1) A história descreve uma menina que tem uma amiga imaginária desde pequena com quem conversa e compartilha seus pensamentos.
2) Com o tempo, os pais percebem que a amiga imaginária parece antecipar eventos, protegendo a menina de perigos, levantando a suspeita de que ela tem o dom da premonição.
3) Em seu aniversário de 7 anos, a menina prevê que sua avó terá um enfarto, confirmando as suspeitas dos pais sobre seu dom profético.
5 revista o voo da gralha azul numero 5 julho agosto 2010
1.
2. Revista Literária
“O Voo da Gralha Azul”
n0. 5 – Paraná, julho/agosto 2010
Idealização, seleção e edição:
José Feldman
Contatos, sugestões, colaborações:
pavilhaoliterario@gmail.com
http://singrandohorizontes.blogsp
ot.com
Endereço para correspondencia:
Caixa Postal 11
Cep.85440-000
Ubiratã/PR
Que a humanidade possa aprender com a nossa Gralha-azul e entender que o
equilíbrio e o respeito ecológico entre fauna e flora é fundamental para a existência
do Homem na face da Terra!!!
Prezado Leitor
Esta revista não tem a pretensão e nunca poderá ser considerada como substituição aos livros,
jornais, colunas, etc. que circulam virtualmente ou não, mas sim como mola propulsora de incentivo ao
cidadão para buscar novos conhecimentos, ou relembrar aqueles perdidos na névoa do passado.
Por que o Voo da Gralha Azul? A Gralha Azul, que assim como semeia o pinheiro, ela alça voo e semeia
no coração de cada um que alcançar, o pinhão da cultura, em todas as suas manifestações.
Ao leitor, novos conhecimentos.
Ao escritor ou aspirante a tal, sejam poetas, trovadores, romancistas, dramaturgos, compositores, etc.,
um caminho de conhecimento e inspiração.
Obrigado por me permitir dividir consigo estes breves momentos,
José Feldman
3. SUMÁRIO XVII Prêmio Cidade de Conselheiro Lafaiete
................................................................... 118
ACADEMIAS XXIV Jogos Florais de Ribeirão Preto e XII
Academia Maranhense de Letras .............77 Jogos Florais Estudantis de Ribeirão Preto –
2011 ........................................................... 124
XXX Concurso Estadual/Nacional e I
ANÁLISE DE OBRAS Concurso Interno de Trovas da Academia de
Mary Shelley Trovas do Rio Grande do Norte – Natal/2010
Frankestein ...............................................51 ................................................................... 118
Rinaldo de Fernandes
O Perfume de Roberta ...............................19
ENTREVISTA
Antonio Augusto de Assis
BIOGRAFIAS
Amadeu Amaral ........................................47
O Escritor em Xeque..................................................69
Ângela Bretas ...........................................18
Antonio Augusto de Assis..........................69 ESTANTE DE LIVROS
Antonio Carlos Villaça ..............................38
Ivanir Calado A Caverna dos Titãs .......... 111
Antonio Prata ...........................................50
Mundo de Sombras: O Nascimento do
Antônio Torres...........................................64
Vampiro
Apollo Taborda França .............................. 4
Rachel de Queirós (O Quinze) .................. 114
Augusto Monterroso ..................................36
Raul Pompéia (Tragédia No Amazonas) .. 112
Bisa Maith ................................................24
Raul Pompéia (As Jóias da Coroa) ........... 113
Danilo Corci ...............................................89
Deonísio da Silva .......................................85
Geary Hobson ............................................68 FOLCLORE
Ialmar Pio Schneider ................................60 Folclore Indígena
Ivanir Calado.............................................112 Lenda Tolteca (Quetzalcoatl).................... 72
Jeanette Monteiro de Cnop .......................76 Lenda dos Índios Sioux (O Falcão e A Águia)
Marina Colasanti.......................................16 ................................................................... 73
Mary Shelley .............................................55 Folclore Paranaense
Rabindranath Tagore ................................98 ALMIRANTE TAMANDARÉ
Rachel Jardim............................................10 O fantasma das águas do Val Verde......... 89
Rinaldo de Fernandes................................21 ALTAMIRA DO PARANÁ
Risoleta Pinto Pedro ..................................7 A noiva ..................................................... 90
Rubem Braga.............................................86 ANTONINA
Silviah Carvalho .......................................41 Escravos da igreja de São Benedito ......... 90
Sylvio von Söhsten Gama..........................101 ANTONIO OLINTO
Visagens .................................................... 90
ARAPOTI
CONCURSOS COM INSCRIÇÕES ABERTAS O pinheiro da noiva................................... 90
Concurso de Crônicas - Academia Pedralva de
BOA ESPERANÇA
Letras e Artes ............................................122
Uma tal confusão ...................................... 90
Concurso Nacional Intersedes ..................121
CALIFÓRNIA
3º Concurso Cidade de Gravatal de Literatura
Cecília, a deusa da estrada ....................... 91
(Conto e Poesia) ........................................122
COLOMBO
7o Concurso Rogério Salgado de Poesia ....123
Lenda do Bradador ................................... 91
II Concurso de Trovas Poeta Antônio Roberto
CURITIBA
Fernandes – Academia Pedralva Letras e
A loira fantasma ....................................... 91
Artes ..........................................................122
O fantasma da grávida da Praça da Ucrânia
V Concurso Literário “Cidade de Maringá”
................................................................... 92
...................................................................121
FRANCISCO BELTRÃO
4. Campo mal-assombrado ............................93 Pra Lua...................................................... 48
GENERAL CARNEIRO Antônio Torres
Poço da visagem.........................................93 Por um Pé de Feijão .................................. 63
IPIRANGA Artur da Távola
A noiva que ia se casar ..............................93 O Pródigo do Jardim ................................. 26
IRATI Átila José Borges
O garupeiro................................................93 O Pinheiro, O Casebre. O Quadro ............ 102
IVATÉ Augusto Monterroso
A bola de fogo.............................................93 O Macaco que quis ser Escritor Satírico... 36
JAGUARIAÍVA Bisa Maith
Assombração da antiga Serrinha .............94 Sogra e Sogra ........................................... 22
MATINHOS Marina Colasanti
O carona da bicicleta .................................94 Como é mesmo o nome? ............................ 15
MORRETES Olga Agulhon
Fantasma do Central.................................95 Sobre os Trilhos......................................... 74
SÃO JOSÉ DOS PINHAIS Rabindranath Tagore
O velório da virgem noiva .........................95 Nas Margens do Ganges ........................... 95
TUNAS DO PARANÁ Jardim
Rachel Jardim
A caverna do jesuíta ..................................95 A Viagem de Trem .................................... 9
Risoleta Pinto Pedro
O Caderno ................................................. 4
HAICAIS Rubem Braga
Sylvio von Söhsten Gama A Viajante ................................................. 85
Água...........................................................100 Vicencia Jaguaribe
Caminhar...................................................100 Sem Necessidade de Explicação ............... 1
Corpo Celeste.............................................100
Despedida ..................................................100
Dúvida .......................................................100 POESIAS
Espaço........................................................100 Alba Albarello
Falar ..........................................................100 É tempo de vencer..................................... 11
Fim.............................................................100 Ângela Bretas
Flores .........................................................100 Mulher Abstrata ....................................... 17
As Formigas...............................................100 Carmo Vasconcelos
Longe .........................................................100 Poetas?... ................................................... 38
Pescar.........................................................100 Leite
Dinair Leite
Sabedoria ...................................................100 Ode ao CUPHI! ......................................... 115
Saudade .....................................................100 Eugênio de Sá
A Sombra ...................................................101 Fernando Pessoa ...................................... 37
Tempos.......................................................101 Gislaine Canales
Liberdade .................................................. 11
Jeanette Monteiro de Cnop Cnop
NOTÍCIAS Dualidades ............................................... 75
Andrey do Amaral – Livro com “QI” ........117 Duas Crianças .......................................... 76
Diretoria da UBT Estadual do Paraná 2009- Lígia Antunes Leivas
2010............................................................116 Os beijos que não esqueci.......................... 12
Dinair Leite, de Paranavaí, PR, nomeada Luiz Eduardo Caminha
Presidente Nacional da União Contrastes ................................................. 12
Hispanoamericana de Escritores – UHE ..115 Santos
Maria Nascimento Santos Carvalho
Excesso de amor........................................ 12
O ESCRITOR COM A PALAVRA Marisa Cajado
Antonio Carlos Villaça Sou a Música ............................................. 13
Quando eu Chegar ao Céu… .....................38 Paulo Jorge Brito e Abreu
Antonio Prata Fernando Pessoa, para sempre ................ 37
5. Carvalho
Silviah Carvalho recordações e renovação............................ 64
O Poeta .....................................................39 Luiz Otávio
O Coração Que Ama .................................40 Jogos Florais de Corumbá......................... 30
O Dia Perfeito ...........................................40
Perdão .......................................................41
Tchello d'Barros TEATRO DE ONTEM E DE SEMPRE
A Flor da Pele ............................................13 A Dama das Camélias............................... 60
Pequenos Burgueses ................................. 61
SOPA DE LETRAS Pluft, o Fantasminha ................................ 62
Alberto
Alberto Filho
Uma Atividade Mágica para Cultivar o
Hábito da Leitura ......................................25 TROVAS
Amaral.........................................
Amadeu Amaral Apollo Taborda França
Novela e Conto: Psicologia do Boato - Prefácio O Nosso Alfabeto em Trovas..................... 2
de Franco da Rocha ...................................43 42 Anos dos I Jogos Florais de Corumbá 27 Corumbá..
