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DOMINGO, 15 DE SETEMBRO DE 2013
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m folhetim de cordel no agres-
te baiano faz de Dida um cabra
porreta que defende dois, três,
quatro pênaltis marcados pelo árbitro da-
nado que vende resultado. Em versos, a
história Dida, o Goleiro que Passou a Perna
no juiz ladrão é contada pela região onde o
jogador do Grêmio nasceu há quase 40 anos
e encanta o povo nordestino fascinado pelas
proezas do seu herói,como nestas rimas:
“Pra delírio da torcida
E a morte do juiz
Dida arregalou o olho
E foi de novo feliz
Ao adivinhar o canto
E Rosendo com espanto
Gritou:“– Fio de meretriz!!”
Rosendo é o juiz no livreto de 15 páginas
do poeta popular Kitute de Licinho (veja ao
ladoosversosdedicadosaDida),cordelistada
pequena Irará,a cidade de onde o goleiro é
natural e da qual jamais se desligou.Situa-se
a 130quilômetrosdeSalvador,pertodaSan-
to Amaro de CaetanoVeloso,em direção ao
Interior,jádeixandoasaragensdoRecôncavo
eentrandonadurezadosertãobaiano.
Não há férias em que o filho da terrinha
deixe de se abancar na casa dos pais,Isalti-
no e Celice,e ali permanece como um chefe
de clã ao lado da mulher Lúcia e dos filhos
Luís Miguel,oito anos,e Helene Vitória,12.
Servem-lhe farinha de tapioca e maturi e
reúnem um batalhão de 40 parentes na casa
dosSilvanobairrodeMangabeira.
A cidade é da época das capitanias, dos
governadores-gerais,e as fachadas barrocas
ainda estão lá.Se Salvador foi colonizada em
1510, Irará é de 1717, quando expedições
paulistas recém deixavam Laguna para po-
voaroRioGrande.
Seu Isaltino, que antes morava na roça,
hoje está no centro dos 28 mil habitantes.
– Quando o Dida vem aqui,vira atração
em toda região,não só em casa – explica a
cunhada Fabiana Marques, porta-voz da
família em Irará, já que o rapaz vive num
mutismo imperturbável, detesta falar com
quem não lhe é próximo.
Conceder entrevistas,então,nem pensar.
Fica aperreado com enxeridos.
Pois o goleiro que hoje conquista a sim-
patia da torcida na Arena, um dos mais
vitoriosos dos últimos 20 anos, penta pela
Seleção de 2002, bi da Copa das Confede-
rações, do mundial de Clubes, da Liga dos
Campeões,títulos do Italiano,Copa da Itália,
CopaAmérica,Libertadores,Brasileirão,no-
me na seleção de todos os tempos do Milan,
esse cara ainda curte férias com o mesmo
diletantismo de criança.
Veja a seguir como ele se transforma
quando está em casa.
jones.silva@zerohora.com.br
PorKitutedeLicinho
(...)Didaagarravabem
Nãodeixavapassarnada
Jáaostrintadosegundo
Vendoacoisaapertada
AchandoDidaotário
Rosendoosalafrário
Marcoufaltainventada
Poisnaentradadaárea
Numajogadanormal
Oladrãoapitoupênalti
Correupramarcadacal
Atorcidalogoquis
Pegaraquelejuiz
Debaixodepedraepau
Atacantepracobrança
Chutoucommuitafirmeza
Opovofechouoolho
Iaentrarcomcerteza
MasDidacomoumsanto
Foibuscarbemlánocanto
Efezabeladefesa
Ojuizmandouvoltar
Atorcidaenlouqueceu
ERosendoalegava:
“-Ogoleirosemexeu!
Vaiterquebaterdenovo
Eunãoligopr’essepovo
Vaiterquebaterdenovo
Quemmandaaquisoueu!”
Openalfoibembatido
Didadefendeuvalente
Rosendodesesperado
Dizqueelefoiprafrente:
“–’Sódigoquearegraéclara’
Euqueroveressecara
Pegaressanovamente!”
Pradelíriodatorcida
Eamortedojuiz
Didaarregalouoolho
Efoidenovofeliz
Aoadivinharocanto
ERosendocomespanto
Gritou:“–Fiodemeretriz!!”
(...)
Rosendosaiucorrido
Dacidadeedamorte
Atorcidaosurrou
DoCruzeiroatéoCorte
GraçasaogoleiroDida
Cadaboladefendida
Acabouasuasorte
Jones Lopes da Silva
SEGUE >
30 Esportes/GRÊMIO DOMINGO,15DESETEMBRODE2013ZERO HORA
nos festejos de São João que o cir-
cunspectoDidaseesbalda.Nanoi-
te de 24 de junho,em companhia
da família,ele se junta a um bloco famoso da
sua cidade de Irará,o Jeguerê,e sai a brincar
aosomdeumtrioelétricoemmeioaoarras-
tãodopovaréu.
