O documento discute como os pais podem ajudar as crianças a lidar com um mundo difícil. Sugere que os pais escutem ativamente as crianças em vez de resolverem seus problemas ou desviarem a atenção. A escuta ativa permite que as crianças expressem seus sentimentos e desenvolvam autonomia para resolver seus próprios problemas.
1. Como ajudar as crianças a lidarem com um mundo difícil
O mundo é muitas vezes um lugar injusto e difícil e quando o é para nós adultos, para as
crianças certamente também o são.
Lembremo-nos que é a lidar com pessoas e situações difíceis que as crianças se tornam adultos
maduros e independentes, desde que os ajudemos a perceber a razão dos seus receios.
No mundo dos adultos, ninguém poderá ser continuamente feliz, pois a vida é feita de
adversidades onde vemo-nos obrigados a contorná-las e vencê-las, para podermos continuar.
O que na realidade queremos são miúdos que consigam lidar
e viver com os muitos sentimentos que as circunstâncias da
vida proporcionam, ensinando-lhes a dar a volta e continuar.
Ouça-o primeiro, se lhe fizer perguntas, devolva-lhe a
pergunta de forma a perceber o que se passa na sua
cabecinha, ajude-o a resolver o seu problema e não seja você
a resolvê-lo. Por fim não se esqueça a elogiá-lo e se o
resultado não for o melhor, faça-o compreender que acredita
nele, que tem a certeza que para a próxima vai conseguir melhor. Não se esqueça de fixá-lo
nos olhos com convicção, de sorrir ou de olhar seriamente de forma que perceba que está a
ouvi-lo e a tentar percebê-lo.
2. Vejamos algumas formas típicas de comunicação que exemplificam várias forma de atitude
possíveis:
Tratar com condescendência:
-Como correu o teu dia?
-Mal!!
- Pobrezinho…anda cá e conta-me!
- Temos um professor que avança muito
depressa!
- Que aborrecido! Queres que te ajude a fazer o
trabalho de casa depois do lanche?
- Deixei-o na escola
- Queres que eu telefone para a escola e fale com o professor?
-sei lá…
- Vê lá! Não quero a tua educação prejudicada
Pregar sermão
-Como correu o teu dia?
-Mal!!
- Tens mesmo de que te queixar…quem me
dera passar o dia a aprender e ter um dia sem
preocupações!
- Tenho um chato professor…
-Não quero que fales dos teus professores
assim. Se tivesses com mais atenção, não tinhas
com que te preocupar! Achas que as coisas tê que ser todas servidas de bandeja?
-hum….
3. Desviar a atenção
-Como correu o teu dia?
-Mal!!
- Deixa-te disso…não pode ter corrido assim tão
mal! Queres uma sanduíche?
- Obrigado. Estou preocupado com a aula de hoje…
- Está bem, pode ser que não sejas nenhum
Einstein, mas nem eu nem a tua mãe o são. Liga a
televisão e não deixes que essas coisas te aborreçam!
-vá Iá…
Possivelmente reparou que e qualquer uma destas conversas só o pai (ou mãe) falaram. A
criança não teve oportunidade de explicar o seu verdadeiro problema. Os sentimentos da
criança perdem-se pelo caminho e o “pai” resolve (ou pensa que resolve) o problema.
Vejamos o mesmo exemplo em atitude de escuta ativa:
-Como correu o teu dia?
-Mal!!
- vê-se mesmo que estás aborrecido
- O que foi que correu mal?
- Temos um professor que avança
muito depressa!
- E tu estás com medo de não
conseguir acompanhá-lo?
- Sim! Pedi-lhe que me explicasse uma parte da matéria e ele disse-me que eu devia estar com
mais atenção
- Hum…e o que é que achaste disso?
- Fiquei furioso. Os outros miúdos fartaram-se de rir
- Então tu estás aborrecido por que te meteste em sarilhos por teres falado primeiro?
- Estou. Não gosto nada de ser repreendido na frente dos outros!
-E o que pensas fazer?
4. - Não sei, mas talvez possa perguntar-lhe novamente no fim da aula
-Achas que isso poderia dar resultado?
- Talvez... Pelo menos não me ia sentir envergonhado. Além disso, acho que ele também está
um bocado nervoso connosco
- Achas que percebes o ponto de vista dele?
-Acho que sim
- Não admira: ensinar miúdos tão espertos!
-Pois!
Em certos casos, eles não querem a nossa ajuda, apenas o nosso apoio e nestes casos o pior
que poderíamos fazer seria envolvermo-nos no assunto.
A capacidade de escuta ativa tem de ser praticada. Na Austrália é ensinada em cursos o que se
chama “Parent Effectiveness Training”.
Segundo Bidduph (2003), esta forma de conversação tem proporcionado um grande alívio a
muitos pais. Não têm que manter o filho feliz para sempre, nem de ultrapassar as suas
dificuldades em vez deles. Ouvindo-o ativamente podem ajudá-lo, embora deixando-lhe a
responsabilidade e o prazer de resolver os seus próprios problemas. O seu problema é uma
oportunidade de experiência de aprendizagem, se o privarmos disso, ele poderá mais tarde
pagar com juros muito altos ao ponto de colocar em risco o seu bem-estar e o seu sucesso.
Se nos absolvermos de colocar um penso rápido cada vez que as crianças têm um “dói-doi”,
poderemos ajudá-los a ser cada vez mais autónomos na resolução dos seus pequenos
problemas.
Bem hajam todos os pais e educadores!!
Vera Gouveia Pestana
Enfermeira especialista em Saúde Infantil Pediatria