O documento descreve a Oficina dos Menestréis, um grupo teatral de São Paulo que oferece cursos livres de teatro musical. A Oficina promove um teatro acessível e coletivo, diferente do modelo da Broadway. Seu fundador, Deto Montenegro, busca inspirar o público a participar dos espetáculos. Muitos alunos já se tornaram atores profissionais após frequentar os cursos, embora a formação não seja o principal objetivo da Oficina.
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CAPA
Um palco para todos
1 Mariana Jansen e
Maria Clara Vergueiro
A
toI:Acortinaseabreere-
vela um cenário noturno.
Luzesdosfaróis,dasjane-
las dos prédios, dos pos-
tes. Sons de buzinas, de
gente rindo, conversando e beben-
do nos bares. Pessoas circulam em
todas as direções a pé, de carro, de
ônibus, de metrô. O céu com nuvens
escondeasestrelas.Deumladoaou-
tro, todos têm algo para fazer, aon-
de ir. Ninguém parece andar sem ru-
mo.NãoemSãoPaulo.Passandopor
um portão de ferro, no final de uma
rua, no fundo de uma galeria, apa-
rece um homem. Ele é Candé Bran-
dãoenocentrodessepalco,apresen-
ta um teatro diferente. “Um pedaci-
nho de arte em uma cidade que ofe-
rece muito”, diz um dos diretores da
OficinadosMenestréis,eoatorprin-
cipal dessa peça.
Esseespaçodoteatromusicalque
éaOficinadosMenestréisestánoco-
ração de São Paulo, em uma galeria
da Domingos de Morais, no Teatro
Dias Gomes. “Com o metrô na porta,
àbeiradaAvenidaPaulista,umlugar
de fácil acesso. Foi virando a nossa
casa, acabou virando ponto dos me-
nestréis,” relata Deto Montenegro,
fundador da Oficina em São Paulo.
Nacontramãodoespírito
“cadaumporsi”da
metrópole,aOficina
dosMenestréisresgata
osentidodotrabalho
emequipe,através
dospalcosteatrais
Mansão Miss
Jane satiriza
filmes de terror
2. 8 ┆ ┆ ┆ 20 a 27 de novembro de 2010 sãopaulo ┆ ┆ ┆ 9
CAPA
Noturno, A Mansão de Miss Jane
e A Sétima Arte. Se você nunca ou-
viu falar de nenhum desses espetá-
culos é porque ainda não foi apre-
sentado ao trabalho desenvolvido
por este menestrel, como gosta de
ser chamado, e seu irmão, o cantor
Oswaldo Montenegro. A companhia
produzmusicaisdeumjeitodiferen-
te:brasileiro,paulista.Ecomprodu-
çõesnasquaistodospodemsetornar
atores de seus próprios atos.
Em tempo, Menestrel é como um
saltimbanco, cantando e se transfor-
mandoindependentedeseupúblico
oupalco.OteatrodaOficinaéumte-
atro musical diferente daquele apre-
sentado pela Broadway ao mundo
há décadas, e que os grandes teatros
paulistanosvêmapresentandonosúl-
timostempos.AmúsicadoMenestrel
vem como comentário de uma histó-
ria. E os musicais produzidos por es-
ses dois irmãos cariocas que adota-
ram São Paulo, abordam temas mais
nacionais, e próximos ao cotidiano.
Tudo começou quando Oswaldo
trouxeparaSãoPauloomusical“No-
O teatro da Oficina
é um teatro musical
diferente daquele
apresentado pela
Broadway
Cena do tradicional
“A Dança dos Signos”,
dando vida ao
Sagitário do zodíaco”
turno”, que começou a ser exibido
em 1994 no Teatro Augusta, e conti-
nua em cartaz até hoje no palco do
Teatro Dias Gomes, para onde a Ofi-
cina migrou depois de 8 meses: “Em
1990 começamos uma oficina que
gerou várias montagens no mesmo
ano: Noturno, A Dança do Signos,
Mayá e O Vale Encantado. Em 1993,
voltei para Rio de Janeiro e meu ir-
mão assumiu o teatro e a oficina”,
explica o cantor.
Naquela ocasião, Oswaldo e o ir-
mão, Deto Montenegro, ensaiavam
atores usando um método próprio,
focadonotrabalhodegrupoenoim-
proviso coletivo. Mais tarde, um dos
alunos-atores,Candé,juntou-seaDe-
toparatransformarosmétodosdeen-
saio em exercícios de atuação, e as-
sim fundar a Oficina dos Menestréis.
