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REVISTA


NEUROCIÊNCIAS
U   NIVERSIDADE         F   EDERAL DE             S   ÃO   P   AULO
        DISCIPLINA DE NEUROLOGIA
      E S C O L A P A U L I S TA D E M E D I C I N A




                  JUNTA EDITORIAL
                     EDITOR   EXECUTIVO
                     JOSÉ OSMAR CARDEAL


                   EDITORES   ASSOCIADOS
                    ALBERTO ALAIN GABBAI
                   ESPER ABRÃO CAVALHEIRO
                   FERNANDO MENEZES BRAGA


                   CONSELHO    EDITORIAL
               ACARY DE SOUZA BULLE DE OLIVEIRA
                  CARLOS JOSÉ REIS DE CAMPOS
                GILBERTO MASTROCOLA MANZANO
                  HENRIQUE BALLALAI FERRAZ
                 JOÃO ANTONIO MACIEL NÓBREGA
                 JOÃO BAPTISTA DOS REIS FILHO
                 LUIZ CELSO PEREIRA VILANOVA
                   MARCIA MAIUMI FUKUJIMA
              PAULO HENRIQUE FERREIRA BERTOLUCCI
                SUZANA MARIA FLEURY MALHEIROS
42

                                                           EXPEDIENTE


                    REVISTA NEUROCIÊNCIAS
                Disciplina de Neurologia – Escola Paulista de Medicina
                          Universidade Federal de São Paulo

                        VOLUME VIII – NÚMERO 2 – AGO 2000




                                Produção Editorial:
                        LEMOS EDITORIAL & GRÁFICOS LTDA.
                           Rua Rui Barbosa, 70 – Bela Vista
                           CEP 01326-010 – São Paulo/SP
                              Telefax: (0XX11) 251-4300
                            E-mail: lemos@lemos.com.br

                            Diretor-presidente: Paulo Lemos
                         Diretora executiva: Silvana De Angelo
                    Vice-presidente de negócios: Idelcio D. Patricio
                       Diretor de marketing: Robison Bernardes
                          Gerente de negócios: Jorge Rangel
                   Representante no Rio de Janeiro: Roberto Amoêdo
                       Produção gráfica: José Vicente De Angelo
                           Produção editorial: Sonia Oliveira
                        Diagramação: Maurilo Rossato Sampaio
                     Revisão: Fernanda R. Baptista e Patrizia Zagni

                              Periodicidade: Quadrimestral

     Toda correspondência relacionada ao Editorial, bem como textos para publicação,
            deve ser encaminhada aos cuidados do Conselho Editorial para:

                             REVISTA NEUROCIÊNCIAS
                   Disciplina de Neurologia – Escola Paulista de Medicina
                             Universidade Federal de São Paulo
                                      ISSN 0104-3579
                    Rua Botucatu, 740 – CEP 04023-900 – São Paulo/SP
                           E-mail: cardeal@sun-nepi.epm.br

                                     Pede-se permuta
                                     On prie l’echange
                                   Exchange is requested
43

                                                  ÍNDICE



EDITORIAL                                                                             45


ARTIGOS
 Relaxamento Aquático, em Piscina Aquecida, Realizado pelo Método
 Ai Chi: uma Nova Abordagem Hidroterapêutica para Pacientes
 Portadores de Doenças Neuromusculares                                                46
 MÁRCIA CRISTINA BAUER CUNHA, RITA HELENA DUARTE DIAS LABRONICI, ACARY
 SOUZA BULLE OLIVEIRA & ALBERTO ALAIN GABBAI

 Cefaléias Secundárias na Infância                                                    50
 DEUSVENIR DE SOUZA CARVALHO

 Tratamento Farmacológico das Alterações Comportamentais e de
 Humor Decorrentes de Lesões Cerebrais                                                55
 SONIA M. DOZZI BRUCKI, PAULA A. RODRIGUES DE GOUVEIA, SÍLVIA A. PRADO
 BOLOGNANI & ORLANDO F. AMODEO BUENO

 Avaliação de Pacientes com Epilepsias Parciais Refratárias às Drogas
 Antiepilépticas                                                      60
 JULIANA STARLING LAGE, ELIANA GARZON, AMÉRICO CEIKI SAKAMOTO & ELZA MÁRCIA
 TARGAS YACUBIAN

 Genética das Distonias                                                               66
 PATRÍCIA MARIA DE CARVALHO AGUIAR & HENRIQUE BALLALAI FERRAZ

 Música e Neurociências                                                               70
 MAURO MUSZKAT, CLEO M. F. CORREIA & SANDRA M. CAMPOS



RELATO DE CASO
 Compressão Medular por Plasmocitoma: Relato de um Caso                               76
 FERNANDO MORGADINHO SANTOS COELHO, MARIA PAULA PELAEZ, HENRIQUE BALLALAI
 FERRAZ, ROBERTO GOMES NOGUEIRA & ALBERTO ALAIN GABBAI




                                                         Rev. Neurociências 8 (2): 43, 2000
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                                      NORMAS PARA PUBLICAÇÕES
A Revista Neurociências é voltada à neurologia e às ciências afins. Publica artigos de interesse científico e
tecnológico, feitos por profissionais dessas áreas e resultantes de estudos clínicos ou com ênfase em temas de
cunho prático. Os artigos devem ser inéditos e fica subentendido que serão publicados exclusivamente nesta
revista, com o que se comprometem seus autores. A Junta Editorial da revista reserva-se o direito de avaliar,
aceitar ou recusar artigos. Quando aceitos, sugerir modificações para aprimorar seu conteúdo, se necessário
aperfeiçoar a estrutura, a redação e a clareza do texto. São aceitos artigos em português e inglês. Para publicação,
será observada a ordem cronológica de aceitação dos artigos. Provas tipográficas serão fornecidas em casos
especiais. Poderão ser oferecidas separatas dos artigos, responsabilizando-se os autores pela despesa de sua
tiragem. Os artigos são de responsabilidade de seus autores. Para avaliação, devem ser encaminhados ao
Editor Executivo em disquete e poderão ser utilizados editor de texto “Word” para “Windows 95”, fonte Times
New Roman, tamanho 12 e espaço duplo; alternativamente, no formato “texto.txt”. Deverá também ser enviada
uma cópia do texto original conforme digitado. Adotar as recomendações abaixo.


Título: em português e em inglês, sintético e restrito ao    do artigo, com etiqueta colada no verso e nela marcada
conteúdo, mas contendo informação suficiente para            na parte superior. Não grampear, nem colar as ilustra-
catalogação.                                                 ções, embalar cada uma em separado. Encaminhar em
                                                             separado as respectivas legendas. Ilustrações repro-
Autor(es): referir nome(s) e sobrenome(s) do modo
                                                             duzidas de textos já publicados devem ser acom-
como preferir para indexação, seu grau e posição.
                                                             panhadas de autorização de reprodução, tanto do autor
Referir a instituição em que foi feita a pesquisa que deu
                                                             como da publicadora. Ilustrações em cores podem ser
origem ao artigo e referir o título maior de cada autor ou
                                                             publicadas; dado seu custo elevado, a despesa será de
grupo de autores, ex.: *Professor-adjunto, **Pós-
                                                             responsabilidade dos autores, assim como o custo por
graduando, ***Residente. Identificar o endereço para
                                                             número de tabelas e ilustrações acima dos mencionados
correspondência.
                                                             e desde que sua publicação seja autorizada pela editora.
Resumo e Summary: devem permitir uma visão                   As fotos não serão devolvidas aos autores. Manter os
panorâmica do trabalho, contendo objetivos, métodos,         negativos destas.
resultados e conclusões. Nos artigos com casuística,
                                                             Referências: até cerca de 30, restritas à bibliografia
não exceder 250 palavras. Nas comunicações breves
                                                             essencial ao conteúdo do texto. Numerar conse-
ou relato de casos, não exceder 150 palavras.
                                                             cutivamente as referências na ordem de ocorrência no
Unitermos e keywords: referir após o Resumo e o              texto. O padrão de disposição das referências segue
Summary, respectivamente.                                    as normas do Index Medicus.
Texto: apresentar a matéria do artigo seqüencialmente:       Artigos: Autor(es) — Título. Periódico, volume: página
introdução, material (casuística) e métodos, resultados,     inicial — página final, ano.
comentários (discussão e conclusões), referências
                                                             Livros: Autor(es) ou editor(es), título, edição, se não
bibliográficas, eventualmente agradecimentos, suporte
                                                             for a primeira; se for o caso, tradutor(es). Cidade,
financeiro. Não repetir no texto dados que constem de
                                                             publicadora, ano, páginas inicial e final.
tabelas e ilustrações, bem como de suas legendas. O
texto deverá ser redigido em espaço duplo; a cada início     Capítulos de livros: Autor(es), título, demais dados
de parágrafo, dar 5 espaços. Numerar as páginas no           sobre o livro como no item anterior.
alto e à direita.
                                                             Resumos: Autor(es), título, publicadora, ano, páginas
Tabelas: até cinco, apresentadas em páginas sepa-            inicial e final e, entre parênteses, “abstr”.
radas. Não separar com linhas horizontais ou verticais
                                                             Tese: Autor, título, cidade, ano, páginas inicial e final,
os dados que contêm. De cada uma, devem constar seu
                                                             nível (mestrado, doutorado...), instituição.
número de ordem, título e legenda.
Ilustrações: até duas figuras (gráficos ou fotos), com
                                                             Endereçar os trabalhos a:
tamanho não superior a 6 cm x 9 cm cada. Gráficos
devem ser encaminhados, de preferência suas fotos.           Prof. Dr. José Osmar Cardeal
Fotos em preto e branco bem contrastadas; eventuais          Rua Borges Lagoa, 873 — cj. 11
detalhes com setas, números ou letras. Identificar cada      04038-031 — São Paulo, SP
ilustração com seu número de ordem, nome do autor e          E-mail: cardeal@sun-nepi.epm.br



NORMAS PARA PUBLICAÇÕES                                                                  Rev. Neurociências 8(2): 44, 2000
45

                                                    EDITORIAL




            M         uitas entre as doenças neuromusculares evoluem com piora
            progressiva, adicionando incapacidades ao paciente, enquanto o tratamento
            medicamentoso tem eficácia limitada. Para esses casos, a fisioterapia tem
            procurado aplicar tratamentos visando, ao menos, a obter melhor qualidade de
            vida, como, por exemplo, com o auxílio da hidroterapia pelo método Ai Chi,
            apresentado por Cunha et al.
               Cefaléias são queixas muito comuns em crianças. Existem dois grupos
            distintos: as cefaléias primárias e as cefaléias secundárias. Nessa oportunidade,
            o Professor Deusvenir apresenta-nos a classificação das cefaléias secundárias
            e suas características na infância.
               Brucki et al., em seu artigo “Tratamento farmacológico das alterações
            comportamentais e de humor decorrentes de lesões cerebrais”, apresentam-nos
            as alternativas farmacológicas para a depressão, a apatia, a irritabilidade e a
            agitação, as quais podem ser fatores limitantes à integração social de pacientes
            que sofreram lesões cerebrais.
               O artigo “Avaliação de pacientes com epilepsias parciais refratárias às
            drogas antiepilépticas” merece a nossa particular atenção, por permitir ao leitor
            familiarizar-se com os métodos atuais de avaliação do paciente epiléptico com
            crises parciais de difícil controle medicamentoso.
               Os avanços da genética na área médica têm criado novas esperanças para
            muitos pacientes portadores de enfermidades neurológicas. O artigo “Genética
            das distonias”, de Aguiar e de Ferraz, sinaliza-nos para essa possibilidade,
            embora se encontre apenas no seu estágio inicial.
               Que relações podemos encontrar entre música e neurociência? Aspectos
            como música e cérebro, música e neuroimagem, entre outros, podem ser
            conferidos no artigo de Muszkat et al.
               O relato de caso com correlação anatomopatológica, do presente volume,
            refere-se à compressão medular, produzindo paraplegia, decorrente de uma
            condição rara – o plasmocitoma solitário.


                                                                         José Osmar Cardeal
                                                                                     Editor




EDITORIAL                                                       Rev. Neurociências 8 (2): 45, 2000
46

                                                                                             ARTIGO


                                                     Relaxamento Aquático, em
                                                     Piscina Aquecida, Realizado pelo
                                                     Método Ai Chi: uma Nova
                                                     Abordagem Hidroterapêutica para
                                                     Pacientes Portadores de Doenças
                                                     Neuromusculares
                                                     Márcia Cristina Bauer Cunha*
                                                     Rita Helena Duarte Dias Labronici**
                                                     Acary Souza Bulle Oliveira***
                                                     Alberto Alain Gabbai****




RESUMO                                               INTRODUÇÃO
As doenças neuromusculares representam um
grupo grande de afecções que comprometem a
unidade motora, ou seja, o corpo celular do
                                                        As doenças neuromusculares (DNM) representam um grupo grande de
neurônio inferior, o seu prolongamento, a junção     afecções que comprometem a unidade motora, ou seja, o corpo celular do
neuromuscular ou o tecido muscular esquelético.
Essas doenças particularmente têm em comum
                                                     neurônio inferior, o seu prolongamento, a junção neuromuscular ou o tecido
uma evolução com piora progressiva, causando         muscular esquelético1.
progressiva limitação de tarefas simples. Por
essas razões, há a necessidade de criar-se formas
                                                        O comprometimento do corpo celular do neurônio motor inferior (NMI)
alternativas de terapia, dentre elas o relaxamento   caracteriza-se por atrofia, atonia, arreflexia, fraqueza e fasciculação. As
aquático realizado em piscina aquecida, visando
a melhorar a qualidade de vida desses pacientes.
                                                     principais doenças são: poliomielite anterior aguda, atrofia muscular espinhal
Apresentamos o método Ai Chi como alternativa        (AME) e esclerose lateral amiotrófica (ELA).
de abordagem hidroterapêutica para pacientes
portadores de doenças neuromusculares e
                                                        A lesão da fibra nervosa manifesta-se com alteração da motricidade e da
demonstramos também a evolução de três               sensibilidade (superficial e/ou profunda), com diminuição dos reflexos e
pacientes, com diagnóstico de atrofia muscular
espinhal tipo III (Kugelberg-Welander), que
                                                     envolvimento autonômico. As polineuropatias periféricas caracterizam-se por
realizaram a terapia pelo método Ai Chi.             comprometimento predominante das porções distais dos quatro membros, tendo
                                                     como principais causas o diabetes, a desnutrição, a hanseníase e as doenças
UNITERNOS                                            hereditárias (doença de Charcot-Marie-Tooth, amiloidose e outras)2.
Doenças neuromusculares, fisioterapia, hidrote-         O acometimento da junção neuromuscular (JNM) manifesta-se com fadiga,
rapia, relaxamento aquático, método Ai Chi.
                                                     com flutuação da fraqueza, usualmente piorando com o decorrer do dia. A
*    Fisioterapeuta e Mestra em Neurociências        miastenia grave auto-imune adquirida é a grande representante das doenças
     pela EPM – Unifesp.
                                                     que envolvem a JNM.
** Fisioterapeuta e Mestra em Neurociências
     pela EPM – Unifesp.                                As doenças musculares apresentam-se, na maioria das vezes, com fraqueza
*** Chefe do Setor de Doenças Neuromus-              muscular de predomínio proximal, alteração no padrão de marcha (báscula
     culares da EPM – Unifesp.
**** Professor Titular e Chefe da Disciplina de
                                                     de bacia), ocasionando quedas ao solo e dificuldades para levantar-se (“sinal
     Neurologia da EPM – Unifesp.                    de Gowers” ou “levantar miopático”). Entre as principais miopatias,


CUNHA, M.C.B.; LABRONICI, R.H.D.D.; OLIVEIRA, A.S.B. & GABBAI, A.A. – Relaxamento                 Rev. Neurociências 8(2): 46-49, 2000
Aquático, em Piscina Aquecida, Realizado pelo Método Ai Chi: uma Nova Abordagem
Hidroterapêutica para Pacientes Portadores de Doenças Neuromusculares
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destacam-se a distrofia muscular (Duchenne/Becker,             potencial de exercício por estimulação sensitiva, visual
cintura membros, Emery Dreifuss), as miopatias                 e auditiva; e também por meio dos receptores da pele,
metabólicas e as inflamatórias3.                               devido aos efeitos da turbulência, do calor e da pressão
   Para a realização do diagnóstico dessas doenças, são        hidrostática. A terapia na água também auxilia no
fundamentais a história detalhada, os dados familiares,        controle de equilíbrio, no controle rotacional e no
além de um exame físico adequado. Os principais                trabalho respiratório6.
exames laboratoriais úteis para a realização diagnóstica          Os efeitos adquiridos são tanto físicos quanto
topográfica, ou até etiológica, são:                           psicológicos. Para as crianças, a atividade na água
• dosagem da enzima creatinocinase (CK), de                    constitui um meio de ampliar experiências7.
   ocorrência principalmente no músculo, a qual catalisa
   a liberação do fosfato de creatina. Valores aumen-
   tados de CK indicam comprometimento da fibra                ABORDAGENS
   muscular, usualmente secundário à necrose muscular;
                                                               HIDROTERAPÊUTICAS
• eletroneuromiograma (ENMG), que analisa a
   velocidade de condução elétrica e o estado das
   unidades motoras (corpo celular do neurônio motor
   inferior, o seu prolongamento e as fibras inervadas         Watsu
   pelo neurônio). Diminuição na velocidade de
                                                                  Watsu, ou Água-shiatsu, foi criado por Harold Dull
   condução indica lesão desmielinizante da fibra              em 19808. Ele adotou técnicas de flutuação, em uma
   nervosa. A presença de fibrilações, fasciculações ou        piscina com água morna, por movimentos de extensão
   de ondas positivas do músculo em repouso é                  do Zen Shiatsu. Watsu foi criado, inicialmente, como
   diagnóstico de desnervação aguda das fibras                 uma forma de massagem, tendo sido aplicado para
   musculares, ou seja, de comprometimento axonal;             pacientes portadores de variadas enfermidades,
• biopsia muscular com estudo histoquímico realizada           incluindo-se aqueles com desordens neuromusculares9.
   em músculo apropriado, usualmente o deltóide, deve
   ser processada com técnicas adequadas. A presença
   de agrupamento de fibras do mesmo tipo (type                Método Halliwick
   grouping) é indicativa de comprometimento neuro-
                                                                  O método Halliwick foi criado por James McMillan
   gênico. A presença de necrose muscular, de reação
                                                               em 1949, na Escola Halliwick para Meninas, em
   inflamatória ou de alterações na arquitetura das fibras
                                                               Southgate, na Inglaterra. O método foi baseado em
   musculares sugerem comprometimento muscular.
                                                               princípios conhecidos de hidrostática, hidrodinâmica e
   A biopsia de nervo, geralmente realizada em nervo
                                                               mecânica dos corpos. Ele é realizado em grupos, sendo
sensitivo (sural ou fibular), raramente faz diagnóstico
                                                               aplicado sob uma forma individualizada: um terapeuta
específico. Entretanto, por meio dela, é possível
                                                               para cada paciente, até o momento em que a indepen-
diferenciar a lesão axonal da desmielinizante3.
                                                               dência completa seja atingida. A filosofia do método
   Exceto as doenças de causa inflamatória, pratica-
                                                               visa ensinar a “felicidade de estar na água”. Os
mente não há uma medicação específica que reverta os
                                                               terapeutas auxiliam os pacientes, sem utilizarem flutua-
danos ocasionados na unidade motora. Essas doenças,
                                                               dores; tratam os alunos pelo primeiro nome, dando
particularmente, têm em comum uma evolução com
                                                               ênfase na habilidade e não na deficiência. As atividades
piora gradativa, causando progressiva limitação de
                                                               são ensinadas como jogos e os pacientes encorajam uns
tarefas simples. Por essas razões, há a necessidade de
                                                               aos outros, trabalhando em grupo10.
criar formas alternativas de terapia, com o objetivo de
melhora da qualidade de vida, especialmente para os
pacientes gravemente afetados 4.                               Método Bad Ragaz
   A hidroterapia tem ganhado, progressivamente,
vários adeptos, pois proporciona a possibilidade de               O método Bad Ragaz, também conhecido como
realizar atividade física, o que é, muitas vezes impossível    “método dos anéis”, foi inicialmente desenvolvido na
fora da água. Pacientes intensamente incapacitados fora        cidade de Bad Ragaz, na Suíça, entre 1950 e 1960. São
da água são notavelmente móveis na piscina 5.                  características do método o uso das propriedades da
   A água oferece a experiência de encontrar-se o corpo        água, como turbulência e hidrodinâmica (posição de
atuando por duas forças principais: gravidade para baixo       menor resistência); a flutuação com suporte; o restabele-
e flutuação ou impulso para cima. Ela proporciona o            cimento dos movimentos anatômicos, biomecânicos e


