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INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
1
O desenvolvimento econômico de uma nação depende crucialmente sua capacidade de
geração de inovações tecnológicas. O economista Joseph A. Schumpeter foi um dos primeiros
defensores desta vinculação entre o desenvolvimento de um país e sua capacidade inovativa.
Sua importância para a teoria econômica contemporânea é tão marcante que atualmente uma
das mais promissoras correntes em economia é chamada de neo-shumpeteriana.
A idéia original de Schumpeter e que até hoje norteia o pensamento de um amplo grupo
de economistas é que a inovação tecnológica é o verdadeiro motor do desenvolvimento
econômico. Tais inovações ocorrem de forma descontinuada no tempo e dão origem a um
processo de “destruição criadora” no qual as velhas estruturas são abandonadas e substituídas
pelo novo, pela inovação.
O surgimento e o desenvolvimento da internet é um exemplo atual deste processo. Seu
advento provocou mudanças profundas em toda a economia. Nas comunicações, no comércio,
na forma de organização da produção, na geração e transmissão do conhecimento as
mudanças são substanciais. O comércio varejista é um bom exemplo disso. Sal transformação
foi radical. Hoje, boa parte da estratégia de mercado dos grandes varejistas passa pelo
desenvolvimento de novas formas de comércio eletrônico, o que implica profundas mudanças
organizacionais.
A inovação, no entanto, não é algo que surge por geração espontânea. É necessário
investir em pesquisa e desenvolvimento para que a inovação ocorra. Em princípio, acreditava-
se que o papel central era desenvolvido pelo empresário e seu espírito empreendedor. O
próprio Schumpeter em seus trabalhos mais maduros passa a argumentar que o centro do
processo de inovação encontrava-se na grande empresa, particularmente na grande empresa
multinacional, cuja concentração de recursos permitiria a realização de pesados gastos em
pesquisa e desenvolvimento. Hoje, o neo-schumpeterianos argumentam que a inovação é fruto
de um conjunto amplo de relação entre empresas privadas, governos e as universidades no
que se convencionou chamar de Sistema Nacional de Inovações. Neste sentido, argumenta-se
que o processo de geração de inovações requer relações sinérgicas entre estes três agentes.
O Brasil está muito longe de construir um Sistema Nacional de Inovações por diversas
razões. Em primeiro lugar, as empresas brasileiras ainda dedicam uma parcela muito reduzida
de seus lucros para os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, sobretudo quando
comparamos com os dados disponíveis dos países desenvolvidos. Outro aspecto importante é
que o governo brasileiro tem dificuldades em definir com clareza qual a sua política na área.
Até hoje, a concessão de empréstimos via BNDES para inversões em pesquisa e
desenvolvimento é polêmica.
Finalmente, o distanciamento entre as Universidades e o setor produtivo é outra
particularidade brasileira que limita a criação de um Sistema Nacional de Inovação. Em alguns
1
Doutor em Economia pela Unicamp e Professor Adjunto do Departamento de Economia da UFPR
círculos acadêmicos este distanciamento é visto, de uma perspectiva puramente ideológica,
como fundamental para o verdadeiro desenvolvimento da “ciência”.
O Brasil já ocupa, em função dos esforços recentemente realizados, um papel relevante
na produção científica mundial ou pelo menos uma posição adequada à sua parcela no produto
mundial. Hoje, cerca de 2% da produção científica mundial são derivados dos esforços de
pesquisadores brasileiros. Porém, quando olhamos o quanto destes artigos científicos
transformam-se efetivamente em inovações e dão direito ao requerimento de patentes, os
números são desalentadores, demonstrando a falta de vínculo entre a produção científica
nacional e o desenvolvimento das atividades produtivas.
A importância da ciência de base é inegável, porém o maior vínculo entre a produção
científica e o desenvolvimento produtivo é um passo fundamental para a constituição de um
Sistema Nacional de Inovações que garante o pleno desenvolvimento da economia brasileira.