DetoeOswaldosãofigurasimpor-
tantesquandooassuntoéavindado
musical para o Brasil. Wilson Gava,
professor da escola de formação de
atores Wolf Maia, explica a diferen-
ça do musical da Oficina para os ou-
tros apresentados em teatros paulis-
tas: “Foram eles que introduziram
o teatro musical no Brasil. Eu, jun-
to com a Fernanda Chamma, trou-
xemos o musical estilo Broadway e
eles, muito antes de nós, surgiram
com um musical próprio, diferente
da Broadway, algo voltado mais pa-
ra as raízes nacionais.”
Depoisdepercorrerumalongaes-
trada desde os primeiros cursos li-
vresmontadosnosanos1990,aquele
grupoqueseencontratodasassema-
nas no Dias Gomes cresceu. E agora
a Oficina é um nome conhecido en-
tre atores profissionais, aspirantes
e interessados em teatro. Nesses 20
anos de história, já passaram por lá
mais de 20 mil alunos. Em 2009, fo-
ram 15 grupos por semestre, dirigi-
dos por Deto, Candé e mais doze di-
retores assistentes.
Da platéia para o palco
EmtodasasapresentaçõesdaOfi-
cina dos Menestréis, antes do come-
ço do espetáculo, em meio a agrade-
cimentos e patrocinadores, a plateia
éinformadadoscursosqueestãoco-
meçandoparanovasproduções.Um
conviteparaoespectadoreumapos-
sibilidade de ser aquele que recebe
os aplausos.
Issotornaopúblicoessencialpara
a existência da Oficina. Muitos alu-
nos um dia já ocuparam as cadeiras
daaudiênciaemumdosespetáculos
eforamtocadospelaatmosferaalta-
menteinclusivadosmenestréis.Wil-
mar dos Santos, 39 anos, assistente
administrativo da Secretaria de Es-
tado da Saúde de São Paulo, é um
exemplo: “Um amigo nos levou pra
assistir Noturno. Fiquei em êxtase,
me apaixonei pela peça, e via todos
os anos. Em 2001, participei de Raul
ForadaLeieoNoturnodaqueleano,
em2002,deoutratemporadadoNo-
turno e Lendas&Tribos”.
A ideia de instigar quem assiste a
seimaginarnomesmopalco,atuan-
do, é uma das bases do trabalho da
Oficina, como explica Deto Monte-
negro: “A Oficina tem como propos-
ta aproximar o público, é uma arte
maispopular.NaBroadway,vocêad-
mira aqueles bailarinos. Você admi-
ra, mas não sente que pode dar con-
ta de fazer aquilo. A Oficina é mais
acessível, inspira as pessoas a faze-
remparte,elassesentemmaiscapa-
zes de estar ali também.”
Profissão: aprendiz
A proposta da Oficina dos Menes-
tréis é muito diferente daquela apre-
sentada pela maioria das grades es-
colasdeteatrodacidade.(leiamaisna
página16:“Teatropraquemprecisade
Teatro”).Aliseoferecemcursoslivres,
semapretensãodaformaçãomaisaca-
dêmica de atores. O método único de
abordageméaprática,alémdosexer-
cíciosdereflexãoaplicadosnasaulas,
fazem,noentanto,comquealunosse
tornem atores na Oficina.
“Eu não diria que não é um tra-
balho de formação de ator. Os alu-
nos não saem de lá com um DRT (o
atestado de capacitação profissio-
nal para artistas) como as outras es-
colas muitas vezes oferecem e talvez
essasejaagrandediferença.Masna-
da impede uma pessoa que fez três
anos de Oficina, faça a prova espe-
cífica e passe no teste que o habi-
lita com o DRT. Alias, é o que mui-
tos fazem”, explica Hudson Senna,
que também é professor da esco-
la de atores Wolf Maia. “Os alunos
ali têm todos os exercícios necessá-
rios, professores capacitados, textos
e,alémdateoria,muitaprática,uma
apresentação a cada final de curso.
3. 10 ┆ ┆ ┆ 20 a 27 de novembro de 2010 sãopaulo ┆ ┆ ┆ 11
O que falta para dizer que é um cur-
so completo? Nada!”, emenda Hud-
son,sobreaformaçãonaOficinados
Menestréis.
