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CAPÍTULO 1 – HISTÓRIA DO TABACO
O uso do tabaco surgiu aproximadamente há cinco mil anos, primeiro na
China e depois nas sociedades indígenas da América Central, em rituais
mágico-religiosos. Cientificamente, a planta é conhecida como Nicotiana
tabacum e chegou ao Brasil provavelmente pela migração de tribos tupis-
guaranis, que fumavam tabaco em charutos como estimulantes para vencer a
fome e o cansaço. 3
Os portugueses ao desembarcarem no Brasil, tomaram conhecimento
do tabaco através do contato com os índios. Seu uso disseminou-se pela
Europa a partir do século XVI, introduzido por Jean Nicot, diplomata francês
vindo de Portugal, com o intuito de curar as enxaquecas de Catarina de Médici,
rainha da França. Nicot acreditava que a planta tinha poderes medicinais e
estimulou seu cultivo. 4
O comércio do tabaco tornou-se lucrativo no final do século XVI e na
primeira metade do século seguinte surgiram as companhias que se tornaram
verdadeiras potências. No século XVII o hábito de fumar se alastrou por todo o
planeta, tornando símbolo de virilidade para os homens. Nesse mesmo século
iniciou-se o hábito de marcar tabaco, e no início do século XVIII o hábito de
aspirar rape (tabaco em pó). Atribuíram-se ao rape qualidades medicinais , pois
o espirro por ele provocado eliminava os “humores supérfluos”, “revigorava o
cérebro” e “clareava a mente”, além de curar bronquites e outros males
respiratórios, como se acreditava na época. 5
O século XIX marca o início da industrialização do tabaco. Entre 1840 e
1850 surgiram descrições de uma nova moda de fumar apreciada pelas
mulheres dos salões parisienses, o “cigarrette”, precursor dos cigarros. No final
do século XIX ocorreu a implantação do cigarro industrializado que, por ser
produzido em larga escala, possuía baixo custo. Assim, o hábito de fumar
atingiu as classes mais pobres. A primeira Guerra Mundial marcou a grande
expansão do hábito de fumar, aumentando inclusive o número de mulheres
tabagistas. 5
Atualmente, o tabaco é o vegetal mais utilizado no mundo inteiro sem
finalidade alimentícia. Transformou-se em respaldo econômico e financeiro de
muitos países. com profundas implicações sociais e políticas. No Brasil é
cultivado desde 1612 (na Bahia) e já no século seguinte, proporcionava a
nação lucros inferiores apenas aos da cana-de-açúcar. Tem-se vinculado a
generalização do hábito de fumar as duas etapas fundamentais, próprias da
dinâmica epidemiológica do tabagismo: a difusão e a manutenção. A difusão é
compreendida como a fase de aquisição do hábito de fumar cigarros, pelos
membros de uma geração ou pelo membro de uma comunidade. A
manutenção é a continuidade do hábito de fumar. 5
1.1 Componentes do Tabaco
A fumaça do tabaco contém milhares de elementos. Os três mais
importantes são o alcatrão, o monóxido de carbono e a nicotina. 4
O alcatrão é o que resta depois de extraída a nicotina e a umidade. Nele
encontram-se as aminas aromáticas e as nitrosaminas não voláteis que
acredita-se estejam envolvidas na etiologia do câncer na bexiga e os
hidrocarbonetos policíclicos como o benzo (a) pireno, um carcinogênico
extremamente potente. O alcatrão contém ainda vários outros compostos,
inclusive íons metálicos e diversos compostos radioativos. 5
O monóxido de carbono (CO) é um gás que resulta da combustão de
matéria. A produção de monóxido de carbono é incrementada pela restrição no
suprimento de oxigênio, como acontece dentro de um cigarro. O monóxido de
carbono passa facilmente dos alvéolos pulmonares para a corrente sanguínea.
Nela, ele se combina com a hemoglobina para formar a carboxemoglobina
(COHb). A hemoglobina é a porção do sangue que põe para fora do corpo o
dióxido de carbono (produzido por processos metabólicos naturais) e, em troca,
introduz o oxigênio. Quando a hemoglobina está impregnada de monóxido oun
de dióxido de carbono, o resultado pode ser uma carência do oxigênio
necessário ao organismo. 4
Uma diferença básica entre o monóxido e o dióxido de carbono é que o
primeiro adere mais firmemente à hemoglobina, da qual é removido muito mais
lentamente. Assim, o sangue pode acumular níveis bastante elevados de
monóxido de carbono e lentamente tornar o corpo carente de oxigênio. Quando
o sistema cardíaco detecta níveis insuficientes de oxigênio, o coração pode
começar a trabalhar mal. Em casos extremos, pode ocorrer um ataque
cardíaco. 4
A nicotina considerada um dos componentes principais do tabaco, pois é
a responsável pela dependência química.
1.1.1 A Nicotina
A nicotina é uma droga que aparece normalmente nas folhas de tabaco.