Danilo Corci Ial
Ialmar Pio Schneider
O Romance Moderno .................................88 Menestrel do Sul ....................................... 57
Deonísio da Silva Jeanette Monteiro de Cnop
De Onde vêm as palavras..........................81 4 Trovas..................................................... 76
Escolares
Dicas de Trabalhos Escolares
Artigo Científico .......................................32
Monografia ................................................32
INDICAÇÃO DE SITES DE LITERATURA
Dissertação ...............................................33 Academia Brasileira de Letras ................. 126
Escolha do Tema .......................................34 Jornal de Poesia (Soares Feitosa) ............... 125
O Orientador .............................................34 Por Tras das Letras (Hélio Consolaro) ........ 125
Projeto de Pesquisa ...................................35 Um Coração que Ama (Silviah Carvalho) ... 125
Geary Hobson Portal Vânia Diniz .................................... 126
A Literatura Nativa Norte-Americana:
6. 1
A menina era filha única. De pele muito física. Às vezes, ela pensava entrever um vulto
clara, cabelos louros e olhos azuis, dava a sem feições. Uma silhueta diáfana, que lhe
impressão de diafaneidade. Parecia que, a dava, no entanto, a impressão de que ouvia o
qualquer momento, desafiaria as leis da que ela dizia, via o que ela lhe mostrava, mas,
natureza, criaria asas e sairia voando. Para principalmente, entendia o que ela sentia e
completar a impressão de que, na realidade, como que lia seus pensamentos. Nos últimos
ela não pertencia ao triste mundo material, tempos, aquela presença vinha-lhe
comunicava-se com alguém completamente antecipando acontecimentos, prevenindo-a dos
invisível a olhos que não os seus. Vez ou outra, perigos, protegendo-a, enfim.
dirigia o olhar para o lado e sorria. Às vezes, Quando se aproximou o dia dos seus
balançava a cabeça, como se confirmasse ou sete anos, e os pais lhe disseram que iam
negasse alguma coisa. Em outras ocasiões, preparar uma festinha, ela não quis. Como os
abria um livro e passava as folhas, como se pais insistissem, ela disse que o dia de seu
estivesse mostrando as gravuras a alguém. aniversário seria muito triste.
Quando começou a ler – e lia bem com quatro - Mas triste por que, minha filha?
anos –, fazia-o sempre em voz alta, ou melhor, - Não sei. Ela não me disse.
em meio tom, como se alguém a estivesse - Ela? Ela quem?
escutando. - Ela, a minha amiga.
No início, os pais achavam aquilo
engraçado, mas, com o tempo, começaram a No dia do aniversário da menina,
preocupar-se, pois sentiam como se uma chegou a notícia de que sua avó paterna tivera
presença acompanhasse a filha todo o tempo. um enfarto e passava mal.
Levaram a menina a uma psicóloga, que teve Os pais pensaram em coincidência. Mas,
com ela algumas sessões e concluiu não haver com a repetição de episódios como aquele,
nada para gerar preocupação. A menina era começaram a desconfiar de que a filha tinha o
filha única, vivia só, por isso criara uma amiga dom da premonição. E que aquela amiga
imaginária. Quando ampliasse seu círculo de imaginária não era mais do que a manifestação
amizades, aquilo acabaria. desse dom. E guardaram isso como um segredo
A amiga imaginária, no entanto, não de estado. Nem mesmo os familiares tomaram
atrapalhava as relações da menina com as conhecimento do fato.
outras crianças. Ela ia à casa das amigas, O dia amanhecera quente. E era
convidava-as a irem à sua casa. Quando os pais domingo. Os pais resolveram ir à praia para
a levavam ao shopping, ao cinema, ao parque, escapar da sensação de sufocamento que
sempre pedia a companhia de uma criança. oprimia os bairros distantes do mar. Quando a
Fazia amigos com facilidade. Mas, quando não mãe tirou a entrada de banho e ficou só de
havia ninguém por perto, agia como se biquíni, a menina fez um carinho em sua
estivesse acompanhada por alguém que só ela barriga:
via. - Meu irmão já tá aí dentro.
Para a menina, aquela presença era algo - Que história é essa, filha? Você sabe
natural. Desde que se entendera por gente, que eu não posso lhe dar um irmão.
tinha a sensação de que havia alguém ao seu - Eu sei, mas ele já tá aí.
lado. Na verdade, era algo mais do que uma - Foi sua amiga que lhe disse isso?
sensação; mas não chegava a ser uma presença - Foi. E ela disse também que ele vai
7. 2
salvar a minha vida. possibilidade de estar grávida. Na mesma hora,
pegou o telefone e marcou consulta com o
A mãe esboçou um sorriso e disse que ginecologista. O exame clínico, confirmado
bom que ele vai salvar sua vida! E ficou depois pelo exame laboratorial, disse-lhe que
observando a filha, que abria um buraco na ela, realmente, estava gerando um filho. O
areia molhada e, vez por outra, ria e balançava médico, meio atrapalhado, tentou uma
a cabeça, como se ouvisse alguém lhe falar. explicação para o que chamou de fenômeno.
Uma semana depois, a menina começou Mas ela não precisava de explicação. Aliás, não
a apresentar manchas no corpo e a queixar-se queria explicação. O importante era que a filha,
de fraqueza. Os exames confirmaram o agora, tinha uma chance.
prognóstico do médico – leucemia. Única No dia em que voltou do hospital, com o
possibilidade de cura: transplante de medula. bebê nos braços, viu a filha abrir a porta da rua,
Mas, como ela não tinha irmão, era quase dizer adeus e soprar um beijo para alguém,
impossível encontrar um doador compatível. exatamente como fazia quando se despedia
Os pais entraram em desespero. A mãe dela na porta do colégio.
chorava com frequência, mesmo na frente da - De quem você está se despedindo,
filha, que, um dia, sem mesmo desviar a filha?
atenção do quebra-cabeça que montava em - Da amiga. Ela foi embora.
cima da cama, encorajou-a: - Foi embora!? Por quê?
- Não chore, mamãe, você não sabe que - Ela disse que agora, com a chegada do
meu irmão vai me ajudar a ficar boa!? meu irmão, eu não precisava mais dela.
A mãe, então, lembrou-se do que a Sem demonstrar tristeza, ou qualquer
menina dissera na praia, há mais ou menos um outro sentimento, como se nada tivesse
mês. Ela não dera atenção àquela história e acontecido, a menina abriu o livro de contos de
nem mesmo a contara ao marido. Como podia fadas cuja leitura interrompera. Deitou-se no
dar ouvidos à filha, se ela sabia que não podia sofá e retomou a história do ponto em que a
engravidar uma segunda vez? De repente, veio- deixara. Aquele foi o último dia em que ela se
lhe à mente que já fazia quase dois meses que referiu à amiga imaginária.
não menstruava. Como, porém, suas regras
sempre foram irregulares, não dera atenção ao Fonte:
fato. Mas, a partir daquele instante, para não Colaboração da Autora
perder as esperanças, agarrou-se à
A na ordem é a primeira
Do ALFABETO, original; C tem ritmo completo,
Tem presença costumeira, Colorindo o seu CÉU;
Vai num texto sem igual. Se sublima, som dileto,
Vale mais do que um troféu.
B se mostra importante,
Dentre as letras principais; D é letra favorita,
BRASIL a leva confiante, DECISIVA e dá apogeu;
É o país dos mananciais. Valoriza toda escrita,
8. 3
Replicando: estou no meu. Calorosa como a prece,
É uma letra de verdade.
E é letra da ESPERANÇA,
Enriquece o fraseado; O é letra sintonia,
E o sentido, de antemão, OPULENTA como o Sol;
Fica firme e bem postado. Muito pura, sem mania,
Se repete em rouxinol.
F é uma letra mágica,
Que impressiona de saída; P dispensa comentário,
FORTALECE a trova sáfica Letra forte do PERDÃO;
E as demais, a toda brida. Se mantém no itinerário
Do alfabeto, é bridão.
G está em geralmente,
Tem GRANDEZA, é muito usada; Q garante o rijo som,
É importante integralmente É QUERIDA em qualquer texto,
Sua presença numa toada. Na poesia dá seu tom,
Na palavra é cabresto.
H mostra ter talento,
Vem no nome de HEITOR; R é letra principal,
O seu som é de acalento, Ao ROSÁRIO dá estesia;
Sustentando o seu valor. Tem um som monumental,
Flui no texto e na poesia.
I é aquela letra base,
Que INSPIRA muito afeto; S é um tanto sibilante,
Se impõe em qualquer frase, SILVA a torto e a direito;
É destaque no alfabeto. Mas, mantem-se firme e estuante:
É uma letra de respeito.
J brilha em toda linha,
Joga o JOGO na jogada, T é uma letra ponderável.
Tem sua verve, sempre tinha, Que TEMPERA nossa língua;
No alfabeto é a bem bolada. Seu emprego é inumerável
E o pensar não fica à míngua.
K é letra motivada
É de uso bem correto; U vogal maravilhosa
Em KARDEC é badalada, É de UNIÃO e de argumento;
Mas sacaram do alfabeto. Se diz muito caudalosa,
Na palavra é um sustento.
L vai em LIBERDADE,
É o que todo mundo quer; V tem som inimitável,
Sendo letra sem vaidade, Ajuda muito no verso;
O servir é seu mister. Em VITÓRIA é bem notável
Nos idiomas do universo.
M tem a sua marca,
De letra sublimação; W tem a sua saga,
Em MARIA bem abarca É rejeitada por muitos;
O sentido da oração. Em WESTPHALEN afaga,
Da tradição, os seus mitos.
N nunca desfalece,
Lembrando a NATIVIDADE, X é a base do problema
9. 4
No mundo da Matemática; e trovas. Suas composições literárias foram
Em XANGÔ é um emblema publicadas em jornais, especialmente em livros
De influência carismática. e coletâneas impressas em São Paulo e Rio de
Janeiro, etc.
Y era antiga
Letra assim convencional; – Cadeira n.36 da Academia Paranaense de
Na YOGA é muito amiga, Letras
Com seu talhe bem sensual. – Cadeira n.38 da Academia de Letras José de
Alencar
Z é a letra derradeira, – Membro do Centro de Letras do Paraná
De nosso falar gentil; – Membro do Círculo de Estudos Bandeirantes
ZODIACAL, é uma bandeira – Presidente da UBT/Curitiba 1984/86 e
No idioma do Brasil!... 1990/92.