Alguns alunos saem de Menes-
tréis a profissionais de teatro. Gra-
ça Cunha é hoje cantora da banda
doprogramaAltasHoras,daTVGlo-
bo, e já participou de musicais como
amontagembrasileiradeHairspray.
Sua única base de trabalho são os
cursos que fez na Oficina: “A Oficina
tem uma grande importância na mi-
nha carreira, foi lá que tive a primei-
ra oportunidade de ser dirigida e de
crescer artisticamente. Não tive con-
tatocomoutrasescolas,participeide
outrosmusicaisportesteouconvite.”
Ainda que possa ser considerado
um curso completo, formar profis-
sionais não é o propósito da Ofici-
nadosMenestréis.DetoMontenegro
justifica:“Hojeeuusoteatro,música
e dança, mas com a intenção de pre-
parar o aluno, através da arte, para
qualquer profissão, e não preparar
paraaarte.Umadvogado,porexem-
plo,poderesgatardessamaneira,al-
guns sentidos que qualquer um gos-
taria de ter.”
“Junto, Junto, Junto”
Desde o começo, o trabalho em
grupo foi parte importante da pro-
posta da Oficina e o estímulo do co-
letivoésemprecolocadoemfoco:“É
impressionante o efeito inconscien-
te que o público sente ao ver que as
coisaspodemserfeitascoletivamen-
te”, explica Candé.
Oswaldoindicacomoacoletivida-
defuncionaemsuascenas:“Minhas
peças apenas eliminam o peso sufo-
cante dos “papéis principais”, pois
eles não existem. Todos estão ali co-
mo narradores, não há uma com-
posição verticalizada dos persona-
gens. Prefiro que a pessoa do ator
surja na frente, misturada ao espíri-
to da personagem que ele represen-
ta. Isso pode dar uma sensação me-
nos competitiva ao grupo”, analisa.
CAPA
Onde a regra
é a exceção
Após o acidente de carro que a
deixou paraplégica, a vida de
a ata ontri, , m o comple-
tamente O e para m ito
ma e peri ncia tra m tica, a-
ata con e i tran ormar em
pera o e e t m lo enina e
peri eria, ela le a a ma i a pa-
cata, e se viu renovada dentro da
adversidade: “Não que o aciden-
te ten a i o ma coi a oa, ma
em n o ele, a o como i -
mo, a me mice e i car no-
vos horizontes, algo que talvez
nunca tivesse feito se não fosse o
e me acontece , eclara
O aci ente oi na e tra a,
an o o carro em e ia a a
errapo e cai em m arranco
partir ali, a , como o ta
e er c ama a, re ol e e
reinventar e adaptou-se à nova
i a
Foi convidada a participar de
m r po e an ante com a
peca oo ornin ao a lo, e
em e i a o ot rno a eiran-
te o come o, oi em i cil i-
l ar o pro eto e ormar m elen-
co e repente, ramo no pal-
co , comemora a ata, e na
poca tin a tr ano e le o e
mal a ia li ar com a ca eira
atri a irma e o teatro
tran orma a pe oa e e t o
e apren e com o e erc cio le-
a para o e ia a ia la tam-
m tra al a como pale trante e
relata a e peri ncia a a -
la , encontrei m camin o para
ma profi o, me e co ri como
atri o e e to ca a tra a em
ria a ncia p licit ria e
tra al o como atri profi ional,
em campan a , e em no ela
tam m , ape ar e empre rece-
er pap i e en ati am a e-
fici ncia o taria e ter m pa-
pel e a o a a o m ica , con-
cl i
a Oficina o ene tr i , o
pro eto para ca eirante , pe o-
a com n rome e o n e in i-
o e ai a ren a, mi t ram
to o o tipo e am o palco co-
mo e pa o emocr tico co-
ran a a me ma para to o o
al no , entro a limita o e ca-
a m inten o n nca oi a e
l tar por ma ca a, o pa ar a
m o na ca e a e nin m
liana ac , , eria -
ir re ra o ca o ela, encon-
trar ma ati i a e e n o impli-
ca e n ma rotina fi a oi a
ran e reali a o O teatro, ape-
ar e ter ma rotina fi a e en-
saios e preparações, foge do lu-
ar com m e a me mice ca a
pe a m e afio, m per ona-