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fisiológicos das articulações e músculos em padrões            segundo pesquisa feita por fisiologistas no Japão. A
funcionais e a aplicação individualizada, utilizando bóia      naturalidade dos movimentos do Ai Chi acalma a mente
ou flutuador cervical, flutuador circular grande para o        e diminui o estresse e a insônia.
quadril e vários flutuadores circulares pequenos. Os
objetivos procurados são os de aumentar a amplitude
do movimento articular, aumentar a mobilidade dos              Posicionamentos e orientações aos
tecidos nervoso e miofascial, melhorar a função                pacientes antes de realizar a sessão
muscular e preparar os membros inferiores para descarga
                                                                  1) início com os pés separados, joelhos semifletidos
de peso, restaurar o padrão normal de movimento dos
                                                                  para fora, mantendo-se com a coluna ereta;
membros superiores e dos membros inferiores. As
                                                                  2) flexão dos joelhos, até que a água alcance o nível
principais indicações são para os problemas ortopédicos
                                                                  dos ombros, permanecendo com os braços descan-
e os reumatológicos (pré e pós-operatório, após fratura,
                                                                  sados sobre a superfície;
artrite reumatóide, osteoartrite, espondilite anquilo-
                                                                  3) o queixo deve estar relaxado e levemente para
sante), para pacientes com cirurgia torácica, cardíaca e
                                                                  baixo;
cirurgia de mama, e para condições neurológicas
                                                                  4) inspiração pelo nariz, com as palmas das mãos
(paraplegia, hemiplegia e doença de Parkinson11).
                                                                  viradas para cima;
                                                                  5) expiração pela boca, com as palmas das mãos
                                                                  viradas para baixo;
OBJETIVO                                                          6) peso uniformemente distribuído sobre os pés.

   O objetivo desse trabalho é apresentar o método Ai
Chi como modalidade alternativa de abordagem                   Etapas do Ai Chi
hidroterapêutica, que tem se mostrado muito útil para o
tratamento de pacientes portadores de doenças                     1) membros inferiores semifletidos, corpo imerso
neuromusculares.                                                  com os membros superiores frente ao corpo, elevados
                                                                  pela água;
                                                                  2) mesma posição anterior com os membros
                                                                  superiores frente ao corpo, realizando movimentos
MÉTODO                                                            lentos de flexão e extensão;
                                                                  3) mesma postura anterior com os membros superiores
   O método Ai Chi foi criado a partir da combinação
                                                                  realizando abdução e adução;
dos conceitos do Tai-Chi e do Qigong, juntamente com
                                                                  4) membros superiores abertos nas laterais; realizar
as técnicas de Shiatsu e Watsu. É uma modalidade
                                                                  rotação de tronco na horizontal;
terapêutica individual, realizada dentro da água (na
                                                                  5) cruzar membros superiores à frente do corpo;
altura dos ombros), utilizando a combinação de
                                                                  6) membros superiores abertos; levar um membro
respiração profunda com movimentos leves e amplos
                                                                  superior ao outro, no meio;
dos membros superiores, membros inferiores e tronco.
Propicia o total alongamento e relaxamento progressivo            7) lateral, membros inferiores semifletidos; levar um
do corpo, integrando mente, corpo e energia espiritual.           membro superior ao outro;
   A progressão dos movimentos do Ai Chi desenrola-se             8) frente, lateral, os dois juntos;
desde uma respiração simples, para a incorporação de              9) lateral, utilizando o tronco; levar um membro
movimentos da extremidade superior e para a incor-                superior ao outro e fazer um círculo;
poração de movimentos do tronco, seguidos da                      10) lateral com o membro inferior da frente com joelho
incorporação de movimentos da extremidade inferior e,             semifletido e membros superiores elevados. Realizar
finalmente, para o envolvimento total do corpo12.                 movimentos de abdução dos membros superiores e
   Benefícios do Ai Chi: a estabilização do tronco e os           elevação do membro inferior que estava à frente12.
benefícios em relação ao manejo da dor são os dois
pontos mais citados por hidroterapeutas. Os movimentos
leves e harmoniosos alongam os músculos enquanto               RESULTADOS
promovem uma experiência suavizante.
   Os movimentos proporcionados pelo Ai Chi                       Para ganharmos experiência, três pacientes portadores
permitirão a melhora do metabolismo e da circulação            de atrofia muscular espinhal (AME), que já vinham
sangüínea, aumentando o consumo de oxigênio em 7%,             sendo tratados com fisioterapia motora (uma sessão


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Hidroterapêutica para Pacientes Portadores de Doenças Neuromusculares
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semanal) e hidroterapia (uma sessão semanal), foram            SUMMARY
submetidos a um tratamento com o método Ai Chi, com            Aquactic Relax in Heated Swimming Pool Performed by the Ai Chi
                                                               Method: a New Approach for Neuromuscular Diseases Patients
duração de 20 minutos como complemento final da                Mypathy is a subtype of neuromuscular disorders in which the pathology is
hidroterapia, durante um ano.                                  confined to the muscle itself, with no associated structural abnormality in
                                                               the peripheral nerve, and neuropathies or neurogenic atrophies. Muscle
                                                               weakness is secondary to an abnormality along the course of the peripheral
                                                               nerve, from the anterior horn cell to the neuromuscular junction. Because of
                      TABELA 1                                 the progression of these disorders, a search for therapeutic methods is need.
                                                               Too few drugs are able to arrest the progression of the most myopathies, or
  Idade dos pacientes, idade ao início dos sintomas e a        to improve the routine daily activities. Ai Chi has been used a good method
 pontuação pela Escala de Barthel antes e após um ano          to treat patients with neuromuscular diseases, including spinal muscular
                       de terapia                              atrophies. The main purpose is to improve the physical condition and quality
                                                               of life for these patients.
Nome      Idade       Início      Barthel       Barthel
                    da doença      antes        depois         KEYWORDS
S.F.        18          07          70            80           Neuromuscular diseases, hydrotherapy, aquatic relax in heated swimming
L.S.        15          05          80            95           pool, Ai Chi method.
W.S.        30          13          70            85

                                                               Referências
    Por tratar-se de doença progressiva, não esperávamos
a melhora da força muscular e das atividades de vida           1.    Dubovitz V. Muscle disorders: Saunders, 2 nd. ed., London,
                                                                     1995.
diária; entretanto, foi evidente uma melhora nos índices       2.    Ramos JA, Prado FC. Atualização terapêutica. Artes
de Barthel, principalmente nos itens vestuário e higiene.            Médicas, 19 a ed., São Paulo, 1999.
    Os pacientes relataram que esse tipo de terapia,           3.    Engel AG, Armstrong CF. Myology. McGraw-Hill, 2nd. ed., New
realizada individualmente, é facilmente aprendida por                York, 1995.
                                                               4.    Cunha MCB, Oliveira ASB, Labronici RHDD. Spinal muscular
eles, e mesmo com suas limitações nas amplitudes de                  atrophy type II (Intermediary) and III (Kugelberg - Welander).
movimentos e diminuição de força muscular, a água                    Evolution of 50 patients with physiotherapy and hydrotherapy
auxilia e facilita a sua realização.                                 in a swimming pool. Arquivos de Neuropsiquiatria, 54:402-6,
    Particularmente, quando solicitávamos que eles                   1996.
                                                               5.    Skinner AT, Thomson AM. Duffields exercise in water, 3rd.
comparassem essa técnica com as outras previamente                   ed. London, England, Bailliere Tindall, 1983.
aplicadas, houve uma preferência unânime pelo Ai Chi.          6.    Davis B, Harrison RA. Hydrotherapy in practice. New York,
No método Watsu, o paciente permanece nos braços do                  NY: Churchill Livingston, 1988, pp. 171-7.
terapeuta, sem apoio da cabeça, entrando água no ouvido,       7.    Campion MR. Hidroterapia: princípios e prática. Manole, São
                                                                     Paulo, 1999.
não permitindo, assim, o relaxamento total do paciente.        8.    Dull H. Freeing the body in water. Middle-town, Caliph: Harbin
    Um outro fator positivo no método foi percebido pelo             Springs Publishing, 1984.
terapeuta. Ele pôde realizar uma terapia de relaxamento,       9.    Ruoti RG, Morris DM. Aquatic – Reabilitação aquática.
junto com o paciente, proporcionando-lhe um grande                   Manole, São Paulo, 2000, 463p.
                                                               10.   Association of swimming Therapy. Swimming for people with
grau de relaxamento e prazer. Para um completo                       disabilities. 2 nd. ed. London, A & C Black, 1992. 128p.
aprendizado, o Ai Chi não é um método de difícil               11.   Morris DM. Aquatic rehabilitation for the treatment of
execução, bastando seguir os comandos sob forma                      neurological disorders J Back and Musculoeskeletal
organizada e ter tranqüilidade.                                      Rehabilitation, 4:297-308, 1994.
                                                               12.   Konno Jun. Ai Chi. A symphony for my body. Physical
                                                                     Therapy Products, 2:46-8, 1997.


CONCLUSÃO
   As abordagens hidroterapêuticas, realizadas em
piscina aquecida, têm sido utilizadas como tratamento          Endereço para correspondência:
complementar para pacientes portadores de doenças                  Márcia Cristina Bauer Cunha
                                                                   Unifesp – EPM – Setor Neuromuscular
neuromusculares. O método Ai Chi, mais recentemente                Rua Pedro de Toledo, 377 – Vila Clementino
desenvolvido, parece ser uma técnica promissora e                  Cep 04039-031 – São Paulo, SP
facilmente aplicável.                                              E-mail: marcia_cunha@usa.net




 CUNHA, M.C.B.; LABRONICI, R.H.D.D.; OLIVEIRA, A.S.B. & GABBAI, A.A. – Relaxamento              Rev. Neurociências 8 (2): 46-49, 2000
 Aquático, em Piscina Aquecida, Realizado pelo Método Ai Chi: uma Nova Abordagem
 Hidroterapêutica para Pacientes Portadores de Doenças Neuromusculares
50

                                                                                              ARTIGO


                                                  Cefaléias Secundárias na Infância
                                                  Deusvenir de Souza Carvalho*




RESUMO                                            INTRODUÇÃO
As cefaléias secundárias na infância são             Cefaléia é um sintoma. Não perdendo de vista esse horizonte, pode-se
abordadas segundo os principais itens da          encontrar dois grandes grupos nos quais ela aparece: o grupo das cefaléias
classificação de 1988 da International
Headache Society. O conceito de cefaléia
                                                  primárias e o grupo das cefaléias secundárias ou sintomáticas. As cefaléias
secundária ou sintomática, bem como a visão       primárias são aquelas em que cefaléia é o sintoma principal na doença ou na
de peculiaridades dos aspectos clínicos para o
diagnóstico na infância são apresentados. São
                                                  síndrome e no caso das secundárias ou sintomáticas, a doença ou síndrome é
feitos breves comentários da orientação aos       outra quando uma das manifestações é o sintoma cefaléia.
casos.                                               A Classificação e Critérios Diagnósticos das Cefaléias, Nevralgias
                                                  Cranianas e Dor Facial, proposta em 1988 pelo Comitê de Classificação das
UNITERMOS                                         Cefaléias da Sociedade Internacional de Cefaléia (IHS)1, enumera as cefaléias
Cefaléias na infância, cefaléias secundárias na
infância, cefaléias sintomáticas na infância.
                                                  primárias nos itens de 1 a 4 e as cefaléias secundárias ou sintomáticas, aqui
                                                  abordadas, nos de 5 a 11, as neuralgias no item 12, restando o item 13 para
                                                  as cefaléias não classificáveis (Tabela 1). As subdivisões de cada um dos




                                                                                      TABELA 1
                                                                      Principais itens da Classificação da IHS1
                                                     Cefaléias primárias
                                                        1 – Enxaqueca (ou migrânea)
                                                        2 – Cefaléia tipo tensão
                                                        3 – Cefaléias em salvas e hemicrânia paroxística crônica
                                                        4 – Cefaléias diversas não associadas a lesões estruturais
                                                     Cefaléias secundárias ou sintomáticas
                                                        5 – Cefaléia associada a trauma de crânio
                                                        6 – Cefaléia associada a doenças vasculares
                                                        7 – Cefaléia associada a outros distúrbios intracranianos nãovasculares
                                                        8 – Cefaléia associada a substâncias ou à sua retirada
                                                        9 – Cefaléia associada à infecção não cefálica
                                                        10 – Cefaléia associada a distúrbio metabólico
                                                        11 – Cefaléia ou dor facial associada a distúrbio do crânio, pescoço, olhos,
                                                             orelhas, seios paranasais, dentes ou a outras estruturas faciais ou cranianas
*   Professor-adjunto e Chefe do Setor de               12 – Neuralgias cranianas, dor de tronco nervoso e dor de deaferentação
    Investigação e Tratamento das Cefaléias
    (SITC) da Disciplina de Neurologia da               13 – Cefaléia não classificável
    Escola Paulista de Medicina – Unifesp.




CARVALHO, D.S. – Cefaléias Secundárias na Infância                                                   Rev. Neurociências 8(2): 50-54, 2000
51

itens são apresentadas no texto, na medida da necessidade.      aluno de medicina recebe informação sobre dor de
Serão consideradas as principais cefaléias secundárias          cabeça durante uma hora apenas 8 . No entanto, essa
ou sintomáticas da infância e da adolescência.                  queixa certamente é feita, pelos pacientes, a maioria, se
                                                                não a todos os especialistas.


CEFALÉIAS SECUNDÁRIAS OU
SINTOMÁTICAS                                                    CEFALÉIA ASSOCIADA A TRAUMA
                                                                DE CRÂNIO
   As cefaléias secundárias ou sintomáticas levantam
uma questão intrigante sobre o processo que, por vezes,             A classificação e os critérios para a cefaléia associada
torna-a semelhante às cefaléias primárias. Por outro lado,      a trauma de crânio são indicados na tabela 2, deixando
o estudo dessas cefaléias secundárias pode ajudar a             bem claro os dados que indicam esses diagnósticos.
entender a fisiopatologia e a etiopatogenia das                     Apesar de a cefaléia pós-traumática guardar relação
primárias 2. Não se pretende aprofundar nos quadros             com o trauma craniano, o mecanismo responsável por
específicos, sendo suficiente enfocar os diagnósticos a         sua gênese ainda é desconhecido1,9.
partir do sintoma cefaléia.                                         Após um trauma craniano, que pode ou não ser
   Mesmo quando a queixa principal é a dor de cabeça            significativo e acompanhar-se ou não de outros sintomas
e o exame geral é normal, ainda é espantoso o número            e sinais comprobatórios ao exame físico ou subsidiário
de crianças e de adolescentes que procuram o neuro-             (vide Tabela 2), o paciente pode apresentar cefaléia. Para
logista ou o especialista em cefaléia, somente depois de        que esse sintoma seja relacionado ao trauma, ele deve
consulta ao otorrinolaringologista e/ou ao oftal-               se iniciar até 14 dias a partir do mesmo, podendo durar
mologista 3,4,5,6,7 . Um levantamento sobre o ensino            até 8 semanas (forma aguda), ou persistir por mais de 8
médico na Europa mostrou que, durante a graduação, o            semanas (forma crônica).