– Membro do Instituto Histórico, Geográfico e
Etnográfico Paranaense
Publicações:
APOLLO TABORDA FRANÇA
– Poesia (em colaboração)
Apollo Taborda França, nasceu em – Sinfonia da Rua 15
Curitiba, capital do estado do Paraná. – A lua escorregou pela parede
Filho de Heitor Stockler de França e – Festa de amores– O nosso alfabeto
Brasília Taborda Ribas de França. Fez cursos – Praças de Curitiba
primário e ginasial no Instituto Santa Maria, dos – Constelação dos bairros de Curitiba
Irmãos Maristas. Posteriormente em Direito – Os nossos pés de todos os dias
pela Universidade Federal do Paraná, em – MPPr – Movimento Poético Paranaense
Jornalismo pela Universidade Católica (hoje – Poesia do Paraná
PUCPR), ainda em Curso Técnico de Construção
Fontes:
de Máquinas e Motores, pela Escola Técnica
– Antologia dos Acadêmicos: edição comemorativa dos
Federal do Paraná que agora está transformada 60 anosda Academia de Letras José de Alencar. São
em Universidade; e se formou em Ciências Paulo: Scortecci, 2001.
Econômicas. – Apollo Taborda França. O Nosso Alfabeto. Curitiba:
Gráfica Vitória, 1982.
Possui 17 livros publicados, em prosa e
– Carlos Leite Ribeiro. Portal CEN.
em verso. Inclusive cinco de Trovas. Passou a
– Vasco José Taborda e Orlando Woczikosky
fazer versos naturalmente, talvez por influência (organizadores). Antologia de Trovadores do Paraná.
sangüínea, uma vez que seu pai Heitor Stockler Curitiba: O Formigueiro – Instituto Assistencial de
de França era escritor, poeta, jornalista e Autores do Paraná, 1984.
advogado e seus irmão também fazem poesias
(Este texto/reflexão deriva de uma Aluno aprende
comunicação/aula/conversa/conferência para Dá
alunos de uma escola de medicina holística no Enquanto
passado ano letivo) Recebe
Na medida
Com o caderno cada Ótima. Oculta.
10. 5
coisa destas, não o faria, porque o caderno
Do dicionário: na entrada: “Caderno”, a representa acima de tudo uma emocionante
etimologia aparece como remontando ao latim DESCOBERTA PESSOAL
“quaternus”, que significa “de quatro em
quatro”. Quádruplos, constante de quatro O QUE POSSO DIZER:
elementos, porque eram as partes em que se
dobrava um “folio” (folhas de impressão com - Como já fiz…
quatro páginas impressas). - Como fui fazendo…
O que faz todo o sentido. O quatro é o - Como venho fazendo…
número da estabilidade e da matéria. O - Como gostaria de conseguir fazer…
caderno é a matéria na qual nós podemos - Como fazem algumas pessoas que
construir / observar o nosso mapa / processo / conheço…
estrada. É ele, bem enquadrado no solo, que Um caderno é como o ADN, como a voz,
vai permitir-nos voar. Sem esse solo, como as impressões digitais: não existem dois
poderemos elevar-nos ao sol, mas em breve iguais. Se houver, ou um deles está a mentir, ou
estaremos no solo. Bem estatelados. Não talvez estejam os dois.
quadrados, mas esborrachados. Então, a idéia, é o caderno ser o mais
Na música, o compasso quatro por parecido possível com aquele/aquela que eu
quatro é de uma grande regularidade e sou, com a verdade deste meu momento. Mas
equilíbrio. Curiosamente, ou não, também se isso vai mudando, e assim, o caderno irá,
representa por um “C”. certamente registrar uma sucessão de
Enfim, podemos ficar por aqui no que verdades, ele irá ser diferente ao longo do
toca a especulações, embora fosse possível tempo. Se assim não for, é mentira.
continuar assim durante umas horas…
Qual é afinal, a idéia, com esta DIÁRIO DA LUZ E DA PELE
conversa?
- Não vou dizer como se deve fazer um Foi um caderno que os meus alunos
caderno fizeram.
- Não vou dizer como se faz um caderno Pensei falar sobre isto porque talvez
- Pensei não dizer, tão pouco, como não abra horizontes relativamente ao caderno.
se faz, porque isso seria dizer como eu faço; Texto - próprio ou alheio
mas depois, pensando melhor, decidi fazê-lo, Escolha da cor que vai acompanhar este
porque pelo menos sempre se fica a saber processo (uma cor em todos os cambiantes,
como é que não se faz, o que é útil, porque modulações e tons possíveis) - O tema, que
pode sempre aparecer quem queira fazer apenas excepcional e justificadamente poderia
assim, o que também é bastante legítimo… Mas ser alterado durante o processo.
fica adiado mais para a frente… Forma, matéria objetos, texturas,
- O que não vou certamente dizer é fotografia, desenho, colagem, pedaços de
como é que acho que se deveria fazer. Primeiro coisas, da natureza, ou não (dar exemplos:
porque não acho nada, segundo porque não pacotes de açúcar, flores, sementes, incensos,
sei, terceiro porque não devo. fechos eclair, etc.), sempre na cor escolhida.
- O nome pode ser importante; neste
PORQUE: caso ele foi dado por mim e era imutável,
porque os ajudava a orientarem-se, era a sua
- Não está no meu feitio dizer às pessoas bússola.
como devem fazer as coisas - Mas dar um nome ao caderno pode ser
- Ainda que estivesse no meu feitio, não uma forma de tomar consciência do processo.
sei dizer como se deve fazer uma coisa destas. Seria interessante que houvesse espaço para ir
- Ainda que fosse possível dizer uma rebatizando o caderno. No final, uma análise
11. 6
dos vários nomes que o caderno foi tendo, para lá da pele, mergulhar e percorrer os
pode ser um indicador interessante de muita misteriosos corredores internos.
coisa e pode ensinar muito.
OUTROS CADERNOS
- Em que consistia este caderno:
Alunos de uma escola de ensino artístico O CADERNO DOS SONHOS:
(artes plásticas) na disciplina de Português.
O lugar dele é sempre à cabeceira, Às
- O que se pretendia: vezes debaixo da almofada, às vezes ao lado da
Basicamente, o mesmo que em relação almofada, deve ter uma capa resistente para
a todos nós: que os alunos tomassem resistir ao corpo dos sonhos. É inseparável da
consciência do seu crescimento. Crescer, se caneta, que nunca deve afastar-se. Um caderno
cresce sempre, mas às vezes não se dá por isso à cabeceira sem uma caneta (já me aconteceu)
e portanto cresce-se menos. Se crescer com um não serve para nada.
irmão gêmeo, que neste caso é o caderno, No caderno dos sonhos tanto posso
sabemos do nosso crescimento através do escrever como desenhar, porque há sonhos
nosso irmão. Que é a imagem. O caderno é um que são desenháveis, que só podem mesmo ser
espelho. E eu posso intervir em mim através do desenhados.
caderno, intervindo nele, porque o espelho Mas há O CADERNO DAS ESCRITAS, que
funciona nos dois sentidos. deve colar-se ao meu corpo, porque posso
escrever a meio da noite à saída de um sonho,
- Para que servia o nome, que também na casa de banho, a fazer o jantar, a estender a
era um tema: roupa, a ver um filme, a andar na rua….
Para não se perderem, para terem um Daria jeito ao nosso caderno ter um
fio condutor corpo que lhe permitisse habitar vários meios:
Todos têm um fio condutor, podem é da banheira à cama passando pela rua, pelo
não saber disso, mas se formos ver bem, não autocarro ou pelo… cinema.
anda muito distante da luz e da pele. Se calhar, O fator presença, proximidade,
a pele é o nosso caminho para a luz. intimidade, é muito importante. Não me serve
Caminhamos sobre a pele com o olhar, com as de nada ter o caderno em casa se estou na rua,
mãos, com as agulhas, com o olfato, com a ou no carro se estou no teatro, ou na escola se
pele, com a nossa pele. A luz que procuramos é estou a ver uma exposição.
a que está dentro do corpo e num local secreto Tenho também O CADERNO DA
que o corpo ilumina. Mas temos de passar pela MEMÓRIA, onde colo coisas: bilhetes de
pele, enterrar, aprofundar, mergulhar nos espetáculos, postais que me enviam, moedas
poros, e penetrando no interior do corpo, encontradas na rua, fotografias que me
retificá-lo, trazer à luz a preciosa pedra unitária. oferecem, espécies vegetais, cartões de visita,
Quando falo em luz não me refiro pequenos catálogos de exposições, e um sem
àquela luz artificial dos catecismos antigos, mas número de coisas. (Este aprendi-o com um
à luz que realmente ilumina o interior do corpo, amigo)
a luz de profundidade, a visão do bem estar, da O CADERNO DAS VIAGENS, onde
saúde, da compreensão do eu como um ser escrevo percursos, sítios, desenho coisas que vi,
único, íntegro, indivíduo (in-dividuo), que frases que retive, frases que criei, pessoas que
significa o que não está dividido, porque “in” é conheci, idéias que surgiram. Nesse caderno
um prefixo de negação. preparo as viagens, vivo as viagens e recrio as
A doença é quando o corpo se encontra viagens. (Este aprendi-o com… talvez com
fragmentado dentro de si e em relação ao todo, Deus)
ao mundo, aos outros. No fundo, é isso que se Um caderno pode ser utilizado como um
pretende: pelo mapa da pele, mas penetrando diário, com a regularidade do sol, mas pode ser
12. 7
quase um horário, se o usarem com a mesma “quaternum”, e fazerem, e até ritualizarem, o
freqüência com que eu o faço. E não tenham momento de criação do vosso caderno. Para
receio se emudecerem um dia. O caderno, se é quem isso for importante. Não há nada que
quadrado, pelo menos na origem, não tem de seja proibido se for para ampliar e crescer.