Os convites para desfilar no alto do carro
de som como celebridade,ele declina.Segue
no chão em companhia do seu pessoal,gente
festeiratípicadamisturacabocla,portuguesa
enegradaBahia.Atéporqueobommesmoé
aproveitar as quadrilhas no entorno e curtir
astendascomdocesetabuleirosdeacarajé.
–ElemelevouumavezaIrará.Euvicomo
o cara fica à vontade com a sua gente.Sorri,
dá uns passinhos e até fala um pouquinho
– diverte-se o ex-atacante Edilson,o destra-
melado colega do Corinthians campeão bra-
sileirode1999edoMundialdaFifaem2000.
Para conviver melhor,Dida comprou um
sítio na frente da casa dos velhos.A inten-
ção era acolher as cinco irmãs (uma médi-
ca e uma professora),dois irmãos e quatro
cunhadas, todas professoras, como Fabia-
na Marques:
– Ele acaba mesmo é passando o dia com
todo o mundo na casa dos país.É muito ape-
gadoaosseus.
Também Serginho, ex-lateral-esquerdo
com quem Dida conviveu durante oito anos
noMilan,conheceuocontentamentodoami-
goquandopertodosparentes.
–As férias de meio de ano na Europa faci-
litavam a vinda aos festejos de São João.Ago-
ra,asituaçãoédiferente–explicaSerginho.
Isso é verdade.Desde que voltou a jogar no
Brasil,nãohácomoacompanharafunçãode
junho.Muito menos os folguedos da padro-
eira Nossa Senhora da Purificação dos Cam-
pos na última sexta-feira de janeiro,época da
lavagem da escadaria da igreja,do samba de
rodaedosblocosdesujos.
Nesses,afamíliaparticipa,elenão.
Este ano,o goleiro não viajou a Irará du-
rante a folga da Copa das Confederações,
tinha de se reapresentar no Olímpico qua-
tro dias antes de São João.E nem se amofi-
nou por isso. Cioso no trabalho, Dida é do
tipo que chega uma hora antes dos treinos
e sai uma depois.
Para compensar,quando o Grêmio enfren-
tou o Bahia em agosto,dona Celice,irmãos e
cunhadas o visitaram naArena Fonte Nova,
comoemoutrasvezesforamvê-lonaItália.
– O Dida bancou a viagem dos parentes
paraMilão?
– Não,que nada.Pagamos do nosso bolso,
trabalhamos todos, a gente tem condições
– responde Fabiana,o que revela o perfil da
família.
Nos 10 anos em que jogou na Europa, o
goleiro colheu glórias atrás de um silêncio
desenxabido,embora fosse sociável e respei-
tadoportodos.
Cafu e Serginho eram a sua turma no con-
domínio reservado aos jogadores do Milan
no bairro de San Siro.Quando o ex-volante
Émerson chegou ao Roma,Dida o incluiu no
círculodeamizadesvisitando-onasfolgas.
– Não lembro de uma entrevista dele na
Itália – esforça-se Émerson,de oito anos pas-
sadosnaItália.
O silente só se expressa no trabalho. Dá
bronca na zaga,conversa o suficiente na con-
centração e,nos pagodes,fica por perto,em-
boradelado,cantarolando.
Para desentocá-lo do silêncio,os mais che-
gados o chamam de Nelson.Sabem que ele
não gosta e por isso provocam a reação de
NelsondeJesusSilva.
Quando caçoam de sua cidade,ele repete
umafraseorgulhosaearretada:
– Temos três personalidades em Irará: o
tropicalista Tom Zé,a apresentadora Glória
Mariaeeu.
Apelido é alusão ao Dida alagoano que
foi do Flamengo e da Seleção Brasileira
Bem cedo o pai de Dida foi trabalhar em
Maceió e levou a família.Vem daí o apelido
de criança. Intrépido goleiro dos campi-
nhos do agreste, acabou batizado em alu-
são ao atacante Dida, ídolo alagoense que
foi 10 da Seleção antes de Pelé e 10 do Fla-
mengo antes de Zico.
Didinha ralou na várzea,no Lagoa da Ca-
noa,enabasedoCruzeirodeArapiraca.
Por essa época,lia coleções da revista Pla-
carnalojadeumalfaiateconhecidonoclube,
e se apaixonou por caldinhos de mocotó no
bar de um amigo em Lagoa – o que cultiva
atéhojequandovisitaAlagoas.
Ao Vitória, em Salvador, ele chegou aos
16anosesubiuaos19,jáacaminhodoporte
de1m95cmherdadodoavôOtaviano.
ApósdoisanosnoBarradãoeumvicebra-
sileiro chegou em 1994 ao Cruzeiro.Venceu
quatro Mineiros,a Copa Brasil de 1996 e fe-
chou o gol no título da Libertadores de 1997.