É geralmente considerada como estimulante, já que excita muitas células
celebrais e aumenta a atenção. Porém, seus efeitos são mais complexos,
podendo afetar desde os nervos da coluna vertebral até a velocidade dos
reflexos do joelho. Isso tudo varia conforme a quantidade de cigarros fumados.
Assim, certas células nervosas que são estimuladas com a nicotina de uns
poucos cigarros podem sofrer efeitos contrários com um número de cigarros
maior. 4
A nicotina é uma amina terciária composta de anéis de piridina e
pirolidina, conforme pode-se observar na Figura 1. Existem formas racêmicas
estereoisomeras de estrutura tridimensional. No tabaco, duas estão
permanentemente presentes: l-nicotina e d-nicotina. A primeira é 100 vezes
mais ativa farmacologicamente, constituindo 90% do total. No ato de fumar,
atingindo a brasa do cigarro em torno de 800°C, surgem formas racêmicas.
Estereoisomeros da nicotina variam com as plantas do tabaco. Na Nicotiana
tabacum encontram-se os mais importantes farmacologicamente, como a
anabasina, anabatina, nornicotina, miosina, Nmetilanabasina nicotirina,
nornicotirina. Nornicotina e anabasina possuem atividade semelhante à da
nicotina. O tipo do tabaco, o modo e a freqüência das tragadas influem a
quantificação desses alcalóides. Os mais importantes metabolitos, quantitativa
e qualitativamente, são a cotinina e o óxido-N-nicotina. 6,7,8
FIGURA 1- Nicotina e dois principais metabolitos 9
A nicotina possui semelhança com uma das substâncias que ocorrem
naturalmente no organismo (acetilcolina), e o corpo dispõe de um eficiente
sistema de “quebrar” a nicotina e eliminá-la pela urina (desintoxicação). Outra
característica da nicotina é que ela é bem absorvida pelas mucosas nasais e
bucais, que são altamente capilarizadas. É por isso que mascar tabaco ou
inalá-lo constituem formas de ingestão de nicotina. 4
A exposição repetida à nicotina fumada resulta em uma rápida tolerância
ou em efeitos decrescentes, ou seja, à medida que os cigarros são
consumidos, o fumante obtém cada vez menores efeitos físicos e psicológicos
da ingestão da droga. Os malefícios do tabagismo sugerem que a nicotina não
é tão danosa quanto o alcatrão e o monóxido de carbono. Porém, seu papel é
insidioso, pois as pessoas, no esforço para obter nicotina, acabam ingerindo os
subprodutos alcatrão e Monóxido de Carbono.

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Tabaco

  • 1. CAPÍTULO 1 – HISTÓRIA DO TABACO O uso do tabaco surgiu aproximadamente há cinco mil anos, primeiro na China e depois nas sociedades indígenas da América Central, em rituais mágico-religiosos. Cientificamente, a planta é conhecida como Nicotiana tabacum e chegou ao Brasil provavelmente pela migração de tribos tupis- guaranis, que fumavam tabaco em charutos como estimulantes para vencer a fome e o cansaço. 3 Os portugueses ao desembarcarem no Brasil, tomaram conhecimento do tabaco através do contato com os índios. Seu uso disseminou-se pela Europa a partir do século XVI, introduzido por Jean Nicot, diplomata francês vindo de Portugal, com o intuito de curar as enxaquecas de Catarina de Médici, rainha da França. Nicot acreditava que a planta tinha poderes medicinais e estimulou seu cultivo. 4 O comércio do tabaco tornou-se lucrativo no final do século XVI e na primeira metade do século seguinte surgiram as companhias que se tornaram verdadeiras potências. No século XVII o hábito de fumar se alastrou por todo o planeta, tornando símbolo de virilidade para os homens. Nesse mesmo século iniciou-se o hábito de marcar tabaco, e no início do século XVIII o hábito de aspirar rape (tabaco em pó). Atribuíram-se ao rape qualidades medicinais , pois o espirro por ele provocado eliminava os “humores supérfluos”, “revigorava o cérebro” e “clareava a mente”, além de curar bronquites e outros males respiratórios, como se acreditava na época. 5 O século XIX marca o início da industrialização do tabaco. Entre 1840 e 1850 surgiram descrições de uma nova moda de fumar apreciada pelas mulheres dos salões parisienses, o “cigarrette”, precursor dos cigarros. No final do século XIX ocorreu a implantação do cigarro industrializado que, por ser produzido em larga escala, possuía baixo custo. Assim, o hábito de fumar atingiu as classes mais pobres. A primeira Guerra Mundial marcou a grande expansão do hábito de fumar, aumentando inclusive o número de mulheres tabagistas. 5
