A seca em São Paulo prejudicou a produção e venda de grama na principal região produtora de Itapetininga. A escassez de chuvas atrasou o fechamento dos tapetes de grama, reduziu a produtividade e levou os principais clientes a adiarem pedidos por dificuldades para irrigação. A associação estima uma queda de 30% no faturamento do setor em 2015.
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Área de produção de gramas na LR Gramas, em Itapetininga: escassez de
chuvas também atrasam a comercialização
04/02/2015 - 05:00
Nem grama é poupada pela seca em SP
Por Bettina Barros
O "tapete"de grama da propriedade de Emerson Rocha voltou a ficar verde graças às chuvas da tarde da
última quinta-feira em Itapetininga, o principal polo produtor de grama de São Paulo. A chuva, tímida para
os níveis esperados no verão, deu algum alívio aos produtores da região, mas as falhas que podem ser vistas
no "tapete"estragam mais do que a grama - prejudicam também as previsões de produtividade e renda para
este ano.
"A grama tem essa vantagem. Ela reage rápido a qualquer chuvinha. Mas na semana passada isso aqui parecia
um campo de feno. Era tudo cor de palha. Agora voltou a ficar verde, mas a seca faz com que o 'tapete'
demore mais tempo para fechar, o que atrasa as nossas vendas", diz Rocha, sócio da LR Gramas, apontando
para as falhas de terra que entrecortam a grama.
Maior produtor nacional, com quase metade dos 20 mil hectares de grama colhida no país no ano passado,
São Paulo deverá registrar em 2015 um recuo de 30% sobre o faturamento de R$ 250 milhões do ano
passado, segundo cálculos da Associação Nacional Grama Legal. A área colhida de grama no país, por sua
vez, será reduzida a 14 mil hectares.
Itapetininga é o epicentro do plantio de grama em São Paulo porque reúne as características ideais e está
perto do mercado consumidor. Entre canaviais e pastagens, a grama se esparrama graças ao clima úmido,
temperaturas de até 26 graus e chuvas acima de 1.300 milímetros anuais. Nem de longe lembra o cenário de
hoje, com calor frequentemente acima de 30 graus e chuvas irregulares. Muito menos o de três anos atrás,
quando era o excesso das chuvas que atrapalhava a colheita de Rocha e outros produtores do polo.
"Todo dia caía um pé d'água e encharcava a terra, impossibilitando a gente de colher", diz ele, enquanto um
pequeno grupo de produtores comenta ao lado que "são do tempo em que se dizia que o que iria faltar era
petróleo"- jamais água, ainda mais no Brasil.
Os índices pluviométricos do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), da Secretaria de Agricultura
paulista, provam numericamente o que os produtores relatam de forma empírica. Em janeiro de 2011,
quando os "pés d'água"eram a regra, Itapetininga recebeu 290 milímetros de água. No ano passado, metade:
148 milímetros. Em janeiro deste ano, só 62 milímetros de chuvas.
2. Os efeitos da seca têm sido especialmente sentidos no segmento de gramas porque atingem a oferta e a
demanda. Com menos chuvas, a grama fica com qualidade pior e o tempo de fechamento do gramado se
estende de 12 para 18 meses, o que significa que o produtor está levando um semestre a mais para colher e
vender. Na outra ponta, a procura despencou entre os principais clientes, que alegam não ter como fazer a
rega necessária.
Daniela Antoniolli, coordenadora-executiva da Grama Legal, explica que a grande demanda por grama é
para paisagismo - os maiores consumidores são concessionárias de rodovias (responsáveis pelos canteiros
de estradas), órgãos públicos (que fazem a gestão de parques) e setor imobiliário. Com menos água, a
manutenção dessas áreas ficou mais difícil. "As empresas têm nos pedido para adiar a entrega da grama
porque não têm condições de regá-la. Isso começou em outubro e foi intensificado este ano, atingindo quase
40% dos contratos do setor".
Com menos chuvas, os produtores tiveram também de recorrer a mais água de açudes particulares, também
afetados pela queda no nível de água. A associação estima que metade dos 65 produtores do polo de
Itapetininga ainda dependa de captação direta de rios, o que se tornou um problema. Na vizinha Tatuí,
fazendas de grama que captam água do rio Pederneiras, foram informadas que terão a outorga de irrigação
temporariamente suspensa em nome do abastecimento humano.
A água é crucial para a grama em dois momentos: no pós-plantio e na colheita. E o volume é expressivo: de
oito e 12 litros de água por metro quadrado por dia, dependendo da região. "Estamos na seguinte situação:
ou irrigamos na hora de colher ou esperamos para colher mais tarde", afirma Rocha, da LR Gramas, que
produz 7 milhões de metros quadrados de grama por ano em nove unidades em Itapetininga, São José dos
Campos e Belo Horizonte.
Ele diz que algumas concessionárias estão preferindo deixar a grama morrer nos canteiros das estradas a ter
sua imagem afetada pelo consumo de água em momentos de crise no abastecimento.
A Itograss, maior do segmento de gramas no país, diz ter registrado queda de 40% na demanda por grama
em janeiro, e muitos pedidos de renegociação de entrega. Com isso, a expectativa é de alta no custo de
produção. "Não sabemos quanto subirá, mas é um impacto inevitável porque estamos falando de um
produto com baixo valor agregado e alto custo de frete", afirma Breno Couto, diretor da Itograss. "Temos
atuação nacional e não é raro o frete ser mais caro que a própria grama".
Até agora, a única variedade de grama que não foi afetada foi a destinada a atividades esportivas. Segundo
produtores, isso se deve ao fato de os estádios já adotarem tecnologias novas como o reúso de água, o que os
coloca em posição privilegiada para irrigação da grama em tempos de crise hídrica no Estado.