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6 Magazine independente Terça-feira | 04 de Outubro 2016
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Propriedade de MAGAZINE MULTIMEDIA,SA
Conselho de Administração
Constantino Bacela - presidente
Lourenço Jossias
Sheila Dundule
Director: Lourenço Jossias
(jossiasgira@gmail.com) (82 3093420)
Editor: Nelo Cossa
(mncossa@gmail.com) (82 6581770)
Redacção: António Zacarias, Alfredo Langa,
Aida Matsinhe, Elísio Muchanga,
Reginaldo Tchambule, Nelson Mucandze
e Adelina Pinto
Nilton Cumbe
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Jorge Neves
(82 80 85 310)
Distribuição e vendas:
Samuel Dias
(salazarsamuel5@gmail.com)
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Correspondentes:
António Zacarias
(Inhambane - 82 79 81 590),
Isaías Natal
(Sofala - 84 22 94 680)
Directora Administrativa: Flora Nguenha
(82 827 3130)
Publicidade e Marketing: Acrísio Seixas
(84 761 8156)
(acrisioseixas@yahoo.com.br)
Impressão: S-Graphics
Av: Ahmed Sekou Touré n°-1078, 1° andar,
Flat 1 - Maputo, Tel/Fax: 21 328 579
Telemóvel: 82 01 52 830, 84 76 84 840
email: jornalmagazineinde@gmail.com
www.magazineindependente.com
FICHA TÉCNICA
Estóriaslá de Longe
Isaura Macedo Pinto
estorias.da.isaura@gmail.com
O meu pai enviou um telegrama ao Otelo para tirar os
Comandos de Moçambique porque só faziam asneiras!
Um amigo disse-me conheces a
Isabel Cunha Lopes? Ela tem
uma estória maravilhosa. Pe-
de-lhe amizade no Facebook,
é uma pessoa sem problemas.
E assim eu fiz…. A Isabel
Cunha Lopes nasceu no Por-
to em 1956. E assim ela con-
tou a estória dela: “Vivi sem-
pre no Porto. O meu pai era
transmontano. A minha mãe
nasceu no Porto mas o pai
era Beirão de Castelo Branco
e Republicano. Mas a família
do meu avô materno era mo-
narca. Tinham brasão…. E a
família mandou escolher entre
a república ou a família e ele
escolheu a república. Teve que
deixar de estudar porque ficou
sem o apoio da família e foi
trabalhar e estudou no Porto
e foi professor em Aveiro. Foi
secretário do Santos Leite que
fez parte do último governo
da 1ª república antes do gol-
pe de estado do 28 de Maio.
E o meu avô foi mandado
pelo Salazar para a Ilha Ter-
ceira como tantos outros. O
meu avô paterno não conheci.
O meu pai estudou Engenha-
ria e a mãe Medicina. O pai
quando acabou o curso de En-
genharia Civil não tinha em-
prego e então entrou para a
Academia Militar, formou-se
em engenhariamililtar e al-
tos estudos militares e depois
o curso de oficial General. O
meu pai teve 2 comissões em
África e uma em Timor. Pri-
meira comissão em 1955-1957
foi em Moçambique.A minha
irmã nasceu em Moçambique
e foi baptizada no “espreme-
dor de almas” (Igreja de Sto.
António da Polana). Quando
minha mãe veio eu vim nascer
em Portugal no dia 25 de Se-
tembro, mas fui encomendada
em Moçambique. Regressou
e foi como capitão para Áqua
d’Água muitos anos. Chegou a
capitão máximo. Depois disto
foi para os altos estudos mi-
litares em 1963, ano em que
morreu a minha mãe. Foi um
dos 3 ou 4 que conseguiram
chegar ao fim. De 1969 a 1971,
foi em missão para Timor
como Major, como Chefe de Es-
tado Maior, porque Timor era
considerado província de segun-
da. A maior parte da tropa lá
eram nativos locais. Ele foi con-
decorado com a Ordem de Avis
e foi para Moçambique e estava
em Moçambique no 25 de Abril.