Na renovação de contrato,porém,sentava-se
diantedosdirigentes,ouviaapropostacalado
evoltavadepoisrecusandoaoferta.
Por fim, forçou a saída para o Milan, e a
torcidacruzeirenseoinsultou.
Dida com amigos nas festas do bloco
Jeguerê em Irará, na Bahia
Ao lado, com
Kitute, autor do
cordel de Dida.
No detalhe, até
o jegue mascote
do bloco lembra
o goleiro da
Seleção
Marcílio Cerqueira,arquivo pessoal
Kitute de Licinho,arquivo pessoal
31
Esportes/GRÊMIO
DOMINGO,15DESETEMBRODE2013ZERO HORA
BRASILEIRÃO, 21ª RODADA, 15/9/2013
GRÊMIO ATlÉTICo-MG
Dida;
Gabriel
Rhodolfo
Bressan;
Pará
Riveros
Ramiro
Zé Roberto
Alex Telles;
Vargas
Barcos
Técnico:
Renato Portaluppi
Victor
Marcos Rocha
Leonardo Silva
Réver
Júnior César;
Pierre
Josué
Ronaldinho Gaúcho
Fernandinho
Tardelli (Luan);
Jô
Técnico:
Cuca
18h30min
Arbitragem: Marcelo de Lima Henrique (RJ), auxiliado
por Emerson Augusto de Carvalho (SP) e Rodrigo Henri-
que Corrêa (RJ). Ingressos: Arquibancada Norte, R$ 40
(esgotados), Gramado Sul, R$ 80; Gramado Leste/Oeste
Corner, R$ 100; Gramado Leste/Oeste Centro, R$ 120;
Gold Fundo Sul, R$ 150; Gold Centro, R$ 160; Quarto Nível
Norte/Sul, R$ 80; Quarto Nível Corners R$ 90; Visitante,
R$ 80. Local: Arena do Grêmio. O jogo no ar: a Rádio
Gaúcha abre a jornada esportiva às 16h. Acompanhe o
minuto a minuto em www.zerohora.com/jogoaovivo
Ronaldinho
no caminho
do Grêmio
No dia em que completa 110 anos,
o Grêmio tenta alcançar a oitava
vitória em nove jogos e consolidar-
se ainda mais no G-4. Sem Kleber,
suspenso,o time enfrenta o Atlético-
MG, em jogo que poderá quebrar o
recorde de público naArena.
A marca em jogos oficiais ainda
pertence a Grêmio e LDU, do Equa-
dor, em janeiro, pela Libertadores:
41.461 torcedores. Em amistosos, o
maior contingente foi na inaugura-
ção, em dezembro, com cerca de 60
mil pessoas.
A ausência de Kleber é suprida pela
volta deVargas,depois da exitosa pas-
sagem pela seleção chilena,com dois
marcados contra a Espanha.No meio,
Riveros substitui a Souza,preservado
pordesgastefísico.
Alex Telles é de novo o ala esquer-
do,mesmo com a elogiada estreia de
WendellnavitóriacontraoNáutico.
Do outro lado, estará Ronaldinho.
É ele quem comanda o Atlético-MG,
que vem de goleada por 3 a 0 contra
o Coritiba e tenta retomar o ritmo
que o transformou em campeão da
Libertadores.
Outra ameaça é Jô, destaque tam-
bémnaSeleçãoBrasileira.
–A torcida tem todo o direito de fa-
zerfesta,aindamaispor110anos.Mas
o clima não pode entrar em campo
–alertaotécnicoRenatoPortaluppi.
Com 37 pontos ganhos, o Grêmio
tem dois jogos seguidos naArena – o
próximo será contra o Santos,quar-
ta-feira – para mostrar de vez que,
mais do que vaga na Libertadores,
sonha com o título.
serginho
Ex-Milan, que jogou com Dida
Ficamos tão amigos
em Milão que hoje ele
me procura no Rio
e acabei negociando
a ida dele para o
Grêmio. O Émerson
também ajudou.
Ele falou com o
Luxemburgo
sobre o Dida.
Um cabra de Irará na seleção
de todos os tempos do Milan
O começo de Dida em San Siro foi tão
ruim que os italianos o emprestaram ao
Corinthians. Foi quando defendeu dois
pênaltis batidos pelo são-paulino Raí, nas
semifinais do Brasileirão de 1999 – levaria
uma das três notas 10 concedidas pela Re-
vista Placar nos anos 90.
Em seguida, pegaria uma cobrança de
Anelka, do Real Madrid, no Mundial de
Clubes de 2000, e se consagraria na fi-
nal decidida nos pênaltis contra o Vasco:
agarrou a pancada de Gilberto e, gigante,
forçou o erro de Edmundo.Foi o único em
campo que não vibrou com o título mun-
dial.Ficou ali,altissonante.
