Revolução humana: a busca por bem-estar, saúde e qualidade de vida
1. Revolução humana
NIZAN GUANAES – FOLHA DE S.PAULO (01/04/2014)
Muito além da intensa revolução tecnológica que transforma o dia a dia,
vivemos uma revolução humana, da alma, dos hábitos.
No mundo de tantas ofertas e supervalorização do dinheiro, as pessoas
redirecionam suas bússolas para o natural e o essencial. Não estamos
comendo pílulas em naves voadoras, como ficções nada científicas projetavam.
A comida do futuro é orgânica. O carro do ano é a bicicleta.
As pessoas estão cada vez mais preocupadas em comer e em dormir livres de
substâncias químicas. Diante de demandas incessantes da rotina
hiperconectada, a solução é desconectar.
Estudos multidisciplinares realizados pelas melhores universidades do mundo
apontam que a maneira mais eficiente de fazer as tarefas é gastar menos
tempo fazendo tarefas.
Uma série de ações disruptivas -como atividade física e pequenas sonecas
durante a jornada, sono mais prolongado à noite, paradas momentâneas no
trabalho para renovação de ares e pensamentos- aumenta o desempenho
profissional e a saúde. É o que alguns chamam de renovação estratégica,
exemplificada pelos "nappods"
-casulos para sonecas instalados em empresas como o Google.
Nós não temos o poder de aumentar as horas do dia para atender às novas
demandas do mundo, mas podemos aumentar a nossa energia. Tanto física
quanto espiritual. Enquanto o nosso tempo é finito, nossa energia é renovável.
Estarei em Nova York no fim de abril para encontro que AriannaHuffington
promove em torno das ideias expostas em seu mais recente livro, "Thrive: The
ThirdMetric
toRedefiningSuccessandCreating a Life ofWell-Being, Wisdom, and Wonder"
("Prospere: a Terceira
Medida para Redefinir Sucesso e Criar uma Vida de Bem-Estar, Sabedoria e
Encantamento", numa tradução livre).
Para Arianna, a noção de sucesso foi reduzida a poder e dinheiro. Pode
funcionar no curto prazo, mas não é sustentável. Para vivermos a vida, é
preciso encontrar essa terceira medida, a da felicidade, que, explica Arianna,
sustenta-se em quatro pilares: bem-estar, sabedoria, encantamento e
2. benemerência.
As pessoas estão entrando nessa página.
A Califórnia não é apenas o centro de tecnologia do mundo. Se você for a San
Francisco, verá como a alimentação orgânica está tomando a cidade. Boulder,
no Colorado, não é só a base de Jim Collins, o homem de gestão mais
antenado do planeta, mas também a cidade sem glúten, sem lactose.
Existe uma revolução em curso. Ela transforma o ser humano com ritos de
passagem que conheço em primeira mão. Já fui fumante e deixei de fumar, já
fui gordo e desleixado, mas hoje cuido da alimentação e pratico atividade física
-aliás, seguindo o exemplo e o conselho dos grandes líderes empresariais que
conheço.
Sim, é possível mudar. Tudo está mudando.
A revolução dos hábitos e da alma tem enorme impacto nos mercados, nas
empresas e nas marcas. Todos terão que entender e aderir, melhor cedo do
que tarde.
Exemplo emblemático é a WholeFoods, varejista americana que vende comida
orgânica e natural, uma espécie de Apple ou Samsung da comida.
Assim como Steve Jobs mudou nossa forma de consumir tecnologia e
entretenimento, John Mackey, um dos fundadores da WholeFoods, quer mudar
a forma como consumimos comida, rompendo hábitos de alimentação que
podem estimular doenças mortais como câncer e cardiopatias.
Entre os objetivos declarados da WholeFoods em suas mais de 300 lojas
espalhadas por EUA, Canadá e Reino Unido, estão: vender produtos orgânicos
e naturais da mais alta qualidade; satisfazer e encantar os clientes; apoiar a
excelência e a satisfação dos funcionários; cuidar das comunidades e do
ambiente; criar parcerias ganha-ganha com todos os "stakeholders".
Seu lema é comida saudável, pessoas saudáveis, planeta saudável.
É nessa linha que o mundo caminha. Como diz o Buda, ninguém pode nos
salvar a não ser nós mesmos.