Departamento de Planejamento e Controle da
Produção - PCP.
Os custos diretos de produção, separados por produtos, estão apresentados na TAB. 1.
TABELA 1
Custos Diretos de Produção
Tipo de gasto Mourão Poste
Materiais diretos 6.000 4.000
Mão de obra direta 5.000 3.000
Total 11.000 7.000
Os custos indiretos de fabricação estão apresentados na TAB. 2.
TABELA 2
Custos indiretos de fabricação
Tipo de gasto Compras Almoxarifado PCP Mistura Prensagem
Salários indiretos 800 1.400 1.400 1.200 1.200
Materiais indiretos 400 600 1.000 3.000 5.000
Depreciação 200 400 1.000 3.000 4.000
Total 1.400 2.400 3.400 7.200 10.200
Sabendo que a empresa fabrica mensalmente 2.000 mourões e 1.000 postes, calcule o
custo unitário por produto, segundo o Custeio ABC e os métodos de rateio baseados na
mão-de-obra direta e materiais diretos.
Vou lhe fornecer a resposta, mas você deve fazer todos os cálculos para se certificar de
que aprendeu realmente a fazer as projeções de custos. Isso é fundamental para você
como futuro profissional competente.
Resposta
Item ABC Material direto Mão-de-obra direta
Mourão Poste Mourão Poste Mourão Poste
Custo direto 11.000,00 7.000,00 11.000,00 7.000,00 11.000,00 7.000,00
Custo indireto 13.430,00 11.170,00 14.760,00 9.840,00 15.375,00 9.225,00
Custo total 24.430,00 18.170,00 25.760,00 16.840,00 26.375,00 16.225,00
Produção 2.000,00 1.000,00 2.000,00 1.000,00 2.000,00 1.000,00
Custo unitário 12,22 18,17 12,88 16,84 13,19 16,23
Aula 18 - Custeio por ordem de produção
Objetivos
• Conhecer o Custeio por Ordem de Produção.
• Discutir a razões que justificam a sua implantação.
• Entender a metodologia de aplicação do Custeio por Ordens de Produção
Introdução
Até o momento não fizemos nenhuma consideração específica sobre o sistema de
produção. Implicitamente, estávamos considerando que a produção seria contínua e os
produtos homogêneos.
Quando falamos de produção contínua, estamos nos referindo a produtos prontos para o
consumo, tais como: automóveis, eletro-eletrônicos, alimentos industrializados, entre
outros. Em todos eles, há uma linha de produção contínua, cada produto é fabricado
com o mesmo número de componentes, respeitando-se as diferenças entre classes de
produtos.
Porém, em muitos casos, cada produto tem uma configuração própria, de acordo com
um pedido específico do cliente.
Caso o produto seja comercializado antes da sua elaboração, encontraremos uma
situação de produção sob encomenda. É muito comum em algumas indústrias, tais
como: siderúrgica, petroquímica e moveleira. Então precisamos aprender outras formas
de calcular custos.
Custeio por Ordem de Produção
Para ilustrar nosso estudo, imagine a fabricação de uma mesa de jantar. O comprador,
que pode ser o futuro proprietário do móvel ou um decorador, apresenta a configuração
do produto que deseja, por exemplo, fornecendo um desenho, e especifica algumas
características como o tipo de madeira, o design, o acabamento, entre outros.
O fabricante irá orçar o produto e, caso a negociação se concretize, a produção por
encomenda terá início.
Na prestação de serviços, podemos encontrar mais exemplos ainda, aliás, a maioria dos
serviços tem uma característica peculiar. Uma intervenção cirúrgica, um tratamento
ortodôntico, uma consultoria tributária ou gerencial, todas elas têm características
próprias, que diferenciam uma prestação de serviço de outra.
Para esses casos, a apuração do custo de produção se dará de forma individualizada, por
meio de ordem de produção (OP), ou ordem de serviço (OS).
Pense na ocasião em que você leva um carro a uma oficina mecânica. Você relata o
problema ao consultor; este encaminha o veículo ao mecânico, que realiza o
diagnóstico.
Assim que o diagnóstico se encerra, um orçamento é preparado e, caso você o aceite, a
oficina abrirá uma ordem de serviço, na qual serão anotados todos os itens substituídos,
além do tempo em que os mecânicos estiverem ocupados com a reparação do seu carro.
Como a negociação ocorre antes da produção, devemos nos preocupar inicialmente em
preparar o orçamento do produto a ser comercializado.
Etapas da Produção por Ordem
Conforme sugerido por Megliorini (2002), algumas etapas devem ser cumpridas para
essa finalidade:
• 1ª etapa - refere-se ao desenho ou projeto. Se o cliente não o fornecer, o próprio
fabricante providenciará um.
• 2ª etapa - lista de materiais - baseado no projeto e especificações indicadas pelo
cliente, devemos fazer um levantamento dos materiais necessários, bem como de seus
custos. (observar a necessidade de compra ou de produção dos materiais).
• 3ª etapa - a partir do projeto, das especificações e dos materiais necessários, devemos
estimar as horas de fabricação em cada departamento.
• 4ª etapa - devemos adicionar aos custos gastos relativos a embalagem, frete, seguro e
outros itens pós-fabricação.
A FIG. 1 ilustra um orçamento de custos.
Orçamento de custos Número
Cliente Código
Produto Desenho
Materiais
Código Descrição Quantidade P. liquido P. bruto Custo unit. Custo mat.
Custo total dos materiais
Serviços executados externamente
Descrição do serviço Fornecedor Custo
Custo total dos serviços externos
Fabricação (mão-de-obra direta e CIF)
Departamento Horas orçadas Custo/hora Custo
Custo total fabricação
Engenharia
Atividades Horas orçadas Custo/hora Custo
Custo total engenharia
Demais custos
Descrição Custo
Custo total orçado
Despesas de vendas
Preço de venda
ICMS Alíquota
IPI Alíquota
FIGURA 1 - Orçamento de custos
Fonte: MEGLIORINI, 2002, p. 100.
Firmado o contrato, para cada produto a ser elaborado devemos abrir uma OP ou OS.
Trata-se de um documento que autoriza a fabricação, e nele devem ser registrados
mensalmente todos os gastos realizados para a fabricação do produto ou prestação do
serviço.
A FIG. 2 representa uma ordem de produção.
Usina Siderúrgica ABC
Ordem de produção Nº
Data de abertura
Data de entrega
Descrição
Cliente
Material direto consumido
Data Descrição Referência Quantidade Valor
Mão de obra direta
Data Descrição Referência Quantidade Valor
Custos indiretos aplicados
Data Descrição Referência Quantidade Valor
Custo total da ordem
FIGURA 2 - Ordem de produção
Fonte: BRUNI e FAMÁ, 2002, p. 148.
Com o recurso de uma ordem de produção, devemos anotar os gastos referentes a cada
item consumido na produção.
Para os materiais diretos, a aplicação é razoavelmente simples, pois basta levantar os
valores constantes das requisições emitidas pela Produção. Nessas requisições devem
constar os dados necessários ao preenchimento da OP, como número, cliente e materiais
requisitados.
Para a aplicação da mão-de-obra, devemos recorrer à folha de apontamentos. Com base
nesses registros, podemos identificar o tempo despendido naquela OP e assim calcular
quanto da mão–de-obra deve ser aplicado ao produto. Para tanto, basta multiplicar o
número de horas pela taxa horária do custo de mão–de-obra.
Com relação aos custos indiretos de fabricação, a apropriação não é tão simples como
nos 2 itens anteriores. Por se tratar de materiais indiretos, mão-de-obra indireta e demais
gastos, algum critério de rateio deverá ser utilizado.
Pode ser usado o rateio com base nos custos diretos, mas, nesse caso, é bastante comum
levantar os custos por departamentos, separando os produtivos dos auxiliares. Depois os
custos serão apropriados aos departamentos produtivos para depois serem aplicados aos
produtos, conforme metodologia já apresentada.
Para ilustrar, consideremos a fabricação de um Buffet em mogno, conforme pedido feito
pelo cliente Fulano de Tal e sua digníssima esposa, Cicrana de Tal.
O proprietário da indústria Móveis Conforto Total levantou os preços dos materiais
diretos, conforme descrito abaixo:
Tábua de mogno (5mX0,4): $60/ml;
Puxadores Veneza: $20 un.
O salário do marceneiro, incluindo encargos sociais e trabalhista é de $1.600,00
mensais. Como ele trabalha 160 hora /mês, o custo da hora de mão–de-obra direta é de
$10,00.
Os custos indiretos são listados abaixo:
Materiais indiretos (lixa, verniz, cola): $1.500
Mão-de-obra indireta: $1.500
Depreciação: $1.000
Total $4.000
De posse desses valores, pode-se abrir a OP, conforme ilustrado abaixo, na FIG. 3.
Móveis Conforto Total
Ordem de produção Nº 3.167
Data de abertura 05/01/2009
Data de entrega 23/01/2009
Descrição Buffet em mogno maciço, 2X0,9X0,6, com 3 portas, duas
com uma prateleira e uma com 3 gavetas, puxadores
Veneza.
Cliente Fulano de Tal
Material direto consumido
Data Descrição Referência Quantidade Valor
23/01 Tábua mogno NF 136.235 06 360
23/01 Puxador NF 25.632 03 60
Mão de obra direta
Data Descrição Referência Quantidade Valor
23/01 Mão de obra Apt. 228 120 1.200
Custos indiretos aplicados
Data Descrição Referência Quantidade Valor
23/01 CIF Doc. 52.341 120h 600
Custo total da ordem 2.220
FIGURA 3 – Orçamento de fabricação.
Fonte: elaborada pelo autor.
Calcular os materiais diretos é bem simples. Basta multiplicar quantidade necessária
pelo custo de aquisição: para a madeira, seriam 6 tábuas vezes $60, igual a $360; para
os puxadores, 3 vezes $20, resultando em $60.
O cálculo da mão-de-obra direta também não é complexo. A hora trabalhada do
marceneiro custa $10. Como ele vai dedicar 120 horas à fabricação do móvel, resulta
em $1.200.
O rateio dos custos indiretos de fabricação pode ser feito com base em diversos
critérios. Já que a empresa não possui departamentalização, devemos ratear com base
em custos diretos.
Escolhemos o rateio baseado na mão-de-obra direta, porque esta representa o maior
peso nos custos diretos.
Os valores para rateio são assim encontrados: como a empresa possui 5 marceneiros,
estima-se um total de horas trabalhadas mensais de 800. Os custos indiretos devem ser
então divididos por esse total, ou seja, $4.000/800, o que resulta em $5.
Portanto, a cada hora trabalhada por um marceneiro, devemos acrescentar $5 de CIF.
No exemplo, os custos indiretos de fabricação serão de 5X120, o que resulta em $600.
O custo total de fabricação do móvel será de $2.220 ($420 + $1.200 + $600). Esse valor
deverá ser levado aos registros contábeis da empresa.
Por hoje é só, vamos ficando por aqui. No próximo encontro, vamos falar do Custo-
Padrão. Aguardo você, com muita disposição!
Resumo
Como algumas vezes as empresas realizam as vendas para depois fabricarem os
produtos, é necessária outra metodologia para apropriação de custos. Essa necessidade
deriva-se da especificidade de cada item fabricado sob encomenda.
Por atender a um pedido único, a apropriação dos custos diretos, especificamente
aqueles relativos a materiais diretos e mão-de-obra direta, deve ser feita levando-se em
consideração os itens efetivamente consumidos.
Essa apropriação é simples e direta, mas, para os custos indiretos de fabricação, algum
critério de rateio será necessário. Os métodos tradicionais, como rateio baseado em
custos diretos ou departamentalização, atendem bem a esse propósito.
Atividades
Imagine a fabricação de um móvel sob encomenda e monte a ordem de produção.
Repita o passo anterior, agora para a prestação de um serviço, como a pintura de uma
residência ou restauração de um objeto de decoração antigo.
Aula 19 - Custo-Padrão
Objetivos
• Conhecer o Custeio Padrão.
• Discutir a razões que justificam a sua implantação.
• Compreender os critérios para definição dos padrões.
• Conhecer a metodologia de aplicação do custo-padrão.
Introdução
Com a presente aula, daremos início à terceira parte do programa de nossa disciplina,
relacionada ao gerenciamento baseado em análise de custos.
A apuração de custos, além de atender a exigências legais, também é muito utilizada
para fins decisoriais, servindo a diversos objetivos das empresas.
Pode ser usada para se estabelecerem as políticas de preço, para a tomada de decisão
sobre linhas de produtos, para a avaliação dos processos de produção, identificação de
atividades relevantes, ou até mesmo para definição de padrões de custo ou desempenho
a serem alcançados.
O Custo-Padrão
Neste último insere-se a apuração de custo padrão. De acordo com Dubois, Kulpa e
Souza (2008, p. 143), “o custo-padrão tem como propósito prefixar um custo ‘meta’ e
controlar os custos a priori, isto é, antes que sejam incorridos em produção”.
Nesse sentido, o custo-padrão não constitui uma nova metodologia para apuração de
custos, mas sim uma técnica que vem a completar os outros métodos já analisados.
Ele deve ser usado como meta a ser alcançada e, portanto, constitui na verdade um
poderoso subsídio à elaboração do orçamento. Depois de realizada a produção, o custo
efetivo será comparado ao custo-padrão, e os possíveis desvios passarão por análise,
para identificação de suas causas e consequências.
A definição de custo-padrão, entretanto, está sujeita, a princípio, a 2 tipos de
classificação: ideal e corrente.
Conforme Martins (1998), por custo-padrão ideal devemos entender aquele estabelecido
com base em padrões ótimos de utilização de fatores de produção. Portanto o custo-
padrão ideal é firmado com base em uma estimativa de utilização dos melhores
equipamentos possíveis, mão-de-obra e matéria-prima de primeira qualidade, sem
qualquer tipo de ocorrência estranha que venha a paralisar ou interromper o processo
produtivo.
Trata-se de um custo estabelecido em condições de laboratório, que na verdade
distancia-se muito da realidade das linhas de produção.
Por outro lado, temos também o custo-padrão corrente, que se refere ao custo
estabelecido com base nas reais condições de produção encontradas pela empresa, isto
é, leva em consideração todas as possíveis falhas humanas, paralisações de maquinário e
perdas de materiais comuns em qualquer linha de produção.
Em termos comparativos, enquanto o primeiro seria o custo estabelecido sem nenhuma
ocorrência desfavorável, como um experimento de laboratório, o segundo leva em
consideração todas as ineficiências passíveis de verificação pela empresa, exceto
aquelas que podem ser facilmente eliminadas.
As situações nas quais se aplica o custo-padrão são aquelas em que há produção
contínua de lotes ou produtos iguais ou no mínimo semelhantes. Em se tratando de
produção por encomenda, ou por ordem, o custo-padrão obviamente não se aplica,
devido às especificidades de cada item produzido.
Objetivos do custo-padrão
A implantação do custo-padrão deve servir a algum propósito maior e não pode
simplesmente ter um fim em si mesmo. É necessário dotá-lo de algum sentido prático,
senão torna-se um investimento inútil.
Podemos destacar alguns objetivos para a implantação do custo-padrão:
1. fixar uma base de comparação entre o ocorrido e o que deveria ter ocorrido;
2. fornecer informações para negociação de preços, em casos de entrega futura,
especialmente;
3. fornecer bases para acompanhamento de níveis de estoques;
4. fornecer bases para monitorar operações, avaliar desempenho, identificar gargalos e
pontos de ineficiência;
5. difundir hábitos relacionados ao registro e controle de gastos de insumos, tanto em
termos físicos quanto em termos monetários;
6. criar instrumento de motivação para a equipe.
Com relação ao último objetivo, 2 pontos merecem especial atenção. Caso o padrão seja
estabelecido em níveis demasiadamente elevados, como o custo ideal, podemos
observar um efeito contrário, na medida em que metas praticamente impossíveis de
serem alcançadas levam à desmotivação e a um certo descaso, já que se sabe de
antemão que nunca serão alcançadas.
Por outro lado, caso as metas sejam estabelecidas em níveis razoáveis, baseadas no
custo-padrão corrente, acrescido de algumas melhorias, torna-se um desafio, um
componente motivacional que tende a potencializar o desempenho operacional.
Determinação dos padrões
A princípio, a determinação de padrões envolve 2 tipos de mensuração, uma de padrões
físicos e outra de padrões monetários.
Os padrões físicos serão relacionados ao consumo de materiais diretos e indiretos, mão-
de-obra direta, consumo de energia, consumo de água, entre outros. As unidades de
medida serão definidas de acordo com o item em questão, podendo ser: unidades de
materiais, quilogramas, litros, metros lineares, m2, m3, horas-homem, horas-máquina,
kW/h, número de movimentos, etc. Esses indicadores serão de responsabilidade dos
departamentos operacionais, como: produção, PCP, desenvolvimento de produtos, CQT,
etc.
Os padrões monetários correspondem aos custos monetários dos recursos necessários. A
responsabilidade de sua apuração recai sobre os departamentos administrativos, como:
controladoria, compras, pessoal, etc.
Sendo assim, no caso de materiais, devemos definir a quantidade de matéria-prima
necessária à fabricação de uma unidade do produto e avaliar o seu custo, ou seja, iremos
realizar a seguinte aferição, por exemplo: para a fabricação de uma unidade do produto
A são necessários 5 m da matéria-prima Y, com custo de $10/m, totalizando $50.
Para o caso de mão-de-obra, o mesmo raciocínio deve ser aplicado. Por exemplo, para a
fabricação de uma unidade do produto A são necessárias 2 horas do funcionário Y, com
custo de $6/m, totalizando $12.
A FIG.1 ilustra as responsabilidades funcionais para o cálculo do custo-padrão.
FIGURA 1 - Responsabilidade funcional pelo cálculo do custo-padrão
Fonte: BRUNI e FAMÁ, 2002, p. 164.
No caso dos custos indiretos de fabricação, devemos lembrar que eles são assumidos
para dotar a empresa de capacidade produtiva em sua maior parte, e somente uma
pequena parcela é aplicada aos produtos. Sendo assim, a parcela fixa, que é
preponderante na maioria dos casos, deve ser estabelecida com base em níveis usuais de
utilização da capacidade, por exemplo, horas-máquina.
Para a fixação de padrões, o esforço da área técnica deve ser conjugado com o esforço
da área administrativa no sentido de definir os valores iniciais, para o que um banco de
dados assume importância relevada.
Após a determinação dos valores iniciais, ajustes devem ser feitos até que se consigam
resultados satisfatórios, os quais precisam também ser revistos periodicamente, como
forma de adaptação às mudanças tecnológicas e à própria dinâmica operacional.
Análise das variações
Sendo o custo-padrão útil primordialmente para a realização de controle, devemos
sempre comparar o custo realizado com o custo estimado (custo-padrão).
Para tanto, devemos medir as possíveis variações, que podem ocorrer tanto em termos
de materiais e mão-de-obra quanto em termos monetários, sendo também comum a
conjugação de ambas.
Essas variações serão classificadas como favoráveis quando houver uma redução, ou
desfavoráveis quando ocorrer uma elevação.
Por exemplo, caso tenhamos estimado um gasto de 1.000 unidades de uma matéria-
prima, ao custo unitário de $5, prevíamos incorrer em custo total de $5.000. Caso
tenhamos efetivamente consumido 1.050 unidades da matéria-prima e o custo tenha
atingido $5,10, alcançaríamos um custo total de $5.355, com variação desfavorável de
$355.
A FIG. 2 ilustra o caso de variações desfavoráveis.
FIGURA 2 - Variações no custo-padrão
Fonte: BRUNI e FAMÁ, 2002, p. 165.
A variação na quantidade pode ser decorrência de diversos fatores, entre os quais pode-
se incluir a própria qualidade da matéria-prima, além de aspectos relacionados ao
processo de produção.
Esse tipo de variação deve ser tido como normal, pois sua ocorrência pode se repetir e o
mais importante é estabelecer limites de variação, dentro dos quais toda oscilação seria
aceitável.
Para o caso de variação monetária, o controle é ainda mais difícil, pois está sujeita a
condições externas à empresa, notadamente flutuações de mercado. Caso haja qualquer
problema de abastecimento, flutuações de preço deverão ocorrer.
Por outro lado, a aquisição de grandes lotes tende a reduzir o custo da matéria-prima e
também os custos de transporte, apesar de essa atitude poder também elevar os custos
financeiros devido ao investimento em capital de giro e aos custos de estocagem.
Portanto, uma análise criteriosa das variações deve ser feita. Não se pode simplesmente
culpar os responsáveis pelas respectivas áreas; mais importante é avaliar quais fatores
causaram as variações.
Esse é um dos propósitos do custo-padrão. Simplesmente estabelecer metas não acarreta
todos os benefícios possíveis. Muito mais do que isso, avaliar os desvios, analisar suas
causas e conseqüências e identificar as medidas corretivas é que representam os reais
benefícios do custo-padrão.
Vamos ficando por aqui. Vamos aprender a partir da próxima aula o Custeio Variável.
Aguardo você.
Resumo
Em termos gerenciais, é muito importante comparar os custos com alguns padrões que
seriam razoáveis para cada atividade.
Na aula de hoje estudamos o custo-padrão. Vimos que não se trata de uma nova
metodologia para apuração de custos, mas sim, de uma técnica auxiliar, que estabelece
uma meta a ser perseguida.
A definição dos padrões deve seguir critérios racionais, porque de nada adianta
estabelecer metas impossíveis de se alcançar. As áreas técnicas ficam responsáveis pela
determinação dos padrões em unidades físicas, e as áreas administrativas se
responsabilizam pelos padrões monetários.
Vimos ainda que os padrões nem sempre são alcançados e é muito importante analisar
os desvios, suas causas e consequências, como forma de implementar melhorias e
corrigir distorções.
Atividades
1. Explique a diferença entre custo-padrão ideal e custo-padrão corrente.
2. Dê exemplos de aplicações do custo-padrão.
3. Como devem ser definidos os padrões e a quem cabe essa atividade?
4. Explique a importância da análise das variações.
Aula 20 - Custeio Variável
Objetivos
• Conhecer o Custeio Variável.
• Discutir a razões que justificam a sua implantação.
• Compreender a metodologia de aplicação do custeio variável.
Introdução
Até agora, aprendemos alguns métodos de custeio, os quais constituem uma categoria
mais ampla denominada custeio por absorção. Em todos eles, os custos indiretos de
fabricação eram apropriados aos produtos por meio de um critério de rateio previamente
definido. Ou seja, quando se fala em custeio por absorção, está se falando na atribuição
de todos os custos, diretos e indiretos, fixos e variáveis, aos produtos elaborados.
Custeio por absorção
Este sistema apresenta três problemas principais, conforme Martins (1998):
• Os custos fixos existem independentemente da fabricação ou não de algum produto.
Portanto podem ser considerados como encargos para que a empresa tenha condições de
produzir, ao invés de sacrifício para a fabricação de um item específico.