                                                        TABELA 2
                      Classificação e critérios diagnósticos da cefaléia associada a trauma de crânio1
   Cefaléia pós-traumática aguda com trauma de crânio               Cefaléia pós-traumática crônica com trauma de crânio
      significativo e/ou sinais comprobatórios                         significativo e/ou sinais comprobatórios
   A. A importância do trauma de crânio é documentada por,          A. A importância do trauma de crânio é documentada por,
      pelo menos, um dos seguintes itens:                              pelo menos, um dos seguintes itens:
      1 – Perda de consciência                                         1 – Perda de consciência
      2 – Amnésia pós-traumática durando mais de 10 minutos            2 – Amnésia pós-traumática durando mais de 10
      3 – Pelo menos dois dos seguintes mostrando anorma-              minutos
      lidades: exames clínico e neurológico, raio X do                 3 – Pelo menos dois dos seguintes mostrando anorma-
      crânio, neuroimagem, potenciais evocados, líquido                lidades: exames clínico e neurológico, raio X do
      cefalorraquidiano, provas de função vestibular, testes           crânio, neuroimagem, potenciais evocados, líquido
      neuropsicológicos                                                cefalorraquidiano, provas de função vestibular, testes
   B. A cefaléia ocorre em menos de 14 dias após recupe-               neuropsicológicos
      ração da consciência (ou após o trauma, se não houver         B. A cefaléia ocorre em menos de 14 dias após recuperação
      perda de consciência)                                            da consciência (ou após o trauma, se não houver perda
   C. A cefaléia desaparece em 8 semanas ou menos, após                de consciência)
      recuperação da consciência (ou após o trauma, se não          C. A cefaléia persiste além de 8 semanas, após recuperação
      houver perda de consciência)                                     da consciência (ou após o trauma, se não houver perda
                                                                       de consciência)
   Cefaléia pós-traumática aguda sem trauma de crânio
      significativo e sem sinais comprobatórios                     Cefaléia pós-traumática crônica sem trauma de crânio
   A. Trauma de crânio que não satisfaz o item A para                  significativo e sem sinais comprobatórios.
      cefaléia com sinais comprobatórios                            A. Trauma de crânio que não satisfaz o item A para
   B. A cefaléia ocorre em menos de 14 dias após o trauma              cefaléia com sinais comprobatórios
   C. A cefaléia desaparece em 8 semanas ou menos após o            B. A cefaléia ocorre em menos de 14 dias após o trauma
      trauma                                                        C. A cefaléia persiste além de 8 semanas, após o trauma



 CARVALHO, D.S. – Cefaléias Secundárias na Infância                                        Rev. Neurociências 8 (2): 50-54, 2000
52

   A cefaléia apresenta-se em torno de 15% nos                CEFALÉIA ASSOCIADA A OUTROS
pacientes que sofreram trauma craniano. Do total              DISTÚRBIOS INTRACRANIANOS
daqueles que sofreram trauma significativo e/ou com           NÃO-VASCULARES
sinais comprobatórios (item 3 da Tabela 2), o quadro
de cefaléia aparece em torno de 40% a 60% dos                    Critérios diagnósticos:
pacientes 10,11.                                              • Sinais e sintomas de distúrbio intracraniano.
   Além da cefaléia, podem-se associar, isolada ou            • Confirmação deste por investigação apropriada.
conjuntamente, outros sinais e sintomas, tais como
                                                              • Cefaléia como um sintomas novo ou como uma nova
tontura, irritabilidade, ansiedade, vômitos. A forma
                                                                 apresentação ocorre em clara relação com o distúrbio
crônica, mais comum em adultos que em crianças, está
                                                                 intracraniano.
inserida no contexto de uma síndrome pós-concussional
                                                                 Os quadros são: hipertensão intracraniana idiopática,
que apresenta, além da cefaléia, outros sintomas, como
                                                              hidrocefalia, hipotensão intracraniana, pós-punção
distúrbios de memória, distúrbios comportamentais,
                                                              lombar, fístula liquórica, infecção intracraniana,
distúrbios de humor, redução da atenção e do rendimento
                                                              meningite, encefalite, abscesso cerebral, empiema
escolar. Nesses pacientes, os fatores psíquicos devem
                                                              subdural, sarcoidose e outras doenças inflamatórias não
ser analisados e a abordagem multidisciplinar (psico-
                                                              infecciosas, cefaléia associada à injeção intratecal e às
diagnóstico) é necessária.
                                                              neoplasias.
   Nos pacientes com cefaléia associada a trauma de
crânio, a anamnese e o exame físico geral e neurológico,
ainda que muito cuidadosos, podem não ser suficientes         Tumor cerebral
para excluir lesão orgânica (ex.: hematoma subdural)
que, na maioria dos casos, ocorre nas primeiras 24 horas.         A cefaléia secundária a tumores cerebrais pode
Exames subsidiários complementares são necessários            aparecer na dependência da localização e da velocidade
nesses casos.                                                 de crescimento da massa intracraniana13. A sua suspeita
   O tratamento sintomático do quadro agudo é feito           pode ser feita sempre que a história apontar para uma
com analgésicos e antiinflamatórios. O tratamento             piora progressiva na freqüência, na intensidade ou na
profilático é complexo, devido aos fatores psicoemo-          duração dessa cefaléia. Em alguns casos de tumores de
cionais envolvidos. Após o traumatismo craniano, pode         crescimento lento, a cefaléia pode ser o único sintoma
surgir uma cefaléia com características de enxaqueca          durante meses, sem qualquer sinal de déficit neurológico
ou de cefaléia tipo tensão 12.                                associado.
                                                                  O caráter da cefaléia é geralmente não pulsátil, com
                                                              duração de minutos a horas e localização também
                                                              variável; o período preferencial é o matutino e inclui
CEFALÉIA ASSOCIADA A DOENÇAS                                  como fatores de piora, a atividade física rotineira ou o
VASCULARES                                                    esforço e manobras que levem a aumento da pressão
                                                              intracraniana (Valsalva). Pode também, em alguma fase,
    Os critérios para esse diagnóstico são:
                                                              apresentar como sinais e sintomas acompanhantes
• sintomas ou sinais de distúrbio vascular;                   aqueles da síndrome de hipertensão intracraniana, ou
• investigações apropriadas que indicam distúrbio vascular;   seja, além da cefaléia, os vômitos, sendo estes às vezes
• cefaléia como um sintoma novo ou com uma nova               em jato e não precedidos de náuseas, e papiledema. O
    apresentação estando em clara relação temporal com        exame neurológico pode também apresentar, depen-
    a instalação do distúrbio vascular.                       dendo da localização do tumor, alterações do estado
    Estão enquadrados neste grupo: a cefaléia da doença       mental, distúrbios visuais e da fala, ataxia, parestesias
vascular isquêmica aguda, o ataque isquêmico transitório,     e déficits motores. Eventualmente ocorrem crises
o episódio isquêmico tromboembólico, o hematoma               epilépticas. O tratamento é feito pela abordagem do
intracerebral parenquimatoso, o hematoma subdural, o          tumor, o qual pode ser cirúrgico, dependendo das
hematoma epidural, a hemorragia subaracnóidea, a              características anatomoclínicas e, em alguns casos, pode
malformação arteriovenosa, o aneurisma, as arterites, as      haver necessidade de complementação pela quimio-
tromboses venosas intracranianas, a dissecção da artéria      terapia e/ou radioterapia.
carótida ou da vertebral, a carotidinia, a pós-endarte-           Embora haja uma grande preocupação, por parte dos
rectomia, a hipertensão arterial aguda e a crônica, o         responsáveis pela criança ou adolescente e também por
feocromocitoma, a pré-eclâmpsia e a eclâmpsia.                parte dos médicos, com o tumor cerebral como causa


CARVALHO, D.S. – Cefaléias Secundárias na Infância                                    Rev. Neurociências 8(2): 50-54, 2000
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da cefaléia, felizmente os dados estatísticos apontam,       CEFALÉIA ASSOCIADA À INFECÇÃO
para essa etiologia, uma freqüência menor de 1% nos          NÃO-CEFÁLICA
serviços especializados no atendimento de pacientes com
cefaléia. Vale lembrar que o caso individual de um              Refere-se às infecções virais, às infecções bacterianas
paciente com cefaléia com características atípicas, que      e a outras infecções.
mude de padrão, que apresente desencadeantes como o
esforço físico, que o exame neurológico mostre
alteração, que responda mal ao tratamento de rotina,
pode requerer avaliação de um especialista.
                                                             CEFALÉIA ASSOCIADA A DISTÚRBIO
                                                             METABÓLICO

Infecções tropicais                                              Critérios diagnósticos:
                                                             • Sinais e/ou sintomas de distúrbio metabólico.
    Neurocisticercose: a neurocisticercose é um importante   • Confirmação laboratorial quando especificado para
problema de saúde pública. A neurocisticercose humana é          uma determinada subforma.
causada pela presença do Cysticercus cellulosae, a forma     • Intensidade da cefaléia e/ou da sua freqüência está
larvária da Taenia solium. A cefaléia é um sintoma que
                                                                 relacionada com as variações do distúrbio metabólico
está presente na maioria das síndromes neurocisti-
                                                                 em um determinado período de tempo específico.
cercóticas, como a hipertensão intracraniana, a meningite
                                                             • A cefaléia desaparece dentro de 7 dias, após a
e a meningoencefalite. As características dessa cefaléia,
                                                                 normalização do estado metabólico.
em geral, confundem-se com a enxaqueca ou com a cefaléia
                                                                 Os quadros são: cefaléia por hipóxia produzida de
tipo tensão. Esses pacientes costumam apresentar quadros
                                                             altitudes elevadas, por doença pulmonar, por hiper-
de cefaléia intratáveis com sintomáticos2. O tratamento
                                                             capnia, por hipoglicemia e cefaléia da diálise.
específico deve ser feito pelo especialista.
    Malária: síndrome meningítica que pode ser
observada no curso de uma crise de malária. Entre os
plasmódios que infectam o homem, o P. falciparum é o         CEFALÉIA OU DOR FACIAL
que pode produzir manifestações cerebrais. A cefaléia        ASSOCIADA A DISTÚRBIO DO
pode aparecer devido a alterações vasculares, hipóxia,
                                                             CRÂNIO, PESCOÇO, OLHOS,
microinfartos, hemorragias, inflamação, e a hipertensão
intracraniana, pelo edema cerebral2. O tratamento e o
                                                             ORELHAS, SEIOS PARANASAIS,
acompanhamento devem ser feitos pelo especialista.           DENTES OU OUTRAS ESTRUTURAS
                                                             FACIAIS OU CRANIANAS

CEFALÉIA ASSOCIADA A                                         Causas oculares
SUBSTÂNCIAS OU À SUA RETIRADA
                                                                As patologias oculares associadas à cefaléia são: o
    São necessários estudos duplo-cegos controlados com      glaucoma agudo, os erros de refração não corrigidos,
placebo para estabelecer que uma substância realmente        como hipermetropia, astigmatismo, presbiopia e uso
induz à cefaléia. Isso foi claramente demonstrado em         incorreto de óculos; a heteroforia ou heterotropia e a
dois estudos nos quais pacientes relataram cefaléia após     neurite óptica. O importante, nesses quadros, é que os
ingestão de chocolate amargo ou de aspartame. Em             dados da história clínica sugiram uma estreita relação
ambos os casos, a cefaléia foi igualmente freqüente após     da dor de cabeça com o uso da visão e a melhora quando
placebo. Teve comprovação a cefaléia induzida pela           esse desencadeante é contornado.
ingestão de nitratos, nitritos, glutamato monossódico,
álcool, ergotamina, analgésicos e pela inalação de
                                                             Causas temporomandibulares
monóxido de carbono. Para o diagnóstico de que a
retirada de uma substância seja responsável por cefaléia,       A dor da articulação temporomandibular ou dos
é necessário que ela apareça após o uso de uma dose          tecidos a ela relacionados é comum, mas raramente é
mínima e que ocorra quando essa substância é total ou        devida a um distúrbio orgânico definido. Além disso,
quase totalmente eliminada. Isso ocorre com a supressão      quando distúrbios orgânicos são encontrados, tais como
do álcool, da ergotamina, da cafeína e de narcóticos.        os da artrite reumatóide, a dor significativa ou a disfunção


 CARVALHO, D.S. – Cefaléias Secundárias na Infância                                    Rev. Neurociências 8 (2): 50-54, 2000
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importante não costumam ocorrer. Sem dúvida, a causa                         Referências
mais freqüente de dor proveniente dessa articulação é
                                                                             1.  IHS – International Headache Society. Headache
miofacial, devido à disfunção oromandibular e à tensão.                          Classification Commitee. Classification and diagnostic
                                                                                 criteria for headache disorders, cranial neuralgias and facial
                                                                                 pain. Cephalalgia, 8(suppl. 7):1-96, 1988.
Causas nasofaríngeas                                                         2.  Carvalho, DS. Symptomatic headaches: tropical infections.
                                                                                 In: Headache and migraine in childhood and adolescence.
   A sinusite aguda pode acompanhar-se de cefaléia.                              Guidetti V, Russel G, Sillanpää M, Winner P (eds.). Martin
Os critérios para esse diagnóstico são:                                          Dunitz Publishers, London, (aceito para publicação em 2000).
• descarga nasal purulenta espontânea ou evidenciada                         3.  Barlow CF. Headaches and migraine in childhood. Clinics in
                                                                                 developmental medicine nº 91. Philadelphia, Spastics
   por sucção;
                                                                                 International Medical, 1984. 288p.
• achados patológicos em um ou mais dos seguintes                            4.  Hockaday JM, Barlow CF. Headache in children. In: Olesen
   exames: raios X, tomografia computadorizada,                                  J, Tfelt-Hansen P, Welch KMA (eds.). The Headaches. New
   ressonância magnética e transiluminação;                                      York, Raven Press, 1993, pp. 795-808.
• início simultâneo da cefaléia e da sinusite;                               5.  Hockaday JM. Headaches in children. In: Vinken PJ, Bruyn
                                                                                 GW, Klawans HL (eds.). Headache. Amsterdam, Elsevier,
• localização da cefaléia: 1 – na sinusite frontal aguda,                        1986.
   a cefaléia é localizada diretamente sobre o seio e pode                   6.  Lewis DW, Middlebrook MT, Mehallick L, Rauch TM, Deline C,
   irradiar-se para o vértice ou para atrás dos olhos; 2 –                       Thomas EF. Pediatric headaches: what do the children want?
   na sinusite maxilar aguda, a cefaléia é localizada                            Headache, 36:224-30, 1996.
                                                                             7.  Massiou H. What is lacking in the treatment of paediatric
   diretamente sobre a área antral e pode irradiar-se para                       and adolescent migraine? Cephalalgia, 17(suppl. 17):21-4,
   os dentes superiores ou para a fronte; 3 – na etmoidite                       1997.
   aguda, a cefaléia é localizada entre e atrás dos olhos e                  8.  Antonaci F. What is the role of international societies and
   pode se irradiar para a área temporal; 4 – na esfenoidite                     what could they do better? Cephalalgia, 17(suppl. 17):25-8,
                                                                                 1997.
   aguda, a cefaléia é localizada na região occipital, no                    9.  Winner P. Headache in children: diagnostic problems and
   vértice, na região frontal ou atrás dos olhos.                                emerging treatments. Cephalalgia, 17:228, 1997.
• a cefaléia desaparece após o tratamento da sinusite                        10. Sillanpää M, Piekkala P, Kero P. Prevalence of headache at
   aguda.                                                                        preschool age in an unselected population. Cephalalgia,
                                                                                 11:239-42, 1991.
   Tem sido freqüente a suposição do diagnóstico de                          11. Waters WE. Community studies of the prevalence of
cefaléia por sinusopatia, com as conseqüentes medidas de                         headache. Headache, 9:178-86, 1974.
investigação, bem como tratamento ou encaminhamento                          12. Olesen J. The secondary headaches: introduction. In: The
ao especialista. Nos serviços de atendimento especializado                       headaches. Olesen J, Tfelt-Hansen P, Welch KMA (eds.).
                                                                                 Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 2000, pp.
em otorrinolaringologia, a cefaléia associada à sinusopatia                      763-4.
aparece em menos de 30% dos casos. O tratamento é feito                      13. Forsyth PA, Posner JB. The secondary headaches:
com quimioterápicos cabíveis para o tipo de infecção.                            intracranial neoplasms. In: The headaches. Olesen J, Tfelt-
                                                                                 Hansen P, Welch KMA (eds.). Philadelphia, Lippincott
                                                                                 Williams & Wilkins, 2000, pp. 849-59.
SUMMARY
Secondary Headache in Childhood
An overview of secondary or symptomatic headaches in children are
presented following the International Headache Society Classification. The
author’s conceptual definition of secondary or symptomatic headaches is
presented and peculiarities of the main clinical aspects in infancy are
considered for diagnosis regarding clinic experience. Are, also made brief
comments on how to conduct the cases.
                                                                             Endereço para correspondência:
                                                                                 Rua Pedro de Toledo, 980 – cj. 33
KEYWORDS                                                                         Vila Clementino – São Paulo, SP
Headache in children, secondary headache on childhood, symptomatic               Fone/Fax: (0XX11) 574-6843
headache on childhood.                                                           E-mail: deusveni@provida.org.br




CARVALHO, D.S. – Cefaléias Secundárias na Infância                                                       Rev. Neurociências 8(2): 50-54, 2000
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                                                                                            ARTIGO


                                                   Tratamento Farmacológico das
                                                   Alterações Comportamentais e de
                                                   Humor Decorrentes de Lesões
                                                   Cerebrais
                                                   Sonia M. Dozzi Brucki*
                                                   Paula A. Rodrigues de Gouveia**
                                                   Sílvia A. Prado Bolognani**
                                                   Orlando F. Amodeo Bueno***




RESUMO                                             INTRODUÇÃO
As lesões cerebrais podem apresentar-se como
déficits neurológicos bem evidentes, tais como         Alterações não cognitivas ocorrem com muita freqüência entre portadores
dificuldades motoras; porém outros déficits
menos diagnosticados e valorizados podem           de lesões cerebrais, seja de origem vascular, tumoral ou traumática. Tentaremos
estar associdados, como alterações compor-         expor de forma simplificada e esquemática. Existe uma grande diversidade de
tamentais e cognitivas. Essas alterações
também necessitam de medicação efetiva, tanto      sintomas, dependentes do tipo e da localização das lesões, com vários sistemas
para a melhora funcional quanto para pos-          de neurotransmissores envolvidos. As alterações não cognitivas podem ser
sibilitar um convívio social mais adequado.
Neste trabalho, revisamos os principais déficits   exemplificadas por depressão, apatia, ansiedade, agressividade, agitação e
não cognitivos e as principais linhas de           delírios. Geralmente, ao nos depararmos com essas alterações, devemos,
tratamento medicamentoso ora em uso.
                                                   inicialmente, determinar qual o problema a ser abordado primordialmente, pois
                                                   pode surgir mais de uma alteração em um mesmo paciente. Outro ponto de
UNITERMOS
                                                   fundamental importância no tratamento farmacológico são os efeitos indesejáveis,
Lesão cerebral, tratamento farmacológico,
distúrbio de comportamento.                        principalmente dos sedativos e dos que afetam as funções cognitivas. Também é
                                                   preciso ter cautela com a titulação das doses, já que em indivíduos com lesão
                                                   cerebral, esses efeitos podem ser observados mais precoce e intensamente. Além
                                                   dessas considerações iniciais, devemos observar mais atentamente o paciente
                                                   idoso, pelas alterações na farmacocinética das drogas que ocorrem com o
                                                   envelhecimento. O processo de metabolização das drogas pode diminuir com a
                                                   idade e sua distribuição pode ser alterada pelo aumento da razão gordura/água,
                                                   gerando um aumento na distribuição de substâncias lipofílicas. Os metabólitos
                                                   também podem estar aumentados por decréscimo da filtração glomerular1.
*   Doutora em Medicina. Neurologista do
    Serviço de Reabilitação Neuropsicológica           A seguir, esquematizaremos alternativas terapêuticas farmacológicas para
    do Centro Paulista de Neuropsicologia –        cada tipo de alteração não cognitiva mencionada.
    CPN – Departamento de Psicobiologia –
    EPM – Unifesp.
** Psicóloga do Ser viço de Reabilitação
    Neuropsicológica do CPN – Departamento         DEPRESSÃO
    de Psicobiologia – EPM – Unifesp.
*** Professor-adjunto, Coordenador Geral do
    CPN – Departamento de Psicobiologia –             A prevalência dos quadros depressivos varia entre os estudos realizados,
    EPM – Unifesp.                                 dependendo dos critérios adotados, do tipo de questionário (auto-referido


