2. Crianças foram seqüestradas e escondidas nos centros clandestinos
da repressão, política. Foram arrancadas do convívio com seus pais
e suas famílias, foram enquadradas como “elementos subversivos”
pelos órgãos de repressão e banidas do país. Foram obrigadas a
ficar em orfanatos, morar com parentes distantes, a viver com
identidade falsa, na clandestinidade, impedidas de conviver,
crescer e conhecer os nomes de seus pais.
Levadas aos cárceres da ditadura militar foram confrontadas com
seus pais nus, machucados, recém saídos do pau-de-arara ou da
cadeira do dragão. Foram encapuzadas, intimidadas, torturadas.
Algumas foram torturadas antes de nascer, nasceram nas prisões e
cativeiros. Sofreram torturas físicas e psicológicas.
3. Houve crianças que assistiram ao assassinato de seus pais, outras
não conheceram seus pais assassinados cujos corpos não foram
entregues aos seus familiares para que fosse feito o sepultamento.
Crianças que não tiveram o contato direto com os agentes da
repressão, mas seus familiares foram atingidos, o que causou a elas
sentimento de dor, de perda, de medo e humilhação.
A ditadura não poupou as crianças, sacrificou-as como forma de
ampliar e perpetuar os efeitos das torturas a elas próprias e a seus
pais.
4. Crianças torturadas
Ao depor como testemunha na Justiça Militar do Ceará, a
camponesa Maria José de Souza Barros, de Jaquara, contou, em
1973:
(...) e ainda levaram seu filho para o mato, judiaram com o
mesmo, com a finalidade de dar conta de seu marido; que o
menino se chama Francisco de Souza Barros e tem a idade de
nove anos; que a polícia levou o menino às cinco horas da tarde
e somente voltou com ele às duas da madrugada mais ou
menos; (...)
(Brasil Nunca Mais, página 43, 19ª. edição, Editora Vozes, 1985,
Petrópolis/RJ)
5. Orandina Ghilardini (esposa de Luiz Ghilardini, assassinado em
5/01/1973) testemunhou, em depoimento ao GTNM/RJ, que em
4 de janeiro de 1973, sua casa na Rua Guararema, 62, no de
Janeiro, foi invadida por 13 homens armados, que ali mesmo
começaram as torturas. Ela, seu filho de 8 anos (Gino Ghilardini)
e Luiz Ghilardini foram colocados em cômodos separados e
espancados. Foram levados encapuzados, em viaturas diferentes,
para um local que presume fosse o DOI-CODI/RJ.
Gino Ghilardini confirmou o relato da mãe e acrescentou:
6. (...) nós fomos levados para uma prisão que não sei onde era,
só sei que ficava no subsolo. Chegando lá me tiraram de perto
de minha mãe e ainda encapuzado fui levado a uma sala,
chegando lá, começaram a fazer perguntas.
Perguntavam se o meu pai viajava e o que Le fazia e eu, muito
assustado, nada respondia, mas eu ouvia meu pai ali perto
gemendo, eu escutava, mas não podia fazer nada. Só sei que
sentia muito medo.
Gino foi transferido para o quartel onde ficou durante três dias
e depois foi levado para o SAM (Serviço de Atendimento ao
Menor) no bairro Quintino, no Rio de Janeiro.
(Dados extraídos do Dossiê Ditadura : Mortos e Desaparecidos Políticos
no Brasil – 1964-1985. IEVE – Instituto de Estudos Sobre A Violência do
Estado / Imprensa Oficial – São Paulo/SP, 2009)
7. (...) nós fomos levados para uma prisão que não sei onde era,
só sei que ficava no subsolo. Chegando lá me tiraram de perto
de minha mãe e ainda encapuzado fui levado a uma sala,
chegando lá, começaram a fazer perguntas.
Perguntavam se o meu pai viajava e o que Le fazia e eu, muito
assustado, nada respondia, mas eu ouvia meu pai ali perto
gemendo, eu escutava, mas não podia fazer nada. Só sei que
sentia muito medo.
Gino foi transferido para o quartel onde ficou durante três dias
e depois foi levado para o SAM (Serviço de Atendimento ao
Menor) no bairro Quintino, no Rio de Janeiro.
(Dados extraídos do Dossiê Ditadura : Mortos e Desaparecidos Políticos
no Brasil – 1964-1985. IEVE – Instituto de Estudos Sobre A Violência do
Estado / Imprensa Oficial – São Paulo/SP, 2009)