• Como não estão relacionados a um produto ou unidade especificamente, são
distribuídos com base em algum tipo de rateio, que contém um grau maior ou menor de
arbitrariedade. A apropriação é feita com base em algum fator, que na verdade não
vincula o custo ao produto. Ao mudarmos o critério de rateio, podemos fazer um
produto rentável tornar-se deficitário, ou vice-versa, o que nos leva a concluir que há
uma debilidade no método, em termos gerenciais.
• O custo fixo unitário depende do volume de produção. Caso as decisões sejam
tomadas com base no custo, o volume atual de produção deve ser considerado, tendo em
vista que pode diferir do volume tomado como base. Ademais, ao se alterar o volume de
fabricação de um produto, os outros terão seus custos alterados, ainda que não tenham
sofrido nenhuma modificação.
Diante dessas considerações, temos que avaliar a problemática que os métodos de
custeio por absorção podem acarretar em relação à apropriação de custos fixos.
O exemplo apresentado na TAB. 1 ilustra a situação.
Tabela 1
Custo total e custo unitário
Níveis de produção
Custo total Custo unitário
Fixo Variável Total Fixo Variável Total
500 un 30.000 5.000 35.000 60 10 70
1.000 un 30.000 10.000 40.000 30 10 40
1.500 un 30.000 15.000 45.000 20 10 30
Fonte: adaptado de MEGLIORINI, 2002, p. 133.
Supondo um custo fixo total de $30.000 e um custo unitário variável de $10, teríamos 3
custos totais unitários: $70, $40 e $30, de acordo com a quantidade produzida. Portanto
a existência do custo fixo requer que seja definido a priori o volume de produção, para
que as decisões gerenciais possam ser tomadas.
Caso o volume de produção efetivo seja diferente do volume previsto, equívocos podem
ser cometidos. Por exemplo, ao prever vendas de 1.000 unidades, o preço pode ser
fixado com base num custo unitário total de $40; porém, se a vendas não alcançarem o
volume previsto, situando-se em 500 unidades, o custo unitário se elevaria para $70, o
que pode induzir a empresa a operar deficitariamente.
Esse é apenas um dos problemas. Já vimos anteriormente que o critério de rateio induz a
um problema semelhante.
Tendo-se em vista as considerações anteriores, justifica-se a forma de apropriação
conhecida como Custeio Variável, que somente atribui aos produtos os custos
variáveis, diretos e indiretos. Os custos fixos serão lançados diretamente nos resultados.
Muito embora seja de grande utilidade para fins decisoriais e gerenciais, os Princípios
Contábeis (competência e confrontação) não aceitam a elaboração de Demonstração de
Resultados do Exercício e Balanço Patrimonial com base no custeio variável. Isto se
explica porque as receitas devem ser apropriadas e devem-se deduzir todos os
sacrifícios envolvidos para sua obtenção. Portanto, os custos do período devem ser
apropriados no próprio período. Como os custos fixos serão responsáveis pela produção
futura, não é razoável lançá-los todos em um só momento.
Já dissemos anteriormente que a separação entre custos fixos e variáveis constitui uma
tarefa muito simples em termos teóricos, mas a realidade apresenta situações um tanto
quanto ambíguas.
Não é incomum encontrarmos contas que possuem uma parcela fixa e outra variável,
que denominamos custos semivariáveis (reveja a aula 2 para se lembrar disso). Podem
servir de exemplo as contas de água e energia elétrica, que possuem um custo mínimo,
parcela fixa, e outra diretamente proporcional ao volume utilizado, parcela variável.
Cabe lembrar que custo semivariável é diferente de custo semifixo, o qual é fixo até um
determinado volume de produção, a partir do qual ele sofre uma variação. Ilustra a
situação a capacidade instalada de uma fábrica, que possui um limite que, para ser
superado, exigiria novas instalações, por exemplo, conforme FIG. 1.
FIGURA 1 Custo semivariável e semifixo
Fonte: MEGLIORINI, 2002, p. 15 e 16.
Com relação aos custos semivariáveis, o procedimento correto é separar a parcela fixa
da parcela variável, atribuindo a última aos produtos, e a primeira sendo lançada
diretamente no resultado. Resta, no entanto, a grande indagação: como calcular a parte
fixa e a variável?
Megliorini (2002) apresenta um método para tal separação, denominado método dos
pontos máximos e mínimos ou pontos altos e baixos.
O método deve ser implementado da seguinte maneira: registra-se a produção de um
determinado período de tempo, registrando-se simultaneamente os custos
correspondentes.
Tomamos os 2 pontos extremos de produção, encontramos os custos correspondentes e,
a partir dessas observações, podemos definir o menor valor como custo fixo e a
diferença em relação ao maior valor como custo variável.
O custo variável unitário será encontrado dividindo-se a diferença de custos pela
diferença no volume produzido.
Para ilustrar, vamos imaginar um alto forno de uma usina siderúrgica, que deve estar
permanentemente ligado, para manutenção da temperatura, mesmo que a produção seja
suspensa temporariamente. Dado o início das operações, o consumo de energia elétrica
aumenta proporcionalmente ao volume produzido. A TAB.2 apresenta os dados
relativos à produção e consumo.
TABELA 2
Produção e consumo de energia elétrica
Meses Produção (t) Custo ($)
Janeiro 1.000 50.000
Fevereiro 1.100 56.000
Março 1.200 62.000
Abril 1.400 74.000
Maio 1.300 68.000
Junho 1.300 68.000
Fonte: elaborada pelo autor.
Encontramos o mínimo em janeiro, com produção de 1.000t e custo de $50.000, e o
máximo em abril, produção de 1.400t e custo de $74.000.
A diferença de custo será de $24.000 ($74.000-$50.000), e a de produção será igual a
400t (1.400t- 1.000t). Portanto o custo variável unitário será igual a $60 ($24.000/400t).
Pelo que foi exposto, podemos verificar que o custeio variável tem muitas vantagens em
relação ao custeio por absorção. Conforme dito, o método deve ser usado para fins
gerenciais, pois a legislação tributária não admite a apuração de resultados com base
nele.
Algumas das vantagens, conforme Dubois, Kulpa e Souza (2008) e Megliorini (2002),
são as seguintes:
• o resultado líquido não é afetado por variações nas quantidades produzidas e
comercializadas;
• há maior facilidade para calcular a contribuição de cada produto para o lucro da
empresa;
• identificam-se os produtos rentáveis e os não rentáveis;
• são fornecidas informações realistas aos gerentes de produção, relacionadas aos custos
de sua responsabilidade;
• são fornecidas informações para tomada de decisões gerenciais, especialmente com
relação ao preço;
• permite-se identificar o nível mínimo de atividade que torna o negócio rentável.
Apesar dessas vantagens, o custeio variável possui 2 aspectos frágeis, devido à
dificuldade de separação entre custos fixos e variáveis e também pela impossibilidade
de apuração dos resultados para fins legais.
Devemos agora ressaltar que, muito embora sejam tratados, às vezes, os dois conceitos
como sinônimos, custeio variável é uma denominação mais adequada do que custeio
direto. Vamos relembrar os conceitos:
Custo direto
Custo direto é aquele que pode ser diretamente aplicado ao produto, ou seja, é possível
identificar exatamente quanto do custo de um elemento foi aplicado na produção de um
bem. Um bom exemplo é o de matérias-primas. Se para construir uma mesa uma
empresa gasta uma chapa de compensado, esse custo pode ser diretamente aplicado ao
produto final.
Também a mão-de-obra direta ilustra o conceito de forma clara. Para construir essa
mesa é necessário 1 dia de trabalho (8 horas) de um marceneiro. Portanto, o salário
diário do funcionário constitui um custo direto, isto é, pode ser diretamente aplicado ao
custo de produção da mesa.
Custo indireto
Custo indireto é aquele não passível de aplicação direta ao produto, necessitando,
destarte, de um critério de rateio para que seja feita a alocação de custos. Como
exemplo, podemos citar os salários da supervisão. Imagine que na fábrica de móveis
haja um supervisor para dez marceneiros, cada qual produzindo um tipo de móvel.
Sendo assim, o salário do supervisor não pode ser diretamente aplicado ao produto final
(mesas, cadeiras, estantes, etc.), mas deve ser rateado entre esses produtos.
Custo variável
É aquele que varia de acordo com o nível de atividade, isto é, caso o volume de
produção (ou de vendas) aumente, o custo também aumentará; caso a produção
decresça, o custo também será reduzido.
O custo da matéria-prima ilustra com clareza esse conceito. Para aumentar o volume de
produção, mais unidades de matéria-prima serão consumidas, portanto o custo irá
aumentar. Também serve de exemplo a mão-de-obra direta.
Custo fixo
Ao contrário do anterior, o custo fixo é aquele que não guarda relação com o volume de
atividades, isto é, independentemente do volume de produção o custo não se altera.
Obviamente, essa manutenção do custo deve respeitar um certo limite de capacidade,
uma vez que não se pode pensar em custo fixo para uma produção infinita.
Diversos itens são classificados como custos fixos. O aluguel de uma instalação, a
prestação de uma máquina, conta de telefone da fábrica, salários do pessoal da
administração, entre outros.
Por custeio variável, entendemos aquele em que somente os custos variáveis são
aplicados aos produtos, incluindo custos diretos, custos indiretos e também as despesas
variáveis.
Se falarmos em custeio direto, não estamos nos referindo à aplicação apenas de custos
diretos, mas, devido ao nome, tal confusão pode surgir. Por essa razão, o nome custeio
variável é preferível ao nome custeio direto.
Espero que esta aula tenha sido bem proveitosa para seus conhecimentos. Espero você
para nosso próximo encontro. Trarei muitas novidades.
Resumo
Vimos, na presente aula, outro método de custeio, denominado custeio variável. Ao
contrário dos métodos de absorção, o custeio variável não aplica aos produtos os custos
fixos, mas tão somente os custos variáveis, diretos e indiretos.
As razões que justificam essa nova abordagem recaem sobre as fragilidades do custeio
por absorção no que se refere à tomada de decisões. Equívocos podem ocorrer devido a
variações no volume de produção e também ao critério utilizado para rateio dos custos
fixos.
O custeio direto constitui, portanto, uma alternativa para reduzir as inconsistências
anteriores, pois vai aplicar aos produtos somente o que foi diretamente consumido na
sua produção.
Comentamos as principais vantagens do custeio variável, realçando seu aspecto
gerencial e listamos também suas principais deficiências.
Fizemos posteriormente uma revisão dos conceitos de custos, muito necessária neste
momento do aprendizado. Relembramos o que é custo direto, indireto, fixo, variável,
semifixo e semivariável.
Atividades
1. Descreva as diferenças entre custeio variável e custeio por absorção. Ilustre sua
resposta com exemplos.
2. Explique as razões que tornam o custeio por absorção inconsistente, em termos
gerenciais.
3. Explique o tratamento que se deve dar aos custos semivariáveis.
Aula 21 - Custeio Variável
Objetivos
• Entender os cálculos do custeio variável.
• Perceber as diferenças entre o custeio por absorção e o custeio variável.
• Conhecer o conceito de margem de contribuição.
Introdução
Na aula passada, vimos outra forma de cálculo de custos, denominada Custeio
Variável. Sabemos que se trata de uma metodologia que não aplica os custos fixos aos
produtos, mas somente os custos variáveis.
Vimos ainda que suas principais aplicações são gerenciais, até porque a legislação
tributária não permite esse tipo de apropriação para fins de declarações legais.
Hoje, iremos apresentar um exemplo de aplicação do Custeio Variável. Vamos
descrever a empresa em questão.
Aplicação do Custeio Variável
Vamos conhecer uma indústria de confecção que produz camisas e calças. Os dados
relativos aos produtos são mostrados na TAB. 1
TABELA 1
Dados relativos aos produtos
Item Camisa Calça
Produção (unid) 10.000 20.000
Matéria-prima 25.000 100.000
Materiais auxiliares 15.000 20.000
Mão de obra direta 40.000 60.000
Total 80.000 180.000
Preço de Venda (unid) 20 20
Como podemos perceber, a produção de camisas é de 10.000 unidades e a de calças é de
20.000 unidades. O consumo de material direto na fabricação de camisas é de $25.000,
ao passo que na de calças é de $100.000.
Em termos de materiais auxiliares, no caso, aviamentos, gastam-se $15.000 com
camisas e $20.000 com calças. A mão-de-obra direta aplicada à produção de camisas
atinge o valor de $40.000 e de $60.000 para calças.
Somando tudo, o custo de produção de camisas é de $80.000 e o de calças é de
$180.000. O preço de venda é idêntico, $20 a unidade, preço determinado pelas
condições de mercado, que a empresa espera respeitar.
Os custos e despesas fixas incorridos pela empresa são mostrados na TAB. 2.
TABELA 2
Custos fixos
Custos fixos
Depreciação 40.000
Aluguel 60.000
Energia elétrica 50.000
Despesas administrativas 30.000
Despesas comerciais 20.000
Total 200.000
Dentre os custos fixos, apenas energia elétrica poderia ser tida como semivariável, mas
vamos imaginar, para simplificar nosso raciocínio, que também caracterize um custo
fixo.
Ao fazer a apuração de resultados, o empresário vai encontrar a situação relatada na
TAB. 3.
TABELA 3
Demonstração de Resultados do Exercício
Resultado do exercício camisas calças total
Faturamento bruto 200000 400000 600000
Custo produção 80.000 180.000 260.000
Lucro bruto 340.000
CIF 200.000
Lucro operacional 140.000
O faturamento e o custo de produção foram apresentados por produto para detalhar o
procedimento. Para camisas, temos 10.000 unidades X $20/un., resultando em
$200.000; para calças, temos 20.000 unidades X $20, igual a $400.000, com
faturamento total de $600.000.
O custo de produção, mostrado na TAB. 1, é de $80.000 para camisas e de $180.000
para calças, atingindo o valor de $260.000. O custo fixo é de $200.000, conforme TAB.
2.
Fazendo os cálculos, encontramos um lucro operacional de $140.000 ($600.000 -
$260.000 – 200.000).
Digamos agora que o empresário, no afã de melhorar o desempenho financeiro de seu
empreendimento, procura identificar o custo de produção separado por produto.
Ele vislumbra a possibilidade de alterar o seu mix de produção e com isso confeccionar
o produto mais rentável, já que a alteração de preços é por demais arriscada, dada a
concorrência presente no setor.
Ele então utiliza um critério de rateio para mensurar o custo de cada produto com mais
precisão, imagina ele. Considerando-se expert no assunto, ele analisa os dados sobre
custo direto e escolhe o rateio com base na mão-de-obra direta. Essa decisão baseia-se
na similaridade da mão-de-obra no custo direto dos dois produtos, o que aparentemente
tem lógica, ou seja, já que ela é distribuída de forma mais equilibrada, o rateio nessa
base será o que melhor representa a aplicação de custos fixos.
Sendo assim, ele calcula o custo de produção, resultado mostrado na TAB. 4.
TABELA 4
Custo total - Rateio baseado
na proporção de mão-de-obra
CIF/MO Camisa Calça
Depreciação 16.000 24.000
Aluguel 24.000 36.000
Energia elétrica 20.000 30.000
Despesas
administrativas
12.000 18.000
Despesas comerciais 8.000 12.000
Total CIF 80.000 120.000
Custo direto 80.000 140.000
Custo total 160.000 260.000
Custo unitário 16 13
O cálculo foi feito da seguinte maneira:
• A participação do material direto empregado na fabricação de camisas é de 40%
(40.000/100.000) e de calças é de 60% (60.000/100.000).
• Multiplicando 0,4 por $40.000, encontramos $16.000, que corresponde à parcela de
depreciação alocada no custo das camisas. Fazendo 0,6 por $40.000, encontramos
$24.000, parcela de depreciação alocada no custo de produção da calças.
• Repetindo os passos para os demais itens do custo fixo, encontramos o total de
$80.000 de custos fixos para camisas e $120.000 para calças.
• Somando o total de CIF com o total de custo direto, encontramos para camisas o valor
de $160.000 ($80.000 + $80.000) e de $260.000 para calças ($120.000 + $140.000).
• Dividindo o custo total pelo número de unidades produzidas, encontramos custo
unitário de camisa igual a $16 ($160.000 / 10.000) e $13 para calça ($260.000 / 20.000).
Diante desses valores, o empresário toma uma “sábia” decisão imediatamente: “se o
preço de todos os produtos é $20, a camisa me custa $16 e a calça me custa $13, vou
optar pela fabricação de calças, apenas”.
Devemos ainda supor que não existam limitações à fabricação de apenas um produto.
Nesse contexto, a decisão parece realmente racional, pois com isso o resultado da
empresa iria melhorar.
Mas vejamos o que acontece se a produção for unicamente de calças. Os resultados são
apresentados na TAB. 5.
TABELA 5
Demonstração de Resultados
do Exercício - Fabricação de calças
Produção única Calças
Faturamento bruto 600000
Custo produção 270000
CIF 200000
Lucro operacional 130000
O faturamento bruto ainda é de $600.000 (30.000 unidades X $20/un.), o custo fixo não
se altera, permanecendo em $200.000, porém o custo variável vai se modificar.
Como eram necessários $180.000 para a confecção de 20.000 calças, para a fabricação
de 30.000 unidades serão necessários $270.000, valor que corresponde ao custo de
produção lançado na TAB. 5.
Apurando o resultado, teremos lucro operacional de $130.000, valor inferior aos
$140.000 conseguidos com a fabricação de camisas e calças.
O que devemos pensar? Uma decisão bem pensada e tomada com base em critérios
técnicos acarreta resultados ruins para a empresa. Caso optasse por ratear os custos fixos
com base no material direto, a situação seria diferente, conforme ilustrado na TAB. 6.
TABELA 6
Custo total - Rateio baseado
na proporção de material direto
CIF/MD Camisa Calça
Depreciação 8.000 32.000
Aluguel 12.000 48.000
Energia elétrica 10.000 40.000
Despesas
administrativas
6.000 24.000
Despesas comerciais 4.000 16.000
Total CIF 40.000 160.000
Custo direto 80.000 140.000
Custo total 120.000 300.000
Custo unitário 12 15
O cálculo é semelhante ao anterior. A participação relativa no consumo de material
direto referente à produção de camisas é de 20% (25.000/125.000) e a de calças é de
80% (100.000/125.000).
Multiplicando os valores referentes ao custo fixo por essas proporções, encontramos os
totais de $40.000 para camisas e de $160.000 para calças.
Somando-se esses valores ao custo direto, chegamos a $120.000 e $300.000 para
camisas e calças, respectivamente.
O custo unitário será de $12 para camisa ($120.000 / 10.000) e de $15 para calça
($300.000 / 20.000).
Esse critério levaria o empresário a tomar outra “sábia” decisão, qual seja, a de produzir
apenas camisas. Caso optasse por essa linha, os resultados seriam diferentes, conforme
mostrado na TAB. 7.
TABELA 7
Demonstração de Resultados do Exercício
- Fabricação de camisas
Produção única camisas
Faturamento bruto 600000
Custo produção 240000
CIF 200000
Lucro operacional 160000
O lucro operacional, nessas condições, alcançaria $160.000, superior aos $140.000
conseguidos com a produção mista.
A explanação anterior só vem reforçar os comentários acerca da fragilidade do custeio
por absorção para fins gerenciais. Por outro lado, realça a importância do custeio
variável.
Observe você que cada unidade de camisa custa $8 ($80.000/10.000) em termos de
custo variável, e cada unidade de calça custa $9 ($180.000/20.000), também de custo
variável. Se cada peça é vendida por $20, cada camisa gera um “retorno” de $12 e cada
calça um retorno de $11.
Se lembrarmos que os custos fixos independem do volume produzido, ou mais, que eles
são encargos assumidos pela empresa para tornar possível a produção, vamos entender
que eles não são afetados pela quantidade produzida de um ou de outro produto.
Portanto, o mais importante é avaliar o quanto cada um deles contribui para a cobertura
dos custos fixos.
Estamos diante do conceito de margem de contribuição. Segundo Martins (1998), é a
diferença entre receita e custo variável. Para Megliorini (2002), é parte restante do preço
de venda de um produto, deduzidas as despesas e custos por ele gerados.
Diante disso, podemos apresentar os resultados da empresa de uma forma um pouco
diferente, conforme ilustra a TAB. 8.
TABELA 8
Margem de Contribuição
Resultado do exercício camisas calças total
Faturamento bruto 200000 400000 600000
Custo produção 80.000 180.000 260.000
Margem de contribuição 120.000 220.000 340.000
Custos fixos 200.000
Lucro operacional 140.000
Apresentado dessa forma, o resultado mostra uma outra visão. Os custos fixos não são
relacionados à produção, mas sim, ao funcionamento da empresa, existentes
independentemente de a empresa produzir ou não.
Portanto os custos provocados pelos produtos são somente os diretos, e por essa razão
qualquer critério de rateio possui algum grau de arbitrariedade. Por conseguinte
devemos avaliar o quanto cada produto contribui para o pagamento do custo fixo, ou
seja, avaliar quanto sobra depois de deduzido do preço de venda o montante de custo
necessário à produção.
Informações desse tipo são de extrema utilidade nas decisões gerenciais. Voltemos ao
caso da modificação do mix de produção. Ao utilizar o critério de rateio, o empresário
poderia ter tomado a pior decisão possível, ainda que lhe parecesse a mais racional do
mundo.
Caso a decisão seja tomada com base na margem de contribuição, esse tipo de erro não
aconteceria, ou seja, o produto menos rentável não seria nunca o escolhido.
Ademais, a análise da margem de contribuição serve para definição da política de
preços e para a avaliação dos custos de cada departamento.
Espero que você tenha compreendido muito bem tudo isso que estudamos hoje. São
conhecimentos muito importantes para a sua formação geral.
Encontramo-nos na próxima aula. Até lá!
Resumo
Nesta aula, fizemos uma aplicação de custeio variável. Começamos estimando o
resultado de uma empresa de confecção que fabrica calças e camisas.
Depois de apurado o resultado, fizemos alguns exercícios relativos à apropriação de
custos fixos e tomamos decisões gerenciais baseados nelas. Vimos que uma decisão
aparentemente racional poderia ter provocado a redução do lucro da empresa.
Posteriormente, aprendemos o conceito de margem de contribuição, que é a diferença
entre o preço de venda e o custo variável. Ou seja, a margem de contribuição mostra
exatamente com quanto cada produto contribui para o lucro da empresa.
Atividades
Faremos exercícios específicos sobre esse conteúdo na próxima aula. Hoje você vai
descansar mais cedo.
Aula 22 - Custeio Variável
Objetivos
• Rever conceitos de Custeio Variável.
• Aplicar os cálculos do Custeio Variável.
Introdução
Vamos rever os conceitos de Custeio Variável na aula de hoje, praticando através de um
exercício. Iremos estimar o custo variável, a margem de contribuição de cada produto e
avaliar a possibilidade de fabricar apenas um dos produtos.
Atividade
Vamos inicialmente caracterizar a nossa empresa. É uma indústria que fabrica pré-
moldados em concreto, especificamente mourões e postes, o primeiro em formato
retangular e o segundo em formato tipo T. Utiliza como insumos diretos areia, brita,
cimento, ferragem e mão-de-obra.
Os gastos fixos são relativos a: depreciação dos equipamentos e das instalações, aluguel
de um galpão e escritório anexo, mão-de-obra indireta, despesas comerciais e despesas
administrativas.