O meu pai tentou indirectamen-
te alertar-me sobre a situação
que estava para acontecer. Foi
preparando subtilmente o sub-
consciente das filhas sobre o que
iria acontecer. Eu só entendi a
mensagem quando vi os olhos
do Salgueiro Maia no dia 25 de
Abril. Eu estava cá no Colégio e
vi na televisão quando cheguei a
casa. Em Moçambique o Gover-
nador era fascista, não aderiu ao
25 de Abril, passou à reserva e o
lugar foi ocupado interinamente
pelo meu pai. Só interinamente
porque ele não era General e só
os Generais podiam ser Gover-
nadores. Ficou até o Vitor Cres-
po assumir. Foi o meu pai que
recebeu a Frelimo em Maputo
(na altura Lourenço Marques).
Eu fui de férias a Moçambi-
que depois do 25 de Abril, em
fins de Junho, a seguir ao São
João. Eu fui ao primeiro comi-
cío da Frelimo em Maputo en-
tre Julho e Agosto naactualAv
25 de Setembro. Eu e a minha
irmã eramos as únicas brancas.
E nós torcíamos pela Frelimo.
Eu assisti a entrada da Frelimo
em Maputo. Convivi com um
militar que mais tarde com o
Vitor Crespo entregou Moçam-
bique à Frelimo, conhecido em
Portugal por Luis Montreal e
em Moçambique como Capitão
Maluco e que foi piloto do meu
pai em Moçambique. Fizemos
escala em Luanda, almoçamos
e víamos a Baía. Quando vie-
mos de Moçambique em Setem-
bro, à noite, mandaram fechar
as luzes e as cortinas enquanto
abastecíamos. Foram só 15 mi-
nutos. Ouvimos tiros. Na Beira
ficamos em casa da nossa pri-
ma Amelinha que era prima do
meu pai e que era avó do José
Rodrigues dos Santos.O pai do
José Rodrigues dos Santos, Zé
da Paz, médico da Cruz Ver-
melha, tratava guerrilheiros fe-
Trimestral
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2000,00MT3500,00MT
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Informamos ao público em geral e aos nossos assinantes em particular que está aberto o
processo de renovação e abertura de novas assinaturas do Jornal Magazine Independente
para o ano de 2016. Queiram por favor consultar a tabela que se segue e efectuar as
subscrições na Av. Ahmed Sekou Touré Nº 1078 1º andar.
TABELA DE ASSINATURAS
ridos e uma vez em Tete apa-
nhou um susto valente quando
1 Pide foi ao seu consultório
quando estava a tratar um
guerrilheiro e teve que o es-
conder na casa de banho. Eu
e uma irmã mais nova fomos
ao cinema no dia 6 de Setem-
bro. À saída nós perdemo-nos.
Apanhamos o autocarro er-
rado e estivemos perdidasno
subúrbio da Beira e ninguém
nos fez mal, as pessoas foram
super simpáticas e apanhamos
um táxi porque era longe ape-
sar de dizerem que era perto.
Antes de ir para Moçambique
diziam que em cada esquina
havia um negro com uma faca.
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de regressarmos a Portugal
tivemos que ficar na Beira
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tembro embarcamos. Naque-
la altura para se vir de avião
para Portugal tinha que ser
da Beira. Em Outubro houve
a revolta dos Comandos por-
que eles estavam habituados a
matar. O meu pai enviou um
telegrama ao Otelo para tirar
os Comandos de Moçambique
porque só faziam asneiras. O
Otelo mandou-os regressar.
Eles ao irem para o Aeroporto
em 21 de Outubro nas berliers,
iam matando população e a
população revoltou-se claro,
depois há os inocentes que pa-
gam. Tudo que aconteceu foi
provocado pelos portugueses.
O 7 de Setembro foi o Jorge
Jardim que provocou. O meu
pai estava em negociação com
a Frelimo, o meu pai defendia
os interesses de Portugal e os
da Frelimo os de Moçambique.