ser rígido. Pode ser a quadratura do círculo, e Alguns cadernos que referi são cadernos
ser flexível, móvel, girar. parciais: de sonhos, de escrita, mesmo o dos
É claro que eu posso ser caótica, meus alunos, com escrita e objetos e fotografia,
totalmente indisciplinada e anarquista, porque mas o caderno é potencialmente, não
eu apenas tenho que o mostrar a mim mesma, obrigatoriamente, mas potencialmente, mais
que foi quem docemente me ordenou que o amplo, porque como terapeutas holísticos de
fizesse. nós mesmos ( e por extensão, do mundo) que
Quanto ao que se deve lá pôr, eu diria: todos deveríamos ser, nada poderá ficar de
tudo! fora, e, de acordo com as características de
Mesmo que pensem que não sabem cada um, que, naturalmente, dará diferente
desenhar, não devem ter pudor em desenhar, peso às várias possibilidades, aí poderemos
se isso fizer sentido para vós, se o impulso do incluir sonhos, reflexões, intuições, citações,
desenho saltar para a vossa mão revelações, esquemas, grelhas, questionários,
Eu não sou um bom exemplo, porque listas, argumentações, entrevistas, reportagens,
não tenho um caderno, tenho vários, um em notícias, crônicas, críticas, apontamentos,
cada sítio: cozinha, quarto, mochila, pasta, ao descobertas, interrogações, dúvidas,
pé do PC, carro, etc. Nem sei quantos tenho. Se possibilidades, bílis, cartas de amor…
eu tivesse de fazer um caderno por me Sob as formas de texto, traço, desenho,
mandarem fazer, ou teria de grafar os cadernos fotografia, objeto, colagem, corte, rasgão,
todos, arquivá-los num dossiê, ou arrancar-lhes cheiro, sabor, beijo e até… som (por que não
as folhas e dar-lhes uma organização. poderá uma gravação num suporte qualquer
Realmente eu não sou um bom exemplo. Tenho fazer parte de um caderno assim? Ou um
o caderno dos sonhos, o caderno dos suporte multimídia?)
exercícios, o caderno de qualquer coisa que Enfim… acho que comecei a falar do
ando a escrever (que pode ser romance, quadrado e terminei a falar do infinito, porque
cantata, musical, poemas, crônicas, este texto o “problema” ou o encanto (depende do ponto
que estou aqui a transmitir-vos hoje, foi escrito de vista) do quatro é que pode sempre
assim, aos bocados…), o caderno dos alunos, o transformar-se num oito deitado, o sinal do
caderno das reuniões, o caderno das coisas que infinito. Cabe-nos a vós decidir se queremos um
ando a estudar, o caderno dos desenhos, o caderno atado com uma corrente a uma
caderno onde colo coisas, e acho que não secretária, ou um caderno a voar por aí e nós
acaba aqui… Se vocês forem assim pessoas agarrados a ele a sobrevoarmos o mundo, ao
dispersas terão de arranjar um truque para estilo Super-Homem, Mary Poppins, anjo ou
parecer que têm um caderno. Na verdade folha de árvore em outonal dia de vento e da
vocês têm um caderno, e mais outro, e mais desarrumação que precede a ordem, o
outro… compasso quaternário…
Para as reuniões muito chatas (desde
que não estejamos nós a dirigir), à falta de
caderno, é sempre possível fazer poemas à
margem das notas oficiais. Fiz imensos poemas RISOLETA PINTO PEDRO
numas reuniões assim… depois recortei os Foram-lhe atribuídos dois prêmios de
poemas e colei num caderno… que já não sei poesia e no drama escreveu O Deserto, o Mar e
por onde anda. o Tempo, peça representada pelo TE-ATO de
E também podem dobrar em quatro os Leiria; a convite deste mesmo grupo, escreveu
vossos fólios, à maneira da palavra latina Um Olhar Azul, também representada por esse
13. 8
mesmo grupo. libreto seu e música de Jorge Salgueiro, O
Em 2001, no Solar dos Zagalos em Achamento do Brasil, com espetáculos
Almada, realizou-se um concerto com música realizados em Abril de 2004 no Fórum Lisboa, e
do compositor Paulo Brandão para vozes, Maio do mesmo ano em Fátima, Barreiro,
celesta, clarinete baixo e tímpanos, com Sintra e Teatro Rivoli do Porto. Foi publicada na
poemas seus sobre o 25 de Abril, também por altura uma Banda Desenhada com texto
convite. No mesmo ano, um seu libreto, para a extraído do libreto de sua autoria. Ainda para
cantata Conquistador, sobre D. Afonso este compositor escreveu o musical Kate e o
Henriques, com música do compositor Jorge Skate (uma encomenda do Coro Infantil de
Salgueiro, teve, durante os meses de Maio e Setúbal) que será apresentado ainda em Julho.
Junho, espetáculos em Lisboa, Fátima e Coliseu Tem participado com textos seus em
do Porto. Em Maio, no Teatro Maria Matos, em catálogos de pintura e escultura dos artistas
Lisboa, realizou-se um espetáculo de bailado, plásticos Alcariota e Fernando Sarmento e
Viagens de Luar, com base em poema de sua apresentou vários livros de poesia,
autoria, Sensualua. Participou ainda no Júri do nomeadamente de Ana Viana, Daniel Domingos
prêmio de poesia José Régio, da Câmara Dias, Mário Máximo, Ana Cristina Peres,
Municipal de Celorico da Beira, onde também Manuel Amaral, Orfeu B., Maria Virgínia
apresentou uma comunicação sobre a poesia Monteiro e Isabel Millet.
de Mário Máximo. Em 2002, a participação no Também escreveu para a fotografia de
3º número da revista temática de poesia Renato Monteiro, cujo livro sobre a Arte da
Saudade, de Amarante. Estreou, também, um Xávega apresentou. Estreado a 1 de Outubro no
espetáculo de bailado pela AMALGAMA – Convento de S. Paulo o espetáculo multicultural
Companhia de Dança de Mafra, a partir de Venite in Silentio (dança, representação,
texto seu (A LUZ E O DESEJO), encomendado música, artes plásticas) para o qual contribuiu
por essa companhia. com a criação de uma narrativa que
Participação, com o poema “Conquista- acompanhou a criação do mesmo e vice-versa.
me”, num projeto de Canções Eróticas A estreia coincidiu com o lançamento do livro
Portuguesas de vários autores, com música de de sua autoria com o mesmo título: Venite in
Jorge Salgueiro, interpretado pelo grupo Silentio . Este espetáculo tem realizações
Negros de Luz. previstas para este verão, na Quinta da
Assinou uma crônica semanal, Quarta- Regaleira, em Sintra, e em Mafra. Escreveu
Crescente, transmitida às quartas-feiras na poemas e textos para os espetáculos e
rubrica O Sentido das Palavras, do Programa catálogos de À Flor do Caos e De Olisipo a
“Despertar dos Músicos”, da RDP – Antena 2, Lisboa, produzidos pela Escola Secundária
entre Janeiro e Setembro de 2003. Escreveu Artística António Arroio, assim como para o
quinzenalmente crônicas para os jornais Cidade projeto “Espaço Habitado”, uma colaboração
de Tomar e Despertar do Zêzere, mantendo-se desta escola com o CCB, no mês de Maio de
a colaboração com este último. A partir de 2005, numa performance onde colabora com
Outubro de 2003, iniciou a colaboração regular textos e voz off. Na Escola Secundária Artística
com a revista O Professor, da Editorial António Arroio estreou em Junho de 2005 uma
Caminho, que mantém. Registra também peça de teatro para marionetes de sua autoria
participações ocasionais na revista História com Adeus, inspirada em poema de Eugénio de
crítica de teatro e literatura. Estreou em Andrade.
Outubro de 2003, no Convento de São Paulo, Também a cantata O Conquistador foi
na Serra D’Ossa, o espetáculo Mutações, com reposta no passado mês de Maio em Lisboa
base em textos seus, pela Amalgama – (Coliseu dos Recreios), Sintra (Centro Cultural
Companhia de Dança de Mafra. Espetáculos Olga Cadaval) e Fátima (Pavilhão Paulo VI). Tem
ainda em Novembro, no Convento de Mafra. sido convidada pela Associação Fernando
Uma ópera infantil em dois atos com Pessoa e Agostinho da Silva, a convite das
14. 9
quais, como oradora, fez conferências e Editores, Lisboa, Abril de 1999
participou em colóquios sobre estas duas - O Arquiteto, Hugin Editores, Lisboa,
personalidades. Pela Fundação Cultural Sintra Março de 2002 - Venite In Silentio, Unicepe,
foi convidada para a Quinta da Regaleira, como Porto, Setembro de 2004
escritora, no dia Mundial da Poesia de 2005, a - Contos de Azul e Terra, romance, em
fim de ler poemas seus. Foi igualmente co-autoria com Raquel Gonçalves, Hugin,
convidada, recentemente, a realizar na SPA, um Lisboa, Novembro de 2004
colóquio sobre a sua experiência no âmbito da Participou ainda nas seguintes
escrita para música (canção, libreto, musical e publicações:
cantata), o que fez conjuntamente com o - “O Teatro é como as Cerejas”, in Uma
compositor Jorge Salgueiro. Em Julho de 2005 questão de Tempo, de Jaime Salazar Sampaio,
estreou, em Setúbal, no teatro Luísa Toddi, o Hugin Editores, Lisboa, Setembro de 1999
musical Kate e o Skate, com libreto de sua - “Um Pai Natal de Sonho”, in Contos
autoria e música de Jorge Salgueiro. Uma Eróticos de Natal, Hugin Editores, Lisboa,
encomenda do Coro infantil de Setúbal. Dezembro de 2000
É cronista regular (“Quarta-Crescente”) - “O Pintor sem Rosto”, in O Homem em
de uma página da editora Unicepe, no Porto, de Trânsito, Histórias de Intimidade e de Mistério,
O Despertar do Zêzere e de O Progresso de col. Minimezas, Indícios de Oiro – Edições Ld.ª,
Gondomar Mantém o seu próprio blog, com o Lisboa, Dezembro de 2002.