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ou por familiares), da fase da recuperação do quadro de                 • Neurológicos: confusão mental (mais em idosos),
base (se aguda ou crônica) e do tipo de amostra utilizada.                 sedação, agitação, tremores de mãos, movimentos
Nos traumas cranioencefálicos (TCE) leves, esta varia                      coreoatesóticos e acatisia.
de 6% a 39% dos pacientes, enquanto entre os TCE                        • Endócrinos: aumento da secreção de prolactina.
graves, de 10% a 77%2. A depressão varia de 5% a 60%                    • Cutâneos: exantemas, urticárias, eritema
dos casos, em pacientes com acidentes vasculares
                                                                           multiforme e fotossensibilidade.
cerebrais, sendo mais freqüente naqueles com lesões
                                                                     b) Contra-indicações
frontais e à esquerda, aumentando sua gravidade de
acordo com a proximidade ao pólo frontal; nos                           • Glaucoma de ângulo fechado.
indivíduos com lesões à direita, a depressão parece                     • Bloqueios de ramo, bloqueios de condução e
associar-se à história familiar e às lesões parietais.                     infarto agudo do miocárdio.
   Os pesquisadores têm proposto vários mecanismos                   c) Inibidores da monoaminooxidase (IMAO)
responsáveis pela irrupção do quadro depressivo3:                       • Os subtipos da MAO, A e B, estão envolvidos no
• alteração no metabolismo de catecolaminas e de                           metabolismo da serotonina, da noradrenalina e da
   acetilcolina cerebrais;                                                 dopamina.
• distúrbios neuroendócrinos associados ao envol-                       • A moclobemida é um inibidor seletivo da MAO-A
   vimento pituitário;                                                     e é reversível.
• cortisol sérico elevado;                                              • Pode existir hipotensão postural grave e cuidados
• alteração da vigília associada à substância reticular                    precisam ser tomados quanto à dieta, a qual deve
   ativadora ascendente.
                                                                           ser pobre em tiramina, que é um precursor das
   A escolha da medicação antidepressiva deve ser feita
                                                                           catecolaminas, evitando-se crises hipertensivas
visando a uma interação com outras drogas eventualmente
                                                                           graves.
usadas, doenças concomitantes (como hipotiroidismo) e
                                                                     d) Inibidores seletivos da recaptação de serotonina
perfil de efeitos colaterais. É importante afastar
                                                                        (ISRS)
medicações que induzam à depressão, como inibidores
                                                                        • A deficiência de serotonina tem sido relacionada
da enzima conversora de angiotensina, betabloqueadores,
                                                                           com depressão, pânico, ansiedade, agressividade
bloqueadores de canal de cálcio, hipnóticos sedativos,
                                                                           e impulsividade, tornando esses inibidores úteis
bloqueadores H2, digoxina e corticóides4.                                  em indivíduos portadores de lesões cerebrais e
                                                                           de distúrbios do comportamento.
                                                                        • Têm um perfil com menos efeitos colaterais e maior
ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS                                                tolerabilidade em comparação aos tricíclicos.
                                                                        • A potência de inibição é diferente, sendo maior a
   Agem na região pré-sináptica, bloqueando a recaptação                   da sertralina e da paroxetina.
de noradrenalina (NE) e de serotonina (5-HT), em menor                  • A farmacocinética é linear (concentração plas-
proporção de dopamina (DA). Todos têm efeitos colaterais                   mática é proporcional à dose) com a sertralina e
similares. São agentes antiarrítmicos da classe 1 A,                       o citalopram, diferentemente da fluoxetina, da
podendo agravar bloqueios cardíacos existentes, e possuem                  paroxetina e da fluvoxamina.
efeito inotrópico negativo. Agentes como a imipramina e                 • A fluoxetina parece ter efeito mais ativador,
a amitriptilina têm maiores efeitos anticolinérgicos,                      devendo ser dada, preferencialmente, pela manhã,
agravando quadros de confusão mental5; assim, como                         enquanto a paroxetina é mais útil em pacientes
possuem ação sedativa, podem ser utilizados quando este                    ansiosos.
é um efeito desejável em um paciente que se apresente                   • Podem aumentar ou diminuir a agregação
agitado. Os pacientes podem exibir também hipotensão                       plaquetária, sendo problemáticos em pacientes
postural e ganho de peso. Em indivíduos mais idosos, a                     com acidentes vasculares cerebrais.
escolha mais adequada nessa classe de drogas pode ser a                 • São contra-indicados em indivíduos utilizando
nortriptilina, que possui menor efeito anticolinérgico.                    terfenadina, astemizol e cisaprida, pelo risco de
a) Efeitos colaterais                                                      arritmias cardíacas fatais.
   • Anticolinérgicos: boca seca, visão turva,                          • O uso concomitante de IMAO e de drogas
       obstipação intestinal e retenção urinária.                          serotoninérgicas ou drogas de ação seroto-
   • Cardiovasculares: hipotensão postural, aumento                        ninérgica pode levar ao aparecimento da síndrome
       da freqüência cardíaca, aumento do intervalo PR                     serotoninérgica, caracterizada por1,6: alteração do
       e do complexo QRS.                                                  estado mental e do comportamento (agitação,


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       confusão, desorientação, coma); alterações                       • Embora com efeitos colaterais menos intensos,
       motoras (mioclonias, rigidez, hiper-reflexia,                        os mais freqüentes são: agitação, ansiedade, boca
       incoordenação); instabilidade autonômica (febre,                     seca e obstipação intestinal. Cuidado em pacientes
       náuseas, diarréia, diaforese, taquicardia, taquip-                   epilépticos, pois aumenta o risco de convulsões.
       néia); mais raramente: febre elevada, crises
       convulsivas, nistagmo, crises oculógiras, opistó-
       tono, disartria, coagulação intravascular dis-
       seminada, mioglobinúria, insuficiência renal,                 APATIA
       arritmias cardíacas, coma e morte.
                                                                         Os quadros de apatia freqüentemente estão ligados a
   Atenção ao período de eliminação da droga utilizada
                                                                     um alentecimento psicomotor e a um empobrecimento
antes da substituição medicamentosa por agentes
serotoninérgicos.                                                    emocional. Interferem de modo crucial nos processos
a) Efeitos colaterais dos ISRS: gastrintestinais: náuseas,           de reabilitação, tornando-se, junto à anosognosia, um
   vômitos, dores abdominais, diarréia; neurológicos:                dos problemas mais difíceis de se lidar nesses
   desordens do movimento (sintomas extrapiramidais e                programas. Podem confundir-se com sintomas
   discinesia tardia); psiquiátricos: agitação, insônia,             depressivos. Para a avaliação desses quadros, existe a
   nervosismo, ansiedade; cutâneos: urticária; alterações            Apathy Evaluation Scale, que permite diferenciar
   ponderais: perda de peso com fluoxetina e sertralina              depressão e ansiedade da apatia7. A apatia está muito
   (início do tratamento) e aumento de peso com a paroxe-            ligada a lesões frontais e interrupções das vias fronto-
   tina e com o citalopram; borramento visual; anorgasmia            estriatais e frontomesolímbicas. Recentemente, Kant et
b) Inibidor seletivo da recaptação de serotonina e                   al.8 avaliaram casos de TCE e observaram que 10,84%
   noradrenalina: venlafaxina                                        dos pacientes apresentavam apatia isolada, 10,84%
   • Tem como metabólito ativo: O-desmetilven-                       apresentavam depressão isolada e 60% exibiam ambos
       lafaxina.                                                     os quadros, concomitantemente. Em indivíduos com
   • Sua discreta ação dopaminérgica pode explicar a                 AVC, a apatia aparece em aproximadamente 12% dos
       melhora, em alguns casos, de alterações cog-                  casos9.
       nitivas.                                                          Podem ser utilizadas drogas estimulantes, como
   • Efeitos colaterais: náuseas, tonturas, sonolência.              metilfenidato e a dextroanfetamina, porém, com
   • Pode haver o aparecimento de hipertensão arterial               cuidado, pois podem piorar quadros confusionais, além
       em decorrência da inibição da recaptação da nora-             de hipertensão e taquicardia, estas últimas devido ao
       drenalina, sendo mais freqüente com doses elevadas,           aumento da atividade noradrenérgica. Outra alternativa
       devendo ser realizada uma avaliação do benefício              são os agonistas dopaminérgicos, principalmente para
       de seu uso em pacientes cardiopatas e hipertensos.            os pacientes com lesões em regiões de gânglios da base
   • Pode também precipitar a síndrome neuroléptica                  ou frontais – a mais utilizada é a bromocriptina. Seus
       maligna.                                                      efeitos colaterais mais freqüentes são intolerância
c) Inibidores de recaptação da serotonina e anta-                    gástrica e confusão mental, o que pode ser contornado
   gonistas alfa                                                     por uma titulação gradual da medicação.
   • Nefazodona: cefaléia, boca seca, náuseas. Cautela
       em indivíduos cardiopatas, pelo risco de hipoten-
       são postural (cuidado em idosos) e bradicardia.
       Em idosos, deve ser feita uma titulação com doses             IRRITABILIDADE
       menores, devido aos efeitos anticolinérgicos,
       como confusão mental. Tem propriedades                           Esse sintoma caracteriza-se por uma flutuabilidade
       ansiolíticas, podendo ser útil em indivíduos com              emocional entre frustração e impaciência, em que o
       ansiedade e com depressão.                                    paciente torna-se facilmente perturbado. O tratamento
   • Trazodona: hipotensão postural, náuseas, boca                   pode ser realizado observando-se outros sintomas
       seca e sedação (esse efeito pode ser benéfico em              associados. O uso de bloqueadores beta-adrenérgicos
       pacientes com agitação e insônia). Cuidado com                pode ser útil, uma vez que também são efetivos no
       o aparecimento de priapismo (1:1.000 a 1:10.000).             controle de ansiedade e agitação, além de não terem
d) Inibidor seletivo da recaptação de dopamina                       efeitos colaterais indesejáveis, tais como a sedação
   (bupropion)                                                       excessiva dos benzodiazepínicos. Os mais utilizados são
   • É bem tolerado, tem sido utilizado também na                    o propranolol e o pindolol. Devem ser evitados em
       dependência à nicotina.                                       indivíduos com diabetes, asma, doença pulmonar


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obstrutiva crônica e hipertiroidismo. Além disso, podem              • Betabloqueadores – propanolol, pindolol. Observar
proporcionar quadros confusionais em indivíduos mais                     a titulação da dose para atingir a redução da agitação.
idosos. A diminuição da serotonina tem sido imputada                 • Buspirona – é uma azapirona, com propriedades
na gênese da irritabilidade, bem como nos compor-                        agonistas 5-HT1A, útil não só na agitação, como na
tamentos agressivos. O uso de agentes serotoninérgicos                   ansiedade. A vantagem é que não compromete a
tem sido estudado nesses pacientes. A sertralina provou                  cognição, além de não apresentar propriedades
sua utilidade no controle desse sintoma no trabalho de                   sedativas; a desvantagem é que o início da ação se
Kant et al.10. Nesse estudo, entre os 13 pacientes com                   dá em 5 a 15 dias13.
TCE, 77% apresentavam irritabilidade.                                • Benzodiazepínicos – podem ser utilizados em
                                                                         agitação e ansiedade. Podem piorar quadros
                                                                         confusionais, além de deflagrarem reações para-
                                                                         doxais. A suspensão abrupta pode resultar em
AGITAÇÃO                                                                 aumento da agitação. Deve-se preferir os de curta
                                                                         ação, como lorazepam, oxazepam e temazepam, e
   O termo agitação refere-se a vários distúrbios de
                                                                         aqueles com metabolismo hepático por conjugação,
comportamento: delírios, alucinações, agressões verbais
                                                                         que não diminuem com o envelhecimento, permitindo
ou físicas, vocalizações ruidosas. São sintomas
                                                                         seu uso seguro em idosos.
extenuantes para os familiares ou cuidadores que
                                                                         Quanto à utilização de medicação neuroléptica,
convivem com o paciente, mesmo quando se manifestam
                                                                     temos que avaliar seus efeitos colaterais mais comuns:
de forma fugaz. A abordagem terapêutica pode ser feita
                                                                     sinais de parkinsonismo, acatisia, discinesia tardia. Os
com medicações neurolépticas e não neurolépticas.
                                                                     neurolépticos mais utilizados eram o haloperidol e a
   Entre as drogas não neurolépticas, podemos utilizar
                                                                     tioridazina, ambos com alta afinidade para os receptores
as drogas antiepilépticas:
                                                                     dopaminérgicos D2. A geração atual de neurolépticos
• Carbamazepina. A carbamazepina é uma das mais                      caracteriza-se por uma baixa afinidade pelos receptores
   utilizadas. Sua ação faz-se pela diminuição da                    D2 e aumento da mesma para os receptores seroto-
   reposição de noradrenalina, de dopamina e do ácido                ninérgicos 5-HT2, com menores efeitos parkinsonianos.
   gama-aminobutírico. Sua dose ideal é variável,                    Temos com neurolépticos atípicos:
   devendo ser ajustada de acordo com a resposta                     • Clozapina foi o primeiro a aparecer, porém com um
   clínica, devido à variabilidade individual e à                        perigoso risco de supressão da medula óssea, sendo
   interação com outras drogas. Deve ser administrada                    necessária a monitorização dos glóbulos brancos,
   em três tomadas diárias, sendo permitida sua                          semanalmente, por seis meses. A experiência maior
   utilização em duas tomadas, quando prescrevemos a                     é com pacientes parkinsonianos que desenvolveram
   formulação de liberação lenta. Seus efeitos colaterais                quadros psicóticos, sem piora da doença com o uso
   incluem sonolência, tontura, ataxia, distúrbios visuais               da droga.
   e erupções cutâneas. Reações hematológicas graves                 • A seguir, foi comercializada a risperidona, que tem
   podem ocorrer, como agranulocitose e anemia                           menor afinidade pelos receptores D2 do que o
   aplástica, principalmente em politerapia e em idosos.                 haloperidol. Em idosos, porém, doses acima de 2 mg
   Além disso, existe o risco de hepatotoxicidade e                      causaram sintomas extrapiramidais semelhantes aos
   hiponatremia11.                                                       decorrentes do uso de haloperidol.
• Valproato. O valproato pode também ser utilizado.                  • A olanzapina já foi utilizada em pacientes par-
   Essa droga parece agir sobre o GABA, pelo aumento                     kinsonianos sem piora dos seus sintomas14, porém é
   da atividade da descarboxilase do ácido glutâmico e                   extremamente cara, em nosso meio.
   inibição da GABA transaminase, potencializando a                  • Por último, foi lançada a quetiapina, devendo-se
   ação pós-sináptica mediada por GABA, à semelhança                     aumentar a dose inicial de 25 mg/dia lentamente, a
   dos benzodiazepínicos. Os efeitos colaterais mais                     fim de minimizar efeitos adversos como hipotensão
   comuns são náuseas e vômitos. As reações idiossin-                    postural e sedação.
   cráticas são preocupantes, entre elas a hepatoto-                     Como exemplo do uso dessas medicações no meio
   xicidade, assim como a neutropenia e a depressão                  médico, temos o interessante trabalho de Fugate et al.15
   da medula óssea12.                                                em que 129 médicos responderam sobre as drogas
   Ainda como não neurolépticos são utilizadas:                      utilizadas para tratar agitação em seus pacientes que
• Trazodona – tem bons efeitos devido à sua ação                     haviam sofrido TCE. As drogas mais citadas por ordem
   sedativa concomitante à antidepressiva.                           decrescente de freqüência foram: carbamazepina,


BRUCKI, S.M.D.; GOUVEIA, P.A.R.; BOLOGNANI, S.A.P. & BUENO, O.F.A. – Tratamento                Rev. Neurociências 8(2): 55-59, 2000
Farmacológico das Alterações Comportamentais e de Humor Decorrentes de Lesões Cerebrais
59

antidepressivos tricíclicos, propranolol, haloperidol e                             and related disorders. Int Neuropsychopjarmacol, 2: 121-7,
                                                                                    1999.
benzodiazepínicos. Observando-se as respostas dessa                           2.    Silver JM, Yudofsky SC, Hales RE. Depression in traumatic
amostra de médicos especialistas, a carbamazepina                                   brain injury. Neuropsychiatry, Neuropsychology and
continuava a droga mais utilizada.                                                  Behavioral Neurology, 4:12-23, 1991.
                                                                              3.    Ownsworth TL, Oei TPS. Depression after traumatic brain
                                                                                    injury: conceptualization and treatment considerations. Brain
                                                                                    Injury, 9:735-51, 1998.
                                                                              4.    Patten SB, Love EJ. Drug-induced depression.
CONCLUSÃO                                                                           Psychoteraphy and Psychosomatics, 66:63-73, 1997.
                                                                              5.    Flint AJ. Recent developments in geriatric psycho-
   Quando o tratamento farmacológico de quaisquer                                   pharmacology. Can J Psychiatry, 39(suppl. 1): S9-S18, 1994.
desses quadros se faz necessário, devemos refletir em                         6.    Bodner RA, Lynch T, Lewis L et al. Serotonin syndrome.
que circunstâncias essas alterações aparecem, sua                                   Neurology, 45:219-23, 1995.
periodicidade, a interação do paciente com as demais                          7.    Marin RS. Apathy: a neuropsychiatric syndrome. J
                                                                                    Neuropsychiatry and Clinical Neurosciences, 3:243-54, 1991.
pessoas e inquirir cuidadosamente sobre todas as                              8.    Kant R, Duffy JD, Pivovarnik A. Prevalence of apathy
medicações que o paciente tem usado. Após esses                                     following head injury. Brain Injury, 12:87-92, 1998.
passos, pesar os benefícios e os efeitos colaterais com o                     9.    Starkstein SE, Fedoroff JP, Price TR et al. Apathy following
tratamento proposto. Quando bem adotadas, essas                                     cerebrovascular lesions. Stroke, 24:1625-30, 1993.
                                                                              10.   Kant R, Smith-Seemiller L, Zeiler D. Treatment of agression
medidas terapêuticas melhoram o convívio familiar e                                 and irritability after head injury. Brain Injury, 12:661-6, 1998.
auxiliam no processo de reabilitação, facilitando essa                        11.   Pellock JM. Carbamazepine side effects in children and
tarefa. Em nosso Serviço de Reabilitação Neuropsi-                                  adults. Epilepsia, 28(S3):64-70, 1987.
cológica, a abordagem medicamentosa junto às técnicas                         12.   Fariello R. In: Levy R, Mattson RH, Penry JK et al.
                                                                                    Antiepileptic drugs. 4 th ed. NY: Raven Press, 1995.
de reabilitação é comum, sendo adotada, seja por
                                                                              13.   Cadieux RJ. Azapirones: an alternative to benzodiazepines
discussões com o próprio médico do paciente ou por                                  for anxiety. American Family Physician, 53:2349-53, 1996.
acompanhamento neurológico.                                                   14.   Wolters EC, Jansen EN, Tuynman-Qua HG et al. Olanzapine
                                                                                    in the treatment of dopaminomimetic psychosis in patients
                                                                                    with Parkinson´s disease. Neurology, 47:1085-7, 1996.
SUMMARY
                                                                              15.   Fugate LP, Spacek LA, Kresty LA et al. Measurement and
Pharmacologic Treatment of Humor and Behavioral Disorders in Brain
                                                                                    treatment of agitation following traumatic brain injury:II. A
Injured Patients
Brain injured patients could show depression, apathy, psychomotor agitation         survey of the Brain Injury Special Interest Group of the
as well motor deficits. These symptoms impairing the daily activities and           American Academy of Physical Medicine and Rehabilitation.
social relationships requiring precise medication.                                  Arch Phys Med Rehabil, 78:924-8, 1997.