Tiveram que ficar juntos numa
trincheira lado a lado. Eu en-
tre a Frelimo e a Renamo eu
defendo a Frelimo porque a
Renamo foi criada pelos ra-
cistas sul-africanos e cheia de
mercenários. Nós pensávamos
que uma revolução se fazia
com cravos…. As famílias ricas
que mandavam antes conti-
nuam a mandar agora…. Para
mim estamos em plena guer-
ra mundial financeira. Agora
as pessoas valorizam mais o
ter do que o ser. Somos mais
animais irracionais. Comecei
a trabalhar em Aveiro no sa-
neamento básico e depois vim
para o Porto. Depois fiz con-
curso para a Direcção de Edifí-
cios e Monumentos do Norte e
entrei. O Sócrates fechou essa
Direcção, mas um chefe da
Segurança Social chamou-me
para trabalhar com ele por-
que gostava de trabalhar com
pessoas que conhecia. Os po-
líticos criaram postos para os
“boys” que são os amiguinhos
que entravam para esses pos-
tos a ganhar muito dinheiro
e a serem chefes. Aos 14 anos
conheci o Padre Mário Pais de
Oliveira. Foi aí que soube que
havia a PIDE que havia a tor-
tura, que a guerra era injusta.
Ele tinha sido capelão militar
na Guiné mas foi expulso. Um
advogado que depois foi do
PSD defendia os prisioneiros
políticos. Ele defendeu o Padre
Mário. Esse advogado tinha
boas relações com os PIDES
mais baixos que tinham mais
necessidades e assim obtinha
informações dos prisioneiros.
Eu sou fã do Che Guevara.
O Padre Mário disse uma vez
que o Che Guevara foi a per-
sonalidade do Sec. XX que
mais se parecia com Jesus por-
que ambos ultrapassaram os
seus limites e foram “esmaga-
dos” pelo poder. A partir daí
eu comecei a estudar a vida de
Che Guevara. Ele tinha coisas
boas e coisas más como todos
nós e temos que ver o contex-
to daquela altura. Ele falava
o que pensava e se dizia uma
coisa fazia. Tenho amigos com
os quais festejo os meus ani-
versários que passaram pelas
grelhas da PIDE e que como
eu eram a favor dos movimen-
tos de libertação considerados
como terroristas pelo exército
português porque os guerrilhei-
ros defendiam a independência
da sua terra. Este é o resumo
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Obrigada Isabel pela linda e
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Um amigo disse-me conheces a Isabel Cunha Lopes? Ela tem uma estória maravilhosa. Pe- de-lhe amizade no Facebook, é uma pessoa sem problemas. E assim eu fiz…. A Isabel Cunha Lopes nasceu no Por- to em 1956. E assim ela con- tou a estória dela: “Vivi sem- pre no Porto. O meu pai era transmontano. A minha mãe nasceu no Porto mas o pai era Beirão de Castelo Branco e Republicano. Mas a família do meu avô materno era mo- narca. Tinham brasão…. E a família mandou escolher entre a república ou a família e ele escolheu a república. Teve que deixar de estudar porque ficou sem o apoio da família e foi trabalhar e estudou no Porto e foi professor em Aveiro. Foi secretário do Santos Leite que fez parte do último governo da 1ª república antes do gol- pe de estado do 28 de Maio. E o meu avô foi mandado pelo Salazar para a Ilha Ter- ceira como tantos outros. O meu avô paterno não conheci. O meu pai estudou Engenha- ria e a mãe Medicina. 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E nós torcíamos pela Frelimo. Eu assisti a entrada da Frelimo em Maputo. Convivi com um militar que mais tarde com o Vitor Crespo entregou Moçam- bique à Frelimo, conhecido em Portugal por Luis Montreal e em Moçambique como Capitão Maluco e que foi piloto do meu pai em Moçambique. Fizemos escala em Luanda, almoçamos e víamos a Baía. Quando vie- mos de Moçambique em Setem- bro, à noite, mandaram fechar as luzes e as cortinas enquanto abastecíamos. Foram só 15 mi- nutos. Ouvimos tiros. Na Beira ficamos em casa da nossa pri- ma Amelinha que era prima do meu pai e que era avó do José Rodrigues dos Santos.O pai do José Rodrigues dos Santos, Zé da Paz, médico da Cruz Ver- melha, tratava guerrilheiros fe- Trimestral 1200,00MT 2000,00MT3500,00MT 2000,00MT3500,00MT 5000,00MT