em i erente , en ina
liana at o ante em o tra
e cola , e m or op com a
atri a ra ar o o, e me e
com a emo e a mo a a -
ra me per nto por e e ain-
a n o a ia come a o a a er
te te o me e m ito comi o
e e re ol i apo tar em e con-
el o , conta liana a i ti
apresentação de Noturno Cadei-
rante e e i entifico com o e ti-
lo o e pet c lo empre o-
n ei a er m m ical , i
ncontrei m r po m ito
e pecial, nem ima ina a o an-
to m aria a min a i a , emo-
ciona-se a atriz que, apesar de tí-
mi a, oi e entin o ca a e
mai ent rma a n amo m i-
tos encontros, churrascos, pizzas,
ia en ara ela, e a enorme
ni o e compan eiri mo m
o atore e mai caracteri-
am o entro amento no palco
pe oa notam
atri tam m apren e
como a er a monta em e palco,
al o m ito raro em e cola
e o a lo O tra al o o ai-
larino , cantore , a apro ima-
e com o claro e o e c ro o
c ama o lac o t , a coreo ra-
ia , como a aptar t cnica
oll oo iana ao e tilo ra ilei-
ro, to o o proce o pea am
por nó intera o o elenco
merece e ta e ó e ra-
mo o tra icionali mo t cnico
conce en o o palco com atro
pare e a e tr , a a late-
rai , a co ia e o p lico ,
i erte e
ara liana a plat ia m ter-
m metro alio o, capa e e ol-
er ao ator ma ener ia e me-
e mai o e a per ormance
O teatro m l ar m ico, te-
nho total liberdade de expressão
e into e perto o re lta o , afir-
ma a o em
ilmar o anto , , pa o
quatro anos ensaiando no espaço
da platéia o dia que seria o
do seu verdadeiro ensaio na
Oficina e o te te para o m ical
e a l ei a i mor i o pelo
r ene trel , como o ta
e rincar
O ncion rio p lico tam m
participou de Noturno e Lendas e
ri o , en o e te ltimo o e
pre eri o eci i e profi iona-
li ar li i ncia p ra, at a-
o, re e o, percep o, e m ica-
li a e , re alta o al no, e n o
aceita críticas sobre o estilo da
Oficina im m ran e reco-
n ecimento compro a o pela
anti a e e n mero e apre-
entamo e pela lota o a ca a
em a monta en , e en e
pe ar e ter interrompi o
at almente a a la , ilmar
preten e oltar no ano e em
m er a eiro mene trel n o
ai a Oficina, e a a ta tempora-
riamente
CAPA
Tabata Contri (acima),
atriz de “Noturno
Cadeirantes”,
e Juliana Budacs
(ao lado), na peça
“Raul Fora da Lei”
4. 12 ┆ ┆ ┆ 20 a 27 de novembro de 2010 sãopaulo ┆ ┆ ┆ 13
CAPA
Usando um clássico de Shakespea-
re,oirmão,Deto,explica:“Nummu-
sical da Oficina, o grupo está em ce-
na em 80% do roteiro, diferente de
uma peça como Romeu e Julieta em
que os dois estão 80% e o soldados
estão 20% Aqui não, aqui o Romeu
e Julieta passam a ser coadjuvan-
tes, porque o importante é o grupo.”
Em uma cidade na qual o indi-
vidual tem uma grande força, Deto
vai na direção contrária: “Na medi-
da em que a gente também não tra-
balhavacom‘mão-de-obra’especia-
lizada, começamos a investir muito
namassa,no‘junto’,nadinâmicade
grupo. Tempos depois, eu descobri
o quanto o ser humano é carente de
estar junto, de ser uma turma. Hoje
todo mundo é muito individual, to-
do mundo passa por cima de todo
mundo e aqui não.”
O reflexo desta filosofia aparece
na vida dos alunos. Vera Lúcia Gon-
çalves, 51 anos, é aluna da Oficina
desde 2004, além de professora de
educação física. O que aprendeu da
Oficinalevaparaavida:“Emtermos
profissionais,osmétodosdoreflexo,
do ‘junto’, da convicção, me ajuda-
ram muito nas aulas de educação fí-
sica.Hojelidomelhorcomopúblico,
sou mais ágil, me sento mais segu-
ra ao ministrar palestras no Brasil e
fora daqui, além de não ter medo de
errar.Comotrabalhoemequipe,dis-
ciplina, respeito, você passa a enca-
rar a vida de outra forma”, comenta.