KEYWORDS
Brain injury, pharmacological treatment, noncognitive disorders.


                                                                              Endereço para correspondência:
Referências                                                                       Sonia M. D. Brucki
                                                                                  Rua Napoleão de Barros, 925 – Vila Clementino
1.    Mulchahey JJ, Malik MS, Sabai M et al. Serotonin-selective                  CEP 04024-012 – São Paulo, SP
      reuptake inhibitors in the treatment of geriatric depression                E-mail: sbrucki@uol.com.br




 BRUCKI, S.M.D.; GOUVEIA, P.A.R.; BOLOGNANI, S.A.P. & BUENO, O.F.A. – Tratamento                             Rev. Neurociências 8 (2): 55-59, 2000
 Farmacológico das Alterações Comportamentais e de Humor Decorrentes de Lesões Cerebrais
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Neurociencias 08 2

  • 1. REVISTA NEUROCIÊNCIAS U NIVERSIDADE F EDERAL DE S ÃO P AULO DISCIPLINA DE NEUROLOGIA E S C O L A P A U L I S TA D E M E D I C I N A JUNTA EDITORIAL EDITOR EXECUTIVO JOSÉ OSMAR CARDEAL EDITORES ASSOCIADOS ALBERTO ALAIN GABBAI ESPER ABRÃO CAVALHEIRO FERNANDO MENEZES BRAGA CONSELHO EDITORIAL ACARY DE SOUZA BULLE DE OLIVEIRA CARLOS JOSÉ REIS DE CAMPOS GILBERTO MASTROCOLA MANZANO HENRIQUE BALLALAI FERRAZ JOÃO ANTONIO MACIEL NÓBREGA JOÃO BAPTISTA DOS REIS FILHO LUIZ CELSO PEREIRA VILANOVA MARCIA MAIUMI FUKUJIMA PAULO HENRIQUE FERREIRA BERTOLUCCI SUZANA MARIA FLEURY MALHEIROS
  • 2. 42 EXPEDIENTE REVISTA NEUROCIÊNCIAS Disciplina de Neurologia – Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo VOLUME VIII – NÚMERO 2 – AGO 2000 Produção Editorial: LEMOS EDITORIAL & GRÁFICOS LTDA. Rua Rui Barbosa, 70 – Bela Vista CEP 01326-010 – São Paulo/SP Telefax: (0XX11) 251-4300 E-mail: lemos@lemos.com.br Diretor-presidente: Paulo Lemos Diretora executiva: Silvana De Angelo Vice-presidente de negócios: Idelcio D. Patricio Diretor de marketing: Robison Bernardes Gerente de negócios: Jorge Rangel Representante no Rio de Janeiro: Roberto Amoêdo Produção gráfica: José Vicente De Angelo Produção editorial: Sonia Oliveira Diagramação: Maurilo Rossato Sampaio Revisão: Fernanda R. Baptista e Patrizia Zagni Periodicidade: Quadrimestral Toda correspondência relacionada ao Editorial, bem como textos para publicação, deve ser encaminhada aos cuidados do Conselho Editorial para: REVISTA NEUROCIÊNCIAS Disciplina de Neurologia – Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo ISSN 0104-3579 Rua Botucatu, 740 – CEP 04023-900 – São Paulo/SP E-mail: cardeal@sun-nepi.epm.br Pede-se permuta On prie l’echange Exchange is requested
  • 3. 43 ÍNDICE EDITORIAL 45 ARTIGOS Relaxamento Aquático, em Piscina Aquecida, Realizado pelo Método Ai Chi: uma Nova Abordagem Hidroterapêutica para Pacientes Portadores de Doenças Neuromusculares 46 MÁRCIA CRISTINA BAUER CUNHA, RITA HELENA DUARTE DIAS LABRONICI, ACARY SOUZA BULLE OLIVEIRA & ALBERTO ALAIN GABBAI Cefaléias Secundárias na Infância 50 DEUSVENIR DE SOUZA CARVALHO Tratamento Farmacológico das Alterações Comportamentais e de Humor Decorrentes de Lesões Cerebrais 55 SONIA M. DOZZI BRUCKI, PAULA A. RODRIGUES DE GOUVEIA, SÍLVIA A. PRADO BOLOGNANI & ORLANDO F. AMODEO BUENO Avaliação de Pacientes com Epilepsias Parciais Refratárias às Drogas Antiepilépticas 60 JULIANA STARLING LAGE, ELIANA GARZON, AMÉRICO CEIKI SAKAMOTO & ELZA MÁRCIA TARGAS YACUBIAN Genética das Distonias 66 PATRÍCIA MARIA DE CARVALHO AGUIAR & HENRIQUE BALLALAI FERRAZ Música e Neurociências 70 MAURO MUSZKAT, CLEO M. F. CORREIA & SANDRA M. CAMPOS RELATO DE CASO Compressão Medular por Plasmocitoma: Relato de um Caso 76 FERNANDO MORGADINHO SANTOS COELHO, MARIA PAULA PELAEZ, HENRIQUE BALLALAI FERRAZ, ROBERTO GOMES NOGUEIRA & ALBERTO ALAIN GABBAI Rev. Neurociências 8 (2): 43, 2000
  • 4. 44 NORMAS PARA PUBLICAÇÕES A Revista Neurociências é voltada à neurologia e às ciências afins. Publica artigos de interesse científico e tecnológico, feitos por profissionais dessas áreas e resultantes de estudos clínicos ou com ênfase em temas de cunho prático. Os artigos devem ser inéditos e fica subentendido que serão publicados exclusivamente nesta revista, com o que se comprometem seus autores. A Junta Editorial da revista reserva-se o direito de avaliar, aceitar ou recusar artigos. Quando aceitos, sugerir modificações para aprimorar seu conteúdo, se necessário aperfeiçoar a estrutura, a redação e a clareza do texto. São aceitos artigos em português e inglês. Para publicação, será observada a ordem cronológica de aceitação dos artigos. Provas tipográficas serão fornecidas em casos especiais. Poderão ser oferecidas separatas dos artigos, responsabilizando-se os autores pela despesa de sua tiragem. Os artigos são de responsabilidade de seus autores. Para avaliação, devem ser encaminhados ao Editor Executivo em disquete e poderão ser utilizados editor de texto “Word” para “Windows 95”, fonte Times New Roman, tamanho 12 e espaço duplo; alternativamente, no formato “texto.txt”. Deverá também ser enviada uma cópia do texto original conforme digitado. Adotar as recomendações abaixo. Título: em português e em inglês, sintético e restrito ao do artigo, com etiqueta colada no verso e nela marcada conteúdo, mas contendo informação suficiente para na parte superior. Não grampear, nem colar as ilustra- catalogação. ções, embalar cada uma em separado. Encaminhar em separado as respectivas legendas. Ilustrações repro- Autor(es): referir nome(s) e sobrenome(s) do modo duzidas de textos já publicados devem ser acom- como preferir para indexação, seu grau e posição. panhadas de autorização de reprodução, tanto do autor Referir a instituição em que foi feita a pesquisa que deu como da publicadora. Ilustrações em cores podem ser origem ao artigo e referir o título maior de cada autor ou publicadas; dado seu custo elevado, a despesa será de grupo de autores, ex.: *Professor-adjunto, **Pós- responsabilidade dos autores, assim como o custo por graduando, ***Residente. Identificar o endereço para número de tabelas e ilustrações acima dos mencionados correspondência. e desde que sua publicação seja autorizada pela editora. Resumo e Summary: devem permitir uma visão As fotos não serão devolvidas aos autores. Manter os panorâmica do trabalho, contendo objetivos, métodos, negativos destas. resultados e conclusões. Nos artigos com casuística, Referências: até cerca de 30, restritas à bibliografia não exceder 250 palavras. Nas comunicações breves essencial ao conteúdo do texto. Numerar conse- ou relato de casos, não exceder 150 palavras. cutivamente as referências na ordem de ocorrência no Unitermos e keywords: referir após o Resumo e o texto. O padrão de disposição das referências segue Summary, respectivamente. as normas do Index Medicus. Texto: apresentar a matéria do artigo seqüencialmente: Artigos: Autor(es) — Título. Periódico, volume: página introdução, material (casuística) e métodos, resultados, inicial — página final, ano. comentários (discussão e conclusões), referências Livros: Autor(es) ou editor(es), título, edição, se não bibliográficas, eventualmente agradecimentos, suporte for a primeira; se for o caso, tradutor(es). Cidade, financeiro. Não repetir no texto dados que constem de publicadora, ano, páginas inicial e final. tabelas e ilustrações, bem como de suas legendas. O texto deverá ser redigido em espaço duplo; a cada início Capítulos de livros: Autor(es), título, demais dados de parágrafo, dar 5 espaços. Numerar as páginas no sobre o livro como no item anterior. alto e à direita. Resumos: Autor(es), título, publicadora, ano, páginas Tabelas: até cinco, apresentadas em páginas sepa- inicial e final e, entre parênteses, “abstr”. radas. Não separar com linhas horizontais ou verticais Tese: Autor, título, cidade, ano, páginas inicial e final, os dados que contêm. De cada uma, devem constar seu nível (mestrado, doutorado...), instituição. número de ordem, título e legenda. Ilustrações: até duas figuras (gráficos ou fotos), com Endereçar os trabalhos a: tamanho não superior a 6 cm x 9 cm cada. Gráficos devem ser encaminhados, de preferência suas fotos. Prof. Dr. José Osmar Cardeal Fotos em preto e branco bem contrastadas; eventuais Rua Borges Lagoa, 873 — cj. 11 detalhes com setas, números ou letras. Identificar cada 04038-031 — São Paulo, SP ilustração com seu número de ordem, nome do autor e E-mail: cardeal@sun-nepi.epm.br NORMAS PARA PUBLICAÇÕES Rev. Neurociências 8(2): 44, 2000
  • 5. 45 EDITORIAL M uitas entre as doenças neuromusculares evoluem com piora progressiva, adicionando incapacidades ao paciente, enquanto o tratamento medicamentoso tem eficácia limitada. Para esses casos, a fisioterapia tem procurado aplicar tratamentos visando, ao menos, a obter melhor qualidade de vida, como, por exemplo, com o auxílio da hidroterapia pelo método Ai Chi, apresentado por Cunha et al. Cefaléias são queixas muito comuns em crianças. Existem dois grupos distintos: as cefaléias primárias e as cefaléias secundárias. Nessa oportunidade, o Professor Deusvenir apresenta-nos a classificação das cefaléias secundárias e suas características na infância. Brucki et al., em seu artigo “Tratamento farmacológico das alterações comportamentais e de humor decorrentes de lesões cerebrais”, apresentam-nos as alternativas farmacológicas para a depressão, a apatia, a irritabilidade e a agitação, as quais podem ser fatores limitantes à integração social de pacientes que sofreram lesões cerebrais. O artigo “Avaliação de pacientes com epilepsias parciais refratárias às drogas antiepilépticas” merece a nossa particular atenção, por permitir ao leitor familiarizar-se com os métodos atuais de avaliação do paciente epiléptico com crises parciais de difícil controle medicamentoso. Os avanços da genética na área médica têm criado novas esperanças para muitos pacientes portadores de enfermidades neurológicas. O artigo “Genética das distonias”, de Aguiar e de Ferraz, sinaliza-nos para essa possibilidade, embora se encontre apenas no seu estágio inicial. Que relações podemos encontrar entre música e neurociência? Aspectos como música e cérebro, música e neuroimagem, entre outros, podem ser conferidos no artigo de Muszkat et al. O relato de caso com correlação anatomopatológica, do presente volume, refere-se à compressão medular, produzindo paraplegia, decorrente de uma condição rara – o plasmocitoma solitário. José Osmar Cardeal Editor EDITORIAL Rev. Neurociências 8 (2): 45, 2000
  • 6. 46 ARTIGO Relaxamento Aquático, em Piscina Aquecida, Realizado pelo Método Ai Chi: uma Nova Abordagem Hidroterapêutica para Pacientes Portadores de Doenças Neuromusculares Márcia Cristina Bauer Cunha* Rita Helena Duarte Dias Labronici** Acary Souza Bulle Oliveira*** Alberto Alain Gabbai**** RESUMO INTRODUÇÃO As doenças neuromusculares representam um grupo grande de afecções que comprometem a unidade motora, ou seja, o corpo celular do As doenças neuromusculares (DNM) representam um grupo grande de neurônio inferior, o seu prolongamento, a junção afecções que comprometem a unidade motora, ou seja, o corpo celular do neuromuscular ou o tecido muscular esquelético. Essas doenças particularmente têm em comum neurônio inferior, o seu prolongamento, a junção neuromuscular ou o tecido uma evolução com piora progressiva, causando muscular esquelético1. progressiva limitação de tarefas simples. Por essas razões, há a necessidade de criar-se formas O comprometimento do corpo celular do neurônio motor inferior (NMI) alternativas de terapia, dentre elas o relaxamento caracteriza-se por atrofia, atonia, arreflexia, fraqueza e fasciculação. As aquático realizado em piscina aquecida, visando a melhorar a qualidade de vida desses pacientes. principais doenças são: poliomielite anterior aguda, atrofia muscular espinhal Apresentamos o método Ai Chi como alternativa (AME) e esclerose lateral amiotrófica (ELA). de abordagem hidroterapêutica para pacientes portadores de doenças neuromusculares e A lesão da fibra nervosa manifesta-se com alteração da motricidade e da demonstramos também a evolução de três sensibilidade (superficial e/ou profunda), com diminuição dos reflexos e pacientes, com diagnóstico de atrofia muscular espinhal tipo III (Kugelberg-Welander), que envolvimento autonômico. As polineuropatias periféricas caracterizam-se por realizaram a terapia pelo método Ai Chi. comprometimento predominante das porções distais dos quatro membros, tendo como principais causas o diabetes, a desnutrição, a hanseníase e as doenças UNITERNOS hereditárias (doença de Charcot-Marie-Tooth, amiloidose e outras)2. Doenças neuromusculares, fisioterapia, hidrote- O acometimento da junção neuromuscular (JNM) manifesta-se com fadiga, rapia, relaxamento aquático, método Ai Chi. com flutuação da fraqueza, usualmente piorando com o decorrer do dia. A * Fisioterapeuta e Mestra em Neurociências miastenia grave auto-imune adquirida é a grande representante das doenças pela EPM – Unifesp. que envolvem a JNM. ** Fisioterapeuta e Mestra em Neurociências pela EPM – Unifesp. As doenças musculares apresentam-se, na maioria das vezes, com fraqueza *** Chefe do Setor de Doenças Neuromus- muscular de predomínio proximal, alteração no padrão de marcha (báscula culares da EPM – Unifesp. **** Professor Titular e Chefe da Disciplina de de bacia), ocasionando quedas ao solo e dificuldades para levantar-se (“sinal Neurologia da EPM – Unifesp. de Gowers” ou “levantar miopático”). Entre as principais miopatias, CUNHA, M.C.B.; LABRONICI, R.H.D.D.; OLIVEIRA, A.S.B. & GABBAI, A.A. – Relaxamento Rev. Neurociências 8(2): 46-49, 2000 Aquático, em Piscina Aquecida, Realizado pelo Método Ai Chi: uma Nova Abordagem Hidroterapêutica para Pacientes Portadores de Doenças Neuromusculares
  • 7. 47 destacam-se a distrofia muscular (Duchenne/Becker, potencial de exercício por estimulação sensitiva, visual cintura membros, Emery Dreifuss), as miopatias e auditiva; e também por meio dos receptores da pele, metabólicas e as inflamatórias3. devido aos efeitos da turbulência, do calor e da pressão Para a realização do diagnóstico dessas doenças, são hidrostática. A terapia na água também auxilia no fundamentais a história detalhada, os dados familiares, controle de equilíbrio, no controle rotacional e no além de um exame físico adequado. Os principais trabalho respiratório6. exames laboratoriais úteis para a realização diagnóstica Os efeitos adquiridos são tanto físicos quanto topográfica, ou até etiológica, são: psicológicos. Para as crianças, a atividade na água • dosagem da enzima creatinocinase (CK), de constitui um meio de ampliar experiências7. ocorrência principalmente no músculo, a qual catalisa a liberação do fosfato de creatina. Valores aumen- tados de CK indicam comprometimento da fibra ABORDAGENS muscular, usualmente secundário à necrose muscular; HIDROTERAPÊUTICAS • eletroneuromiograma (ENMG), que analisa a velocidade de condução elétrica e o estado das unidades motoras (corpo celular do neurônio motor inferior, o seu prolongamento e as fibras inervadas Watsu pelo neurônio). Diminuição na velocidade de Watsu, ou Água-shiatsu, foi criado por Harold Dull condução indica lesão desmielinizante da fibra em 19808. Ele adotou técnicas de flutuação, em uma nervosa. A presença de fibrilações, fasciculações ou piscina com água morna, por movimentos de extensão de ondas positivas do músculo em repouso é do Zen Shiatsu. Watsu foi criado, inicialmente, como diagnóstico de desnervação aguda das fibras uma forma de massagem, tendo sido aplicado para musculares, ou seja, de comprometimento axonal; pacientes portadores de variadas enfermidades, • biopsia muscular com estudo histoquímico realizada incluindo-se aqueles com desordens neuromusculares9. em músculo apropriado, usualmente o deltóide, deve ser processada com técnicas adequadas. A presença de agrupamento de fibras do mesmo tipo (type Método Halliwick grouping) é indicativa de comprometimento neuro- O método Halliwick foi criado por James McMillan gênico. A presença de necrose muscular, de reação em 1949, na Escola Halliwick para Meninas, em inflamatória ou de alterações na arquitetura das fibras Southgate, na Inglaterra. O método foi baseado em musculares sugerem comprometimento muscular. princípios conhecidos de hidrostática, hidrodinâmica e A biopsia de nervo, geralmente realizada em nervo mecânica dos corpos. Ele é realizado em grupos, sendo sensitivo (sural ou fibular), raramente faz diagnóstico aplicado sob uma forma individualizada: um terapeuta específico. Entretanto, por meio dela, é possível para cada paciente, até o momento em que a indepen- diferenciar a lesão axonal da desmielinizante3. dência completa seja atingida. A filosofia do método Exceto as doenças de causa inflamatória, pratica- visa ensinar a “felicidade de estar na água”. Os mente não há uma medicação específica que reverta os terapeutas auxiliam os pacientes, sem utilizarem flutua- danos ocasionados na unidade motora. Essas doenças, dores; tratam os alunos pelo primeiro nome, dando particularmente, têm em comum uma evolução com ênfase na habilidade e não na deficiência. As atividades piora gradativa, causando progressiva limitação de são ensinadas como jogos e os pacientes encorajam uns tarefas simples. Por essas razões, há a necessidade de aos outros, trabalhando em grupo10. criar formas alternativas de terapia, com o objetivo de melhora da qualidade de vida, especialmente para os pacientes gravemente afetados 4. Método Bad Ragaz A hidroterapia tem ganhado, progressivamente, vários adeptos, pois proporciona a possibilidade de O método Bad Ragaz, também conhecido como realizar atividade física, o que é, muitas vezes impossível “método dos anéis”, foi inicialmente desenvolvido na fora da água. Pacientes intensamente incapacitados fora cidade de Bad Ragaz, na Suíça, entre 1950 e 1960. São da água são notavelmente móveis na piscina 5. características do método o uso das propriedades da A água oferece a experiência de encontrar-se o corpo água, como turbulência e hidrodinâmica (posição de atuando por duas forças principais: gravidade para baixo menor resistência); a flutuação com suporte; o restabele- e flutuação ou impulso para cima. Ela proporciona o cimento dos movimentos anatômicos, biomecânicos e CUNHA, M.C.B.; LABRONICI, R.H.D.D.; OLIVEIRA, A.S.B. & GABBAI, A.A. – Relaxamento Rev. Neurociências 8 (2): 46-49, 2000 Aquático, em Piscina Aquecida, Realizado pelo Método Ai Chi: uma Nova Abordagem Hidroterapêutica para Pacientes Portadores de Doenças Neuromusculares
