1) Os sentimentos e emoções são produzidos no cérebro através de interações químicas entre neurotransmissores e neurônios;
2) Distúrbios como depressão e ansiedade estão relacionados a desequilíbrios químicos cerebrais que podem ser tratados com medicamentos;
3) A compreensão das bases biológicas dos sentimentos pode levar a uma reavaliação dos conceitos de alma e espírito.
1. Você está ansioso. Uma angústia profunda o faz sentir-se como quem perdera um
membro familiar. Tudo, menos feliz é o estado em que se encontra. É recomendado
tomar um ansiolítico pelo seu médico e pronto: você, feito mágica, volta a sorrir, suas
emoções se estabilizam e a vontade de viver se torna intensa. E o que ingeriu?
Substâncias químicas!
Outro está deprimido. Pior: a tristeza, a autocomiseração, a incapacidade
momentânea de não achar graça em nada, podem destruir essa pessoa. Sair, ver
amigos, praticar esportes, não surtem efeitos. Nem vontade para essas coisas ela têm.
É indicado adequadamente o uso de antidepressivos e em pouco tempo a vida dela
muda radicalmente. Os sentimentos negativos cessam em intensidade e a estrutura
emocional se restaura. O humor e a alegria de viver voltam a fazer parte de seu dia a
dia. E o que ela ingeriu? Substâncias químicas!
Esses dois exemplos, em meio a tantos, ilustram de maneira simplificada o poder
curativo de certas substâncias. Elas atuam em nível celular, nos neurônios, influindo
no comportamento visível demonstrado pelas pessoas através de seus sentimentos e
emoções. Os neurônios são células cerebrais constituintes do sistema nervoso. Para
um impulso nervoso se deslocar de um neurônio a outro - a sinapse - faz-se
necessário uma presença entre eles de substâncias chamadas neurotransmissoras.
Nesse processo podem ocorrer reflexos para determinadas regiões de nosso corpo,
onde temos a sensação de que o que sentimos é produzido no próprio local. Um
aperto em nosso peito devido a uma paixão levava os antigos a acharem que a sede de
nossos sentimentos amorosos era no coração...
A depressão caracteriza-se por uma baixa atividade neurônica devido à falta de
substâncias desse tipo, como, por exemplo, a serotonina. O ansiolítico atua
aumentando o efeito de neurotransmissores inibitórios da resposta nervosa, como o
ácido gama-aminobutírico - GABA. A ansiedade, então, grosso modo, é um estado
emocional no qual os neurônios têm suas atividades exageradas.
Tudo isso é bem conhecido entre os médicos e pouco pelo público. Poucas são as
reportagens, livros ou informações, relacionando toda essa química aos nossos
sentimentos. Os cientistas, já há décadas, vêm descobrindo e utilizando para o nosso
bem, na forma de medicamentos, as interligações entre neurotransmissores, condução
nervosa, sentimentos e emoções. Estes dois últimos seriam produzidos no cérebro
devido a estímulos internos ou externos, visando à perpetuação da espécie segundo a
Teoria da Evolução de Darwin. Não formaríamos famílias, sociedades, etc., se não
fossem a imensa variedade de sentimentos a que nos pertencem, formando poderosos
vínculos entre nós e nossos semelhantes. Como apenas um exemplo, o amor e o afeto,
e consequentemente a dedicação dos pais com os filhos, mostra de maneira clara essa
força de ligação entre eles.
Nós nascemos completamente indefesos contra as adversidades do mundo exterior.
Não só os humanos, mas os outros mamíferos e as aves são evoluídos
2. suficientemente para cuidarem, por meses ou anos, de seus filhotes até atingirem a
maturidade necessária para enfrentarem o mundo que os rodeia. A agressividade e até
o medo, em forma de defesa, são importantes nessa luta pela sobrevivência e também
fazem parte da rede intrincada de reações químicas no cérebro desses seres vivos que
são os mais complexos do planeta.
Os peixes, os répteis, os anfíbios e os animais inferiores já nascem em condições
favoráveis de luta para a sobrevivência, não possuindo, ou pelo menos sendo pouco
desenvolvida, uma região cerebral denominada sistema límbico. É esse sistema o
principal responsável pelas nossas emoções e sentimentos.
Já se conseguiu, através de estimulação natural do sistema límbico, que pessoas
chegassem a sentimentalismos exagerados, achando elas inexplicáveis esse tipo de
comportamento. Em animais agressivos, a simples remoção de uma porção límbica
chamada amígdala, fez com que eles se tornassem dóceis e calmos. Em situação
oposta, a estimulação do funcionamento da amígdala levou um animal doméstico a
estados de terror, agitação intensa e anormal, sem quaisquer motivos reais.
Os objetos de estudo das ciências são aqueles fenômenos percebidos pelos nossos
sentidos, algumas vezes utilizando-se equipamentos específicos de laboratório, e que
podemos depois entendê-los de maneira objetiva e racional. Fenômenos considerados
como manifestações de nossa alma vêm sendo sistematicamente estudados como
poderosas interações químicas, capazes de levarem as pessoas de estados
momentâneos de alegria ou tristeza, até para paixões avassaladoras e o amor.
Nosso cérebro é composto de um número de combinações sinápticas que ultrapassa o
número de átomos do universo conhecido. O número de estados mentais, então, é
muito grande, mas é evidente que não somos afetados por todos eles. Mesmo assim o
restante é considerável a ponto do cérebro entrar em estados riquíssimos de
complexidade e singularidade, tornando-se fonte de situações negativas, ora
positivas, às quais chamamos de emoções e sentimentos.
Para muitas pessoas isso soa como puro materialismo, entretanto, os filósofos cristãos
e teólogos, entre outros, e em épocas nada adiantadas em Tecnologia, Medicina,
Química, e ciências afins, atribuíram a causas sobrenaturais o que essas disciplinas
estão descobrindo agora em termos de química cerebral. E os resultados dessas
atribuições foram passadas de geração a geração até nós como fatos incontestáveis e
intocáveis.
Se algumas substâncias químicas alteram profundamente os nossos sentimentos,
então tudo aquilo que é sobrenatural, principalmente os nossos conceitos de alma e
espírito, deverá sofrer com o tempo algumas modificações com respeito às suas
influências sobre a nossa mente e nosso corpo. O futuro da Ciência será em descobrir
até que ponto eles são afetados por tudo que não é sobrenatural. Se é que o
sobrenatural existe...
3. Uma nova revolução filosófica religiosa está prestes a acontecer. Não antes da ciência
tiver certeza por onde começar, pois, lidar com conceitos tão arraigados em nossa
civilização é tarefa, no mínimo, para ser realizada com muita responsabilidade.