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10 de maio, 2013
Autor: Teresa Batista | tbbatista
Artigo escrito para a Revista Complexo Magazine | Saúde: Bem-estar e Nutrição
Website pessoal: http://tbbatista.pt
O inverno acorda a nossa mente e o calor
impede-nos de pensar direito
Mudanças de temperatura revelam afetar as nossas capacidades cognitivas
Tudo indica que a temperatura influencia as nossas atitudes. De acordo com a Scientific
American, estudos recentes sugerem que o clima quente prejudica a nossa capacidade de
tomar decisões complexas, fazendo-nos mesmo evitar tomar decisões.
Por exemplo, no verão sufocante da Florida, nos EUA, escolher entre dezenas de bilhetes
de raspadinhas pode parecer uma tarefa impossível e, havendo a alternativa de jogos do
género do Euro Milhões, as pessoas acabam mesmo por optar por não jogar nas
raspadinhas para não terem que decidir que bilhete escolher. No fundo, é muito mais fácil
agarrar no papel e escrever seis números ao acaso! Por outro lado, em zonas frias como o
Alasca, nos EUA, a capacidade de tomar decisões complexas – como escolher o seu
bilhete de raspadinha preferido – não se mostra afetada. Nas regiões mais frias temos a
capacidade de avaliar as várias opções e escolher a melhor, independentemente de quão
complexa seja a decisão que temos que tomar, enquanto nas regiões mais quentes existe
uma maior probabilidade de optarmos pelo “mais fácil” – neste caso, o Pick-6
lotto (semelhante ao Totoloto e Euro Milhões), que na Florida apresenta 1 em 22.957.480
probabilidades de ganhar.
10 de maio, 2013
Autor: Teresa Batista | tbbatista
Artigo escrito para a Revista Complexo Magazine | Saúde: Bem-estar e Nutrição
Website pessoal: http://tbbatista.pt
O nosso cérebro é um órgão e, como tal, necessita de energia para funcionar
propriamente. Tudo o que fazemos, seja físico ou mental, requer a mesma fonte de
energia: glucose. Precisamos da glucose para andar, falar, respirar, tomar decisões,
suprimir respostas emocionais, resolver problemas matemáticos, etc. Contudo, a glucose é
uma fonte limitada.
Uma das principais funções do nosso organismo é regular a temperatura corporal e
quando o clima está demasiado quente (como na Florida) ou demasiado frio (como no
Alasca), gastamos energia (na forma de glucose) para manter a temperatura corporal
saudável. No entanto, arrefecer o corpo parece gastar mais energia do que para o
aquecer. É por esta razão que, em climas quentes, é natural que as nossas fontes de
energia se esgotem e, visto que a glucose também é utilizada nos processos mentais, é
provável que o esforço físico exigido pelo calor excessivo reduza a nossa capacidade de
funcionamento cognitivo, prejudicando, assim, a nossa capacidade de tomar decisões.
Dois investigadores que se mostraram intrigados pelo assunto, Amar Cheema e Vanessa
M. Patrick, decidiram levar a cabo um estudo onde reuniram os dados relativamente às
vendas de todos os tipos de jogos de lotaria, durante um ano, em St. Louis County, e
avaliar o impacto da temperatura nas vendas. Os resultados foram impressionantes e
revelaram que as compras relativamente aos bilhetes para jogos como as raspadinhas,
que exigiam que se escolhesse entre diversas opções, caíram 594 dollars (cerca de 452€)
por cada 1o
Fahrenheit que a temperatura subia.
Os investigadores decidiram testar a ligação entre a temperatura e decisões complexas,
através de várias experiências, comparando o desempenho cognitivo dos participantes a
duas temperaturas diferentes: 67o
Fahrenheit (19o
C) e 77o
Fahrenheit (25o
C), sendo que a
10 de maio, 2013
Autor: Teresa Batista | tbbatista
Artigo escrito para a Revista Complexo Magazine | Saúde: Bem-estar e Nutrição
Website pessoal: http://tbbatista.pt
temperatura a que as pessoas tendem a sentir-se mais confortáveis é 72o
Fahrenheit
(22o
C). Os participantes tiveram que corrigir um artigo enquanto se encontravam à
temperatura de 19o
C ou de 22o
C. Foi possível observar que os participantes nas salas
mais quentes tiveram um desempenho bastante pior que os que se encontravam nas salas
mais frescas, não conseguindo identificar quase metade dos erros presentes no artigo.
