Saiba como Isaac Azar, dono do bistrô Paris 6, com três casas em São Paulo e outra no Rio, conseguiu fazer do seu restaurante o endereço predileto dos famosos em geral. E agora, ele vai expandir ainda mais a rede, abrindo a primeira filial em Orlando, nos Estados Unidos.
By Simone Galib
Learn how Isaac Azar, owner of the bistro Paris 6, with three houses in São Paulo and one in Rio, managed to make his restaurant a favorite address of the famous general. And now, it will expand the network further by opening the first branch in Orlando, USA.
By Simone Galib
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Isaac Azar, dono
do Paris 6, o bistrô
frequentado em São
Paulo e no Rio de
Janeiro por gente
bonita, descolada,
jogadores de futebol
e muitos famosos,
vai abrir a primeira
filial em Orlando, na
Flórida para, além
da gastronomia,
divulgar a cultura
contemporânea
brasileira
• por Simone Galib fotos Érico Hiller
CELEBRIDADES
O ENDEREÇO DAS
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capa
I
saac Azar não nasceu em ber-
ço gastronômico, mas abriu um
bistrô, o Paris 6, nos Jardins, que
faz o maior sucesso em São Paulo, a
cidade mais gourmet do país - com
52 tipos diferentes de cozinha -,
funciona 24 horas e é frequentado
por gente bonita, famosa, descola-
da, jogadores de futebol, como Ney-
mar Jr, muitos artistas, boa parte
deles amigos do dono da casa, que
os homenageia com seus nomes
no cardápio, além de turistas de
outros estados do Brasil. A receita
deu tão certo, que o Paris 6 já co-
meça a ganhar ares de rede. Azar
inaugurou, há um ano, uma filial,
na Barra da Tijuca, no Rio de Janei-
ro, que vive lotada e boa parte dos
seus 250 lugares são ocupados pela
classe artística carioca, o que trans-
formou a casa em “uma espécie de
sucursal do Projac, a cidade ceno-
gráfica da Globo”, como ele mesmo
define. Em junho último, foi ainda
mais ousado: inaugurou o Paris 6
Vaudeville, na mesma rua Haddock
Lobo, a apenas 70 metros da matriz
paulista, também aberto dia e noi-
te, para tentar aliviar as três horas
de filas de espera. Porém, ele quer
mais. E já se prepara para exportar
o conceito mundo afora.
Carismático, corintiano roxo,
comunicativo, muito bem rela-
cionado, cercado de amigos e de
sócios famosos, amado por muitos
e desprezado por outros, especial-
mente por alguns críticos gastronô-
micos, Isaac Azar aprendeu a lidar
com a polêmica e com os dois lados
da fama, apostando na fórmula que
lhe garantiu sucesso em um dispu-
tadíssimo mercado: a divulgação
da cultura brasileira, seja no cine-
ma, no teatro ou nas artes plásticas,
o que acabou criando uma espécie
de cumplicidade com atores, cine-
astas e astros da MPB, que ali são
mais que meros clientes. Seus no-
mes e fotos estão estampados no
menu, com 200 opções, entre entra-
das, lanches, petiscos, pratos prin-
cipais e sobremesas. Você pode, por
exemplo, experimentar os Escargots
Bourguignons a Milton Nascimento, os
Tartines de Chévre ET Tomates Au Me-
morable a Luciano do Valle, o Risotto de
Morue a Fernando Meirelles ou o Carré
de Bouef a Ivete Sangalo, entre muitos
outros. Para o craque Neymar, hou-
ve também uma criação especial.
Isaac o brindou com uma porção de
100 gramas do mais nobre presun-
to cru espanhol em homenagem ao
Barcelona, time do jogador. O nome
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do prato? Pata Negra a L´Huile D´Olive
a Neymar Jr.
CARDÁPIOCULTURAL
Sim, a escolha é feita sob medi-
da para o freguês, famoso e habitué.
Mas, a cultura brasileira também
está sempre presente nesse cardá-
pio. Nas paredes , com décor, inspi-
ração, iluminação e parte do menu
franceses, há quadros de pintores,
cartazes de cinema, peças de teatro
–tudo made in Brazil. “O Paris 6 não
é simplesmente um restaurante,
mais sim um passeio, um entrete-
nimento. Mais de 20% dos clientes
vêm de outros estados. Além da co-
mida, as pessoas degustam cultura”,
orgulha-se. Indagado se os artistas e
amigos têm privilégios, é categórico:
“Não atraio ninguém oferecendo co-
mida de graça. Ele paga como qual-
quer outro cliente, exceto quando
faço parceria com alguma peça de
teatro e tenho cerca de R$ 10 mil em
ingressos para distribuir nas mídias
sociais. É uma maneira de fomentar
a cultura”, conclui.