seguinte endereço: - “O Homem da Minha Vida...”, in
http://risocordetejo.blogspot.com/ MARGENS outros de nós, Padrões Culturais
Publicou os seguintes livros: Editora, Col. Paixões Mundanas nº 13, Lisboa,
- A Criança Suspensa, Prêmio Ferreira de Novembro 2004
Castro, de ficção narrativa, da Câmara de - O Achamento do Brasil, uma Ópera em
Sintra, edição da Câmara Municipal de Sintra, Banda Desenhada, (libreto), Foco Musical-
Dezembro de 1996 Educação e Cultura Lda, Lisboa, 2004
- O Corpo e a Tela, Hugin Editores, - “Conquista-me” in Dez Anos de
Lisboa, Julho de 1997 Inquietação, CD dos Negros de Luz, concebido e
- O Aniversário, Prêmio Revelação produzido por Jorge Salgueiro, compositor e
APE/IPBL 1994, Ficção, Difel – Difusão Editorial, diretor do mesmo. Ed. Tradisom, 2005
Lisboa, Maio de 1998 Fonte:
- A Compreensão da Lua, Hugin http://triplov.com/letras/risoleta_pedro/index.htm
Conhecera, afinal, Florença e achava da cidade, vagando por ela, sem rumo, durante
que a vida já lhe tinha dado bastante. dias.
Conhecera-a madura, depois de ter sonhado Sem esgotá-la, tinha partido e agora,
com ela toda sua juventude. Chorara no Ponte enquanto o trem andava, começou a degluti-la.
Vecchio, como se reencontrasse a mocidade, as Jantou só, no carro-restaurante, e
estranhas visões que a povoavam. voltou para a cabine. Não desejava dormir e
Desde menina a ponte a fascinava, com teve curiosidade de ver a paisagem noturna
suas casas entranhadas, mais rua do que ponte. pela janela do trem. Nenhum passageiro
Algo absolutamente insólito, ocupando um parecia estar acordado, apenas um silêncio
espaço e um tempo desarrazoados. feito de sons abafados.
Deixou-se penetrar pelo encantamento O barulho do trem nos trilhos era um
15. 10
ruído bom, familiar, que lhe devolvia a infância, A sensação de juventude vinha cada vez
as longas viagens de noturno rumo à fazenda. mais forte, e ele participava dela. Estava lhe
"Estou me sentindo estranhamente dando de presente o tempo reconquistado, o
jovem", pensou. Olhava pela vidraça fechada a tempo de juventude, aquele que ninguém
paisagem banhada de luar. conta.
A solidão reinante fazia bem, deixava o Ainda no trem, quis detê-la e lhe pedia
mundo à sua mercê, podia envolvê-lo na palma que ficasse, que deixasse alguma coisa de
da mão. palpável, um endereço, uma pista para
Uma voz. Olhou espantada. Uma voz ao encontrá-la um dia em algum lugar.
seu lado. Um homem a olhava e falava. Ia Resistiu.
retirar-se e fechar a porta da cabine, quando Acenou pela janela e sentou na
alguma coisa a fez mudar de idéia. O homem poltrona.
pedia-lhe que ficasse e a voz combinava com a O coração batia violentamente.
noite, o trem, o resto de Florença. Teve vontade de parar o trem,
Ser jovem — ser jovem uma vez mais precipitar-se pela porta, voltar.
numa noite, numa cidade estranha. Depois, O trem, grande devorador, já
partir sem deixar rastro. Esgotar a vida, a transformara em tempo o espaço percorrido.
cidade, o tempo, num só dia. Não desejava Estava livre e só na manhã de verão.
mais, ou melhor, só desejava isso. Qualquer
acréscimo e tudo estaria perdido.
Cogumelos e cerejas no restaurante.
Brilhantes e redondos. Tenros, devorados em RACHEL JARDIM
plena juventude. a vinho, velho, conservava a Rachel Jardim, romancista e
mocidade, tinha também o poder de inebriar. memorialista, nasceu em Juiz de Fora (MG) em
A cidade era feita de tempo, tempo 19 de setembro de 1926. Formou em Direito
guardado, tempo preservado. pela PUC-RJ. Ingressou no funcionalismo
Amava sim, de um amor sem tempo, público. Fez estágios em museus de Nova York
sem limite, sem fim e sem começo. e, de volta ao Brasil, dirigiu o Patrimônio
Ele se chamava Alfredo e queria detê-la. Cultural e Artístico do Rio de Janeiro. Tem
Procurava saber tudo, seu nome, sua cidade, o colaborado na imprensa (Jornal do Brasil-RJ,
que fazia, se era casada, se tinha filhos. Ela não Suplemento Literário do Minas Gerais, Correio
dizia nada. Ele fora casado e agora se dizia, do Povo - RS).
livre. Tinha o senso do limite. Queria-a para si Obras publicadas:
num tempo e num espaço certos. Guardada, Os anos 40: a ficção e o real de uma
conservada. Que sabia ele? época, romance, 1973; Cheiros e ruídos,
Ela se sentia livre e aspirava até o último contos, 1975; Vazio pleno, romance, 1976; O
sorvo essa liberdade, duramente conquistada. conto da mulher brasileira, antologia, 1978;
Desistira das coisas concretas, uma posição Mulheres & mulheres, antologia, 1978;
definida, um lugar no espaço. Seu espaço era Inventário das cinzas, romance, 1980; Muito
feito de muitos espaços; seu tempo, de muitos prazer, antologia, 1981; A cristaleira invisível",
tempos. Queria conhecer um dia que não contos, 1982; O prazer é todo meu, antologia,
pudesse ser contado em dias. Que lhe daria 1984; Crônicas mineiras, antologia, 1984; O
ele? a tempo aprisionado, a dor das coisas que penhoar chinês, romance, 1985; Minas de
se perdem de momento a momento. Ela não Liberdade, memórias, 1992.
queria mais ganhar nem perder. O amor seria
Fonte
agora assim, feito de instantes - instantes sem
Contos de escritoras brasileiras. SP: Editora Martins
tempo. Já perdera e ganhara seu espaço e seu Fontes, 2003.
tempo. Sentia-se livre para viver sem medo de http://www.releituras.com/
perder.
16. 11
e em nada, todos os meus sofrimentos!
No azul do mar, a imagem refletida,
a imagem do meu próprio coração,
num renascer eterno de emoção!
Livre e feliz, eu sigo pela vida,
Tens vergonha com mil estrelas a brilhar, converso,
de chorar, plantando os sonhos meus pelo Universo!
sofrer
dar um sorriso.
Frágil?
Mas quem não é...
Ser como um cristal!
Que pode estilhaçar.
Pense...
Enquanto não quebrar Dentro de mim vive o consolo da saudade
Brilhe... sentida.
Lute!
Mergulhe? Saudade de teu beijo ardente
Para se molhar! de nossos beijos loucos
Todos procuram que nos cansaram o corpo
Carinho e afeição. nos fizeram tolos
Sabem...ou na certeza pouca
Estão buscando de que o nunca mais
Vagueiam..a paz um dia chegaria.
Descendo aos corações.
Ah! teus beijos!.
Adrenalina pura!
Lânguidos
insanos
feitos de romance
de bem, de mal, de tudo;
de sonhos de paixão
Me sinto livre, porque sou amada, de toques de ousadia
pertenço aos céus e corro como os ventos, do fogo da emoção
vou flutuando na noite enluarada, do ardor da euforia.
nas doces asas dos meus sentimentos!
Dentro de mim resta o consolo de sentir
Faço da liberdade, a minha estrada, saudade.
e dou amor em todos os momentos,
transformando em meu tudo, um quase nada, Vem!
Volta!
17. 12
Esgota-me com teu beijo!
Renova-me com teu beijo!
Me faz viver de novo
em meio a nossos beijos
desejos tão sentidos!
Deus se faz...
Amo o sol, amo a lua, o firmamento,
amo os montes, as serras, e arrebóis,
amo a terra, a beleza, o pensamento ...
Eu amo loucamente os rouxinóis.
Amo prados, colinas e amo os ventos,
e tudo desta vida passageira,
A cor azul turquesa eu aprendi a amar os sofrimentos
Faz o contraponto, e até mesmo a vizinha faladeira ...
Com a palidez
Da linha do horizonte. Amo as flores, as aves, as florestas,
amo praias, jardins, e os coqueirais,
Acima de mim, o céu, eu amo a solidão, bem como as festas,
Vestido de azul claro, também amo o frescor dos matagais.
Espera o manto dourado,
Dos raios vindos do Leste. Amo a sombra, o silêncio e a harmonia,
amo tudo o que traz felicidade,
A última estrela da manhã o sereno, o ciúme, a cortesia,
Vê, aos poucos, brilho apagado, amo a cor, amo o amor, e amo a saudade !
O nascer de um novo dia.
Amo o frio da noite enluarada,
No meio do oceano, amo os rios, o espelho e a amplidão,
Como uma casca de noz, amo a vida, sem mesmo ser amada,
Flutuando na lagoa, porque amo ouvir a voz do coração ...
Eu sinto o Universo gigante.
Eu amo o bem - estar da Humanidade,
Na madrugada de instantes atrás seguindo o que me ensina a Lei Cristã...
Relâmpagos e trovoadas, Amo plantar, feliz, na mocidade
Faziam da chuva, tormenta uma esperança a mais para o amanhã !
Contrastes da aurora iluminada.
Amo a noite, amo o dia, a madrugada,
Tantas forças que se opõem! a chuva que dá viço a flor do agreste,
De noite o vendaval, o sublime cantar da passarada,
De dia, a serena paz. e a vida sossegada do Nordeste...
