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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
Observadores de Cyberbullying:
A adoção de estratégias de enfrentamento e emoções associadas
Sónia Patrícia da Silva Gomes
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA
Secção da Psicologia da Educação e da orientação
2016
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
Observadores de Cyberbullying:
A adoção de estratégias de enfrentamento e emoções associadas
Sónia Patrícia da Silva Gomes
Dissertação orientada pela Prof.ª Dr.ª Ana Margarida Veiga Simão, apresentada à
Faculdade de Psicologia – Universidade de Lisboa, para obtenção do grau de Mestre em
Psicologia da Educação e Orientação.
2016
“Um quadro bom no meio de quadros maus
acaba por se transformar num mau quadro.
E um quadro mau no meio de quadros bons
acaba por se tornar um bom quadro.”
Pablo Picasso
i
Agradecimentos
À Prof.ª Doutora Ana Margarida Veiga Simão por me ter dado a oportunidade de participar num
projeto de grande relevo em Portugal. Obrigada por todo o trabalho de orientação, incentivo e
partilha de ideias. Um obrigada ainda maior por me ter permitido crescer, enquanto profissional e
por me ter permitido participar de todo o trabalho desenvolvido por uma equipa de investigação
fantástica! Quero deixar expresso os meus sinceros agradecimentos por ter contribuído, e por tudo
ter feito, para que eu quisesse ir mais além e continuar os meus estudos, algo que sem o incentivo e
o apoio da Professora talvez não acontecesse. Muito obrigada!
À equipa de investigação do Projeto Cyberbullying por todo o carinho e apoio e por permitirem
que me sentisse parte integrante do grupo, equipa à qual, de seguida, agradecerei individualmente.
À Doutora Paula da Costa Ferreira por todo o trabalho de apoio, profissionalismo demonstrado,
incentivo, boa disposição e empenho. Um obrigada por todo o ensinamento que com certeza irá ser-
me útil no futuro. Um especial agradecimento por ter estado sempre disponível para me ajudar
sempre que foi preciso e sempre com empenho e interesse. Os meus sinceros agradecimentos,
Paula!
À Doutora Paula Paulino igualmente pelo apoio e partilha de ideias que contribuíram para a
construção deste trabalho. Um obrigada especial pela disponibilidade demonstrada!
Ao Doutor Sidclay Souza pela partilha de conhecimento, pela troca de ideias, pela disponibilidade
e pelo bom humor sempre demonstrado!
Aos meus pais por todo o apoio que me têm dado ao longo da vida, por me apoiarem sempre nas
decisões que tomo e por me incentivarem desde sempre. Sem eles nada disto teria sido possível.
Um obrigada muito especial por serem quem são.
Ao Pedro por ter contribuído igualmente para que este trabalho fosse possível. Agradeço aqui o
apoio, incentivo e compreensão nos momentos mais difíceis.
À Andreia Machado, minha irmã do coração, por me ter incentivado a ir mais longe, sempre com
a sua boa disposição transformou os momentos difíceis e de indecisão em resoluções e ideias.
À Faculdade de Psicologia por me ter acolhido pela segunda vez, pelo profissionalismo e bom
desempenho dos seus profissionais que fazem com que volte sempre a esta casa.
Bem hajam!
ii
Resumo
O crescente desenvolvimento das tecnologias de informação e da comunicação (TIC) é um
acontecimento muito significativo para o mundo científico e que permite a toda a população ter
acesso à Internet em qualquer local, através de um dispositivo móvel. Para os jovens, a crescente
utilização das TIC pode constituir uma ameaça, no sentido em que uma má utilização da Internet
pode conduzir ao cyberbullying. O cyberbullying traz consequências negativas para a saúde dos
jovens, consequências essas que podem ser reduzidas pela intervenção de quem observa o
fenómeno.
Assim, inserido no projeto aprovado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), registado
com o título, Cyberbullying: A regulação do comportamento através da linguagem, o presente
estudo pretende analisar o comportamento dos observadores adolescentes, através do estudo das
estratégias de enfrentamentopor si utilizadas, bem como das emoções por eles sentidas após
adotarem uma estratégia de enfrentamento. Para além disso, procura compreender a influência que
experiências como observador cybervítima e observador cyberagressor têm nas estratégias de
enfrentamento e nas emoções associadas. Para isso, aplicou-se o Inventário de Incidentes
Observador de Cyberbullying (IIOC) num colégio privado da região de Lisboa (N = 529). Este
estudo revelou que as estratégias de enfrentamento de suporte social e as de evitamento são as mais
utilizadas pelos observadores, bem como as emoções negativas são predominantes após agirem.
Não se encontrou diferenças significativas na adoção de estratégias de enfrentamento e emoções
associadas nos observadores cybervítimas e nos observadores cyberagressores, embora este estudo
tenha revelado a ocorrência da sobreposição de papéis, mais frequente no cyberbullying. A
prevenção e intervenção devem ter em conta as especificidades do cyberbullying e a sobreposição
de papéis que este fenómeno permite.
Palavras-Chave:Cyberbullying; Observadores; Estratégias de enfrentamento, Emoções
iii
Abstract
The growing development of information and communication technologies (ICT) is a very signifi-
cant contribution to the scientific world and that allows the entire population to have access to the
Internet anywhere through a mobile device. For young people, the growing use of ICT may consti-
tute a threat, in the sense that a misuse of the Internet can lead to cyberbullying. Cyberbullying
brings negative consequences for the health of young people, which may be reduced by the inter-
vention of those who observe the phenomenon. Thus, as part of the project approved by the Foun-
dation for Science and Technology (FCT), registered with the title, Cyberbullying: The regulation
of behavior through language, the present study intends to analyze the behavior of bystanders by
examining the intervention strategies they use, as well as the emotions they experience after adopt-
ing an intervention strategy. In addition, this study seeks to understand whether there is a difference
in bystander behavior and the emotions associated with this behavior, depending on whether they
have been a cybervictim or a cyberagressor. Therefore, the Inventory of Observed Cyberbullying
Incidents (IIOC) was applied in a private school in Lisbon (N = 529).
This study revealed that social support and avoidance intervention strategies are more used by bys-
tanders. Also, negative emotions are predominant in relation to how the bystanders behaved. We
did not find signitifacnt differences regarding the strategies used and the emotions felt between bys-
tanders who had had a previous experience as cybervictims and those who had a previous expe-
rience as cyberaggressors. Nontheless, this study has revealed how overlapping may occur regard-
ing the experiences bystanders may have had as cybervictims and cyberaggressors. Prevention and
intervention should consider these specificities, as well as the overlapping of roles.
Keywords: Cyberbullying; Bystanders; Intervention strategies, Emotions.
iv
Índice Geral
Introdução ............................................................................................................................................1
Capítulo I – Enquadramento Teórico...................................................................................................5
1. O conceito de Cyberbullying e suas principais características .................................................5
2. Cyberbullying nos adolescentes: Porquê?.................................................................................7
3. A Atuação dos Observadores no Cyberbullying.....................................................................10
4. As estratégias de enfrentamento dos observadores no cyberbullying.....................................14
5. As Emoções e o coping...........................................................................................................17
Capítulo II – Metodologia de investigação........................................................................................22
1.Objetivos da investigação e Questões de Investigação...............................................................22
2. Caracterização da Amostra ........................................................................................................23
3.Procedimento ..............................................................................................................................24
4.O Instrumento .............................................................................................................................25
5.Análise de dados .........................................................................................................................25
Capítulo III – Análise e discussão dos resultados..............................................................................27
1Análise das qualidades psicométricas do IIOC............................................................................27
2.Estatística Descritiva e Correlações............................................................................................28
3. Discussão dos Resultados ..........................................................................................................34
3. Conclusões gerais.......................................................................................................................38
3. 1. Limitações do Estudo.........................................................................................................39
3.2. Implicações e estudos futures .............................................................................................40
Referências Bibliográficas .................................................................................................................41
Índice de tabelas e quadros
Tabela 2.1. Distribuição dos alunos por género e idade (n= 529).................................................................................23
Tabela 3.1. Coeficientes alfa de Cronbach para as subescalas de estratégias de enfrentamento do IIOC (n=529)...27
Tabela 3.2. Coeficientes alfa de Cronbach para as subescalas das emoções do IIOC (n=529)...................................28
Tabela 3.3. Médias e Desvios-padrão das variáveis (n = 529).......................................................................................29
Quadro 1. Correlações das variáveis do estudo (coeficiente de Spearman).................................................................29
Tabela 3.4. Estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores perante um incidente de cyberbullying........33
(n= 529)
Tabela 3.5.Emoções sentidas pelos observadores após a adoção de uma estratégia de Enfrentamento (n = 529)..........34
vi
Lista de Anexos
ANEXO II - CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO
Anexo II.1 - Distribuição dos alunos por género e por ano de escolaridade (n=529).
Anexo II.2. - Distribuição da utilização do computador como forma de acesso à Internet (n = 529)
Anexo II.3 - Distribuição da utilização do telemóvel como forma de acesso à Internet (n = 529)
Anexo II.4 - Distribuição da utilização do tablet como forma de acesso à Internet (n = 529)
Anexo II.5 - Distribuição da utilização de consola de jogos como forma de acesso à Internet (n = 529)
Anexo II.6 - Distribuição dos alunos por género e tempo de acesso à Internet (n= 529)
ANEXO III - ANÁLISE DO IIOC E ANÁLISE ESTTÍSTICA
Anexo III.1 – Análise e distribuição dos itens da escala de estratégias de enfrentamento (n = 529)
Anexo III.2 – Análise e distribuição dos itens da escala de emoções sentidas após adoção de estratégia
de enfrentamento (n = 529)
Anexo III.3 - Estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores cyberagressores (n=303)
Anexo III.4 - Estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores cybervítimas (n=378)
Anexo III.5 -Correlação entre as variáveis do estudo e a variável observador cyberagressor (n=303).
Anexo III.6 - Correlação entre as variáveis do estudo e a variável observador cyberagressor
n=378).
Vii
1
Introdução
Nas últimas duas décadas, o crescente desenvolvimento das novas tecnologias de informação e
de comunicação (TIC) conduziu à utilização massiva de vários dispositivos eletrónicos, tais como,
telemóveis, tablets, computadores, consolas de jogos, etc., a partir dos quais é possível aceder-se à
Internet. Há cerca de alguns anos atrás, este acesso era feito quase exclusivamente a partir de casa,
enquanto que atualmente pode ser realizado através de qualquer dispositivo móvel, fora de casa, o
que traz algumas implicações negativas. Para o mundo científico, o desenvolvimento das TIC é de
grande importância e constitui uma verdadeira revolução para a comunicação social, porém, o
problema surge quando uma grande parte dos utilizadores são crianças e jovens adolescentes ainda
sem a maturidade emocional necessária para lidar com os conteúdos a que podem ter acesso.
(Kowalski, Limber, & Agatston, 2012). Assim, é urgente um controlo mais efetivo aos conteúdos
de acesso dos jovens, embora, a partir do momento em que a Internet pode ser acedida fora de casa
e fora da escola este controlo perde-se. Sem vigilância por parte de adultos significativos é muito
fácil aos jovens fazerem uma má utilização da Internet. São eles que mais utilizam aplicativos como
o Facebook, Instagram, Twitter, Snapchat, por exemplo, e utilizam ainda o recurso ao envio de
SMS através do telemóvel (Kowalski, Limber, & Agatston, 2012). Estes aplicativos e SMS podem
ser utilizados para maltratar, injuriar, fazer-se passar por outra pessoa, espalhar rumores falsos,
entre outros exemplos de má utilização da Internet. Este fenómeno é conhecido por Cyberbulliyng.
As definições propostas para o cyberbullying são várias, embora aquela que mais se destaca na
literatura é a que incorpora os conceitos chave definidos por Olweus (1993) para a definição de
bullying, que são: praticar ações agressivas, com repetição ao longo do tempo e intenção de magoar,
com superioridade de poder de um ou um grupo sobre um ou vários indivíduos. Smith, Mahdavi,
Carvalho, Fisher, Russell e Tippett (2008), definem cyberbullying como sendo um ato agressivo,
intencional, levado a cabo por um grupo ou por um indivíduo, com recurso à utilização de
2
dispositivos eletrónicos, repetidamente ao longo do tempo contra uma vítima, ou várias, que não se
conseguem defender facilmente.
O Cyberbullying tem sido alvo de estudos exaustivos por todo o mundo (Ang, 2015; Burton,
Florell & Wigant, 2012; Dooley & Cross, 2009; Francisco, Veiga Simão, Costa Ferreira & Martins,
2014; Gahagan, &Vaterlaus, 2015; Pabian, Vandebosch, Poels, Cleemput &Bastiaensens, 2016;
Vandebosch, Cleemput & Desmet, 2013) considerando as consequências negativas a si associadas,
como por exemplo, o baixo rendimento académico, o elevado nível de absentismo escolar e as
várias consequências negativas para a saúde pública (e.g. tristeza, ansiedade, depressão, ideação
suicida e mesmo o suicídio) (Raskauskas & Stols, 2007). As emoções sentidas pelas vítimas e pelos
agressores de cyberbullying têm sido investigadas (Caetano, Freire, Veiga Simão, Martins &
Pessoa, 2016; Gualdo, Hunter, Durkin, Arnaiz & Maquillón, 2014), contudo, poucos estudos
existem sobre as emoções sentidas pelos observadores, embora também eles sejam protagonistas e
também eles experenciem emoções após observarem incidentes de cyberbullying, (Desmet,
Veldeman, Poels, Bastiaensens, Cleemput, Vandebosch & Bourdeaudhiuj, 2014). Lazarus e
Folkman (1968) consideravam importante a relação entre aquilo que se sente numa situação
desagradável e aquilo que se faz para reduzir as consequências negativas associadas a essa situação.
Ou seja, as estratégias utilizadas para lidar com situações adversas (e.g. cyberbullying) estão
relacionadas com a avaliação das emoções sentidas pelos indivíduos. Isto remete para a importância
que as emoções e as estratégias de enfrentamento têm perante um acontecimento adverso (Lazarus
& Folkman, 1968). Estudos (Raskauskas, & Amanda Huynh, 2015), mostram que de entre as
várias estratégias de coping utilizadas pelas vítimas para reduzir as consequências negativas do
cyberbullying, a procura de suporte social (e.g. professor, pais, amigos ou colegas de escola) é a
mais utilizada. Outro protagonista que pode oferecer suporte social são os observadores e se se
considerar o elevado número destes intervenientes no cyberbullying (Francisco, Veiga Simão,
Ferreira & Martins, 2014), muitos são aqueles que podem providenciar ajuda e contribuir para a
redução das consequências negativas associadas a este fenómeno (Desmet, Bastiaensens, Cleemput,
3
Poels, Vandebosch, Cardon & Bordeaudhuij, 2015; Quirk & Campbell, 2014). Apesar da
importante contribuição que estes protagonistas podem fornecer, pouca investigação existe sobre as
suas estratégias de atuação. Para além disso, considerando-se as características do cyberbullying é
possível ocorrer sobreposição de papéis, ou seja, é possível que uma vítima se transforme num
agressor ou vice-versa ou até mesmo que um observador se torne vítima ou agressor e, pouca
investigação existe igualmente sobre este tema. Assim, torna-se importante não só compreender as
formas de atuação dos observadores num incidente de cyberbullying como também a influência que
outras experiências (e.g.como vítima ou agressor de cyberbullying), podem ter na adoção das
estratégias de enfrentamento e nas emoções sentidas após atuarem. Ao longo deste trabalho utilizar-
se-á o conceito estratégias de coping sempre que se faça referência às estratégias adotadas pelas
vítimas face ao cyberbullying, ao passo que para os observadores irá adotar-se o termo
“enfrentamento”, por se considerar que o acontecimento observado não constitui uma ameaça tão
forte para o self do indivíduo observador quanto constitui para a vítima. Para além disso, este
trabalho não avalia o grau de perturbação que a observação do cyberbullying causa no observadores
para que se possa utilizar o conceito de coping.
Com a presente investigação, pretende-se analisar a dinâmica que envolve a atuação ou a não
atuação dos observadores perante um incidente de cyberbullying. Assim, este estudo tem como
principais objetivos identificar as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de
cyberbullying e as emoções por eles sentidas após a adoção dessas estratégias, em jovens com
idades compreendidas entre os 11 e os 18 anos de idade. Para além disso, procura analisar a
influência que a sobreposição de papéis pode ter na seleção das estratégias de enfrentamento e nas
emoções associadas. Este estudo revela-se importante, na medida em que procura contribuir para a
compreensão da atuação dos adolescentes observadores de cyberbullying, ainda pouco investigado
na literatura. Para além disso, revela-se um estudo inovador no sentido em que procura estudar as
emoções sentidas pelos observadores após enfrentarem um acontecimento de cyberbullying, não
existindo referências na literatura sobre este assunto. Outra inovação prende-se com a análise da
4
influência que experiências como cybervítima ou cyberagressor podem ter na seleção de estratégias
de enfrentamento e nas emoções posteriormente sentidas, enquanto observadores de cyberbullying.
5
Capítulo I – Enquadramento Teórico
1. O conceito de Cyberbullying e suas principais características
As TIC fizeram emergir uma nova expressão de violência, onde o cyberbullying é considerado
como um subtipo do bullying (Cuadrado-Gordillo & Fernandez-Antelo, 2015; Moore, Nakano,
Enomoto e Suda, 2012), porém, existem grandes diferenças que o separam do bullying tradicional,
principalmente pelo contexto em que este tipo de violência ocorre (O bullying acontece num
contexto offline enquanto que o cyberbullying acontece num contexto online). Existem algumas
particularidades que são específicas do cyberbullying, como por exemplo, a difículdade em
identificar o agressor, o aumento significativo de observadores, o facto de ser possível uma inversão
de papéis, onde uma vítima se pode tornar agressor e vice-versa (sobreposição de papéis), assim
como a inexistência de feedback verbal (Casas, Del Rey, & Ortega, 2013; Cross, Papageorgiou, &
Lester, 2015; Santos, 2015). A sobreposição de papéis é mais frequente no cyberbullying pelas
características próprias deste fenómeno. No mundo virtual, o anonimato é um fator crucial e que
marca a diferença face ao bullying. A vítima, cansada de repetidos ataques e motivada por
sentimentos de raiva ou comportamentos de vingança, apercebe-se de que facilmente pode assumir
o papel de agressor, seja contra o(s) seu(s) agressor(es), seja contra outras vítimas e assim
percepcionar que tem algum poder sobre o outro e “mascarar” o seu sofrimento (Carmodeca,
Gossens, Schuerge & Terwogt, 2003; Vandebosch & Cleemput, 2008). O anonimato cria uma
desinibição que se manifesta por perda de autocontrolo e falta de retraimento na interação social
(Barlinska, Szuster, & Winiewski, 2013), o que facilita a ocorrência de formas de atuação
desajustadas. A literatura, ainda sem grande consenso, admite a existência de três critérios para a
definição do cyberbullying, nomeadamente, a repetição, a intencionalidade e a ocorrência entre
pares. No cyberbullying, a repetição está relacionada com o facto de um indivíduo poder postar
informação agressiva ou fotografias embaraçosas sobre alguém e, esse conteúdo, poder ser
repetidamente publicado (upload) por outras pessoas ao longo do tempo, humilhando e
ridicularizando a vítima. Ainda assim, há autores (Slonje & Smith, 2008) que contestam este
6
conceito por considerarem ser de difícil operacionalização, no sentido em que é mais fácil
compreender o conceito através de um ataque via SMS ou por e-mail pela repetição das mensagens
enviadas, do que através do envio de uma única mensagem maliciosa para um Website (Leishman,
2005). Assim, as consequências são também amplificadas, uma vez que as agressões podem
difundir-se rapidamente, mantendo-se infinitamente presentes no espaço virtual originando
consequências rápidas e a longo prazo (Willard, 2004). A superioridade de poder assenta em fontes
de poder associadas a competências no domínio tecnológico e na dificuldade da vítima em sair da
situação (Slonje & Smith, 2008). Estas particularidades trazem novos problemas para as vítimas e
novos desafios para aqueles que investigam o cyberbullying. O anonimato que este tipo de agressão
permite tem sido reconhecido como facilitador no desenvolvimento de comportamentos anti-sociais
e na diminuição dos comportamentos de ajuda por parte dos observadores (Dooley & Cross, 2009).
A distância física, entre o agressor e a vítima, que o espaço virtual permite faz com que o agressor
não tenha consciência das consequências dos seus atos e os perpetue. O agressor não vê o medo que
desencadeia nas vítimas e como tal não interpreta negativamente as suas consequências, assim
como quem está a observar tem mais dificuldade em interpretar e distinguir uma brincadeira de um
ato deliberado e intencional com o objetivo de causar dano a alguém e, pode não intervir. Sem
represálias, o agressor tem poder para perpetuar a agressão (Moore, Nakano, Enomoto & Suda,
2012; Slonje & Smith, 2008). A vítima tem menor possibilidade de se defender e evitar a
continuação da agressão e, muitas vezes, remete-se ao silêncio sofrendo sozinha as consequências
dos atos maldosos de que foi objeto. Considerando as características acima mencionadas, não é
difícil compreender que existem inúmeras consequências negativas associada a este fenómeno,
inclusivamente, existem autores que referem que as consequências negativas do cyberbullying são
mais severas do que as do bullying (Desmet et al., 2014). Em suma, as características específicas do
cyberbullying permitem que ocorram consequências muito severas para os adolescentes o que torna
pertinente o estudo desta temática também em observadores. A análise da influência da
sobreposição de papéis é importante para compreender-se como se comporta um observador que já
7
foi ou é cybervítima ou um observador que já foi ou é cyberagressor, perante um incidente de
cyberbullying, e este estudo procura dar esse contributo.
2. Cyberbullying nos adolescentes: Porquê?
O termo adolescente deriva da palavra que em latim significa “tornar-se adulto”. Segundo o
paradigma biomédico, a adolescência é uma fase do desenvolvimento humano de transição entre a
infância e a vida adulta que é caracterizada por transformações biológicas e por momentos de
definição de identidade sexual, profissional e de valores (Gleitman, 1993). É uma fase
desenvolvimental na qual o sujeito está particularmente vulnerável e onde a família perde
importância para dar lugar à maior influência que o grupo de pares vai assumindo junto dos jovens
(Ang, 2015; Bastiaensens, Vandebosch, Poels, Cleemput, Desmet & Bourdeudhuij, 2013). Assim, a
adolescência é caracterizada por inúmeras mudanças que estão relacionadas com a perceção do
adolescente acerca de si próprio, da sua vida familiar e do seu ambiente sociocultural. Esta fase
vivencial é marcada por crescentes sentimentos de autonomia, fundamentais ao desenvolvimento do
adolescente e que marcam a separação entre si e o mundo dos pais. Nesta fase desenvolvimentista,
os adolescentes apresentam um pensamento mais egocêntrico, onde vão explorando filosofias
alternativas, comportamentos e estilos de vida, aliando isto à menor supervisão parental, à urgência
em reforçar a individuação recentemente conquistada e de afirmar a capacidade de pensar pela sua
própria cabeça, origina-se espaço para a criação de segredos (Gleitman, 1993). A teoria social
ecológica de Brofenbrenner (1977) tem sido particularmente utilizada na compreensão das formas
tradicionais do bullying, embora autores a utilizem igualmente na compreensão do cyberbullying
(Cross et al., 2015). Esta teoria afirma que os comportamentos de risco adotados pelos jovens
resultam de interações complexas entre os seus contextos individuais e os contextos em que vivem
(Cross et al., 2015. Em cada um dos contextos existem fatores protetores e fatores de risco que
moderam a necessidade do adolescente se adaptar a novos contextos relacionais, incluindo os
contextos relacionais online (microssistemas).