  • 8. 48 fisiológicos das articulações e músculos em padrões segundo pesquisa feita por fisiologistas no Japão. A funcionais e a aplicação individualizada, utilizando bóia naturalidade dos movimentos do Ai Chi acalma a mente ou flutuador cervical, flutuador circular grande para o e diminui o estresse e a insônia. quadril e vários flutuadores circulares pequenos. Os objetivos procurados são os de aumentar a amplitude do movimento articular, aumentar a mobilidade dos Posicionamentos e orientações aos tecidos nervoso e miofascial, melhorar a função pacientes antes de realizar a sessão muscular e preparar os membros inferiores para descarga 1) início com os pés separados, joelhos semifletidos de peso, restaurar o padrão normal de movimento dos para fora, mantendo-se com a coluna ereta; membros superiores e dos membros inferiores. As 2) flexão dos joelhos, até que a água alcance o nível principais indicações são para os problemas ortopédicos dos ombros, permanecendo com os braços descan- e os reumatológicos (pré e pós-operatório, após fratura, sados sobre a superfície; artrite reumatóide, osteoartrite, espondilite anquilo- 3) o queixo deve estar relaxado e levemente para sante), para pacientes com cirurgia torácica, cardíaca e baixo; cirurgia de mama, e para condições neurológicas 4) inspiração pelo nariz, com as palmas das mãos (paraplegia, hemiplegia e doença de Parkinson11). viradas para cima; 5) expiração pela boca, com as palmas das mãos viradas para baixo; OBJETIVO 6) peso uniformemente distribuído sobre os pés. O objetivo desse trabalho é apresentar o método Ai Chi como modalidade alternativa de abordagem Etapas do Ai Chi hidroterapêutica, que tem se mostrado muito útil para o tratamento de pacientes portadores de doenças 1) membros inferiores semifletidos, corpo imerso neuromusculares. com os membros superiores frente ao corpo, elevados pela água; 2) mesma posição anterior com os membros superiores frente ao corpo, realizando movimentos MÉTODO lentos de flexão e extensão; 3) mesma postura anterior com os membros superiores O método Ai Chi foi criado a partir da combinação realizando abdução e adução; dos conceitos do Tai-Chi e do Qigong, juntamente com 4) membros superiores abertos nas laterais; realizar as técnicas de Shiatsu e Watsu. É uma modalidade rotação de tronco na horizontal; terapêutica individual, realizada dentro da água (na 5) cruzar membros superiores à frente do corpo; altura dos ombros), utilizando a combinação de 6) membros superiores abertos; levar um membro respiração profunda com movimentos leves e amplos superior ao outro, no meio; dos membros superiores, membros inferiores e tronco. Propicia o total alongamento e relaxamento progressivo 7) lateral, membros inferiores semifletidos; levar um do corpo, integrando mente, corpo e energia espiritual. membro superior ao outro; A progressão dos movimentos do Ai Chi desenrola-se 8) frente, lateral, os dois juntos; desde uma respiração simples, para a incorporação de 9) lateral, utilizando o tronco; levar um membro movimentos da extremidade superior e para a incor- superior ao outro e fazer um círculo; poração de movimentos do tronco, seguidos da 10) lateral com o membro inferior da frente com joelho incorporação de movimentos da extremidade inferior e, semifletido e membros superiores elevados. Realizar finalmente, para o envolvimento total do corpo12. movimentos de abdução dos membros superiores e Benefícios do Ai Chi: a estabilização do tronco e os elevação do membro inferior que estava à frente12. benefícios em relação ao manejo da dor são os dois pontos mais citados por hidroterapeutas. Os movimentos leves e harmoniosos alongam os músculos enquanto RESULTADOS promovem uma experiência suavizante. Os movimentos proporcionados pelo Ai Chi Para ganharmos experiência, três pacientes portadores permitirão a melhora do metabolismo e da circulação de atrofia muscular espinhal (AME), que já vinham sangüínea, aumentando o consumo de oxigênio em 7%, sendo tratados com fisioterapia motora (uma sessão CUNHA, M.C.B.; LABRONICI, R.H.D.D.; OLIVEIRA, A.S.B. & GABBAI, A.A. – Relaxamento Rev. Neurociências 8(2): 46-49, 2000 Aquático, em Piscina Aquecida, Realizado pelo Método Ai Chi: uma Nova Abordagem Hidroterapêutica para Pacientes Portadores de Doenças Neuromusculares
  • 9. 49 semanal) e hidroterapia (uma sessão semanal), foram SUMMARY submetidos a um tratamento com o método Ai Chi, com Aquactic Relax in Heated Swimming Pool Performed by the Ai Chi Method: a New Approach for Neuromuscular Diseases Patients duração de 20 minutos como complemento final da Mypathy is a subtype of neuromuscular disorders in which the pathology is hidroterapia, durante um ano. confined to the muscle itself, with no associated structural abnormality in the peripheral nerve, and neuropathies or neurogenic atrophies. Muscle weakness is secondary to an abnormality along the course of the peripheral nerve, from the anterior horn cell to the neuromuscular junction. Because of TABELA 1 the progression of these disorders, a search for therapeutic methods is need. Too few drugs are able to arrest the progression of the most myopathies, or Idade dos pacientes, idade ao início dos sintomas e a to improve the routine daily activities. Ai Chi has been used a good method pontuação pela Escala de Barthel antes e após um ano to treat patients with neuromuscular diseases, including spinal muscular de terapia atrophies. The main purpose is to improve the physical condition and quality of life for these patients. Nome Idade Início Barthel Barthel da doença antes depois KEYWORDS S.F. 18 07 70 80 Neuromuscular diseases, hydrotherapy, aquatic relax in heated swimming L.S. 15 05 80 95 pool, Ai Chi method. W.S. 30 13 70 85 Referências Por tratar-se de doença progressiva, não esperávamos a melhora da força muscular e das atividades de vida 1. Dubovitz V. Muscle disorders: Saunders, 2 nd. ed., London, 1995. diária; entretanto, foi evidente uma melhora nos índices 2. Ramos JA, Prado FC. Atualização terapêutica. Artes de Barthel, principalmente nos itens vestuário e higiene. Médicas, 19 a ed., São Paulo, 1999. Os pacientes relataram que esse tipo de terapia, 3. Engel AG, Armstrong CF. Myology. McGraw-Hill, 2nd. ed., New realizada individualmente, é facilmente aprendida por York, 1995. 4. Cunha MCB, Oliveira ASB, Labronici RHDD. Spinal muscular eles, e mesmo com suas limitações nas amplitudes de atrophy type II (Intermediary) and III (Kugelberg - Welander). movimentos e diminuição de força muscular, a água Evolution of 50 patients with physiotherapy and hydrotherapy auxilia e facilita a sua realização. in a swimming pool. Arquivos de Neuropsiquiatria, 54:402-6, Particularmente, quando solicitávamos que eles 1996. 5. Skinner AT, Thomson AM. Duffields exercise in water, 3rd. comparassem essa técnica com as outras previamente ed. London, England, Bailliere Tindall, 1983. aplicadas, houve uma preferência unânime pelo Ai Chi. 6. Davis B, Harrison RA. Hydrotherapy in practice. New York, No método Watsu, o paciente permanece nos braços do NY: Churchill Livingston, 1988, pp. 171-7. terapeuta, sem apoio da cabeça, entrando água no ouvido, 7. Campion MR. Hidroterapia: princípios e prática. Manole, São Paulo, 1999. não permitindo, assim, o relaxamento total do paciente. 8. Dull H. Freeing the body in water. Middle-town, Caliph: Harbin Um outro fator positivo no método foi percebido pelo Springs Publishing, 1984. terapeuta. Ele pôde realizar uma terapia de relaxamento, 9. Ruoti RG, Morris DM. Aquatic – Reabilitação aquática. junto com o paciente, proporcionando-lhe um grande Manole, São Paulo, 2000, 463p. 10. Association of swimming Therapy. Swimming for people with grau de relaxamento e prazer. Para um completo disabilities. 2 nd. ed. London, A & C Black, 1992. 128p. aprendizado, o Ai Chi não é um método de difícil 11. Morris DM. Aquatic rehabilitation for the treatment of execução, bastando seguir os comandos sob forma neurological disorders J Back and Musculoeskeletal organizada e ter tranqüilidade. Rehabilitation, 4:297-308, 1994. 12. Konno Jun. Ai Chi. A symphony for my body. Physical Therapy Products, 2:46-8, 1997. CONCLUSÃO As abordagens hidroterapêuticas, realizadas em piscina aquecida, têm sido utilizadas como tratamento Endereço para correspondência: complementar para pacientes portadores de doenças Márcia Cristina Bauer Cunha Unifesp – EPM – Setor Neuromuscular neuromusculares. O método Ai Chi, mais recentemente Rua Pedro de Toledo, 377 – Vila Clementino desenvolvido, parece ser uma técnica promissora e Cep 04039-031 – São Paulo, SP facilmente aplicável. E-mail: marcia_cunha@usa.net CUNHA, M.C.B.; LABRONICI, R.H.D.D.; OLIVEIRA, A.S.B. & GABBAI, A.A. – Relaxamento Rev. Neurociências 8 (2): 46-49, 2000 Aquático, em Piscina Aquecida, Realizado pelo Método Ai Chi: uma Nova Abordagem Hidroterapêutica para Pacientes Portadores de Doenças Neuromusculares
  • 10. 50 ARTIGO Cefaléias Secundárias na Infância Deusvenir de Souza Carvalho* RESUMO INTRODUÇÃO As cefaléias secundárias na infância são Cefaléia é um sintoma. Não perdendo de vista esse horizonte, pode-se abordadas segundo os principais itens da encontrar dois grandes grupos nos quais ela aparece: o grupo das cefaléias classificação de 1988 da International Headache Society. O conceito de cefaléia primárias e o grupo das cefaléias secundárias ou sintomáticas. As cefaléias secundária ou sintomática, bem como a visão primárias são aquelas em que cefaléia é o sintoma principal na doença ou na de peculiaridades dos aspectos clínicos para o diagnóstico na infância são apresentados. São síndrome e no caso das secundárias ou sintomáticas, a doença ou síndrome é feitos breves comentários da orientação aos outra quando uma das manifestações é o sintoma cefaléia. casos. A Classificação e Critérios Diagnósticos das Cefaléias, Nevralgias Cranianas e Dor Facial, proposta em 1988 pelo Comitê de Classificação das UNITERMOS Cefaléias da Sociedade Internacional de Cefaléia (IHS)1, enumera as cefaléias Cefaléias na infância, cefaléias secundárias na infância, cefaléias sintomáticas na infância. primárias nos itens de 1 a 4 e as cefaléias secundárias ou sintomáticas, aqui abordadas, nos de 5 a 11, as neuralgias no item 12, restando o item 13 para as cefaléias não classificáveis (Tabela 1). As subdivisões de cada um dos TABELA 1 Principais itens da Classificação da IHS1 Cefaléias primárias 1 – Enxaqueca (ou migrânea) 2 – Cefaléia tipo tensão 3 – Cefaléias em salvas e hemicrânia paroxística crônica 4 – Cefaléias diversas não associadas a lesões estruturais Cefaléias secundárias ou sintomáticas 5 – Cefaléia associada a trauma de crânio 6 – Cefaléia associada a doenças vasculares 7 – Cefaléia associada a outros distúrbios intracranianos nãovasculares 8 – Cefaléia associada a substâncias ou à sua retirada 9 – Cefaléia associada à infecção não cefálica 10 – Cefaléia associada a distúrbio metabólico 11 – Cefaléia ou dor facial associada a distúrbio do crânio, pescoço, olhos, orelhas, seios paranasais, dentes ou a outras estruturas faciais ou cranianas * Professor-adjunto e Chefe do Setor de 12 – Neuralgias cranianas, dor de tronco nervoso e dor de deaferentação Investigação e Tratamento das Cefaléias (SITC) da Disciplina de Neurologia da 13 – Cefaléia não classificável Escola Paulista de Medicina – Unifesp. CARVALHO, D.S. – Cefaléias Secundárias na Infância Rev. Neurociências 8(2): 50-54, 2000
  • 11. 51 itens são apresentadas no texto, na medida da necessidade. aluno de medicina recebe informação sobre dor de Serão consideradas as principais cefaléias secundárias cabeça durante uma hora apenas 8 . No entanto, essa ou sintomáticas da infância e da adolescência. queixa certamente é feita, pelos pacientes, a maioria, se não a todos os especialistas. CEFALÉIAS SECUNDÁRIAS OU SINTOMÁTICAS CEFALÉIA ASSOCIADA A TRAUMA DE CRÂNIO As cefaléias secundárias ou sintomáticas levantam uma questão intrigante sobre o processo que, por vezes, A classificação e os critérios para a cefaléia associada torna-a semelhante às cefaléias primárias. Por outro lado, a trauma de crânio são indicados na tabela 2, deixando o estudo dessas cefaléias secundárias pode ajudar a bem claro os dados que indicam esses diagnósticos. entender a fisiopatologia e a etiopatogenia das Apesar de a cefaléia pós-traumática guardar relação primárias 2. Não se pretende aprofundar nos quadros com o trauma craniano, o mecanismo responsável por específicos, sendo suficiente enfocar os diagnósticos a sua gênese ainda é desconhecido1,9. partir do sintoma cefaléia. Após um trauma craniano, que pode ou não ser Mesmo quando a queixa principal é a dor de cabeça significativo e acompanhar-se ou não de outros sintomas e o exame geral é normal, ainda é espantoso o número e sinais comprobatórios ao exame físico ou subsidiário de crianças e de adolescentes que procuram o neuro- (vide Tabela 2), o paciente pode apresentar cefaléia. Para logista ou o especialista em cefaléia, somente depois de que esse sintoma seja relacionado ao trauma, ele deve consulta ao otorrinolaringologista e/ou ao oftal- se iniciar até 14 dias a partir do mesmo, podendo durar mologista 3,4,5,6,7 . Um levantamento sobre o ensino até 8 semanas (forma aguda), ou persistir por mais de 8 médico na Europa mostrou que, durante a graduação, o semanas (forma crônica). TABELA 2 Classificação e critérios diagnósticos da cefaléia associada a trauma de crânio1 Cefaléia pós-traumática aguda com trauma de crânio Cefaléia pós-traumática crônica com trauma de crânio significativo e/ou sinais comprobatórios significativo e/ou sinais comprobatórios A. A importância do trauma de crânio é documentada por, A. A importância do trauma de crânio é documentada por, pelo menos, um dos seguintes itens: pelo menos, um dos seguintes itens: 1 – Perda de consciência 1 – Perda de consciência 2 – Amnésia pós-traumática durando mais de 10 minutos 2 – Amnésia pós-traumática durando mais de 10 3 – Pelo menos dois dos seguintes mostrando anorma- minutos lidades: exames clínico e neurológico, raio X do 3 – Pelo menos dois dos seguintes mostrando anorma- crânio, neuroimagem, potenciais evocados, líquido lidades: exames clínico e neurológico, raio X do cefalorraquidiano, provas de função vestibular, testes crânio, neuroimagem, potenciais evocados, líquido neuropsicológicos cefalorraquidiano, provas de função vestibular, testes B. A cefaléia ocorre em menos de 14 dias após recupe- neuropsicológicos ração da consciência (ou após o trauma, se não houver B. A cefaléia ocorre em menos de 14 dias após recuperação perda de consciência) da consciência (ou após o trauma, se não houver perda C. A cefaléia desaparece em 8 semanas ou menos, após de consciência) recuperação da consciência (ou após o trauma, se não C. A cefaléia persiste além de 8 semanas, após recuperação houver perda de consciência) da consciência (ou após o trauma, se não houver perda de consciência) Cefaléia pós-traumática aguda sem trauma de crânio significativo e sem sinais comprobatórios Cefaléia pós-traumática crônica sem trauma de crânio A. Trauma de crânio que não satisfaz o item A para significativo e sem sinais comprobatórios. cefaléia com sinais comprobatórios A. Trauma de crânio que não satisfaz o item A para B. A cefaléia ocorre em menos de 14 dias após o trauma cefaléia com sinais comprobatórios C. A cefaléia desaparece em 8 semanas ou menos após o B. A cefaléia ocorre em menos de 14 dias após o trauma trauma C. A cefaléia persiste além de 8 semanas, após o trauma CARVALHO, D.S. – Cefaléias Secundárias na Infância Rev. Neurociências 8 (2): 50-54, 2000