– Não comemorou mesmo,nem no chu-
te de Raí, nem no de Edmundo. Ele é as-
sim.Ainda teve a grandeza de confortar o
Edmundo,que ficou desolado.O que vocês
não sabem é que, depois, ele festejou aos
gritos no vestiário – conta Edilson,seu co-
lega corintiano daquele momento.
Quando Milan e Juventus decidiram a
Liga dos Campeões em Manchester, Dida
defendeu as cobranças de pênaltis de Tre-
zeguet,Zalayeta e Pablo Montero.
Na única vez em que dois grandes ita-
lianos foram à final da Liga,o herói foi um
cabra desafetado de Irará.
– Eu acertei uma cobrança no ângulo do
Buffon (goleiro da Juventus) naquela final.
Sei o que é aquilo. É a maior pressão do
mundo, mas o Dida parecia não se abater
– conta Serginho.
Dona Celice viajou do sertão até Man-
chester. Ela viu no Old Trafford o filho pe-
gar os três pênaltis. Ele não se avexou. Ela
quase teve um troço.
Curioso é que Dida tomou dimensão
planetária em plena terra de goleiros
– na Itália dos senhores Gigi Buffon,Dino
Zoff,Zenga,Pagliuca,Lido Vieri,Sebastia-
no Rossi e Lorenzo Buffon.Ainda assim,
o irarense é o terceiro goleiro mais longe-
vo no Milan (291 jogos, de 2000 a 2010),
atrás de Rossi (330,de 1990 a 2002) e Lo-
renzo (300,de 1949 a 59).
Na quinta-feira,um site inglês montou a
seleção de todos os tempos do Milan e co-
locou Dida na reserva de Rossi.
A carreira na Seleção não lhe foi tão jus-
ta.Dida é o único goleiro negro que dispu-
tou Copa depois de Barbosa, o sacrificado
pela derrota no Maracanazo de 1950.Dian-
te de amigos,ele comentou a respeito.
Engrandecido pela Libertadores com o
Cruzeiro, ele chegou em 1997 a titular da
Seleção. Tinha 24 anos. Jogou com Zé Ro-
berto, à época no Real Madrid de Seedorf.
Em 1998, sua primeira Copa, coube-lhe a
reserva de Taffarel,o milagreiro dos pênal-
tis do tetra – e tudo se acabou na convul-
são de Ronaldo.
Quando Felipão assumiu, usou Marcos
de titular e assim venceu o penta no Japão.
Dida foi campeão,mas na reserva.
Passado o efeito São Marcos de 2002,
finalmente ele seria o goleiro da Seleção
de Carlos Alberto Parreira até a Copa da
Alemanha. Mas viu seu amigaço Ronaldo
Nazário se esvair em suor na luta contra o
peso em Konigstein. Não bastasse, Zidane
ergueu uma cobrança de falta para a área,
Roberto Carlos parou e,à queima-roupa,o
francês Henry despachou o Brasil.
Dida, Zé Roberto e Seedorf se
abraçaram no gramado da Arena
Eliminado em Frankfurt, Dida embar-
cou rápido para a Bahia sem conseguir
uma Copa como titular.Como Barbosa.
A filarmônica de Irará, que ele ajuda a
manter,não tocou suas retretas.
Dois anos após deixar o Milan, quando
parecia havia largado a profissão,o goleiro
retomou a vida pela Portuguesa e chegou
ao Grêmio. No Brasileirão, contra o Cru-
zeiro,voltou à saga dos pênaltis e defendeu
com as luvas Reusch a cobrança de Ever-
ton Ribeiro.A torcida, que antes oscilava
em favor de Marcelo Grohe, agora lhe é
simpática.Manteve crédito mesmo depois
de errar diante deWalter,do Goiás.
– Dida está muito bem com a família em
PortoAlegre – revela a cunhada,de Irará.
No dia 13 de julho,ao final da vitória so-
bre o Botafogo na Arena, Seedorf, 37 anos,
foi cumprimentar Dida, 40 anos em 7 de
outubro. Conheciam-se do Milan. Zé Ro-
berto,39,juntou-se a eles.
Durante cinco minutos os três se abra-
çaram sozinhos no meio do gramado sob
chuva fina e trocaram confidências em
gestos de camaradagem como se quises-
sem fazer tudo de novo.
vampeta
Volante que começou
com Dida no Vitória
O Dida vai ser o
homem mais rico
do cemitério: o
Nelson Jesus não
abre a mão para
nada. Nunca vi
um cara mais
pão-duro na vida.