8
No nível mais imediato, o microssistema, os jovens estabelecem interações diretas com os
seus ambientes mais próximos (família, escola, grupo de pares) que influenciam e reforçam certas
atitudes e comportamentos. A família, a escola e o grupo de pares afetam o desenvolvimento do
adolescente ao influenciarem-se uns aos outros no nível conhecido como mesossistema (e.g. a
família interage com a escola e com os professores e esta interação pode ter um impacto nos
jovens). Os sistemas mais afastados também influenciam os jovens (exossistema) e incluem
contextos com os quais o adolescente não tem contacto imediato mas que ainda assim afetam a sua
vida, tais como o ambiente de trabalho dos pais, os diretores escolares e as infra-estruturas
escolares. O macrossistema compreende as ideologias sociais, culturais, políticas e económicas que
afetam igualmente o jovem. A adaptação do adolescente a estas interações pode originar
desequilíbrios que embora sendo naturais poderão ampliar fragilidades prévias, por eles percebidas,
comprometendo ou não o seu bem - estar e o seu desenvolvimento pessoal. Face às exigências deste
processo, o recurso a comportamentos agressivos (cyberbullying) poderá funcionar como uma
forma de lidar com acontecimentos adversos ao reduzir os níveis de ansiedade que advém das
fragilidades por si percepcionadas. Os comportamentos agressivos podem ser utilizados como
forma de adaptação às novas exigências nos vários contextos (familiar, individual, social, etc.)
(Cross et al., 2015).
Assim, por considerar-se que a adolescência é um período de desenvolvimento crítico dada a
vulnerabilidade pessoal e social dos jovens, é nesta fase onde o cyberbullying mais se manifesta
(Cross, D., et al., 2015). A vulnerabilidade social dos jovens está relacionada com a necessidade de
afirmação e de popularidade junto dos pares, essencial para o seu bem-estar e, através das TIC, é
fácil estar em contacto com os outros mesmo para aqueles que revelam uma personalidade mais
introvertida (Cross, D., et al., 2015).
A Internet tem um impacto significativo na forma como os adolescentes comunicam,
trabalham, aprendem, se entretêm e interagem socialmente. Com o crescente acesso aos
computadores e à internet móvel, as ferramentas de comunicação, como por exemplo, as redes
9
sociais (e.g. Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat) foram finalmente estabelecidas como uma
ferramenta social de comunicação online (Khan, Gagné, Yang & Shapka, 2015). Os jovens
partilham notícias, rumores, histórias via Internet ligados a dispositivos móveis, como por exemplo,
computadores e smartphones (Machácková, H., Dedkova, L., Sevcikova & Cerna, A., 2013). O
problema surge quando os rumores e as histórias são direcionadas para um indivíduo ou um grupo
de indivíduos com o objetivo de lhe(s) causar mau estar e sofrimento e que pode conduzir a
medidas extremas para a vítima, como o suicídio (e.g., Megan Meyers cometeu o suicídio depois de
ter sido vítima de cyberbullying, assim como Amanda Todd) (Gibb, Z., & Devereaux, 2014).
Constata-se que o cyberbullying tem repercussões negativas que se manifestam ao nível académico
(e.g. elevados níveis de absentismo escolar, baixo rendimento académico), social (e.g. dificuldades
ao nível do relacionamento interpessoal, abuso de substâncias, deliquência) e ao nível da saúde
mental (e.g. angústia, depressão, ansiedade, baixa autoestima, ideação suicida, entre outros) (Davis,
et al., 2016; Dehue & Jacobs, 2013; Hinduja & Patchin, 2010; Molho et al., 2009; Na, Darcy &
Park, 2015; Vollink, Bolman; Raskausks & Huynh, 2015). A depressão e a ideação suicida têm
revelado maior expressão no cyberbullying (Hinduja & Patchin, 2010), o que reforça a importância
de investigar este fenómeno e encontrar soluções para terminar com este flagelo. Muitos estudos
têm constatado que estas consequências negativas estão presentes em todos os contextos e culturas.
Em 2013, 95% dos adolescentes americanos usavam Internet e 74% desses jovens utilizavam-na
através de um dispositivo móvel (Tablet, Smartphone) (Machácková, Dedkova, Sevcikova, &
Cerna, 2013). Também em Portugal, 70% dos jovens utilizava Internet e 85,6% destes usavam-na
regularmente (Cardoso, Espanha, & Lapa, 2007 citado por Souza, Veiga Simão, & Paula Caetano,
2013).
Em suma, a crescente presença de adolescentes online aliada à necessidade de serem bem
sucedidos socialmente pode conduzir a comportamentos de cyberbullying (Machácková, Dedkova,
Sevcikova, & Cerna, 2013), por percecionarem que ao magoar outros isso lhes trará maior poder e
aceitação social, razão pela qual este estudo procura investigar a temática do cyberbullying em
10
adolescentes. Mais, a crescente presença de adolescentes online traduz-se igualmente num elevado
número daqueles que observam os comportamentos de outros no espaço virtual e que podem
intervir no fenómeno de cyberbullying. Desta forma, é fácil constatar-se a importância que o papel
dos observadores tem ganho junto da comunidade científica, não só porque há pouca investigação
sobre os fatores que predizem o seu comportamento enquanto agentes de intervenção do
cyberbullying, como há autores (Desmet et al., 2015; Quirk & Campbell, 2014; Wong – Lo, &
Bullock, 2014) que referem que estes podem ter um papel decisivo na resolução do problema e na
minimização das consequências negativas para as vítimas.
Este estudo, procura trazer um contributo relevante para a temática do cyberbullying, ao
identificar as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores e abrir caminho para futuras
intervenções nas escolas.
3. A Atuação dos Observadores no Cyberbullying
Os principais protagonistas do cyberbullying são os agressores (aquele que comete o ato
agressivo sobre um ou outros), as vítimas (aquele que sofre a atuação do agressor) e os
observadores (aquele que observa as situações de cyberbullying). Em Portugal, num estudo
realizado por Francisco, Veiga Simão, Ferreira e Dores Martins (2014), os resultados revelaram que
27,94% dos estudantes já foram vítimas de cyberbullying em algum momento das suas vidas,
coincidentes com os resultados encontrados noutros estudos (Jacobs, Dehue, Vollink, & Lechner,
2014), apenas 8% se identificou como agressor, enquanto que 64% se identificou como observador.
Pode ainda ocorrer sobreposição de papéis, ou seja, um observador pode tornar-se agressor ou
vítima ou apenas observador ou mesmo uma vítima pode transformar-se em agressor e vice-versa,
facto pouco estudado na literatura. A sobreposição de papéis pode ser motivada pelo anonimato que
o cyberbullying permite. Para muitos autores, os comportamentos agressivos podem emergir de
contextos situacionais como forma de retaliação pelo sujeito já ter sido vítima de bullying numa
situação anterior (Carmodeca, Gossens, Schuerge, & Terwogt, 2003; Vandebosch, & Van
11
Cleemput, 2008). Inclusivamente, Vandebosch e Van Cleemput (2008), reportam que os estudantes
indicam que a vingança por terem sido vítimas num contexto offline, é a principal motivação para
se tornarem bullies no espaço virtual. Da mesma forma, Raskauskan e Stoltz (2008) identificaram
que 25% dos agressores de cyberbullying envolvem-se neste tipo de comportamento para se
vingarem de alguém com quem estão zangados e 40% afirma fazê-lo por considerar ser divertido
(Dooley, & Cross, 2009). Tendo em conta que o cyberbullying tem particularidades muito
específicas, o comportamento das vítimas e dos agressores tem sido muito estudado, porém,
escassos estudos existem sobre a atuação dos observadores (Schacter, Greenberg, & Juvonen,
2015), embora no bullying, a literatura existente nos dê muita informação sobre quem observa este
fenómeno. No bullying tradicional o suporte social oferecido às vítimas, pelos observadores (e.g.
professores, colegas de turma, amigos e pais), foi apontado pelas vítimas como um fator
determinante na redução das consequências negativas deste incidente (Desmet, et al., 2014;
Fontaine, & Auzoult, 2014; Quirk, & Campbell, 2014). Tendo em conta que no cyberbullying o
número de observadores é significativamente superior ao do bullying, estes podem desempenhar
igualmente um papel crucial no combate a este flagelo mundial ao intervir junto das vítimas
(Desmet, et al., 2014; Moore, Nakano, Enomoto & Suda, 2012; Pepler, Craig, & O´Connell, 2010;
Schacter, Greenberg, & Juvonen, 2015).
Os estudos existentes sobre a atuação dos observadores indicam-nos que estes podem adotar
comportamentos positivos (e.g. defender a vítima, confrontar o bully e dar suporte ou conforto à
vítima), comportamentos negativos (reforçar o bully, juntar-se ao bully, rir-se da vítima em posts
ou partilhar o texto ou fotografia com outros) ou não agir de todo ao adotar uma atitude passiva ou
comportamento passivo (Shultz, Heilman, &.Hart, 2014). Há algumas explicações possíveis para a
atuação ou não atuação dos observadores e Batstiaensens, Vandebosch, Van Cleemput e Desmet
(2013) relacionam a intervenção ou a não intervenção dos observadores com características
próprias suas (e.g. personalidade, medo de sofrer retaliações ou receio de juízos de valor por parte
dos outros). Outros autores (Holfeld, 2014), mencionam o modelo atribucional de Weiner (1993)
12
como modelo explicativo da intervenção dos observadores, em que fatores como a percepção do
controlo, a atribuição da responsabilidade e da culpa podiam influenciar a atuação dos
observadores. Por exemplo, vítimas pouco atraentes ou pouco populares justificavam a atuação do
agressor, assim como aquelas que ignoravam os agressores eram percecionadas pelos observadores
como vítimas que tinham a situação controlada. Este comportamento pode ainda ser explicado pelo
Modelo da Intervenção do Observador (Latané & Darley, 1970), que impera há já quase quatro
décadas. O MIB, procura justificar as condições pelas quais os observadores escolhem ou não
ajudar outros em situações de emergência. O modelo inclui cinco etapas, que são, 1) detectar o
acontecimento; 2) interpretar o acontecimento como emergência; 3) assumir responsabilidade
pessoal por intervir; 4) determinar quais as ações necessárias para intervir e 5) providenciar ajuda
(Dillon, & Bushman, 2014). Exemplificamos a seguir o que acontece numa situação de
cyberbullying de acordo com este modelo. Primeiro, o observador deteta que algo está a acontecer,
depois de detectar o acontecimento avaliará a gravidade da situação. Caso a interprete como uma
emergência passa para a etapa seguinte, onde assume que tem responsabilidade por intervir. Ao
assumir a sua responsabilidade em enfrentar a situação, irá determinar quais as ações mais eficazes
para si e que acredita porem termo ao acontecimento. Por fim, coloca em prática as ações
previamente selecionadas. Quando o observador atua deixa de ser um observador passivo para
transformar-se num agente ativo, que Power (2003) designa por upstander. A partir do momento
em que os observadores intervém junto das vítimas, dos agressores ou sobre o foco que
desencadeou o incidente de cyberbullying deixam de ser apenas observadores para desempenharem
um papel importante na prevenção ou exacerbação do fenómeno (Barlinska et al., 2013; Latané &
Darley, 1970; Poyhonen et al., 2012; Wong-Lo, & Bullock, 2014). A não intervenção do
observador pode estar relacionada com fatores, como por exemplo, a percepção de ausência de
respostas eficazes para colocar termo ao fenómeno (auto-eficácia) (Desmet et al., 2014), ou
emoções, como por exemplo, o medo (Baroncelli, & Ciucci, 2014). Estes são alguns exemplos de
fatores que podem contribuir para a não intervenção do observador, mas existem outros, Latané e
13
Darley (1968) e Bandura (2001) falam do conceito de difusão de responsabilidade para justificar a
não atuação dos observadores. Latané e Darley (1968), concluíram que perante uma situação de
emergência os observadores avaliam sempre os custos e os benefícios da sua não atuação. Quando o
indivíduo está na presença de outros assume que a responsabilidade por intervir é de todos e
acontece aquilo a que se chama de difusão da responsabilidade. Quando o indivíduo está sozinho a
responsabilidade por intervir é somente sua. Se não atuar, a responsabilidade e a culpa serão
atribuídas somente a si enquanto que se outros estiverem presentes a responsabilidade e os
sentimentos de culpa e vergonha serão distribuídos por todos. (Latané & Darley, 1968). Bandura
(2001) na perspetiva da Teoria Social Cognitiva (1977) considera que a difusão da responsabilidade
é parte integrante de um conjunto de comportamentos adotados pelos indivíduos que servem para
justificar os seus atos antissociais sem se sentirem culpados ou se censurarem ao “desligar” os seus
padrões morais (Bandura, 2001; Bessey, Fitzpatrick, & Raman, 2015) a que ele define como
comportamentos de desengajamento moral. Estes dois conceitos podem justificar igualmente, a não
atuação dos observadores.
É importante referir que este estudo não pretende analisar o comportamento dos observadores
nas cinco etapas do Modelo de Intervenção do Observador (Latané & Darley, 1970), pois, um dos
objetivos deste estudo consiste em estudar as estratégias de enfrentamento por eles adotadas, que
cocorre na etapa cinco e, assim, o estudo cinge-se apenas à etapa cinco do modelo. Este estudo,
acrescenta valor ao modelo porque para além de analisar-se o comportamento dos observadores,
pretende-se estudar o que os observadores sentem após atuarem ou não, constituindo-se uma
novidade na literatura.
Em suma, para que o observador se transforme num upstander é importante compreender quais
as estratégias de enfrentamento por ele utilizadas, bem como as emoções associadas à sua atuação,
para que se possam desenvolver estratégias que aumentem os seus comportamentos prossociais e,
consequentemente, adquiram estratégias de enfrentamento adequadas, sendo isso a que este estudo
se propõe.
14
4. As estratégias de enfrentamento dos observadores no cyberbullying
A estratégias de enfrentamento poderão ser descritas como os comportamentos adotados pelos
observadores com o intuito de atuar ou não atuar sobre um incidente de cyberbullying observado.
Na literatura, (Desmet et al, 2014) os autores utilizam o conceito de coping para descrever os
comportamentos adotados pelas vítimas de cyberbullying. Neste estudo, utilizaremos o termo
estratégia de enfrentamento para descrever a forma como os observadores enfrentam o
cyberbullying, já que este estudo não avalia o grau de impacto que a observação do fenómeno
provoca no observador. Ainda assim, considera-se importante definir o conceito de coping, uma vez
que este estudo procura igualmente analisar a influência da sobreposição de papéis (observadores
cybervítimas e observadores cyberagressores) na forma como enfrentam o acontecimento
observado e ainda as emoções associadas à sua intervenção. Assim, o Coping, é definido pelas
estratégias cognitivas e comportamentais adotadas pelos indivíduos, com a intenção de reduzir as
respostas negativas provocadas por um acontecimento aversivo (Lazarus & Folkman, 1987). Do
ponto de vista histórico, embora os estudos sobre coping tenham tido início em adultos, as
estratégias de coping adotadas pelos adolescentes rapidamente ganharam importância. Autores (Na,
Dancy, & Park, 2015), recorrem ao Modelo Transacional de Stress e Coping (TMSC) ou
abordagem transacional de coping, para explicar a forma como as vítimas cooperam com o
cyberbullying. O TMSC foca-se em dois conceitos chave fundamentais que são a avaliação
cognitiva e o coping (Lazarus & Folkman, 1987). Num breve resumo, a avaliação cognitiva é
definida pela forma como as vítimas de cyberbullying interpretam o agente stressor (estímulo ou
acontecimento externo ao indivíduo como é o caso do cyberbullying) e são importantes no sentido
em que “selecionam” as estratégias de coping que consideram mais adequadas para lidar com o
problema (Raskauskas, & Huynh, 2015). Este estudo, não analisa as estratégias de coping mas sim
as estratégias utilizadas pelos observadores para enfrentar uma situação de cyberbullying observada.
No coping, existem vários tipos de estratégias: as estratégias de coping focadas no problema e as
estratégias de coping focadas na emoção. Também neste estudo, as estratégias de enfrentamento
15
adotadas pelos observadores podem ser variadas e este estudo procurará analisá-las . Assim, poder-
se-á encontrar estratégias de enfrentamento voltadas para a resolução da situação ou estratégias de
enfrentamento relacionadas com a não resolução da situação. No coping, as estratégias de coping
focadas no problema são aquelas utilizadas pelos indivíduos que procuram o confronto e a procura
de soluções para o problema (Na, Dancy, & Park, 2015; Sticca, Ruggieri, Alsaker, & Perren, 2015)
e que inclui as estratégias de resolução do problema e a procura de suporte social (Parris, Varjan,
Meyers, & Cutts, 2012; Na, Dancy, & Park, 2015). As Estratégias de coping focadas nas emoções
têm como objetivo regular as emoções relacionadas com a situação. Englobadas nas estratégias de
coping focadas nas emoções, Terry e Kynes (1998) consideram a existência de duas formas de
reagir, e são elas, as estratégias de aproximação e de evitamento. Um exemplo de uma estratégia de
evitamento consiste em não fazer nada relativamente ao problema ou evitar pensar nele e, inclui,
distanciamento cognitivo, internalização das emoções ou externalização das emoções. Neste estudo,
os observadores, poderão adotar estratégias de enfrentamento que não resolvem o problema e entre
elas, estratégias de evitamento. Na literatura, poucos estudos existem sobre as estratégias de atuação
dos observadores, pelo que este estudo irá referir algumas estratégias de coping, adotadas pelas
vítimas de cyberbullying, que contribuam para a compreensão das várias estratégias de
enfrentamento que podem ser adotadas pelos observadores.
Jacobs, Dehue, Vollink e Lechner (2014), por considerarem o impacto que o cyberbullying tem
nas vítimas adolescentes e, por atribuírem importância às estratégias de coping como forma de
redução do stress imediato e de prevenir as consequências a longo prazo, identificaram os fatores
que influenciavam a adoção de estratégias de coping mais eficazes e menos eficazes para lidar com
o cyberbullying. Os determinantes que influenciavam as estratégias de coping ineficazes foram os
determinantes ambientais (e.g. fraca supervisão parental e supervisão na escola), determinantes
psicológicos (e.g. estratégias de coping focadas nas emoções, falta de conhecimento sobre
estratégias de coping), determinantes pessoais e comportamentais (e.g. fracas competências sociais,
limitações nas competências de resolução de conflitos, estilo de comunicação desadequado,
16
isolamento e experiência anterior de vitimização). Para os determinantes preditores de estratégias de
coping eficazes os autores referem as dimensões psicológicas (e.g. expetativas de resultados
positivos, elevada autoestima, e autoeficácia, conhecimento sobre as formas de reportar o
cyberbullying e assertividade), dimensão ambiental (e.g. suporte social dos pais, pares e
professores, influência social positiva) e dimensões pessoal e comportamental (e.g. boa saúde
mental, elevadas competências sociais).
Na sequência do estudo anterior, no presente estudo, procura-se identificar as estratégias de
enfrentamento mais utilizadas pelos observadores o que facilita a identificação daquelas mais
adequadas e menos adequadas.
Em observadores, autores (Desmet, et. al., 2015) referem como fatores que prediziam a
atuação dos observadores no cyberbullying a influência de experiências passadas como cybervítima
ou como cyberagressor, emoções e estados de espírito, a cultura, a personalidade e o tipo de
exposição. Dos resultados obtidos, verificou-se que a maioria dos observadores adotou um
comportamento passivo (55%) e outros ofereceram suporte social à vítima (48,7%). Dos
observadores que decidiram atuar, a vítima era sua conhecida ou eles próprios já tinham sido
vítimas de cyberbullying. No presente estudo, serão analisadas também as emoções experenciadas
pelos observadores, porém, pretende-se analisar as emoções sentidas pelos observadores após a
adoção de uma estratégia de enfrentamento e não antes, como foi investigado no estudo de Desmet
et al., (2015). Para além disso, o estudo anterior, verificou que dos observadores que atuaram no
fenómeno, alguns já tinham sido vítimas antes. Com este estudo, pretende-se acrescentar valor ao
analisar-se a influência que já ter sido cybervítima ou cyberagressor tem na adoção de uma
estratégia de coping e nas emoções sentidas após a atuação dos observadores. Assim, este estudo
procura trazer um contributo importante, para que no futuro se possa desenvolver nos observadores,
quer sejam cyberagressores ou cybervítimas, comportamentos prossociais para a adoção de
estratégias de enfrentamento adequadas. Em Portugal, num estudo exploratório e descritivo dirigido
a uma população de jovens adultos foi-lhes solicitado que se lembrassem de situações de
17
cyberbullying que tivessem experenciado ou observado enquanto adolescentes (Souza, Veiga
Simão, & Caetano, 2014). Das estratégias de enfrentamento referidas pelos jovens, as mais
frequentes foram as estratégias de ajuda direta (61%) e as estratégias de ajuda indireta (19,4%).
A presente investigação procura dar um contributo importante ao analisar as estratégias de
enfrentamento adotadas pelos jovens adolescentes. Embora já existam alguns estudos sobre forma
como os observadores lidam com o cyberbullhying, a investigação nesta área é ainda escassa
quando comparada com os estudos que analisam as estratégias de coping adotadas pelas vítimas.
De acordo com o acima exposto, com o presente estudo pretende-se analisar as estratégias de
enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying, bem como analisar as emoções
associadas às estratégias de enfrentamento por eles utilizadas.
5. As Emoções e o coping
Os Estudos sobre as emoções não são recentes e já Lazarus e Folkman (1984) no seu modelo
transacional de stress e coping relatam a sua importância. A Emoção pode ser definida como uma
“reaç ão subjetiva a um evento saliente, caracterizada por mudanças fisiológicas, experienciais e
comportamentais. É melhor compreendida como um processo dinâmico e um sistema organizado
em volta de componentes interdependentes que vão originar diferenças individuais na forma de
experienciar as emoções ao longo do desenvolvimento (Sroufe, 1995).