  • 12. 52 A cefaléia apresenta-se em torno de 15% nos CEFALÉIA ASSOCIADA A OUTROS pacientes que sofreram trauma craniano. Do total DISTÚRBIOS INTRACRANIANOS daqueles que sofreram trauma significativo e/ou com NÃO-VASCULARES sinais comprobatórios (item 3 da Tabela 2), o quadro de cefaléia aparece em torno de 40% a 60% dos Critérios diagnósticos: pacientes 10,11. • Sinais e sintomas de distúrbio intracraniano. Além da cefaléia, podem-se associar, isolada ou • Confirmação deste por investigação apropriada. conjuntamente, outros sinais e sintomas, tais como • Cefaléia como um sintomas novo ou como uma nova tontura, irritabilidade, ansiedade, vômitos. A forma apresentação ocorre em clara relação com o distúrbio crônica, mais comum em adultos que em crianças, está intracraniano. inserida no contexto de uma síndrome pós-concussional Os quadros são: hipertensão intracraniana idiopática, que apresenta, além da cefaléia, outros sintomas, como hidrocefalia, hipotensão intracraniana, pós-punção distúrbios de memória, distúrbios comportamentais, lombar, fístula liquórica, infecção intracraniana, distúrbios de humor, redução da atenção e do rendimento meningite, encefalite, abscesso cerebral, empiema escolar. Nesses pacientes, os fatores psíquicos devem subdural, sarcoidose e outras doenças inflamatórias não ser analisados e a abordagem multidisciplinar (psico- infecciosas, cefaléia associada à injeção intratecal e às diagnóstico) é necessária. neoplasias. Nos pacientes com cefaléia associada a trauma de crânio, a anamnese e o exame físico geral e neurológico, ainda que muito cuidadosos, podem não ser suficientes Tumor cerebral para excluir lesão orgânica (ex.: hematoma subdural) que, na maioria dos casos, ocorre nas primeiras 24 horas. A cefaléia secundária a tumores cerebrais pode Exames subsidiários complementares são necessários aparecer na dependência da localização e da velocidade nesses casos. de crescimento da massa intracraniana13. A sua suspeita O tratamento sintomático do quadro agudo é feito pode ser feita sempre que a história apontar para uma com analgésicos e antiinflamatórios. O tratamento piora progressiva na freqüência, na intensidade ou na profilático é complexo, devido aos fatores psicoemo- duração dessa cefaléia. Em alguns casos de tumores de cionais envolvidos. Após o traumatismo craniano, pode crescimento lento, a cefaléia pode ser o único sintoma surgir uma cefaléia com características de enxaqueca durante meses, sem qualquer sinal de déficit neurológico ou de cefaléia tipo tensão 12. associado. O caráter da cefaléia é geralmente não pulsátil, com duração de minutos a horas e localização também variável; o período preferencial é o matutino e inclui CEFALÉIA ASSOCIADA A DOENÇAS como fatores de piora, a atividade física rotineira ou o VASCULARES esforço e manobras que levem a aumento da pressão intracraniana (Valsalva). Pode também, em alguma fase, Os critérios para esse diagnóstico são: apresentar como sinais e sintomas acompanhantes • sintomas ou sinais de distúrbio vascular; aqueles da síndrome de hipertensão intracraniana, ou • investigações apropriadas que indicam distúrbio vascular; seja, além da cefaléia, os vômitos, sendo estes às vezes • cefaléia como um sintoma novo ou com uma nova em jato e não precedidos de náuseas, e papiledema. O apresentação estando em clara relação temporal com exame neurológico pode também apresentar, depen- a instalação do distúrbio vascular. dendo da localização do tumor, alterações do estado Estão enquadrados neste grupo: a cefaléia da doença mental, distúrbios visuais e da fala, ataxia, parestesias vascular isquêmica aguda, o ataque isquêmico transitório, e déficits motores. Eventualmente ocorrem crises o episódio isquêmico tromboembólico, o hematoma epilépticas. O tratamento é feito pela abordagem do intracerebral parenquimatoso, o hematoma subdural, o tumor, o qual pode ser cirúrgico, dependendo das hematoma epidural, a hemorragia subaracnóidea, a características anatomoclínicas e, em alguns casos, pode malformação arteriovenosa, o aneurisma, as arterites, as haver necessidade de complementação pela quimio- tromboses venosas intracranianas, a dissecção da artéria terapia e/ou radioterapia. carótida ou da vertebral, a carotidinia, a pós-endarte- Embora haja uma grande preocupação, por parte dos rectomia, a hipertensão arterial aguda e a crônica, o responsáveis pela criança ou adolescente e também por feocromocitoma, a pré-eclâmpsia e a eclâmpsia. parte dos médicos, com o tumor cerebral como causa CARVALHO, D.S. – Cefaléias Secundárias na Infância Rev. Neurociências 8(2): 50-54, 2000
  • 13. 53 da cefaléia, felizmente os dados estatísticos apontam, CEFALÉIA ASSOCIADA À INFECÇÃO para essa etiologia, uma freqüência menor de 1% nos NÃO-CEFÁLICA serviços especializados no atendimento de pacientes com cefaléia. Vale lembrar que o caso individual de um Refere-se às infecções virais, às infecções bacterianas paciente com cefaléia com características atípicas, que e a outras infecções. mude de padrão, que apresente desencadeantes como o esforço físico, que o exame neurológico mostre alteração, que responda mal ao tratamento de rotina, pode requerer avaliação de um especialista. CEFALÉIA ASSOCIADA A DISTÚRBIO METABÓLICO Infecções tropicais Critérios diagnósticos: • Sinais e/ou sintomas de distúrbio metabólico. Neurocisticercose: a neurocisticercose é um importante • Confirmação laboratorial quando especificado para problema de saúde pública. A neurocisticercose humana é uma determinada subforma. causada pela presença do Cysticercus cellulosae, a forma • Intensidade da cefaléia e/ou da sua freqüência está larvária da Taenia solium. A cefaléia é um sintoma que relacionada com as variações do distúrbio metabólico está presente na maioria das síndromes neurocisti- em um determinado período de tempo específico. cercóticas, como a hipertensão intracraniana, a meningite • A cefaléia desaparece dentro de 7 dias, após a e a meningoencefalite. As características dessa cefaléia, normalização do estado metabólico. em geral, confundem-se com a enxaqueca ou com a cefaléia Os quadros são: cefaléia por hipóxia produzida de tipo tensão. Esses pacientes costumam apresentar quadros altitudes elevadas, por doença pulmonar, por hiper- de cefaléia intratáveis com sintomáticos2. O tratamento capnia, por hipoglicemia e cefaléia da diálise. específico deve ser feito pelo especialista. Malária: síndrome meningítica que pode ser observada no curso de uma crise de malária. Entre os plasmódios que infectam o homem, o P. falciparum é o CEFALÉIA OU DOR FACIAL que pode produzir manifestações cerebrais. A cefaléia ASSOCIADA A DISTÚRBIO DO pode aparecer devido a alterações vasculares, hipóxia, CRÂNIO, PESCOÇO, OLHOS, microinfartos, hemorragias, inflamação, e a hipertensão intracraniana, pelo edema cerebral2. O tratamento e o ORELHAS, SEIOS PARANASAIS, acompanhamento devem ser feitos pelo especialista. DENTES OU OUTRAS ESTRUTURAS FACIAIS OU CRANIANAS CEFALÉIA ASSOCIADA A Causas oculares SUBSTÂNCIAS OU À SUA RETIRADA As patologias oculares associadas à cefaléia são: o São necessários estudos duplo-cegos controlados com glaucoma agudo, os erros de refração não corrigidos, placebo para estabelecer que uma substância realmente como hipermetropia, astigmatismo, presbiopia e uso induz à cefaléia. Isso foi claramente demonstrado em incorreto de óculos; a heteroforia ou heterotropia e a dois estudos nos quais pacientes relataram cefaléia após neurite óptica. O importante, nesses quadros, é que os ingestão de chocolate amargo ou de aspartame. Em dados da história clínica sugiram uma estreita relação ambos os casos, a cefaléia foi igualmente freqüente após da dor de cabeça com o uso da visão e a melhora quando placebo. Teve comprovação a cefaléia induzida pela esse desencadeante é contornado. ingestão de nitratos, nitritos, glutamato monossódico, álcool, ergotamina, analgésicos e pela inalação de Causas temporomandibulares monóxido de carbono. Para o diagnóstico de que a retirada de uma substância seja responsável por cefaléia, A dor da articulação temporomandibular ou dos é necessário que ela apareça após o uso de uma dose tecidos a ela relacionados é comum, mas raramente é mínima e que ocorra quando essa substância é total ou devida a um distúrbio orgânico definido. Além disso, quase totalmente eliminada. Isso ocorre com a supressão quando distúrbios orgânicos são encontrados, tais como do álcool, da ergotamina, da cafeína e de narcóticos. os da artrite reumatóide, a dor significativa ou a disfunção CARVALHO, D.S. – Cefaléias Secundárias na Infância Rev. Neurociências 8 (2): 50-54, 2000
  • 14. 54 importante não costumam ocorrer. Sem dúvida, a causa Referências mais freqüente de dor proveniente dessa articulação é 1. IHS – International Headache Society. Headache miofacial, devido à disfunção oromandibular e à tensão. Classification Commitee. Classification and diagnostic criteria for headache disorders, cranial neuralgias and facial pain. Cephalalgia, 8(suppl. 7):1-96, 1988. Causas nasofaríngeas 2. Carvalho, DS. Symptomatic headaches: tropical infections. In: Headache and migraine in childhood and adolescence. A sinusite aguda pode acompanhar-se de cefaléia. Guidetti V, Russel G, Sillanpää M, Winner P (eds.). Martin Os critérios para esse diagnóstico são: Dunitz Publishers, London, (aceito para publicação em 2000). • descarga nasal purulenta espontânea ou evidenciada 3. Barlow CF. Headaches and migraine in childhood. Clinics in developmental medicine nº 91. Philadelphia, Spastics por sucção; International Medical, 1984. 288p. • achados patológicos em um ou mais dos seguintes 4. Hockaday JM, Barlow CF. Headache in children. In: Olesen exames: raios X, tomografia computadorizada, J, Tfelt-Hansen P, Welch KMA (eds.). The Headaches. New ressonância magnética e transiluminação; York, Raven Press, 1993, pp. 795-808. • início simultâneo da cefaléia e da sinusite; 5. Hockaday JM. Headaches in children. In: Vinken PJ, Bruyn GW, Klawans HL (eds.). Headache. Amsterdam, Elsevier, • localização da cefaléia: 1 – na sinusite frontal aguda, 1986. a cefaléia é localizada diretamente sobre o seio e pode 6. Lewis DW, Middlebrook MT, Mehallick L, Rauch TM, Deline C, irradiar-se para o vértice ou para atrás dos olhos; 2 – Thomas EF. Pediatric headaches: what do the children want? na sinusite maxilar aguda, a cefaléia é localizada Headache, 36:224-30, 1996. 7. Massiou H. What is lacking in the treatment of paediatric diretamente sobre a área antral e pode irradiar-se para and adolescent migraine? Cephalalgia, 17(suppl. 17):21-4, os dentes superiores ou para a fronte; 3 – na etmoidite 1997. aguda, a cefaléia é localizada entre e atrás dos olhos e 8. Antonaci F. What is the role of international societies and pode se irradiar para a área temporal; 4 – na esfenoidite what could they do better? Cephalalgia, 17(suppl. 17):25-8, 1997. aguda, a cefaléia é localizada na região occipital, no 9. Winner P. Headache in children: diagnostic problems and vértice, na região frontal ou atrás dos olhos. emerging treatments. Cephalalgia, 17:228, 1997. • a cefaléia desaparece após o tratamento da sinusite 10. Sillanpää M, Piekkala P, Kero P. Prevalence of headache at aguda. preschool age in an unselected population. Cephalalgia, 11:239-42, 1991. Tem sido freqüente a suposição do diagnóstico de 11. Waters WE. Community studies of the prevalence of cefaléia por sinusopatia, com as conseqüentes medidas de headache. Headache, 9:178-86, 1974. investigação, bem como tratamento ou encaminhamento 12. Olesen J. The secondary headaches: introduction. In: The ao especialista. Nos serviços de atendimento especializado headaches. Olesen J, Tfelt-Hansen P, Welch KMA (eds.). Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 2000, pp. em otorrinolaringologia, a cefaléia associada à sinusopatia 763-4. aparece em menos de 30% dos casos. O tratamento é feito 13. Forsyth PA, Posner JB. The secondary headaches: com quimioterápicos cabíveis para o tipo de infecção. intracranial neoplasms. In: The headaches. Olesen J, Tfelt- Hansen P, Welch KMA (eds.). Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 2000, pp. 849-59. SUMMARY Secondary Headache in Childhood An overview of secondary or symptomatic headaches in children are presented following the International Headache Society Classification. The author’s conceptual definition of secondary or symptomatic headaches is presented and peculiarities of the main clinical aspects in infancy are considered for diagnosis regarding clinic experience. Are, also made brief comments on how to conduct the cases. Endereço para correspondência: Rua Pedro de Toledo, 980 – cj. 33 KEYWORDS Vila Clementino – São Paulo, SP Headache in children, secondary headache on childhood, symptomatic Fone/Fax: (0XX11) 574-6843 headache on childhood. E-mail: deusveni@provida.org.br CARVALHO, D.S. – Cefaléias Secundárias na Infância Rev. Neurociências 8(2): 50-54, 2000
  • 15. 55 ARTIGO Tratamento Farmacológico das Alterações Comportamentais e de Humor Decorrentes de Lesões Cerebrais Sonia M. Dozzi Brucki* Paula A. Rodrigues de Gouveia** Sílvia A. Prado Bolognani** Orlando F. Amodeo Bueno*** RESUMO INTRODUÇÃO As lesões cerebrais podem apresentar-se como déficits neurológicos bem evidentes, tais como Alterações não cognitivas ocorrem com muita freqüência entre portadores dificuldades motoras; porém outros déficits menos diagnosticados e valorizados podem de lesões cerebrais, seja de origem vascular, tumoral ou traumática. Tentaremos estar associdados, como alterações compor- expor de forma simplificada e esquemática. Existe uma grande diversidade de tamentais e cognitivas. Essas alterações também necessitam de medicação efetiva, tanto sintomas, dependentes do tipo e da localização das lesões, com vários sistemas para a melhora funcional quanto para pos- de neurotransmissores envolvidos. As alterações não cognitivas podem ser sibilitar um convívio social mais adequado. Neste trabalho, revisamos os principais déficits exemplificadas por depressão, apatia, ansiedade, agressividade, agitação e não cognitivos e as principais linhas de delírios. Geralmente, ao nos depararmos com essas alterações, devemos, tratamento medicamentoso ora em uso. inicialmente, determinar qual o problema a ser abordado primordialmente, pois pode surgir mais de uma alteração em um mesmo paciente. Outro ponto de UNITERMOS fundamental importância no tratamento farmacológico são os efeitos indesejáveis, Lesão cerebral, tratamento farmacológico, distúrbio de comportamento. principalmente dos sedativos e dos que afetam as funções cognitivas. Também é preciso ter cautela com a titulação das doses, já que em indivíduos com lesão cerebral, esses efeitos podem ser observados mais precoce e intensamente. Além dessas considerações iniciais, devemos observar mais atentamente o paciente idoso, pelas alterações na farmacocinética das drogas que ocorrem com o envelhecimento. O processo de metabolização das drogas pode diminuir com a idade e sua distribuição pode ser alterada pelo aumento da razão gordura/água, gerando um aumento na distribuição de substâncias lipofílicas. Os metabólitos também podem estar aumentados por decréscimo da filtração glomerular1. * Doutora em Medicina. Neurologista do Serviço de Reabilitação Neuropsicológica A seguir, esquematizaremos alternativas terapêuticas farmacológicas para do Centro Paulista de Neuropsicologia – cada tipo de alteração não cognitiva mencionada. CPN – Departamento de Psicobiologia – EPM – Unifesp. ** Psicóloga do Ser viço de Reabilitação Neuropsicológica do CPN – Departamento DEPRESSÃO de Psicobiologia – EPM – Unifesp. *** Professor-adjunto, Coordenador Geral do CPN – Departamento de Psicobiologia – A prevalência dos quadros depressivos varia entre os estudos realizados, EPM – Unifesp. dependendo dos critérios adotados, do tipo de questionário (auto-referido BRUCKI, S.M.D.; GOUVEIA, P.A.R.; BOLOGNANI, S.A.P. & BUENO, O.F.A. – Tratamento Rev. Neurociências 8 (2): 55-59, 2000 Farmacológico das Alterações Comportamentais e de Humor Decorrentes de Lesões Cerebrais