  • 2. Atualmente, o tabaco é o vegetal mais utilizado no mundo inteiro sem finalidade alimentícia. Transformou-se em respaldo econômico e financeiro de muitos países. com profundas implicações sociais e políticas. No Brasil é cultivado desde 1612 (na Bahia) e já no século seguinte, proporcionava a nação lucros inferiores apenas aos da cana-de-açúcar. Tem-se vinculado a generalização do hábito de fumar as duas etapas fundamentais, próprias da dinâmica epidemiológica do tabagismo: a difusão e a manutenção. A difusão é compreendida como a fase de aquisição do hábito de fumar cigarros, pelos membros de uma geração ou pelo membro de uma comunidade. A manutenção é a continuidade do hábito de fumar. 5 1.1 Componentes do Tabaco A fumaça do tabaco contém milhares de elementos. Os três mais importantes são o alcatrão, o monóxido de carbono e a nicotina. 4 O alcatrão é o que resta depois de extraída a nicotina e a umidade. Nele encontram-se as aminas aromáticas e as nitrosaminas não voláteis que acredita-se estejam envolvidas na etiologia do câncer na bexiga e os hidrocarbonetos policíclicos como o benzo (a) pireno, um carcinogênico extremamente potente. O alcatrão contém ainda vários outros compostos, inclusive íons metálicos e diversos compostos radioativos. 5 O monóxido de carbono (CO) é um gás que resulta da combustão de matéria. A produção de monóxido de carbono é incrementada pela restrição no suprimento de oxigênio, como acontece dentro de um cigarro. O monóxido de carbono passa facilmente dos alvéolos pulmonares para a corrente sanguínea. Nela, ele se combina com a hemoglobina para formar a carboxemoglobina (COHb). A hemoglobina é a porção do sangue que põe para fora do corpo o dióxido de carbono (produzido por processos metabólicos naturais) e, em troca, introduz o oxigênio. Quando a hemoglobina está impregnada de monóxido oun de dióxido de carbono, o resultado pode ser uma carência do oxigênio necessário ao organismo. 4
  • 3. Uma diferença básica entre o monóxido e o dióxido de carbono é que o primeiro adere mais firmemente à hemoglobina, da qual é removido muito mais lentamente. Assim, o sangue pode acumular níveis bastante elevados de monóxido de carbono e lentamente tornar o corpo carente de oxigênio. Quando o sistema cardíaco detecta níveis insuficientes de oxigênio, o coração pode começar a trabalhar mal. Em casos extremos, pode ocorrer um ataque cardíaco. 4 A nicotina considerada um dos componentes principais do tabaco, pois é a responsável pela dependência química. 1.1.1 A Nicotina A nicotina é uma droga que aparece normalmente nas folhas de tabaco. É geralmente considerada como estimulante, já que excita muitas células celebrais e aumenta a atenção. Porém, seus efeitos são mais complexos, podendo afetar desde os nervos da coluna vertebral até a velocidade dos reflexos do joelho. Isso tudo varia conforme a quantidade de cigarros fumados. Assim, certas células nervosas que são estimuladas com a nicotina de uns poucos cigarros podem sofrer efeitos contrários com um número de cigarros maior. 4 A nicotina é uma amina terciária composta de anéis de piridina e pirolidina, conforme pode-se observar na Figura 1. Existem formas racêmicas estereoisomeras de estrutura tridimensional. No tabaco, duas estão permanentemente presentes: l-nicotina e d-nicotina. A primeira é 100 vezes mais ativa farmacologicamente, constituindo 90% do total. No ato de fumar, atingindo a brasa do cigarro em torno de 800°C, surgem formas racêmicas. Estereoisomeros da nicotina variam com as plantas do tabaco. Na Nicotiana tabacum encontram-se os mais importantes farmacologicamente, como a anabasina, anabatina, nornicotina, miosina, Nmetilanabasina nicotirina, nornicotirina. Nornicotina e anabasina possuem atividade semelhante à da nicotina. O tipo do tabaco, o modo e a freqüência das tragadas influem a
  • 4. quantificação desses alcalóides. Os mais importantes metabolitos, quantitativa e qualitativamente, são a cotinina e o óxido-N-nicotina. 6,7,8 FIGURA 1- Nicotina e dois principais metabolitos 9 A nicotina possui semelhança com uma das substâncias que ocorrem naturalmente no organismo (acetilcolina), e o corpo dispõe de um eficiente sistema de “quebrar” a nicotina e eliminá-la pela urina (desintoxicação). Outra característica da nicotina é que ela é bem absorvida pelas mucosas nasais e bucais, que são altamente capilarizadas. É por isso que mascar tabaco ou inalá-lo constituem formas de ingestão de nicotina. 4 A exposição repetida à nicotina fumada resulta em uma rápida tolerância ou em efeitos decrescentes, ou seja, à medida que os cigarros são consumidos, o fumante obtém cada vez menores efeitos físicos e psicológicos da ingestão da droga. Os malefícios do tabagismo sugerem que a nicotina não é tão danosa quanto o alcatrão e o monóxido de carbono. Porém, seu papel é
  • 5. insidioso, pois as pessoas, no esforço para obter nicotina, acabam ingerindo os subprodutos alcatrão e Monóxido de Carbono.