Mas, se a ênfase é a cultura bra-
sileira, então por que o nome Paris
6? A inspiração vem do 6º arrondisse-
ment, o distrito no centro de Paris, en-
tre os bairros de Saint-Germain-des-
-Prés e Notre-Dame-des-Champs,
que tem uma das maiores con-
centrações de cafés, de bistrôs e de
brasseries. Aliás, esse centro cultural
parisiense era frequentado, no início
do século, por nomes, como o pintor
Pablo Picasso, o escritor norte-ameri-
cano Ernest Hermingway e o filósofo
e crítico francês Jean-Paul Sartre, en-
tre tantos outros. Um lugar cheio de
história e de muita gente famosa! “Se
Wood Allen fala dos artistas [no fil-
me Meia-Noite em Paris], eu também
exponho quadros, homenageio Emí-
lio Santiago, José Wilker, o amigo Jair
Rodrigues (morto em maio último e
cujo grand menu deste ano foi dedi-
cado a sua memória) e Luciano do
Valle, que também era frequentador
assíduo”, diz ele, relembrando cenas
históricas entre os salões. “Gustavo
Rosa pintou no próprio restaurante,
entre taças de vinho, e Maurício de
Souza desenhou um prato para Jair
Rodrigues com o personagem Cebo-
linha”. Apesar de tanta brasilidade,
gente de fora também bateu pon-
to por lá, como Liza Minelli que no
aniversário de seis anos da casa, em
2012, foi jantar depois do show em
São Paulo e acabou dando uma can-
ja, para surpresa de todos.
DEVOLTAÀSORIGENS
Judeu sefaradim, filho de pai
egípcio e mãe de origem polonesa,
Isaac Azar, 43 anos, é o caçula dos
Henri Castelli e Daniel Alves
Isaac e Neymar Jr; A atriz Paloma Bernardi
Murilo Rosa, Caio Castro e Isaac
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capa
quatro irmãos homens, todos pra-
ticamente com a mesma faixa etá-
ria. Ele trabalhava com a família no
ramo de concessionária de veículos
e foi o primeiro a tentar voo solo,
em 2003, optando por atuar no se-
tor alimentício. Começou a impor-
tar azeite de oliva, o que lhe exigiu
um profundo mergulho nas raízes.
“Eu adoro história e vi no azeite um
produto, comum e sagrado, para o
judaísmo, para o cristianismo e para
o islamismo”, diz. Azar viajou boa
parte do mundo, pesquisando o pro-
duto que tanto o fascinava. Em 2004,
tornou-se o primeiro brasileiro espe-
cializado em azeite, graduado pela
renomada Organizzazione Naziona-
le Assggiatori Olio di Oliva, na Itália.
No final desse mesmo ano,
abriu o Azäit, também nos Jardins,
onde fazia harmonização de pratos
com azeite. Não deu muito certo e
fechou a casa. O Paris 6, hoje com
oito anos de história, estava ainda
em início de jornada.“ Não conse-
gui dar conta das propriedades pela
diferença de conceitos”, afirma. Em
2007, ele assumiu o cargo de chef
do menu da TAM, em que elabora-
va pratos à base de azeite de oliva.
Essa fase do azeite durou até 2008.
Já a ideia de levar o Paris 6 para o Rio
não foi exatamente sua, conta, mas
estimulada pelos próprios artistas,
como o ator Bruno Gagliasso, o pri-
meiro, logo no início da casa, que
ganhou um prato com seu nome no
cardápio. Não demorou muito para
que Isaac Azar formasse o seu time
carioca: além do próprio Bruno, o
diretor Jayme Monjardin, o atacan-
te Emerson Sheik e o jogador Pauli-
nho, da seleção brasileira, dividem
a sociedade, com toda a gestão feita
pelo próprio empresário. A casa já
tem fila de espera todos os dias.
Se, por um lado, Isaac Azar bus-
cou nas raízes dos seus ancestrais o
ponto de partida para se dedicar à
gastronomia, a base cultural veio de
uma outra fonte: a herança genética
da mãe, segundo ele, a sua “gran-
de inspiração desde a infância”. O
empresário conta que ela é erudi-
ta, adora música clássica, desenha,
pinta, toca piano, ensinou-lhe vá-
rios hobbies, como a pintura, e lhe
emprestou muitos livros para que
formatasse o conceito do Paris 6. A
receita funcionou. Hoje, a sobreme-
sa clássica da casa, o Grand Gateau au
Popsicle a Paloma Bernardi – um gateau
recheado de morangos, calda de Nu-
tella e um picolé de chocolate italia-
no - vende mais de 15 mil unidades
por mês no eixo Rio-São Paulo.