Aos 18 anos, no Vitória da Bahia: jogou com
Vampeta, antes de ser vice do Brasileirão
Aos 16 anos, no Cruzeiro de Arapiraca,
perto de Maceió: ele se diz meio alagoano
A filarmônica de Irará, que recebe ajuda da
celebridade local: famosa no sertão baiano
Dida assina dedicatória ao clube de Arapiraca
em que jogou na várzea quando adolescente
Marcílio Cerqueira,arquivo pessoal
Marcílio Cerqueira,arquivo pessoal
arquivo pessoal
Tony Andrade,arquivo pessoal

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Casa Da Cultura De Irará: Pressupostos Para Uma Política Municipal De Cultura
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Tabela Terceira Copa da Mandioca - 2014
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Revista do Coloquio de Literatura Popular - Ed. 2006
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IRARÁ 88 - PREFEITURA MUNICIPAL DE IRARÁ
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JANELA ABERTAS - JURACY DE OLIVEIRA PAIXÃO
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Eta Baino Porreta - Matéria sobre Dida no Zero Hora de Porto Alegre - 15.09.2013

  • 1. ZH EsportesFALE COM Ticiano Osório - ticiano.osorio@zerohora.com.br ☎ (51) 3218-4351 Editores: Diego Araujo - diego.araujo@zerohora.com.br esportes@zerohora.com.br DOMINGO, 15 DE SETEMBRO DE 2013 ☎ (51) 3218-4727 m folhetim de cordel no agres- te baiano faz de Dida um cabra porreta que defende dois, três, quatro pênaltis marcados pelo árbitro da- nado que vende resultado. Em versos, a história Dida, o Goleiro que Passou a Perna no juiz ladrão é contada pela região onde o jogador do Grêmio nasceu há quase 40 anos e encanta o povo nordestino fascinado pelas proezas do seu herói,como nestas rimas: “Pra delírio da torcida E a morte do juiz Dida arregalou o olho E foi de novo feliz Ao adivinhar o canto E Rosendo com espanto Gritou:“– Fio de meretriz!!” Rosendo é o juiz no livreto de 15 páginas do poeta popular Kitute de Licinho (veja ao ladoosversosdedicadosaDida),cordelistada pequena Irará,a cidade de onde o goleiro é natural e da qual jamais se desligou.Situa-se a 130quilômetrosdeSalvador,pertodaSan- to Amaro de CaetanoVeloso,em direção ao Interior,jádeixandoasaragensdoRecôncavo eentrandonadurezadosertãobaiano. Não há férias em que o filho da terrinha deixe de se abancar na casa dos pais,Isalti- no e Celice,e ali permanece como um chefe de clã ao lado da mulher Lúcia e dos filhos Luís Miguel,oito anos,e Helene Vitória,12. Servem-lhe farinha de tapioca e maturi e reúnem um batalhão de 40 parentes na casa dosSilvanobairrodeMangabeira. A cidade é da época das capitanias, dos governadores-gerais,e as fachadas barrocas ainda estão lá.Se Salvador foi colonizada em 1510, Irará é de 1717, quando expedições paulistas recém deixavam Laguna para po- voaroRioGrande. Seu Isaltino, que antes morava na roça, hoje está no centro dos 28 mil habitantes. – Quando o Dida vem aqui,vira atração em toda região,não só em casa – explica a cunhada Fabiana Marques, porta-voz da família em Irará, já que o rapaz vive num mutismo imperturbável, detesta falar com quem não lhe é próximo. Conceder entrevistas,então,nem pensar. Fica aperreado com enxeridos. Pois o goleiro que hoje conquista a sim- patia da torcida na Arena, um dos mais vitoriosos dos últimos 20 anos, penta pela Seleção de 2002, bi da Copa das Confede- rações, do mundial de Clubes, da Liga dos Campeões,títulos do Italiano,Copa da Itália, CopaAmérica,Libertadores,Brasileirão,no- me na seleção de todos os tempos do Milan, esse cara ainda curte férias com o mesmo diletantismo de criança. Veja a seguir como ele se transforma quando está em casa. jones.silva@zerohora.com.br PorKitutedeLicinho (...)Didaagarravabem Nãodeixavapassarnada Jáaostrintadosegundo Vendoacoisaapertada AchandoDidaotário Rosendoosalafrário Marcoufaltainventada Poisnaentradadaárea Numajogadanormal Oladrãoapitoupênalti Correupramarcadacal Atorcidalogoquis Pegaraquelejuiz Debaixodepedraepau Atacantepracobrança Chutoucommuitafirmeza Opovofechouoolho Iaentrarcomcerteza MasDidacomoumsanto Foibuscarbemlánocanto Efezabeladefesa Ojuizmandouvoltar Atorcidaenlouqueceu ERosendoalegava: “-Ogoleirosemexeu! Vaiterquebaterdenovo Eunãoligopr’essepovo Vaiterquebaterdenovo Quemmandaaquisoueu!” Openalfoibembatido Didadefendeuvalente Rosendodesesperado Dizqueelefoiprafrente: “–’Sódigoquearegraéclara’ Euqueroveressecara Pegaressanovamente!” Pradelíriodatorcida Eamortedojuiz Didaarregalouoolho Efoidenovofeliz Aoadivinharocanto ERosendocomespanto Gritou:“–Fiodemeretriz!!” (...) Rosendosaiucorrido Dacidadeedamorte Atorcidaosurrou DoCruzeiroatéoCorte GraçasaogoleiroDida Cadaboladefendida Acabouasuasorte Jones Lopes da Silva SEGUE >