Os custos diretos de produção, separados por produtos, assim como o apontamento de
unidades mensais produzidas, estão apresentados na TAB. 1.
TABELA 1
Custos Diretos de Produção
Item Mourão Poste
Produção (unid) 2.000 1.000
Matéria-prima 7.000 3.000
Materiais auxiliares 3.000 2.000
Mão-de-obra direta 5.000 5.000
Total 15.000 10.000
Preço de Venda (unid) 30 35
Os custos fixos estão apresentados na TAB. 2.
TABELA 2
Custos indiretos de fabricação
Custos fixos
Depreciação 8.000
Aluguel 6.000
Energia elétrica 6.000
Despesas administrativas 4.000
Despesas comerciais 6.000
Total 30.000
Com base nos dados apresentados,
• Calcule o resultado da empresa.
• Avalie os resultados caso a empresa optasse pela produção de um único produto.
• Calcule a margem de contribuição de cada produto e apure o resultado com base no
Custeio Variável.
Faça tudo que se pede antes de verificar as respostas que lhe forneço em seguida. Isso é
muito importante para o seu aprendizado.
Respostas
Resultado do exercício Mourão Poste total
Faturamento bruto 60000 35000 95000
Custo produção 15.000 10.000 25.000
Lucro bruto 70.000
CIF 30.000
Lucro operacional 40.000
Produção única Mourão Poste
Faturamento bruto 90000 105000
Custo produção 22500 30000
CIF 30000 30000
Lucro operacional 37500 45000
Resultado do exercício Mourão Poste total
Faturamento bruto 60000 35000 95000
Custo produção 15.000 10.000 25000
Margem de contribuição 45.000 25.000 70.000
Custos fixos 30.000
Lucro operacional 40.000
Aula 23 - Aplicação da Margem de
Contribuição
Objetivos
• Relembrar os conceitos de Margem de Contribuição.
• Aplicar cálculos de Margem de Contribuição.
• Aprender a tomar decisões gerenciais baseadas na Margem de Contribuição.
Introdução
Na aula 18 aprendemos como se deve calcular o custeio variável e também como se
calcula a margem de contribuição. Já sabemos que ela corresponde à diferença entre
preço de venda e custo variável, isto é, representa a contribuição de cada produto ao
lucro ou, dito de outra forma, a contribuição para a cobertura dos custos fixos.
Vimos alguns exemplos que mostraram que decisões baseadas em critérios de rateio
podem acarretar resultados negativos, como por exemplo, a mudança do mix de
produção baseada em custo total.
Hoje iremos avançar nesses tópicos relacionados a decisões gerenciais, mas utilizando o
conceito de margem de contribuição.
Margem de Contribuição
Vamos imaginar uma empresa que possua 3 produtos em sua linha de produção, A, B e
C, com as especificações relacionadas na TAB.1.
TABELA 1
Produtos, preços, custos e despesas
variáveis e margem de contribuição
Produtos Preço Custo+despesa variavel
Margem contribuição
unitária
A 25 11,25 13,75
B 42 32,10 9,90
C 32 23,60 8,40
Podemos observar que o produto A tem a maior margem de contribuição, seguido do
produto B e depois vem o produto C. A despeito de ser comercializado pelo menor
preço, o produto A é o que mais contribui para o lucro da empresa.
Visando a uma possível melhoria na lucratividade, o empresário gostaria de avaliar uma
modificação no mix de produção que lhe permitisse maiores ganhos. Desde que não
haja nenhuma limitação à capacidade produtiva, a escolha deveria ser aumentar a
produção daquele que tem a maior margem de contribuição, o produto A.
Porém, no presente caso, há uma limitação externa relativa ao fornecimento de matéria-
prima. Dadas as especificações técnicas exigidas, o empresário somente consegue
adquirir 120.000 quilogramas, volume insuficiente para atendimento da sua demanda,
conforme mostra a TAB. 2.
TABELA 2
Demanda e matéria-prima consumida.
Produtos Demanda Consumo matéria-prima Quantidade materia-prima
A 2.000 40 80.000,00
B 800 20 16.000,00
C 3.000 10 30.000,00
Total 126.000,00
Para atender a toda a demanda, seriam necessários 126.000 kg, volume superior ao que
a empresa consegue adquirir. Diante dessa restrição, devemos fazer uma opção por qual
produto sacrificar.
Caso toda a demanda pudesse ser atendida, a margem de contribuição total seria de
$60.620 ($13,75X2.000 + $9,9X800 + $8,4x3.000). Contudo esse valor ultrapassa a
capacidade da empresa. Não se trata de uma restrição de capacidade instalada, portanto
é mais difícil, senão impossível, conseguir uma solução interna.
A escolha mais óbvia recai sobre o produto C, que possui a menor margem de
contribuição. Outro critério para justificar a decisão poderia se basear no volume de
produção diante da quantidade de material necessário, ou seja, ao sacrificarmos o
produto C, um número proporcionalmente menor de unidades deixaria de ser produzida.
Programando a produção para atender a esse novo mix, encontraremos 2.000 unidades
do produto A, 800 do produto B e apenas 2.400 do produto C. Isso porque, descontando
a matéria-prima dos 2 primeiros, sobrariam 24.000 kg, suficientes para produzir 2.400
unidades de C.
Os resultados com essa nova configuração estão na TAB. 3
TABELA 3
Resultados e margem de contribuição por produto
A B C Total
Vendas (un.) 2.000 800 2.400
Preço unitário 25 42 32
Receita 50.000 33.600 76.800 160.400
Custo variável unitário 10 30 22
Custo variável total 20.000 24.000 52.800
Despesas variáveis (5%) 2.500 1.680 3.840
Total variável 22.500 25.680 56.640 104.820
Margem de contribuição 27.500 7.920 20.160 55.580
Custos e despesas fixas 25.000
Lucro operacional 30.580
De imediato observamos que a margem de contribuição se reduziu, alcançando agora
$55.580 ($13,75X2.000 + $9,9x800 + $8,4x2.400), abaixo do máximo possível de
$60.620. Com isso, o lucro da empresa será menor, igual a $30.580, considerando o
volume de custos fixos de $25.000.
As reduções tanto na margem de contribuição quanto no lucro operacional eram
esperadas, já que a empresa não consegue produzir e atender toda a demanda
disponível.
O resultado alcançado parece o melhor, tendo em vista que a fabricação dos produtos
com maior margem foi mantida, reduzindo-se apenas a produção daquele com menor
margem de contribuição.
Podemos questionar se essa seria a melhor alternativa. Se visualizarmos os volumes
requeridos da matéria-prima por unidade produzida, conforme mostrado na TAB. 2,
observaremos que o produto A requer 40 kg por unidade, o produto B requer 20 kg e o
C, 10 kg.
Diante dessa informação, devemos analisar a situação mais uma vez. Ora, vejamos! Se
há tal disparidade no consumo da matéria-prima, a manutenção de um produto na linha
de produção exige um grande sacrifício de outro.
Talvez, a empresa esteja perdendo margens de contribuição, pois, ao maximizar a
produção de um, ela limita a de outro.
Vamos avaliar outra alternativa. Iremos basear nossa análise na margem de contribuição
em termos de matéria-prima consumida, conforme sugerido por Megliorini (2002). A
TAB. 4 apresenta os valores.
TABELA 4
Margem de contribuição em matéria-prima
Produtos Mg cont. Consumo matéria-prima
Mg contribuição/mat.
prima
A 13,75 40 0,3438
B 9,90 20 0,4950
C 8,40 10 0,8400
Ao deixar de produzir uma unidade de A, a empresa pode fabricar duas unidades de B
ou quatro unidades de C (40/20 ou 40/10).
De acordo com os dados, constatamos que, para cada unidade de matéria-prima aplicada
ao produto A, resultará uma margem de contribuição de $0,3438 ($13,75 / 40 kg). Para
o produto B, temos a margem de contribuição por unidade de matéria-prima de $0,4950
($ 9,90 / 20 kg ) e para o C, $0,84 ($8,40 / 10 kg)
No resultado por produto, os termos de margens de contribuição seriam:
Produto A: 40 kg X 0,3438 = $13,75 (1X13,75 = 13,75)
Produto B: 40 kg X 0,4950 = $19,80 (2X $9,9 = $19,80)
Produto C: 40 kg X 0,8400 = $33,60 (4 X $8,4 = $33,60).
De acordo com os dados acima, observamos que o sacrifício de uma unidade de A, que
consome um grande volume de matéria-prima, permite a produção de 2 unidades de B
ou 4 unidades de C, resultando em uma margem de contribuição de B igual a $19,80 e
de C igual a $33,60.
Portanto, quando houver restrições à capacidade produtiva, nem sempre a melhor
alternativa irá recair sobre o produto com maior margem de contribuição.
Vamos então analisar outra possibilidade, reduzindo a fabricação de A e mantendo a
produção dos outros dois, B e C. Os dados apresentados na TAB. 5 ilustram a situação.
TABELA 5
Resultados e margem de contribuição por produto
A B C Total
Vendas (un.) 1.850,00 800,00 3.000,00
Preço unitário 25,00 42,00 32,00
Receita 46.250,00 33.600,00 96.000,00 175.850,00
Custo variável unitário 10,00 30,00 22,00
Custo variável total 18.500,00 24.000,00 66.000,00
Despesas variáveis (5%) 2.312,50 1.680,00 4.800,00
Total variável 20.812,50 25.680,00 70.800,00 117.292,50
Margem de contribuição 25.437,50 7.920,00 25.200,00 58.557,50
Custos e despesas fixas 25.000,00
Lucro operacional 33.557,50
Como os produtos B e C serão fabricados para atender completamente a demanda, o
consumo de matéria-prima irá atingir 46.000 kg, restando 74.000 kg para a fabricação
de A. Consequentemente, serão produzidas 1.850 unidades ou 74.000/40.
Refazendo os cálculos, encontramos uma margem de contribuição total de $58.557,50
($13,75X1.850 + $9,9X800 + $8,4X3.000), e o lucro operacional de $33.557,50.
Esses resultados estão ainda abaixo do que seria alcançado com o atendimento pleno da
demanda, mas, como a restrição é externa, a empresa pouco pode fazer, devendo
adequar sua capacidade com vistas a alcançar o melhor desempenho operacional e
financeiro.
Será que você entendeu tudo bem direitinho? Espero que sim. Refaça todos os cálculos
se você ainda tiver alguma dúvida. Espero você para nossa próxima aula!
Resumo
Vimos hoje como pode ser aplicado o estudo das margens de contribuição para fins
decisoriais.
Partindo de uma situação hipotética, em que uma empresa pode fabricar 3 produtos,
com margens de contribuição diferentes, avaliamos quais efeitos teríamos caso
houvesse alguma restrição relativa à produção.
Analisamos especificamente o caso em que a oferta de matéria-prima é restrita, ou seja,
para atender toda a demanda, a empresa necessita de um volume maior do que o
fornecedor pode oferecer.
Diante desse quadro, o mix de produção deve ser revisto, com a produção em menor
escala de um dos 3 produtos. A escolha mais óbvia recairia sobre a redução na
quantidade produzida daquele que tiver a menor margem de contribuição.
Porém, essa decisão, aparentemente racional, não produz o melhor resultado. Vimos
que, sob condições de restrição, o fator limitante deve conduzir a decisão.
No exemplo, dado que a produção de A consumia um volume elevado de matéria-prima
relativamente aos outros dois produtos, a redução daquele e o atendimento pleno dos
outros 2 geraria melhores resultados.
Atividades
Mais adiante,faremos exercícios sobre restrições de capacidade produtiva. Por ora,
imagine uma indústria de produtos alimentícios sujeita a restrições no fornecimento de
matéria-prima, como por exemplo, uma fábrica de sucos de laranja. Se ela produz suco
concentrado e refresco, gastando 5 vezes mais unidades de matéria-prima para a
produção do primeiro e sendo a margem de contribuição do primeiro apenas o dobro,
qual seria a melhor opção caso não consiga adquirir o volume de laranja suficiente para
produzir a plena capacidade? Justifique sua resposta.
Aula 24 - Aplicação da Margem de
Contribuição
Objetivos
• Rever conceitos de Margem de Contribuição.
• Aplicar cálculos de Margem de Contribuição.
• Verificar como tomar decisões gerenciais baseadas na Margem de Contribuição.
Introdução
Vamos hoje avaliar outra situação em que o cálculo da margem de contribuição pode
representar uma decisão vantajosa. Na última aula, fizemos algo dessa natureza, ao
avaliar as possíveis combinações de produção de uma empresa sujeita à restrição na
capacidade produtiva ditada por limitação de fornecimento de matéria-prima.
Somente para recordar, a decisão aparentemente mais racional – privilegiar a fabricação
do produto que apresenta a maior margem de contribuição – não foi a mais sensata.
Tal fato deveu-se à grande utilização de matéria-prima pelo produto que tinha a maior
margem. Sendo assim, a sua produção plena sacrificava a fabricação de muitas unidades
de outros itens com margens unitárias menores que, no entanto, gerariam margem de
contribuição total superior, em se considerando sua produção plena.
Nesta aula, avaliaremos outra situação, relacionada à existência de capacidade ociosa.
Nesse caso, a fábrica não opera com sua capacidade plena, e a margem de contribuição
pode ser de grande utilidade ao se tomar uma decisão relativa à negociação de uma
encomenda, em condições especiais.
Aplicação da Margem de Contribuição
Vamos inicialmente caracterizar a nossa empresa. Trata-se de uma usina siderúrgica que
fabrica um único produto, vendido primordialmente no mercado nacional, mas que
possui capacidade de exportação.
Essa fábrica opera atualmente com elevada capacidade ociosa, pois produz e
comercializa apenas 50.000 toneladas, volume muito abaixo do limite máximo de
70.000 toneladas.
As informações relativas a preço e custos são mostradas na TAB. 1.
TABELA1
Preço e custo de produção.
Item Valores
Custo fixo de produção 400.000
Custo variável de produção 15/t
Despesa fixa 100.000
Despesa variável (comissões) 1/t
Despesa variável (impostos) 2/t
Preço de venda 40/t
Como foi mostrado, o custo fixo é de $400.000 e a despesa fixa é de $100.000, ao passo
que o custo variável é de $15/tonelada. A empresa incorre ainda em despesa variável de
$1/tonelada relativa à comissão, e de $2/tonelada relativa aos impostos. O preço de
venda é de $40, fixado como meta para alcançar o lucro estipulado pela diretoria.
Os resultados da empresa são apresentados na TAB. 2.
TABELA 2
Demonstração de resultados
Item Valores
Receita 2.000.000
Custo dos produtos vendidos 1.150.000
Custo variável 750.000
Custo fixo 400.000 250.000
Despesas
Despesa fixa 100.000
Despesa variável (comissões) 50.000
Despesa variável (impostos) 100.000
Lucro líquido 600.000
A fixação do preço obedeceu ao seguinte critério: como o lucro-meta estipulado era de
$600.000, seriam necessários $2.000.000 de receita, diante do total de custos e despesas
da ordem de $1.400.000. Com a produção de 50.000 toneladas, o preço foi então fixado
em $40. Tal preço também condiz com a realidade de mercado.
O custo variável de $750.000 resulta da multiplicação do custo variável unitário de $15
pelo volume produzido, 50.000 toneladas. As despesas variáveis de comissões são
iguais a $50.000 ($1 X 50.000), e as de impostos são iguais a $100.000 ($2 X 50.000),
alcançando $150.000.
Suponhamos agora que a empresa receba uma proposta para fabricar 20.000 toneladas,
destinadas a um cliente de outro país. Porém a oferta do cliente externo, a princípio, não
se mostra atrativa, pois o preço sugerido é de $25/tonelada.
A diretoria se reúne para avaliar a situação, e um dos membros sugere um levantamento
para avaliação do real custo de produção. Recorrendo aos dados apresentados na TAB.
3, o custo é estimado.
TABELA 3
Custo de produção
Item Valor
Custo variável 750.000
Custo fixo 400.000
Despesa fixa 100.000
Despesa variável (comissões) 50.000
Despesa variável (impostos) 100.000
Custo total 1.400.000
Volume produzido 50.000
Custo unitário 28
Como era esperado, a negociação não se mostra atraente, pois o preço oferecido é
inferior ao custo de produção – $25 e $28, respectivamente. A negativa era iminente, já
que a produção levaria a empresa a incorrer em prejuízo.
Porém um dos diretores, responsável pela análise de custos, ponderou que seriam
necessárias novas avaliações. Justificou sua posição alegando que o maior volume de
produção iria reduzir o custo fixo unitário e, ademais, por ser o cliente do mercado
externo, não haveria cobrança do imposto, devido à isenção tributária para esse tipo de
operação.
Com base nessa ponderação, o diretor financeiro apresentou um novo quadro de
resultados, contendo o seu raciocínio sobre o assunto, conforme apresentado na TAB. 4.
TABELA 4
Demonstração de resultados
Item Valores
Receita 2.500.000
Vendas domésticas 2.000.000
Vendas externas 500.000
Custo dos produtos vendidos 1.450.000
Custo variável 1.050.000
Custo fixo 400.000
Despesas 270.000
Despesa fixa 100.000
Despesa variável (comissões) 70.000
Despesa variável (impostos) 100.000
Lucro líquido 780.000
A receita atingiria $2.500.000, fruto de $2.000.000 ($40 X 50.000) relativos a vendas
internas e $500.000 de exportações ($25 X 20.000). Os custos variáveis agora seriam de
$1.050.000, correspondendo à multiplicação de $15 por 70.000. Somando-se isso ao
custo fixo de $400.000, atingiria o total de $1.450.000.
A despesa variável de comissões agora passaria a $70.000 ($1 X 70.000), a despesa com
impostos permaneceria a mesma, $100.000 ($2 X 50.000), pois não haveria incidência
tributária nas exportações. Adicionando a despesa fixa de $100.000, alcançamos o valor
de $270.000.
O total de custos e despesas atinge $1.720.000, o que resulta num lucro operacional de
$780.000. Esse valor é muito superior aos $600.000 da situação inicial.
Portanto a análise feita puramente com o preço comparado ao custo total de produção
levaria a empresa a deixar de obter um volume substancial de lucro. Mas foi essa análise
que permitiu a atitude competente do diretor financeiro ao apresentar uma nova forma
de ver a situação.
Se avaliarmos o custo de produção na segunda demonstração, será que o preço proposto
pelo cliente externo seria razoável? Vamos conferir, conforme a TAB. 5.
TABELA 5
Custo de produção
Item Valor
Custo variável 1.050.000
Custo fixo 400.000
Despesa fixa 100.000
Despesa variável (comissões) 70.000
Despesa variável (impostos) 100.000
Custo total 1.720.000
Volume produzido 70.000
Custo unitário 24,57
Repetindo o raciocínio anterior, temos um custo total de $1.720.000, o que, dividido por
70.000 toneladas, resulta em $24,57/tonelada. Ainda assim, o preço mostra-se pouco
atraente.
O que permite avaliar a atratividade da venda externa é simplesmente a análise da
margem de contribuição, de acordo com a TAB. 6.
TABELA 6
Margem de contribuição
Item Valor
Preço de venda 40/t
Custo variável de produção 15/t
Despesa variável (comissões) 1/t
Despesa variável (impostos) 2/t
Margem de contribuição
unitária
18/t
Ao avaliarmos as margens, observamos que cada produto para o mercado doméstico
tem custo variável de $18, o que garante margem unitária de $22, dado o preço de $40.
Quando se trata do mercado externo, a margem ainda é um pouco menor, pois atinge $8,
considerando o preço de $25, devido à não incidência de impostos.
Em suma, elaborando o quadro sintético apresentado na TAB. 7, podemos detalhar a
aplicação das margens de contribuição para fins decisoriais.
TABELA 7
Margens de contribuição
Item Interno Externo Total
Vendas (un.) 50.000 20.000
Preço unitário 40 25
Receita 2.000.000 500.000 2.500.000
Custo variável unitário 15 15
Custo variável total 750.000 300.000
Comissões 50.000 20.000
Impostos 100.000 0
Total despesas variáveis 150.000 20.000
Variável total 900.000 320.000 1.220.000
Margem de contribuição 1.100.000 180.000 1.280.000
Custos e despesas fixas 500.000
Lucro operacional 780.000
Observamos que, a despeito do menor preço de venda, com custo praticamente igual ao
preço de venda, como mostrado anteriormente, o produto destinado ao mercado externo
ainda é capaz de gerar margem de contribuição de $180.000, o mesmo valor de
incremento no lucro da empresa, comparando as duas situações.
Em síntese, o custo fixo já está completamente comprometido e não deve fazer parte
desse tipo de análise. Não devemos desconsiderá-lo, porque ele deve ser avaliado no
final, para sabermos se a soma das margens é suficiente para cobrir o total de custos e
despesas fixas, mas a sua aplicação aos produtos muitas vezes leva a equívocos,
especialmente em relação à política de preços.
Resumo
Nesta aula, avaliamos como a capacidade ociosa deve ser levada em consideração em
determinadas situações. Por exemplo, caso a empresa esteja negociando uma
encomenda, a utilização plena da capacidade poderá fazer com que o custo unitário se
reduza, levando a empresa a aceitar um preço aparentemente inferior ao custo.
Atividades
Hoje você está livre de mais atividades. Na próxima aula vamos analisar um exemplo
sobre aplicação de margem de contribuição. Reveja os conceitos e até breve.
Aula 25 - Aplicação da Margem de
Contribuição
Objetivos
• Rever conceitos de Margem de Contribuição
• Aplicar cálculos de Margem de Contribuição
• Verificar como tomar decisões gerenciais baseadas na Margem de Contribuição
Introdução
Olá, meu caro aluno. Tem estudado bastante? Espero que sim, pois, como prometemos
na última aula, nesta desenvolveremos uma atividade prática. Resolva o exercício que
lhe proponho com bastante atenção. Ele vai ajudá-lo em sua prática profissional. Vamos
lá?!
Atividade
Uma churrascaria rodízio atende 15.000 clientes por mês, sendo 80% no horário de
almoço e 20% no jantar, cobrando o preço unitário de $40,00. Os custos são os
seguintes:
• custos operacionais fixos (aluguel, energia elétrica) $200.000
• despesas fixas com mão-de-obra $100.000
• custos variáveis / cliente $16,00
A gerência entende que a margem de lucro está baixa, porém não cogita a possibilidade
de elevação do preço, fixado de acordo com as condições do mercado e preço dos
concorrentes. Sabendo que a capacidade de atendimento no horário de almoço não é
plenamente utilizada, a gerência analisa duas opções para aumentar a lucratividade:
• Redução no preço para $35,00, em todos os horários, com aumento previsto do
número de clientes para 18.000, com a mesma distribuição proporcional;
• Manutenção do preço no almoço e promoção especial para jantares, ao preço de
$30,00, com aumento de 100% do número de clientes nesse horário e manutenção nos
outros.
Qual alternativa seria mais rentável para a empresa?
Vou lhe fornecer a resposta, mas você deve desenvolver todo o raciocínio e as contas
para comprovar os resultados, ok?
