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  • 3. A história da humanidade pode serA história da humanidade pode ser vista como a história da tomada devista como a história da tomada de consciência, da ilusão e doconsciência, da ilusão e do reconhecimento dos erros dereconhecimento dos erros de convicção.convicção. O mundo está aí, nós o percebemos eO mundo está aí, nós o percebemos e nós o dizemos! No entanto, às vezesnós o dizemos! No entanto, às vezes o que consideramos real eo que consideramos real e verdadeiro pode ser ilusório e falso.verdadeiro pode ser ilusório e falso.
  • 4. RELATIVISMORELATIVISMO: Pode ser visto como: Pode ser visto como uma posição a partir da qual auma posição a partir da qual a verdade de uma proposição éverdade de uma proposição é relativa a algo em cada situação. E orelativa a algo em cada situação. E o fundamento da verdade é temporal.fundamento da verdade é temporal. É a "Postura segundo qual todaÉ a "Postura segundo qual toda avaliação é relativa a algum padrão,avaliação é relativa a algum padrão, seja qual for, e os padrões derivamseja qual for, e os padrões derivam de culturas."de culturas."
  • 5. FUNDAMENTALISMO: É a tese de queFUNDAMENTALISMO: É a tese de que a verdade de qualquer discursoa verdade de qualquer discurso funda-se em algo independente efunda-se em algo independente e não-relativo ao discurso.não-relativo ao discurso. Portanto, a verdade é formada emPortanto, a verdade é formada em algo FIXO, pois, seu fundamento éalgo FIXO, pois, seu fundamento é ETERNO.ETERNO.
  • 6. AGORA CONSIDER-SE A SEGUINTEAGORA CONSIDER-SE A SEGUINTE SITUAÇÃO:SITUAÇÃO: Na aldeia A, têm-se por verdadeiroNa aldeia A, têm-se por verdadeiro que o aborto não é crime e queque o aborto não é crime e que fumar tabaco não acarreta máfumar tabaco não acarreta má formação fetal.formação fetal.
  • 7. Na vizinha aldeia B, têm-se por falsas essasNa vizinha aldeia B, têm-se por falsas essas proposições.proposições. Durante séculos uma aldeia tentou impor-seDurante séculos uma aldeia tentou impor-se culturalmente sobre a outra. Muitosculturalmente sobre a outra. Muitos morreram na luta pela verdade.morreram na luta pela verdade. Um dia um sábio andarilho e errante,Um dia um sábio andarilho e errante, resolveu a disputa mostrando que aresolveu a disputa mostrando que a diferença de opinião das duas culturas nãodiferença de opinião das duas culturas não precisava ser resolvida.precisava ser resolvida.
  • 8. Ele afirmou: “O homem é a medida doEle afirmou: “O homem é a medida do que é e do que não é”.que é e do que não é”. A verdade é relativa ao homem, logoA verdade é relativa ao homem, logo ambas as aldeias estão com aambas as aldeias estão com a verdade, apenas tem culturas everdade, apenas tem culturas e visões diferentes.visões diferentes.
  • 9. Os habitantes concordaram com oOs habitantes concordaram com o sábio.sábio. Desse dia em diante, ninguém maisDesse dia em diante, ninguém mais morreu pela verdade, pois cadamorreu pela verdade, pois cada aldeia dizia e ensinava que a verdadealdeia dizia e ensinava que a verdade era relativa e que não era necessárioera relativa e que não era necessário brigar pela verdade.brigar pela verdade. Todos ficaram contentes e passaram aTodos ficaram contentes e passaram a fazer festas comuns.fazer festas comuns.
  • 10. Até que um dia, uma moça da aldeiaAté que um dia, uma moça da aldeia A, engravidou de um rapaz da aldeiaA, engravidou de um rapaz da aldeia B. A moça disse que iria fazerB. A moça disse que iria fazer aborto, pois ainda era muito cedoaborto, pois ainda era muito cedo para ter filhos.para ter filhos. O rapaz indignado, não concordou,O rapaz indignado, não concordou, pois o aborto na sua aldeia era umpois o aborto na sua aldeia era um crime hediondo e inaceitável, e casocrime hediondo e inaceitável, e caso ela abortasse, ele seria punido porela abortasse, ele seria punido por ser co-responsável pela gravidez.ser co-responsável pela gravidez.
