O documento discute a dinâmica das redes no Cerrado brasileiro no contexto da globalização. Apresenta os principais paradigmas geográficos sobre a relação natureza-sociedade, como visto por Milton Santos. Descreve também as características ambientais e econômicas do Cerrado e como o capitalismo apropriou-se de redes naturais e construídas no local, como infraestrutura, cidades e informação.
1. PONTO 3: A DINÂMICA DAS REDES NA
ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DO CERRADO
LarissaAlves de Lira
Aula apresentada ao concurso de professor temporário da UFG, Goiás, Regional
Jataí
2. • Problemática:
• A dinâmica das redes no cerrado recoloca a importância do papel dos elementos da
natureza num período de globalização?
• Objetivos da aula:
• - Compreender que os diferentes paradigmas geográficos podem ser mobilizados segundo
a complexidade do espaço estudado.
• - Compreender o conceito de Espaço em Milton Santos como uma confluência dos
elementos físicos e da ação humana unificados por meio da técnica.
• - Compreender a importância de articular o paradigma natural ao paradigma econômico.
• - Situar o histórico de ocupação do cerrado nos modelos de desenvolvimento adotados
pelo Estado Brasileiro.
• - Entender como os modelos geográficos podem ser espacializados, segundo os mais
novos métodos que a geografia regional legou aos cientistas sociais contemporâneos.
• -Ver como é mobilizada uma compreensão teórica global da geografia: uma metafísica, os
paradigmas, os conceitos, a comparação das cartas como elementos de explicação das
realidades geográficas.
3. • Plano da aula:
• - Introdução
• - Os paradigmas da geografia: qual o papel da natureza na teoria da geografia?
• - Como a natureza aparece na teoria de Milton Santos?
• - O cerrado como uma fronteira agrícola do capitalismo
• - As características ambientais do cerrado
• - As características produtivas do cerrado e sua situação nas conjunturas econômicas do
estado brasileiro
• - Uma primeira rede apropriada pelo capital: uma rede de áreas planas e contínuas
• - Uma segunda rede que o capital se apropria: os corredores exportadores
• - Uma terceira rede que o capital constrói: a rede urbana
• - Uma quarta rede que o capital monopoliza: a informação
• - Concluindo: nem a natureza está ausente da organização das redes do cerrado nem as
redes do capital globalizado...
6. OS PARADIGMAS DA GEOGRAFIA: QUAL O
PAPEL DA NATUREZA NATEORIA DA
GEOGRAFIA?
• “Antítese da ideia de isolamento, o cruzamento: substituindo o lugar de relações
verticais da geografia clássica, que manifesta a relação natureza-cultura no
interior do meio geográfico, a um lugar interligado, mutável, em uma relação
horizontal com todos os outros lugares do mundo compondo o espaço geográfico
[...] Ele também repensa o conceito de ‘meio’: invalida a causalidade natural,
destacando o quanto o meio geográfico é ‘artificial’. [...] Ao fazê-lo, de maneira
um pouco prometeica, Julliard coloca o homem no comando, revertendo a solução
proposta por J. Brunhes e, com isso, o determinismo ambientalista que assombra
as mentes de seus contemporâneos, tais como Le Lannou. (ROBIC, 2001b, p. 89).
7. COMO A NATUREZA APARECE NATEORIA
DE MILTON SANTOS?
• Aqui eu cito Marília Steinberger: “O espaço une as noções de ambiental,
territorial, regional, urano e rural porque é uma totalidade. (...).Território é
natureza natural e artificial. Os atributos naturais do espaço não são permanentes
e assim, como os atributos não naturais, os dois são destinados a mudar pelo
trabalho do homem. (...). Assim, Milton Santos, repõe o papel do espaço como
chave para quebrar o dualismo entre homem-natureza e conduz-nos a um
patamar de reflexão que concilia historicamente espaço, natureza e território, por
meio da técnica, e insere o meio ambiente nesse contexto.”
• Ainda citando Marília Steinberger, “em 1985, considera o meio ecológico, ao lado
dos homens, das firmas, das instituições e das infraestruturas como um dos
elementos do espaço enquanto sistema. Define-o como ‘o conjunto de complexos
territoriais que constituem a base física do trabalho humano’”.
8. • Continuando a nos apoiar em Marília Steinberger, a autora nos define que
“posteriormente, em 1988, Milton Santos explica que, sendo, a história da
humanidade ‘a história da transformação da natureza pelo trabalho humano’, é
possível identificar três fases na relação entre sociedade e o meio: a do meio
natural, quando a natureza ‘constituía a base da vida material’; a do meio técnico,
iniciada no fim do século XVIII com a ‘mecanização do território’; e a atual, do
meio técnico-científico, cujo marco é o fim da Segunda Guerra Mundial, quando ‘o
território vai se mostrando, a cada dia que passa, com um conteúdo maior em
ciência, em tecnologia e em informação”. Depois, ele vai falar em meio técnico,
científico e informacional.
9. O CERRADO COMO UMA FRONTEIRA
AGRÍCOLA DO CAPITALISMO
Fonte: BERNARDES, 2009.
13. • “Se, paraVidal, o movimento rege a dinâmica do globo, toda a terra está sob o
impulso das correntes: ou agrega forças para a expansão, ou para o recuo. O
cosmos é um estado corrente e fluido. Logo, as regiões que se desenham se
diferenciam uma das outras pelo tipo de circulação que se dá no seu interior.