Resposta
atual preço (35) promoção
Receita 600000 630000 660000
custo variável 240000 288000 288000
lucro bruto 360000 342000 372000
energia eletrica 120.000 120.000 120.000
aluguel 80.000 80.000 80.000
mão-de-obra (fixa) 100.000 100.000 100.000
lucro operacional 60.000 42.000 72.000
Aula 26 - Análise Custo-Volume-Lucro
Objetivos
• Rever conceitos de Margem de Contribuição.
• Entender o conceito de ponto de equilíbrio.
• Avaliar os efeitos das variações de preço e quantidade no ponto de equilíbrio.
Introdução
Até o momento vimos diversos conceitos relacionados a receitas e custos. Já
aprendemos como separar custos de despesas, como classificar custos em diretos e
indiretos ou em fixos e variáveis. Estudamos ainda como podemos ratear os custos
fixos, aplicando-os aos produtos. Posteriormente, vimos uma abordagem distinta, que
envolve o cálculo dos custos variáveis, ficando todos os gastos fixos para lançamento
nos resultados.
Nessa esteira, aprendemos também como aplicar o custeio variável para fins gerenciais,
por meio do cálculo da margem de contribuição. Para tanto, estudamos possíveis
limitações na capacidade produtiva e também a existência de capacidade ociosa.
Hoje iremos avançar um pouco mais nesta matéria, estudando qual a relação entre
custos, receitas e lucro.
A relação entre custos e receitas
Vamos imaginar uma empresa que opera sob determinadas condições. Nós já sabemos
que ela possui custos e despesas que são fixos, isto é, independem da quantidade
produzida. Em se tratando de empresas comerciais, deveríamos nos referir à quantidade
comercializada, porém iremos nos reportar a empresas industriais, por isso citaremos
quantidade produzida, volume de produção, etc., aliás, como tem sido nas aulas
anteriores.
Além dos custos e despesas fixas, a empresa arca também com custos e despesas
variáveis, que são proporcionais ao volume produzido. Somando os dois tipos,
encontramos o custo total.
Sendo parte desse custo independente do volume de produção, a margem de
contribuição de certa quantidade de produto será destinada para que essa parcela fixa
seja coberta. A partir desse ponto, o restante da produção começa a contribuir para a
geração de lucro para a empresa.
Ponto de equilíbrio
Portanto o ponto de equilíbrio pode ser definido, segundo Megliorini (2002), como
sendo aquele em que a empresa não obtém nem lucro nem prejuízo, ou seja, as receitas
se igualam ao custo total.
Baseados nas informações listadas na TAB. 1, vamos desenvolver o conceito.
TABELA 1
Custo e receita totais
Quantidade Custo fixo
Custo
variável
Custo total Rec. total saldo
0 20 0 20 0 -20
1 20 4 24 8 -16
2 20 8 28 16 -12
3 20 12 32 24 -8
4 20 16 36 32 -4
5 20 20 40 40 0
6 20 24 44 48 4
7 20 28 48 56 8
8 20 32 52 64 12
9 20 36 56 72 16
10 20 40 60 80 20
Fonte: adaptado de MEGLIORINI, 2002, p. 153.
Observamos que a quantidade produzida pode variar de 0 a 10, mas o custo fixo não se
altera em todo esse intervalo, permanecendo igual a $20. O custo variável é de $4 por
unidade produzida e vai aumentando proporcionalmente. Somando os dois valores,
encontramos o custo total.
A receita cresce de acordo com as unidades comercializadas, sendo igual a $8 a receita
unitária. Fazendo a subtração receita total menos custo total, encontramos o saldo.
Podemos perceber que até certo ponto, o saldo é negativo, alcança o valor 0 e depois
passa a apresentar valores positivos. O ponto de equilíbrio é encontrado exatamente
quando o saldo torna-se 0, ou seja, quando as receitas são suficientes apenas para
cobertura do custo total.
Podemos ver a representação do ponto de equilíbrio na FIG. 1
FIGURA 1 - Ponto de equilíbrio
Fonte: MEGLIORINI, 2002, p. 154.
De acordo com os dados e com a representação gráfica, observamos que, até o volume
de produção de 5 unidades, o custo supera a receita. Com produção de 0, a receita é 0 e
o custo é de $20. Com uma unidade de produção, a receita atinge $8, o custo total atinge
$24 e o saldo é negativo em $16. Até o nível de produção igual a 4 unidades, o saldo
negativo se repete.
A partir do volume de produção de 5 unidades, a receita começa a superar o custo. Com
6, o custo total é $44 e a receita é de $48, restando um saldo positivo de $4. Volumes
maiores de produção irão resultar em saldos positivos crescentes. Portanto o ponto de
equilíbrio ocorre exatamente quando a produção atingir 5 unidades, com receita e custo
totais equivalentes a $40.
Vamos agora definir matematicamente o ponto de equilíbrio. Já sabemos que ele será
alcançado quando receita total menos custo total for igual a 0.
Podemos escrever PE = RT – CT = 0, ou seja, o ponto de equilíbrio ocorre quando o
lucro operacional é igual a 0, ou LAJIR = 0.
Considerando:
• RT = p X Q
• CT = CT + (v X Q);
em que
• RT = receita total;
• CT = custo total
• p = preço unitário de venda;
• Q = quantidade de venda;
• F = custo operacional fixo por período;
• v = custo operacional variável por unidade.
Fazendo lucro operacional igual a zero, teremos
• LAJIR = RT – CT
• LAJIR = (p * Q) – F – (v * Q)
• LAJIR = Q * (p – v) – F
desde que LAJIR = 0, temos:
• Q = F / (p – v), ou;
•
Portanto ponto de equilíbrio é igual à razão entre custo fixo total e margem de
contribuição unitária.
No exemplo anterior, teríamos:
Portanto o ponto de equilíbrio ocorre quando a produção atingir 5 unidades, como já
havíamos visto na TAB. 1 e na representação gráfica. Analisando sob a ótica da análise
de margem de contribuição, teríamos os resultados apresentados na TAB. 2.
TABELA 2
Margem de Contribuição
Item / Volume produção 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Receita 0 8 16 24 32 40 48 56 64 72 80
Custos e despesas variáveis 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40
Margem de contribuição 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40
Custos e despesas fixas 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20
Lucro operacional -20 -16 -12 -8 -4 0 4 8 12 16 20
Podemos observar que o ponto de equilíbrio ocorre quando a margem de contribuição
total for igual ao custo fixo total. No exemplo, quando a produção atinge 5 unidades, a
margem de contribuição total é igual a $20 {5 X (8-4)}, valor idêntico ao custo fixo
total.
Conceitos de ponto de equilíbrio
Dependendo do tipo de análise a ser feita, mais de uma situação em que se verifica o
equilíbrio pode existir, conforme Martins (1998) e Megliorini (2002). Usualmente, 3
tipos de equilíbrio são encontrados: contábil, econômico e financeiro.
Ponto de equilíbrio contábil: situação em que a margem de contribuição total é
suficiente para cobrir todos os custos e despesas fixos. Corresponde ao ponto de
equilíbrio estudado anteriormente.
Ponto de equilíbrio econômico: nesse caso, também será considerado como custo a ser
coberto pelas receitas o custo de oportunidade do capital investido, que corresponde à
remuneração da melhor alternativa de investimento. Ou seja, a receita deve ser capaz
também de cobrir o rendimento do capital investido.
Ponto de equilíbrio financeiro: os gastos quem não geram desembolsos não devem ser
incluídos no cálculo, ou seja, não levamos em consideração a depreciação embutida nos
custos e despesas fixos. Porém os desembolsos não incluídos, como amortizações de
empréstimos, devem ser incluídos neste cálculo.
Para ilustrar os 3 conceitos, vamos considerar os dados apresentados a seguir.
• Preço unitário de venda: $25
• Custos e despesas variáveis unitários: $15
• Custos e despesas fixos: $20.000
• Depreciação (incluída no item anterior): $2.000
• Patrimônio líquido: $40.000
• Rendimento esperado: 10% ($4.000)
• Amortização de empréstimos: $1.200
Os cálculos seriam os seguintes:
Ponto de equilíbrio contábil:
Ponto de equilíbrio econômico:
Ponto de equilíbrio financeiro:
Ponto de equilíbrio para múltiplos produtos
Em se tratando de um único produto, ou mais de um produto com margens de
contribuição idênticas, o cálculo do ponto de equilíbrio torna-se uma tarefa bastante
simples. Porém, se houver mais de um produto com margens diferentes, a determinação
do ponto de equilíbrio torna-se mais complexa. Nesses casos, precisamos identificar as
contribuições de cada produto, mas precisaremos também da participação dos produtos
na venda, para então encontrarmos o ponto de equilíbrio.
Vamos ilustrar a situação com base no seguinte exemplo, conforme apresentado na
TAB. 3.
TABELA 3
Ponto de equilíbrio para produtos múltiplos
Produto
Quantidade
Vendida
Preço
Unitário
Custos e
despesas
variáveis
unitários
Margem de
contribuição
unitária
A 100 15 10 5
B 180 22 15 7
C 120 30 18 12
Fonte: adaptado de MEGLIORINI, 2002, p. 158.
Caso os custos e despesas fixos mensais sejam da ordem de $1.600, qual será o ponto de
equilíbrio.
O primeiro passo é calcular a participação relativa de cada produto no total de vendas,
igual a 400 (100 + 180 + 120). Portanto:
Produto A: 100/400 = 0,25;
Produto B: 180/400 = 0,45;
Produto C: 120/400 = 0,30.
Após isso, devemos calcular a margem de contribuição ponderada, que representa a
margem de contribuição relativa à participação de cada produto no total de vendas.
Produto A: 0,25 X 5 = 1,25;
Produto B: 0,45 X 7 = 3,15;
Produto C: 0,30 X 12 = 3,6.
A soma das margens de cada produto ponderadas pela participação nas vendas resulta
em uma margem de contribuição ponderada de $8. Portanto, para atingir o ponto de
equilíbrio, são necessárias vendas de duzentas unidades, ou:
PE: 1.600 / 8 = 200.
A participação relativa de cada produto será então de:
Produto A: 0,25 X 200 = 50;
Produto B: 0,45 X 200 = 90;
Produto C: 0,30 X 200 = 60.
Com os dados de vendas atuais, o ponto de equilíbrio ocorrerá quando forem
comercializadas 50 unidades de A, 90 de B e 60 unidades do produto C. Nessas
condições a margem de contribuição total seria igual a $1.600, proveniente de: (50 X
$5) + (90 X $7) + (60 X $12).
Devemos salientar que outras combinações de vendas gerariam outros pontos de
equilíbrio. Portanto esse cálculo deve ser baseado em séries históricas confiáveis.
Bem, esta aula fica aqui encerrada. Espero você para a próxima. Bons estudos!
Resumo
Na aula de hoje aprendemos o significado de ponto de equilíbrio, que nada mais é do
que o volume de produção, ou vendas, capaz de cobrir custos e despesas fixos.
Para encontrarmos o ponto de equilíbrio, devemos separar os custos e despesas fixos e
dividir o resultado pela margem de contribuição unitária.
Caso exista mais de um produto no mix da empresa, a análise do ponto de equilíbrio é
um pouco mais complexa, e devemos identificar a participação de cada um nas vendas e
depois calcular a margem de contribuição ponderada. Posteriormente, devemos calcular
o volume de cada produto na composição da quantidade de equilíbrio.
Vimos também que existem diversas óticas para análise do ponto de equilíbrio, entre
elas, a contábil, a econômica e a financeira.
Atividades
1. Considere um estacionamento de veículos que tem despesas mensais de:
Aluguel: $35.000,
Salários: $10.000,
Energia Elétrica: $2.000,
Prestações: $3.000
Se o preço cobrado por hora é de $5, e o custo variável unitário, relativo ao seguro do
veículo, é de $1, qual o ponto de equilíbrio?
2. Uma loja comercializa por mês 6.000 calças, 10.000 camisas e 2.000 casacos. Os
preços e custos variáveis unitários são, respectivamente, $30 e $20; $20 e $16; $100 e
$50. Sabendo que os custos e despesas fixos são da ordem de $18.000 mensais, qual o
mix de vendas que define o ponto de equilíbrio? Faça todos os cálculos para depois
conferir com as respostas dadas a seguir.
Respostas:
1. 12.500 horas
2. 540 calças, 900 camisas e 180 casacos.
Aula 27 - Margem de segurança e
alavancagem operacional
Objetivos
• Compreender o conceito de margem de segurança.
• Entender o conceito de alavancagem operacional.
• Aplicar os conceitos às decisões gerenciais.
Introdução
Na aula passada, aprendemos como se calcula o ponto de equilíbrio. Vimos que se trata
do volume de produção que torna iguais receita e custos totais. Portanto mostra o nível
mínimo de atividade para que uma empresa não incorra em prejuízo.
Hoje iremos abordar um assunto complementar, mostrando situações em que a empresa
opera em tal volume que possibilita a ela perder receitas sem incorrer em prejuízo, o que
se denomina margem de segurança.
Veremos também situações em que um aumento de vendas irá aumentar mais que
proporcionalmente o lucro operacional, ao que se denomina alavancagem operacional.
Bastante interessante, não lhe parece? Então vamos lá!!!
Margem de segurança
Já sabemos que o ponto de equilíbrio determina a quantidade que iguala o lucro
operacional a 0, ou iguala receita e custo total. Portanto uma empresa que opera no
ponto de equilíbrio, ou próxima a ele, não se encontra em uma posição muito
confortável.
Por vezes, uma informação útil é saber até que ponto as vendas podem ser reduzidas,
sem levar a empresa ao prejuízo. Esse é o conceito de margem de segurança, segundo
Megliorini (2002), Martins (1998) e Dubois, Kulpa e Souza (2008).
A margem de segurança operacional pode ser calculada pelas fórmulas a seguir:
MSO (absoluta) = número de unidades vendidas – quantidade no ponto de equilíbrio;
Para ilustrar os 2 conceitos, vamos considerar os dados apresentados a seguir.
• Preço unitário de venda: $25
• Custos e despesas variáveis unitários: $15
• Custos e despesas fixos: $20.000
• Volume de vendas: 2.500 unidades
Para calcular a margem de segurança, teremos, inicialmente, que estimar o ponto de
equilíbrio:
PE = 20.000 / (25 – 15) >>> PE = 2.000 unidades.
MSO (absoluta) = 2.500 – 2.000 = 500 unidades.
MSO (relativa) = 500 / 2.500 = 0,2 = 20%.
Concluímos que a empresa, ao produzir 2.500 unidades, possui margem de segurança
absoluta de 500 unidades ou margem de segurança relativa de 20%.
Com isso, podemos dizer que a empresa pode sofrer uma redução de 20% nas vendas e
ainda assim não incorrerá em prejuízo, ou o equivalente, pode perder 500 unidades de
vendas.
A margem de segurança também pode ser calculada em termos de receita, o que resulta
nas mesmas informações, porém em valores monetários. No exemplo anterior, teríamos:
MSO (absoluta) = $62.500 - $50.000 = $12.500
MSO (relativa) = ($62.500 - $50.000) / $62.500 = 0,20.
A margem absoluta de $12.500 corresponde à venda de 500 unidades ao preço unitário
de $25. Da mesma forma, a margem de segurança relativa é de 20%.
Alavancagem Operacional
O conceito de alavancagem, segundo o Dicionário UOL Michaelis
(www.michaelis.uol.com.br) é: “qualquer barra usada para levantar ou mover volumes
pesados”. Trata-se de uma expressão originária da Física, que mostra a capacidade de se
elevar um corpo muito pesado com a utilização da referida barra, isto é, melhorar o
desempenho de quem deve elevar o corpo em questão.
Em termos financeiros e contábeis, alavancagem significa, segundo Gitman (1997), o
uso de ativos ou recursos com custo fixo a fim de aumentar os retornos aos proprietários
da empresa. Normalmente guarda relação direta com risco e retorno: quanto maior a
alavancagem, maior será o risco e o retorno, e vice-versa.
Vamos imaginar uma empresa que opere com determinado volume de custos e despesas
fixos. Nós já sabemos que, se houver um aumento de produção ou de vendas, esses
gastos fixos não serão afetados, isto é, eles permanecerão com os mesmos valores, ao
passo que a receita irá se elevar.
Consequentemente, o lucro operacional, aquele que não considera despesas financeiras
nem tributos, irá sofrer um aumento mais que proporcional. É este o sentido da
alavancagem: aumentar os resultados da empresa com a máxima utilização dos recursos
fixos.
Sendo assim, cabe à empresa avaliar qual o potencial de aumento de lucros diante da
sua estrutura fixa.
Especificamente, a alavancagem operacional é o uso dos custos operacionais fixos para
aumentar os efeitos das mudanças nas vendas sobre os lucros da empresa antes dos juros
e impostos.
Vamos ilustrar com os dados mostrados na TAB. 1
TABELA 1
Demonstração de Resultados
Vendas (unidades) 5.000 10.000 15.000
Receita de vendas 50.000 100.000 150.000
(-) custo operacional
variável
25.000 50.000 75.000
(-) custo operacional fixo 25.000 25.000 25.000
LAJIR (lucro operacional) 0 25.000 50.000
GAO -2,0 --- +2,0
Fonte: GITMAN, 1997, p. 422.
Partindo da situação representada por vendas de 10.000 unidades, temos receita de
$100.000. O custo variável é de $50.000 e o custo fixo é de $25.000, o que resulta num
lucro operacional de $25.000.
Podemos perceber que o aumento de vendas em 50% não provocará nenhuma alteração
no custo fixo. Portanto o lucro operacional vai sofrer um aumento em maior proporção
do que o aumento de vendas.
O cálculo do tamanho da variação no lucro operacional é feito pelo cálculo do grau de
alavancagem operacional.
Segundo Gitman (1987), Megliorini (2002) e Martins (1998), grau de alavancagem
operacional (GAO) é a medida numérica, calculado pela fórmula:
Com base nos dados apresentados, iremos calcular o GAO:
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Aula 16 ate 30

  • 1. Aula 16 - Custeio baseado em Atividades (ABC) Objetivos • Compreender o Custeio Baseado em Atividades. • Entender a metodologia de aplicação do ABC. • Estudar um exemplo de aplicação do Custeio ABC. Introdução Na última aula, aprendemos conceitos relacionados ao Custeio Baseado em Atividades - ABC. Vimos as razões para sua aplicação, vantagens e desvantagens e também um esquema básico de utilização, incluindo as etapas que devem compor o cálculo. Essas etapas são: 1. identificação das atividades e seus respectivos custos; 2. alocação do custo departamental ao custo da atividade; 3. identificação dos direcionadores de custo; 4. divisão do custo da atividade pelo direcionador. Na aula de hoje, usaremos um exemplo para ilustrar a aplicação do ABC. Aplicação do Custeio ABC Vamos inicialmente caracterizar a nossa empresa. É uma indústria de confecção, que produz camisas e calças para ambos os sexos. Utiliza, como insumos diretos, apenas matéria-prima e mão-de-obra, que são consumidos em 2 departamentos produtivos, denominados Departamento de Corte e Departamento de Costura, para a fabricação dos produtos mencionados. Os gastos indiretos são relativos a salários indiretos, nos quais já estão incluídos os encargos sociais e trabalhistas, materiais indiretos como materiais de escritório, materiais de higiene e limpeza, e ainda materiais diretos como aviamentos, mas classificados como indiretos pela dificuldade de alocação direta. Além desses, possui gastos indiretos relativos à depreciação dos equipamentos e das instalações. A empresa já está estruturada em 5 departamentos. Além dos 2 departamentos produtivos, o de Corte e o de Costura, conta também com um Departamento de Compras, um Departamento de Almoxarifado e um Departamento de Planejamento e Controle da Produção - PCP. Os custos diretos de produção, separados por produtos, estão apresentados na TAB. 1. TABELA 1 Custos diretos de produção Tipo de gasto Compras Almoxarifado PCP % camisa % calça
  • 2. Materiais diretos 80.000 120.000 200.000 0,4 0,6 Mão de obra direta 60.000 100.000 160.000 0,375 0,625 Total 140.000 220.000 360.000 Observamos que os custos diretos são divididos entre materiais diretos e mão-de obra- direta. Para a fabricação de camisas, são consumidos $80.000 de materiais diretos, o que equivale a 40%, e os restantes 60%, ou $120.000, são direcionados à produção de calças. Com relação à mão-de-obra direta, a produção de camisas consome $60.000 e a de calças, $100.000, com proporções de 37,5% e 62,5%, respectivamente. Os custos indiretos de fabricação estão apresentados na TAB. 2. TABELA 2 Custos indiretos de fabricação Tipo de gasto Compras Almoxarifado PCP Corte Costura Total Salários indiretos 30000 20000 20000 80000 100000 250000 Materiais indiretos 30000 20000 30000 50000 70000 200000 Depreciação 10000 25000 15000 40000 60000 150000 Total 70000 65000 65000 170000 230000 600000 Observamos que são 3 custos indiretos, que já foram separados por departamentos, conforme registros da empresa. Os custos dos departamentos produtivos, Corte e Costura, são responsáveis por aproximadamente 67% dos custos indiretos totais ($400.000/$600.000), restando os outros 33% para os departamentos auxiliares. O total de custos indiretos supera o total de custos diretos – $600.000 contra $360.000, evidenciando a propriedade do Custeio Baseado em Atividades. No entanto, a título de ilustração e para posterior comparação, realizaremos primeiro a apropriação de custos indiretos por meio de rateio. Podemos nos basear em 3 critérios, a princípio: total de custos diretos, total de materiais diretos e total de mão-de-obra direta. Iremos proceder a 2 rateios, com base em materiais diretos e mão-de-obra direta, os quais estão apresentados nas TAB. 3 e 4. TABELA 3 CIF- materiais diretos CIF/MD Camisa Calça
  • 3. Salários indiretos 100.000,00 150.000,00 Materiais indiretos 80.000,00 120.000,00 Depreciação 60.000,00 90.000,00 Total 240.000,00 360.000,00 O cálculo foi feito da seguinte maneira: A proporção de salários indiretos direcionada à produção de camisas resultou da multiplicação da participação das camisas no consumo de materiais diretos igual a 40%; pelo total dos salários indiretos igual a $250.000, resultando em $100.000. Repetindo os passos para os outros itens, encontramos os valores de $80.000 e $60.000, totalizando $240.000 de custos indiretos aplicados à produção de camisas. Para as calças, basta multiplicar a participação relativa de 60% pelos mesmos valores, para encontrarmos $150.000, $120.000 e $90.000, somando $360.000. A soma das duas alcança $600.000, valor dos custos indiretos de fabricação. Quando utilizamos a participação da mão-de-obra direta para ratear custos indiretos, encontramos os valores mostrados na TAB. 4. TABELA 4 CIF, mão de obra direta CIF/MD Camisa Calça Salários indiretos 93.750,00 156.250,00 Materiais indiretos 75.000,00 125.000,00 Depreciação 56.250,00 93.750,00 Total 225.000,00 375.000,00 Nesse caso, as participações relativas são diferentes, de 37,5% para camisas e 62,5% para calças. Repetindo o raciocínio anterior, encontramos valores de $93.750, $75.000 e $56.250 para serem aplicados na fabricação de camisas, totalizando $225.000. Para a produção de calças, encontramos $156.250, $125.000 e $93.750, alcançando a soma de $375.000. Por esses dois critérios, já são significativas as diferenças, variando entre $225.000 e $240.000 para camisas e entre $360.000 e $375.000 para calças. Qual deles seria mais realista e mais adequado? Vamos agora iniciar a aplicação do Custeio ABC ao nosso exemplo. O primeiro passo deve ser identificar as atividades de cada departamento e de seus respectivos direcionadores. O QUADRO 1 ilustra essas informações.