Não há como negar: Amo a fonte, os desertos, os rochedos,
Deus existe! E SE FAZ!!! amo a areia e amo a espuma do oceano,
o clarão, amo a réstia, amo os degredos,
e amo as quatro estações de cada ano ...
Amo o sonho, o talento, amo a pintura,
18. 13
a igreja com seu sino a repicar ... Do som da divindade
Amo o riso depois da desventura Toco os acordes da alma
e amo o barulho ouvido à beira - mar ... Que estimula e acalma
O cerne da humanidade
Amo o som, a ternura, amo a nobreza,
e o pranto quando fruto de emoção, Onde o concerto Divino,
amo todo o esplendor da Natureza, Profundo e Cristalino,
eu amo tudo, enfim, sem distinção... Exprime-se naturalmente,
Alcançando árvores ninhos
Amo as nuvens com arte e com mesuras, As vozes dos passarinhos
quando formam no espaço um longo véu ... No som do eternamente.
e as estrelas fazendo travessuras,
mudando de lugar, mesmo no céu ... Estou na voz do vento,
Suave ou em tormento,
Eu amo os vegetais, toda a folhagem, Acompanhando a vida
a garra da cigarra cantadeira, Desde o princípio da Terra,
as notas musicais, amo a friagem Nas lutas que ela encerra,
e o calor insistente da lareira... A dar-lhe paz e guarida.
Eu amo o despertar da simpatia, Inspirei o guerreiro iludido
a velhice e também a juventude, Também o homem vencido
um semblante que vibra de alegria, Porque, a minha missão
a força de vontade, amo a virtude ! É de acordar a grandeza
Que dormita na fraqueza
Amo o lirismo, a paz, amo a cultura, Dos pobres de coração.
amo o trabalho, a luz e a inteligência,
amo as benesses da literatura, Em tantos hinos de glórias,
amo a sabedoria da Ciência ... Exaltei muitas vitórias,
Nas ilusões que traduzem.
Eu amo o campo santo, a nostalgia, Até, o homem encontrar
E o lazer no descanso após a lida, O vórtice angular
e fervorosamente amo poesia ... Representado nas cruzes.
e amando o Ser Humano ... Eu amo a Vida !
Então, em elevação
Eu amo este Universo imenso e bom A alma sem divisão,
com todo o amor que Deus me concedeu, Retornará ao seu lar.
pois nem toda Mulher possui o dom Sou a música que embala
de Amar, com tanto excesso, assim com eu ... Enquanto à sua alma fala:
Amigo, Viver é amar!
No contexto do universo O Amor-perfeito veio
Sou voz em tom expresso Nascer na tela do artista
19. 14
E nasceu em nossos olhos Oh Crisântemos divinos
Amor à primeira-vista São as flores de um adeus
Jamais morre esta chama
As Avencas hoje dançam Que me une aos olhos teus
Ao vento que vem soprar
Essa brisa diz-me algo Os Cravos estavam tristes
Vem teu nome sussurrar Pois o sol havia se posto
Vi nas nuvens deste céu
As Azaléias formosas O desenho do teu rosto
Fazem sombra pro besouro
E sem sombra de dúvida A Flor-de-Liz e suas cores
Nosso amor é um tesouro São matizes da beleza
Mantemos em nosso peito
As Acácias abraçadas A chama do amor acesa
Tão juntinhas neste ramo
Olho dentro dos teus olhos Os Gerânios nos jardins
Então digo que te amo Ornamentam a cidade
Assim é o nosso amor
As Adálias tão formosas Jardim de felicidade
Parecem obras de arte
E bate forte o meu peito A Gérbera apaixonada
Simplesmente por amar-te Na primavera nascia
Em mim nasceu o amor
Os Antúrios corações Que renasce à cada dia
Lá no jardim à crescer
Bate-bate e faz tum-tum Os Girassóis apaixonados
Cada vez que vou te ver Sorriam ao astro-rei
Te amarei eternamente
Os Agapantos ao vento Jamais te esquecerei
Como azuis olhos de Venus
Com afagos e carícias Os Hibyscus perfumavam
Assim nós nos amaremos O vento do entardecer
Meu coração será teu
As Begônias são a causa Cada vez que ele bater
De um jardim tão colorido
As Hortências tão sublimes
Sem teu amor minha vida De fragrância tão pura
Não teria algum sentido Mais sublime é nosso amor
Puro afeto e ternura
As Bromélias são encanto
Magia de belos matizes Os Ipês na primavera
Essa paixão é o feitiço Vestem traje amarelo
Que nos faz sorrir felizes Teu amor vestiu meu mundo
De um sonho doce e belo
As Camélias tem um ar
De quem vibra de paixão O Jasmin enamorado
Escrevo hoje teu nome Floresceu até que enfim
No livro do coração O romance de nós dois
Tem começo e não tem fim
20. 15
Te quero muito meu amor
Os Lírios perto do mar Mais que tudo neste mundo
Inesquecível paisagem
Assim é o teu semblante As Prímulas elegantes
Em sonho vi tua imagem Como asas de querubim
No céu brilha o arco-íris
Nos Lisiantus do jardim Como este amor sem fim
Pisca-pisca um vagalume
O teu amor me completa A Rosa disse ter visto
Como a flor e seu perfume Borboletas no jardim
E falou do teu amor
As Margaridas não mentem A melhor parte de mim
Respondem à quem quiser
Perguntei de nosso amor As Tulipas são tão raras
Terminou em bem-me-quer Tão difíceis de encontrar
Encontrei o meu amor
A Miosótis tão singela E meu destino é te amar
Sempre me enterneceu
Estarei junto de ti As Violetas violácias
Sempre sempre ao lado teu Ou da mesma cor do céu
Não acaba este beijo
As Orquídeas com seu néctar Com doce sabor de mel
Onde pousa o beija-flôr
Nesses lábios pousam beijos Fonte:
Também a palavra amor Colaboração de Iara Melo
Gruta da Poesia - Nº 07 da 2ª série – Abril de 2008
http://www.caestamosnos.org/Revista_A_Gruta_da_Poe
As Petúnias se destacam sia/08.html
No céu de azul profundo
Levou o manequim de madeira à festa amigo.
porque não tinha companhia e não queria ir — Os amigos dos nossos amigos são
sozinho. nossos amigos — disseram saboreando a
Gravata bordeaux, seda. Camisa generosidade da sua atitude. E o apresentaram
pregueada, cambraia. Terno riscado, lã. Tudo a outros convidados, amigos e amigos de
do bom. Suas melhores roupas na madeira bem nossos amigos. Todos exibiram os dentes em
talhada, bem lixada, bem pintada, melhor amável sorriso.
corpo. Só as meias um pouco grossas, o que Recebeu o copo de uísque, sua senha. E
porém se denunciaria apenas se o manequim foi colocado no canto esquerdo da sala, entre a
cruzasse as pernas. Para o nariz firmemente porta e a cômoda inglesa, onde mais se
obstruído, um lenço no bolsinho. harmonizaria com a decoração.
No relógio de ouro do pulso torneado, a A meia hilaridade pintada com tinta
festa já tinha começado há algum tempo. esmalte e reforçada com verniz náutico
Sorridentes, os donos da casa se exortava outras hilaridades a se manterem
declararam encantados por ter ele trazido um constantes, embora nenhuma alcançasse
21. 16
idêntico brilho. Abriam-se os transitórios na mão. Sequer uma ponta de tédio.
vizinhos em amenidades que o compreensivo Imperturbável, o manequim de madeira varava
calar-se do outro logo transformava em a festa em que os outros aos poucos se
confidências. Enfim alguém que sabia ouvir. descompunham.
Relatos sibilavam por entre gengivas à mostra e Já não eram como tinham chegado. As
se perdiam em quase espuma na comissura dos mechas escapavam, amoleciam os colarinhos,
lábios. Cabeças aproximavam-se, cúmplices. secreções escorriam nas peles pegajosas. Só os
Apertavam-se as pálpebras no dardejado do sorrisos se mantinham, agora descorados.
olhar. O ruge, o seio, o ventre, a veia expandida No relógio torneado do pulso rijo a festa
palpitavam. O gelo no uísque fazia-se água. estava em tempo de acabar.
A própria dona da casa ocupou-se dele As mulheres recolhiam as bolsas com
na refrega de gentilezas. Trocou-lhe o copo discrição. Os amigos, os amigos dos amigos, os
ainda cheio e suado por outro de puras pedras novos amigos dos velhos amigos deslizavam
e âmbar. Atirou-se à conversa sem porta afora.
preocupações de tema, cuidando apenas de Mais tarde, a dona da casa, tirando a
mantê-lo entretido. Do que logo se arrependeu, maquilagem na paz final do banheiro, dedos no
naufragando na ironia do sorriso que lhe era pote de creme, comentava a festa com o
oferecido de perfil. A necessidade de assunto marido.
mais profundo levou-a à única notícia lida nos — Gostei — concluiu alastrando preto e
últimos meses. E nela avançou estimulada pelo vermelho no rosto em nova máscara —, gostei
silêncio do outro, logo úmida de felicidade mesmo daquele convidado, aquele atencioso,
frente a alguém que finalmente não a de terno riscado, aquele, como é mesmo o
interrompia. No mais frondoso do relato o nome?
marido, entre convivas, a exigiu com um sinal.
Afastou-se prometendo voltar.