José Carlos Caldeira Júnior, 36
anos, é químico. Na Oficina, ele é
De aluno a professor
Candé Brandão insiste em continuar aprendendo
o la o e eto ontene ro, ele
o tom a a la na Oficina o e-
nestréis, aplicando na vida pessoal
tudo o que ensina aos alunos no Te-
atro ia ome
InspiraçãodaOficina:m icai o
O al o ontene ro
Trabalhocoletivo:re lta oimpre -
ionante, eemocionaaop lico
Trabalhoindividual: ificilmente
tra al amo
AOficinadentrodeSãoPaulo m
pe acin o earte n amental
Porqueacapitalpaulista:elanos
e col e , ra a monta em e m
r poem
Paraumalunoacertar:eleprecisa
primeiroerrar
Perder o medo de errar significa:
er mai a t ntico e i er mel or
as cenas
Nosensaioseespetáculosamúsica
proporciona: ee t m lo o
ladosensíveleafetivo
Nestes20anosjápassarampela
Oficina: e a milal no
Númerodegruposecolaboradores
porsemestre: r po e tima a-
mentee a i tente
OsmaioresmantenedoresdaOfici-
na:seusalunoseopúblico
AquemaOficinaatende:todotipo
epe oa,intere a ana orma o
art ticape oal o profi ional
Omundoláforaé:m itoin i i al
Otreinamentocoletivoproporciona
aoaluno: m itomai li er a epara
sesoltareerrar
OmétododaOficina: mm to o
próprio,quedesenvolveexercícios
AmaiordivulgaçãodaOficinaé:no
amo o oca a oca
O circuito “Off Broadway”: i nifi-
ca e pet c lo e fim e c r o,
ama ore
OencontroDeto+Candésurgiu:
an ooO al o ontene rono
c amo para ermo e a i ten-
te ntamo a e peri ncia eca-
a meom to opróprio e en-
volvido
Candécomoprofessor: realmente
vivoetrabalhooquepassopara
me al no an o oc aplicai -
sonoseudia-a-dia,tantopessoal co-
moprofi ional,o e oc en inafi-
cam itomai er a eiro
o Zé, que há três anos participa das
produções.Tambémparaele asvan-
tagens extrapolam a experiência do
palco: “Quando você está no palco,
exposto,aprendearecebertantocri-
ticasquantoelogios,eissoteprepara
para vida. Agora, levo a minha vida
semmepreocuparcomaopiniãodos
outros, se estou agradando ou não”.
Teatro para Todos
Não se surpreenda se um dia for
convidadoaassistirumapeçadaOfi-
cinadosMenestréisesedepararcom
umelencointeiramenteformadopor
cadeirantes,ouporportadoresdasín-
drome de Down. O espaço de Deto
Montenegro e Candé Brandão abre
turmasespeciaisparaespetáculosdi-
ferentes,comooNoturnoCadeirante
e a montagem UP – uma brincadeira
com o nome da síndrome de Down.
Em 2003, Deto começou a incluir
os cadeirantes na peça Good Mor-
ning São Paulo e dali surgiu a idéia
de fazer uma produção com o elen-
co inteiro em cadeira de rodas. Nas
primeiras aulas, apenas quatro alu-
nos compunham o grupo. Com a di-
vulgação do projeto pelos próprios
participantes, a produção cresceu,
e hoje tem 19 participantes no palco.
Não diria que é um
trabalho de formação
de ator. Os alunos não
saem com um DRT
como outras escolas
oferecem
Cena do musical
“Noturno”, carro
e e d fi
5. 14 ┆ ┆ ┆ 20 a 27 de novembro de 2010 sãopaulo ┆ ┆ ┆ 15
Na Oficina, não importa se você é
cadeirante, Down ou idoso. Tabata
Contri(vejanapág.10),umadasalu-
naspioneirasdoprojetocadeirantes,
expõe opinião a respeito: “Eles não
fazem desses projetos sociais algo a
parte, é tudo igual. Isso tudo é um
tapa na cara da sociedade. Mostrar
queumidosoaindatemvez,mostrar
queumcegopoderealizarcoisasco-
mo qualquer outra pessoa”.
Dessapercepçãoinclusiva,deque
todos podem fazer teatro, nasceu a
produção Up. Em fevereiro de 2009,
assistindo à produção do Noturno
Cadeirantes, a aluna Natalia Giglio-
ti, portadora da síndrome de Down,
perguntou à Deto Montenegro “por
que não fazer uma com a gente?”
A mãe de Natália, Dalva Giglio-
ti, contou a história do começo da
produção e a importância do teatro
na vida da filha: “O principal de tu-
do isso é que eles reconhecem a sua
própria capacidade. Eles precisam
acreditar neles mesmos, elevar a au-
to-estima.”