  • 2. 30 Esportes/GRÊMIO DOMINGO,15DESETEMBRODE2013ZERO HORA nos festejos de São João que o cir- cunspectoDidaseesbalda.Nanoi- te de 24 de junho,em companhia da família,ele se junta a um bloco famoso da sua cidade de Irará,o Jeguerê,e sai a brincar aosomdeumtrioelétricoemmeioaoarras- tãodopovaréu. Os convites para desfilar no alto do carro de som como celebridade,ele declina.Segue no chão em companhia do seu pessoal,gente festeiratípicadamisturacabocla,portuguesa enegradaBahia.Atéporqueobommesmoé aproveitar as quadrilhas no entorno e curtir astendascomdocesetabuleirosdeacarajé. –ElemelevouumavezaIrará.Euvicomo o cara fica à vontade com a sua gente.Sorri, dá uns passinhos e até fala um pouquinho – diverte-se o ex-atacante Edilson,o destra- melado colega do Corinthians campeão bra- sileirode1999edoMundialdaFifaem2000. Para conviver melhor,Dida comprou um sítio na frente da casa dos velhos.A inten- ção era acolher as cinco irmãs (uma médi- ca e uma professora),dois irmãos e quatro cunhadas, todas professoras, como Fabia- na Marques: – Ele acaba mesmo é passando o dia com todo o mundo na casa dos país.É muito ape- gadoaosseus. Também Serginho, ex-lateral-esquerdo com quem Dida conviveu durante oito anos noMilan,conheceuocontentamentodoami- goquandopertodosparentes. –As férias de meio de ano na Europa faci- litavam a vinda aos festejos de São João.Ago- ra,asituaçãoédiferente–explicaSerginho. Isso é verdade.Desde que voltou a jogar no Brasil,nãohácomoacompanharafunçãode junho.Muito menos os folguedos da padro- eira Nossa Senhora da Purificação dos Cam- pos na última sexta-feira de janeiro,época da lavagem da escadaria da igreja,do samba de rodaedosblocosdesujos. Nesses,afamíliaparticipa,elenão. Este ano,o goleiro não viajou a Irará du- rante a folga da Copa das Confederações, tinha de se reapresentar no Olímpico qua- tro dias antes de São João.E nem se amofi- nou por isso. Cioso no trabalho, Dida é do tipo que chega uma hora antes dos treinos e sai uma depois. Para compensar,quando o Grêmio enfren- tou o Bahia em agosto,dona Celice,irmãos e cunhadas o visitaram naArena Fonte Nova, comoemoutrasvezesforamvê-lonaItália. – O Dida bancou a viagem dos parentes paraMilão? – Não,que nada.Pagamos do nosso bolso, trabalhamos todos, a gente tem condições – responde Fabiana,o que revela o perfil da família. Nos 10 anos em que jogou na Europa, o goleiro colheu glórias atrás de um silêncio desenxabido,embora fosse sociável e respei- tadoportodos. Cafu e Serginho eram a sua turma no con- domínio reservado aos jogadores do Milan no bairro de San Siro.Quando o ex-volante Émerson chegou ao Roma,Dida o incluiu no círculodeamizadesvisitando-onasfolgas. – Não lembro de uma entrevista dele na Itália – esforça-se Émerson,de oito anos pas- sadosnaItália. O silente só se expressa no trabalho. Dá bronca na zaga,conversa o suficiente na con- centração e,nos pagodes,fica por perto,em- boradelado,cantarolando. Para desentocá-lo do silêncio,os mais che- gados o chamam de Nelson.Sabem que ele não gosta e por isso provocam a reação de NelsondeJesusSilva. Quando caçoam de sua cidade,ele repete umafraseorgulhosaearretada: – Temos três personalidades em Irará: o tropicalista Tom Zé,a apresentadora Glória Mariaeeu. Apelido é alusão ao Dida alagoano que foi do Flamengo e da Seleção Brasileira Bem cedo o pai de Dida foi trabalhar em Maceió e levou a família.Vem daí o apelido de criança. Intrépido goleiro dos campi- nhos do agreste, acabou batizado em alu- são ao atacante Dida, ídolo