O brilho de uma calvície abandonou o
centro da sala e coruscou a seu lado, MARINA COLASANTI
derramando-lhe sobre o ombro confissões Marina Colasanti (Sant'Anna) nasceu em
impudicas, relato de farta atividade 26 de setembro de 1937, em Asmara (Eritréia),
extraconjugal. Sem obter comentários, sequer Etiópia. Viveu sua infância na Africa (Eritréia,
um aceno, o senhor louvou intimamente a Líbia). Depois seguiu para a Itália, onde morou
discrição, achando-a, porém, algo excessiva 11 anos. Chegou ao Brasil em 1948, e sua
entre homens. Homens menos excessivos família se radicou no Rio de Janeiro, onde
aguardavam em outros cantos da sala a reside desde então.
repetição de suas histórias. Possui nacionalidade brasileira e
Não acendeu o cigarro de uma dama e naturalidade italiana.
esta ofendeu-se, já não havia cavalheiros como Entre 1952 e 1956 estudou pintura com
antigamente. Não acendeu o cigarro de outra Catarina Baratelle;
dama e esta encantou-se, sabia bem o que se Em 1958 já participava de vários salões
esconde atrás de certo cavalheirismo de de artes plásticas, como o III Salão de Arte
antigamente. Os cinzeiros acolheram os Moderna.
cigarros sem uso. Nos anos seguintes, atuou como
Um cavalheiro sentiu-se agredido pelo colaboradora de periódicos, apresentadora de
seu desprezo. Um outro pela sua superioridade. televisão e roteirista.
Um doutor enalteceu-lhe a modéstia. Um Ingressou no Jornal do Brasil em 1962,
senhor acusou-lhe a empáfia. E o jovem que o como redatora do Caderno B, desenvolveu as
segurou pelo braço surpreendeu-se com sua atividades de: cronista, colunista, ilustradora,
rígida força viril. sub-editora, Secretária de Texto. Foi também
Nenhum suor na testa. Nenhum tremor editora do Caderno Infantil do mesmo jornal.
22. 17
Participou do Suplemento do Livro com seu Capricho, saiu em 1992.
numerosas resenhas. Em 1994 ganhou o Prêmio Jabuti de
No mesmo período editou o Segundo Poesia, por Rota de Colisão (1993), e o Prêmio
Tempo, do Jornal dos Sports. Deixou o JB em Jabuti Infantil ou Juvenil, por Ana Z Aonde Vai
1973. Você?
Assinou seções nas revistas: Senhor, Suas crônicas estão reunidas em vários
Fatos & Fotos, Ele e Ela, Fairplay, Claudia e Jóia. livros, dentre os quais Eu Sei, mas não Devia
Em 1976 ingressou na Editora Abril, na (1992) que recebeu outro prêmio Jabuti, além
revista Nova da qual já era colaboradora, com a de Rota de Colisão igualmente premiado.
função de editora de comportamento. Publicou vários livros de contos,
De fevereiro a julho de 1986 escreveu crônicas, poemas e histórias infantis. Dentre
crônicas para a revista Manchete. outros escreveu E por falar em amor; Contos de
Deixa a Editora Abril em 1992, como amor rasgados; Aqui entre nós, Intimidade
editora especial, após uma breve permanência pública, Eu sozinha, Zooilógico, A morada do
na revista Claudia, tendo ganho três Prêmios ser, A nova mulher (que vendeu mais de
Abril de Jornalismo. 100.000 exemplares), Mulher daqui pra frente,
De maio de 1991 a abril de 1993 assinou O leopardo é um animal delicado, Gargantas
crônicas semanais no Jornal do Brasil. abertas e os escritos para crianças Uma idéia
De 1975 até 1982 foi redatora na toda azul e Doze reis e a moça do labirinto de
agência publicitária Estrutural, tendo ganho vento.
mais de 20 prêmios nesta área. Colabora em revistas femininas e
Atuou na televisão como entrevistadora constantemente é convidada para cursos e
de Sexo Indiscreto - TV Rio, e entrevistadora de palestras em todo o Brasil.
Olho por Olho - TV Tupi. É casada com o escritor e poeta Affonso
Na televisão foi editora e apresentadora Romano de Sant'Anna com quem teve duas
do noticiário Primeira Mão -TV Rio, 1974; filhas: Fabiana e Alessandra.
apresentadora e redatora do programa cultural Em suas obras, a autora reflete, a partir
Os Mágicos -TVE, 1976; âncora do programa de fatos cotidianos, sobre a situação feminina,
cinematográfico Sábado Forte -TVE, de 1985 a o amor, a arte, os problemas sociais brasileiros,
1988; e âncora do programa patrocinado pelo sempre com aguçada sensibilidade.
Instituto Italiano de Cultura, Imagens da Itália-
TVE, de 1992 a 1993. Fontes:
Em 1968, foi lançado seu primeiro livro, COLASANTI, Marina. O leopardo é um animal
Eu Sozinha; desde então, publicou mais de 30 delicado. RJ: Editora Rocco, 1998.
obras, entre literatura infantil e adulta. http://omundodemarinacolasanti.blogspot.com
Seu primeiro livro de poesia, Cada Bicho /
Sou quem sou, simplesmente mulher, não fujo, nem nego,
Corro risco, atropelo perigo, avanço sinal, ignoro avisos.
Procuro viver, sem medo, sem dor, com calor, aconchego,
Supro carências, rego desejos, desabrocho em risos...
Matéria cobiçada... na tez macia, no calor ardente.
Alma pura, envolta em completa fissura. Sem frescuras!
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Encontro prazer na forma completa, repleta, latente.
Meretriz sem pudor,mulher no ponto, uva madura!
Sou quadro abstrato, me entrego no ato à paixão que aflora.
Sou enigma permanente, sem ponto final, sem continências,
Sou mulher tão somente, vivendo o momento, sorvendo as horas.
Sou pétala recolhida, sem forma, sem cor, completa em essência.
Exalo a esperança, transpiro vontades. Não me tenhas senhora.
Sou mulher insolúvel, nada volúvel. Vivo a vida em reticências...
Encantada, 2002
- Antologia Poetrix – Movimento Internacional
Poetrix, 2002
ÂNGELA BRETAS - Talento Feminino em Prosa e Verso
Ângela Bretas é natural de Santa Rede Brasileira de Escritoras, 2002
Catarina. Sempre gostou de escrever prosa e - Antologia Tempo Limitado – Scortecci Editora,
versos. Mudou-se para os EUA em 1985 e 2002
cursou língua inglesa no Lynn Community
College, em Massachussetts. Tem três livros E- books:
publicados e dois no prelo, e atua como free- - Poetrix
lance para diversos jornais no Brasil e nos - Ecos Inspiracionais
Estados Unidos, trabalhando como colunista e – Prosas Poéticas
jornalista. Reside em Boca Raton - Florida/USA. - 1º Concurso Verso e Prosa da Florida –
No momento ultima a produção do livro coordenadora
“BRAVA GENTE BRASILEIRA EM TERRAS
ESTRANGEIRAS”, uma coletânea de poesias e Alguns prêmios, troféus e participações:
crônicas de 29 brasileiros residentes nos mais - Recebeu o prêmio Troféu Brasil 2001 na
diversos lugares desta Terra. O livro deverá ser categoria jornalismo, evento realizado em
lançado na Feira Internacional do Livro de Miami anualmente homenageando brasileiros
Miami - "Miami International Book Fair" -, em que lutam para manter a cultura brasileira em
agosto de 2004, e na Bienal Internacional do terras norte-americanas.
Livro de São Paulo, em 2006. - Foi indicada, através do voto popular, pelo
terceiro ano consecutivo ao Brazilian Press
Livros e trabalhos publicados: Awards de Miami 2001.
- Finalista do prêmio ''Eccho of Literature'' com
- “Éramos quatro”, 1983 base em Londres – Inglaterra, pela editora
- “Sonho americano”, 1997 Rickmarck Publishing.
- “Conversando com as estrelas”, 2002 - Homenageada com o Troféu Imigrante 2002 –
- American Antology of Poetry. 1999 Miami – categoria jornalismo.
- Antologia de Poesias, Contos e Crônicas Fonte:
17ª Bienal Internacional de São Paulo, 2002 http://www.releituras.com/
- Antologia diVersos – Grupo Pax Poesis
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O primeiro livro de contos de Rinaldo de funcionário da prefeitura e advogado”; “Eu sou
Fernandes, O Caçador, é de 1997. Meticuloso, um homem de quarenta e seis anos.” Em
sem pressa, em 2005 apresentou o segundo “Confidências de um amante quase idiota” – no
volume, O Perfume de Roberta (Rio de Janeiro, outro livro, “Eu não sou um idiota” –, o
Editora Gamamond), juntando cinco daquelas protagonista nada diz de si mesmo. Roberto faz
narrativas a treze inéditas. a narração de “Pássaros”. E é neste tipo de
Os narradores de Rinaldo ora são narrativa que o escritor declara ao leitor, desde
protagonistas, ora meros observadores. Ou o início da narrativa, quem é o vencedor do
principiam como espectadores e terminam duelo final, o sobrevivente da tragédia. É como
como protagonistas. De alguns o leitor conhece se o narrador dissesse ao leitor, desde a
duas ou três características ou traços primeira linha: “Veja, eu vou narrar uma
fisionômicos, físicos, socioculturais. Muitas tragédia, da qual sou protagonista. Eu sou o
vezes não sabe sequer o nome. vencedor do duelo final, porque sou o
Em “Ilhado”, um homem toma uísque narrador”. O perdedor (ou a perdedora) é o
numa praia de uma cidade onde não mora. E outro (ou a outra), a que morreu no último ato.
pouco mais se sabe dele: (“Cheguei ontem aqui O vencedor, porém, é também perdedor.
na cidade. Vim fazer uma conferência, vai ser Talvez um perdedor menor, porque lhe restou
na segunda. Estou num hotel mais adiante.”). O a vida. Ora, é o narrador, mas não narra a
narrador de “O cavalo” apenas espreita, de História dos outros. Não é historiador, mas
longe, do alto, da varanda do apartamento, as protagonista de uma narrativa.
cenas que constituem a peça ficcional. Quase Em “Borboleta” – outra história da
nada diz de si mesmo: “moro aqui já tem três coleção de estréia de Rinaldo –, o narrador é
anos, após me aposentar como advogado”; obscuro e a peça de feição rara. Também já
“Dia seguinte, viajei para o Rio de Janeiro, fui publicado é “A tragédia prima de Sílvia
visitar meu neto.” Em “A morta”, o ser fictício Andrade”, no qual o narrador se diz escritor e
também não se exibe com clareza, porque não relata fatos (o conto) a um delegado.