Num outro estudo, um grupo de
participantes (mais uma vez situado numa
sala fresca ou quente) teve que escolher
entre dois planos de redes de
telecomunicações móveis. Um dos planos
parecia mais atraente à primeira vista, mas
acabava por ser mais dispendioso. Quem
não perdesse muito tempo a tomar a
decisão optaria pelo plano mais caro, mas
quem fizesse uma análise mais profunda
veria que o plano mais barato seria a melhor
opção. Os participantes da sala fresca
escolheram o plano correto mais de metade
das vezes, enquanto os participantes da
sala quente apenas tomaram a decisão
acertada um quarto das vezes. O clima
quente pareceu fazer com que os participantes se baseassem em padrões simples de
tomada de decisão, podendo levar a escolhas menos corretas.
Um terceiro estudo revelou ainda que, em climas quentes, as pessoas evitam mesmo
tomar decisões. Este estudo colocou os vários participantes em salas quentes e frescas e
pediu-lhes que escolhessem entre dois produtos: um mais inovador e outro tradicional. Os
participantes das salas quentes, comparativamente com os das salas frescas, optavam
mais pelo produto tradicional, provavelmente por não se sentirem com capacidade de
avaliar a informação respeitante ao novo produto.
Estes estudos não comprovam que os resultados obtidos e as diferenças a nível de
funcionamento cognitivo são devidas a falta de glucose, por isso, os investigadores
acrescentaram um componente fundamental a cada estudo: antes de colocarem os
participantes nas respetivas salas, acabaram com os suplementos de glucose para metade
dos participantes, enquanto a outra metade teve acesso aos mesmos. Foi possível
observar que os participantes em climas quentes se comportavam da mesma forma que os
que tinham sido privados de glucose, o que nos revela que temperaturas elevadas
resultam num esgotamento natural das nossas fontes de energia, afetando a nossa
capacidade cognitiva.
É, por isso, normal que, em climas mais quentes que o habitual, evitemos decisões
complexas, desistamos mais facilmente e façamos erros.
Contudo, os resultados não significam que as pessoas que vivem em climas mais quentes
façam piores decisões que as que vivem em climas mais frescos, pois o ser humano tem
10 de maio, 2013
Autor: Teresa Batista | tbbatista
Artigo escrito para a Revista Complexo Magazine | Saúde: Bem-estar e Nutrição
Website pessoal: http://tbbatista.pt
uma grande capacidade de adaptação e, apesar de levar algum tempo, acaba por,
automaticamente, ajustar-se às alterações climáticas.
Fontes:
 Scientific American – “Winter Wakes Up Your Mind–and Warm Weather Makes it Harder to
Think Straight”
 I DO NOT own any of the above pictures.

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O inverno acorda a nossa mente e o calor impede-nos de pensar direito

  • 1. 10 de maio, 2013 Autor: Teresa Batista | tbbatista Artigo escrito para a Revista Complexo Magazine | Saúde: Bem-estar e Nutrição Website pessoal: http://tbbatista.pt O inverno acorda a nossa mente e o calor impede-nos de pensar direito Mudanças de temperatura revelam afetar as nossas capacidades cognitivas Tudo indica que a temperatura influencia as nossas atitudes. De acordo com a Scientific American, estudos recentes sugerem que o clima quente prejudica a nossa capacidade de tomar decisões complexas, fazendo-nos mesmo evitar tomar decisões. Por exemplo, no verão sufocante da Florida, nos EUA, escolher entre dezenas de bilhetes de raspadinhas pode parecer uma tarefa impossível e, havendo a alternativa de jogos do género do Euro Milhões, as pessoas acabam mesmo por optar por não jogar nas raspadinhas para não terem que decidir que bilhete escolher. No fundo, é muito mais fácil agarrar no papel e escrever seis números ao acaso! Por outro lado, em zonas frias como o Alasca, nos EUA, a capacidade de tomar decisões complexas – como escolher o seu bilhete de raspadinha preferido – não se mostra afetada. Nas regiões mais frias temos a capacidade de avaliar as várias opções e escolher a melhor, independentemente de quão complexa seja a decisão que temos que tomar, enquanto nas regiões mais quentes existe uma maior probabilidade de optarmos pelo “mais fácil” – neste caso, o Pick-6 lotto (semelhante ao Totoloto e Euro Milhões), que na Florida apresenta 1 em 22.957.480 probabilidades de ganhar.