  • 16. 56 ou por familiares), da fase da recuperação do quadro de • Neurológicos: confusão mental (mais em idosos), base (se aguda ou crônica) e do tipo de amostra utilizada. sedação, agitação, tremores de mãos, movimentos Nos traumas cranioencefálicos (TCE) leves, esta varia coreoatesóticos e acatisia. de 6% a 39% dos pacientes, enquanto entre os TCE • Endócrinos: aumento da secreção de prolactina. graves, de 10% a 77%2. A depressão varia de 5% a 60% • Cutâneos: exantemas, urticárias, eritema dos casos, em pacientes com acidentes vasculares multiforme e fotossensibilidade. cerebrais, sendo mais freqüente naqueles com lesões b) Contra-indicações frontais e à esquerda, aumentando sua gravidade de acordo com a proximidade ao pólo frontal; nos • Glaucoma de ângulo fechado. indivíduos com lesões à direita, a depressão parece • Bloqueios de ramo, bloqueios de condução e associar-se à história familiar e às lesões parietais. infarto agudo do miocárdio. Os pesquisadores têm proposto vários mecanismos c) Inibidores da monoaminooxidase (IMAO) responsáveis pela irrupção do quadro depressivo3: • Os subtipos da MAO, A e B, estão envolvidos no • alteração no metabolismo de catecolaminas e de metabolismo da serotonina, da noradrenalina e da acetilcolina cerebrais; dopamina. • distúrbios neuroendócrinos associados ao envol- • A moclobemida é um inibidor seletivo da MAO-A vimento pituitário; e é reversível. • cortisol sérico elevado; • Pode existir hipotensão postural grave e cuidados • alteração da vigília associada à substância reticular precisam ser tomados quanto à dieta, a qual deve ativadora ascendente. ser pobre em tiramina, que é um precursor das A escolha da medicação antidepressiva deve ser feita catecolaminas, evitando-se crises hipertensivas visando a uma interação com outras drogas eventualmente graves. usadas, doenças concomitantes (como hipotiroidismo) e d) Inibidores seletivos da recaptação de serotonina perfil de efeitos colaterais. É importante afastar (ISRS) medicações que induzam à depressão, como inibidores • A deficiência de serotonina tem sido relacionada da enzima conversora de angiotensina, betabloqueadores, com depressão, pânico, ansiedade, agressividade bloqueadores de canal de cálcio, hipnóticos sedativos, e impulsividade, tornando esses inibidores úteis bloqueadores H2, digoxina e corticóides4. em indivíduos portadores de lesões cerebrais e de distúrbios do comportamento. • Têm um perfil com menos efeitos colaterais e maior ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS tolerabilidade em comparação aos tricíclicos. • A potência de inibição é diferente, sendo maior a Agem na região pré-sináptica, bloqueando a recaptação da sertralina e da paroxetina. de noradrenalina (NE) e de serotonina (5-HT), em menor • A farmacocinética é linear (concentração plas- proporção de dopamina (DA). Todos têm efeitos colaterais mática é proporcional à dose) com a sertralina e similares. São agentes antiarrítmicos da classe 1 A, o citalopram, diferentemente da fluoxetina, da podendo agravar bloqueios cardíacos existentes, e possuem paroxetina e da fluvoxamina. efeito inotrópico negativo. Agentes como a imipramina e • A fluoxetina parece ter efeito mais ativador, a amitriptilina têm maiores efeitos anticolinérgicos, devendo ser dada, preferencialmente, pela manhã, agravando quadros de confusão mental5; assim, como enquanto a paroxetina é mais útil em pacientes possuem ação sedativa, podem ser utilizados quando este ansiosos. é um efeito desejável em um paciente que se apresente • Podem aumentar ou diminuir a agregação agitado. Os pacientes podem exibir também hipotensão plaquetária, sendo problemáticos em pacientes postural e ganho de peso. Em indivíduos mais idosos, a com acidentes vasculares cerebrais. escolha mais adequada nessa classe de drogas pode ser a • São contra-indicados em indivíduos utilizando nortriptilina, que possui menor efeito anticolinérgico. terfenadina, astemizol e cisaprida, pelo risco de a) Efeitos colaterais arritmias cardíacas fatais. • Anticolinérgicos: boca seca, visão turva, • O uso concomitante de IMAO e de drogas obstipação intestinal e retenção urinária. serotoninérgicas ou drogas de ação seroto- • Cardiovasculares: hipotensão postural, aumento ninérgica pode levar ao aparecimento da síndrome da freqüência cardíaca, aumento do intervalo PR serotoninérgica, caracterizada por1,6: alteração do e do complexo QRS. estado mental e do comportamento (agitação, BRUCKI, S.M.D.; GOUVEIA, P.A.R.; BOLOGNANI, S.A.P. & BUENO, O.F.A. – Tratamento Rev. Neurociências 8(2): 55-59, 2000 Farmacológico das Alterações Comportamentais e de Humor Decorrentes de Lesões Cerebrais
  • 17. 57 confusão, desorientação, coma); alterações • Embora com efeitos colaterais menos intensos, motoras (mioclonias, rigidez, hiper-reflexia, os mais freqüentes são: agitação, ansiedade, boca incoordenação); instabilidade autonômica (febre, seca e obstipação intestinal. Cuidado em pacientes náuseas, diarréia, diaforese, taquicardia, taquip- epilépticos, pois aumenta o risco de convulsões. néia); mais raramente: febre elevada, crises convulsivas, nistagmo, crises oculógiras, opistó- tono, disartria, coagulação intravascular dis- seminada, mioglobinúria, insuficiência renal, APATIA arritmias cardíacas, coma e morte. Os quadros de apatia freqüentemente estão ligados a Atenção ao período de eliminação da droga utilizada um alentecimento psicomotor e a um empobrecimento antes da substituição medicamentosa por agentes serotoninérgicos. emocional. Interferem de modo crucial nos processos a) Efeitos colaterais dos ISRS: gastrintestinais: náuseas, de reabilitação, tornando-se, junto à anosognosia, um vômitos, dores abdominais, diarréia; neurológicos: dos problemas mais difíceis de se lidar nesses desordens do movimento (sintomas extrapiramidais e programas. Podem confundir-se com sintomas discinesia tardia); psiquiátricos: agitação, insônia, depressivos. Para a avaliação desses quadros, existe a nervosismo, ansiedade; cutâneos: urticária; alterações Apathy Evaluation Scale, que permite diferenciar ponderais: perda de peso com fluoxetina e sertralina depressão e ansiedade da apatia7. A apatia está muito (início do tratamento) e aumento de peso com a paroxe- ligada a lesões frontais e interrupções das vias fronto- tina e com o citalopram; borramento visual; anorgasmia estriatais e frontomesolímbicas. Recentemente, Kant et b) Inibidor seletivo da recaptação de serotonina e al.8 avaliaram casos de TCE e observaram que 10,84% noradrenalina: venlafaxina dos pacientes apresentavam apatia isolada, 10,84% • Tem como metabólito ativo: O-desmetilven- apresentavam depressão isolada e 60% exibiam ambos lafaxina. os quadros, concomitantemente. Em indivíduos com • Sua discreta ação dopaminérgica pode explicar a AVC, a apatia aparece em aproximadamente 12% dos melhora, em alguns casos, de alterações cog- casos9. nitivas. Podem ser utilizadas drogas estimulantes, como • Efeitos colaterais: náuseas, tonturas, sonolência. metilfenidato e a dextroanfetamina, porém, com • Pode haver o aparecimento de hipertensão arterial cuidado, pois podem piorar quadros confusionais, além em decorrência da inibição da recaptação da nora- de hipertensão e taquicardia, estas últimas devido ao drenalina, sendo mais freqüente com doses elevadas, aumento da atividade noradrenérgica. Outra alternativa devendo ser realizada uma avaliação do benefício são os agonistas dopaminérgicos, principalmente para de seu uso em pacientes cardiopatas e hipertensos. os pacientes com lesões em regiões de gânglios da base • Pode também precipitar a síndrome neuroléptica ou frontais – a mais utilizada é a bromocriptina. Seus maligna. efeitos colaterais mais freqüentes são intolerância c) Inibidores de recaptação da serotonina e anta- gástrica e confusão mental, o que pode ser contornado gonistas alfa por uma titulação gradual da medicação. • Nefazodona: cefaléia, boca seca, náuseas. Cautela em indivíduos cardiopatas, pelo risco de hipoten- são postural (cuidado em idosos) e bradicardia. Em idosos, deve ser feita uma titulação com doses IRRITABILIDADE menores, devido aos efeitos anticolinérgicos, como confusão mental. Tem propriedades Esse sintoma caracteriza-se por uma flutuabilidade ansiolíticas, podendo ser útil em indivíduos com emocional entre frustração e impaciência, em que o ansiedade e com depressão. paciente torna-se facilmente perturbado. O tratamento • Trazodona: hipotensão postural, náuseas, boca pode ser realizado observando-se outros sintomas seca e sedação (esse efeito pode ser benéfico em associados. O uso de bloqueadores beta-adrenérgicos pacientes com agitação e insônia). Cuidado com pode ser útil, uma vez que também são efetivos no o aparecimento de priapismo (1:1.000 a 1:10.000). controle de ansiedade e agitação, além de não terem d) Inibidor seletivo da recaptação de dopamina efeitos colaterais indesejáveis, tais como a sedação (bupropion) excessiva dos benzodiazepínicos. Os mais utilizados são • É bem tolerado, tem sido utilizado também na o propranolol e o pindolol. Devem ser evitados em dependência à nicotina. indivíduos com diabetes, asma, doença pulmonar BRUCKI, S.M.D.; GOUVEIA, P.A.R.; BOLOGNANI, S.A.P. & BUENO, O.F.A. – Tratamento Rev. Neurociências 8 (2): 55-59, 2000 Farmacológico das Alterações Comportamentais e de Humor Decorrentes de Lesões Cerebrais
  • 18. 58 obstrutiva crônica e hipertiroidismo. Além disso, podem • Betabloqueadores – propanolol, pindolol. Observar proporcionar quadros confusionais em indivíduos mais a titulação da dose para atingir a redução da agitação. idosos. A diminuição da serotonina tem sido imputada • Buspirona – é uma azapirona, com propriedades na gênese da irritabilidade, bem como nos compor- agonistas 5-HT1A, útil não só na agitação, como na tamentos agressivos. O uso de agentes serotoninérgicos ansiedade. A vantagem é que não compromete a tem sido estudado nesses pacientes. A sertralina provou cognição, além de não apresentar propriedades sua utilidade no controle desse sintoma no trabalho de sedativas; a desvantagem é que o início da ação se Kant et al.10. Nesse estudo, entre os 13 pacientes com dá em 5 a 15 dias13. TCE, 77% apresentavam irritabilidade. • Benzodiazepínicos – podem ser utilizados em agitação e ansiedade. Podem piorar quadros confusionais, além de deflagrarem reações para- doxais. A suspensão abrupta pode resultar em AGITAÇÃO aumento da agitação. Deve-se preferir os de curta ação, como lorazepam, oxazepam e temazepam, e O termo agitação refere-se a vários distúrbios de aqueles com metabolismo hepático por conjugação, comportamento: delírios, alucinações, agressões verbais que não diminuem com o envelhecimento, permitindo ou físicas, vocalizações ruidosas. São sintomas seu uso seguro em idosos. extenuantes para os familiares ou cuidadores que Quanto à utilização de medicação neuroléptica, convivem com o paciente, mesmo quando se manifestam temos que avaliar seus efeitos colaterais mais comuns: de forma fugaz. A abordagem terapêutica pode ser feita sinais de parkinsonismo, acatisia, discinesia tardia. Os com medicações neurolépticas e não neurolépticas. neurolépticos mais utilizados eram o haloperidol e a Entre as drogas não neurolépticas, podemos utilizar tioridazina, ambos com alta afinidade para os receptores as drogas antiepilépticas: dopaminérgicos D2. A geração atual de neurolépticos • Carbamazepina. A carbamazepina é uma das mais caracteriza-se por uma baixa afinidade pelos receptores utilizadas. Sua ação faz-se pela diminuição da D2 e aumento da mesma para os receptores seroto- reposição de noradrenalina, de dopamina e do ácido ninérgicos 5-HT2, com menores efeitos parkinsonianos. gama-aminobutírico. Sua dose ideal é variável, Temos com neurolépticos atípicos: devendo ser ajustada de acordo com a resposta • Clozapina foi o primeiro a aparecer, porém com um clínica, devido à variabilidade individual e à perigoso risco de supressão da medula óssea, sendo interação com outras drogas. Deve ser administrada necessária a monitorização dos glóbulos brancos, em três tomadas diárias, sendo permitida sua semanalmente, por seis meses. A experiência maior utilização em duas tomadas, quando prescrevemos a é com pacientes parkinsonianos que desenvolveram formulação de liberação lenta. Seus efeitos colaterais quadros psicóticos, sem piora da doença com o uso incluem sonolência, tontura, ataxia, distúrbios visuais da droga. e erupções cutâneas. Reações hematológicas graves • A seguir, foi comercializada a risperidona, que tem podem ocorrer, como agranulocitose e anemia menor afinidade pelos receptores D2 do que o aplástica, principalmente em politerapia e em idosos. haloperidol. Em idosos, porém, doses acima de 2 mg Além disso, existe o risco de hepatotoxicidade e causaram sintomas extrapiramidais semelhantes aos hiponatremia11. decorrentes do uso de haloperidol. • Valproato. O valproato pode também ser utilizado. • A olanzapina já foi utilizada em pacientes par- Essa droga parece agir sobre o GABA, pelo aumento kinsonianos sem piora dos seus sintomas14, porém é da atividade da descarboxilase do ácido glutâmico e extremamente cara, em nosso meio. inibição da GABA transaminase, potencializando a • Por último, foi lançada a quetiapina, devendo-se ação pós-sináptica mediada por GABA, à semelhança aumentar a dose inicial de 25 mg/dia lentamente, a dos benzodiazepínicos. Os efeitos colaterais mais fim de minimizar efeitos adversos como hipotensão comuns são náuseas e vômitos. As reações idiossin- postural e sedação. cráticas são preocupantes, entre elas a hepatoto- Como exemplo do uso dessas medicações no meio xicidade, assim como a neutropenia e a depressão médico, temos o interessante trabalho de Fugate et al.15 da medula óssea12. em que 129 médicos responderam sobre as drogas Ainda como não neurolépticos são utilizadas: utilizadas para tratar agitação em seus pacientes que • Trazodona – tem bons efeitos devido à sua ação haviam sofrido TCE. As drogas mais citadas por ordem sedativa concomitante à antidepressiva. decrescente de freqüência foram: carbamazepina, BRUCKI, S.M.D.; GOUVEIA, P.A.R.; BOLOGNANI, S.A.P. & BUENO, O.F.A. – Tratamento Rev. Neurociências 8(2): 55-59, 2000 Farmacológico das Alterações Comportamentais e de Humor Decorrentes de Lesões Cerebrais
  • 19. 59 antidepressivos tricíclicos, propranolol, haloperidol e and related disorders. Int Neuropsychopjarmacol, 2: 121-7, 1999. benzodiazepínicos. Observando-se as respostas dessa 2. Silver JM, Yudofsky SC, Hales RE. Depression in traumatic amostra de médicos especialistas, a carbamazepina brain injury. Neuropsychiatry, Neuropsychology and continuava a droga mais utilizada. Behavioral Neurology, 4:12-23, 1991. 3. Ownsworth TL, Oei TPS. Depression after traumatic brain injury: conceptualization and treatment considerations. Brain Injury, 9:735-51, 1998. 4. Patten SB, Love EJ. Drug-induced depression. CONCLUSÃO Psychoteraphy and Psychosomatics, 66:63-73, 1997. 5. Flint AJ. Recent developments in geriatric psycho- Quando o tratamento farmacológico de quaisquer pharmacology. Can J Psychiatry, 39(suppl. 1): S9-S18, 1994. desses quadros se faz necessário, devemos refletir em 6. Bodner RA, Lynch T, Lewis L et al. Serotonin syndrome. que circunstâncias essas alterações aparecem, sua Neurology, 45:219-23, 1995. periodicidade, a interação do paciente com as demais 7. Marin RS. Apathy: a neuropsychiatric syndrome. J Neuropsychiatry and Clinical Neurosciences, 3:243-54, 1991. pessoas e inquirir cuidadosamente sobre todas as 8. Kant R, Duffy JD, Pivovarnik A. Prevalence of apathy medicações que o paciente tem usado. Após esses following head injury. Brain Injury, 12:87-92, 1998. passos, pesar os benefícios e os efeitos colaterais com o 9. Starkstein SE, Fedoroff JP, Price TR et al. Apathy following tratamento proposto. Quando bem adotadas, essas cerebrovascular lesions. Stroke, 24:1625-30, 1993. 10. Kant R, Smith-Seemiller L, Zeiler D. Treatment of agression medidas terapêuticas melhoram o convívio familiar e and irritability after head injury. Brain Injury, 12:661-6, 1998. auxiliam no processo de reabilitação, facilitando essa 11. Pellock JM. Carbamazepine side effects in children and tarefa. Em nosso Serviço de Reabilitação Neuropsi- adults. Epilepsia, 28(S3):64-70, 1987. cológica, a abordagem medicamentosa junto às técnicas 12. Fariello R. In: Levy R, Mattson RH, Penry JK et al. Antiepileptic drugs. 4 th ed. NY: Raven Press, 1995. de reabilitação é comum, sendo adotada, seja por 13. Cadieux RJ. Azapirones: an alternative to benzodiazepines discussões com o próprio médico do paciente ou por for anxiety. American Family Physician, 53:2349-53, 1996. acompanhamento neurológico. 14. Wolters EC, Jansen EN, Tuynman-Qua HG et al. Olanzapine in the treatment of dopaminomimetic psychosis in patients with Parkinson´s disease. Neurology, 47:1085-7, 1996. SUMMARY 15. Fugate LP, Spacek LA, Kresty LA et al. Measurement and Pharmacologic Treatment of Humor and Behavioral Disorders in Brain treatment of agitation following traumatic brain injury:II. A Injured Patients Brain injured patients could show depression, apathy, psychomotor agitation survey of the Brain Injury Special Interest Group of the as well motor deficits. These symptoms impairing the daily activities and American Academy of Physical Medicine and Rehabilitation. social relationships requiring precise medication. Arch Phys Med Rehabil, 78:924-8, 1997. KEYWORDS Brain injury, pharmacological treatment, noncognitive disorders. Endereço para correspondência: Referências Sonia M. D. Brucki Rua Napoleão de Barros, 925 – Vila Clementino 1. Mulchahey JJ, Malik MS, Sabai M et al. Serotonin-selective CEP 04024-012 – São Paulo, SP reuptake inhibitors in the treatment of geriatric depression E-mail: sbrucki@uol.com.br BRUCKI, S.M.D.; GOUVEIA, P.A.R.; BOLOGNANI, S.A.P. & BUENO, O.F.A. – Tratamento Rev. Neurociências 8 (2): 55-59, 2000 Farmacológico das Alterações Comportamentais e de Humor Decorrentes de Lesões Cerebrais