1. 6 Magazine independente Terça-feira | 04 de Outubro 2016
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FICHA TÉCNICA
Estóriaslá de Longe
Isaura Macedo Pinto
estorias.da.isaura@gmail.com
O meu pai enviou um telegrama ao Otelo para tirar os
Comandos de Moçambique porque só faziam asneiras!
Um amigo disse-me conheces a
Isabel Cunha Lopes? Ela tem
uma estória maravilhosa. Pe-
de-lhe amizade no Facebook,
é uma pessoa sem problemas.
E assim eu fiz…. A Isabel
Cunha Lopes nasceu no Por-
to em 1956. E assim ela con-
tou a estória dela: “Vivi sem-
pre no Porto. O meu pai era
transmontano. A minha mãe
nasceu no Porto mas o pai
era Beirão de Castelo Branco
e Republicano. Mas a família
do meu avô materno era mo-
narca. Tinham brasão…. E a
família mandou escolher entre
a república ou a família e ele
escolheu a república. Teve que
deixar de estudar porque ficou
sem o apoio da família e foi
trabalhar e estudou no Porto
e foi professor em Aveiro. Foi
secretário do Santos Leite que
fez parte do último governo
da 1ª república antes do gol-
pe de estado do 28 de Maio.
E o meu avô foi mandado
pelo Salazar para a Ilha Ter-
ceira como tantos outros. O
meu avô paterno não conheci.
O meu pai estudou Engenha-
ria e a mãe Medicina. O pai
quando acabou o curso de En-
genharia Civil não tinha em-
prego e então entrou para a
Academia Militar, formou-se
em engenhariamililtar e al-
tos estudos militares e depois
o curso de oficial General. O
meu pai teve 2 comissões em
África e uma em Timor. Pri-
meira comissão em 1955-1957
foi em Moçambique.A minha
irmã nasceu em Moçambique
e foi baptizada no “espreme-
dor de almas” (Igreja de Sto.
António da Polana). Quando
minha mãe veio eu vim nascer
em Portugal no dia 25 de Se-
tembro, mas fui encomendada
em Moçambique. Regressou
e foi como capitão para Áqua
d’Água muitos anos. Chegou a
capitão máximo. Depois disto
foi para os altos estudos mi-
litares em 1963, ano em que
morreu a minha mãe. Foi um
dos 3 ou 4 que conseguiram
chegar ao fim. De 1969 a 1971,
foi em missão para Timor
como Major, como Chefe de Es-
tado Maior, porque Timor era
considerado província de segun-
da. A maior parte da tropa lá
eram nativos locais. Ele foi con-
decorado com a Ordem de Avis
e foi para Moçambique e estava
em Moçambique no 25 de Abril.
O meu pai tentou indirectamen-
te alertar-me sobre a situação
que estava para acontecer. Foi
preparando subtilmente o sub-
consciente das filhas sobre o que
iria acontecer. Eu só entendi a
mensagem quando vi os olhos
do Salgueiro Maia no dia 25 de
Abril. Eu estava cá no Colégio e
vi na televisão quando cheguei a
casa. Em Moçambique o Gover-
nador era fascista, não aderiu ao
25 de Abril, passou à reserva e o
lugar foi ocupado interinamente
pelo meu pai. Só interinamente
porque ele não era General e só
os Generais podiam ser Gover-
nadores. Ficou até o Vitor Cres-
po assumir. Foi o meu pai que
recebeu a Frelimo em Maputo
(na altura Lourenço Marques).
Eu fui de férias a Moçambi-
que depois do 25 de Abril, em
fins de Junho, a seguir ao São
João. Eu fui ao primeiro comi-
cío da Frelimo em Maputo en-
tre Julho e Agosto naactualAv
25 de Setembro. Eu e a minha
irmã eramos as únicas brancas.
E nós torcíamos pela Frelimo.