MUITOTRABALHOEDIVÃ
Com os negócios se expandin-
do, três restaurantes para admi-
nistrar e um celular que não para
nunca de tocar, como é a rotina de
Isaac? “Trabalho 24 horas, além das
quatro linhas”, diz ele, referindo-se
ao futebol. Pai de três filhos - duas
meninas, de 10 e 12 anos e um bebê
de nove meses - ele atribui toda a
sua base à mulher Caroline, direto-
ra financeira do Paris 6, com quem
está casado há 13 anos e é quem lhe
dá a tranquilidade suficiente para
administrar o salão, a cozinha, a fa-
mília e as mídias sociais. Somente o
Instagram da casa tem cerca de 194
mil seguidores, ganhando do Mc
Donalds, com 174 mil, e ele o mo-
nitora pessoalmente. Para manter
o equilíbrio emocional, seu ponto
de apoio é o renomado psiquiatra,
psicoterapeuta e escritor Flávio Gi-
kovate (o preferido dos poderosos),
Não
cozinho
para apenas uma
pessoa, o crítico
gastronômico,
mas para 40 mil,
que frequentam
o Paris 6 em São
Paulo e no Rio.
Gosto de ser
julgado pelo meu
público
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com quem faz duas sessões sema-
nais “para ponderar meus exageros
e me guiar em decisões importan-
tes”. Isaac se define como um ho-
mem muito ansioso, estourado e
diz ter melhorado muito nos últi-
mos nove anos. “Esse sucesso todo
não seria possível sem Gikovate e
Caroline. Ela é o ponto de equilíbrio
de toda minha realização pessoal e
profissional”, afirma.
Já com a vida totalmente estru-
turada, o dono do Paris 6 prepara
novos voos e agora quer divulgar a
cultura brasileira contemporânea
no exterior. Ele vai inaugurar, em
dezembro, outra filial, desta vez
em Orlando, na Flórida, nos Esta-
dos Unidos, tendo como sócio o
ator Murilo Rosa. O conceito será
exatamente o mesmo do Brasil, ou
seja, base francesa e histórias, car-
tazes de peças e fotos de artistas
brasileiros estampados nas pare-
des . Entre os seus planos, também
está a abertura de restaurantes em
Miami, Nova York, Londres e even-
tualmente em Dubai, nos Emirados
Árabes. “Quero mostrar ao mundo
que o Brasil tem cinema, teatro e
produções de altíssima qualidade.”
Apesar de todo esse sucesso, o
bistrô costuma receber farpas da
mídia especializada e de alguns
chefs, alegando que o lugar não é
barato e o cardápio tem muito pou-
co de gastronomia francesa. Para
Isaac Azar, as críticas refletem opi-
niões subjetivas. “Não cozinho para
apenas uma pessoa, para o crítico
gastronômico, mas sim para 40 mil,
que frequentam o Paris 6 em São
Paulo e no Rio. Gosto de ser julga-
do pelo meu público”, rebate. Aliás,
nesse quesito Isaac Azar vai muito
bem, obrigado!
Crevettes a Bruno Gagliasso: camarões rosa com arroz provençal
Grand Gateau a Paloma Bernardi: sobremesa mais vendida
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ISRAEL
É a origem dos meus ancestrais. Amo especialmente Jerusalém pelo
encontro das três religiões mais importantes. Gosto desse pluralismo e
sou contrário a qualquer forma de guerra.
capa • GIRO PELO MUNDO
Apaixonado por história e estudioso de muitas
culturas, Isaac Azar percorreu boa parte do mundo
em busca de conhecimento. A seguir, os lugares
que mais lhe marcaram
PARIS
Foi o berço da
Revolução Francesa
e representa tudo o
que existe hoje como
civilização ocidental.
MARROCOS
Gosto de conviver com povos
semitas para descobrir neles
semelhanças e diferenças. A cultura
árabe é uma das mais sábias e belas
de toda a civilização.
TOLEDO
Eu sou também de origem
espanhola, um judeu sefaradim, e
nada como percorrer a Espanha, o
país produtor mundial de azeite.
Fotos:Shutterstock
TÓQUIO
Jamais voltaria para ter uma
recordação única: o bicampeonato
mundial do Corinthias, realizado
no Japão, e que fui assistir.