No modelo transacional de stress e coping, as emoções são variáveis importantes na
determinação das estratégias de coping e influenciam as avaliações cognitivas primárias e
secundárias dos sujeitos. As emoções influenciam as respostas do indivíduo e existem emoções
antecipatórias de ameaça ou de desafio (antes das avaliações cognitivas) e emoções para avaliar os
danos e os benefícios após a execução da estratégia de coping (Lazarus & Folkman, 1987). No
modelo de Lazarus e Folkman (1984), a emoção era considerada como moderadora das estratégias
de coping e existia uma relação unidirecional entre emoção e coping. Contudo, em 1988, os autores
verificaram que não existia uma relação unidirecional entre a emoção e o coping mas sim uma
18
relação bidirecional, ou seja, a emoção influenciava as estratégias de coping e as estratégias de
coping modificavam as emoções experenciadas anteriormente. Os mesmos autores identificaram
quatro tipos de emoções num processo de coping, com base nas avaliações cognitivas de um
sujeito: as avaliações antecipatórias de ameaça que podem ser, por exemplo, avaliações feitas antes
de um exame ou antes de utilizarem uma determinada estratégia de coping no cyberbullying (e.g.
medo e preocupação), as avaliações de desafio (e.g. confiança), avaliação de danos (e.g. raiva e
desgosto) e avaliações de benefício (e.g. alívio e felicidade). Este modelo é muito semelhante àquilo
que acontece no modelo de intervenção do observador de Latané e Darley (1970), em que primeiro
o sujeito deteta que algo está a acontecer, numa segunda etapa interpreta o acontecimento como
sendo emergência ou não e numa terceira etapa assume responsabilidade por intervir, ou não. Para
isso, é necessário que processos psicológicos e processos cognitivos estejam envolvidos nesta
avaliação. Numa quarta fase, o indivíduo seleciona as estratégia de atuação que considera mais
adequadas (avaliação cognitiva) e numa quinta fase aciona essas estratégias. Ao longo deste
processo, tal como acontece na abordagem transacional de coping as emoções são mediadoras das
respostas do indivíduo, existindo emoções antecipatórias de ameaça ou de desafio (antes das
avaliações cognitivas) e emoções para avaliar os danos e os benefícios após a execução da
estratégia de coping. Há emoções que podem influenciar a atuação do observador ou não, na etapa
cinco do modelo. Emoções como o medo de poder vir a ser o próximo a sofrer retaliações ou vir a
ser julgado pelos outros observadores, medo de perder privilégios relacionados com as novas
tecnologias, ou insegurança e confusão sobre a forma como colocar em prática os seus atos, podem
justificar a não intervenção das ações. A emoção medo não necessita ser exclusiva à etapa cinco, ela
pode estar presente em qualquer uma das etapas anteriores e justificar igualmente a não intervenção
do observador. Aqueles que não atuam e possuem baixos níveis de desengajamento moral podem
experenciar sentimentos de culpa, ou seja, os observadores que têm um elevado nível de valores
morais e experenciam emoções positivas podem sentir mais culpa e vergonha por não ajudarem
outros e vão utilizar como mecanismo de defesa o desengajamento moral (Desmet et al., 2014).
19
Ainda Lazarus e Folkman (1987), identificaram quatro tipos de estratégias de coping capazes de
produzir mudanças nas emoções: as estratégias de coping de resolução do problema, as estratégias
de reavaliação positiva, o coping de confronto e o distanciamento. Enquanto que as estratégias de
coping focadas na resolução de problemas e a reavaliação positiva melhoravam as emoções sentidas
pelos sujeitos, as estratégias de confronto e de distanciamento pioravam. Estudos recentes
concluíram que as vítimas de cyberbullying que utilizavam estratégias de coping de evitamento
tinham maior probabilidade de sofrer de depressão (Vollink, Bolman, Dehue, & Jacobs, 2013) do
que aquelas que utilizavam as estratégias de coping mais voltadas para a ação. Este resultado,
reforça a importância deste estudo e a relevância de dotar os observadores de estratégias de
enfrentamento que lhes permitam atuar junto das vítimas ou do foco que desencadeou o
cyberbullying e reduzir as consequências negativas. Existem vários estudos (Baroncelli, & Ciucci,
2014; Caetano, Freire, Veiga Simão, Martins, & Pessoa, 2016; Caravita, Colombo, Stefanelli, &
Zigliani, 2016) que procuram identificar as emoções sentidas pela vítima, pelo agressor depois de
terem sido maltratadas ou maltratarem alguém, respetivamente, e escassos estudos sobre as
emoções sentidas pelos observadores após observarem um incidente de cyberbullying. Nesse
sentido, numa tentativa de investigar as emoções sentidas pelos observadores de cyberbullying,
Caravita, Colombo, Stefanelli e Zigliani (2016) procuraram identificar as emoções por eles sentidas
e constataram que após a apresentação de um vídeo com conteúdos de cyberbullying surgiram
emoções como raiva, medo, vergonha e nojo, principalmente em observadores que já tinham sido
vítimas de bullying e de cyberbullying. Em Portugal, Caetano, Freire, Veiga Simão, Martins e
Pessoa (2016), identificaram as emoções sentidas pelas vítimas e agressores de cyberbullying e
constataram que as vítimas tendem a sentir emoções como a tristeza, vontade de vingança e o medo,
enquanto os agressores tendem a sentir satisfação, indiferença, alívio e prazer. As emoções sentidas
pelos agressores pode estar relacionada com as especificidades relacionadas com o fenómeno do
cyberbullying. Ortega (2009), refere que a emoção é um processo complexo e que depende em
muito da interação social, da comunicação e, que as emoções regulam-se mediante um sistema
20
sofisticado de autocontrolo e de controlo externo, em que a percepção da reação dos outros ao nosso
comportamento tem um papel importante. Quem nos observa atua como moderador e mediador do
nosso comportamento e das emoções sentidas.
Torna-se assim importante definir regulação emocional, e Gross (2001) inclui na sua definição
todas as estratégias conscientes e inconscientes que se utiliza para aumentar, manter ou reduzir um
ou mais componentes de uma resposta emocional. Estes componentes são os sentimentos,
comportamentos e respostas psicológicas. Já no modelo de stress e coping os indivíduos fazem
recurso à regulação emocional quando utilizam estratégias de coping focadas nas emoções. Os
valores sociais desempenham um papel importante na regulação emocional, pois não magoamos os
outros porque é socialmente sancionatório (Ortega, 2009). Contudo, Baroncelli e Ciucci (2014)
reportam que a perceção de dificuldades na regulação emocional é preditor de cyberbullying e não
de bullying, parecendo ser mais fácil alguém se tornar agressor no cyberbullying, o que justifica a
maior prevalência de sobreposição de papéis no cyberbullying, ao que este estudo procura
contribuir ao identificar as emoções sentidas por observadores cybervítimas e observadores
cyberagressores após a adoção de uma estratégia de enfrentamento.
Na literatura, existe investigação sobre as emoções sentidas pelas vítimas (Caetano, Freire,
Veiga Simão, Martins, & Pessoa, 2016), agressores (Baroncelli, & Ciucci, 2014; Caetano, Freire,
Veiga Simão, Martins, & Pessoa, 2016) e observadores (Caravita, Colombo, Stefanelli, & Zigliani,
2016), embora todos os estudos se debrucem sobre as emoções sentidas sobre o cyberbullying e não
sobre as emoções sentidas após a adoção de um comportamento. Na literatura não existem
evidências de estudos sobre as emoções sentidas pelos observadores após terem adotado uma
estratégia de enfrentamento, ao que este estudo procura dar um contributo importante nessa área,
uma vez que há autores (Lazarus & Folkman, 1988) que relatam a importância que as emoções têm
ao longo de todo o processo de coping, neste estudo, estratégias de enfrentamento. Para isso, neste
estudo, as emoções são classificadas como positivas ou negativas (Ekman, 2003) e considera-se que
que se os observadores experenciarem emoções positivas após agirem, a probabilidade de voltarem
21
a agir em situações de cyberbullying pode ser grande, contudo, se os observadores após
experenciarem emoções negativas, a probabilidade de agirem noutras situações de cyberbullying
pode ser reduzida e o que se pretende é que desenvolvam atitudes prossociais.
Assim, o observador numa situação de cyberbullying, ao utilizar uma determinada estratégia de
enfrentamento, poderá experienciar emoções que poderão ser positivas ou negativas, consoante a
estratégia adotada (Ortega, 2009). No presente estudo, pretende-se analisar as emoções sentidas
pelos observadores após adotarem uma estratégia de enfrentamento e se estas estratégias estão
relacionadas com emoções positivas e/ou negativas, por se considerar que as emoções por eles
sentidas após agirem pode influenciar a sua atuação como observadores em situações futuras de
cyberbullying.
22
Capítulo II – Metodologia de investigação
1.Objetivos da investigação e Questões de Investigação
Este é um estudo exploratório e descritivo do comportamento dos observadores de
cyberbullying numa amostra por conveniência de estudantes do 3º Ciclo e Secundário do Ensino
Privado de uma escola da região de Lisboa. O presente estudo utiliza uma metodologia quantitativa
operacionalizada por um questionário designado por “Inventário de Incidentes Observados de
Cyberbullying (I.I.O.C.). Este estudo insere-se no âmbito de dois projetos de investigação
aprovados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)1
(objeto de RAPI, com aprovação a
dia 18 fevereiro de 2016) e tem como objetivo geral analisar o comportamento dos observadores de
cyberbullying e as emoções associadas após a adoção de um comportamento. Pretende-se ainda
averiguar nos observadores, a influência que experiências como cybervítima ou cyberagressor têm
no seu comportamento e emoções associadas ao mesmo. Desta forma, foram delineados quatro
objetivos, a partir dos quais foram lançadas algumas questões de investigação, que se apresentam
em seguida:
Objetivo 1: Analisar as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying.
Questão de Investigação 1: Quais as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de
cyberbullying?
Objetivo 2: Investigar as emoções sentidas pelos observadores de cyberbullying depois de terem
adotado uma estratégia de enfrentamento.
Questão de Investigação 2: Quais a emoções sentidas pelos observadores de cyberbullying
relativamente à adoção de uma estratégia de enfrentamento?
1
Este estudo insere-se em dois projetos aprovados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), um deles registado com o
título: Cyberbullying: A regulação do comportamento através da linguagem, e com a referência: TDC/MHCPED/3297/2014,
desenvolvido em parceria e com a colaboração do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Investigação e
Desenvolvimento em Lisboa (INESC ID/INESC/IST/Ulisboa e a Altice Labs, S. A.) e o outro, registado com o título: The Bystander
effect in cyberbullying - taking responsibility and interventive decision making through the regulation of behavior e, com a
referência: SFRH/BPD/110695/2015.
23
Objetivo 3: Analisar a influência que já ter sido cybervítima ou cyberagressor tem na adoção de
uma estratégia de enfrentamento adotada pelos observadores.
Questão de Investigação 3: A experiência como vítima ou agressor de cyberbullying influencia as
estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying?
Objetivo 4: Investigar a influência que já ter sido cybervítima ou cyberagressor tem nas emoções
sentidas pelos observadores após a adoção de uma estratégia de enfrentamento.
Questão de Investigação 4: A experiência como vítima ou agressor de cyberbullying influencia as
emoções associadas às estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying?
Neste estudo, de acordo com a literatura revista, vamos analisar as estratégias de
enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying, bem como as emoções associadas, de
acordo com o Modelo de Intervenção do Observador (Latané & Darley, 1970). A par, iremos
investigar a influência que as experiências anteriores podem ter na seleção de estratégias de
enfrentamento e nas emoções associadas.
2. Caracterização da Amostra
Do total da amostra deste estudo salienta-se que 248 participantes são do sexo feminino
(53.7%) e 214 participantes são do sexo masculino (46,3%). Salienta-se que 67 dos adolescentes
não responderam a esta questão. Na amostra total, quanto à idade e ao género, a maior percentagem
de participantes situa-se nos 13 anos de idade (125 participantes, 25,6%) (ver tabela 2.1).
Tabela 2.1. Distribuição dos alunos por género e idade (n= 529).
____________________________________________________________
11 12 13 14 15 16 17 18 Total
____________________________________________________________
Feminino 1 77 70 31 28 44 29 0 248
Masculino 4 35 55 29 32 35 26 1 214
Total 577 125 60 60 79 55 1 462
________________________________________________________________________________
Quanto à distribuição dos alunos por género e ano de escolaridade, 130 dos inquiridos
frequentam o 7º ano de escolaridade correspondendo a 26,6% do total da amostra. Salienta-se que
2,1% dos participantes (11) não responderam a esta questão (Anexo II.1).
24
Quanto ao acesso à Internet 96,2% disseram ter acesso à Internet a partir de qualquer
dispositivo eletrónico enquanto que 3,8% referiu não ter acesso à Internet. Dos participantes que
utilizaram Internet, o dispositivo eletrónico mais utilizado por eles para aceder à Internet foi o
telemóvel (98,3%) (Anexo II.2, Anexo II.3, Anexo, II.4 e Anexo II.5).
Relativamente ao número de horas dispendido na Internet verificou-se que 43,9% (232) do total
da amostra, gastam, na sua maioria, entre uma a duas horas do seu tempo diário. Verificou-se que
tanto as raparigas como os rapazes dedicam entre uma a duas horas à Internet (105 participantes do
sexo feminino e 90 sujeitos do sexo masculino) (Anexo II.6).
3.Procedimento
Para a recolha dos dados, a direção de um estabelecimento de ensino privado foi contactada de
forma a apurar o seu interesse no presente estudo. Neste primeiro contacto foi enviada uma
informação de apresentação/explicação do estudo, bem como dos seus objetivos para aprovação da
direção da escola. Após a aprovação da escola, todos os Encarregados de Educação dos jovens, com
as idades pretendidas, foram convidados a permitir a participação dos seus educandos no projeto,
através de um consentimento informado, com a informação relativa ao estudo, onde comunicaram a
sua decisão. No documento, para além de ser descrito o estudo, era assegurada a confidencialidade,
a presença de um psicólogo clínico sempre que solicitado pelos alunos, e dada a informação de que
os participantes poderiam desistir a qualquer momento do estudo. Após terem sido recebidas as
autorizações dos Encarregados de Educação procedeu-se à recolha dos dados. Os Inventários foram
preenchidos individualmente e entregues aos adolescentes pela psicóloga escolar do estabelecimento
de ensino. O instrumento de avaliação foi acompanhado de uma folha com um texto de
apresentação, onde constavam os objetivos essenciais do estudo, a importância da participação, bem
como as questões relacionadas com o anonimato e confidencialidade das respostas, o caráter
voluntário da participação, a possibilidade de desistência em qualquer momento do preenchimento
do instrumento e a possibilidade para solicitarem o apoio de um psicólogo clínico se considerassem
25
necessário. A cada um dos questionários foi atribuído um código com o propósito de facilitar toda a
identificação contida. Após a recolha dos dados, estes foram introduzidos no programa estatístico
SPSS através da plataforma TELEFORM.
4.O Instrumento
Para a recolha dos dados, foi pedida a colaboração da Direção escolar, dos Encarregados de
Educação e dos participantes da investigação para que estes últimos respondessem ao Inventário de
de Incidentes Observados de Cyberbullying (I.I.O.C.). O IIOC é constituído por 150 itens
distribuídos por 10 escalas com perguntas de resposta aberta e fechada e tem como objetivo analisar
o comportamento dos observadores perante um incidente de cyberbullying. Algumas das escalas do
IIOC ainda se encontram numa fase de estudo. Para este estudo, utilizaram-se as escalas quatro e
cinco do IIOC. A escala quatro analisa as estratégias de coping adotadas pelos observadores
(“Decidi intervir na situação”; “Contei aos pais da(s) vítima(s)”) e as respostas foram registadas
numa escala de 5 pontos em que 1 significa “Nunca” e 5 significa “Sempre”. A escala cinco analisa
15 emoções sentidas pelos observadores após terem adotado uma estratégia de enfrentamento
(“Senti-me revoltado(a)”) e as respostas foram registadas numa escala de 5 pontos em que 1
significa “Nada” e 5 significa “Muito”.
5.Análise de dados
Os dados foram introduzidos e analisados estatísticamente utilizando-se o programa estatístico
SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 23.0 e o programa Factor Analysis versão
10.3.01. Para analisar os dados obtidos utilizaram-se vários métodos de análise exploratória de
dados, a análise fatorial, a análise de correlação de variáveis e a análise de regressão linear simples.
Para o estudo da estrutura fatorial do instrumento de medida, recorreu-se a uma análise fatorial
exploratória, que foi apoiada pelos valores obtidos nos testes KMO (Kaiser-Meyer-Okin) e de
Esfericidade de Bartlett. A estrutura fatorial foi estudada através da análise fatorial exploratória
pelo programa Factor Analysis. A precisão do instrumento utilizado foi avaliada através de uma
26
análise de consistência interna (Cálculo do Alfa de Cronbach) e das correlações entre as subescalas
do instrumento. As correlações entre as escalas do instrumento de medida foram calculadas através
do coeficiente de Pearson, tendo sido considerado os níveis de significâncias de .01 e .05. Para
analisar a predição de variáveis foi utilizada uma regressão linear simples.
27
Capítulo III – Análise e discussão dos resultados
Neste capítulo, será apresentada uma breve análise das qualidades psicométricas do
instrumento utilizado (IIOC) e as estatísticas descritivas consideradas relevantes para o estudo em
causa.
1Análise das qualidades psicométricas do IIOC
O IIOC, foi adaptado do Questionário de Cyberbullying no Ensino Superior (QCES)
(Francisco, Veiga Simão, Ferreira, & Martins, 2015; Ferreira, Veiga Simão, Ferreira, Souza, &
Francisco, 2016), nomeadamente, da escala dos observadores das vítimas. Para testar a validade do
construto, o QCES foi sujeito a análise exploratória e confirmatória para a população portuguesa e
revelou uma boa consistência interna na escala dos observadores das vítimas (alfa de Cronbach de
0.97).
No presente estudo, num primeiro momento, efetuou-se uma análise fatorial dos itens da escala
quatro que mede as estratégias de enfrentamento e da escala cinco que mede as emoções sentidas
após a adoção de uma estratégia de atuação. Para a escala de estratégias de enfrentamento, a
estrutura relacional dos vários tipos de estratégias face ao cyberbullying é explicada por quatro
fatores. Após a análise fatorial foram confirmados os fatores: Estratégias de enfrentamento
agressivo, estratégias de enfrentamento de denúncia, estratégias de enfrentamento de suporte social
e estratégias de enfrentamento de evitamento. Foram excluídos os itens 3, 13, 21 e 23 dado que não
obtiveram peso fatorial em nenhum dos quatro fatores (Anexo III.1) Pode verificar-se que as quatro
subescalas apresentam uma boa consistência interna (ver tabela 3.1).
Tabela 3.1. Coeficientes alfa de Cronbach para as subescalas de estratégias de enfrentamento
do IIOC (n=529)
_______________________________________________________________________________
Tipos de Estratégias de enfrentamento Alfa de Cronbach ((α)
Estratégia de enfrentamento agressivo .84
Estratégia de enfrentamento de denúncia .82
Estratégia de enfrentamento de suporte social .91
Estratégia de enfrentamento de evitamento .78
______________________________________________________________________________
28
Em segundo lugar, foi efetuado o mesmo procedimento par a escala cinco que mede as
emoções. A estrutura relacional que mede as emoções sentidas face à adoção de uma estratégia de
enfrentamento no cyberbullying é explicada por dois fatores (Anexo III.2). Pode verificar-se que as
as duas subescalas apresentam uma boa consistência interna (ver tabela 3.2).
Foram excluídos os itens 6, 9 e 14 dado que não obtiveram peso fatorial em nenhum dos dois
fatores.
Tabela 3.2. Coeficientes alfa de Cronbach para as subescalas das emoções do IIOC (n=529)
_______________________________________________________________________________
Tipos de emoções Alfa de Cronbach ((α)
Emoções positivas .84
Enoções negativas .87
________________________________________________________________________________
2.Estatística Descritiva e Correlações
Os sujeitos desta investigação apresentam uma média, no que diz respeito às emoções
positivas, a rondar o ponto 2 (“um pouco”), o que significa que perante uma determinada ação sua,
para a amostra total, em média os sujeitos sentem um pouco sensação de bem-estar. A média das
emoções negativas ronda o ponto 2 (“um pouco”), o que significa que perante uma determinada
ação levada a cabo pelos sujeitos, estes sentem um pouco emoções desagradáveis perante uma ação
ou a inação face a um acontecimento de cyberbullying.
Para o total da amostra, em média, os sujeitos, utilizam poucas vezes estratégias de
enfrentamento de evitamento (a rondar o ponto 2). As estratégias de evitamento de suporte rondam
o ponto 3 (“algumas vezes”), o que significa que perante uma situação de cyberbullying, em média,
os sujeitos utilizam estratégias de suporte para com a vítima, algumas vezes. As estratégias de
enfrentamento de denúncia e as estratégias de enfrentamento agressivo são utilizadas, em média,
poucas vezes (ponto 2). Os resultados permitem-nos concluir que os jovens utilizam mais, em
média, as estratégias de enfrentamento de suporte face às outras, perante uma situação de
cyberbullying, assim como, tanto sentem um pouco emoções positivas quanto negativas após uma
ação ou inação (ver tabela 3.3.)
29
Tabela 3.3. Médias e Desvios-padrão das variáveis (n = 529)
________________________________________________________________________________
Média Desvio-Padrão
Emoções Pos. 1.6 0.91
Emoções Neg. 1.9 0.72
Enfrentamento de Evitamento 2.3 1.03
Enfrentamento de Suporte 3 0.91
Enfrentamento de Denúncia 1.4 0.61
Enfrentamento Agressivo 1.2 0.42
____________________________________________________________
As correlações entre as variáveis em estudo podem ser observadas no Quadro 1. De acordo
com os resultados apresentados no quadro 1, é de salientar a existência de uma correlação positiva
entre as estratégias de enfrentamento agressivas e as emoções positivas, embora fraca, o que
significa que após a adoção de uma estratégia de enfrentamento agressiva os observadores de
cyberbullying experienciam emoções de bem-estar. A variável estratégias de enfrentamento de
denúncia apresenta uma correlação positiva, moderada, com as estratégias de enfrentamento de
suporte, pois ao denunciar os observadores estão a providenciar a resolução do problema. Existe
uma correlação igualmente positiva entre as estratégias de enfrentamento de denúncia e as emoções
positivas e emoções negativas, embora fraca, para ambas. As estratégias de enfrentamento de
suporte estão correlacionadas positivamente com as emoções positivas e com as emoções negativas,
sendo que existe uma correlação moderada com as emoções negativas e uma correlação fraca com
as emoções positivas.
