1) Em 10 de maio de 1933, estudantes na Alemanha nazista queimaram livros de autores como Freud e Marx em praças públicas.
2) A queima de livros marcou o início da exclusão sistemática de judeus e dissidentes na Alemanha nazista, culminando em horrores como o Holocausto.
3) A memória desses eventos ensina a importância de proteger a liberdade de expressão e pensamento crítico para evitar repetições de tais atrocidades.
1. Saudação da Embaixada da República Federal da Alemanha em Lisboa,
por ocasião dos 80 anos sobre a data de 10 de Maio de 1933, Escola
Secundária D. Pedro V (Lisboa)
Há exactamente 80 anos ocorreram os acontecimentos da noite de 10 de Maio
de 1933.
Em Berlim, Munique e muitas outras cidades da Alemanha milhares de pessoas
aplaudiam e rejubilavam, enquanto os livros de Erich Kästner, Thomas e
Heinrich Mann, Sigmund Freud, Karl Marx e tantos autores eram queimados por
estudantes.
Somente na Opernplatz em Berlim, sob o olhar de Erich Kästner, que se
manteve escondido na multidão, foram deitados ao fogo nessa noite mais de
20.000 livros. As obras destes importantes escritores alemães foram ainda
removidas de todas as bibliotecas, livrarias e dos programas das editoras. Esta
foi uma demissão voluntária de espírito, sem exemplo em estados civilizados. E
tudo isto liderado por estudantes, cuja função, na verdade, deveria ter sido se
debruçar sobre estas obras com o objectivo de desenvolverem um espírito
autónomo, crítico e livre.
Já em 1817 Heinrich Heine afirmou: "Este foi apenas um prelúdio. Em lugares
onde se queimam livros, acaba-se também por queimar pessoas." Esta citação
acabaria por se materializar como uma triste verdade. Foi a partir deste
momento da queima dos livros em 1933, que a exclusão sistemática dos
judeus e de pessoas de opinião diferente seguiria o seu doloroso curso. Assim,
deve ser mantido em memória não apenas o dia da queima dos livros e a
expulsão de muitos escritores para o exílio, como também toda a cadeia de
acontecimentos desumanos, que se seguiria após este dia. Começou com a
queima dos livros, passou pelo incendiar de sinagogas, e acabou com o fogo
sobre as cidades devastadas pela guerra.
A memória destes acontecimentos coloca-nos assim perante a permanente e
obrigatória tarefa de garantir e proteger a liberdade de espírito enquanto
maior dos bens. Os livros têm aqui um papel fundamental. Continuam hoje a
ser um símbolo único do pensamento individual, da crítica e reflexão, da
formação e do esclarecimento. A História mostra que uma sociedade que não
permite a reflexão crítica sobre si mesma, nem dá asas ao livre
desenvolvimento do espírito e da multiplicidade cultural, acaba
invariavelmente por cair por terra.
É bom que a nova geração de alunos reflicta de forma intensa sobre este
capítulo negro da História da Alemanha, uma vez que, ainda que muito
sombrio, pode simultaneamente ensinar-nos muito sobre os valores pelos quais
devemos seguir, por forma a evitar os penhascos da amoralidade. Somente a
reflexão sobre o passado permitirá assegurar que nunca mais se repetirá.