  • 2. 10 de maio, 2013 Autor: Teresa Batista | tbbatista Artigo escrito para a Revista Complexo Magazine | Saúde: Bem-estar e Nutrição Website pessoal: http://tbbatista.pt O nosso cérebro é um órgão e, como tal, necessita de energia para funcionar propriamente. Tudo o que fazemos, seja físico ou mental, requer a mesma fonte de energia: glucose. Precisamos da glucose para andar, falar, respirar, tomar decisões, suprimir respostas emocionais, resolver problemas matemáticos, etc. Contudo, a glucose é uma fonte limitada. Uma das principais funções do nosso organismo é regular a temperatura corporal e quando o clima está demasiado quente (como na Florida) ou demasiado frio (como no Alasca), gastamos energia (na forma de glucose) para manter a temperatura corporal saudável. No entanto, arrefecer o corpo parece gastar mais energia do que para o aquecer. É por esta razão que, em climas quentes, é natural que as nossas fontes de energia se esgotem e, visto que a glucose também é utilizada nos processos mentais, é provável que o esforço físico exigido pelo calor excessivo reduza a nossa capacidade de funcionamento cognitivo, prejudicando, assim, a nossa capacidade de tomar decisões. Dois investigadores que se mostraram intrigados pelo assunto, Amar Cheema e Vanessa M. Patrick, decidiram levar a cabo um estudo onde reuniram os dados relativamente às vendas de todos os tipos de jogos de lotaria, durante um ano, em St. Louis County, e avaliar o impacto da temperatura nas vendas. Os resultados foram impressionantes e revelaram que as compras relativamente aos bilhetes para jogos como as raspadinhas, que exigiam que se escolhesse entre diversas opções, caíram 594 dollars (cerca de 452€) por cada 1o Fahrenheit que a temperatura subia. Os investigadores decidiram testar a ligação entre a temperatura e decisões complexas, através de várias experiências, comparando o desempenho cognitivo dos participantes a duas temperaturas diferentes: 67o Fahrenheit (19o C) e 77o Fahrenheit (25o C), sendo que a
  • 3. 10 de maio, 2013 Autor: Teresa Batista | tbbatista Artigo escrito para a Revista Complexo Magazine | Saúde: Bem-estar e Nutrição Website pessoal: http://tbbatista.pt temperatura a que as pessoas tendem a sentir-se mais confortáveis é 72o Fahrenheit (22o C). Os participantes tiveram que corrigir um artigo enquanto se encontravam à temperatura de 19o C ou de 22o C. Foi possível observar que os participantes nas salas mais quentes tiveram um desempenho bastante pior que os que se encontravam nas salas mais frescas, não conseguindo identificar quase metade dos erros presentes no artigo. Num outro estudo, um grupo de participantes (mais uma vez situado numa sala fresca ou quente) teve que escolher entre dois planos de redes de telecomunicações móveis. Um dos planos parecia mais atraente à primeira vista, mas acabava por ser mais dispendioso. Quem não perdesse muito tempo a tomar a decisão optaria pelo plano mais caro, mas quem fizesse uma análise mais profunda veria que o plano mais barato seria a melhor opção. Os participantes da sala fresca escolheram o plano correto mais de metade das vezes, enquanto os participantes da sala quente apenas tomaram a decisão acertada um quarto das vezes. O clima quente pareceu fazer com que os participantes se baseassem em padrões simples de tomada de decisão, podendo levar a escolhas menos corretas. Um terceiro estudo revelou ainda que, em climas quentes, as pessoas evitam mesmo tomar decisões. Este estudo colocou os vários participantes em salas quentes e frescas e pediu-lhes que escolhessem entre dois produtos: um mais inovador e outro tradicional. Os participantes das salas quentes, comparativamente com os das salas frescas, optavam mais pelo produto tradicional, provavelmente por não se sentirem com capacidade de avaliar a informação respeitante ao novo produto. Estes estudos não comprovam que os resultados obtidos e as diferenças a nível de funcionamento cognitivo são devidas a falta de glucose, por isso, os investigadores acrescentaram um componente fundamental a cada estudo: antes de colocarem os participantes nas respetivas salas, acabaram com os suplementos de glucose para metade dos participantes, enquanto a outra metade teve acesso aos mesmos. Foi possível observar que os participantes em climas quentes se comportavam da mesma forma que os que tinham sido privados de glucose, o que nos revela que temperaturas elevadas resultam num esgotamento natural das nossas fontes de energia, afetando a nossa capacidade cognitiva. É, por isso, normal que, em climas mais quentes que o habitual, evitemos decisões complexas, desistamos mais facilmente e façamos erros. Contudo, os resultados não significam que as pessoas que vivem em climas mais quentes façam piores decisões que as que vivem em climas mais frescos, pois o ser humano tem
  • 4. 10 de maio, 2013 Autor: Teresa Batista | tbbatista Artigo escrito para a Revista Complexo Magazine | Saúde: Bem-estar e Nutrição Website pessoal: http://tbbatista.pt uma grande capacidade de adaptação e, apesar de levar algum tempo, acaba por, automaticamente, ajustar-se às alterações climáticas. Fontes:  Scientific American – “Winter Wakes Up Your Mind–and Warm Weather Makes it Harder to Think Straight”  I DO NOT own any of the above pictures.