Chamamos estes « tipos » de espacialidades da circulação. Essas espacialidades na
obra deVidal são: uma tendência ao isolamento ou a disseminação; um modo ou
processo como se dão as comunicações (relações travadas por contiguidade ou
por redes); um ritmo de vencimento das distâncias (e, portanto, um meio de
transporte característico e uma associação com os elementos do meio que lhe
imprimem dinamismo), uma escala (pequena região ou pays; grande região ou
Estado; e enfim, o mundo).” [grifos nossos] (LIRA, 2013, p. 126).
14. AS CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS DO
CERRADO
• O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área de
cerca de 22% do território nacional. A sua área contínua incide sobre os estados de
Goiás,Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia,
Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além dos
enclaves no Amapá, Roraima e Amazonas.
15. AS CARACTERÍSTICAS PRODUTIVAS E SUA
SITUAÇÃO NAS CONJUNTURAS
ECONÔMICAS ATUAIS
• Neo-liberalismo no Brasil (décadas de 1960-1990):
• - Diminuição da Estrutura do Estado
• - Concentração industrial com ligação direta entre os pólos exportadores e os portos
exportadores.
• - Debilitação da indústria – crescimentos dos segmentos minerais e agroindustriais voltados para
o mercado externo
• - Desmatamento e estímulo às exportações de produtos primários.
• - Estímulo das exportações
•
16. • - Guerra fiscal entre os governos locais para atrair investimentos.
• - Inserções próprias das regiões ao mercado internacional conformando-se em
território competitivos.
• -Privatização- perda do controle do Estado na economia.
• - Fragmentação do território nacional.
• - Concorrência entre as regiões.
• - Estímulo a concentração industrial através da mão de obra barata.
• - Crédito privilegiado para as grandes empresas.
• - Incentivo às exportações que destruiu a pequena e a média propriedade.
17. UMA PRIMEIRA REDE APROPRIADA PELO
CAPITAL: UMA REDE DE ÁREAS PLANAS E
CONTÍNUAS
Fonte:
http://www.geografia
paratodos.com.br/ind
ex.php?pag=capitulo_
6_relevo_e_solo-
formacao_e_classifica
cao
18. UMA SEGUNDA REDE QUE O CAPITAL SE
APROPRIA: OS CORREDORES
EXPORTADORES.
Fonte:
http://pt.slideshar
e.net/fgv-
oficial/nelson-
siffert
24. UMA QUARTA REDE QUE O CAPITAL
MONOPOLIZA: A INFORMAÇÃO
Fonte: FREDERICO,
2008.
25. •CONCLUINDO: NEM A NATUREZA ESTÁ AUSENTE DA
ORGANIZAÇÃO DAS REDES DO CERRADO NEMAS
REDES DO CAPITAL GLOBALIZADO...
26. • Bibliografia:
• ARRIGHI, G. Adam Smith em Pequim. Origens e fundamentos do século XXI. São Paulo:
Boitempo, 2008.
• BERNARDES, J. A. B.Agricultura e novos espaços urbanos no cerrado brasileiro. Tamoios: Rio
de Janeiro, ano III, n. 1, 2007.
• BERNARDES, JúliaAdão. Fronteiras daAgricultura Moderna no Cerrado Norte/Nordeste:
descontinuidades e permanências. In: BERNARDES, J. A.; BRANDÃO FILHO, José Bertoldo. A
territorialidade do capital. Rio de Janeiro: Arquimedes, 2009, cap 1, pp. 13-39.
• CANO, W. Questão regional e política econômica nacional. In: CASTRO, A. C. (org.). BNDE:
Desenvolvimento em debate. Painéis do Desenvolvimento Brasileiro- II. Rio de Janeiro: Mauad,
BNDES, 2002.
• FREDERICO, S. O NovoTempo do Cerrado. Expansão dos fronts agrícolas e controle do sistema
de armazenamento de grãos.Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós Graduação
em Geografia Humana da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2008.
• GEORGE, P. Os métodos da Geografia. São Paulo: Difusão europeia do livro, 1972.
• HARVEY, D. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume 2005.
• IBGE, Arranjos populacionais e concentrações urbanas no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2015.
27. • LIRA, L. A. O Mediterrâneo deVidal de la Blache.O primeiro esboço do método geográfico. São Paulo:
Alameda, 2013.
• MINISTÈRIO DO MEIOAMBIENTE. O bioma do cerrado. http://www.mma.gov.br/biomas/cerrado
• MONBEIG, P. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. Hucitec, Polis, 1984.
• ROBIC, M. C. Le val comme laboratoire de géographie humaine ? Les avatars du val d’Anniviers. Revue de
géographie alpine, Grenoble, 89 (4), 2001.
• SANTOS, M. A natureza do espaço.Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: EDUSP, 2008.
• SANTOS, M. SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do séculoXXI. Rio de Janeiro: Record,
2001.
• SANTOS, M. Sociedade e espaço: a formação social como teoria e como método. Boletim paulista de
geografia, n. 54, jun., 1977.
• SOUZA, M, L. de. Mudar a cidade. Uma introdução crítica ao Planejamento e à Gestão Urbanos. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
• STEINBERGER, M. (org). Território, ambiente e políticas públicas. Brasília: Paralelo 15 e LGE Editora, 2006.
• VIDAL DE LA BLACHE, P. 'Sur la relativité des divisions régionales'. In: Athena, nº 11,. Paris: Librairie Alcan,
Décembre 1911.
• VITTE, A.C. Da metafísica da natureza à gênese da geografia moderna. In:A. C. (org). Contribuições à
história e à epistemologia da geografia. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.