Angélica Peixoto, mãe de Caro-
line, outra aluna do Up, procura as
palavrasparadescreveraemoçãode
verafilhapelaprimeiraveznopalco:
“A gente questiona se que eles vão
tercondiçõesdefazeraquilo,porque
existe um bloqueio da nossa parte,
não da deles. Eles não têm papas na
língua, tudo é muito espontâneo, é
tudo muito fácil e prático.” Angélica
percebeopapeldotrabalhodaOfici-
na na rotina da filha: “Ela sai daqui
nodomingoevaipracasaesperando
a semana passar pra chegar o outro
domingo e ir para o teatro de novo.”
Funcionando como pequeno
exemplar da cidade cosmopolita e
diversa, a Oficina pode se dar ao lu-
xo de dizer que sabe como conjugar
diferenças, estimulando as habili-
dades de cada um. Em grupo, essas
ferramentasqueparecemtãopeque-
nas,ganhamamesmaproporçãodas
sombras reproduzidas pelos refleto-
resdoespetáculoNoturno.Enchemo
palco, encantam a platéia. Conquis-
tam, fulminantemente, novos adep-
tos do estilo ‘junto’ de fazer teatro e
de viver na cidade.
Um Menestrel a serviço do mundo
Deto quer romper fronteiras levando arte como forma de inclusão
n a or a Oficina o ene -
tréis, ele acredita no poder do tra-
al o eito em r po, na e ponta-
nei a e e no potencial e ca a m
na ora e con tr ir per ona en
Como descobriram que teatro Dias
Gomes poderia ser a morada dos
Menestréis?
om a c e a a em o a lo, omo
para o itório ta icamo
l por oito me e l m o e pa o
er pe eno, a ente tin a ma rela-
o r im com o pe oal a a mini -
tra o oi ent o e m ami o,
a lo ranco, alo o eatro ia
ome , e na poca e ta a m
po co o a o, em m ita ati i a e,
ma e tin a m e pa o m ito
om, com palco ran e, metr na
porta, on corre ore e plat ia
icamo a i
Qual o maior desafio que a Oficina
enfrentou nesses dez anos de
existência?
O maior e afio, e ra a a e
a ente con e i perar, oi o
e con encer a pe oa com n ,
ona e ca a, o p licit rio, etc
e ele po eriam a er o c r o, e -
t amo ao alcance ele e e po-
eriam tam m er arti ta o e i -
o m o , temo e e p lico i-
er o e oc c e ar n ma a la
com al no , e per ntar em
tra al a com arte, er o apena tr
o atro O o tro o profi -
ionai e o tra rea o come o
m ita ente in a pra c por ca a
o O al o ontene ro i emo
m ita ific l a e e e plicar e
n o e t amo preparan o o cara
pra ele er amo o t amo an-
o a ele m con icionamento art -
tico para e ele a e a orma
e i e e maior ific l a e
oi m ar a i o e e p lico
Por que os Menestréis não estão no
grande circuito teatral da cidade?
Oficina n o a parte a cena tea-
tral e o a lo por e li a com
o tra coi a, n o li a com arti ta ,
li a com profi ionai e to a a
rea e em a i a er m con-
icionamento art tico O me al -
no é aquele que saiu do trabalho e
quer fazer sua atividade artística
emanal i erente a e cola e te-
atro on e ele ai tra al ar com
em er e profi ionali ar, a
Oficina n o tem e a inten o e
profi ionali ar e o al no i er
i o, e o in ic lo pra ma e -
cola e peciali a a o e e o te-
atro, m ica e an a, como ati i-
a e li re, em profi ionali a
ma e cola inten o a oficina
re atar re e o, int i o, percep-
o, a to e tima o o coi a
e al er profi ional er
apren er a li ar
Quais são os próximos projetos e
metas da Oficina?
No que diz respeito ao espaço físi-
co a Oficina, a re ta ra o i
o no o artel eneral o m -
to o, e ac o e ca a e mai
le ar a i ia a i para mai
pe oa te ano, por e emplo,
nó a rimo ma Oficina em a-
t a m rela o a pro eto o-
ciai , min a pró ima i ia ir pa-
ra m pre io, e n o ma
i eia no a, poi fi eram i o e
e ac o m ito acana pen ei
em ir para ma tri o in ena, e -
cre er m li ro, oto ra ar, a er
ma te e o taria e le ar e e
tra al o para ora, a er m pro e-
to ocial, em a e no aiti i-
n a meta ca a e mai ampliar,
a re an o no o e afio , como a
incl o o a ti ta no e pet -
c lo , por e emplo
“Espetáculo Vale
Encantado, conhecido como
um musical infantil pra
gente grande”.