Quadro 1. Correlações das variáveis do estudo (coeficiente de Spearman)
Enfrentamento
Agressivo
Enfrentamento
Denúncia
Enfrentamento
Suporte
Enfrentamento
Evitamento
Emoções
Pos.
Emoções Neg.
Enfrentamento
Agressivo
-
Enfrentamento
Denúncia
0,073 -
Enfrentamento
Suporte
0,062 0,493(**) -
Enfrentamento
Evitamento
0,051 -0,235 (**) -0,215 (**) -
Emoções Pos. 0.308(**) 0,275(**) 0,300(**) -0,174(**) -
Emoções Neg. 0,041 0,240(**) 0,438(**) -0,064 0,020 -
N= 529
** valores significativos para p<0.01
30
Em resposta à Questão de Investigação 1, na tabela 3.4 apresentam-se as distribuições das
frequências das respostas dadas pelos observadores referente às diferentes estratégias de enfren
tamento adotadas face uma situação de cyberbullying. Em destacado (em negrito) estão as
estratégias de enfrentamento mais utilizadas pelos observadores.
Pode aqui concluir-se que as estratégias de enfrentamento mais utilizadas são as estratégias de
suporte social, seguidas das estratégias de evitamento, seguem-se as estratégias de denúncia e por
último as estratégias agressivas.
A estratégia de enfrentamento mais utilizada pelos observadores é em 90% do total da amostra
(468) “Apoiei a(s) vítima(s) tal como outra(s) pessoa(s) que viu/viram o mesmo que eu”. 88,3% dos
jovens (459) reparou que existiam outras pessoas a ver o mesmo que eles e 87,1% (451) decidiu
ajudar as vítimas. 78,4% dos jovens (409) contou a alguém da sua confiança. Todas estas
estratégias de enfrentamento são estratégias de suporte social e que providenciam suporte às
vítimas, tão importante como já referido por vários autores (Desmet et al., 2015; Quirk & Campbell,
2014) que consideram a sua relevância na minimização das consequências negativas do
cyberbullying, para as vítimas. Os jovens observadores adotam em 78,3% (407) estratégias de
evitamento, como por exemplo, ignorar o acontecimento assim como outros que viram o fizeram.
Esta situação já foi descrita noutros estudos (Batstiaensens, Vandebosch, Cleemput & Desmet,
2013) e justificam que a não atuação dos jovens por evitamento pode ser devida a características
próprias suas, como é o caso da personalidade, medo de sofrer retaliações ou receio de sofrer juízos
de valor por parte dos outros.
Em resposta à questão de Investigação dois, relativamente às emoções sentidas pelos
observadores após a adoção de uma estratégia de enfrentamento, podemos observar na tabela 3.5,
que as emoções por eles mais sentidas são a revolta (77,3%), a tristeza (65.2%), a confusão (54%),
sentirem-se indefesos (43.1%), a insegurança (39.5%) e o medo (37.6%). Daqui podemos concluir
que todas pertencem à dimensão das emoções negativas.
31
Da dimensão das emoções positivas aquela que é por eles mais exeperenciada é o orgulho
(34%). Em resposta à Questão de Investigação 3, ter uma experiência como cyberagressor ou como
cybervítima não influencia as estratégias de enfrentamento, pois tanto os observadores
cyberagressores como os observadores cybervítimas utilizam com mais frequência a estratégia de
suporte social, seguida da estratégia de evitamento, estratégia de denúncia e por último o
enfrentamento agressivo (Anexo III.3 e Anexo III.4).
Em resposta à Questão de Investigação 4, os resultados indicam que os observadores que já
foram cyberagressores adotam como estratégias de enfrentamento, as estratégias agressivas, as de
denúncia, as de suporte social e de evitamento, com correlação positiva com as emoções positivas.
Existe uma correlação positiva moderada entre o enfrentamento agressivo e as emoções positivas e
o enfrentamento de suporte social e as emoções positivas. O enfrentamento de suporte social e o
enfrentamento de denúncia estão correlacionados positivamente com as emoções negativas (Anexo
III.5). Os resultados indicam que os observadores que já foram cybervítima adotam como
estratégias o enfrentamento agressivo, o enfrentamento de denúncia, o enfrentamento de suporte
social e o enfrentamento de evitamento (Anexo III.6). Existe uma correlação positiva fraca entre o
enfrentamento agressivo, o enfrentamento de denúncia, o enfrentamento de suporte social e as
emoções positivas. Sendo que a correlação entre o enfrentamento agressivo e as emoções positivas
é mais elevada nos observadores cyberagressores. A correlação entre o enfrentamento de suporte
social e o enfrentamento de denúncia é mais elevada nos observadores cybervítimas. Existe uma
correlação positiva entre o enfrentamento de denúncia e uma correlação positiva para o
enfrentamento de suporte social e as emoções negativas, embora fraca para o enfrentamento de
denúncia e moderada para o enfrentamento de suporte social, sem diferenças significativas entre os
observadores cyberagressores e cybervítimas. A significância dos diferentes preditores sobre o
efeito dos observadores que já foram vítimas e agressores de cyberbullying foi avaliada com um
modelo de regressão linear simples implementado no SPSS Statistics (v. 23, SPSS Inc, Chicago,
IL). Verificaram-se as condições de aplicação do modelo por recurso à análise gráfica dos resíduos
32
estandardizados, à estatística de Durbin- Watsone e à estatística VIF. Consideraram-se efeitos
significativos aqueles com p<0.0.5.
O modelo de regressão linear simples em função das estratégias de enfrentamento agressivo, de
enfrentamento de denúncia, enfrentamento de suporte social e enfrentamento de evitamento e a
variável observadores cybervítimas revelou-se estatísticamente significativo (F(4.370) = 21.451;
R2a = 0.179; p=0.000) para a variável dependente emoções positivas e revelou-se estatísticamente
significativo (F(4,370) = 19,301; R2a = 0.164; p = 0.000) para a variável dependente emoções
negativas. A análise dos coeficientes de regressão e da sua significância estatística revelou que dos
4 preditores considerados apenas as estratégias de enfrentamento agressivo (β = 0.289, t(370) =
6.133; p=0.000) e as estratégias de suporte social (β = 0.258, t(370) = 3.999; p=0.000) são
preditores significativos das emoções positivas.
Para a variável dependente emoções negativas, a análise dos coeficientes de regressão e da sua
significância estatística revelou que dos 4 preditores considerados apenas as estratégias de
enfrentamento de suporte social (β = 0.409, t(370) = 3.7,548; p=0.000) é preditora significativa das
emoções negativas. O modelo de regressão linear simples em função das estratégias de
enfrentamento agressivo, de enfrentamento de denúncia, enfrentamento de suporte social e
enfrentamento de evitamento e a variável observadores cyberagressores revelou-se estatísticamente
significativo (F(4.295) = 17.635;R2a = 0.182; p=0.000) para a variável dependente emoções
positivas e revelou-se estatísticamente significativo (F(4,295) = 15,421; R2a = 0.162; p = 0.000)
para a variável dependente emoções negativas. Contudo, a análise dos coeficientes de regressão e
da sua significância estatística revelou que dos 4 preditores considerados apenas o enfrentamento
agressivo (β = 0.361, t(295)= 6.855; p=0.001) e o enfrentamento de suporte social (β = 0.143,
t(295)= 2.437; p=0.000) são preditores significativos das emoções positivas, enquanto que a análise
dos coeficientes de regressão e da sua sugnificância estatística revelou que dos 4 preditores
consierados apenas o enfrentamento de suporte social (β = 0.361, t(295)= 6.070; p=0.000) é
preditor de emoções negativas.
33
Assim, ter tido uma experiência anterior como cybervítima ou como cyberagressor não parece
influenciar as estratégias de enfrentamento adotadas bem como as emoções associadas.
Tabela 3.4. Estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores perante um incidente de cyberbullying (n= 529)
Estratégias de enfrentamento
Estratégia adotada Estratégia não adotada
Enfrentamento
agressivo
Enfrentamento
de Denúncia
Enfrentamento
suporte social
Enfrentamento
de evitamento
N (%) N (%)
“Fiz o mesmo aos agressores” 134 25.6 389 74,4
“Também agredi as vítimas” 51 9.8 472 90.2
“Decidi agir como o(s) agressor(es)” 56 10.7 468 89.3
“Agredi a(s) vítima(s) tal como outra(s)
pessoas(s) que viu/viram o mesmo que eu” 26 5 496 95
“Decidi fazer o mesmo ao(s) agressor(es)” 109 21 409 79
“Contactei os responsáveis pelos serviços” 90 18 434 82
“Ccontei aos pais da(s) vítima(s)” 96 18.3 428 81.7
“Denunciei o(s) agressor(es)” 274 53.6 240 46.4
“Contei aos pais do(s) agressor(es)” 90 17.8 434 82.8
“Contactei as autoridades” 320 64.3 183 35.7
“Estive atento(a) à(s) outra(s) pessoa(s) 400 76.5 123 23.5
que viu/viram o mesmo que eu”
“Apoiei a(s) vítima(s) tal como outra(s) pessoa(s) 462 89.2 56 10.8
que viu/viram o mesmo que eu”
“Decidi ajudar a(s) vítima(s)” 451 87.1 67 12.9
"Contei a alguém da minha confiança” 409 78.4 113 21.6
“Aconselhei a(s) vítima(s)
a contar a alguém de confiança” 383 73.4 139 26.6
“Apoiei a(s) vítima(s)” 468 90.2 51 9.8
“Decidi agir como a(s) outra(s) pessoa(s)
que viu/viram o mesmo que eu” 362 70 155 30
“Reparei que havia(m) outra(s) pessoa(s)
que viu/viram o mesmo que eu” 459 88.3 61 11.7
“Ignorei tal como outra(s) pessoa(s)
que viu/viram o mesmo que eu” 407 78,3 113 21.7
“Decidi ignorar a situação” 330 64.3 183 35.7
34
Tabela 3.5.Emoções sentidas pelos observadores após a adoção de uma estratégia de Enfrentamento (n = 529)
Emoções Emoção sentida Emoção não sentida
Emoções
positivas
Emoções
negativas
N (%) N (%)
“Senti-me feliz” 158 30.5 360 69.5
“Senti prazer” 103 19.3 419 80.7
“Senti-me orgulhoso” 177 34 344 66
“Senti-me triste” 339 65.2 181 34.8
“Senti-me revoltado” 402 77.3 118 22.7
“Senti-me indefeso” 223 43.1 295 56.9
“Senti-me culpado” 159 30.6 360 69,4
“Senti medo” 196 37.6 325 62.4
“Senti-me inseguro” 205 39.5 314 60,5
“Senti-me confuso” 281 54 239 46
“Senti-me sozinho” 133 25 387 74.4
3. Discussão dos Resultados
Nesta investigação tinha-se como objetivos analisar o comportamento dos observadores de
cyberbullying e as emoções associadas após a adoção de um comportamento. Pretendia-se ainda,
averiguar a influência que observadores de cyberbullying com experiências como cybervítima ou
como cyberagressor, tinham no seu comportamento e nas emoções associadas ao comportamento
adotado. Estes objetivos foram cumpridos e permitiram testar as questões desta investigação. Este
estudo permitiu trazer um contributo relevante ao investigar temas pouco estudados, como por
exemplo, os observadores de cyberbullying e o papel dos observadores cybervítimas e dos
observadores cyberagressores na seleção das estratégias de enfrentamento. Um contributo inovador
prendeu-se com o estudo das emoções sentidas pelos observadores após a adoção de uma estratégia
de enfrentamento.
2.1. Questão de Investigação 1: “Quais as estratégias de enfrentamento adotadas pelos
observadores de cyberbullying?”
Verificou-se que estes utilizam, com mais frequência, estratégias de suporte social à vítima
seguido de estratégias de evitamento e com menos frequência, estratégias de denúncia e estratégias
agressivas. Embora estas duas últimas estratégias sejam utilizadas com menos frequência, ainda
35
assim, acontecem, sendo importante averiguar em que situações podem ocorrer. Das estratégias de
enfrentamento de suporte social as mais utilizadas por eles são as “estratégias de apoio às vítimas
tal como outras pessoas o fizeram”,”reparar que existiam outras pessoas a ver o mesmo que eles”,
“contar a alguém de confiança” ou “ajudar as vítimas”. Estes resultados são semelhantes aos
encontrados noutros estudos (Souza, Veiga Simão, & Caetano, 2014; Desmet et al., 2015). As
características próprias do cyberbullying, como por exemplo, a possibilidade de existir o anonimato,
a distância física entre o observador e a vítima e o observador e o agressor, pode facilitar a
ocorrência do suporte social à vítima por meio de mensagens privadas, por exemplo, e ao contrário
daquilo que foi mencionado noutros estudos (Gahagan & Vaterlauss, 2015; Schacter, Greenberg &
Juvonen, 2015), estes jovens adotam mais comportamentos positivos do que comportamentos
negativos, o que se considera de extrema importância para a redução das consequências negativas
do cyberbullying. Embora os resultados nos indiquem que os o observadores adotam
maioritariamente estratégias de enfrentamento adequadas, ainda assim, recorrem muito às
estratégias de evitamento, como por exemplo, “ignorar o acontecimento tal como outros que viram
o mesmo que eles”. Uma explicação para esta ocorrência pode estar relacionada com o facto dos
jovens terem receio de sofrer retaliações por parte dos agressores ou mesmo por parte de outras
pessoas que estão a observar, já que se constata que muitos jovens referem estar atentos ao que
outros observadores fazem (Batstiaensens, Vandebosch, Cleemput, & Desmet, 2013). Esta situação
é de relevar e os psicólogos educacionais devem atuar juntos deste tipo de protagonistas que
escolhe não atuar.
2.2. Questão de Investigação 2: Quais a emoções sentidas pelos observadores de cyberbullying
relativamente à adoção de uma estratégia de enfrentamento?
A segunda questão de investigação, procura dar resposta às emoções experenciadas pelos
observadores de cyberbullying após a adoção de uma estratégia de enfrentamento. Os jovens
observadores após adotarem uma estratégia de enfrentamento, experenciam, com mais frequência,
emoções como a revolta, a tristeza, a confusão, o sentir-se inseguro, indefeso e o medo. Estas
36
emoções fazem parte da subescala das emoções negativas, o que significa que após a adoção de
uma estratégia de enfrentamento os observadores sentem, maioritariamente, emoções negativas.
Baroncelli e Ciucci (2014), falavam em emoções como o medo, a confusão e a insegurança como
forma de justificar os comportamentos de evitamento dos observadores, afirmando que aqueles que
percepcionam dificuldade em regular as suas emoções não atuam. Este resultado vai ao encontro
dos resultados encontrados, uma vez que, uma das estratégias de enfrentamento mais utilizadas
pelos observadores são as estratégias de evitamento que podem justificar as emoções negativas
experenciadas pelos observadores.
Para uma melhor compreensão dos resultados obtidos, considerou-se importante analisar quais
as emoções associadas às diferentes estratégias de enfrentamento. Daqui resultou que as estratégias
de denúncia estão associadas a emoções positivas e negativas. Após denunciarem o incidente de
cyberbullying os observadores tanto podem sentir-se orgulhosos (pode estar relacionado com uma
boa autoestima ou uma alta autoeficácia) como podem sentir medo de ser a próxima vítima e o facto
de não controlarem a situação após a denúncia pode gerar confusão e insegurança. A adoção de
estratégias de enfrentamento de suporte social relacionam-se com emoções positivas e negativas,
sendo estas últimas correlativamente mais significativas, o que nos pode levar a sugerir que após a
adoção da estratégia de suporte social, os sujeitos podem experenciar medo de serem as próximas
vítimas. Também a ausência de feedback sobre a sua atuação e a não controlabilidade da situação
pode causar-lhes sensações de mau-estar. Por outro lado, este resultado, poderá estar relacionado
com a sobreposição de papéis, característico do cyberbullying. Por exemplo, um observador que já
foi vítima de cyberbullying pode identificar-se mais facilmente com a vítima e oferecer-lhe suporte
social. Embora o observador atue, este pode desenvolver emoções negativas pela recordação do
momento anteriormente vivenciado por si. Por último, as estratégias agressivas estão
correlacionadas com emoções positivas. Alguns autores (Nishina, & Juvonen, 2005; Vandebosch, &
Cleemput, 2008) falam-nos da relação entre sujeitos que anteriormente foram vítimas de bullying e
se tornaram cyberagressores utilizando como justificativa para as suas ações a vingança.
37
Se um observador foi alvo de bullying ou cyberbullying é possível que ao adotar um
comportamento agressivo para com outra pessoa, experencie emoções positivas. No bullying, os
agressores apresentam estratégias desajustadas para lidar com as situações e, consequentemente,
dificuldades ao nível do relacionamento social, situação que parece ocorrer igualmente no
cyberbullying e, enquanto observadores, juntam-se ao agressor e aproveitam a oportunidade para se
destacarem, podendo assumir que esse comportamento irá trazer benefícios para si em termos de
maior aceitação social, por exemplo (Nishina & Juvonen, 2005; Salmivalli, 2010; Poskiparta, 2011;
Pozzoli, & Gini, 2013).
Os resultados alcançados sugerem-nos a importância de incluir nas escolas, atividades que
promovam, não só a adoção de estratégias de enfrentamento adequadas como também atividades
que promovam a regulação emocional nos observadores de cyberbullying. Ou seja, é importante que
os observadores adquiram estratégias adequadas para lidar com o cyberbullying mas também que
aprendam a regular as suas emoções após agirem, para que não experienciem emoções como o
medo, a insegurança e a confusão e se potencie emoções positivas como a felicidade e o orgulho.
2.3. Questão de Investigação 3: A experiência como vítima ou agressor de cyberbullying
influencia as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying?
Os resultados alcançados indicaram que a experiência como cybervítima ou como
cyberagressor não influenciou as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de
cyberbullying. Ou seja, não existem diferenças estatísticamente significativas que indiquem que as
estratégias de enfrentamento utilizadas por um observador cybervítima sejam diferentes das
estratégias de enfrentamento adotadas por um observador cyberagressor. Estes resultados podem
estar relacionados com a sobreposição de papéis, ou seja, o observador pode ser observador, vítima
e agressor ao mesmo tempo e que pode ser uma característica somente do cyberbullying. Este
resultado vem reforçar a importância da intervenção junto dos observadores, uma vez que estes não
são apenas, observadores, apenas vítimas ou apenas agressores. Assim, é importante dotar os
38
observadores de estratégias de enfrentamento adequadas para intervir no cyberbullying, para
intervir junto das vítimas de cyberbullying e para ajudarem-se a si próprios.
2.4. Questão de Investigação 4: A experiência como vítima ou agressor de cyberbullying
influencia as emoções associadas às estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de
cyberbullying?
Os resultados alcançados indicaram que a experiência como cybervítima ou como
cyberagressor não influenciou as emoções associadas às estratégias de enfrentamento adotadas
pelos observadores de cyberbullying. Ou seja, não existem diferenças estatísticamente significativas
que indiquem que as emoções sentidas por um observador cybervítima após a adoção de uma
estratégia de enfrentamento sejam diferentes das emoções sentidas por um observador
cyberagressor após a adoção de uma estratégia de enfrentamento. Estes resultados podem estar
relacionados com a sobreposição de papéis acima mencionada.
3. Conclusões gerais
O cyberbullying é um fenómeno complexo que envolve características muito específicas, é algo
que ocorre por todo o mundo, com consequências negativas devastadoras que têm contribuído para
que na literatura comece a existir informação sobre a compreensão deste fenómeno. Nesse sentido,
este estudo procurou dar um contributo relevante ao investigar-se conceitos ainda pouco estudados
na literatura, como por exemplo, o papel dos observadores no cyberbullying e o papel dos
observadores cybervítimas e dos observadores cyberagressores. Constituiu uma inovação ao
acrescentar ao modelo de Latané & Darley (1970) o estudo das emoções sentidas pelos
observadores após a adoção de uma estratégia de enfrentamento. Para além disso, permitiu o
desenvolvimento do inventário de Incidentes Observados de Cyberbullying (IIOC), instrumento
inovador em Portugal, destinado à população adolescente, ainda em desenvolvimento. Posto isto,
foram elencados alguns objetivos para este estudo e que foram alcançados. Dos resultados obtidos
concluiu-se que as estratégias de enfrentamento mais utilizadas pelos observadores são as
39
estratégias de suporte social e as estratégias de evitamento. Este resultado é significativo e
consistente com outros estudos que indicam que é necessário que os observadores desenvolvam
comportamentos prossociais e não de evitamento face ao cyberbullying (Batstiaensens,
Vandebosch, Cleemput, & Desmet, 2013). As emoções por eles sentidas são, maioritariamente,
negativas podendo estar relacionadas com o medo de sofrer retaliações por parte do agressor ou dos
outros observadores (Batstiaensens, Vandebosch, Van Cleemput, & Desmet, 2013). Não se
verificou uma influência significativa das experiências como observador cybervítima ou como
observador cyberagressor nas estratégias de enfrentamento e nas emoções por eles sentidas
posteriormente, porque o observador que foi cybervítima também foi cyberagressor e vice-versa.
Este estudo é importante no sentido em que revelou a importância que a sobreposição de papéis
assume no cyberbullying e alerta-se para que em estudos futuros esta variável seja considerada.
Nas escolas, o psicólogo deverá intervir não só nas cybervítimas ou nos cyberagressores mas sim
nos observadores, pois este estudo permitiu concluir que os observadores podem ser igualmente
cybervítimas e cyberagressores.
3. 1. Limitações do Estudo
Esta investigação tem algumas limitações que devem ser reconhecidas. Em primeiro lugar, a
amostra é constituída por indivíduos pertencentes a um colégio privado do Distrito de Lisboa,
considerando-se importante que em estudos futuros sejam incluídos participantes do Ensino
Público. Em segundo lugar, a amostra é homogénea, em futuros estudos, dever-se-á ter em conta
uma amostra constituída por participantes de várias regiões de Portugal.
Em terceiro lugar, o número de itens que compôs as emoções positivas e negativas não foi
equivalente. Existiram mais itens pertencentes a emoções negativas do que positivas o que poderá
ter enviesado os resultados. Por último, os observadores cybervítimas e os observadores
cyberagressores mostraram-se não ser “puros”, ou seja, uma grande parte dos participantes eram
observadores cybervítimas e cyberagressores ao mesmo tempo, o que pode ter influenciado os resul
40
3.2. Implicações e estudos futures
Estes resultados reforçam a importância dos psicólogos educacionais intervirem junto dos
observadores, com atividades que promovam estratégias de enfrentamento ajustadas e promovam a
regulação emocional, uma vez que são dois conceitos interdependentes e que interferem na atuação
ou não dos observadores e nas emoções por eles sentidas. De acordo com os resultados, nem
sempre um observador é um simples observador, podendo igualmente assumir o papel de
cyberagressor ou cybervítima ou ambos, sendo importante que o psicólogo consiga despistar
situações e contribua para que o indivíduo modifique o seu comportamento. Este resultado veio
trazer um contributo importante e contribuiu para o reconhecimento da importância de se estudar
melhor o fenómeno da sobreposição de papéis no cyberbullying e, não há referência na literatura
sobre este fenómeno.