  • 11. A moça contra-argumentou dizendoA moça contra-argumentou dizendo que “fumava tabaco há muitoque “fumava tabaco há muito tempo” e que isso, segundo o que setempo” e que isso, segundo o que se acreditava na aldeia B faria mal aacreditava na aldeia B faria mal a criança.criança. O rapaz teve de concordar com ela,O rapaz teve de concordar com ela, mas não podia aceitar o aborto.mas não podia aceitar o aborto. Ele afirmou: “Mas você não acreditaEle afirmou: “Mas você não acredita que o tabaco faça mal, logo, o seuque o tabaco faça mal, logo, o seu argumento não vale”.argumento não vale”.
  • 12. A moça por sua vez retrucou: “NaA moça por sua vez retrucou: “Na minha aldeia o aborto é permitido!”.minha aldeia o aborto é permitido!”. Assim surgiu um impasse e nãoAssim surgiu um impasse e não conseguiram ficar em paz.conseguiram ficar em paz. Diante desse acontecimento – aDiante desse acontecimento – a gravidez não desejada - fez balançargravidez não desejada - fez balançar a confiança no pacto relativista quea confiança no pacto relativista que havia apaziguado as duas aldeias.havia apaziguado as duas aldeias.
  • 13. A solução relativista não era capaz deA solução relativista não era capaz de resolver a questão, pois, se aceitasseresolver a questão, pois, se aceitasse o aborto um dos lados teria deo aborto um dos lados teria de qualificar o ato e seus responsáveisqualificar o ato e seus responsáveis como criminosos.como criminosos. Surge então um moço que em meio aSurge então um moço que em meio a esse impasse, afirma que osesse impasse, afirma que os habitantes das aldeias haviamhabitantes das aldeias haviam compreendido mal o sábiocompreendido mal o sábio estrangeiro.estrangeiro.
  • 14. O sábio teria dito “a sua” verdade, nãoO sábio teria dito “a sua” verdade, não que a verdade era relativa.que a verdade era relativa. Tratava-se portanto da verdade de queTratava-se portanto da verdade de que o que uma aldeia tinha poro que uma aldeia tinha por verdadeiro, a outra tinha por falso everdadeiro, a outra tinha por falso e vice-versa.vice-versa.
  • 15. Por não querer admitir o conflito,Por não querer admitir o conflito, iludidos na vaidade de que cadailudidos na vaidade de que cada aldeia possuía a verdade, viramaldeia possuía a verdade, viram apenas o que interessava.apenas o que interessava. A gravidez, veio mostrar-lhes oA gravidez, veio mostrar-lhes o engano que viveram desde então.engano que viveram desde então.
  • 16. Assim, as duas aldeias suspenderam aAssim, as duas aldeias suspenderam a crença na verdade de seus costumescrença na verdade de seus costumes e decidiram investigar mais e melhore decidiram investigar mais e melhor seus assuntos.seus assuntos. Surge assim a ciência entre eles.Surge assim a ciência entre eles.
  • 17. Chamaram o moço de filósofo, pois eleChamaram o moço de filósofo, pois ele não tinha a verdade, mas anão tinha a verdade, mas a desejava.desejava. Guiados pelos seus ensinamentosGuiados pelos seus ensinamentos decidiram em comum acordo, pordecidiram em comum acordo, por meio de reflexões aperfeiçoar seusmeio de reflexões aperfeiçoar seus pontos de vista, percebendo que nãopontos de vista, percebendo que não precisavam abandonar suas crenças,precisavam abandonar suas crenças, mas somente aperfeiçoá-las.mas somente aperfeiçoá-las.
  • 18. Munidos do conhecimento de queMunidos do conhecimento de que muitas outras crenças também erammuitas outras crenças também eram obscuras e conflitantes, resolveramobscuras e conflitantes, resolveram fundar uma UNIVERSIDADE parafundar uma UNIVERSIDADE para auxiliar na reflexão e resolução deauxiliar na reflexão e resolução de muitos outros conflitos de opinião.muitos outros conflitos de opinião.