passa de testemunha dos fatos. O protagonista São poucas as histórias contadas por
de “Oferta” apenas se diz “velho vendedor” e mulheres. A narradora de “O mar é bem ali”
revela ter 48 anos. O de “A poeira azul” se confidencia: “Sou uma velha poeta”, moradora
mostra o tempo todo: “Já dez anos que eu de uma quitinete. Em “Duas margens” uma
vendo camisas!”, “já estou com trinta e quatro mulher narra no presente: bebe cerveja no
anos”, “já fui garçom”, não é casado, não tem “mais pobre dos bares”, é casada com Marcos e
filhos, embora não diga o próprio nome. Em “O tem uma filha de nome Juliana. Ao mesmo
perfume de Roberta”, cabe relatar os fatos ao tempo em que conta a própria história (o
pai da personagem Roberta, mera figurante na desenlace amoroso), que julga catastrófica,
trama. Esquisito, tudo faz para se esconder, observa (vê e ouve) personagens de outra
não se revelar, sobretudo porque age de narrativa há muito iniciada e que em breve terá
madrugada, às escondidas de todos: “eu falei desfecho trágico.
pra ela que me chamo Pedro”. Entretanto, não “Rita e o cachorro” (o título – que não
oculta outros dados importantes: “Sou faz parte da narração – revela o nome da
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narradora) apresenta “Uma mulher vivendo só, margens” se mistura à angústia de ter sido
sem emprego certo, pedindo a um e outro para traída no amor. A narradora está só, bebe
fazer revisões de todo tipo de texto, teses, cerveja num bar, enquanto outra mulher
artigos, dissertações, o diabo.” desesperada se debate também na solidão,
A narradora de “Sariema” – recriação de após ter sido abandonada pelo marido.
“A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Algumas obras de Rinaldo têm desfecho
Guimarães Rosa – se desvela desde o título. trágico. A carnificina em “Ilhado” vai num
Pode-se falar em clonagem literária. De um ser crescendo. O leitor nem percebe a lenta
(composição) se extrai uma célula-tronco e dela transformação do lirismo dos namorados à
se cria novo ser, semelhante ao original. Ou beira-mar em tragédia. A tragédia de “A morta”
remeter ao mito bíblico da criação da mulher: se dá de forma inesperada, porque nenhum
de uma costela de Adão se fez Eva. Neste conto conflito se manifesta no decorrer na narração,
se repete o esquema do vencedor e do a não ser de forma sutil: “Não tem ninguém aí,
perdedor. Se a história é contada por Sariema e não é possível!” (os três visitantes acreditavam
se dá o embate entre ela e Nhô Augusto, encontrar o casal à sua espera); “E, quase que
logicamente (mas poderia não ser lógico) ela é ao mesmo tempo, algo tombou na estrada. Não
a vencedora e ele o morto. sei se tombo ou o tropeço de alguém.” Em
Nas demais peças não há personagens “Duas margens” a morte da criança é algo
narradores. O primeiro é “Negro”, conto escabroso. A mãe enterra o filho vivo, com a
reproduzido da primeira obra. Em “O último ajuda da narradora, que acreditou na afirmação
segredo”, o narrador, pode-se dizer, é semi- da outra: “– Ele está morto”. Na última
onisciente. “Passarinho” se assemelha àquele tragédia, Sariema, mulher de Osório, esfaqueia
também neste aspecto, além de serem curtos e Nhô Augusto, após este matar aquele.
de tratarem de problemas sociais ou de O mar é uma constante nas peças
relações sociais. Em outras composições pode- ficcionais de Rinaldo. Não exatamente o mar.
se ver a preocupação de Rinaldo com os Na verdade, não se vêem pescadores, banhistas
dramas sociais, pessoais e domésticos. O ou surfistas. O mar é muito mais referência de
narrador de “Procurando o carnaval” – também ambiente, às vezes pano-de-fundo (“O mar
da primeira coleção – é espécie de alter ego do espuma, adiante, nos arrecifes.”), mas sempre
protagonista sem nome explícito, sua sombra. presente. Toda a tragédia de “Ilhado” se inicia à
Um dos temas predominantes em beira-mar e termina em pleno mar, num barco.
Rinaldo é a solidão. Enquanto as pessoas se Em “O mar é bem ali”, o próprio título diz tudo.
debatem entre a vida e a morte, há sempre Na verdade, a trama se dá num apartamento à
alguém (o narrador, no mais das vezes) em beira-mar. A tragédia de “A morta” também
plena solidão, embora por alguns instantes ou não se dá no mar. Entretanto, o mar está muito
momentos se envolva num turbilhão de fatos presente: “A lâmina do mar apareceu lá
alheios à sua vontade ou expectativa. É o caso embaixo, depois do descampado e de uma
do narrador de “Ilhado”: tomava uísque numa ponta de duna.” Veja-se “Oferta”, que se passa
barraca de praia, certamente para espairecer, num boteco de beira de estrada no sertão.
quando se viu envolvido numa tragédia. Em “O Entretanto, o narrador lembra uma propaganda
Cavalo”, o narrador é um solitário observador de televisão em que um rapaz se aproxima de
(“com a insônia, me levantei, fui à cozinha”). um casebre à beira-mar. O narrador olha em
Parecida com ele é a narradora de “O mar é volta “procurando o mar”, que muito longe
bem ali”: uma moradora solitária de uma dele está. “Não há mar, mas uma paisagem
quitinete, que termina imaginando um diálogo rubra, de pedras pretas e raros arbustos,
com um suposto visitante. Em solidão também paisagem seca, de muitos gravetos.” Logo no
está o protagonista de “Oferta”, assim como os início de “A poeira azul” se lê: “Só foi possível
demais personagens, que mal conseguem se ver a faixa verde de mar depois da curva.” Em
comunicar. A solidão da protagonista de “Duas “Rita e o cachorro” o mar também está
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presente: “Ontem o mar estava todo narrador onisciente ou do escritor, não se
esmeralda”. amarram a pormenores. Os diálogos e as falas
Entretanto, nem só de paisagens são curtos. As narrações elidem a necessidade
marinhas vivem os personagens de Rinaldo. deles. Também nada de descrições minuciosas
Alguns estão no sertão, em estradas de seres fictícios ou paisagens. Essa economia
poeirentas, outros na cidade grande, em verbal dá aos contos de O Perfume de Roberta
apartamentos, ruas. um ar de novidade, apesar da simplicidade
A estrutura das narrativas de O Perfume estrutural e de linguagem. Um quê de cheiro de
de Roberta é, quase sempre, linear no tempo. fruta madura.
Nada de retrospectos, a não ser em
elucubrações ou monólogos. Ou quando dois
tempos se fundem: o presente da narração e o
passado narrado, como se vê em “Sariema”. RINALDO DE FERNANDES
Isto é, quando o narrador está contando Rinaldo de Fernandes, nasceu em
(presente) uma história (passado) para um Chapadinha, MA, e morou por muitos anos em
ouvinte. Na maioria dos contos, o narrador Fortaleza, CE. Graduou-se em Letras, na
conta uma história, sem se dirigir ao leitor ou a Universidade Federal do Ceará. Doutor em
um ouvinte. Algumas obras de Rinaldo, Letras pela UNICAMP, é professor de literatura
constituídos de breves quadros, lembram na Universidade Federal da Paraíba.
roteiros de cinema. Divididos em blocos, Organizou os livros
geralmente em razão da mudança de tempo. - O Clarim e a Oração: cem anos de Os sertões
Assim, em “Ilhado”, cortado em três (São Paulo: Geração Editorial, 2002),
segmentos, se pode ver claramente que no - Chico Buarque do Brasil (Rio de Janeiro:
primeiro a cena é quase parada, com pouca Garamond/Biblioteca Nacional, 2004),
movimentação dos seres: o narrador, a mulher - Contos cruéis: as narrativas mais violentas da
sentada num banco, a chegada do homem num literatura brasileira contemporânea (São Paulo:
barco, a cozinheira do bar e o garçom. No Geração Editorial, 2006) e
segundo segmento surge o mendigo, que será o - Quartas Histórias, contos baseados em
personagem central da trama. E, por último, a narrativas de Guimarães Rosa (Rio de Janeiro:
cena do ataque do mendigo ao narrador, à Garamond, 2006).
mulher e ao homem do barco. Tudo em alguns
minutos. Com o conto "Beleza", conquistou o
Em outros contos, embora a ação primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos
principal se dê em poucos minutos ou horas, há do Paraná de 2006.
referências às conseqüências dele na vida dos Como pesquisador, fez os textos da
seres fictícios num tempo futuro, como em “O antologia Os cem melhores poetas brasileiros
cavalo”: o narrador, numa noite, vê do alto da do século, organizada por José Nêumanne Pinto
varanda de seu apartamento um cavalo solto (São Paulo: Geração Editorial, 2001).
na rua, a chegada de um homem num carro à Já teve contos publicados, entre outros
casa vizinha, a briga do homem com uma suplementos, pelo "Rascunho", de Curitiba.
mulher, etc. Tudo em poucos minutos. Após Autor dos livros de contos “O Caçador” (1997) e
isso, refere-se ao dia seguinte e, no último “O perfume de Roberta” .
parágrafo, há alguns meses depois.
A linguagem de Rinaldo é simples, Fontes:
próxima da oralidade, porém sem uso de gírias artigo de Nilto Maciel para
urbanas ou expressões regionais. A estrutura http://www.cronopios.com.br/site/resenhas.asp?id=107
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dos composições também é singela, exceto em http://triplov.com/contos/rinaldo/index.html
“Borboleta”, pleno de ousadia formal. As http://argiladapalavra.softservice.info/
narrações, sejam de personagens, sejam do