Em estudos futuros, mostrou-se importante averiguar nos observadores que utilizam estratégias
de evitamento e estratégias agressivas, as crenças subjacentes ao seu comportamento. Sugere-se
ainda, o estudo da influência que o feedback das estratégias de enfrentamento adotadas pelos
observadores pode ter nas emoções por eles sentidas após a adoção da estratégia de enfrentamento.
Por último, investigar a sobreposição de papéis e a sua influência no cyberbullying.
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  • 1. UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA Observadores de Cyberbullying: A adoção de estratégias de enfrentamento e emoções associadas Sónia Patrícia da Silva Gomes MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA Secção da Psicologia da Educação e da orientação 2016
  • 2. UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA Observadores de Cyberbullying: A adoção de estratégias de enfrentamento e emoções associadas Sónia Patrícia da Silva Gomes Dissertação orientada pela Prof.ª Dr.ª Ana Margarida Veiga Simão, apresentada à Faculdade de Psicologia – Universidade de Lisboa, para obtenção do grau de Mestre em Psicologia da Educação e Orientação. 2016
  • 3. “Um quadro bom no meio de quadros maus acaba por se transformar num mau quadro. E um quadro mau no meio de quadros bons acaba por se tornar um bom quadro.” Pablo Picasso i
  • 4. Agradecimentos À Prof.ª Doutora Ana Margarida Veiga Simão por me ter dado a oportunidade de participar num projeto de grande relevo em Portugal. Obrigada por todo o trabalho de orientação, incentivo e partilha de ideias. Um obrigada ainda maior por me ter permitido crescer, enquanto profissional e por me ter permitido participar de todo o trabalho desenvolvido por uma equipa de investigação fantástica! Quero deixar expresso os meus sinceros agradecimentos por ter contribuído, e por tudo ter feito, para que eu quisesse ir mais além e continuar os meus estudos, algo que sem o incentivo e o apoio da Professora talvez não acontecesse. Muito obrigada! À equipa de investigação do Projeto Cyberbullying por todo o carinho e apoio e por permitirem que me sentisse parte integrante do grupo, equipa à qual, de seguida, agradecerei individualmente. À Doutora Paula da Costa Ferreira por todo o trabalho de apoio, profissionalismo demonstrado, incentivo, boa disposição e empenho. Um obrigada por todo o ensinamento que com certeza irá ser- me útil no futuro. Um especial agradecimento por ter estado sempre disponível para me ajudar sempre que foi preciso e sempre com empenho e interesse. Os meus sinceros agradecimentos, Paula! À Doutora Paula Paulino igualmente pelo apoio e partilha de ideias que contribuíram para a construção deste trabalho. Um obrigada especial pela disponibilidade demonstrada! Ao Doutor Sidclay Souza pela partilha de conhecimento, pela troca de ideias, pela disponibilidade e pelo bom humor sempre demonstrado! Aos meus pais por todo o apoio que me têm dado ao longo da vida, por me apoiarem sempre nas decisões que tomo e por me incentivarem desde sempre. Sem eles nada disto teria sido possível. Um obrigada muito especial por serem quem são. Ao Pedro por ter contribuído igualmente para que este trabalho fosse possível. Agradeço aqui o apoio, incentivo e compreensão nos momentos mais difíceis. À Andreia Machado, minha irmã do coração, por me ter incentivado a ir mais longe, sempre com a sua boa disposição transformou os momentos difíceis e de indecisão em resoluções e ideias. À Faculdade de Psicologia por me ter acolhido pela segunda vez, pelo profissionalismo e bom desempenho dos seus profissionais que fazem com que volte sempre a esta casa. Bem hajam! ii
  • 5. Resumo O crescente desenvolvimento das tecnologias de informação e da comunicação (TIC) é um acontecimento muito significativo para o mundo científico e que permite a toda a população ter acesso à Internet em qualquer local, através de um dispositivo móvel. Para os jovens, a crescente utilização das TIC pode constituir uma ameaça, no sentido em que uma má utilização da Internet pode conduzir ao cyberbullying. O cyberbullying traz consequências negativas para a saúde dos jovens, consequências essas que podem ser reduzidas pela intervenção de quem observa o fenómeno. Assim, inserido no projeto aprovado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), registado com o título, Cyberbullying: A regulação do comportamento através da linguagem, o presente estudo pretende analisar o comportamento dos observadores adolescentes, através do estudo das estratégias de enfrentamentopor si utilizadas, bem como das emoções por eles sentidas após adotarem uma estratégia de enfrentamento. Para além disso, procura compreender a influência que experiências como observador cybervítima e observador cyberagressor têm nas estratégias de enfrentamento e nas emoções associadas. Para isso, aplicou-se o Inventário de Incidentes Observador de Cyberbullying (IIOC) num colégio privado da região de Lisboa (N = 529). Este estudo revelou que as estratégias de enfrentamento de suporte social e as de evitamento são as mais utilizadas pelos observadores, bem como as emoções negativas são predominantes após agirem. Não se encontrou diferenças significativas na adoção de estratégias de enfrentamento e emoções associadas nos observadores cybervítimas e nos observadores cyberagressores, embora este estudo tenha revelado a ocorrência da sobreposição de papéis, mais frequente no cyberbullying. A prevenção e intervenção devem ter em conta as especificidades do cyberbullying e a sobreposição de papéis que este fenómeno permite. Palavras-Chave:Cyberbullying; Observadores; Estratégias de enfrentamento, Emoções iii
  • 6. Abstract The growing development of information and communication technologies (ICT) is a very signifi- cant contribution to the scientific world and that allows the entire population to have access to the Internet anywhere through a mobile device. For young people, the growing use of ICT may consti- tute a threat, in the sense that a misuse of the Internet can lead to cyberbullying. Cyberbullying brings negative consequences for the health of young people, which may be reduced by the inter- vention of those who observe the phenomenon. Thus, as part of the project approved by the Foun- dation for Science and Technology (FCT), registered with the title, Cyberbullying: The regulation of behavior through language, the present study intends to analyze the behavior of bystanders by examining the intervention strategies they use, as well as the emotions they experience after adopt- ing an intervention strategy. In addition, this study seeks to understand whether there is a difference in bystander behavior and the emotions associated with this behavior, depending on whether they have been a cybervictim or a cyberagressor. Therefore, the Inventory of Observed Cyberbullying Incidents (IIOC) was applied in a private school in Lisbon (N = 529). This study revealed that social support and avoidance intervention strategies are more used by bys- tanders. Also, negative emotions are predominant in relation to how the bystanders behaved. We did not find signitifacnt differences regarding the strategies used and the emotions felt between bys- tanders who had had a previous experience as cybervictims and those who had a previous expe- rience as cyberaggressors. Nontheless, this study has revealed how overlapping may occur regard- ing the experiences bystanders may have had as cybervictims and cyberaggressors. Prevention and intervention should consider these specificities, as well as the overlapping of roles. Keywords: Cyberbullying; Bystanders; Intervention strategies, Emotions. iv
  • 7. Índice Geral Introdução ............................................................................................................................................1 Capítulo I – Enquadramento Teórico...................................................................................................5 1. O conceito de Cyberbullying e suas principais características .................................................5 2. Cyberbullying nos adolescentes: Porquê?.................................................................................7 3. A Atuação dos Observadores no Cyberbullying.....................................................................10 4. As estratégias de enfrentamento dos observadores no cyberbullying.....................................14 5. As Emoções e o coping...........................................................................................................17 Capítulo II – Metodologia de investigação........................................................................................22 1.Objetivos da investigação e Questões de Investigação...............................................................22 2. Caracterização da Amostra ........................................................................................................23 3.Procedimento ..............................................................................................................................24 4.O Instrumento .............................................................................................................................25 5.Análise de dados .........................................................................................................................25 Capítulo III – Análise e discussão dos resultados..............................................................................27 1Análise das qualidades psicométricas do IIOC............................................................................27 2.Estatística Descritiva e Correlações............................................................................................28 3. Discussão dos Resultados ..........................................................................................................34 3. Conclusões gerais.......................................................................................................................38 3. 1. Limitações do Estudo.........................................................................................................39 3.2. Implicações e estudos futures .............................................................................................40 Referências Bibliográficas .................................................................................................................41
  • 8. Índice de tabelas e quadros Tabela 2.1. Distribuição dos alunos por género e idade (n= 529).................................................................................23 Tabela 3.1. Coeficientes alfa de Cronbach para as subescalas de estratégias de enfrentamento do IIOC (n=529)...27 Tabela 3.2. Coeficientes alfa de Cronbach para as subescalas das emoções do IIOC (n=529)...................................28 Tabela 3.3. Médias e Desvios-padrão das variáveis (n = 529).......................................................................................29 Quadro 1. Correlações das variáveis do estudo (coeficiente de Spearman).................................................................29 Tabela 3.4. Estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores perante um incidente de cyberbullying........33 (n= 529) Tabela 3.5.Emoções sentidas pelos observadores após a adoção de uma estratégia de Enfrentamento (n = 529)..........34 vi
  • 9. Lista de Anexos ANEXO II - CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO Anexo II.1 - Distribuição dos alunos por género e por ano de escolaridade (n=529). Anexo II.2. - Distribuição da utilização do computador como forma de acesso à Internet (n = 529) Anexo II.3 - Distribuição da utilização do telemóvel como forma de acesso à Internet (n = 529) Anexo II.4 - Distribuição da utilização do tablet como forma de acesso à Internet (n = 529) Anexo II.5 - Distribuição da utilização de consola de jogos como forma de acesso à Internet (n = 529) Anexo II.6 - Distribuição dos alunos por género e tempo de acesso à Internet (n= 529) ANEXO III - ANÁLISE DO IIOC E ANÁLISE ESTTÍSTICA Anexo III.1 – Análise e distribuição dos itens da escala de estratégias de enfrentamento (n = 529) Anexo III.2 – Análise e distribuição dos itens da escala de emoções sentidas após adoção de estratégia de enfrentamento (n = 529) Anexo III.3 - Estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores cyberagressores (n=303) Anexo III.4 - Estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores cybervítimas (n=378) Anexo III.5 -Correlação entre as variáveis do estudo e a variável observador cyberagressor (n=303). Anexo III.6 - Correlação entre as variáveis do estudo e a variável observador cyberagressor n=378). Vii
  • 10. 1 Introdução Nas últimas duas décadas, o crescente desenvolvimento das novas tecnologias de informação e de comunicação (TIC) conduziu à utilização massiva de vários dispositivos eletrónicos, tais como, telemóveis, tablets, computadores, consolas de jogos, etc., a partir dos quais é possível aceder-se à Internet. Há cerca de alguns anos atrás, este acesso era feito quase exclusivamente a partir de casa, enquanto que atualmente pode ser realizado através de qualquer dispositivo móvel, fora de casa, o que traz algumas implicações negativas. Para o mundo científico, o desenvolvimento das TIC é de grande importância e constitui uma verdadeira revolução para a comunicação social, porém, o problema surge quando uma grande parte dos utilizadores são crianças e jovens adolescentes ainda sem a maturidade emocional necessária para lidar com os conteúdos a que podem ter acesso. (Kowalski, Limber, & Agatston, 2012). Assim, é urgente um controlo mais efetivo aos conteúdos de acesso dos jovens, embora, a partir do momento em que a Internet pode ser acedida fora de casa e fora da escola este controlo perde-se. Sem vigilância por parte de adultos significativos é muito fácil aos jovens fazerem uma má utilização da Internet. São eles que mais utilizam aplicativos como o Facebook, Instagram, Twitter, Snapchat, por exemplo, e utilizam ainda o recurso ao envio de SMS através do telemóvel (Kowalski, Limber, & Agatston, 2012). Estes aplicativos e SMS podem ser utilizados para maltratar, injuriar, fazer-se passar por outra pessoa, espalhar rumores falsos, entre outros exemplos de má utilização da Internet. Este fenómeno é conhecido por Cyberbulliyng. As definições propostas para o cyberbullying são várias, embora aquela que mais se destaca na literatura é a que incorpora os conceitos chave definidos por Olweus (1993) para a definição de bullying, que são: praticar ações agressivas, com repetição ao longo do tempo e intenção de magoar, com superioridade de poder de um ou um grupo sobre um ou vários indivíduos. Smith, Mahdavi, Carvalho, Fisher, Russell e Tippett (2008), definem cyberbullying como sendo um ato agressivo, intencional, levado a cabo por um grupo ou por um indivíduo, com recurso à utilização de
  • 11. 2 dispositivos eletrónicos, repetidamente ao longo do tempo contra uma vítima, ou várias, que não se conseguem defender facilmente. O Cyberbullying tem sido alvo de estudos exaustivos por todo o mundo (Ang, 2015; Burton, Florell & Wigant, 2012; Dooley & Cross, 2009; Francisco, Veiga Simão, Costa Ferreira & Martins, 2014; Gahagan, &Vaterlaus, 2015; Pabian, Vandebosch, Poels, Cleemput &Bastiaensens, 2016; Vandebosch, Cleemput & Desmet, 2013) considerando as consequências negativas a si associadas, como por exemplo, o baixo rendimento académico, o elevado nível de absentismo escolar e as várias consequências negativas para a saúde pública (e.g. tristeza, ansiedade, depressão, ideação suicida e mesmo o suicídio) (Raskauskas & Stols, 2007). As emoções sentidas pelas vítimas e pelos agressores de cyberbullying têm sido investigadas (Caetano, Freire, Veiga Simão, Martins & Pessoa, 2016; Gualdo, Hunter, Durkin, Arnaiz & Maquillón, 2014), contudo, poucos estudos existem sobre as emoções sentidas pelos observadores, embora também eles sejam protagonistas e também eles experenciem emoções após observarem incidentes de cyberbullying, (Desmet, Veldeman, Poels, Bastiaensens, Cleemput, Vandebosch & Bourdeaudhiuj, 2014). Lazarus e Folkman (1968) consideravam importante a relação entre aquilo que se sente numa situação desagradável e aquilo que se faz para reduzir as consequências negativas associadas a essa situação. Ou seja, as estratégias utilizadas para lidar com situações adversas (e.g. cyberbullying) estão relacionadas com a avaliação das emoções sentidas pelos indivíduos. Isto remete para a importância que as emoções e as estratégias de enfrentamento têm perante um acontecimento adverso (Lazarus & Folkman, 1968). Estudos (Raskauskas, & Amanda Huynh, 2015), mostram que de entre as várias estratégias de coping utilizadas pelas vítimas para reduzir as consequências negativas do cyberbullying, a procura de suporte social (e.g. professor, pais, amigos ou colegas de escola) é a mais utilizada. Outro protagonista que pode oferecer suporte social são os observadores e se se considerar o elevado número destes intervenientes no cyberbullying (Francisco, Veiga Simão, Ferreira & Martins, 2014), muitos são aqueles que podem providenciar ajuda e contribuir para a redução das consequências negativas associadas a este fenómeno (Desmet, Bastiaensens, Cleemput,
  • 12. 3 Poels, Vandebosch, Cardon & Bordeaudhuij, 2015; Quirk & Campbell, 2014). Apesar da importante contribuição que estes protagonistas podem fornecer, pouca investigação existe sobre as suas estratégias de atuação. Para além disso, considerando-se as características do cyberbullying é possível ocorrer sobreposição de papéis, ou seja, é possível que uma vítima se transforme num agressor ou vice-versa ou até mesmo que um observador se torne vítima ou agressor e, pouca investigação existe igualmente sobre este tema. Assim, torna-se importante não só compreender as formas de atuação dos observadores num incidente de cyberbullying como também a influência que outras experiências (e.g.como vítima ou agressor de cyberbullying), podem ter na adoção das estratégias de enfrentamento e nas emoções sentidas após atuarem. Ao longo deste trabalho utilizar- se-á o conceito estratégias de coping sempre que se faça referência às estratégias adotadas pelas vítimas face ao cyberbullying, ao passo que para os observadores irá adotar-se o termo “enfrentamento”, por se considerar que o acontecimento observado não constitui uma ameaça tão forte para o self do indivíduo observador quanto constitui para a vítima. Para além disso, este trabalho não avalia o grau de perturbação que a observação do cyberbullying causa no observadores para que se possa utilizar o conceito de coping. Com a presente investigação, pretende-se analisar a dinâmica que envolve a atuação ou a não atuação dos observadores perante um incidente de cyberbullying. Assim, este estudo tem como principais objetivos identificar as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying e as emoções por eles sentidas após a adoção dessas estratégias, em jovens com idades compreendidas entre os 11 e os 18 anos de idade. Para além disso, procura analisar a influência que a sobreposição de papéis pode ter na seleção das estratégias de enfrentamento e nas emoções associadas. Este estudo revela-se importante, na medida em que procura contribuir para a compreensão da atuação dos adolescentes observadores de cyberbullying, ainda pouco investigado na literatura. Para além disso, revela-se um estudo inovador no sentido em que procura estudar as emoções sentidas pelos observadores após enfrentarem um acontecimento de cyberbullying, não existindo referências na literatura sobre este assunto. Outra inovação prende-se com a análise da
  • 13. 4 influência que experiências como cybervítima ou cyberagressor podem ter na seleção de estratégias de enfrentamento e nas emoções posteriormente sentidas, enquanto observadores de cyberbullying.
  • 14. 5 Capítulo I – Enquadramento Teórico 1. O conceito de Cyberbullying e suas principais características As TIC fizeram emergir uma nova expressão de violência, onde o cyberbullying é considerado como um subtipo do bullying (Cuadrado-Gordillo & Fernandez-Antelo, 2015; Moore, Nakano, Enomoto e Suda, 2012), porém, existem grandes diferenças que o separam do bullying tradicional, principalmente pelo contexto em que este tipo de violência ocorre (O bullying acontece num contexto offline enquanto que o cyberbullying acontece num contexto online). Existem algumas particularidades que são específicas do cyberbullying, como por exemplo, a difículdade em identificar o agressor, o aumento significativo de observadores, o facto de ser possível uma inversão de papéis, onde uma vítima se pode tornar agressor e vice-versa (sobreposição de papéis), assim como a inexistência de feedback verbal (Casas, Del Rey, & Ortega, 2013; Cross, Papageorgiou, & Lester, 2015; Santos, 2015). A sobreposição de papéis é mais frequente no cyberbullying pelas características próprias deste fenómeno. No mundo virtual, o anonimato é um fator crucial e que marca a diferença face ao bullying. A vítima, cansada de repetidos ataques e motivada por sentimentos de raiva ou comportamentos de vingança, apercebe-se de que facilmente pode assumir o papel de agressor, seja contra o(s) seu(s) agressor(es), seja contra outras vítimas e assim percepcionar que tem algum poder sobre o outro e “mascarar” o seu sofrimento (Carmodeca, Gossens, Schuerge & Terwogt, 2003; Vandebosch & Cleemput, 2008). O anonimato cria uma desinibição que se manifesta por perda de autocontrolo e falta de retraimento na interação social (Barlinska, Szuster, & Winiewski, 2013), o que facilita a ocorrência de formas de atuação desajustadas. A literatura, ainda sem grande consenso, admite a existência de três critérios para a definição do cyberbullying, nomeadamente, a repetição, a intencionalidade e a ocorrência entre pares. No cyberbullying, a repetição está relacionada com o facto de um indivíduo poder postar informação agressiva ou fotografias embaraçosas sobre alguém e, esse conteúdo, poder ser repetidamente publicado (upload) por outras pessoas ao longo do tempo, humilhando e ridicularizando a vítima. Ainda assim, há autores (Slonje & Smith, 2008) que contestam este
  • 15. 6 conceito por considerarem ser de difícil operacionalização, no sentido em que é mais fácil compreender o conceito através de um ataque via SMS ou por e-mail pela repetição das mensagens enviadas, do que através do envio de uma única mensagem maliciosa para um Website (Leishman, 2005). Assim, as consequências são também amplificadas, uma vez que as agressões podem difundir-se rapidamente, mantendo-se infinitamente presentes no espaço virtual originando consequências rápidas e a longo prazo (Willard, 2004). A superioridade de poder assenta em fontes de poder associadas a competências no domínio tecnológico e na dificuldade da vítima em sair da situação (Slonje & Smith, 2008). Estas particularidades trazem novos problemas para as vítimas e novos desafios para aqueles que investigam o cyberbullying. O anonimato que este tipo de agressão permite tem sido reconhecido como facilitador no desenvolvimento de comportamentos anti-sociais e na diminuição dos comportamentos de ajuda por parte dos observadores (Dooley & Cross, 2009). A distância física, entre o agressor e a vítima, que o espaço virtual permite faz com que o agressor não tenha consciência das consequências dos seus atos e os perpetue. O agressor não vê o medo que desencadeia nas vítimas e como tal não interpreta negativamente as suas consequências, assim como quem está a observar tem mais dificuldade em interpretar e distinguir uma brincadeira de um ato deliberado e intencional com o objetivo de causar dano a alguém e, pode não intervir. Sem represálias, o agressor tem poder para perpetuar a agressão (Moore, Nakano, Enomoto & Suda, 2012; Slonje & Smith, 2008). A vítima tem menor possibilidade de se defender e evitar a continuação da agressão e, muitas vezes, remete-se ao silêncio sofrendo sozinha as consequências dos atos maldosos de que foi objeto. Considerando as características acima mencionadas, não é difícil compreender que existem inúmeras consequências negativas associada a este fenómeno, inclusivamente, existem autores que referem que as consequências negativas do cyberbullying são mais severas do que as do bullying (Desmet et al., 2014). Em suma, as características específicas do cyberbullying permitem que ocorram consequências muito severas para os adolescentes o que torna pertinente o estudo desta temática também em observadores. A análise da influência da sobreposição de papéis é importante para compreender-se como se comporta um observador que já
  • 16. 7 foi ou é cybervítima ou um observador que já foi ou é cyberagressor, perante um incidente de cyberbullying, e este estudo procura dar esse contributo. 2. Cyberbullying nos adolescentes: Porquê? O termo adolescente deriva da palavra que em latim significa “tornar-se adulto”. Segundo o paradigma biomédico, a adolescência é uma fase do desenvolvimento humano de transição entre a infância e a vida adulta que é caracterizada por transformações biológicas e por momentos de definição de identidade sexual, profissional e de valores (Gleitman, 1993). É uma fase desenvolvimental na qual o sujeito está particularmente vulnerável e onde a família perde importância para dar lugar à maior influência que o grupo de pares vai assumindo junto dos jovens (Ang, 2015; Bastiaensens, Vandebosch, Poels, Cleemput, Desmet & Bourdeudhuij, 2013). Assim, a adolescência é caracterizada por inúmeras mudanças que estão relacionadas com a perceção do adolescente acerca de si próprio, da sua vida familiar e do seu ambiente sociocultural. Esta fase vivencial é marcada por crescentes sentimentos de autonomia, fundamentais ao desenvolvimento do adolescente e que marcam a separação entre si e o mundo dos pais. Nesta fase desenvolvimentista, os adolescentes apresentam um pensamento mais egocêntrico, onde vão explorando filosofias alternativas, comportamentos e estilos de vida, aliando isto à menor supervisão parental, à urgência em reforçar a individuação recentemente conquistada e de afirmar a capacidade de pensar pela sua própria cabeça, origina-se espaço para a criação de segredos (Gleitman, 1993). A teoria social ecológica de Brofenbrenner (1977) tem sido particularmente utilizada na compreensão das formas tradicionais do bullying, embora autores a utilizem igualmente na compreensão do cyberbullying (Cross et al., 2015). Esta teoria afirma que os comportamentos de risco adotados pelos jovens resultam de interações complexas entre os seus contextos individuais e os contextos em que vivem (Cross et al., 2015. Em cada um dos contextos existem fatores protetores e fatores de risco que moderam a necessidade do adolescente se adaptar a novos contextos relacionais, incluindo os contextos relacionais online (microssistemas).