alagoense que foi 10 da Seleção antes de Pelé e 10 do Fla- mengo antes de Zico. Didinha ralou na várzea,no Lagoa da Ca- noa,enabasedoCruzeirodeArapiraca. Por essa época,lia coleções da revista Pla- carnalojadeumalfaiateconhecidonoclube, e se apaixonou por caldinhos de mocotó no bar de um amigo em Lagoa – o que cultiva atéhojequandovisitaAlagoas. Ao Vitória, em Salvador, ele chegou aos 16anosesubiuaos19,jáacaminhodoporte de1m95cmherdadodoavôOtaviano. ApósdoisanosnoBarradãoeumvicebra- sileiro chegou em 1994 ao Cruzeiro.Venceu quatro Mineiros,a Copa Brasil de 1996 e fe- chou o gol no título da Libertadores de 1997. Na renovação de contrato,porém,sentava-se diantedosdirigentes,ouviaapropostacalado evoltavadepoisrecusandoaoferta. Por fim, forçou a saída para o Milan, e a torcidacruzeirenseoinsultou. Dida com amigos nas festas do bloco Jeguerê em Irará, na Bahia Ao lado, com Kitute, autor do cordel de Dida. No detalhe, até o jegue mascote do bloco lembra o goleiro da Seleção Marcílio Cerqueira,arquivo pessoal Kitute de Licinho,arquivo pessoal
  • 3. 31 Esportes/GRÊMIO DOMINGO,15DESETEMBRODE2013ZERO HORA BRASILEIRÃO, 21ª RODADA, 15/9/2013 GRÊMIO ATlÉTICo-MG Dida; Gabriel Rhodolfo Bressan; Pará Riveros Ramiro Zé Roberto Alex Telles; Vargas Barcos Técnico: Renato Portaluppi Victor Marcos Rocha Leonardo Silva Réver Júnior César; Pierre Josué Ronaldinho Gaúcho Fernandinho Tardelli (Luan); Jô Técnico: Cuca 18h30min Arbitragem: Marcelo de Lima Henrique (RJ), auxiliado por Emerson Augusto de Carvalho (SP) e Rodrigo Henri- que Corrêa (RJ). Ingressos: Arquibancada Norte, R$ 40 (esgotados), Gramado Sul, R$ 80; Gramado Leste/Oeste Corner, R$ 100; Gramado Leste/Oeste Centro, R$ 120; Gold Fundo Sul, R$ 150; Gold Centro, R$ 160; Quarto Nível Norte/Sul, R$ 80; Quarto Nível Corners R$ 90; Visitante, R$ 80. Local: Arena do Grêmio. O jogo no ar: a Rádio Gaúcha abre a jornada esportiva às 16h. Acompanhe o minuto a minuto em www.zerohora.com/jogoaovivo Ronaldinho no caminho do Grêmio No dia em que completa 110 anos, o Grêmio tenta alcançar a oitava vitória em nove jogos e consolidar- se ainda mais no G-4. Sem Kleber, suspenso,o time enfrenta o Atlético- MG, em jogo que poderá quebrar o recorde de público naArena. A marca em jogos oficiais ainda pertence a Grêmio e LDU, do Equa- dor, em janeiro, pela Libertadores: 41.461 torcedores. Em amistosos, o maior contingente foi na inaugura- ção, em dezembro, com cerca de 60 mil pessoas. A ausência de Kleber é suprida pela volta deVargas,depois da exitosa pas- sagem pela seleção chilena,com dois marcados contra a Espanha.No meio, Riveros substitui a Souza,preservado pordesgastefísico. Alex Telles é de novo o ala esquer- do,mesmo com a elogiada estreia de WendellnavitóriacontraoNáutico. Do outro lado, estará Ronaldinho. É ele quem comanda o Atlético-MG, que vem de goleada por 3 a 0 contra o Coritiba e tenta retomar o ritmo que o transformou em campeão da Libertadores. Outra ameaça é Jô, destaque tam- bémnaSeleçãoBrasileira. –A torcida tem todo o direito de fa- zerfesta,aindamaispor110anos.Mas o clima não pode entrar em campo –alertaotécnicoRenatoPortaluppi. Com 37 pontos ganhos, o Grêmio tem dois jogos seguidos naArena – o próximo será contra o Santos,quar- ta-feira – para mostrar de vez que, mais do que vaga na Libertadores, sonha com o título. serginho Ex-Milan, que jogou com Dida Ficamos tão amigos em Milão que hoje ele me procura no Rio e acabei negociando a ida dele para o Grêmio. O Émerson também ajudou. Ele falou com o Luxemburgo sobre o Dida. Um cabra de Irará na seleção de todos os tempos do Milan O começo de Dida em San Siro foi tão ruim que os italianos o emprestaram ao Corinthians. Foi quando defendeu dois pênaltis batidos pelo são-paulino Raí, nas semifinais do Brasileirão de 1999 – levaria uma das três notas 10 concedidas pela Re- vista Placar nos anos 90. Em seguida, pegaria uma cobrança de Anelka, do Real Madrid, no Mundial de Clubes de 2000, e se consagraria na fi- nal decidida nos pênaltis contra o Vasco: agarrou a pancada de Gilberto e, gigante, forçou o erro de Edmundo.Foi o único em