  • 4. QUADRO 1 Departamentos, atividades e direcionadores de custo Departamento Atividade Direcionador Compras Comprar materiais Nº pedidos Almoxarifado Entregar materiais Nº requisições PCP Controle da produção Horas PCP Corte Corte Horas corte Costura Costura Horas costura O Departamento de Compras executa a atividade de comprar materiais, e o seu direcionador de custos é o número de pedidos atendidos. O departamento de almoxarifado tem a entrega de materiais como atividade, e o número de requisições atendidas como direcionador. O Planejamento e Controle da Produção detém a atividade de controlar a produção e as horas de PCP como direcionadores de custos. O Departamento de Corte executa a atividade de cortar tecidos, e o Departamento de Costura executa a costura como atividade, sendo horas de corte e horas de costura seus direcionadores, respectivamente. Iremos agora alocar às atividades os custos dos departamentos, o que pode ser feito mediante análise dos apontamentos da empresa (essa etapa já foi realizada). Com base nesses apontamentos, encontramos os resultados mostrados na TAB. 2. O próximo passo é definir os direcionadores de custos e seus valores. Os direcionadores apresentados e os seus valores, retirados também dos registros da empresa, são apresentados na TAB. 5. TABELA 5 Direcionadores de custos Direcionadores Camisa Calça Total % camisa % calça Nº pedidos 60 90 150 0,40 0,60 Nº requisições 10 40 50 0,20 0,80 Horas PCP 40 60 100 0,40 0,60 Horas corte 150 50 200 0,75 0,25 Horas costura 70 30 100 0,70 0,30 Podemos finalmente aplicar os custos das atividades aos produtos, resultados apresentados na TAB. 6. TABELA 6 Direcionadores de custos
  • 5. Custos por produto Camisa Calça Comprar materiais 28.000,00 42.000,00 Entregar materiais 13.000,00 52.000,00 Controle produção 26.000,00 39.000,00 Corte 127.500,00 42.500,00 Costura 161.000,00 69.000,00 Total 355.500,00 244.500,00 Observamos que, de um total de 150 pedidos feitos pelo Departamento de Compras, 60 foram para a confecção de camisas e 90 para a de calças, 40% e 60% respectivamente. Aplicando esses percentuais ao custo da atividade (0,4X$70.000 e 0,6X$70.000), encontramos $28.000 para camisas e $42.000 para calças. Quanto ao número de requisições, 10 foram para a produção de camisas e 40 para a de calças, respectivamente 20% e 80%. Fazendo os cálculos, teremos 0,2X$65.000 e 0,8X$65.000, alcançando $13.000 e $52.000, para camisas e calças, respectivamente. Das horas de PCP, 40 foram distribuídas para a fabricação de camisas e 60 para a de calças, o que corresponde a proporções respectivas de 40% e 60%. Aplicando os percentuais, encontramos $26.000 (0,4X$65.000) para camisas e $39.000 (0,6X$65.000) para calças. A confecção de camisas consumiu 75% das horas de corte ou 150 horas, restando 25% para calças, ou 50 horas. Os cálculos indicam custos de $127.500 para camisas (0,75X$170.000) e $42.500 para calças (0,25X$170.000) A atividade costura foi dividida entre 70 horas para a produção de camisa e 30 para a de calças, 70% e 30% respectivamente. Pelos cálculos encontramos $161.000 para camisas (0,7X$230.000) e $69.000 para calças (0,3X$230.000). Os valores totais indicam que os custos indiretos aplicados à produção de camisas alcançam $355.500 e $244.500 para calças. Fazendo um quadro comparativo com os outros dois critérios de rateio elaborados, encontramos os dados da TAB. 7. TABELA 7 Custo total - ABC, rateio por materiais diretos e por mão-de-obra direta
  • 6. Item ABC Material direto Mão-de-obra direta Camisa Calça Camisa Calça Camisa Calça Custo direto 140.000,00 220.000,00 140.000 220.000 140.000,00 220.000,00 Custo indireto 355.500,00 244.500,00 240.000,00 360.000,00 225.000,00 375.000,00 Custo total 495.500,00 464.500,00 380.000,00 580.000,00 365.000,00 595.000,00 Produção 100.000,00 200.000,00 100.000,00 200.000,00 100.000,00 200.000,00 Custo unitário 4,96 2,32 3,80 2,90 3,65 2,98 Os resultados são bastante divergentes. Nos dois critérios de rateio, os custos indiretos tiveram maior peso na produção de calça, ao passo que no ABC a fabricação de camisas recebeu maior volume de recursos. Dividindo o custo total pelo número de unidades produzidas (linha de produção), encontramos o custo unitário. Observamos então que o custo de fabricação de uma camisa é mais que o dobro do que o de uma calça, isso pelo método ABC. Considerando os outros métodos, a produção de camisas é sempre mais dispendiosa, porém a diferença é significativamente reduzida. Considerando que o Custeio Baseado em Atividades utiliza critérios mais racionais, na medida em que emprega direcionadores relacionados ás atividades desempenhadas, podemos imaginar que os dados deste são bem mais confiáveis que os demais. Depois de vermos a aplicação do Custeio ABC, podemos encerrar a aula de hoje. No próximo encontro, teremos uma atividade prática de Custeio ABC. Resumo Vimos como se aplica o ABC. Primeiramente, identificamos as atividades e seus respectivos custos. Depois identificamos os direcionadores de custos e por fim aplicamos os custos indiretos aos produtos. Atividade Como eu já lhe disse, caro aluno, na próxima aula, desenvolveremos um exemplo da aplicação de Custeio ABC. Assim, hoje você está livre de trabalho. Pode descansar um pouco mais para enfrentar bem o desafio da aula que vem. Também não temos referências, já que trabalhamos com um exemplo prático. Até breve! Aula 17 - Custeio Baseado em Atividades (ABC)
  • 7. Objetivos • Rever os conceitos de Custeio Baseado em Atividades • Rever a metodologia de aplicação do ABC • Aplicar o Custeio ABC Introdução Hoje iremos desenvolver uma atividade voltada para a aplicação do Custeio ABC. Vamos inicialmente caracterizar a nossa empresa. É uma indústria que fabrica pré- moldados em concreto, especificamente mourões e postes, o primeiro de formato retangular e o segundo em formato tipo T. Utiliza como insumos diretos areia, brita, cimento, ferragem e mão-de-obra, os quais são consumidos em 2 departamentos produtivos, denominados Departamento de Mistura e Departamento de Prensagem. Os gastos indiretos são relativos a salários indiretos, nos quais já estão incluídos os encargos sociais e trabalhistas, materiais indiretos, como materiais de escritório, materiais de higiene e limpeza, e ainda materiais diretos, como graxas e lubrificantes, energia elétrica, arame para armação, mas classificados como indiretos pela dificuldade de alocação direta. Além desses, há gastos indiretos relativos à depreciação dos equipamentos e das instalações. A empresa já está estruturada em 5 departamentos. Além dos 2 departamentos produtivos, Mistura e Prensagem, conta também com um Departamento de Compras, um Departamento de Almoxarifado e um Departamento de Planejamento e Controle da Produção - PCP. Os custos diretos de produção, separados por produtos, estão apresentados na TAB. 1. TABELA 1 Custos Diretos de Produção Tipo de gasto Mourão Poste Materiais diretos 6.000 4.000 Mão de obra direta 5.000 3.000 Total 11.000 7.000 Os custos indiretos de fabricação estão apresentados na TAB. 2. TABELA 2 Custos indiretos de fabricação Tipo de gasto Compras Almoxarifado PCP Mistura Prensagem Salários indiretos 800 1.400 1.400 1.200 1.200
  • 8. Materiais indiretos 400 600 1.000 3.000 5.000 Depreciação 200 400 1.000 3.000 4.000 Total 1.400 2.400 3.400 7.200 10.200 Sabendo que a empresa fabrica mensalmente 2.000 mourões e 1.000 postes, calcule o custo unitário por produto, segundo o Custeio ABC e os métodos de rateio baseados na mão-de-obra direta e materiais diretos. Vou lhe fornecer a resposta, mas você deve fazer todos os cálculos para se certificar de que aprendeu realmente a fazer as projeções de custos. Isso é fundamental para você como futuro profissional competente. Resposta Item ABC Material direto Mão-de-obra direta Mourão Poste Mourão Poste Mourão Poste Custo direto 11.000,00 7.000,00 11.000,00 7.000,00 11.000,00 7.000,00 Custo indireto 13.430,00 11.170,00 14.760,00 9.840,00 15.375,00 9.225,00 Custo total 24.430,00 18.170,00 25.760,00 16.840,00 26.375,00 16.225,00 Produção 2.000,00 1.000,00 2.000,00 1.000,00 2.000,00 1.000,00 Custo unitário 12,22 18,17 12,88 16,84 13,19 16,23 Aula 18 - Custeio por ordem de produção Objetivos • Conhecer o Custeio por Ordem de Produção. • Discutir a razões que justificam a sua implantação. • Entender a metodologia de aplicação do Custeio por Ordens de Produção Introdução Até o momento não fizemos nenhuma consideração específica sobre o sistema de produção. Implicitamente, estávamos considerando que a produção seria contínua e os produtos homogêneos. Quando falamos de produção contínua, estamos nos referindo a produtos prontos para o consumo, tais como: automóveis, eletro-eletrônicos, alimentos industrializados, entre outros. Em todos eles, há uma linha de produção contínua, cada produto é fabricado com o mesmo número de componentes, respeitando-se as diferenças entre classes de produtos. Porém, em muitos casos, cada produto tem uma configuração própria, de acordo com
  • 9. um pedido específico do cliente. Caso o produto seja comercializado antes da sua elaboração, encontraremos uma situação de produção sob encomenda. É muito comum em algumas indústrias, tais como: siderúrgica, petroquímica e moveleira. Então precisamos aprender outras formas de calcular custos. Custeio por Ordem de Produção Para ilustrar nosso estudo, imagine a fabricação de uma mesa de jantar. O comprador, que pode ser o futuro proprietário do móvel ou um decorador, apresenta a configuração do produto que deseja, por exemplo, fornecendo um desenho, e especifica algumas características como o tipo de madeira, o design, o acabamento, entre outros. O fabricante irá orçar o produto e, caso a negociação se concretize, a produção por encomenda terá início. Na prestação de serviços, podemos encontrar mais exemplos ainda, aliás, a maioria dos serviços tem uma característica peculiar. Uma intervenção cirúrgica, um tratamento ortodôntico, uma consultoria tributária ou gerencial, todas elas têm características próprias, que diferenciam uma prestação de serviço de outra. Para esses casos, a apuração do custo de produção se dará de forma individualizada, por meio de ordem de produção (OP), ou ordem de serviço (OS). Pense na ocasião em que você leva um carro a uma oficina mecânica. Você relata o problema ao consultor; este encaminha o veículo ao mecânico, que realiza o diagnóstico. Assim que o diagnóstico se encerra, um orçamento é preparado e, caso você o aceite, a oficina abrirá uma ordem de serviço, na qual serão anotados todos os itens substituídos, além do tempo em que os mecânicos estiverem ocupados com a reparação do seu carro. Como a negociação ocorre antes da produção, devemos nos preocupar inicialmente em preparar o orçamento do produto a ser comercializado. Etapas da Produção por Ordem Conforme sugerido por Megliorini (2002), algumas etapas devem ser cumpridas para essa finalidade: • 1ª etapa - refere-se ao desenho ou projeto. Se o cliente não o fornecer, o próprio fabricante providenciará um. • 2ª etapa - lista de materiais - baseado no projeto e especificações indicadas pelo cliente, devemos fazer um levantamento dos materiais necessários, bem como de seus custos. (observar a necessidade de compra ou de produção dos materiais). • 3ª etapa - a partir do projeto, das especificações e dos materiais necessários, devemos estimar as horas de fabricação em cada departamento.
  • 10. • 4ª etapa - devemos adicionar aos custos gastos relativos a embalagem, frete, seguro e outros itens pós-fabricação. A FIG. 1 ilustra um orçamento de custos. Orçamento de custos Número Cliente Código Produto Desenho Materiais Código Descrição Quantidade P. liquido P. bruto Custo unit. Custo mat. Custo total dos materiais Serviços executados externamente Descrição do serviço Fornecedor Custo Custo total dos serviços externos Fabricação (mão-de-obra direta e CIF) Departamento Horas orçadas Custo/hora Custo Custo total fabricação Engenharia Atividades Horas orçadas Custo/hora Custo Custo total engenharia Demais custos Descrição Custo Custo total orçado Despesas de vendas Preço de venda ICMS Alíquota IPI Alíquota FIGURA 1 - Orçamento de custos Fonte: MEGLIORINI, 2002, p. 100. Firmado o contrato, para cada produto a ser elaborado devemos abrir uma OP ou OS. Trata-se de um documento que autoriza a fabricação, e nele devem ser registrados mensalmente todos os gastos realizados para a fabricação do produto ou prestação do serviço. A FIG. 2 representa uma ordem de produção. Usina Siderúrgica ABC
  • 11. Ordem de produção Nº Data de abertura Data de entrega Descrição Cliente Material direto consumido Data Descrição Referência Quantidade Valor Mão de obra direta Data Descrição Referência Quantidade Valor Custos indiretos aplicados Data Descrição Referência Quantidade Valor Custo total da ordem FIGURA 2 - Ordem de produção Fonte: BRUNI e FAMÁ, 2002, p. 148. Com o recurso de uma ordem de produção, devemos anotar os gastos referentes a cada item consumido na produção. Para os materiais diretos, a aplicação é razoavelmente simples, pois basta levantar os valores constantes das requisições emitidas pela Produção. Nessas requisições devem constar os dados necessários ao preenchimento da OP, como número, cliente e materiais requisitados. Para a aplicação da mão-de-obra, devemos recorrer à folha de apontamentos. Com base nesses registros, podemos identificar o tempo despendido naquela OP e assim calcular quanto da mão–de-obra deve ser aplicado ao produto. Para tanto, basta multiplicar o número de horas pela taxa horária do custo de mão–de-obra. Com relação aos custos indiretos de fabricação, a apropriação não é tão simples como nos 2 itens anteriores. Por se tratar de materiais indiretos, mão-de-obra indireta e demais gastos, algum critério de rateio deverá ser utilizado. Pode ser usado o rateio com base nos custos diretos, mas, nesse caso, é bastante comum levantar os custos por departamentos, separando os produtivos dos auxiliares. Depois os custos serão apropriados aos departamentos produtivos para depois serem aplicados aos produtos, conforme metodologia já apresentada. Para ilustrar, consideremos a fabricação de um Buffet em mogno, conforme pedido feito pelo cliente Fulano de Tal e sua digníssima esposa, Cicrana de Tal. O proprietário da indústria Móveis Conforto Total levantou os preços dos materiais diretos, conforme descrito abaixo:
  • 12. Tábua de mogno (5mX0,4): $60/ml; Puxadores Veneza: $20 un. O salário do marceneiro, incluindo encargos sociais e trabalhista é de $1.600,00 mensais. Como ele trabalha 160 hora /mês, o custo da hora de mão–de-obra direta é de $10,00. Os custos indiretos são listados abaixo: Materiais indiretos (lixa, verniz, cola): $1.500 Mão-de-obra indireta: $1.500 Depreciação: $1.000 Total $4.000 De posse desses valores, pode-se abrir a OP, conforme ilustrado abaixo, na FIG. 3. Móveis Conforto Total Ordem de produção Nº 3.167 Data de abertura 05/01/2009 Data de entrega 23/01/2009 Descrição Buffet em mogno maciço, 2X0,9X0,6, com 3 portas, duas com uma prateleira e uma com 3 gavetas, puxadores Veneza. Cliente Fulano de Tal Material direto consumido Data Descrição Referência Quantidade Valor 23/01 Tábua mogno NF 136.235 06 360 23/01 Puxador NF 25.632 03 60 Mão de obra direta Data Descrição Referência Quantidade Valor 23/01 Mão de obra Apt. 228 120 1.200 Custos indiretos aplicados Data Descrição Referência Quantidade Valor 23/01 CIF Doc. 52.341 120h 600 Custo total da ordem 2.220 FIGURA 3 – Orçamento de fabricação. Fonte: elaborada pelo autor. Calcular os materiais diretos é bem simples. Basta multiplicar quantidade necessária pelo custo de aquisição: para a madeira, seriam 6 tábuas vezes $60, igual a $360; para os puxadores, 3 vezes $20, resultando em $60. O cálculo da mão-de-obra direta também não é complexo. A hora trabalhada do marceneiro custa $10. Como ele vai dedicar 120 horas à fabricação do móvel, resulta
  • 13. em $1.200. O rateio dos custos indiretos de fabricação pode ser feito com base em diversos critérios. Já que a empresa não possui departamentalização, devemos ratear com base em custos diretos. Escolhemos o rateio baseado na mão-de-obra direta, porque esta representa o maior peso nos custos diretos. Os valores para rateio são assim encontrados: como a empresa possui 5 marceneiros, estima-se um total de horas trabalhadas mensais de 800. Os custos indiretos devem ser então divididos por esse total, ou seja, $4.000/800, o que resulta em $5. Portanto, a cada hora trabalhada por um marceneiro, devemos acrescentar $5 de CIF. No exemplo, os custos indiretos de fabricação serão de 5X120, o que resulta em $600. O custo total de fabricação do móvel será de $2.220 ($420 + $1.200 + $600). Esse valor deverá ser levado aos registros contábeis da empresa. Por hoje é só, vamos ficando por aqui. No próximo encontro, vamos falar do Custo- Padrão. Aguardo você, com muita disposição! Resumo Como algumas vezes as empresas realizam as vendas para depois fabricarem os produtos, é necessária outra metodologia para apropriação de custos. Essa necessidade deriva-se da especificidade de cada item fabricado sob encomenda. Por atender a um pedido único, a apropriação dos custos diretos, especificamente aqueles relativos a materiais diretos e mão-de-obra direta, deve ser feita levando-se em consideração os itens efetivamente consumidos. Essa apropriação é simples e direta, mas, para os custos indiretos de fabricação, algum critério de rateio será necessário. Os métodos tradicionais, como rateio baseado em custos diretos ou departamentalização, atendem bem a esse propósito. Atividades Imagine a fabricação de um móvel sob encomenda e monte a ordem de produção. Repita o passo anterior, agora para a prestação de um serviço, como a pintura de uma residência ou restauração de um objeto de decoração antigo. Aula 19 - Custo-Padrão Objetivos • Conhecer o Custeio Padrão. • Discutir a razões que justificam a sua implantação.
  • 14. • Compreender os critérios para definição dos padrões. • Conhecer a metodologia de aplicação do custo-padrão. Introdução Com a presente aula, daremos início à terceira parte do programa de nossa disciplina, relacionada ao gerenciamento baseado em análise de custos. A apuração de custos, além de atender a exigências legais, também é muito utilizada para fins decisoriais, servindo a diversos objetivos das empresas. Pode ser usada para se estabelecerem as políticas de preço, para a tomada de decisão sobre linhas de produtos, para a avaliação dos processos de produção, identificação de atividades relevantes, ou até mesmo para definição de padrões de custo ou desempenho a serem alcançados. O Custo-Padrão Neste último insere-se a apuração de custo padrão. De acordo com Dubois, Kulpa e Souza (2008, p. 143), “o custo-padrão tem como propósito prefixar um custo ‘meta’ e controlar os custos a priori, isto é, antes que sejam incorridos em produção”. Nesse sentido, o custo-padrão não constitui uma nova metodologia para apuração de custos, mas sim uma técnica que vem a completar os outros métodos já analisados. Ele deve ser usado como meta a ser alcançada e, portanto, constitui na verdade um poderoso subsídio à elaboração do orçamento. Depois de realizada a produção, o custo efetivo será comparado ao custo-padrão, e os possíveis desvios passarão por análise, para identificação de suas causas e consequências. A definição de custo-padrão, entretanto, está sujeita, a princípio, a 2 tipos de classificação: ideal e corrente. Conforme Martins (1998), por custo-padrão ideal devemos entender aquele estabelecido com base em padrões ótimos de utilização de fatores de produção. Portanto o custo- padrão ideal é firmado com base em uma estimativa de utilização dos melhores equipamentos possíveis, mão-de-obra e matéria-prima de primeira qualidade, sem qualquer tipo de ocorrência estranha que venha a paralisar ou interromper o processo produtivo. Trata-se de um custo estabelecido em condições de laboratório, que na verdade distancia-se muito da realidade das linhas de produção. Por outro lado, temos também o custo-padrão corrente, que se refere ao custo estabelecido com base nas reais condições de produção encontradas pela empresa, isto é, leva em consideração todas as possíveis falhas humanas, paralisações de maquinário e perdas de materiais comuns em qualquer linha de produção. Em termos comparativos, enquanto o primeiro seria o custo estabelecido sem nenhuma ocorrência desfavorável, como um experimento de laboratório, o segundo leva em
  • 15. consideração todas as ineficiências passíveis de verificação pela empresa, exceto aquelas que podem ser facilmente eliminadas. As situações nas quais se aplica o custo-padrão são aquelas em que há produção contínua de lotes ou produtos iguais ou no mínimo semelhantes. Em se tratando de produção por encomenda, ou por ordem, o custo-padrão obviamente não se aplica, devido às especificidades de cada item produzido. Objetivos do custo-padrão A implantação do custo-padrão deve servir a algum propósito maior e não pode simplesmente ter um fim em si mesmo. É necessário dotá-lo de algum sentido prático, senão torna-se um investimento inútil. Podemos destacar alguns objetivos para a implantação do custo-padrão: 1. fixar uma base de comparação entre o ocorrido e o que deveria ter ocorrido; 2. fornecer informações para negociação de preços, em casos de entrega futura, especialmente; 3. fornecer bases para acompanhamento de níveis de estoques; 4. fornecer bases para monitorar operações, avaliar desempenho, identificar gargalos e pontos de ineficiência; 5. difundir hábitos relacionados ao registro e controle de gastos de insumos, tanto em termos físicos quanto em termos monetários; 6. criar instrumento de motivação para a equipe. Com relação ao último objetivo, 2 pontos merecem especial atenção. Caso o padrão seja estabelecido em níveis demasiadamente elevados, como o custo ideal, podemos observar um efeito contrário, na medida em que metas praticamente impossíveis de serem alcançadas levam à desmotivação e a um certo descaso, já que se sabe de antemão que nunca serão alcançadas. Por outro lado, caso as metas sejam estabelecidas em níveis razoáveis, baseadas no custo-padrão corrente, acrescido de algumas melhorias, torna-se um desafio, um componente motivacional que tende a potencializar o desempenho operacional. Determinação dos padrões A princípio, a determinação de padrões envolve 2 tipos de mensuração, uma de padrões físicos e outra de padrões monetários. Os padrões físicos serão relacionados ao consumo de materiais diretos e indiretos, mão- de-obra direta, consumo de energia, consumo de água, entre outros. As unidades de medida serão definidas de acordo com o item em questão, podendo ser: unidades de materiais, quilogramas, litros, metros lineares, m2, m3, horas-homem, horas-máquina,
  • 16. kW/h, número de movimentos, etc. Esses indicadores serão de responsabilidade dos departamentos operacionais, como: produção, PCP, desenvolvimento de produtos, CQT, etc. Os padrões monetários correspondem aos custos monetários dos recursos necessários. A responsabilidade de sua apuração recai sobre os departamentos administrativos, como: controladoria, compras, pessoal, etc. Sendo assim, no caso de materiais, devemos definir a quantidade de matéria-prima necessária à fabricação de uma unidade do produto e avaliar o seu custo, ou seja, iremos realizar a seguinte aferição, por exemplo: para a fabricação de uma unidade do produto A são necessários 5 m da matéria-prima Y, com custo de $10/m, totalizando $50. Para o caso de mão-de-obra, o mesmo raciocínio deve ser aplicado. Por exemplo, para a fabricação de uma unidade do produto A são necessárias 2 horas do funcionário Y, com custo de $6/m, totalizando $12. A FIG.1 ilustra as responsabilidades funcionais para o cálculo do custo-padrão. FIGURA 1 - Responsabilidade funcional pelo cálculo do custo-padrão Fonte: BRUNI e FAMÁ, 2002, p. 164. No caso dos custos indiretos de fabricação, devemos lembrar que eles são assumidos para dotar a empresa de capacidade produtiva em sua maior parte, e somente uma
  • 17. pequena parcela é aplicada aos produtos. Sendo assim, a parcela fixa, que é preponderante na maioria dos casos, deve ser estabelecida com base em níveis usuais de utilização da capacidade, por exemplo, horas-máquina. Para a fixação de padrões, o esforço da área técnica deve ser conjugado com o esforço da área administrativa no sentido de definir os valores iniciais, para o que um banco de dados assume importância relevada. Após a determinação dos valores iniciais, ajustes devem ser feitos até que se consigam resultados satisfatórios, os quais precisam também ser revistos periodicamente, como forma de adaptação às mudanças tecnológicas e à própria dinâmica operacional. Análise das variações Sendo o custo-padrão útil primordialmente para a realização de controle, devemos sempre comparar o custo realizado com o custo estimado (custo-padrão). Para tanto, devemos medir as possíveis variações, que podem ocorrer tanto em termos de materiais e mão-de-obra quanto em termos monetários, sendo também comum a conjugação de ambas. Essas variações serão classificadas como favoráveis quando houver uma redução, ou desfavoráveis quando ocorrer uma elevação. Por exemplo, caso tenhamos estimado um gasto de 1.000 unidades de uma matéria- prima, ao custo unitário de $5, prevíamos incorrer em custo total de $5.000. Caso tenhamos efetivamente consumido 1.050 unidades da matéria-prima e o custo tenha atingido $5,10, alcançaríamos um custo total de $5.355, com variação desfavorável de $355. A FIG. 2 ilustra o caso de variações desfavoráveis.