  • 17. 8 No nível mais imediato, o microssistema, os jovens estabelecem interações diretas com os seus ambientes mais próximos (família, escola, grupo de pares) que influenciam e reforçam certas atitudes e comportamentos. A família, a escola e o grupo de pares afetam o desenvolvimento do adolescente ao influenciarem-se uns aos outros no nível conhecido como mesossistema (e.g. a família interage com a escola e com os professores e esta interação pode ter um impacto nos jovens). Os sistemas mais afastados também influenciam os jovens (exossistema) e incluem contextos com os quais o adolescente não tem contacto imediato mas que ainda assim afetam a sua vida, tais como o ambiente de trabalho dos pais, os diretores escolares e as infra-estruturas escolares. O macrossistema compreende as ideologias sociais, culturais, políticas e económicas que afetam igualmente o jovem. A adaptação do adolescente a estas interações pode originar desequilíbrios que embora sendo naturais poderão ampliar fragilidades prévias, por eles percebidas, comprometendo ou não o seu bem - estar e o seu desenvolvimento pessoal. Face às exigências deste processo, o recurso a comportamentos agressivos (cyberbullying) poderá funcionar como uma forma de lidar com acontecimentos adversos ao reduzir os níveis de ansiedade que advém das fragilidades por si percepcionadas. Os comportamentos agressivos podem ser utilizados como forma de adaptação às novas exigências nos vários contextos (familiar, individual, social, etc.) (Cross et al., 2015). Assim, por considerar-se que a adolescência é um período de desenvolvimento crítico dada a vulnerabilidade pessoal e social dos jovens, é nesta fase onde o cyberbullying mais se manifesta (Cross, D., et al., 2015). A vulnerabilidade social dos jovens está relacionada com a necessidade de afirmação e de popularidade junto dos pares, essencial para o seu bem-estar e, através das TIC, é fácil estar em contacto com os outros mesmo para aqueles que revelam uma personalidade mais introvertida (Cross, D., et al., 2015). A Internet tem um impacto significativo na forma como os adolescentes comunicam, trabalham, aprendem, se entretêm e interagem socialmente. Com o crescente acesso aos computadores e à internet móvel, as ferramentas de comunicação, como por exemplo, as redes
  • 18. 9 sociais (e.g. Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat) foram finalmente estabelecidas como uma ferramenta social de comunicação online (Khan, Gagné, Yang & Shapka, 2015). Os jovens partilham notícias, rumores, histórias via Internet ligados a dispositivos móveis, como por exemplo, computadores e smartphones (Machácková, H., Dedkova, L., Sevcikova & Cerna, A., 2013). O problema surge quando os rumores e as histórias são direcionadas para um indivíduo ou um grupo de indivíduos com o objetivo de lhe(s) causar mau estar e sofrimento e que pode conduzir a medidas extremas para a vítima, como o suicídio (e.g., Megan Meyers cometeu o suicídio depois de ter sido vítima de cyberbullying, assim como Amanda Todd) (Gibb, Z., & Devereaux, 2014). Constata-se que o cyberbullying tem repercussões negativas que se manifestam ao nível académico (e.g. elevados níveis de absentismo escolar, baixo rendimento académico), social (e.g. dificuldades ao nível do relacionamento interpessoal, abuso de substâncias, deliquência) e ao nível da saúde mental (e.g. angústia, depressão, ansiedade, baixa autoestima, ideação suicida, entre outros) (Davis, et al., 2016; Dehue & Jacobs, 2013; Hinduja & Patchin, 2010; Molho et al., 2009; Na, Darcy & Park, 2015; Vollink, Bolman; Raskausks & Huynh, 2015). A depressão e a ideação suicida têm revelado maior expressão no cyberbullying (Hinduja & Patchin, 2010), o que reforça a importância de investigar este fenómeno e encontrar soluções para terminar com este flagelo. Muitos estudos têm constatado que estas consequências negativas estão presentes em todos os contextos e culturas. Em 2013, 95% dos adolescentes americanos usavam Internet e 74% desses jovens utilizavam-na através de um dispositivo móvel (Tablet, Smartphone) (Machácková, Dedkova, Sevcikova, & Cerna, 2013). Também em Portugal, 70% dos jovens utilizava Internet e 85,6% destes usavam-na regularmente (Cardoso, Espanha, & Lapa, 2007 citado por Souza, Veiga Simão, & Paula Caetano, 2013). Em suma, a crescente presença de adolescentes online aliada à necessidade de serem bem sucedidos socialmente pode conduzir a comportamentos de cyberbullying (Machácková, Dedkova, Sevcikova, & Cerna, 2013), por percecionarem que ao magoar outros isso lhes trará maior poder e aceitação social, razão pela qual este estudo procura investigar a temática do cyberbullying em
  • 19. 10 adolescentes. Mais, a crescente presença de adolescentes online traduz-se igualmente num elevado número daqueles que observam os comportamentos de outros no espaço virtual e que podem intervir no fenómeno de cyberbullying. Desta forma, é fácil constatar-se a importância que o papel dos observadores tem ganho junto da comunidade científica, não só porque há pouca investigação sobre os fatores que predizem o seu comportamento enquanto agentes de intervenção do cyberbullying, como há autores (Desmet et al., 2015; Quirk & Campbell, 2014; Wong – Lo, & Bullock, 2014) que referem que estes podem ter um papel decisivo na resolução do problema e na minimização das consequências negativas para as vítimas. Este estudo, procura trazer um contributo relevante para a temática do cyberbullying, ao identificar as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores e abrir caminho para futuras intervenções nas escolas. 3. A Atuação dos Observadores no Cyberbullying Os principais protagonistas do cyberbullying são os agressores (aquele que comete o ato agressivo sobre um ou outros), as vítimas (aquele que sofre a atuação do agressor) e os observadores (aquele que observa as situações de cyberbullying). Em Portugal, num estudo realizado por Francisco, Veiga Simão, Ferreira e Dores Martins (2014), os resultados revelaram que 27,94% dos estudantes já foram vítimas de cyberbullying em algum momento das suas vidas, coincidentes com os resultados encontrados noutros estudos (Jacobs, Dehue, Vollink, & Lechner, 2014), apenas 8% se identificou como agressor, enquanto que 64% se identificou como observador. Pode ainda ocorrer sobreposição de papéis, ou seja, um observador pode tornar-se agressor ou vítima ou apenas observador ou mesmo uma vítima pode transformar-se em agressor e vice-versa, facto pouco estudado na literatura. A sobreposição de papéis pode ser motivada pelo anonimato que o cyberbullying permite. Para muitos autores, os comportamentos agressivos podem emergir de contextos situacionais como forma de retaliação pelo sujeito já ter sido vítima de bullying numa situação anterior (Carmodeca, Gossens, Schuerge, & Terwogt, 2003; Vandebosch, & Van
  • 20. 11 Cleemput, 2008). Inclusivamente, Vandebosch e Van Cleemput (2008), reportam que os estudantes indicam que a vingança por terem sido vítimas num contexto offline, é a principal motivação para se tornarem bullies no espaço virtual. Da mesma forma, Raskauskan e Stoltz (2008) identificaram que 25% dos agressores de cyberbullying envolvem-se neste tipo de comportamento para se vingarem de alguém com quem estão zangados e 40% afirma fazê-lo por considerar ser divertido (Dooley, & Cross, 2009). Tendo em conta que o cyberbullying tem particularidades muito específicas, o comportamento das vítimas e dos agressores tem sido muito estudado, porém, escassos estudos existem sobre a atuação dos observadores (Schacter, Greenberg, & Juvonen, 2015), embora no bullying, a literatura existente nos dê muita informação sobre quem observa este fenómeno. No bullying tradicional o suporte social oferecido às vítimas, pelos observadores (e.g. professores, colegas de turma, amigos e pais), foi apontado pelas vítimas como um fator determinante na redução das consequências negativas deste incidente (Desmet, et al., 2014; Fontaine, & Auzoult, 2014; Quirk, & Campbell, 2014). Tendo em conta que no cyberbullying o número de observadores é significativamente superior ao do bullying, estes podem desempenhar igualmente um papel crucial no combate a este flagelo mundial ao intervir junto das vítimas (Desmet, et al., 2014; Moore, Nakano, Enomoto & Suda, 2012; Pepler, Craig, & O´Connell, 2010; Schacter, Greenberg, & Juvonen, 2015). Os estudos existentes sobre a atuação dos observadores indicam-nos que estes podem adotar comportamentos positivos (e.g. defender a vítima, confrontar o bully e dar suporte ou conforto à vítima), comportamentos negativos (reforçar o bully, juntar-se ao bully, rir-se da vítima em posts ou partilhar o texto ou fotografia com outros) ou não agir de todo ao adotar uma atitude passiva ou comportamento passivo (Shultz, Heilman, &.Hart, 2014). Há algumas explicações possíveis para a atuação ou não atuação dos observadores e Batstiaensens, Vandebosch, Van Cleemput e Desmet (2013) relacionam a intervenção ou a não intervenção dos observadores com características próprias suas (e.g. personalidade, medo de sofrer retaliações ou receio de juízos de valor por parte dos outros). Outros autores (Holfeld, 2014), mencionam o modelo atribucional de Weiner (1993)
  • 21. 12 como modelo explicativo da intervenção dos observadores, em que fatores como a percepção do controlo, a atribuição da responsabilidade e da culpa podiam influenciar a atuação dos observadores. Por exemplo, vítimas pouco atraentes ou pouco populares justificavam a atuação do agressor, assim como aquelas que ignoravam os agressores eram percecionadas pelos observadores como vítimas que tinham a situação controlada. Este comportamento pode ainda ser explicado pelo Modelo da Intervenção do Observador (Latané & Darley, 1970), que impera há já quase quatro décadas. O MIB, procura justificar as condições pelas quais os observadores escolhem ou não ajudar outros em situações de emergência. O modelo inclui cinco etapas, que são, 1) detectar o acontecimento; 2) interpretar o acontecimento como emergência; 3) assumir responsabilidade pessoal por intervir; 4) determinar quais as ações necessárias para intervir e 5) providenciar ajuda (Dillon, & Bushman, 2014). Exemplificamos a seguir o que acontece numa situação de cyberbullying de acordo com este modelo. Primeiro, o observador deteta que algo está a acontecer, depois de detectar o acontecimento avaliará a gravidade da situação. Caso a interprete como uma emergência passa para a etapa seguinte, onde assume que tem responsabilidade por intervir. Ao assumir a sua responsabilidade em enfrentar a situação, irá determinar quais as ações mais eficazes para si e que acredita porem termo ao acontecimento. Por fim, coloca em prática as ações previamente selecionadas. Quando o observador atua deixa de ser um observador passivo para transformar-se num agente ativo, que Power (2003) designa por upstander. A partir do momento em que os observadores intervém junto das vítimas, dos agressores ou sobre o foco que desencadeou o incidente de cyberbullying deixam de ser apenas observadores para desempenharem um papel importante na prevenção ou exacerbação do fenómeno (Barlinska et al., 2013; Latané & Darley, 1970; Poyhonen et al., 2012; Wong-Lo, & Bullock, 2014). A não intervenção do observador pode estar relacionada com fatores, como por exemplo, a percepção de ausência de respostas eficazes para colocar termo ao fenómeno (auto-eficácia) (Desmet et al., 2014), ou emoções, como por exemplo, o medo (Baroncelli, & Ciucci, 2014). Estes são alguns exemplos de fatores que podem contribuir para a não intervenção do observador, mas existem outros, Latané e
  • 22. 13 Darley (1968) e Bandura (2001) falam do conceito de difusão de responsabilidade para justificar a não atuação dos observadores. Latané e Darley (1968), concluíram que perante uma situação de emergência os observadores avaliam sempre os custos e os benefícios da sua não atuação. Quando o indivíduo está na presença de outros assume que a responsabilidade por intervir é de todos e acontece aquilo a que se chama de difusão da responsabilidade. Quando o indivíduo está sozinho a responsabilidade por intervir é somente sua. Se não atuar, a responsabilidade e a culpa serão atribuídas somente a si enquanto que se outros estiverem presentes a responsabilidade e os sentimentos de culpa e vergonha serão distribuídos por todos. (Latané & Darley, 1968). Bandura (2001) na perspetiva da Teoria Social Cognitiva (1977) considera que a difusão da responsabilidade é parte integrante de um conjunto de comportamentos adotados pelos indivíduos que servem para justificar os seus atos antissociais sem se sentirem culpados ou se censurarem ao “desligar” os seus padrões morais (Bandura, 2001; Bessey, Fitzpatrick, & Raman, 2015) a que ele define como comportamentos de desengajamento moral. Estes dois conceitos podem justificar igualmente, a não atuação dos observadores. É importante referir que este estudo não pretende analisar o comportamento dos observadores nas cinco etapas do Modelo de Intervenção do Observador (Latané & Darley, 1970), pois, um dos objetivos deste estudo consiste em estudar as estratégias de enfrentamento por eles adotadas, que cocorre na etapa cinco e, assim, o estudo cinge-se apenas à etapa cinco do modelo. Este estudo, acrescenta valor ao modelo porque para além de analisar-se o comportamento dos observadores, pretende-se estudar o que os observadores sentem após atuarem ou não, constituindo-se uma novidade na literatura. Em suma, para que o observador se transforme num upstander é importante compreender quais as estratégias de enfrentamento por ele utilizadas, bem como as emoções associadas à sua atuação, para que se possam desenvolver estratégias que aumentem os seus comportamentos prossociais e, consequentemente, adquiram estratégias de enfrentamento adequadas, sendo isso a que este estudo se propõe.
  • 23. 14 4. As estratégias de enfrentamento dos observadores no cyberbullying A estratégias de enfrentamento poderão ser descritas como os comportamentos adotados pelos observadores com o intuito de atuar ou não atuar sobre um incidente de cyberbullying observado. Na literatura, (Desmet et al, 2014) os autores utilizam o conceito de coping para descrever os comportamentos adotados pelas vítimas de cyberbullying. Neste estudo, utilizaremos o termo estratégia de enfrentamento para descrever a forma como os observadores enfrentam o cyberbullying, já que este estudo não avalia o grau de impacto que a observação do fenómeno provoca no observador. Ainda assim, considera-se importante definir o conceito de coping, uma vez que este estudo procura igualmente analisar a influência da sobreposição de papéis (observadores cybervítimas e observadores cyberagressores) na forma como enfrentam o acontecimento observado e ainda as emoções associadas à sua intervenção. Assim, o Coping, é definido pelas estratégias cognitivas e comportamentais adotadas pelos indivíduos, com a intenção de reduzir as respostas negativas provocadas por um acontecimento aversivo (Lazarus & Folkman, 1987). Do ponto de vista histórico, embora os estudos sobre coping tenham tido início em adultos, as estratégias de coping adotadas pelos adolescentes rapidamente ganharam importância. Autores (Na, Dancy, & Park, 2015), recorrem ao Modelo Transacional de Stress e Coping (TMSC) ou abordagem transacional de coping, para explicar a forma como as vítimas cooperam com o cyberbullying. O TMSC foca-se em dois conceitos chave fundamentais que são a avaliação cognitiva e o coping (Lazarus & Folkman, 1987). Num breve resumo, a avaliação cognitiva é definida pela forma como as vítimas de cyberbullying interpretam o agente stressor (estímulo ou acontecimento externo ao indivíduo como é o caso do cyberbullying) e são importantes no sentido em que “selecionam” as estratégias de coping que consideram mais adequadas para lidar com o problema (Raskauskas, & Huynh, 2015). Este estudo, não analisa as estratégias de coping mas sim as estratégias utilizadas pelos observadores para enfrentar uma situação de cyberbullying observada. No coping, existem vários tipos de estratégias: as estratégias de coping focadas no problema e as estratégias de coping focadas na emoção. Também neste estudo, as estratégias de enfrentamento
  • 24. 15 adotadas pelos observadores podem ser variadas e este estudo procurará analisá-las . Assim, poder- se-á encontrar estratégias de enfrentamento voltadas para a resolução da situação ou estratégias de enfrentamento relacionadas com a não resolução da situação. No coping, as estratégias de coping focadas no problema são aquelas utilizadas pelos indivíduos que procuram o confronto e a procura de soluções para o problema (Na, Dancy, & Park, 2015; Sticca, Ruggieri, Alsaker, & Perren, 2015) e que inclui as estratégias de resolução do problema e a procura de suporte social (Parris, Varjan, Meyers, & Cutts, 2012; Na, Dancy, & Park, 2015). As Estratégias de coping focadas nas emoções têm como objetivo regular as emoções relacionadas com a situação. Englobadas nas estratégias de coping focadas nas emoções, Terry e Kynes (1998) consideram a existência de duas formas de reagir, e são elas, as estratégias de aproximação e de evitamento. Um exemplo de uma estratégia de evitamento consiste em não fazer nada relativamente ao problema ou evitar pensar nele e, inclui, distanciamento cognitivo, internalização das emoções ou externalização das emoções. Neste estudo, os observadores, poderão adotar estratégias de enfrentamento que não resolvem o problema e entre elas, estratégias de evitamento. Na literatura, poucos estudos existem sobre as estratégias de atuação dos observadores, pelo que este estudo irá referir algumas estratégias de coping, adotadas pelas vítimas de cyberbullying, que contribuam para a compreensão das várias estratégias de enfrentamento que podem ser adotadas pelos observadores. Jacobs, Dehue, Vollink e Lechner (2014), por considerarem o impacto que o cyberbullying tem nas vítimas adolescentes e, por atribuírem importância às estratégias de coping como forma de redução do stress imediato e de prevenir as consequências a longo prazo, identificaram os fatores que influenciavam a adoção de estratégias de coping mais eficazes e menos eficazes para lidar com o cyberbullying. Os determinantes que influenciavam as estratégias de coping ineficazes foram os determinantes ambientais (e.g. fraca supervisão parental e supervisão na escola), determinantes psicológicos (e.g. estratégias de coping focadas nas emoções, falta de conhecimento sobre estratégias de coping), determinantes pessoais e comportamentais (e.g. fracas competências sociais, limitações nas competências de resolução de conflitos, estilo de comunicação desadequado,
  • 25. 16 isolamento e experiência anterior de vitimização). Para os determinantes preditores de estratégias de coping eficazes os autores referem as dimensões psicológicas (e.g. expetativas de resultados positivos, elevada autoestima, e autoeficácia, conhecimento sobre as formas de reportar o cyberbullying e assertividade), dimensão ambiental (e.g. suporte social dos pais, pares e professores, influência social positiva) e dimensões pessoal e comportamental (e.g. boa saúde mental, elevadas competências sociais). Na sequência do estudo anterior, no presente estudo, procura-se identificar as estratégias de enfrentamento mais utilizadas pelos observadores o que facilita a identificação daquelas mais adequadas e menos adequadas. Em observadores, autores (Desmet, et. al., 2015) referem como fatores que prediziam a atuação dos observadores no cyberbullying a influência de experiências passadas como cybervítima ou como cyberagressor, emoções e estados de espírito, a cultura, a personalidade e o tipo de exposição. Dos resultados obtidos, verificou-se que a maioria dos observadores adotou um comportamento passivo (55%) e outros ofereceram suporte social à vítima (48,7%). Dos observadores que decidiram atuar, a vítima era sua conhecida ou eles próprios já tinham sido vítimas de cyberbullying. No presente estudo, serão analisadas também as emoções experenciadas pelos observadores, porém, pretende-se analisar as emoções sentidas pelos observadores após a adoção de uma estratégia de enfrentamento e não antes, como foi investigado no estudo de Desmet et al., (2015). Para além disso, o estudo anterior, verificou que dos observadores que atuaram no fenómeno, alguns já tinham sido vítimas antes. Com este estudo, pretende-se acrescentar valor ao analisar-se a influência que já ter sido cybervítima ou cyberagressor tem na adoção de uma estratégia de coping e nas emoções sentidas após a atuação dos observadores. Assim, este estudo procura trazer um contributo importante, para que no futuro se possa desenvolver nos observadores, quer sejam cyberagressores ou cybervítimas, comportamentos prossociais para a adoção de estratégias de enfrentamento adequadas. Em Portugal, num estudo exploratório e descritivo dirigido a uma população de jovens adultos foi-lhes solicitado que se lembrassem de situações de
  • 26. 17 cyberbullying que tivessem experenciado ou observado enquanto adolescentes (Souza, Veiga Simão, & Caetano, 2014). Das estratégias de enfrentamento referidas pelos jovens, as mais frequentes foram as estratégias de ajuda direta (61%) e as estratégias de ajuda indireta (19,4%). A presente investigação procura dar um contributo importante ao analisar as estratégias de enfrentamento adotadas pelos jovens adolescentes. Embora já existam alguns estudos sobre forma como os observadores lidam com o cyberbullhying, a investigação nesta área é ainda escassa quando comparada com os estudos que analisam as estratégias de coping adotadas pelas vítimas. De acordo com o acima exposto, com o presente estudo pretende-se analisar as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying, bem como analisar as emoções associadas às estratégias de enfrentamento por eles utilizadas. 5. As Emoções e o coping Os Estudos sobre as emoções não são recentes e já Lazarus e Folkman (1984) no seu modelo transacional de stress e coping relatam a sua importância. A Emoção pode ser definida como uma “reaç ão subjetiva a um evento saliente, caracterizada por mudanças fisiológicas, experienciais e comportamentais. É melhor compreendida como um processo dinâmico e um sistema organizado em volta de componentes interdependentes que vão originar diferenças individuais na forma de experienciar as emoções ao longo do desenvolvimento (Sroufe, 1995). No modelo transacional de stress e coping, as emoções são variáveis importantes na determinação das estratégias de coping e influenciam as avaliações cognitivas primárias e secundárias dos sujeitos. As emoções influenciam as respostas do indivíduo e existem emoções antecipatórias de ameaça ou de desafio (antes das avaliações cognitivas) e emoções para avaliar os danos e os benefícios após a execução da estratégia de coping (Lazarus & Folkman, 1987). No modelo de Lazarus e Folkman (1984), a emoção era considerada como moderadora das estratégias de coping e existia uma relação unidirecional entre emoção e coping. Contudo, em 1988, os autores verificaram que não existia uma relação unidirecional entre a emoção e o coping mas sim uma
  • 27. 18 relação bidirecional, ou seja, a emoção influenciava as estratégias de coping e as estratégias de coping modificavam as emoções experenciadas anteriormente. Os mesmos autores identificaram quatro tipos de emoções num processo de coping, com base nas avaliações cognitivas de um sujeito: as avaliações antecipatórias de ameaça que podem ser, por exemplo, avaliações feitas antes de um exame ou antes de utilizarem uma determinada estratégia de coping no cyberbullying (e.g. medo e preocupação), as avaliações de desafio (e.g. confiança), avaliação de danos (e.g. raiva e desgosto) e avaliações de benefício (e.g. alívio e felicidade). Este modelo é muito semelhante àquilo que acontece no modelo de intervenção do observador de Latané e Darley (1970), em que primeiro o sujeito deteta que algo está a acontecer, numa segunda etapa interpreta o acontecimento como sendo emergência ou não e numa terceira etapa assume responsabilidade por intervir, ou não. Para isso, é necessário que processos psicológicos e processos cognitivos estejam envolvidos nesta avaliação. Numa quarta fase, o indivíduo seleciona as estratégia de atuação que considera mais adequadas (avaliação cognitiva) e numa quinta fase aciona essas estratégias. Ao longo deste processo, tal como acontece na abordagem transacional de coping as emoções são mediadoras das respostas do indivíduo, existindo emoções antecipatórias de ameaça ou de desafio (antes das avaliações cognitivas) e emoções para avaliar os danos e os benefícios após a execução da estratégia de coping. Há emoções que podem influenciar a atuação do observador ou não, na etapa cinco do modelo. Emoções como o medo de poder vir a ser o próximo a sofrer retaliações ou vir a ser julgado pelos outros observadores, medo de perder privilégios relacionados com as novas tecnologias, ou insegurança e confusão sobre a forma como colocar em prática os seus atos, podem justificar a não intervenção das ações. A emoção medo não necessita ser exclusiva à etapa cinco, ela pode estar presente em qualquer uma das etapas anteriores e justificar igualmente a não intervenção do observador. Aqueles que não atuam e possuem baixos níveis de desengajamento moral podem experenciar sentimentos de culpa, ou seja, os observadores que têm um elevado nível de valores morais e experenciam emoções positivas podem sentir mais culpa e vergonha por não ajudarem outros e vão utilizar como mecanismo de defesa o desengajamento moral (Desmet et al., 2014).