6. 16 ┆ ┆ ┆ 20 a 27 de novembro de 2010 sãopaulo ┆ ┆ ┆ 17
Nemsódetrabalho,trânsitoefute-
bolnosfinaisdesemanaviveumpau-
listano.Muitasvezeséprecisoforjara
realidade para entender e aceitar me-
lhor os papéis de cidadão e de ser so-
cialnumametrópolecomoSãoPaulo,
enacidadepipocaumainfinidadede
cursos livres de teatro que, assim co-
mo a Oficina dos Menestréis, buscam
convocar pessoas comuns para uma
experiência teatral que melhore o de-
sempenho de cada um nas múltiplas
tarefas diárias. Seguindo a tendência
queOswaldoeDetoenxergaramhá10
anos, as grandes escolas de teatro da
cidadeabremsuasportasparacursos
específicos, voltados para leigos e pa-
ra nichos que não encontram muitas
opçõesdeintegração.Éocasodecen-
tros de estudos teatrais como o Teatro
EscolaCéliaHelena,oMacunaíma,Re-
criarte, e The Globe, por exemplo, on-
decrianças,adolescentes,egenteque
chegou à “melhor idade” podem se
se jogar nas aulas de igual para igual,
semapreocupaçãodeestarequipara-
doàquelesquebuscamumaprofissio-
nalização como atores.
OempresárioRuyDrever,38,jáera
umprofissionalbemsucedidoquando
participoudocursoVivenciandooTe-
atro,doTeatroEscolaCéliaHelena.No
curso,quetemduraçãodeseismesese
gruposformadosdeacordocomoper-
fildosalunos,eleteveaulasdeexpres-
sãocorporal,improvisoetécnicasvo-
cais. O objetivo era otimizar o desem-
1 Maria Clara Vergueiro
ci a ee t c eia eop e para em er e
aprimorar a t cnica teatrai on e ae cola e
pe oa comc r o li re comomeio ee pre o
Teatro para quem
precisa de teatro
ESCOlAS
penhoprofissionaletrazerumaexpe-
riência mais lúdica para pessoas que
vivemoduroambientecorporativo.“A
minha experiência foi bem divertida.
Osexercícioseramdescontraídosede-
mandavam muita imaginação. Gostei
detertidoavivenciadeatoreaprovei-
tei a diferença daquela realidade com
a que tenho no meu dia-a-dia de bu-
siness. Foi válido para sair da rotina e
viajarsaudavelmenteemeconfirmou
que essa não seria uma carreira para
mim”, brinca.
Oteatronasempresaséumfilãoca-
davezmaisexploradopelasescolas.O
Núcleo de Artes Cênicas da Fundação
ÁlvaresPenteadopercebeuopotencial
dedesenvolvimentodaslinguagenste-
atraisparaestepúblicoháquatroanos,
com o curso Teatro para Executivos.
“Conceitosquenopassadoeramapli-
cados somente aos atores passaram a
serconsideradosumaponteparaode-
senvolvimento de habilidades desco-
nhecidas ou desvalorizadas nos pro-
fissionais”, observa a diretora do Tea-
tro FAAP, Claudia Hamra, no texto de
apresentação do curso.
Querendo fugir das escolinhas de
esportes dos clubes da cidade, Fran-
cisco Martins Fontes, 16, entrou para
as aulas de teatro da Casa do Teatro
para ter algo com que se distrair de-
pois da escola, algo que, segundo ele,
“oexercitassefisicamenteepsicologi-
camente”.Nempensaemserator,nun-
ca pensou. “O maior resultado de ter
teatro.Eraumcursogratuitoedequa-
lidade”, conta Rita, que hoje dá aulas
deatuaçãoparaTVnaescolaTheGlo-
be,semnuncaterfeito,elaprópria,um
curso profissionalizante. “Eu valorizo
muito a experiência dos cursos tam-
bém para quem quer ser ator, porque
assim é possível investir nas áreas de
interesse específicas, sem precisar fa-
zerasmatériasobrigatóriasdasfacul-
dades. Como professora, eu vejo mui-
ta gente que não se interessa por par-
tedoconteúdoqueestouoferecendo.”