SemestralAnualPeriodicidade Cidade de Maputo Províncias Resto do Mundo USD275.00USD550.00USD1100.00 Para mais informação, contacte 84 242 9024, 84 756 5575 ou 21328579 Informamos ao público em geral e aos nossos assinantes em particular que está aberto o processo de renovação e abertura de novas assinaturas do Jornal Magazine Independente para o ano de 2016. Queiram por favor consultar a tabela que se segue e efectuar as subscrições na Av. Ahmed Sekou Touré Nº 1078 1º andar. TABELA DE ASSINATURAS ridos e uma vez em Tete apa- nhou um susto valente quando 1 Pide foi ao seu consultório quando estava a tratar um guerrilheiro e teve que o es- conder na casa de banho. Eu e uma irmã mais nova fomos ao cinema no dia 6 de Setem- bro. À saída nós perdemo-nos. Apanhamos o autocarro er- rado e estivemos perdidasno subúrbio da Beira e ninguém nos fez mal, as pessoas foram super simpáticas e apanhamos um táxi porque era longe ape- sar de dizerem que era perto. Antes de ir para Moçambique diziam que em cada esquina havia um negro com uma faca. Ninguém nos fez mal. Antes de regressarmos a Portugal tivemos que ficar na Beira alguns dias e no dia 7 de Se- tembro embarcamos. Naque- la altura para se vir de avião para Portugal tinha que ser da Beira. Em Outubro houve a revolta dos Comandos por- que eles estavam habituados a matar. O meu pai enviou um telegrama ao Otelo para tirar os Comandos de Moçambique porque só faziam asneiras. O Otelo mandou-os regressar. Eles ao irem para o Aeroporto em 21 de Outubro nas berliers, iam matando população e a população revoltou-se claro, depois há os inocentes que pa- gam. Tudo que aconteceu foi provocado pelos portugueses. O 7 de Setembro foi o Jorge Jardim que provocou. O meu pai estava em negociação com a Frelimo, o meu pai defendia os interesses de Portugal e os da Frelimo os de Moçambique. Tiveram que ficar juntos numa trincheira lado a lado. Eu en- tre a Frelimo e a Renamo eu defendo a Frelimo porque a Renamo foi criada pelos ra- cistas sul-africanos e cheia de mercenários. Nós pensávamos que uma revolução se fazia com cravos…. As famílias ricas que mandavam antes conti- nuam a mandar agora…. Para mim estamos em plena guer- ra mundial financeira. Agora as pessoas valorizam mais o ter do que o ser. Somos mais animais irracionais. Comecei a trabalhar em Aveiro no sa- neamento básico e depois vim para o Porto. Depois fiz con- curso para a Direcção de Edifí- cios e Monumentos do Norte e entrei. O Sócrates fechou essa Direcção, mas um chefe da Segurança Social chamou-me para trabalhar com ele por- que gostava de trabalhar com pessoas que conhecia. Os po- líticos criaram postos para os “boys” que são os amiguinhos que entravam para esses pos- tos a ganhar muito dinheiro e a serem chefes. Aos 14 anos conheci o Padre Mário Pais de Oliveira. Foi aí que soube que havia a PIDE que havia a tor- tura, que a guerra era injusta. Ele tinha sido capelão militar na Guiné mas foi expulso. Um advogado que depois foi do PSD defendia os prisioneiros políticos. Ele defendeu o Padre Mário. Esse advogado tinha boas relações com os PIDES mais baixos que tinham mais necessidades e assim obtinha informações dos prisioneiros. Eu sou fã do Che Guevara. O Padre Mário disse uma vez que o Che Guevara foi a per- sonalidade do Sec. XX que mais se parecia com Jesus por- que ambos ultrapassaram os seus limites e foram “esmaga- dos” pelo poder. A partir daí eu comecei a estudar a vida de Che Guevara. Ele tinha coisas boas e coisas más como todos nós e temos que ver o contex- to daquela altura. Ele falava o que pensava e se dizia uma coisa fazia. Tenho amigos com os quais festejo os meus ani- versários que passaram pelas grelhas da PIDE e que como eu eram a favor dos movimen- tos de libertação considerados como terroristas pelo exército português porque os guerrilhei- ros defendiam a independência da sua terra. Este é o resumo da minha estória.” Obrigada Isabel pela linda e rica estória.