  • 19. Assim, as duas aldeias passaram deAssim, as duas aldeias passaram de uma posição fundamentalista, nauma posição fundamentalista, na qual cada uma tinha a verdade e osqual cada uma tinha a verdade e os diferentes estavam errados, paradiferentes estavam errados, para uma posição relativista, onde auma posição relativista, onde a verdade das próprias crenças nãoverdade das próprias crenças não implicava em erro dos queimplicava em erro dos que pensassem diferente.pensassem diferente.
  • 20. Diante da emergência real da gravidez asDiante da emergência real da gravidez as aldeias adotaram uma posição crítica emaldeias adotaram uma posição crítica em relação as próprias crenças, questionando-relação as próprias crenças, questionando- se sobre a VERDADE.se sobre a VERDADE. Tal posição é a mais frágil de todas e a maisTal posição é a mais frágil de todas e a mais difícil de se ocupar, pois ela exige quedifícil de se ocupar, pois ela exige que toda diferença de opinião seja consideradatoda diferença de opinião seja considerada como indício de ilusão ou engano, não docomo indício de ilusão ou engano, não do outro diferente, mas das próprias crenças.outro diferente, mas das próprias crenças. E que nenhuma verdade estabelecida sejaE que nenhuma verdade estabelecida seja imune ao QUESTIONAMENTO.imune ao QUESTIONAMENTO.
  • 21. Diante de um conflito de verdades, aDiante de um conflito de verdades, a posição crítica suspende o ter porposição crítica suspende o ter por verdadeiro de todas as partesverdadeiro de todas as partes envolvidas. Toda solução ouenvolvidas. Toda solução ou veredicto, tende a se fundar emveredicto, tende a se fundar em critérios aceitáveis em comum porcritérios aceitáveis em comum por todas as partes. E mesmo ao sertodas as partes. E mesmo ao ser estabelecida uma verdade, seestabelecida uma verdade, se alguém discordar, tem que ser feitaalguém discordar, tem que ser feita uma revisão dos critérios comuns.uma revisão dos critérios comuns.
  • 22. Pensar, julgar, decidir e viver a partir dela,Pensar, julgar, decidir e viver a partir dela, tornam-se atividades de risco, pois astornam-se atividades de risco, pois as certezas e verdades solidificadas pelacertezas e verdades solidificadas pela tradição podem desmoronar de uma sótradição podem desmoronar de uma só vez.vez. A posição crítica, aceita do relativismo, aA posição crítica, aceita do relativismo, a tese de que não há verdade absoluta.tese de que não há verdade absoluta. E aceita do fundamentalismo a tese de queE aceita do fundamentalismo a tese de que a verdade não é variável “ao bel” prazera verdade não é variável “ao bel” prazer das consciências.das consciências.
  • 23. O crítico, então conclui que apenas emO crítico, então conclui que apenas em relação a um critério ou métodorelação a um critério ou método comum se pode aceitar umacomum se pode aceitar uma proposição como verdadeira ou não.proposição como verdadeira ou não. Mas, dado e aceito o critério, aMas, dado e aceito o critério, a verdade de uma proposição torna-severdade de uma proposição torna-se independente da vontade dosindependente da vontade dos interessados.interessados.
  • 24. Essas posições não são as únicasEssas posições não são as únicas alternativas, pois a partir da posiçãoalternativas, pois a partir da posição crítica, se pode divisar ainda outras,crítica, se pode divisar ainda outras, como, o ceticismo (recusacomo, o ceticismo (recusa inteiramente a noção de verdade) einteiramente a noção de verdade) e o deflacionismo (inventa mundos eo deflacionismo (inventa mundos e faz discursos, sem se perguntar pelafaz discursos, sem se perguntar pela verdade).verdade).
  • 25. E nós, como revisaríamos asE nós, como revisaríamos as conclusões das aldeias?conclusões das aldeias? Como resolvemos nossos conflitos deComo resolvemos nossos conflitos de opinião?opinião? Não somos relativistas quando nosNão somos relativistas quando nos querem convencer de algo que nosquerem convencer de algo que nos desagrada, e não somosdesagrada, e não somos fundamentalistas quanto atacamfundamentalistas quanto atacam nossas certezas?????nossas certezas?????