  • 28. 19 Ainda Lazarus e Folkman (1987), identificaram quatro tipos de estratégias de coping capazes de produzir mudanças nas emoções: as estratégias de coping de resolução do problema, as estratégias de reavaliação positiva, o coping de confronto e o distanciamento. Enquanto que as estratégias de coping focadas na resolução de problemas e a reavaliação positiva melhoravam as emoções sentidas pelos sujeitos, as estratégias de confronto e de distanciamento pioravam. Estudos recentes concluíram que as vítimas de cyberbullying que utilizavam estratégias de coping de evitamento tinham maior probabilidade de sofrer de depressão (Vollink, Bolman, Dehue, & Jacobs, 2013) do que aquelas que utilizavam as estratégias de coping mais voltadas para a ação. Este resultado, reforça a importância deste estudo e a relevância de dotar os observadores de estratégias de enfrentamento que lhes permitam atuar junto das vítimas ou do foco que desencadeou o cyberbullying e reduzir as consequências negativas. Existem vários estudos (Baroncelli, & Ciucci, 2014; Caetano, Freire, Veiga Simão, Martins, & Pessoa, 2016; Caravita, Colombo, Stefanelli, & Zigliani, 2016) que procuram identificar as emoções sentidas pela vítima, pelo agressor depois de terem sido maltratadas ou maltratarem alguém, respetivamente, e escassos estudos sobre as emoções sentidas pelos observadores após observarem um incidente de cyberbullying. Nesse sentido, numa tentativa de investigar as emoções sentidas pelos observadores de cyberbullying, Caravita, Colombo, Stefanelli e Zigliani (2016) procuraram identificar as emoções por eles sentidas e constataram que após a apresentação de um vídeo com conteúdos de cyberbullying surgiram emoções como raiva, medo, vergonha e nojo, principalmente em observadores que já tinham sido vítimas de bullying e de cyberbullying. Em Portugal, Caetano, Freire, Veiga Simão, Martins e Pessoa (2016), identificaram as emoções sentidas pelas vítimas e agressores de cyberbullying e constataram que as vítimas tendem a sentir emoções como a tristeza, vontade de vingança e o medo, enquanto os agressores tendem a sentir satisfação, indiferença, alívio e prazer. As emoções sentidas pelos agressores pode estar relacionada com as especificidades relacionadas com o fenómeno do cyberbullying. Ortega (2009), refere que a emoção é um processo complexo e que depende em muito da interação social, da comunicação e, que as emoções regulam-se mediante um sistema
  • 29. 20 sofisticado de autocontrolo e de controlo externo, em que a percepção da reação dos outros ao nosso comportamento tem um papel importante. Quem nos observa atua como moderador e mediador do nosso comportamento e das emoções sentidas. Torna-se assim importante definir regulação emocional, e Gross (2001) inclui na sua definição todas as estratégias conscientes e inconscientes que se utiliza para aumentar, manter ou reduzir um ou mais componentes de uma resposta emocional. Estes componentes são os sentimentos, comportamentos e respostas psicológicas. Já no modelo de stress e coping os indivíduos fazem recurso à regulação emocional quando utilizam estratégias de coping focadas nas emoções. Os valores sociais desempenham um papel importante na regulação emocional, pois não magoamos os outros porque é socialmente sancionatório (Ortega, 2009). Contudo, Baroncelli e Ciucci (2014) reportam que a perceção de dificuldades na regulação emocional é preditor de cyberbullying e não de bullying, parecendo ser mais fácil alguém se tornar agressor no cyberbullying, o que justifica a maior prevalência de sobreposição de papéis no cyberbullying, ao que este estudo procura contribuir ao identificar as emoções sentidas por observadores cybervítimas e observadores cyberagressores após a adoção de uma estratégia de enfrentamento. Na literatura, existe investigação sobre as emoções sentidas pelas vítimas (Caetano, Freire, Veiga Simão, Martins, & Pessoa, 2016), agressores (Baroncelli, & Ciucci, 2014; Caetano, Freire, Veiga Simão, Martins, & Pessoa, 2016) e observadores (Caravita, Colombo, Stefanelli, & Zigliani, 2016), embora todos os estudos se debrucem sobre as emoções sentidas sobre o cyberbullying e não sobre as emoções sentidas após a adoção de um comportamento. Na literatura não existem evidências de estudos sobre as emoções sentidas pelos observadores após terem adotado uma estratégia de enfrentamento, ao que este estudo procura dar um contributo importante nessa área, uma vez que há autores (Lazarus & Folkman, 1988) que relatam a importância que as emoções têm ao longo de todo o processo de coping, neste estudo, estratégias de enfrentamento. Para isso, neste estudo, as emoções são classificadas como positivas ou negativas (Ekman, 2003) e considera-se que que se os observadores experenciarem emoções positivas após agirem, a probabilidade de voltarem
  • 30. 21 a agir em situações de cyberbullying pode ser grande, contudo, se os observadores após experenciarem emoções negativas, a probabilidade de agirem noutras situações de cyberbullying pode ser reduzida e o que se pretende é que desenvolvam atitudes prossociais. Assim, o observador numa situação de cyberbullying, ao utilizar uma determinada estratégia de enfrentamento, poderá experienciar emoções que poderão ser positivas ou negativas, consoante a estratégia adotada (Ortega, 2009). No presente estudo, pretende-se analisar as emoções sentidas pelos observadores após adotarem uma estratégia de enfrentamento e se estas estratégias estão relacionadas com emoções positivas e/ou negativas, por se considerar que as emoções por eles sentidas após agirem pode influenciar a sua atuação como observadores em situações futuras de cyberbullying.
  • 31. 22 Capítulo II – Metodologia de investigação 1.Objetivos da investigação e Questões de Investigação Este é um estudo exploratório e descritivo do comportamento dos observadores de cyberbullying numa amostra por conveniência de estudantes do 3º Ciclo e Secundário do Ensino Privado de uma escola da região de Lisboa. O presente estudo utiliza uma metodologia quantitativa operacionalizada por um questionário designado por “Inventário de Incidentes Observados de Cyberbullying (I.I.O.C.). Este estudo insere-se no âmbito de dois projetos de investigação aprovados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)1 (objeto de RAPI, com aprovação a dia 18 fevereiro de 2016) e tem como objetivo geral analisar o comportamento dos observadores de cyberbullying e as emoções associadas após a adoção de um comportamento. Pretende-se ainda averiguar nos observadores, a influência que experiências como cybervítima ou cyberagressor têm no seu comportamento e emoções associadas ao mesmo. Desta forma, foram delineados quatro objetivos, a partir dos quais foram lançadas algumas questões de investigação, que se apresentam em seguida: Objetivo 1: Analisar as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying. Questão de Investigação 1: Quais as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying? Objetivo 2: Investigar as emoções sentidas pelos observadores de cyberbullying depois de terem adotado uma estratégia de enfrentamento. Questão de Investigação 2: Quais a emoções sentidas pelos observadores de cyberbullying relativamente à adoção de uma estratégia de enfrentamento? 1 Este estudo insere-se em dois projetos aprovados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), um deles registado com o título: Cyberbullying: A regulação do comportamento através da linguagem, e com a referência: TDC/MHCPED/3297/2014, desenvolvido em parceria e com a colaboração do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Investigação e Desenvolvimento em Lisboa (INESC ID/INESC/IST/Ulisboa e a Altice Labs, S. A.) e o outro, registado com o título: The Bystander effect in cyberbullying - taking responsibility and interventive decision making through the regulation of behavior e, com a referência: SFRH/BPD/110695/2015.
  • 32. 23 Objetivo 3: Analisar a influência que já ter sido cybervítima ou cyberagressor tem na adoção de uma estratégia de enfrentamento adotada pelos observadores. Questão de Investigação 3: A experiência como vítima ou agressor de cyberbullying influencia as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying? Objetivo 4: Investigar a influência que já ter sido cybervítima ou cyberagressor tem nas emoções sentidas pelos observadores após a adoção de uma estratégia de enfrentamento. Questão de Investigação 4: A experiência como vítima ou agressor de cyberbullying influencia as emoções associadas às estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying? Neste estudo, de acordo com a literatura revista, vamos analisar as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying, bem como as emoções associadas, de acordo com o Modelo de Intervenção do Observador (Latané & Darley, 1970). A par, iremos investigar a influência que as experiências anteriores podem ter na seleção de estratégias de enfrentamento e nas emoções associadas. 2. Caracterização da Amostra Do total da amostra deste estudo salienta-se que 248 participantes são do sexo feminino (53.7%) e 214 participantes são do sexo masculino (46,3%). Salienta-se que 67 dos adolescentes não responderam a esta questão. Na amostra total, quanto à idade e ao género, a maior percentagem de participantes situa-se nos 13 anos de idade (125 participantes, 25,6%) (ver tabela 2.1). Tabela 2.1. Distribuição dos alunos por género e idade (n= 529). ____________________________________________________________ 11 12 13 14 15 16 17 18 Total ____________________________________________________________ Feminino 1 77 70 31 28 44 29 0 248 Masculino 4 35 55 29 32 35 26 1 214 Total 577 125 60 60 79 55 1 462 ________________________________________________________________________________ Quanto à distribuição dos alunos por género e ano de escolaridade, 130 dos inquiridos frequentam o 7º ano de escolaridade correspondendo a 26,6% do total da amostra. Salienta-se que 2,1% dos participantes (11) não responderam a esta questão (Anexo II.1).
  • 33. 24 Quanto ao acesso à Internet 96,2% disseram ter acesso à Internet a partir de qualquer dispositivo eletrónico enquanto que 3,8% referiu não ter acesso à Internet. Dos participantes que utilizaram Internet, o dispositivo eletrónico mais utilizado por eles para aceder à Internet foi o telemóvel (98,3%) (Anexo II.2, Anexo II.3, Anexo, II.4 e Anexo II.5). Relativamente ao número de horas dispendido na Internet verificou-se que 43,9% (232) do total da amostra, gastam, na sua maioria, entre uma a duas horas do seu tempo diário. Verificou-se que tanto as raparigas como os rapazes dedicam entre uma a duas horas à Internet (105 participantes do sexo feminino e 90 sujeitos do sexo masculino) (Anexo II.6). 3.Procedimento Para a recolha dos dados, a direção de um estabelecimento de ensino privado foi contactada de forma a apurar o seu interesse no presente estudo. Neste primeiro contacto foi enviada uma informação de apresentação/explicação do estudo, bem como dos seus objetivos para aprovação da direção da escola. Após a aprovação da escola, todos os Encarregados de Educação dos jovens, com as idades pretendidas, foram convidados a permitir a participação dos seus educandos no projeto, através de um consentimento informado, com a informação relativa ao estudo, onde comunicaram a sua decisão. No documento, para além de ser descrito o estudo, era assegurada a confidencialidade, a presença de um psicólogo clínico sempre que solicitado pelos alunos, e dada a informação de que os participantes poderiam desistir a qualquer momento do estudo. Após terem sido recebidas as autorizações dos Encarregados de Educação procedeu-se à recolha dos dados. Os Inventários foram preenchidos individualmente e entregues aos adolescentes pela psicóloga escolar do estabelecimento de ensino. O instrumento de avaliação foi acompanhado de uma folha com um texto de apresentação, onde constavam os objetivos essenciais do estudo, a importância da participação, bem como as questões relacionadas com o anonimato e confidencialidade das respostas, o caráter voluntário da participação, a possibilidade de desistência em qualquer momento do preenchimento do instrumento e a possibilidade para solicitarem o apoio de um psicólogo clínico se considerassem
  • 34. 25 necessário. A cada um dos questionários foi atribuído um código com o propósito de facilitar toda a identificação contida. Após a recolha dos dados, estes foram introduzidos no programa estatístico SPSS através da plataforma TELEFORM. 4.O Instrumento Para a recolha dos dados, foi pedida a colaboração da Direção escolar, dos Encarregados de Educação e dos participantes da investigação para que estes últimos respondessem ao Inventário de de Incidentes Observados de Cyberbullying (I.I.O.C.). O IIOC é constituído por 150 itens distribuídos por 10 escalas com perguntas de resposta aberta e fechada e tem como objetivo analisar o comportamento dos observadores perante um incidente de cyberbullying. Algumas das escalas do IIOC ainda se encontram numa fase de estudo. Para este estudo, utilizaram-se as escalas quatro e cinco do IIOC. A escala quatro analisa as estratégias de coping adotadas pelos observadores (“Decidi intervir na situação”; “Contei aos pais da(s) vítima(s)”) e as respostas foram registadas numa escala de 5 pontos em que 1 significa “Nunca” e 5 significa “Sempre”. A escala cinco analisa 15 emoções sentidas pelos observadores após terem adotado uma estratégia de enfrentamento (“Senti-me revoltado(a)”) e as respostas foram registadas numa escala de 5 pontos em que 1 significa “Nada” e 5 significa “Muito”. 5.Análise de dados Os dados foram introduzidos e analisados estatísticamente utilizando-se o programa estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 23.0 e o programa Factor Analysis versão 10.3.01. Para analisar os dados obtidos utilizaram-se vários métodos de análise exploratória de dados, a análise fatorial, a análise de correlação de variáveis e a análise de regressão linear simples. Para o estudo da estrutura fatorial do instrumento de medida, recorreu-se a uma análise fatorial exploratória, que foi apoiada pelos valores obtidos nos testes KMO (Kaiser-Meyer-Okin) e de Esfericidade de Bartlett. A estrutura fatorial foi estudada através da análise fatorial exploratória pelo programa Factor Analysis. A precisão do instrumento utilizado foi avaliada através de uma
  • 35. 26 análise de consistência interna (Cálculo do Alfa de Cronbach) e das correlações entre as subescalas do instrumento. As correlações entre as escalas do instrumento de medida foram calculadas através do coeficiente de Pearson, tendo sido considerado os níveis de significâncias de .01 e .05. Para analisar a predição de variáveis foi utilizada uma regressão linear simples.
  • 36. 27 Capítulo III – Análise e discussão dos resultados Neste capítulo, será apresentada uma breve análise das qualidades psicométricas do instrumento utilizado (IIOC) e as estatísticas descritivas consideradas relevantes para o estudo em causa. 1Análise das qualidades psicométricas do IIOC O IIOC, foi adaptado do Questionário de Cyberbullying no Ensino Superior (QCES) (Francisco, Veiga Simão, Ferreira, & Martins, 2015; Ferreira, Veiga Simão, Ferreira, Souza, & Francisco, 2016), nomeadamente, da escala dos observadores das vítimas. Para testar a validade do construto, o QCES foi sujeito a análise exploratória e confirmatória para a população portuguesa e revelou uma boa consistência interna na escala dos observadores das vítimas (alfa de Cronbach de 0.97). No presente estudo, num primeiro momento, efetuou-se uma análise fatorial dos itens da escala quatro que mede as estratégias de enfrentamento e da escala cinco que mede as emoções sentidas após a adoção de uma estratégia de atuação. Para a escala de estratégias de enfrentamento, a estrutura relacional dos vários tipos de estratégias face ao cyberbullying é explicada por quatro fatores. Após a análise fatorial foram confirmados os fatores: Estratégias de enfrentamento agressivo, estratégias de enfrentamento de denúncia, estratégias de enfrentamento de suporte social e estratégias de enfrentamento de evitamento. Foram excluídos os itens 3, 13, 21 e 23 dado que não obtiveram peso fatorial em nenhum dos quatro fatores (Anexo III.1) Pode verificar-se que as quatro subescalas apresentam uma boa consistência interna (ver tabela 3.1). Tabela 3.1. Coeficientes alfa de Cronbach para as subescalas de estratégias de enfrentamento do IIOC (n=529) _______________________________________________________________________________ Tipos de Estratégias de enfrentamento Alfa de Cronbach ((α) Estratégia de enfrentamento agressivo .84 Estratégia de enfrentamento de denúncia .82 Estratégia de enfrentamento de suporte social .91 Estratégia de enfrentamento de evitamento .78 ______________________________________________________________________________
  • 37. 28 Em segundo lugar, foi efetuado o mesmo procedimento par a escala cinco que mede as emoções. A estrutura relacional que mede as emoções sentidas face à adoção de uma estratégia de enfrentamento no cyberbullying é explicada por dois fatores (Anexo III.2). Pode verificar-se que as as duas subescalas apresentam uma boa consistência interna (ver tabela 3.2). Foram excluídos os itens 6, 9 e 14 dado que não obtiveram peso fatorial em nenhum dos dois fatores. Tabela 3.2. Coeficientes alfa de Cronbach para as subescalas das emoções do IIOC (n=529) _______________________________________________________________________________ Tipos de emoções Alfa de Cronbach ((α) Emoções positivas .84 Enoções negativas .87 ________________________________________________________________________________ 2.Estatística Descritiva e Correlações Os sujeitos desta investigação apresentam uma média, no que diz respeito às emoções positivas, a rondar o ponto 2 (“um pouco”), o que significa que perante uma determinada ação sua, para a amostra total, em média os sujeitos sentem um pouco sensação de bem-estar. A média das emoções negativas ronda o ponto 2 (“um pouco”), o que significa que perante uma determinada ação levada a cabo pelos sujeitos, estes sentem um pouco emoções desagradáveis perante uma ação ou a inação face a um acontecimento de cyberbullying. Para o total da amostra, em média, os sujeitos, utilizam poucas vezes estratégias de enfrentamento de evitamento (a rondar o ponto 2). As estratégias de evitamento de suporte rondam o ponto 3 (“algumas vezes”), o que significa que perante uma situação de cyberbullying, em média, os sujeitos utilizam estratégias de suporte para com a vítima, algumas vezes. As estratégias de enfrentamento de denúncia e as estratégias de enfrentamento agressivo são utilizadas, em média, poucas vezes (ponto 2). Os resultados permitem-nos concluir que os jovens utilizam mais, em média, as estratégias de enfrentamento de suporte face às outras, perante uma situação de cyberbullying, assim como, tanto sentem um pouco emoções positivas quanto negativas após uma ação ou inação (ver tabela 3.3.)
