Stella recebe um presente de Natal antecipado de seu falecido marido David: um filhote de cão Labrador. Uma carta explica que David comprou o cachorro para fazer companhia a Stella. Embora triste pela perda do marido, Stella se apega ao cãozinho, que lhe traz conforto em seu luto.
7. Dinheiro não lhe faltaria para as necessidades. Ele pensara em tudo.
8. Mas a ausência dele era terrível. Ao terceiro toque da campainha, ela se levantou para atender a porta.
9. Antes, olhou pela janela, um pouco desconfiada. Afinal, havia tantos assaltos.
10. Era um rapaz com uma caixa grande. Viu o carro de entregas estacionado em frente ao portão.
11. Abriu a porta e o ar gélido entrou, tomando conta da sala inteira. É a senhora Araújo? –perguntou o funcionário.
12. Ao sinal afirmativo de Stella, ele pediu licença para entrar e colocou a caixa no meio da sala.
13. Antes que pudesse indagar qualquer coisa, o entregador, jovial, foi explicando:
14. A senhora nos desculpe. Era para entregar somente na véspera do Natal. Porém, hoje é o último dia de expediente no canil. Espero que a senhora não se importe.
15. Entregou-lhe um envelope, abriu a encomenda e retirou o presente: um filhote de cão Labrador.
16. A carta explica tudo , continuou o rapaz. O cão foi comprado em julho, quando a mãe dele estava prenhe.
17. Ele tem seis semanas de idade e é um cão doméstico. A senhora espere um pouco que vou buscar o restante da encomenda.
18. Largou o cãozinho e ele foi se sentar aos pés de Stella, fungando feliz e olhando para ela.
19. O restante da encomenda era uma caixa enorme de alimentos para cães, uma correia e um livro Como cuidar de seu cão Labrador .
20. Stella continuava parada, estática. Acabara de reconhecer no envelope a letra de David. Quando o entregador se foi, ela andou de volta até a sua poltrona. Tremia inteira.
21. O cãozinho ficou ali, olhando-a ainda com seus olhos castanhos, à espera de um afago. A carta não era longa mas repassada de carinho.
22. David a escrevera antes de morrer e a deixara com o proprietário do canil. Era seu último presente de Natal.
23. Ele havia comprado o animal para lhe fazer companhia. A carta era cheia de amor e lhe dava ainda conselhos e incentivo para que fosse forte, até o dia em que voltariam a ficar juntos, na espiritualidade.
24. Ela olhou para o cãozinho e estendeu a mão para o apanhar. Segurou-o nos braços. Pensou que fosse pesado, mas tinha o peso e tamanho da almofada do sofá.
25. O animalzinho de pelos castanhos lhe lambeu o queixo e se aninhou em seu pescoço. Ela chorou de saudade. Ele ficou ali, quietinho. E ntão, criaturinha, aqui estamos você e eu.
26. O cachorrinho fungou, concordando, pondo sua língua rosada para fora. Stella sorriu.
27. Então, vamos para a cozinha fazer uma sopa? Vou lhe dar ração e depois leremos um bom livro, juntos. Que acha?
28. O cãozinho latiu e abanou a cauda, co mo se tivesse entendido exatamente o sentido de cada uma das palavras. E acompanhou Stella até a cozinha.