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  • 1. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 1 O desenvolvimento econômico de uma nação depende crucialmente sua capacidade de geração de inovações tecnológicas. O economista Joseph A. Schumpeter foi um dos primeiros defensores desta vinculação entre o desenvolvimento de um país e sua capacidade inovativa. Sua importância para a teoria econômica contemporânea é tão marcante que atualmente uma das mais promissoras correntes em economia é chamada de neo-shumpeteriana. A idéia original de Schumpeter e que até hoje norteia o pensamento de um amplo grupo de economistas é que a inovação tecnológica é o verdadeiro motor do desenvolvimento econômico. Tais inovações ocorrem de forma descontinuada no tempo e dão origem a um processo de “destruição criadora” no qual as velhas estruturas são abandonadas e substituídas pelo novo, pela inovação. O surgimento e o desenvolvimento da internet é um exemplo atual deste processo. Seu advento provocou mudanças profundas em toda a economia. Nas comunicações, no comércio, na forma de organização da produção, na geração e transmissão do conhecimento as mudanças são substanciais. O comércio varejista é um bom exemplo disso. Sal transformação foi radical. Hoje, boa parte da estratégia de mercado dos grandes varejistas passa pelo desenvolvimento de novas formas de comércio eletrônico, o que implica profundas mudanças organizacionais. A inovação, no entanto, não é algo que surge por geração espontânea. É necessário investir em pesquisa e desenvolvimento para que a inovação ocorra. Em princípio, acreditava- se que o papel central era desenvolvido pelo empresário e seu espírito empreendedor. O próprio Schumpeter em seus trabalhos mais maduros passa a argumentar que o centro do processo de inovação encontrava-se na grande empresa, particularmente na grande empresa multinacional, cuja concentração de recursos permitiria a realização de pesados gastos em pesquisa e desenvolvimento. Hoje, o neo-schumpeterianos argumentam que a inovação é fruto de um conjunto amplo de relação entre empresas privadas, governos e as universidades no que se convencionou chamar de Sistema Nacional de Inovações. Neste sentido, argumenta-se que o processo de geração de inovações requer relações sinérgicas entre estes três agentes. O Brasil está muito longe de construir um Sistema Nacional de Inovações por diversas razões. Em primeiro lugar, as empresas brasileiras ainda dedicam uma parcela muito reduzida de seus lucros para os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, sobretudo quando comparamos com os dados disponíveis dos países desenvolvidos. Outro aspecto importante é que o governo brasileiro tem dificuldades em definir com clareza qual a sua política na área. Até hoje, a concessão de empréstimos via BNDES para inversões em pesquisa e desenvolvimento é polêmica. Finalmente, o distanciamento entre as Universidades e o setor produtivo é outra particularidade brasileira que limita a criação de um Sistema Nacional de Inovação. Em alguns 1 Doutor em Economia pela Unicamp e Professor Adjunto do Departamento de Economia da UFPR
  • 2. círculos acadêmicos este distanciamento é visto, de uma perspectiva puramente ideológica, como fundamental para o verdadeiro desenvolvimento da “ciência”. O Brasil já ocupa, em função dos esforços recentemente realizados, um papel relevante na produção científica mundial ou pelo menos uma posição adequada à sua parcela no produto mundial. Hoje, cerca de 2% da produção científica mundial são derivados dos esforços de pesquisadores brasileiros. Porém, quando olhamos o quanto destes artigos científicos transformam-se efetivamente em inovações e dão direito ao requerimento de patentes, os números são desalentadores, demonstrando a falta de vínculo entre a produção científica nacional e o desenvolvimento das atividades produtivas. A importância da ciência de base é inegável, porém o maior vínculo entre a produção científica e o desenvolvimento produtivo é um passo fundamental para a constituição de um Sistema Nacional de Inovações que garante o pleno desenvolvimento da economia brasileira.