campo que não vibrou com o título mun- dial.Ficou ali,altissonante. – Não comemorou mesmo,nem no chu- te de Raí, nem no de Edmundo. Ele é as- sim.Ainda teve a grandeza de confortar o Edmundo,que ficou desolado.O que vocês não sabem é que, depois, ele festejou aos gritos no vestiário – conta Edilson,seu co- lega corintiano daquele momento. Quando Milan e Juventus decidiram a Liga dos Campeões em Manchester, Dida defendeu as cobranças de pênaltis de Tre- zeguet,Zalayeta e Pablo Montero. Na única vez em que dois grandes ita- lianos foram à final da Liga,o herói foi um cabra desafetado de Irará. – Eu acertei uma cobrança no ângulo do Buffon (goleiro da Juventus) naquela final. Sei o que é aquilo. É a maior pressão do mundo, mas o Dida parecia não se abater – conta Serginho. Dona Celice viajou do sertão até Man- chester. Ela viu no Old Trafford o filho pe- gar os três pênaltis. Ele não se avexou. Ela quase teve um troço. Curioso é que Dida tomou dimensão planetária em plena terra de goleiros – na Itália dos senhores Gigi Buffon,Dino Zoff,Zenga,Pagliuca,Lido Vieri,Sebastia- no Rossi e Lorenzo Buffon.Ainda assim, o irarense é o terceiro goleiro mais longe- vo no Milan (291 jogos, de 2000 a 2010), atrás de Rossi (330,de 1990 a 2002) e Lo- renzo (300,de 1949 a 59). Na quinta-feira,um site inglês montou a seleção de todos os tempos do Milan e co- locou Dida na reserva de Rossi. A carreira na Seleção não lhe foi tão jus- ta.Dida é o único goleiro negro que dispu- tou Copa depois de Barbosa, o sacrificado pela derrota no Maracanazo de 1950.Dian- te de amigos,ele comentou a respeito. Engrandecido pela Libertadores com o Cruzeiro, ele chegou em 1997 a titular da Seleção. Tinha 24 anos. Jogou com Zé Ro- berto, à época no Real Madrid de Seedorf. Em 1998, sua primeira Copa, coube-lhe a reserva de Taffarel,o milagreiro dos pênal- tis do tetra – e tudo se acabou na convul- são de Ronaldo. Quando Felipão assumiu, usou Marcos de titular e assim venceu o penta no Japão. Dida foi campeão,mas na reserva. Passado o efeito São Marcos de 2002, finalmente ele seria o goleiro da Seleção de Carlos Alberto Parreira até a Copa da Alemanha. Mas viu seu amigaço Ronaldo Nazário se esvair em suor na luta contra o peso em Konigstein. Não bastasse, Zidane ergueu uma cobrança de falta para a área, Roberto Carlos parou e,à queima-roupa,o francês Henry despachou o Brasil. Dida, Zé Roberto e Seedorf se abraçaram no gramado da Arena Eliminado em Frankfurt, Dida embar- cou rápido para a Bahia sem conseguir uma Copa como titular.Como Barbosa. A filarmônica de Irará, que ele ajuda a manter,não tocou suas retretas. Dois anos após deixar o Milan, quando parecia havia largado a profissão,o goleiro retomou a vida pela Portuguesa e chegou ao Grêmio. No Brasileirão, contra o Cru- zeiro,voltou à saga dos pênaltis e defendeu com as luvas Reusch a cobrança de Ever- ton Ribeiro.A torcida, que antes oscilava em favor de Marcelo Grohe, agora lhe é simpática.Manteve crédito mesmo depois de errar diante deWalter,do Goiás. – Dida está muito bem com a família em PortoAlegre – revela a cunhada,de Irará. No dia 13 de julho,ao final da vitória so- bre o Botafogo na Arena, Seedorf, 37 anos, foi cumprimentar Dida, 40 anos em 7 de outubro. Conheciam-se do Milan. Zé Ro- berto,39,juntou-se a eles. Durante cinco minutos os três se abra- çaram sozinhos no meio do gramado sob chuva fina e trocaram confidências em gestos de camaradagem como se quises- sem fazer tudo de novo. vampeta Volante que começou com Dida no Vitória O Dida vai ser o homem mais rico do cemitério: o Nelson Jesus não abre a mão para nada. Nunca vi um cara mais pão-duro na vida. Aos 18 anos, no Vitória da Bahia: jogou com Vampeta, antes de ser vice do Brasileirão Aos 16 anos, no Cruzeiro de Arapiraca, perto de Maceió: ele se diz meio alagoano A filarmônica de Irará, que recebe ajuda da celebridade local: famosa no sertão baiano Dida assina dedicatória ao clube de Arapiraca em que jogou na várzea quando adolescente Marcílio Cerqueira,arquivo pessoal Marcílio Cerqueira,arquivo pessoal arquivo pessoal Tony Andrade,arquivo pessoal