Ritaressalta,ainda,aimportânciados
cursosespecíficosparaqueseformem
gruposmenosheterogêneos,oque,se-
gundoela,facilitaotrabalhodoprofes-
sor e dos alunos. “É difícil inserir um
único aluno da terceira idade ou mui-
tojovemnumgrupodealunospadrão.
Eles têm outro tempo, outros interes-
ses, outra experiência de vida e outra
disponibilidadefísicaparaosexercício
e isso pode ser complicado.”
Quando ainda era adolescente, a
atriz Maria Manoella, 30, entrou para
ocursoprofissionalizantedoteatroCé-
liaHelena,ondeseformou.Elaémais
uma profissional que valoriza a expe-
riência dos cursos livres. “O ator não
nasce sabendo, quanto mais cursos
e espetáculos fizer, melhor. Os cursos
promovem uma idéia de que sobrevi-
ver em grupo é melhor”. Manoella es-
tá em cartaz com o espetáculo As Mu-
lheres Que Bebem Vodka, ao lado da
atriz Patrícia Gaspar, 49, comediante
veterana, quediztersidolevadaaote-
atro“pelaalegria”. SeformounaEsco-
la de Artes Dramáticas da USP (EAD).
Hoje,elaacreditanopotencialdotea-
trocomobasedaformação.“Deviaser
partedocurrículoescolar,porqueote-
atro faz seres humanos mais prepara-
dos, mais vivos”, defende.
A concepção pessoal que o ator e
professor do tradicional Grupo Tapa,
GuilhermeSant’Ana,56,desenvolveu,
combina muito com aquela proposta
pela Oficina dos Menestréis. “Teatro
é uma arte coletiva, ninguém faz te-
atro sozinho. Além disso, ao viver vá-
riospersonagense mergulharfundona
almahumana,oatorsetornamaisto-
lerante com seu semelhante, se torna
maiscompreensivoesolidário”.Ques-
tionado sobre este grupo, conceitual-
mentetãodistantedoTapa,elenãoti-
tubeia:“Elestêmumaalegriaeumsen-
sodecoletivoquedeveriamsercopia-
dos como exemplo por muitos outros
grupos. Vida longa aos Menestréis!”
mapa dos cursos
SENAC:comcargahoráriade42ho-
ras para pessoas acima de 16 anos.
www.sp.senac.br
Oficinas Culturais Oswald de
Andrade:oficinasgratuitasemvá-
riasregiõedacidade.www.oficinas
culturais.org.br
Teatro Escola Célia Helena: cur-
sos, para crianças e adolescentes.
www.celiahelena.com.br
TeatroEscolaMacunaíma:OPró-
Ser é o curso livre com oito aulas.
Oferececursosvoltadosparacrian-
çaseempresas.www.macunaima.
com.br
Teatro FAAP: o curso Tetro para
Executivos,tambémtemaopçãoem
inglês. São oito aulas, ministradas
uma vez por semana. www.faap.
br/teatro/oficina_teatro/oficina_
teatro.htm
TheGlobe:cursosparaadolescen-
tes, crianças www.globe-sp.com
feito teatro foram as amizades que eu
fiz. Fora isso, aprendi a me expor me-
lhor”, comenta.
Palavra de profissional
Quemvivedaprofissãotambémva-
lorizaaexperiênciadoscursoslivresna
formação. A atriz mineira Rita Grillo,
34, começou em 2000 o seu caminho
pelas oficinas e cursos quando che-
gou na cidade. Foi nas Oficinas Cul-
turais Oswald de Andrade, da Secre-
taria de Cultura, que ela começou sua
peregrinação pelos cursos livres. Na-
quelaépoca,Grilloteveaoportunida-
dedefazerpartedogrupocomandado
porprofissionaisdaCompanhiadoLa-
tão,uma das mais conceituadas com-
panhias da cidade. Além do Latão, o
Teatro da Vertigem era outra compa-
nhia que fazia parte do projeto da Se-
cretaria da Cultura, ministrando cur-
sos livres e gratuitos para quem qui-
sesse chegar mais perto da arte dra-
matúrgica. Na montagem de Os Ser-
tões, que tinha um elenco faraônico,
muitos atores saíram dessas oficinas.
“Foi a minha porta de entrada para o
Mansão Mix Menestréis,
Projeto que integra
de r tes defi e tes
visuais e auditivos