  • 18. FIGURA 2 - Variações no custo-padrão Fonte: BRUNI e FAMÁ, 2002, p. 165. A variação na quantidade pode ser decorrência de diversos fatores, entre os quais pode- se incluir a própria qualidade da matéria-prima, além de aspectos relacionados ao processo de produção. Esse tipo de variação deve ser tido como normal, pois sua ocorrência pode se repetir e o mais importante é estabelecer limites de variação, dentro dos quais toda oscilação seria aceitável. Para o caso de variação monetária, o controle é ainda mais difícil, pois está sujeita a condições externas à empresa, notadamente flutuações de mercado. Caso haja qualquer problema de abastecimento, flutuações de preço deverão ocorrer. Por outro lado, a aquisição de grandes lotes tende a reduzir o custo da matéria-prima e também os custos de transporte, apesar de essa atitude poder também elevar os custos financeiros devido ao investimento em capital de giro e aos custos de estocagem. Portanto, uma análise criteriosa das variações deve ser feita. Não se pode simplesmente culpar os responsáveis pelas respectivas áreas; mais importante é avaliar quais fatores causaram as variações. Esse é um dos propósitos do custo-padrão. Simplesmente estabelecer metas não acarreta todos os benefícios possíveis. Muito mais do que isso, avaliar os desvios, analisar suas causas e conseqüências e identificar as medidas corretivas é que representam os reais benefícios do custo-padrão. Vamos ficando por aqui. Vamos aprender a partir da próxima aula o Custeio Variável. Aguardo você. Resumo Em termos gerenciais, é muito importante comparar os custos com alguns padrões que seriam razoáveis para cada atividade. Na aula de hoje estudamos o custo-padrão. Vimos que não se trata de uma nova metodologia para apuração de custos, mas sim, de uma técnica auxiliar, que estabelece uma meta a ser perseguida. A definição dos padrões deve seguir critérios racionais, porque de nada adianta estabelecer metas impossíveis de se alcançar. As áreas técnicas ficam responsáveis pela determinação dos padrões em unidades físicas, e as áreas administrativas se responsabilizam pelos padrões monetários. Vimos ainda que os padrões nem sempre são alcançados e é muito importante analisar os desvios, suas causas e consequências, como forma de implementar melhorias e corrigir distorções.
  • 19. Atividades 1. Explique a diferença entre custo-padrão ideal e custo-padrão corrente. 2. Dê exemplos de aplicações do custo-padrão. 3. Como devem ser definidos os padrões e a quem cabe essa atividade? 4. Explique a importância da análise das variações. Aula 20 - Custeio Variável Objetivos • Conhecer o Custeio Variável. • Discutir a razões que justificam a sua implantação. • Compreender a metodologia de aplicação do custeio variável. Introdução Até agora, aprendemos alguns métodos de custeio, os quais constituem uma categoria mais ampla denominada custeio por absorção. Em todos eles, os custos indiretos de fabricação eram apropriados aos produtos por meio de um critério de rateio previamente definido. Ou seja, quando se fala em custeio por absorção, está se falando na atribuição de todos os custos, diretos e indiretos, fixos e variáveis, aos produtos elaborados. Custeio por absorção Este sistema apresenta três problemas principais, conforme Martins (1998): • Os custos fixos existem independentemente da fabricação ou não de algum produto. Portanto podem ser considerados como encargos para que a empresa tenha condições de produzir, ao invés de sacrifício para a fabricação de um item específico. • Como não estão relacionados a um produto ou unidade especificamente, são distribuídos com base em algum tipo de rateio, que contém um grau maior ou menor de arbitrariedade. A apropriação é feita com base em algum fator, que na verdade não vincula o custo ao produto. Ao mudarmos o critério de rateio, podemos fazer um produto rentável tornar-se deficitário, ou vice-versa, o que nos leva a concluir que há uma debilidade no método, em termos gerenciais. • O custo fixo unitário depende do volume de produção. Caso as decisões sejam tomadas com base no custo, o volume atual de produção deve ser considerado, tendo em vista que pode diferir do volume tomado como base. Ademais, ao se alterar o volume de fabricação de um produto, os outros terão seus custos alterados, ainda que não tenham sofrido nenhuma modificação. Diante dessas considerações, temos que avaliar a problemática que os métodos de custeio por absorção podem acarretar em relação à apropriação de custos fixos.
  • 20. O exemplo apresentado na TAB. 1 ilustra a situação. Tabela 1 Custo total e custo unitário Níveis de produção Custo total Custo unitário Fixo Variável Total Fixo Variável Total 500 un 30.000 5.000 35.000 60 10 70 1.000 un 30.000 10.000 40.000 30 10 40 1.500 un 30.000 15.000 45.000 20 10 30 Fonte: adaptado de MEGLIORINI, 2002, p. 133. Supondo um custo fixo total de $30.000 e um custo unitário variável de $10, teríamos 3 custos totais unitários: $70, $40 e $30, de acordo com a quantidade produzida. Portanto a existência do custo fixo requer que seja definido a priori o volume de produção, para que as decisões gerenciais possam ser tomadas. Caso o volume de produção efetivo seja diferente do volume previsto, equívocos podem ser cometidos. Por exemplo, ao prever vendas de 1.000 unidades, o preço pode ser fixado com base num custo unitário total de $40; porém, se a vendas não alcançarem o volume previsto, situando-se em 500 unidades, o custo unitário se elevaria para $70, o que pode induzir a empresa a operar deficitariamente. Esse é apenas um dos problemas. Já vimos anteriormente que o critério de rateio induz a um problema semelhante. Tendo-se em vista as considerações anteriores, justifica-se a forma de apropriação conhecida como Custeio Variável, que somente atribui aos produtos os custos variáveis, diretos e indiretos. Os custos fixos serão lançados diretamente nos resultados. Muito embora seja de grande utilidade para fins decisoriais e gerenciais, os Princípios Contábeis (competência e confrontação) não aceitam a elaboração de Demonstração de Resultados do Exercício e Balanço Patrimonial com base no custeio variável. Isto se explica porque as receitas devem ser apropriadas e devem-se deduzir todos os sacrifícios envolvidos para sua obtenção. Portanto, os custos do período devem ser apropriados no próprio período. Como os custos fixos serão responsáveis pela produção futura, não é razoável lançá-los todos em um só momento. Já dissemos anteriormente que a separação entre custos fixos e variáveis constitui uma tarefa muito simples em termos teóricos, mas a realidade apresenta situações um tanto quanto ambíguas. Não é incomum encontrarmos contas que possuem uma parcela fixa e outra variável, que denominamos custos semivariáveis (reveja a aula 2 para se lembrar disso). Podem servir de exemplo as contas de água e energia elétrica, que possuem um custo mínimo,
  • 21. parcela fixa, e outra diretamente proporcional ao volume utilizado, parcela variável. Cabe lembrar que custo semivariável é diferente de custo semifixo, o qual é fixo até um determinado volume de produção, a partir do qual ele sofre uma variação. Ilustra a situação a capacidade instalada de uma fábrica, que possui um limite que, para ser superado, exigiria novas instalações, por exemplo, conforme FIG. 1. FIGURA 1 Custo semivariável e semifixo Fonte: MEGLIORINI, 2002, p. 15 e 16. Com relação aos custos semivariáveis, o procedimento correto é separar a parcela fixa da parcela variável, atribuindo a última aos produtos, e a primeira sendo lançada diretamente no resultado. Resta, no entanto, a grande indagação: como calcular a parte fixa e a variável? Megliorini (2002) apresenta um método para tal separação, denominado método dos pontos máximos e mínimos ou pontos altos e baixos. O método deve ser implementado da seguinte maneira: registra-se a produção de um determinado período de tempo, registrando-se simultaneamente os custos correspondentes. Tomamos os 2 pontos extremos de produção, encontramos os custos correspondentes e, a partir dessas observações, podemos definir o menor valor como custo fixo e a diferença em relação ao maior valor como custo variável.
  • 22. O custo variável unitário será encontrado dividindo-se a diferença de custos pela diferença no volume produzido. Para ilustrar, vamos imaginar um alto forno de uma usina siderúrgica, que deve estar permanentemente ligado, para manutenção da temperatura, mesmo que a produção seja suspensa temporariamente. Dado o início das operações, o consumo de energia elétrica aumenta proporcionalmente ao volume produzido. A TAB.2 apresenta os dados relativos à produção e consumo. TABELA 2 Produção e consumo de energia elétrica Meses Produção (t) Custo ($) Janeiro 1.000 50.000 Fevereiro 1.100 56.000 Março 1.200 62.000 Abril 1.400 74.000 Maio 1.300 68.000 Junho 1.300 68.000 Fonte: elaborada pelo autor. Encontramos o mínimo em janeiro, com produção de 1.000t e custo de $50.000, e o máximo em abril, produção de 1.400t e custo de $74.000. A diferença de custo será de $24.000 ($74.000-$50.000), e a de produção será igual a 400t (1.400t- 1.000t). Portanto o custo variável unitário será igual a $60 ($24.000/400t). Pelo que foi exposto, podemos verificar que o custeio variável tem muitas vantagens em relação ao custeio por absorção. Conforme dito, o método deve ser usado para fins gerenciais, pois a legislação tributária não admite a apuração de resultados com base nele. Algumas das vantagens, conforme Dubois, Kulpa e Souza (2008) e Megliorini (2002), são as seguintes: • o resultado líquido não é afetado por variações nas quantidades produzidas e comercializadas; • há maior facilidade para calcular a contribuição de cada produto para o lucro da empresa; • identificam-se os produtos rentáveis e os não rentáveis; • são fornecidas informações realistas aos gerentes de produção, relacionadas aos custos de sua responsabilidade;
  • 23. • são fornecidas informações para tomada de decisões gerenciais, especialmente com relação ao preço; • permite-se identificar o nível mínimo de atividade que torna o negócio rentável. Apesar dessas vantagens, o custeio variável possui 2 aspectos frágeis, devido à dificuldade de separação entre custos fixos e variáveis e também pela impossibilidade de apuração dos resultados para fins legais. Devemos agora ressaltar que, muito embora sejam tratados, às vezes, os dois conceitos como sinônimos, custeio variável é uma denominação mais adequada do que custeio direto. Vamos relembrar os conceitos: Custo direto Custo direto é aquele que pode ser diretamente aplicado ao produto, ou seja, é possível identificar exatamente quanto do custo de um elemento foi aplicado na produção de um bem. Um bom exemplo é o de matérias-primas. Se para construir uma mesa uma empresa gasta uma chapa de compensado, esse custo pode ser diretamente aplicado ao produto final. Também a mão-de-obra direta ilustra o conceito de forma clara. Para construir essa mesa é necessário 1 dia de trabalho (8 horas) de um marceneiro. Portanto, o salário diário do funcionário constitui um custo direto, isto é, pode ser diretamente aplicado ao custo de produção da mesa. Custo indireto Custo indireto é aquele não passível de aplicação direta ao produto, necessitando, destarte, de um critério de rateio para que seja feita a alocação de custos. Como exemplo, podemos citar os salários da supervisão. Imagine que na fábrica de móveis haja um supervisor para dez marceneiros, cada qual produzindo um tipo de móvel. Sendo assim, o salário do supervisor não pode ser diretamente aplicado ao produto final (mesas, cadeiras, estantes, etc.), mas deve ser rateado entre esses produtos. Custo variável É aquele que varia de acordo com o nível de atividade, isto é, caso o volume de produção (ou de vendas) aumente, o custo também aumentará; caso a produção decresça, o custo também será reduzido. O custo da matéria-prima ilustra com clareza esse conceito. Para aumentar o volume de produção, mais unidades de matéria-prima serão consumidas, portanto o custo irá aumentar. Também serve de exemplo a mão-de-obra direta. Custo fixo Ao contrário do anterior, o custo fixo é aquele que não guarda relação com o volume de atividades, isto é, independentemente do volume de produção o custo não se altera. Obviamente, essa manutenção do custo deve respeitar um certo limite de capacidade,
  • 24. uma vez que não se pode pensar em custo fixo para uma produção infinita. Diversos itens são classificados como custos fixos. O aluguel de uma instalação, a prestação de uma máquina, conta de telefone da fábrica, salários do pessoal da administração, entre outros. Por custeio variável, entendemos aquele em que somente os custos variáveis são aplicados aos produtos, incluindo custos diretos, custos indiretos e também as despesas variáveis. Se falarmos em custeio direto, não estamos nos referindo à aplicação apenas de custos diretos, mas, devido ao nome, tal confusão pode surgir. Por essa razão, o nome custeio variável é preferível ao nome custeio direto. Espero que esta aula tenha sido bem proveitosa para seus conhecimentos. Espero você para nosso próximo encontro. Trarei muitas novidades. Resumo Vimos, na presente aula, outro método de custeio, denominado custeio variável. Ao contrário dos métodos de absorção, o custeio variável não aplica aos produtos os custos fixos, mas tão somente os custos variáveis, diretos e indiretos. As razões que justificam essa nova abordagem recaem sobre as fragilidades do custeio por absorção no que se refere à tomada de decisões. Equívocos podem ocorrer devido a variações no volume de produção e também ao critério utilizado para rateio dos custos fixos. O custeio direto constitui, portanto, uma alternativa para reduzir as inconsistências anteriores, pois vai aplicar aos produtos somente o que foi diretamente consumido na sua produção. Comentamos as principais vantagens do custeio variável, realçando seu aspecto gerencial e listamos também suas principais deficiências. Fizemos posteriormente uma revisão dos conceitos de custos, muito necessária neste momento do aprendizado. Relembramos o que é custo direto, indireto, fixo, variável, semifixo e semivariável. Atividades 1. Descreva as diferenças entre custeio variável e custeio por absorção. Ilustre sua resposta com exemplos. 2. Explique as razões que tornam o custeio por absorção inconsistente, em termos gerenciais. 3. Explique o tratamento que se deve dar aos custos semivariáveis.
  • 25. Aula 21 - Custeio Variável Objetivos • Entender os cálculos do custeio variável. • Perceber as diferenças entre o custeio por absorção e o custeio variável. • Conhecer o conceito de margem de contribuição. Introdução Na aula passada, vimos outra forma de cálculo de custos, denominada Custeio Variável. Sabemos que se trata de uma metodologia que não aplica os custos fixos aos produtos, mas somente os custos variáveis. Vimos ainda que suas principais aplicações são gerenciais, até porque a legislação tributária não permite esse tipo de apropriação para fins de declarações legais. Hoje, iremos apresentar um exemplo de aplicação do Custeio Variável. Vamos descrever a empresa em questão. Aplicação do Custeio Variável Vamos conhecer uma indústria de confecção que produz camisas e calças. Os dados relativos aos produtos são mostrados na TAB. 1 TABELA 1 Dados relativos aos produtos Item Camisa Calça Produção (unid) 10.000 20.000 Matéria-prima 25.000 100.000 Materiais auxiliares 15.000 20.000 Mão de obra direta 40.000 60.000 Total 80.000 180.000 Preço de Venda (unid) 20 20 Como podemos perceber, a produção de camisas é de 10.000 unidades e a de calças é de 20.000 unidades. O consumo de material direto na fabricação de camisas é de $25.000, ao passo que na de calças é de $100.000. Em termos de materiais auxiliares, no caso, aviamentos, gastam-se $15.000 com camisas e $20.000 com calças. A mão-de-obra direta aplicada à produção de camisas atinge o valor de $40.000 e de $60.000 para calças.
  • 26. Somando tudo, o custo de produção de camisas é de $80.000 e o de calças é de $180.000. O preço de venda é idêntico, $20 a unidade, preço determinado pelas condições de mercado, que a empresa espera respeitar. Os custos e despesas fixas incorridos pela empresa são mostrados na TAB. 2. TABELA 2 Custos fixos Custos fixos Depreciação 40.000 Aluguel 60.000 Energia elétrica 50.000 Despesas administrativas 30.000 Despesas comerciais 20.000 Total 200.000 Dentre os custos fixos, apenas energia elétrica poderia ser tida como semivariável, mas vamos imaginar, para simplificar nosso raciocínio, que também caracterize um custo fixo. Ao fazer a apuração de resultados, o empresário vai encontrar a situação relatada na TAB. 3. TABELA 3 Demonstração de Resultados do Exercício Resultado do exercício camisas calças total Faturamento bruto 200000 400000 600000 Custo produção 80.000 180.000 260.000 Lucro bruto 340.000 CIF 200.000 Lucro operacional 140.000 O faturamento e o custo de produção foram apresentados por produto para detalhar o procedimento. Para camisas, temos 10.000 unidades X $20/un., resultando em $200.000; para calças, temos 20.000 unidades X $20, igual a $400.000, com faturamento total de $600.000. O custo de produção, mostrado na TAB. 1, é de $80.000 para camisas e de $180.000 para calças, atingindo o valor de $260.000. O custo fixo é de $200.000, conforme TAB. 2.
  • 27. Fazendo os cálculos, encontramos um lucro operacional de $140.000 ($600.000 - $260.000 – 200.000). Digamos agora que o empresário, no afã de melhorar o desempenho financeiro de seu empreendimento, procura identificar o custo de produção separado por produto. Ele vislumbra a possibilidade de alterar o seu mix de produção e com isso confeccionar o produto mais rentável, já que a alteração de preços é por demais arriscada, dada a concorrência presente no setor. Ele então utiliza um critério de rateio para mensurar o custo de cada produto com mais precisão, imagina ele. Considerando-se expert no assunto, ele analisa os dados sobre custo direto e escolhe o rateio com base na mão-de-obra direta. Essa decisão baseia-se na similaridade da mão-de-obra no custo direto dos dois produtos, o que aparentemente tem lógica, ou seja, já que ela é distribuída de forma mais equilibrada, o rateio nessa base será o que melhor representa a aplicação de custos fixos. Sendo assim, ele calcula o custo de produção, resultado mostrado na TAB. 4. TABELA 4 Custo total - Rateio baseado na proporção de mão-de-obra CIF/MO Camisa Calça Depreciação 16.000 24.000 Aluguel 24.000 36.000 Energia elétrica 20.000 30.000 Despesas administrativas 12.000 18.000 Despesas comerciais 8.000 12.000 Total CIF 80.000 120.000 Custo direto 80.000 140.000 Custo total 160.000 260.000 Custo unitário 16 13 O cálculo foi feito da seguinte maneira: • A participação do material direto empregado na fabricação de camisas é de 40% (40.000/100.000) e de calças é de 60% (60.000/100.000). • Multiplicando 0,4 por $40.000, encontramos $16.000, que corresponde à parcela de depreciação alocada no custo das camisas. Fazendo 0,6 por $40.000, encontramos $24.000, parcela de depreciação alocada no custo de produção da calças. • Repetindo os passos para os demais itens do custo fixo, encontramos o total de $80.000 de custos fixos para camisas e $120.000 para calças.