  • 38. 29 Tabela 3.3. Médias e Desvios-padrão das variáveis (n = 529) ________________________________________________________________________________ Média Desvio-Padrão Emoções Pos. 1.6 0.91 Emoções Neg. 1.9 0.72 Enfrentamento de Evitamento 2.3 1.03 Enfrentamento de Suporte 3 0.91 Enfrentamento de Denúncia 1.4 0.61 Enfrentamento Agressivo 1.2 0.42 ____________________________________________________________ As correlações entre as variáveis em estudo podem ser observadas no Quadro 1. De acordo com os resultados apresentados no quadro 1, é de salientar a existência de uma correlação positiva entre as estratégias de enfrentamento agressivas e as emoções positivas, embora fraca, o que significa que após a adoção de uma estratégia de enfrentamento agressiva os observadores de cyberbullying experienciam emoções de bem-estar. A variável estratégias de enfrentamento de denúncia apresenta uma correlação positiva, moderada, com as estratégias de enfrentamento de suporte, pois ao denunciar os observadores estão a providenciar a resolução do problema. Existe uma correlação igualmente positiva entre as estratégias de enfrentamento de denúncia e as emoções positivas e emoções negativas, embora fraca, para ambas. As estratégias de enfrentamento de suporte estão correlacionadas positivamente com as emoções positivas e com as emoções negativas, sendo que existe uma correlação moderada com as emoções negativas e uma correlação fraca com as emoções positivas. Quadro 1. Correlações das variáveis do estudo (coeficiente de Spearman) Enfrentamento Agressivo Enfrentamento Denúncia Enfrentamento Suporte Enfrentamento Evitamento Emoções Pos. Emoções Neg. Enfrentamento Agressivo - Enfrentamento Denúncia 0,073 - Enfrentamento Suporte 0,062 0,493(**) - Enfrentamento Evitamento 0,051 -0,235 (**) -0,215 (**) - Emoções Pos. 0.308(**) 0,275(**) 0,300(**) -0,174(**) - Emoções Neg. 0,041 0,240(**) 0,438(**) -0,064 0,020 - N= 529 ** valores significativos para p<0.01
  • 39. 30 Em resposta à Questão de Investigação 1, na tabela 3.4 apresentam-se as distribuições das frequências das respostas dadas pelos observadores referente às diferentes estratégias de enfren tamento adotadas face uma situação de cyberbullying. Em destacado (em negrito) estão as estratégias de enfrentamento mais utilizadas pelos observadores. Pode aqui concluir-se que as estratégias de enfrentamento mais utilizadas são as estratégias de suporte social, seguidas das estratégias de evitamento, seguem-se as estratégias de denúncia e por último as estratégias agressivas. A estratégia de enfrentamento mais utilizada pelos observadores é em 90% do total da amostra (468) “Apoiei a(s) vítima(s) tal como outra(s) pessoa(s) que viu/viram o mesmo que eu”. 88,3% dos jovens (459) reparou que existiam outras pessoas a ver o mesmo que eles e 87,1% (451) decidiu ajudar as vítimas. 78,4% dos jovens (409) contou a alguém da sua confiança. Todas estas estratégias de enfrentamento são estratégias de suporte social e que providenciam suporte às vítimas, tão importante como já referido por vários autores (Desmet et al., 2015; Quirk & Campbell, 2014) que consideram a sua relevância na minimização das consequências negativas do cyberbullying, para as vítimas. Os jovens observadores adotam em 78,3% (407) estratégias de evitamento, como por exemplo, ignorar o acontecimento assim como outros que viram o fizeram. Esta situação já foi descrita noutros estudos (Batstiaensens, Vandebosch, Cleemput & Desmet, 2013) e justificam que a não atuação dos jovens por evitamento pode ser devida a características próprias suas, como é o caso da personalidade, medo de sofrer retaliações ou receio de sofrer juízos de valor por parte dos outros. Em resposta à questão de Investigação dois, relativamente às emoções sentidas pelos observadores após a adoção de uma estratégia de enfrentamento, podemos observar na tabela 3.5, que as emoções por eles mais sentidas são a revolta (77,3%), a tristeza (65.2%), a confusão (54%), sentirem-se indefesos (43.1%), a insegurança (39.5%) e o medo (37.6%). Daqui podemos concluir que todas pertencem à dimensão das emoções negativas.
  • 40. 31 Da dimensão das emoções positivas aquela que é por eles mais exeperenciada é o orgulho (34%). Em resposta à Questão de Investigação 3, ter uma experiência como cyberagressor ou como cybervítima não influencia as estratégias de enfrentamento, pois tanto os observadores cyberagressores como os observadores cybervítimas utilizam com mais frequência a estratégia de suporte social, seguida da estratégia de evitamento, estratégia de denúncia e por último o enfrentamento agressivo (Anexo III.3 e Anexo III.4). Em resposta à Questão de Investigação 4, os resultados indicam que os observadores que já foram cyberagressores adotam como estratégias de enfrentamento, as estratégias agressivas, as de denúncia, as de suporte social e de evitamento, com correlação positiva com as emoções positivas. Existe uma correlação positiva moderada entre o enfrentamento agressivo e as emoções positivas e o enfrentamento de suporte social e as emoções positivas. O enfrentamento de suporte social e o enfrentamento de denúncia estão correlacionados positivamente com as emoções negativas (Anexo III.5). Os resultados indicam que os observadores que já foram cybervítima adotam como estratégias o enfrentamento agressivo, o enfrentamento de denúncia, o enfrentamento de suporte social e o enfrentamento de evitamento (Anexo III.6). Existe uma correlação positiva fraca entre o enfrentamento agressivo, o enfrentamento de denúncia, o enfrentamento de suporte social e as emoções positivas. Sendo que a correlação entre o enfrentamento agressivo e as emoções positivas é mais elevada nos observadores cyberagressores. A correlação entre o enfrentamento de suporte social e o enfrentamento de denúncia é mais elevada nos observadores cybervítimas. Existe uma correlação positiva entre o enfrentamento de denúncia e uma correlação positiva para o enfrentamento de suporte social e as emoções negativas, embora fraca para o enfrentamento de denúncia e moderada para o enfrentamento de suporte social, sem diferenças significativas entre os observadores cyberagressores e cybervítimas. A significância dos diferentes preditores sobre o efeito dos observadores que já foram vítimas e agressores de cyberbullying foi avaliada com um modelo de regressão linear simples implementado no SPSS Statistics (v. 23, SPSS Inc, Chicago, IL). Verificaram-se as condições de aplicação do modelo por recurso à análise gráfica dos resíduos
  • 41. 32 estandardizados, à estatística de Durbin- Watsone e à estatística VIF. Consideraram-se efeitos significativos aqueles com p<0.0.5. O modelo de regressão linear simples em função das estratégias de enfrentamento agressivo, de enfrentamento de denúncia, enfrentamento de suporte social e enfrentamento de evitamento e a variável observadores cybervítimas revelou-se estatísticamente significativo (F(4.370) = 21.451; R2a = 0.179; p=0.000) para a variável dependente emoções positivas e revelou-se estatísticamente significativo (F(4,370) = 19,301; R2a = 0.164; p = 0.000) para a variável dependente emoções negativas. A análise dos coeficientes de regressão e da sua significância estatística revelou que dos 4 preditores considerados apenas as estratégias de enfrentamento agressivo (β = 0.289, t(370) = 6.133; p=0.000) e as estratégias de suporte social (β = 0.258, t(370) = 3.999; p=0.000) são preditores significativos das emoções positivas. Para a variável dependente emoções negativas, a análise dos coeficientes de regressão e da sua significância estatística revelou que dos 4 preditores considerados apenas as estratégias de enfrentamento de suporte social (β = 0.409, t(370) = 3.7,548; p=0.000) é preditora significativa das emoções negativas. O modelo de regressão linear simples em função das estratégias de enfrentamento agressivo, de enfrentamento de denúncia, enfrentamento de suporte social e enfrentamento de evitamento e a variável observadores cyberagressores revelou-se estatísticamente significativo (F(4.295) = 17.635;R2a = 0.182; p=0.000) para a variável dependente emoções positivas e revelou-se estatísticamente significativo (F(4,295) = 15,421; R2a = 0.162; p = 0.000) para a variável dependente emoções negativas. Contudo, a análise dos coeficientes de regressão e da sua significância estatística revelou que dos 4 preditores considerados apenas o enfrentamento agressivo (β = 0.361, t(295)= 6.855; p=0.001) e o enfrentamento de suporte social (β = 0.143, t(295)= 2.437; p=0.000) são preditores significativos das emoções positivas, enquanto que a análise dos coeficientes de regressão e da sua sugnificância estatística revelou que dos 4 preditores consierados apenas o enfrentamento de suporte social (β = 0.361, t(295)= 6.070; p=0.000) é preditor de emoções negativas.
  • 42. 33 Assim, ter tido uma experiência anterior como cybervítima ou como cyberagressor não parece influenciar as estratégias de enfrentamento adotadas bem como as emoções associadas. Tabela 3.4. Estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores perante um incidente de cyberbullying (n= 529) Estratégias de enfrentamento Estratégia adotada Estratégia não adotada Enfrentamento agressivo Enfrentamento de Denúncia Enfrentamento suporte social Enfrentamento de evitamento N (%) N (%) “Fiz o mesmo aos agressores” 134 25.6 389 74,4 “Também agredi as vítimas” 51 9.8 472 90.2 “Decidi agir como o(s) agressor(es)” 56 10.7 468 89.3 “Agredi a(s) vítima(s) tal como outra(s) pessoas(s) que viu/viram o mesmo que eu” 26 5 496 95 “Decidi fazer o mesmo ao(s) agressor(es)” 109 21 409 79 “Contactei os responsáveis pelos serviços” 90 18 434 82 “Ccontei aos pais da(s) vítima(s)” 96 18.3 428 81.7 “Denunciei o(s) agressor(es)” 274 53.6 240 46.4 “Contei aos pais do(s) agressor(es)” 90 17.8 434 82.8 “Contactei as autoridades” 320 64.3 183 35.7 “Estive atento(a) à(s) outra(s) pessoa(s) 400 76.5 123 23.5 que viu/viram o mesmo que eu” “Apoiei a(s) vítima(s) tal como outra(s) pessoa(s) 462 89.2 56 10.8 que viu/viram o mesmo que eu” “Decidi ajudar a(s) vítima(s)” 451 87.1 67 12.9 "Contei a alguém da minha confiança” 409 78.4 113 21.6 “Aconselhei a(s) vítima(s) a contar a alguém de confiança” 383 73.4 139 26.6 “Apoiei a(s) vítima(s)” 468 90.2 51 9.8 “Decidi agir como a(s) outra(s) pessoa(s) que viu/viram o mesmo que eu” 362 70 155 30 “Reparei que havia(m) outra(s) pessoa(s) que viu/viram o mesmo que eu” 459 88.3 61 11.7 “Ignorei tal como outra(s) pessoa(s) que viu/viram o mesmo que eu” 407 78,3 113 21.7 “Decidi ignorar a situação” 330 64.3 183 35.7
  • 43. 34 Tabela 3.5.Emoções sentidas pelos observadores após a adoção de uma estratégia de Enfrentamento (n = 529) Emoções Emoção sentida Emoção não sentida Emoções positivas Emoções negativas N (%) N (%) “Senti-me feliz” 158 30.5 360 69.5 “Senti prazer” 103 19.3 419 80.7 “Senti-me orgulhoso” 177 34 344 66 “Senti-me triste” 339 65.2 181 34.8 “Senti-me revoltado” 402 77.3 118 22.7 “Senti-me indefeso” 223 43.1 295 56.9 “Senti-me culpado” 159 30.6 360 69,4 “Senti medo” 196 37.6 325 62.4 “Senti-me inseguro” 205 39.5 314 60,5 “Senti-me confuso” 281 54 239 46 “Senti-me sozinho” 133 25 387 74.4 3. Discussão dos Resultados Nesta investigação tinha-se como objetivos analisar o comportamento dos observadores de cyberbullying e as emoções associadas após a adoção de um comportamento. Pretendia-se ainda, averiguar a influência que observadores de cyberbullying com experiências como cybervítima ou como cyberagressor, tinham no seu comportamento e nas emoções associadas ao comportamento adotado. Estes objetivos foram cumpridos e permitiram testar as questões desta investigação. Este estudo permitiu trazer um contributo relevante ao investigar temas pouco estudados, como por exemplo, os observadores de cyberbullying e o papel dos observadores cybervítimas e dos observadores cyberagressores na seleção das estratégias de enfrentamento. Um contributo inovador prendeu-se com o estudo das emoções sentidas pelos observadores após a adoção de uma estratégia de enfrentamento. 2.1. Questão de Investigação 1: “Quais as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying?” Verificou-se que estes utilizam, com mais frequência, estratégias de suporte social à vítima seguido de estratégias de evitamento e com menos frequência, estratégias de denúncia e estratégias agressivas. Embora estas duas últimas estratégias sejam utilizadas com menos frequência, ainda
  • 44. 35 assim, acontecem, sendo importante averiguar em que situações podem ocorrer. Das estratégias de enfrentamento de suporte social as mais utilizadas por eles são as “estratégias de apoio às vítimas tal como outras pessoas o fizeram”,”reparar que existiam outras pessoas a ver o mesmo que eles”, “contar a alguém de confiança” ou “ajudar as vítimas”. Estes resultados são semelhantes aos encontrados noutros estudos (Souza, Veiga Simão, & Caetano, 2014; Desmet et al., 2015). As características próprias do cyberbullying, como por exemplo, a possibilidade de existir o anonimato, a distância física entre o observador e a vítima e o observador e o agressor, pode facilitar a ocorrência do suporte social à vítima por meio de mensagens privadas, por exemplo, e ao contrário daquilo que foi mencionado noutros estudos (Gahagan & Vaterlauss, 2015; Schacter, Greenberg & Juvonen, 2015), estes jovens adotam mais comportamentos positivos do que comportamentos negativos, o que se considera de extrema importância para a redução das consequências negativas do cyberbullying. Embora os resultados nos indiquem que os o observadores adotam maioritariamente estratégias de enfrentamento adequadas, ainda assim, recorrem muito às estratégias de evitamento, como por exemplo, “ignorar o acontecimento tal como outros que viram o mesmo que eles”. Uma explicação para esta ocorrência pode estar relacionada com o facto dos jovens terem receio de sofrer retaliações por parte dos agressores ou mesmo por parte de outras pessoas que estão a observar, já que se constata que muitos jovens referem estar atentos ao que outros observadores fazem (Batstiaensens, Vandebosch, Cleemput, & Desmet, 2013). Esta situação é de relevar e os psicólogos educacionais devem atuar juntos deste tipo de protagonistas que escolhe não atuar. 2.2. Questão de Investigação 2: Quais a emoções sentidas pelos observadores de cyberbullying relativamente à adoção de uma estratégia de enfrentamento? A segunda questão de investigação, procura dar resposta às emoções experenciadas pelos observadores de cyberbullying após a adoção de uma estratégia de enfrentamento. Os jovens observadores após adotarem uma estratégia de enfrentamento, experenciam, com mais frequência, emoções como a revolta, a tristeza, a confusão, o sentir-se inseguro, indefeso e o medo. Estas
  • 45. 36 emoções fazem parte da subescala das emoções negativas, o que significa que após a adoção de uma estratégia de enfrentamento os observadores sentem, maioritariamente, emoções negativas. Baroncelli e Ciucci (2014), falavam em emoções como o medo, a confusão e a insegurança como forma de justificar os comportamentos de evitamento dos observadores, afirmando que aqueles que percepcionam dificuldade em regular as suas emoções não atuam. Este resultado vai ao encontro dos resultados encontrados, uma vez que, uma das estratégias de enfrentamento mais utilizadas pelos observadores são as estratégias de evitamento que podem justificar as emoções negativas experenciadas pelos observadores. Para uma melhor compreensão dos resultados obtidos, considerou-se importante analisar quais as emoções associadas às diferentes estratégias de enfrentamento. Daqui resultou que as estratégias de denúncia estão associadas a emoções positivas e negativas. Após denunciarem o incidente de cyberbullying os observadores tanto podem sentir-se orgulhosos (pode estar relacionado com uma boa autoestima ou uma alta autoeficácia) como podem sentir medo de ser a próxima vítima e o facto de não controlarem a situação após a denúncia pode gerar confusão e insegurança. A adoção de estratégias de enfrentamento de suporte social relacionam-se com emoções positivas e negativas, sendo estas últimas correlativamente mais significativas, o que nos pode levar a sugerir que após a adoção da estratégia de suporte social, os sujeitos podem experenciar medo de serem as próximas vítimas. Também a ausência de feedback sobre a sua atuação e a não controlabilidade da situação pode causar-lhes sensações de mau-estar. Por outro lado, este resultado, poderá estar relacionado com a sobreposição de papéis, característico do cyberbullying. Por exemplo, um observador que já foi vítima de cyberbullying pode identificar-se mais facilmente com a vítima e oferecer-lhe suporte social. Embora o observador atue, este pode desenvolver emoções negativas pela recordação do momento anteriormente vivenciado por si. Por último, as estratégias agressivas estão correlacionadas com emoções positivas. Alguns autores (Nishina, & Juvonen, 2005; Vandebosch, & Cleemput, 2008) falam-nos da relação entre sujeitos que anteriormente foram vítimas de bullying e se tornaram cyberagressores utilizando como justificativa para as suas ações a vingança.
  • 46. 37 Se um observador foi alvo de bullying ou cyberbullying é possível que ao adotar um comportamento agressivo para com outra pessoa, experencie emoções positivas. No bullying, os agressores apresentam estratégias desajustadas para lidar com as situações e, consequentemente, dificuldades ao nível do relacionamento social, situação que parece ocorrer igualmente no cyberbullying e, enquanto observadores, juntam-se ao agressor e aproveitam a oportunidade para se destacarem, podendo assumir que esse comportamento irá trazer benefícios para si em termos de maior aceitação social, por exemplo (Nishina & Juvonen, 2005; Salmivalli, 2010; Poskiparta, 2011; Pozzoli, & Gini, 2013). Os resultados alcançados sugerem-nos a importância de incluir nas escolas, atividades que promovam, não só a adoção de estratégias de enfrentamento adequadas como também atividades que promovam a regulação emocional nos observadores de cyberbullying. Ou seja, é importante que os observadores adquiram estratégias adequadas para lidar com o cyberbullying mas também que aprendam a regular as suas emoções após agirem, para que não experienciem emoções como o medo, a insegurança e a confusão e se potencie emoções positivas como a felicidade e o orgulho. 2.3. Questão de Investigação 3: A experiência como vítima ou agressor de cyberbullying influencia as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying? Os resultados alcançados indicaram que a experiência como cybervítima ou como cyberagressor não influenciou as estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying. Ou seja, não existem diferenças estatísticamente significativas que indiquem que as estratégias de enfrentamento utilizadas por um observador cybervítima sejam diferentes das estratégias de enfrentamento adotadas por um observador cyberagressor. Estes resultados podem estar relacionados com a sobreposição de papéis, ou seja, o observador pode ser observador, vítima e agressor ao mesmo tempo e que pode ser uma característica somente do cyberbullying. Este resultado vem reforçar a importância da intervenção junto dos observadores, uma vez que estes não são apenas, observadores, apenas vítimas ou apenas agressores. Assim, é importante dotar os
  • 47. 38 observadores de estratégias de enfrentamento adequadas para intervir no cyberbullying, para intervir junto das vítimas de cyberbullying e para ajudarem-se a si próprios. 2.4. Questão de Investigação 4: A experiência como vítima ou agressor de cyberbullying influencia as emoções associadas às estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying? Os resultados alcançados indicaram que a experiência como cybervítima ou como cyberagressor não influenciou as emoções associadas às estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores de cyberbullying. Ou seja, não existem diferenças estatísticamente significativas que indiquem que as emoções sentidas por um observador cybervítima após a adoção de uma estratégia de enfrentamento sejam diferentes das emoções sentidas por um observador cyberagressor após a adoção de uma estratégia de enfrentamento. Estes resultados podem estar relacionados com a sobreposição de papéis acima mencionada. 3. Conclusões gerais O cyberbullying é um fenómeno complexo que envolve características muito específicas, é algo que ocorre por todo o mundo, com consequências negativas devastadoras que têm contribuído para que na literatura comece a existir informação sobre a compreensão deste fenómeno. Nesse sentido, este estudo procurou dar um contributo relevante ao investigar-se conceitos ainda pouco estudados na literatura, como por exemplo, o papel dos observadores no cyberbullying e o papel dos observadores cybervítimas e dos observadores cyberagressores. Constituiu uma inovação ao acrescentar ao modelo de Latané & Darley (1970) o estudo das emoções sentidas pelos observadores após a adoção de uma estratégia de enfrentamento. Para além disso, permitiu o desenvolvimento do inventário de Incidentes Observados de Cyberbullying (IIOC), instrumento inovador em Portugal, destinado à população adolescente, ainda em desenvolvimento. Posto isto, foram elencados alguns objetivos para este estudo e que foram alcançados. Dos resultados obtidos concluiu-se que as estratégias de enfrentamento mais utilizadas pelos observadores são as
  • 48. 39 estratégias de suporte social e as estratégias de evitamento. Este resultado é significativo e consistente com outros estudos que indicam que é necessário que os observadores desenvolvam comportamentos prossociais e não de evitamento face ao cyberbullying (Batstiaensens, Vandebosch, Cleemput, & Desmet, 2013). As emoções por eles sentidas são, maioritariamente, negativas podendo estar relacionadas com o medo de sofrer retaliações por parte do agressor ou dos outros observadores (Batstiaensens, Vandebosch, Van Cleemput, & Desmet, 2013). Não se verificou uma influência significativa das experiências como observador cybervítima ou como observador cyberagressor nas estratégias de enfrentamento e nas emoções por eles sentidas posteriormente, porque o observador que foi cybervítima também foi cyberagressor e vice-versa. Este estudo é importante no sentido em que revelou a importância que a sobreposição de papéis assume no cyberbullying e alerta-se para que em estudos futuros esta variável seja considerada. Nas escolas, o psicólogo deverá intervir não só nas cybervítimas ou nos cyberagressores mas sim nos observadores, pois este estudo permitiu concluir que os observadores podem ser igualmente cybervítimas e cyberagressores. 3. 1. Limitações do Estudo Esta investigação tem algumas limitações que devem ser reconhecidas. Em primeiro lugar, a amostra é constituída por indivíduos pertencentes a um colégio privado do Distrito de Lisboa, considerando-se importante que em estudos futuros sejam incluídos participantes do Ensino Público. Em segundo lugar, a amostra é homogénea, em futuros estudos, dever-se-á ter em conta uma amostra constituída por participantes de várias regiões de Portugal. Em terceiro lugar, o número de itens que compôs as emoções positivas e negativas não foi equivalente. Existiram mais itens pertencentes a emoções negativas do que positivas o que poderá ter enviesado os resultados. Por último, os observadores cybervítimas e os observadores cyberagressores mostraram-se não ser “puros”, ou seja, uma grande parte dos participantes eram observadores cybervítimas e cyberagressores ao mesmo tempo, o que pode ter influenciado os resul
  • 49. 40 3.2. Implicações e estudos futures Estes resultados reforçam a importância dos psicólogos educacionais intervirem junto dos observadores, com atividades que promovam estratégias de enfrentamento ajustadas e promovam a regulação emocional, uma vez que são dois conceitos interdependentes e que interferem na atuação ou não dos observadores e nas emoções por eles sentidas. De acordo com os resultados, nem sempre um observador é um simples observador, podendo igualmente assumir o papel de cyberagressor ou cybervítima ou ambos, sendo importante que o psicólogo consiga despistar situações e contribua para que o indivíduo modifique o seu comportamento. Este resultado veio trazer um contributo importante e contribuiu para o reconhecimento da importância de se estudar melhor o fenómeno da sobreposição de papéis no cyberbullying e, não há referência na literatura sobre este fenómeno. Em estudos futuros, mostrou-se importante averiguar nos observadores que utilizam estratégias de evitamento e estratégias agressivas, as crenças subjacentes ao seu comportamento. Sugere-se ainda, o estudo da influência que o feedback das estratégias de enfrentamento adotadas pelos observadores pode ter nas emoções por eles sentidas após a adoção da estratégia de enfrentamento. Por último, investigar a sobreposição de papéis e a sua influência no cyberbullying.