Eu assisti a entrada da Frelimo
em Maputo. Convivi com um
militar que mais tarde com o
Vitor Crespo entregou Moçam-
bique à Frelimo, conhecido em
Portugal por Luis Montreal e
em Moçambique como Capitão
Maluco e que foi piloto do meu
pai em Moçambique. Fizemos
escala em Luanda, almoçamos
e víamos a Baía. Quando vie-
mos de Moçambique em Setem-
bro, à noite, mandaram fechar
as luzes e as cortinas enquanto
abastecíamos. Foram só 15 mi-
nutos. Ouvimos tiros. Na Beira
ficamos em casa da nossa pri-
ma Amelinha que era prima do
meu pai e que era avó do José
Rodrigues dos Santos.O pai do
José Rodrigues dos Santos, Zé
da Paz, médico da Cruz Ver-
melha, tratava guerrilheiros fe-
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TABELA DE ASSINATURAS
ridos e uma vez em Tete apa-
nhou um susto valente quando
1 Pide foi ao seu consultório
quando estava a tratar um
guerrilheiro e teve que o es-
conder na casa de banho. Eu
e uma irmã mais nova fomos
ao cinema no dia 6 de Setem-
bro. À saída nós perdemo-nos.
Apanhamos o autocarro er-
rado e estivemos perdidasno
subúrbio da Beira e ninguém
nos fez mal, as pessoas foram
super simpáticas e apanhamos
um táxi porque era longe ape-
sar de dizerem que era perto.
Antes de ir para Moçambique
diziam que em cada esquina
havia um negro com uma faca.
Ninguém nos fez mal. Antes
de regressarmos a Portugal
tivemos que ficar na Beira
alguns dias e no dia 7 de Se-
tembro embarcamos. Naque-
la altura para se vir de avião
para Portugal tinha que ser
da Beira. Em Outubro houve
a revolta dos Comandos por-
que eles estavam habituados a
matar. O meu pai enviou um
telegrama ao Otelo para tirar
os Comandos de Moçambique
porque só faziam asneiras. O
Otelo mandou-os regressar.
Eles ao irem para o Aeroporto
em 21 de Outubro nas berliers,
iam matando população e a
população revoltou-se claro,
depois há os inocentes que pa-
gam. Tudo que aconteceu foi
provocado pelos portugueses.
O 7 de Setembro foi o Jorge
Jardim que provocou. O meu
pai estava em negociação com
a Frelimo, o meu pai defendia
os interesses de Portugal e os
da Frelimo os de Moçambique.
Tiveram que ficar juntos numa
trincheira lado a lado. Eu en-
tre a Frelimo e a Renamo eu
defendo a Frelimo porque a
Renamo foi criada pelos ra-
cistas sul-africanos e cheia de
mercenários. Nós pensávamos
que uma revolução se fazia
com cravos…. As famílias ricas
que mandavam antes conti-
nuam a mandar agora…. Para
mim estamos em plena guer-
ra mundial financeira. Agora
as pessoas valorizam mais o
ter do que o ser. Somos mais
animais irracionais. Comecei
a trabalhar em Aveiro no sa-
neamento básico e depois vim
para o Porto. Depois fiz con-
curso para a Direcção de Edifí-
cios e Monumentos do Norte e
entrei. O Sócrates fechou essa
Direcção, mas um chefe da
Segurança Social chamou-me
para trabalhar com ele por-
que gostava de trabalhar com
pessoas que conhecia. Os po-
líticos criaram postos para os
“boys” que são os amiguinhos
que entravam para esses pos-
tos a ganhar muito dinheiro
e a serem chefes. Aos 14 anos
conheci o Padre Mário Pais de
Oliveira. Foi aí que soube que
havia a PIDE que havia a tor-
tura, que a guerra era injusta.
Ele tinha sido capelão militar
na Guiné mas foi expulso. Um
advogado que depois foi do
PSD defendia os prisioneiros
políticos. Ele defendeu o Padre
Mário. Esse advogado tinha
boas relações com os PIDES
mais baixos que tinham mais
necessidades e assim obtinha
informações dos prisioneiros.
Eu sou fã do Che Guevara.
O Padre Mário disse uma vez
que o Che Guevara foi a per-
sonalidade do Sec. XX que
mais se parecia com Jesus por-
que ambos ultrapassaram os
seus limites e foram “esmaga-
dos” pelo poder. A partir daí
eu comecei a estudar a vida de
Che Guevara. Ele tinha coisas
boas e coisas más como todos
nós e temos que ver o contex-
to daquela altura. Ele falava
o que pensava e se dizia uma
coisa fazia. Tenho amigos com
os quais festejo os meus ani-
versários que passaram pelas
grelhas da PIDE e que como
eu eram a favor dos movimen-
tos de libertação considerados
como terroristas pelo exército
português porque os guerrilhei-
ros defendiam a independência
da sua terra. Este é o resumo
da minha estória.”
Obrigada Isabel pela linda e
rica estória.