  • 28. • Somando o total de CIF com o total de custo direto, encontramos para camisas o valor de $160.000 ($80.000 + $80.000) e de $260.000 para calças ($120.000 + $140.000). • Dividindo o custo total pelo número de unidades produzidas, encontramos custo unitário de camisa igual a $16 ($160.000 / 10.000) e $13 para calça ($260.000 / 20.000). Diante desses valores, o empresário toma uma “sábia” decisão imediatamente: “se o preço de todos os produtos é $20, a camisa me custa $16 e a calça me custa $13, vou optar pela fabricação de calças, apenas”. Devemos ainda supor que não existam limitações à fabricação de apenas um produto. Nesse contexto, a decisão parece realmente racional, pois com isso o resultado da empresa iria melhorar. Mas vejamos o que acontece se a produção for unicamente de calças. Os resultados são apresentados na TAB. 5. TABELA 5 Demonstração de Resultados do Exercício - Fabricação de calças Produção única Calças Faturamento bruto 600000 Custo produção 270000 CIF 200000 Lucro operacional 130000 O faturamento bruto ainda é de $600.000 (30.000 unidades X $20/un.), o custo fixo não se altera, permanecendo em $200.000, porém o custo variável vai se modificar. Como eram necessários $180.000 para a confecção de 20.000 calças, para a fabricação de 30.000 unidades serão necessários $270.000, valor que corresponde ao custo de produção lançado na TAB. 5. Apurando o resultado, teremos lucro operacional de $130.000, valor inferior aos $140.000 conseguidos com a fabricação de camisas e calças. O que devemos pensar? Uma decisão bem pensada e tomada com base em critérios técnicos acarreta resultados ruins para a empresa. Caso optasse por ratear os custos fixos com base no material direto, a situação seria diferente, conforme ilustrado na TAB. 6. TABELA 6 Custo total - Rateio baseado na proporção de material direto
  • 29. CIF/MD Camisa Calça Depreciação 8.000 32.000 Aluguel 12.000 48.000 Energia elétrica 10.000 40.000 Despesas administrativas 6.000 24.000 Despesas comerciais 4.000 16.000 Total CIF 40.000 160.000 Custo direto 80.000 140.000 Custo total 120.000 300.000 Custo unitário 12 15 O cálculo é semelhante ao anterior. A participação relativa no consumo de material direto referente à produção de camisas é de 20% (25.000/125.000) e a de calças é de 80% (100.000/125.000). Multiplicando os valores referentes ao custo fixo por essas proporções, encontramos os totais de $40.000 para camisas e de $160.000 para calças. Somando-se esses valores ao custo direto, chegamos a $120.000 e $300.000 para camisas e calças, respectivamente. O custo unitário será de $12 para camisa ($120.000 / 10.000) e de $15 para calça ($300.000 / 20.000). Esse critério levaria o empresário a tomar outra “sábia” decisão, qual seja, a de produzir apenas camisas. Caso optasse por essa linha, os resultados seriam diferentes, conforme mostrado na TAB. 7. TABELA 7 Demonstração de Resultados do Exercício - Fabricação de camisas Produção única camisas Faturamento bruto 600000 Custo produção 240000 CIF 200000 Lucro operacional 160000 O lucro operacional, nessas condições, alcançaria $160.000, superior aos $140.000 conseguidos com a produção mista. A explanação anterior só vem reforçar os comentários acerca da fragilidade do custeio por absorção para fins gerenciais. Por outro lado, realça a importância do custeio
  • 30. variável. Observe você que cada unidade de camisa custa $8 ($80.000/10.000) em termos de custo variável, e cada unidade de calça custa $9 ($180.000/20.000), também de custo variável. Se cada peça é vendida por $20, cada camisa gera um “retorno” de $12 e cada calça um retorno de $11. Se lembrarmos que os custos fixos independem do volume produzido, ou mais, que eles são encargos assumidos pela empresa para tornar possível a produção, vamos entender que eles não são afetados pela quantidade produzida de um ou de outro produto. Portanto, o mais importante é avaliar o quanto cada um deles contribui para a cobertura dos custos fixos. Estamos diante do conceito de margem de contribuição. Segundo Martins (1998), é a diferença entre receita e custo variável. Para Megliorini (2002), é parte restante do preço de venda de um produto, deduzidas as despesas e custos por ele gerados. Diante disso, podemos apresentar os resultados da empresa de uma forma um pouco diferente, conforme ilustra a TAB. 8. TABELA 8 Margem de Contribuição Resultado do exercício camisas calças total Faturamento bruto 200000 400000 600000 Custo produção 80.000 180.000 260.000 Margem de contribuição 120.000 220.000 340.000 Custos fixos 200.000 Lucro operacional 140.000 Apresentado dessa forma, o resultado mostra uma outra visão. Os custos fixos não são relacionados à produção, mas sim, ao funcionamento da empresa, existentes independentemente de a empresa produzir ou não. Portanto os custos provocados pelos produtos são somente os diretos, e por essa razão qualquer critério de rateio possui algum grau de arbitrariedade. Por conseguinte devemos avaliar o quanto cada produto contribui para o pagamento do custo fixo, ou seja, avaliar quanto sobra depois de deduzido do preço de venda o montante de custo necessário à produção. Informações desse tipo são de extrema utilidade nas decisões gerenciais. Voltemos ao caso da modificação do mix de produção. Ao utilizar o critério de rateio, o empresário poderia ter tomado a pior decisão possível, ainda que lhe parecesse a mais racional do mundo. Caso a decisão seja tomada com base na margem de contribuição, esse tipo de erro não aconteceria, ou seja, o produto menos rentável não seria nunca o escolhido.
  • 31. Ademais, a análise da margem de contribuição serve para definição da política de preços e para a avaliação dos custos de cada departamento. Espero que você tenha compreendido muito bem tudo isso que estudamos hoje. São conhecimentos muito importantes para a sua formação geral. Encontramo-nos na próxima aula. Até lá! Resumo Nesta aula, fizemos uma aplicação de custeio variável. Começamos estimando o resultado de uma empresa de confecção que fabrica calças e camisas. Depois de apurado o resultado, fizemos alguns exercícios relativos à apropriação de custos fixos e tomamos decisões gerenciais baseados nelas. Vimos que uma decisão aparentemente racional poderia ter provocado a redução do lucro da empresa. Posteriormente, aprendemos o conceito de margem de contribuição, que é a diferença entre o preço de venda e o custo variável. Ou seja, a margem de contribuição mostra exatamente com quanto cada produto contribui para o lucro da empresa. Atividades Faremos exercícios específicos sobre esse conteúdo na próxima aula. Hoje você vai descansar mais cedo. Aula 22 - Custeio Variável Objetivos • Rever conceitos de Custeio Variável. • Aplicar os cálculos do Custeio Variável. Introdução Vamos rever os conceitos de Custeio Variável na aula de hoje, praticando através de um exercício. Iremos estimar o custo variável, a margem de contribuição de cada produto e avaliar a possibilidade de fabricar apenas um dos produtos. Atividade Vamos inicialmente caracterizar a nossa empresa. É uma indústria que fabrica pré- moldados em concreto, especificamente mourões e postes, o primeiro em formato retangular e o segundo em formato tipo T. Utiliza como insumos diretos areia, brita, cimento, ferragem e mão-de-obra. Os gastos fixos são relativos a: depreciação dos equipamentos e das instalações, aluguel de um galpão e escritório anexo, mão-de-obra indireta, despesas comerciais e despesas
  • 32. administrativas. Os custos diretos de produção, separados por produtos, assim como o apontamento de unidades mensais produzidas, estão apresentados na TAB. 1. TABELA 1 Custos Diretos de Produção Item Mourão Poste Produção (unid) 2.000 1.000 Matéria-prima 7.000 3.000 Materiais auxiliares 3.000 2.000 Mão-de-obra direta 5.000 5.000 Total 15.000 10.000 Preço de Venda (unid) 30 35 Os custos fixos estão apresentados na TAB. 2. TABELA 2 Custos indiretos de fabricação Custos fixos Depreciação 8.000 Aluguel 6.000 Energia elétrica 6.000 Despesas administrativas 4.000 Despesas comerciais 6.000 Total 30.000 Com base nos dados apresentados, • Calcule o resultado da empresa. • Avalie os resultados caso a empresa optasse pela produção de um único produto. • Calcule a margem de contribuição de cada produto e apure o resultado com base no Custeio Variável. Faça tudo que se pede antes de verificar as respostas que lhe forneço em seguida. Isso é muito importante para o seu aprendizado.
  • 33. Respostas Resultado do exercício Mourão Poste total Faturamento bruto 60000 35000 95000 Custo produção 15.000 10.000 25.000 Lucro bruto 70.000 CIF 30.000 Lucro operacional 40.000 Produção única Mourão Poste Faturamento bruto 90000 105000 Custo produção 22500 30000 CIF 30000 30000 Lucro operacional 37500 45000 Resultado do exercício Mourão Poste total Faturamento bruto 60000 35000 95000 Custo produção 15.000 10.000 25000 Margem de contribuição 45.000 25.000 70.000 Custos fixos 30.000 Lucro operacional 40.000 Aula 23 - Aplicação da Margem de Contribuição Objetivos • Relembrar os conceitos de Margem de Contribuição. • Aplicar cálculos de Margem de Contribuição. • Aprender a tomar decisões gerenciais baseadas na Margem de Contribuição. Introdução Na aula 18 aprendemos como se deve calcular o custeio variável e também como se calcula a margem de contribuição. Já sabemos que ela corresponde à diferença entre preço de venda e custo variável, isto é, representa a contribuição de cada produto ao lucro ou, dito de outra forma, a contribuição para a cobertura dos custos fixos. Vimos alguns exemplos que mostraram que decisões baseadas em critérios de rateio podem acarretar resultados negativos, como por exemplo, a mudança do mix de
  • 34. produção baseada em custo total. Hoje iremos avançar nesses tópicos relacionados a decisões gerenciais, mas utilizando o conceito de margem de contribuição. Margem de Contribuição Vamos imaginar uma empresa que possua 3 produtos em sua linha de produção, A, B e C, com as especificações relacionadas na TAB.1. TABELA 1 Produtos, preços, custos e despesas variáveis e margem de contribuição Produtos Preço Custo+despesa variavel Margem contribuição unitária A 25 11,25 13,75 B 42 32,10 9,90 C 32 23,60 8,40 Podemos observar que o produto A tem a maior margem de contribuição, seguido do produto B e depois vem o produto C. A despeito de ser comercializado pelo menor preço, o produto A é o que mais contribui para o lucro da empresa. Visando a uma possível melhoria na lucratividade, o empresário gostaria de avaliar uma modificação no mix de produção que lhe permitisse maiores ganhos. Desde que não haja nenhuma limitação à capacidade produtiva, a escolha deveria ser aumentar a produção daquele que tem a maior margem de contribuição, o produto A. Porém, no presente caso, há uma limitação externa relativa ao fornecimento de matéria- prima. Dadas as especificações técnicas exigidas, o empresário somente consegue adquirir 120.000 quilogramas, volume insuficiente para atendimento da sua demanda, conforme mostra a TAB. 2. TABELA 2 Demanda e matéria-prima consumida. Produtos Demanda Consumo matéria-prima Quantidade materia-prima A 2.000 40 80.000,00 B 800 20 16.000,00 C 3.000 10 30.000,00 Total 126.000,00 Para atender a toda a demanda, seriam necessários 126.000 kg, volume superior ao que a empresa consegue adquirir. Diante dessa restrição, devemos fazer uma opção por qual
  • 35. produto sacrificar. Caso toda a demanda pudesse ser atendida, a margem de contribuição total seria de $60.620 ($13,75X2.000 + $9,9X800 + $8,4x3.000). Contudo esse valor ultrapassa a capacidade da empresa. Não se trata de uma restrição de capacidade instalada, portanto é mais difícil, senão impossível, conseguir uma solução interna. A escolha mais óbvia recai sobre o produto C, que possui a menor margem de contribuição. Outro critério para justificar a decisão poderia se basear no volume de produção diante da quantidade de material necessário, ou seja, ao sacrificarmos o produto C, um número proporcionalmente menor de unidades deixaria de ser produzida. Programando a produção para atender a esse novo mix, encontraremos 2.000 unidades do produto A, 800 do produto B e apenas 2.400 do produto C. Isso porque, descontando a matéria-prima dos 2 primeiros, sobrariam 24.000 kg, suficientes para produzir 2.400 unidades de C. Os resultados com essa nova configuração estão na TAB. 3 TABELA 3 Resultados e margem de contribuição por produto A B C Total Vendas (un.) 2.000 800 2.400 Preço unitário 25 42 32 Receita 50.000 33.600 76.800 160.400 Custo variável unitário 10 30 22 Custo variável total 20.000 24.000 52.800 Despesas variáveis (5%) 2.500 1.680 3.840 Total variável 22.500 25.680 56.640 104.820 Margem de contribuição 27.500 7.920 20.160 55.580 Custos e despesas fixas 25.000 Lucro operacional 30.580 De imediato observamos que a margem de contribuição se reduziu, alcançando agora $55.580 ($13,75X2.000 + $9,9x800 + $8,4x2.400), abaixo do máximo possível de $60.620. Com isso, o lucro da empresa será menor, igual a $30.580, considerando o volume de custos fixos de $25.000. As reduções tanto na margem de contribuição quanto no lucro operacional eram esperadas, já que a empresa não consegue produzir e atender toda a demanda disponível. O resultado alcançado parece o melhor, tendo em vista que a fabricação dos produtos com maior margem foi mantida, reduzindo-se apenas a produção daquele com menor
  • 36. margem de contribuição. Podemos questionar se essa seria a melhor alternativa. Se visualizarmos os volumes requeridos da matéria-prima por unidade produzida, conforme mostrado na TAB. 2, observaremos que o produto A requer 40 kg por unidade, o produto B requer 20 kg e o C, 10 kg. Diante dessa informação, devemos analisar a situação mais uma vez. Ora, vejamos! Se há tal disparidade no consumo da matéria-prima, a manutenção de um produto na linha de produção exige um grande sacrifício de outro. Talvez, a empresa esteja perdendo margens de contribuição, pois, ao maximizar a produção de um, ela limita a de outro. Vamos avaliar outra alternativa. Iremos basear nossa análise na margem de contribuição em termos de matéria-prima consumida, conforme sugerido por Megliorini (2002). A TAB. 4 apresenta os valores. TABELA 4 Margem de contribuição em matéria-prima Produtos Mg cont. Consumo matéria-prima Mg contribuição/mat. prima A 13,75 40 0,3438 B 9,90 20 0,4950 C 8,40 10 0,8400 Ao deixar de produzir uma unidade de A, a empresa pode fabricar duas unidades de B ou quatro unidades de C (40/20 ou 40/10). De acordo com os dados, constatamos que, para cada unidade de matéria-prima aplicada ao produto A, resultará uma margem de contribuição de $0,3438 ($13,75 / 40 kg). Para o produto B, temos a margem de contribuição por unidade de matéria-prima de $0,4950 ($ 9,90 / 20 kg ) e para o C, $0,84 ($8,40 / 10 kg) No resultado por produto, os termos de margens de contribuição seriam: Produto A: 40 kg X 0,3438 = $13,75 (1X13,75 = 13,75) Produto B: 40 kg X 0,4950 = $19,80 (2X $9,9 = $19,80) Produto C: 40 kg X 0,8400 = $33,60 (4 X $8,4 = $33,60). De acordo com os dados acima, observamos que o sacrifício de uma unidade de A, que consome um grande volume de matéria-prima, permite a produção de 2 unidades de B ou 4 unidades de C, resultando em uma margem de contribuição de B igual a $19,80 e de C igual a $33,60. Portanto, quando houver restrições à capacidade produtiva, nem sempre a melhor alternativa irá recair sobre o produto com maior margem de contribuição.
  • 37. Vamos então analisar outra possibilidade, reduzindo a fabricação de A e mantendo a produção dos outros dois, B e C. Os dados apresentados na TAB. 5 ilustram a situação. TABELA 5 Resultados e margem de contribuição por produto A B C Total Vendas (un.) 1.850,00 800,00 3.000,00 Preço unitário 25,00 42,00 32,00 Receita 46.250,00 33.600,00 96.000,00 175.850,00 Custo variável unitário 10,00 30,00 22,00 Custo variável total 18.500,00 24.000,00 66.000,00 Despesas variáveis (5%) 2.312,50 1.680,00 4.800,00 Total variável 20.812,50 25.680,00 70.800,00 117.292,50 Margem de contribuição 25.437,50 7.920,00 25.200,00 58.557,50 Custos e despesas fixas 25.000,00 Lucro operacional 33.557,50 Como os produtos B e C serão fabricados para atender completamente a demanda, o consumo de matéria-prima irá atingir 46.000 kg, restando 74.000 kg para a fabricação de A. Consequentemente, serão produzidas 1.850 unidades ou 74.000/40. Refazendo os cálculos, encontramos uma margem de contribuição total de $58.557,50 ($13,75X1.850 + $9,9X800 + $8,4X3.000), e o lucro operacional de $33.557,50. Esses resultados estão ainda abaixo do que seria alcançado com o atendimento pleno da demanda, mas, como a restrição é externa, a empresa pouco pode fazer, devendo adequar sua capacidade com vistas a alcançar o melhor desempenho operacional e financeiro. Será que você entendeu tudo bem direitinho? Espero que sim. Refaça todos os cálculos se você ainda tiver alguma dúvida. Espero você para nossa próxima aula! Resumo Vimos hoje como pode ser aplicado o estudo das margens de contribuição para fins decisoriais. Partindo de uma situação hipotética, em que uma empresa pode fabricar 3 produtos, com margens de contribuição diferentes, avaliamos quais efeitos teríamos caso houvesse alguma restrição relativa à produção. Analisamos especificamente o caso em que a oferta de matéria-prima é restrita, ou seja, para atender toda a demanda, a empresa necessita de um volume maior do que o
  • 38. fornecedor pode oferecer. Diante desse quadro, o mix de produção deve ser revisto, com a produção em menor escala de um dos 3 produtos. A escolha mais óbvia recairia sobre a redução na quantidade produzida daquele que tiver a menor margem de contribuição. Porém, essa decisão, aparentemente racional, não produz o melhor resultado. Vimos que, sob condições de restrição, o fator limitante deve conduzir a decisão. No exemplo, dado que a produção de A consumia um volume elevado de matéria-prima relativamente aos outros dois produtos, a redução daquele e o atendimento pleno dos outros 2 geraria melhores resultados. Atividades Mais adiante,faremos exercícios sobre restrições de capacidade produtiva. Por ora, imagine uma indústria de produtos alimentícios sujeita a restrições no fornecimento de matéria-prima, como por exemplo, uma fábrica de sucos de laranja. Se ela produz suco concentrado e refresco, gastando 5 vezes mais unidades de matéria-prima para a produção do primeiro e sendo a margem de contribuição do primeiro apenas o dobro, qual seria a melhor opção caso não consiga adquirir o volume de laranja suficiente para produzir a plena capacidade? Justifique sua resposta. Aula 24 - Aplicação da Margem de Contribuição Objetivos • Rever conceitos de Margem de Contribuição. • Aplicar cálculos de Margem de Contribuição. • Verificar como tomar decisões gerenciais baseadas na Margem de Contribuição. Introdução Vamos hoje avaliar outra situação em que o cálculo da margem de contribuição pode representar uma decisão vantajosa. Na última aula, fizemos algo dessa natureza, ao avaliar as possíveis combinações de produção de uma empresa sujeita à restrição na capacidade produtiva ditada por limitação de fornecimento de matéria-prima. Somente para recordar, a decisão aparentemente mais racional – privilegiar a fabricação do produto que apresenta a maior margem de contribuição – não foi a mais sensata. Tal fato deveu-se à grande utilização de matéria-prima pelo produto que tinha a maior margem. Sendo assim, a sua produção plena sacrificava a fabricação de muitas unidades de outros itens com margens unitárias menores que, no entanto, gerariam margem de contribuição total superior, em se considerando sua produção plena. Nesta aula, avaliaremos outra situação, relacionada à existência de capacidade ociosa.
  • 39. Nesse caso, a fábrica não opera com sua capacidade plena, e a margem de contribuição pode ser de grande utilidade ao se tomar uma decisão relativa à negociação de uma encomenda, em condições especiais. Aplicação da Margem de Contribuição Vamos inicialmente caracterizar a nossa empresa. Trata-se de uma usina siderúrgica que fabrica um único produto, vendido primordialmente no mercado nacional, mas que possui capacidade de exportação. Essa fábrica opera atualmente com elevada capacidade ociosa, pois produz e comercializa apenas 50.000 toneladas, volume muito abaixo do limite máximo de 70.000 toneladas. As informações relativas a preço e custos são mostradas na TAB. 1. TABELA1 Preço e custo de produção. Item Valores Custo fixo de produção 400.000 Custo variável de produção 15/t Despesa fixa 100.000 Despesa variável (comissões) 1/t Despesa variável (impostos) 2/t Preço de venda 40/t Como foi mostrado, o custo fixo é de $400.000 e a despesa fixa é de $100.000, ao passo que o custo variável é de $15/tonelada. A empresa incorre ainda em despesa variável de $1/tonelada relativa à comissão, e de $2/tonelada relativa aos impostos. O preço de venda é de $40, fixado como meta para alcançar o lucro estipulado pela diretoria. Os resultados da empresa são apresentados na TAB. 2. TABELA 2 Demonstração de resultados Item Valores Receita 2.000.000 Custo dos produtos vendidos 1.150.000 Custo variável 750.000 Custo fixo 400.000 250.000 Despesas
  • 40. Despesa fixa 100.000 Despesa variável (comissões) 50.000 Despesa variável (impostos) 100.000 Lucro líquido 600.000 A fixação do preço obedeceu ao seguinte critério: como o lucro-meta estipulado era de $600.000, seriam necessários $2.000.000 de receita, diante do total de custos e despesas da ordem de $1.400.000. Com a produção de 50.000 toneladas, o preço foi então fixado em $40. Tal preço também condiz com a realidade de mercado. O custo variável de $750.000 resulta da multiplicação do custo variável unitário de $15 pelo volume produzido, 50.000 toneladas. As despesas variáveis de comissões são iguais a $50.000 ($1 X 50.000), e as de impostos são iguais a $100.000 ($2 X 50.000), alcançando $150.000. Suponhamos agora que a empresa receba uma proposta para fabricar 20.000 toneladas, destinadas a um cliente de outro país. Porém a oferta do cliente externo, a princípio, não se mostra atrativa, pois o preço sugerido é de $25/tonelada. A diretoria se reúne para avaliar a situação, e um dos membros sugere um levantamento para avaliação do real custo de produção. Recorrendo aos dados apresentados na TAB. 3, o custo é estimado. TABELA 3 Custo de produção Item Valor Custo variável 750.000 Custo fixo 400.000 Despesa fixa 100.000 Despesa variável (comissões) 50.000 Despesa variável (impostos) 100.000 Custo total 1.400.000 Volume produzido 50.000 Custo unitário 28 Como era esperado, a negociação não se mostra atraente, pois o preço oferecido é inferior ao custo de produção – $25 e $28, respectivamente. A negativa era iminente, já que a produção levaria a empresa a incorrer em prejuízo. Porém um dos diretores, responsável pela análise de custos, ponderou que seriam necessárias novas avaliações. Justificou sua posição alegando que o maior volume de produção iria reduzir o custo fixo unitário e, ademais, por ser o cliente do mercado externo, não haveria cobrança do imposto, devido à isenção tributária para esse tipo de operação.
