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a augustus slides a O moço caipira
 
Por Renato Cardoso
            Levantava cedo, corria o gado, fazia o que mais gostava e por isso mesmo fazia com amor. Assim era ele, e parece que não ia mudar.
            Era de poucas palavras, mas se  entendia bem com os animais. Sozinho dava conta de todo gado.  Tirava o leite e servia às crianças.
Depois de cuidar do gado,  acompanhava o pessoal da fazenda nas  plantações. Tudo tinha que produzir. Um simples olhar e já sabia de tudo.
            Depois do dever cumprido, ia à cidade tomar  benção do padre. Aproveitava para ver as  moças bonitas. Fazer uma graça...  Afinal ninguém é de ferro.
            Parava no banco da represa e ensaiava dar uma pescada. Às vezes fisgava  alguma coisa e era comum convidar os  amigos para uma fritada ali mesmo.
Na volta, como em ritual, olhava a natureza, mirava toda beleza e debaixo de uma árvore,  descansava.  Um sono de meia hora.
O contato com o verde era constante, ao contrário do contato  com as pessoas.  Gostava do cheiro do mato!
Não sei se viveria na cidade. Se viveria sem aquele silêncio que o acompanhava  desde menino.
Seus cavalos, umas de suas grandes paixões. Quando chegava perto dos animais, sentia  algo que entrava no peito, tomava conta  da alma, e um bem muito grande lhe  fazia por inteiro.
E ver os bichos correndo? Um saltando pra cá, dando coice pra lá,  um show! Era certo que os bichos estavam se  expondo para seu dono. Um contato.
Quando chegava a tarde mansa, sentado  sob uma árvore, passava a meditar.  Pensava na família, na vida e nos amigos. Lembrava da vida dura, do amor que se foi e que ninguém ocupa mais o seu lugar.
Esse o ponto mais triste e que batia sempre quando a tarde caia.  Sentia o quanto fazia falta um amor de mulher. Nada estava completo.
Pra afastar a tristeza, olhava de novo a  tropa, reclamava, mas só mais um pouquinho. Depois se punha novamente a viver. E olhava de novo pras coisas que ama, como que   querendo se energizar.
Veja se posso ir embora, e  deixar meus animais, dizia o caboclo orgulhoso, ao  ver este show sem igual.
De vez em quando batia uma forte saudade das filhas, que acabaram  ficando com a mãe e que viveram  momentos felizes, quando toda a  família estava reunida, no campo.
Quando a dor batia mais forte  procurava se distrair e ia para o pasto  ver seus animais promover mais um  dos seus espetáculos.
E a tropa respondia saindo  a galope, com cada animal querendo  se mostrar ainda mais belo a quem ficou conhecido como “encantador de cavalos”.
E nas noites mais escuras se recolhia naqueles locais, nos quais as recordações da mulher amada são mais  acentuadas. Aí, um deles.
Punha as traias no cavalo, saia à  luz da lua que se punha bela,  só pra lhe fazer companhia.  E falavam de tudo, como que  com isso tudo ficasse solucionado. Até mesmo a volta do  grande amor.
Amor que ainda espera.  E quando voltar,  tudo estará completo. Tudo será melhor!
Porque tudo se completa quando o amor está presente. E embora tendo tudo, o “homem caipira” sabe muito bem: nada substitui o amor de uma mulher.
Texto e apresentação por Renato Cardoso
www.vivendobauru.com.br

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  • 4.             Levantava cedo, corria o gado, fazia o que mais gostava e por isso mesmo fazia com amor. Assim era ele, e parece que não ia mudar.
  • 5.             Era de poucas palavras, mas se entendia bem com os animais. Sozinho dava conta de todo gado. Tirava o leite e servia às crianças.
  • 6. Depois de cuidar do gado, acompanhava o pessoal da fazenda nas plantações. Tudo tinha que produzir. Um simples olhar e já sabia de tudo.
  • 7.             Depois do dever cumprido, ia à cidade tomar benção do padre. Aproveitava para ver as moças bonitas. Fazer uma graça... Afinal ninguém é de ferro.
  • 8.             Parava no banco da represa e ensaiava dar uma pescada. Às vezes fisgava alguma coisa e era comum convidar os amigos para uma fritada ali mesmo.
  • 9. Na volta, como em ritual, olhava a natureza, mirava toda beleza e debaixo de uma árvore, descansava. Um sono de meia hora.
  • 10. O contato com o verde era constante, ao contrário do contato com as pessoas. Gostava do cheiro do mato!
  • 11. Não sei se viveria na cidade. Se viveria sem aquele silêncio que o acompanhava desde menino.
  • 12. Seus cavalos, umas de suas grandes paixões. Quando chegava perto dos animais, sentia algo que entrava no peito, tomava conta da alma, e um bem muito grande lhe fazia por inteiro.
  • 13. E ver os bichos correndo? Um saltando pra cá, dando coice pra lá, um show! Era certo que os bichos estavam se expondo para seu dono. Um contato.
  • 14. Quando chegava a tarde mansa, sentado sob uma árvore, passava a meditar. Pensava na família, na vida e nos amigos. Lembrava da vida dura, do amor que se foi e que ninguém ocupa mais o seu lugar.
  • 15. Esse o ponto mais triste e que batia sempre quando a tarde caia. Sentia o quanto fazia falta um amor de mulher. Nada estava completo.
  • 16. Pra afastar a tristeza, olhava de novo a tropa, reclamava, mas só mais um pouquinho. Depois se punha novamente a viver. E olhava de novo pras coisas que ama, como que querendo se energizar.
  • 17. Veja se posso ir embora, e deixar meus animais, dizia o caboclo orgulhoso, ao ver este show sem igual.
  • 18. De vez em quando batia uma forte saudade das filhas, que acabaram ficando com a mãe e que viveram momentos felizes, quando toda a família estava reunida, no campo.
  • 19. Quando a dor batia mais forte procurava se distrair e ia para o pasto ver seus animais promover mais um dos seus espetáculos.
  • 20. E a tropa respondia saindo a galope, com cada animal querendo se mostrar ainda mais belo a quem ficou conhecido como “encantador de cavalos”.
  • 21. E nas noites mais escuras se recolhia naqueles locais, nos quais as recordações da mulher amada são mais acentuadas. Aí, um deles.
  • 22. Punha as traias no cavalo, saia à luz da lua que se punha bela, só pra lhe fazer companhia. E falavam de tudo, como que com isso tudo ficasse solucionado. Até mesmo a volta do grande amor.
  • 23. Amor que ainda espera. E quando voltar, tudo estará completo. Tudo será melhor!
  • 24. Porque tudo se completa quando o amor está presente. E embora tendo tudo, o “homem caipira” sabe muito bem: nada substitui o amor de uma mulher.
  • 25. Texto e apresentação por Renato Cardoso