  • 41. Com base nessa ponderação, o diretor financeiro apresentou um novo quadro de resultados, contendo o seu raciocínio sobre o assunto, conforme apresentado na TAB. 4. TABELA 4 Demonstração de resultados Item Valores Receita 2.500.000 Vendas domésticas 2.000.000 Vendas externas 500.000 Custo dos produtos vendidos 1.450.000 Custo variável 1.050.000 Custo fixo 400.000 Despesas 270.000 Despesa fixa 100.000 Despesa variável (comissões) 70.000 Despesa variável (impostos) 100.000 Lucro líquido 780.000 A receita atingiria $2.500.000, fruto de $2.000.000 ($40 X 50.000) relativos a vendas internas e $500.000 de exportações ($25 X 20.000). Os custos variáveis agora seriam de $1.050.000, correspondendo à multiplicação de $15 por 70.000. Somando-se isso ao custo fixo de $400.000, atingiria o total de $1.450.000. A despesa variável de comissões agora passaria a $70.000 ($1 X 70.000), a despesa com impostos permaneceria a mesma, $100.000 ($2 X 50.000), pois não haveria incidência tributária nas exportações. Adicionando a despesa fixa de $100.000, alcançamos o valor de $270.000. O total de custos e despesas atinge $1.720.000, o que resulta num lucro operacional de $780.000. Esse valor é muito superior aos $600.000 da situação inicial. Portanto a análise feita puramente com o preço comparado ao custo total de produção levaria a empresa a deixar de obter um volume substancial de lucro. Mas foi essa análise que permitiu a atitude competente do diretor financeiro ao apresentar uma nova forma de ver a situação. Se avaliarmos o custo de produção na segunda demonstração, será que o preço proposto pelo cliente externo seria razoável? Vamos conferir, conforme a TAB. 5. TABELA 5 Custo de produção
  • 42. Item Valor Custo variável 1.050.000 Custo fixo 400.000 Despesa fixa 100.000 Despesa variável (comissões) 70.000 Despesa variável (impostos) 100.000 Custo total 1.720.000 Volume produzido 70.000 Custo unitário 24,57 Repetindo o raciocínio anterior, temos um custo total de $1.720.000, o que, dividido por 70.000 toneladas, resulta em $24,57/tonelada. Ainda assim, o preço mostra-se pouco atraente. O que permite avaliar a atratividade da venda externa é simplesmente a análise da margem de contribuição, de acordo com a TAB. 6. TABELA 6 Margem de contribuição Item Valor Preço de venda 40/t Custo variável de produção 15/t Despesa variável (comissões) 1/t Despesa variável (impostos) 2/t Margem de contribuição unitária 18/t Ao avaliarmos as margens, observamos que cada produto para o mercado doméstico tem custo variável de $18, o que garante margem unitária de $22, dado o preço de $40. Quando se trata do mercado externo, a margem ainda é um pouco menor, pois atinge $8, considerando o preço de $25, devido à não incidência de impostos. Em suma, elaborando o quadro sintético apresentado na TAB. 7, podemos detalhar a aplicação das margens de contribuição para fins decisoriais. TABELA 7 Margens de contribuição Item Interno Externo Total
  • 43. Vendas (un.) 50.000 20.000 Preço unitário 40 25 Receita 2.000.000 500.000 2.500.000 Custo variável unitário 15 15 Custo variável total 750.000 300.000 Comissões 50.000 20.000 Impostos 100.000 0 Total despesas variáveis 150.000 20.000 Variável total 900.000 320.000 1.220.000 Margem de contribuição 1.100.000 180.000 1.280.000 Custos e despesas fixas 500.000 Lucro operacional 780.000 Observamos que, a despeito do menor preço de venda, com custo praticamente igual ao preço de venda, como mostrado anteriormente, o produto destinado ao mercado externo ainda é capaz de gerar margem de contribuição de $180.000, o mesmo valor de incremento no lucro da empresa, comparando as duas situações. Em síntese, o custo fixo já está completamente comprometido e não deve fazer parte desse tipo de análise. Não devemos desconsiderá-lo, porque ele deve ser avaliado no final, para sabermos se a soma das margens é suficiente para cobrir o total de custos e despesas fixas, mas a sua aplicação aos produtos muitas vezes leva a equívocos, especialmente em relação à política de preços. Resumo Nesta aula, avaliamos como a capacidade ociosa deve ser levada em consideração em determinadas situações. Por exemplo, caso a empresa esteja negociando uma encomenda, a utilização plena da capacidade poderá fazer com que o custo unitário se reduza, levando a empresa a aceitar um preço aparentemente inferior ao custo. Atividades Hoje você está livre de mais atividades. Na próxima aula vamos analisar um exemplo sobre aplicação de margem de contribuição. Reveja os conceitos e até breve. Aula 25 - Aplicação da Margem de Contribuição Objetivos
  • 44. • Rever conceitos de Margem de Contribuição • Aplicar cálculos de Margem de Contribuição • Verificar como tomar decisões gerenciais baseadas na Margem de Contribuição Introdução Olá, meu caro aluno. Tem estudado bastante? Espero que sim, pois, como prometemos na última aula, nesta desenvolveremos uma atividade prática. Resolva o exercício que lhe proponho com bastante atenção. Ele vai ajudá-lo em sua prática profissional. Vamos lá?! Atividade Uma churrascaria rodízio atende 15.000 clientes por mês, sendo 80% no horário de almoço e 20% no jantar, cobrando o preço unitário de $40,00. Os custos são os seguintes: • custos operacionais fixos (aluguel, energia elétrica) $200.000 • despesas fixas com mão-de-obra $100.000 • custos variáveis / cliente $16,00 A gerência entende que a margem de lucro está baixa, porém não cogita a possibilidade de elevação do preço, fixado de acordo com as condições do mercado e preço dos concorrentes. Sabendo que a capacidade de atendimento no horário de almoço não é plenamente utilizada, a gerência analisa duas opções para aumentar a lucratividade: • Redução no preço para $35,00, em todos os horários, com aumento previsto do número de clientes para 18.000, com a mesma distribuição proporcional; • Manutenção do preço no almoço e promoção especial para jantares, ao preço de $30,00, com aumento de 100% do número de clientes nesse horário e manutenção nos outros. Qual alternativa seria mais rentável para a empresa? Vou lhe fornecer a resposta, mas você deve desenvolver todo o raciocínio e as contas para comprovar os resultados, ok? Resposta atual preço (35) promoção Receita 600000 630000 660000 custo variável 240000 288000 288000 lucro bruto 360000 342000 372000 energia eletrica 120.000 120.000 120.000 aluguel 80.000 80.000 80.000
  • 45. mão-de-obra (fixa) 100.000 100.000 100.000 lucro operacional 60.000 42.000 72.000 Aula 26 - Análise Custo-Volume-Lucro Objetivos • Rever conceitos de Margem de Contribuição. • Entender o conceito de ponto de equilíbrio. • Avaliar os efeitos das variações de preço e quantidade no ponto de equilíbrio. Introdução Até o momento vimos diversos conceitos relacionados a receitas e custos. Já aprendemos como separar custos de despesas, como classificar custos em diretos e indiretos ou em fixos e variáveis. Estudamos ainda como podemos ratear os custos fixos, aplicando-os aos produtos. Posteriormente, vimos uma abordagem distinta, que envolve o cálculo dos custos variáveis, ficando todos os gastos fixos para lançamento nos resultados. Nessa esteira, aprendemos também como aplicar o custeio variável para fins gerenciais, por meio do cálculo da margem de contribuição. Para tanto, estudamos possíveis limitações na capacidade produtiva e também a existência de capacidade ociosa. Hoje iremos avançar um pouco mais nesta matéria, estudando qual a relação entre custos, receitas e lucro. A relação entre custos e receitas Vamos imaginar uma empresa que opera sob determinadas condições. Nós já sabemos que ela possui custos e despesas que são fixos, isto é, independem da quantidade produzida. Em se tratando de empresas comerciais, deveríamos nos referir à quantidade comercializada, porém iremos nos reportar a empresas industriais, por isso citaremos quantidade produzida, volume de produção, etc., aliás, como tem sido nas aulas anteriores. Além dos custos e despesas fixas, a empresa arca também com custos e despesas variáveis, que são proporcionais ao volume produzido. Somando os dois tipos, encontramos o custo total. Sendo parte desse custo independente do volume de produção, a margem de contribuição de certa quantidade de produto será destinada para que essa parcela fixa seja coberta. A partir desse ponto, o restante da produção começa a contribuir para a geração de lucro para a empresa. Ponto de equilíbrio
  • 46. Portanto o ponto de equilíbrio pode ser definido, segundo Megliorini (2002), como sendo aquele em que a empresa não obtém nem lucro nem prejuízo, ou seja, as receitas se igualam ao custo total. Baseados nas informações listadas na TAB. 1, vamos desenvolver o conceito. TABELA 1 Custo e receita totais Quantidade Custo fixo Custo variável Custo total Rec. total saldo 0 20 0 20 0 -20 1 20 4 24 8 -16 2 20 8 28 16 -12 3 20 12 32 24 -8 4 20 16 36 32 -4 5 20 20 40 40 0 6 20 24 44 48 4 7 20 28 48 56 8 8 20 32 52 64 12 9 20 36 56 72 16 10 20 40 60 80 20 Fonte: adaptado de MEGLIORINI, 2002, p. 153. Observamos que a quantidade produzida pode variar de 0 a 10, mas o custo fixo não se altera em todo esse intervalo, permanecendo igual a $20. O custo variável é de $4 por unidade produzida e vai aumentando proporcionalmente. Somando os dois valores, encontramos o custo total. A receita cresce de acordo com as unidades comercializadas, sendo igual a $8 a receita unitária. Fazendo a subtração receita total menos custo total, encontramos o saldo. Podemos perceber que até certo ponto, o saldo é negativo, alcança o valor 0 e depois passa a apresentar valores positivos. O ponto de equilíbrio é encontrado exatamente quando o saldo torna-se 0, ou seja, quando as receitas são suficientes apenas para cobertura do custo total. Podemos ver a representação do ponto de equilíbrio na FIG. 1
  • 47. FIGURA 1 - Ponto de equilíbrio Fonte: MEGLIORINI, 2002, p. 154. De acordo com os dados e com a representação gráfica, observamos que, até o volume de produção de 5 unidades, o custo supera a receita. Com produção de 0, a receita é 0 e o custo é de $20. Com uma unidade de produção, a receita atinge $8, o custo total atinge $24 e o saldo é negativo em $16. Até o nível de produção igual a 4 unidades, o saldo negativo se repete. A partir do volume de produção de 5 unidades, a receita começa a superar o custo. Com 6, o custo total é $44 e a receita é de $48, restando um saldo positivo de $4. Volumes maiores de produção irão resultar em saldos positivos crescentes. Portanto o ponto de equilíbrio ocorre exatamente quando a produção atingir 5 unidades, com receita e custo totais equivalentes a $40. Vamos agora definir matematicamente o ponto de equilíbrio. Já sabemos que ele será alcançado quando receita total menos custo total for igual a 0. Podemos escrever PE = RT – CT = 0, ou seja, o ponto de equilíbrio ocorre quando o lucro operacional é igual a 0, ou LAJIR = 0. Considerando: • RT = p X Q • CT = CT + (v X Q); em que • RT = receita total; • CT = custo total • p = preço unitário de venda;
  • 48. • Q = quantidade de venda; • F = custo operacional fixo por período; • v = custo operacional variável por unidade. Fazendo lucro operacional igual a zero, teremos • LAJIR = RT – CT • LAJIR = (p * Q) – F – (v * Q) • LAJIR = Q * (p – v) – F desde que LAJIR = 0, temos: • Q = F / (p – v), ou; • Portanto ponto de equilíbrio é igual à razão entre custo fixo total e margem de contribuição unitária. No exemplo anterior, teríamos: Portanto o ponto de equilíbrio ocorre quando a produção atingir 5 unidades, como já havíamos visto na TAB. 1 e na representação gráfica. Analisando sob a ótica da análise de margem de contribuição, teríamos os resultados apresentados na TAB. 2. TABELA 2 Margem de Contribuição Item / Volume produção 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Receita 0 8 16 24 32 40 48 56 64 72 80 Custos e despesas variáveis 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 Margem de contribuição 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 Custos e despesas fixas 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 Lucro operacional -20 -16 -12 -8 -4 0 4 8 12 16 20 Podemos observar que o ponto de equilíbrio ocorre quando a margem de contribuição total for igual ao custo fixo total. No exemplo, quando a produção atinge 5 unidades, a margem de contribuição total é igual a $20 {5 X (8-4)}, valor idêntico ao custo fixo total. Conceitos de ponto de equilíbrio
  • 49. Dependendo do tipo de análise a ser feita, mais de uma situação em que se verifica o equilíbrio pode existir, conforme Martins (1998) e Megliorini (2002). Usualmente, 3 tipos de equilíbrio são encontrados: contábil, econômico e financeiro. Ponto de equilíbrio contábil: situação em que a margem de contribuição total é suficiente para cobrir todos os custos e despesas fixos. Corresponde ao ponto de equilíbrio estudado anteriormente. Ponto de equilíbrio econômico: nesse caso, também será considerado como custo a ser coberto pelas receitas o custo de oportunidade do capital investido, que corresponde à remuneração da melhor alternativa de investimento. Ou seja, a receita deve ser capaz também de cobrir o rendimento do capital investido. Ponto de equilíbrio financeiro: os gastos quem não geram desembolsos não devem ser incluídos no cálculo, ou seja, não levamos em consideração a depreciação embutida nos custos e despesas fixos. Porém os desembolsos não incluídos, como amortizações de empréstimos, devem ser incluídos neste cálculo. Para ilustrar os 3 conceitos, vamos considerar os dados apresentados a seguir. • Preço unitário de venda: $25 • Custos e despesas variáveis unitários: $15 • Custos e despesas fixos: $20.000 • Depreciação (incluída no item anterior): $2.000 • Patrimônio líquido: $40.000 • Rendimento esperado: 10% ($4.000) • Amortização de empréstimos: $1.200 Os cálculos seriam os seguintes: Ponto de equilíbrio contábil: Ponto de equilíbrio econômico: Ponto de equilíbrio financeiro: Ponto de equilíbrio para múltiplos produtos
  • 50. Em se tratando de um único produto, ou mais de um produto com margens de contribuição idênticas, o cálculo do ponto de equilíbrio torna-se uma tarefa bastante simples. Porém, se houver mais de um produto com margens diferentes, a determinação do ponto de equilíbrio torna-se mais complexa. Nesses casos, precisamos identificar as contribuições de cada produto, mas precisaremos também da participação dos produtos na venda, para então encontrarmos o ponto de equilíbrio. Vamos ilustrar a situação com base no seguinte exemplo, conforme apresentado na TAB. 3. TABELA 3 Ponto de equilíbrio para produtos múltiplos Produto Quantidade Vendida Preço Unitário Custos e despesas variáveis unitários Margem de contribuição unitária A 100 15 10 5 B 180 22 15 7 C 120 30 18 12 Fonte: adaptado de MEGLIORINI, 2002, p. 158. Caso os custos e despesas fixos mensais sejam da ordem de $1.600, qual será o ponto de equilíbrio. O primeiro passo é calcular a participação relativa de cada produto no total de vendas, igual a 400 (100 + 180 + 120). Portanto: Produto A: 100/400 = 0,25; Produto B: 180/400 = 0,45; Produto C: 120/400 = 0,30. Após isso, devemos calcular a margem de contribuição ponderada, que representa a margem de contribuição relativa à participação de cada produto no total de vendas. Produto A: 0,25 X 5 = 1,25; Produto B: 0,45 X 7 = 3,15; Produto C: 0,30 X 12 = 3,6. A soma das margens de cada produto ponderadas pela participação nas vendas resulta em uma margem de contribuição ponderada de $8. Portanto, para atingir o ponto de equilíbrio, são necessárias vendas de duzentas unidades, ou: PE: 1.600 / 8 = 200. A participação relativa de cada produto será então de:
  • 51. Produto A: 0,25 X 200 = 50; Produto B: 0,45 X 200 = 90; Produto C: 0,30 X 200 = 60. Com os dados de vendas atuais, o ponto de equilíbrio ocorrerá quando forem comercializadas 50 unidades de A, 90 de B e 60 unidades do produto C. Nessas condições a margem de contribuição total seria igual a $1.600, proveniente de: (50 X $5) + (90 X $7) + (60 X $12). Devemos salientar que outras combinações de vendas gerariam outros pontos de equilíbrio. Portanto esse cálculo deve ser baseado em séries históricas confiáveis. Bem, esta aula fica aqui encerrada. Espero você para a próxima. Bons estudos! Resumo Na aula de hoje aprendemos o significado de ponto de equilíbrio, que nada mais é do que o volume de produção, ou vendas, capaz de cobrir custos e despesas fixos. Para encontrarmos o ponto de equilíbrio, devemos separar os custos e despesas fixos e dividir o resultado pela margem de contribuição unitária. Caso exista mais de um produto no mix da empresa, a análise do ponto de equilíbrio é um pouco mais complexa, e devemos identificar a participação de cada um nas vendas e depois calcular a margem de contribuição ponderada. Posteriormente, devemos calcular o volume de cada produto na composição da quantidade de equilíbrio. Vimos também que existem diversas óticas para análise do ponto de equilíbrio, entre elas, a contábil, a econômica e a financeira. Atividades 1. Considere um estacionamento de veículos que tem despesas mensais de: Aluguel: $35.000, Salários: $10.000, Energia Elétrica: $2.000, Prestações: $3.000 Se o preço cobrado por hora é de $5, e o custo variável unitário, relativo ao seguro do veículo, é de $1, qual o ponto de equilíbrio? 2. Uma loja comercializa por mês 6.000 calças, 10.000 camisas e 2.000 casacos. Os preços e custos variáveis unitários são, respectivamente, $30 e $20; $20 e $16; $100 e $50. Sabendo que os custos e despesas fixos são da ordem de $18.000 mensais, qual o mix de vendas que define o ponto de equilíbrio? Faça todos os cálculos para depois conferir com as respostas dadas a seguir. Respostas:
  • 52. 1. 12.500 horas 2. 540 calças, 900 camisas e 180 casacos. Aula 27 - Margem de segurança e alavancagem operacional Objetivos • Compreender o conceito de margem de segurança. • Entender o conceito de alavancagem operacional. • Aplicar os conceitos às decisões gerenciais. Introdução Na aula passada, aprendemos como se calcula o ponto de equilíbrio. Vimos que se trata do volume de produção que torna iguais receita e custos totais. Portanto mostra o nível mínimo de atividade para que uma empresa não incorra em prejuízo. Hoje iremos abordar um assunto complementar, mostrando situações em que a empresa opera em tal volume que possibilita a ela perder receitas sem incorrer em prejuízo, o que se denomina margem de segurança. Veremos também situações em que um aumento de vendas irá aumentar mais que proporcionalmente o lucro operacional, ao que se denomina alavancagem operacional. Bastante interessante, não lhe parece? Então vamos lá!!! Margem de segurança Já sabemos que o ponto de equilíbrio determina a quantidade que iguala o lucro operacional a 0, ou iguala receita e custo total. Portanto uma empresa que opera no ponto de equilíbrio, ou próxima a ele, não se encontra em uma posição muito confortável. Por vezes, uma informação útil é saber até que ponto as vendas podem ser reduzidas, sem levar a empresa ao prejuízo. Esse é o conceito de margem de segurança, segundo Megliorini (2002), Martins (1998) e Dubois, Kulpa e Souza (2008). A margem de segurança operacional pode ser calculada pelas fórmulas a seguir: MSO (absoluta) = número de unidades vendidas – quantidade no ponto de equilíbrio; Para ilustrar os 2 conceitos, vamos considerar os dados apresentados a seguir.
  • 53. • Preço unitário de venda: $25 • Custos e despesas variáveis unitários: $15 • Custos e despesas fixos: $20.000 • Volume de vendas: 2.500 unidades Para calcular a margem de segurança, teremos, inicialmente, que estimar o ponto de equilíbrio: PE = 20.000 / (25 – 15) >>> PE = 2.000 unidades. MSO (absoluta) = 2.500 – 2.000 = 500 unidades. MSO (relativa) = 500 / 2.500 = 0,2 = 20%. Concluímos que a empresa, ao produzir 2.500 unidades, possui margem de segurança absoluta de 500 unidades ou margem de segurança relativa de 20%. Com isso, podemos dizer que a empresa pode sofrer uma redução de 20% nas vendas e ainda assim não incorrerá em prejuízo, ou o equivalente, pode perder 500 unidades de vendas. A margem de segurança também pode ser calculada em termos de receita, o que resulta nas mesmas informações, porém em valores monetários. No exemplo anterior, teríamos: MSO (absoluta) = $62.500 - $50.000 = $12.500 MSO (relativa) = ($62.500 - $50.000) / $62.500 = 0,20. A margem absoluta de $12.500 corresponde à venda de 500 unidades ao preço unitário de $25. Da mesma forma, a margem de segurança relativa é de 20%. Alavancagem Operacional O conceito de alavancagem, segundo o Dicionário UOL Michaelis (www.michaelis.uol.com.br) é: “qualquer barra usada para levantar ou mover volumes pesados”. Trata-se de uma expressão originária da Física, que mostra a capacidade de se elevar um corpo muito pesado com a utilização da referida barra, isto é, melhorar o desempenho de quem deve elevar o corpo em questão. Em termos financeiros e contábeis, alavancagem significa, segundo Gitman (1997), o uso de ativos ou recursos com custo fixo a fim de aumentar os retornos aos proprietários da empresa. Normalmente guarda relação direta com risco e retorno: quanto maior a alavancagem, maior será o risco e o retorno, e vice-versa. Vamos imaginar uma empresa que opere com determinado volume de custos e despesas fixos. Nós já sabemos que, se houver um aumento de produção ou de vendas, esses gastos fixos não serão afetados, isto é, eles permanecerão com os mesmos valores, ao
  • 54. passo que a receita irá se elevar. Consequentemente, o lucro operacional, aquele que não considera despesas financeiras nem tributos, irá sofrer um aumento mais que proporcional. É este o sentido da alavancagem: aumentar os resultados da empresa com a máxima utilização dos recursos fixos. Sendo assim, cabe à empresa avaliar qual o potencial de aumento de lucros diante da sua estrutura fixa. Especificamente, a alavancagem operacional é o uso dos custos operacionais fixos para aumentar os efeitos das mudanças nas vendas sobre os lucros da empresa antes dos juros e impostos. Vamos ilustrar com os dados mostrados na TAB. 1 TABELA 1 Demonstração de Resultados Vendas (unidades) 5.000 10.000 15.000 Receita de vendas 50.000 100.000 150.000 (-) custo operacional variável 25.000 50.000 75.000 (-) custo operacional fixo 25.000 25.000 25.000 LAJIR (lucro operacional) 0 25.000 50.000 GAO -2,0 --- +2,0 Fonte: GITMAN, 1997, p. 422. Partindo da situação representada por vendas de 10.000 unidades, temos receita de $100.000. O custo variável é de $50.000 e o custo fixo é de $25.000, o que resulta num lucro operacional de $25.000. Podemos perceber que o aumento de vendas em 50% não provocará nenhuma alteração no custo fixo. Portanto o lucro operacional vai sofrer um aumento em maior proporção do que o aumento de vendas. O cálculo do tamanho da variação no lucro operacional é feito pelo cálculo do grau de alavancagem operacional. Segundo Gitman (1987), Megliorini (2002) e Martins (1998), grau de alavancagem operacional (GAO) é a medida numérica, calculado pela fórmula: Com base nos dados apresentados, iremos calcular o GAO: