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 Partido Comunista Brasileiro www.pcb.org.br
. N° 270 – 02.08.2012
para.                                                A coligação Cascavel para os Trabalhado-
Amanhã, o lançamento oficial                         res, que é a expressão político-eleitoral da
                                                     Frente de Esquerda em Cascavel, progra-
Cascavel para os                                     mou o lançamento oficial das candidatu-
                                                     ras à Prefeitura e à Câmara de Cascavel
Trabalhadores:                                       para esta sexta-feira, dia 3 de agosto, na
                                                     área social do Edificio Felipe Adura, 1º
Por que a coligação                                  Andar, Rua Paraná, 2361, Centro.
                                                     A coligação tem o nome de “Cascavel para
tem esse nome?                                       os Trabalhadores” para evitar que o parti-
                                                     do traidor da classe trabalhadora utilize o
Por que formar a                                     nome dos trabalhadores indevidamente.
                                                     Tem “Cascavel” no nome para marcar a
Frente de Esquerda?                                  vontade política da aliança de esquerda de
                                                     que depois de 60 anos da primeira eleição
Por que superar 50 anos                              municipal Cascavel possa finalmente co-
                                                     meçar a ser governada por partidos que
de prefeitos autocráticos?                           têm compromissos classistas, com os tra-
                                                     balhadores e com o socialismo.




Nas últimas cinco décadas,     dualmente. Eles já estiveram      entanto, as lideranças traba-
Cascavel tem sido governada    no poder em Cascavel e nada       lhistas de então se dividiram
exatamente da mesma forma.     fizeram para alterar a forma de   em duas partes: uma, a mais
                               governança.                       progressista, procurava incli-
Diversos partidos, com exce- A história narra que o antigo       nar o partido para quilo que
ção do PCB, e também do PTB reconquistou a Prefeitura            depois viria a se chamar “re-
PSOL e do PSTU, que são par- em 1960 e fez uma boa gestão        formas de base”; a outra se
tidos criados mais recentemen- na reconstrução da Prefeitura,    rendeu à cooptação do gover-
te, governaram Cascavel nesse que estava em cinzas na posse      nador Ney Braga.
período, em aliança ou indivi- do prefeito Octacílio Mion. No
Quem já esteve no                   PCdoB (2005 a 2008)                adiante apenas formalmente ou
                                    PDT coligado com                   esvaziados em pessoal e recur-
poder municipal?                    PTB                                sos.
                                    PSDB
                                    PPS                                É uma situação que além dos
                                    PHS                                equívocos diários também
                                    PSL                                provoca escândalos semanais
                                    PTN                                que não provêm, como os a-
                                    DEM (2009 a 2012)                  rautos palacianos tentam des-
                                                                       qualificar, de calúnias oposi-
                                    Nenhum desses partidos que         cionistas mal intencionadas.
                                    esteve no poder mudou o sis-       São investigações concretas
                                    tema autocrático vigente nos       levadas a efeito pelo Ministé-
                                    últimos 50 anos.                   rio Público.

                                    Que sistema é esse? É um sis-      Além do descuido com o direi-
                                    tema baseado na eleição do         to da população a receber polí-
                                    prefeito e no loteamento dos       ticas públicas de qualidade, o
                                    cargos de secretários e inume-     Município tem sido saqueado
Governador Ney Braga conversa       ráveis cargos “de confiança”,      por gastos excessivos nas a-
reservadamente na Prefeitura de     entregues a partidários para       quisições de produtos e servi-
Cascavel com o prefeito Octacílio
                                    fazer uso da máquina pública       ços, o que caracteriza falta de
Mion, em 1962
                                    em benefício da reprodução de      rigor na aplicação dos recursos
                                    mandatos e submissão da Pre-       públicos.
Desde 1962, pelo menos, os
                                    feitura aos interesses respon-
conchavos pelo alto levam o
                                    sáveis pelas campanhas.            Por ineficácia ou desinteresse
prefeito de plantão a designar
                                                                       na esfera jurídica, especial-
secretários com base nos en-
                                    Para mudar isso                    mente nos últimos dez anos, o
tendimentos ligados ao finan-
                                                                       Município também foi saquea-
ciamento de campanha e aos          é preciso instituir                do em consequência de erros
acordos no plano estadual.          o Poder Popular                    judiciais causados por uma
Nesses 50 anos, a Prefeitura        Os partidos que já governaram      ardilosa fraude e um incêndio
esteve, pela ordem, sob o con-      Cascavel mantiveram sempre o       criminoso, caso do escandalo-
trole dos seguintes partidos:       mesmo sistema de gestão: pre-      so, imoral e descabido paga-
                                    feito autocrático, secretários     mento pela segunda vez dos
PTB neysta – 1962 a 1966            nomeados segundo o lotea-          imóveis da Praça Wilson Jof-
Arena – 1966 a 1972                 mento partidário, Câmara           fre, que já haviam sido indeni-
MDB – 1973 a 1976                   submissa, dezenas de “cargos       zados na década de 1960.
Arena – 1976 a 1980                 de confiança” exercidos por
PDS – 1980 a 1982                   elementos até bem-sucedidos        É uma situação que se mantém
PMDB – 1983 a 1996                  em seus negócios, mas despre-      inalterada por décadas a fio,
PPB – 1997 a 2000                   parados para o serviço público,    embora todos os eleitos te-
PDT coligado com                    e formalismo, artificialidade      nham prometido mudanças
PMDB                                ou ausência de mecanismos de       para melhor. Só vai mudar
PT                                  participação popular.              com a pressão popular. Por
PSB
                                                                       isso, a coligação Cascavel para
PL                                  Esse errôneo sistema de gerên-     os Trabalhadores não tem dú-
PSC                                 cia administrativa encaminhou      vidas de que
PSDB                                a situação municipal para a
PPS                                 dura realidade de hoje: pro-       A resposta é:
PHS                                 blemas sociais enormes, am-
PST                                 plas carências infraestruturais,
                                                                       Poder Popular!
PSL                                 gastos desmedidos, licitações
PSD                                 suspeitas e, diariamente, sérias
PSDC (2001 a 2004)                  trapalhadas     administrativas,
PPS coligado com                    como projetos ignorados, per-
PHS                                 da de recursos federais por fal-
PRTB                                ta de uso, programas levados
Um passo histórico                 Para o presidente venezuelano,     Exemplificando a fala de Mu-
                                   Hugo Chávez, a entrada de seu      jica, a presidenta argentina,
para a integração                  país no Mercosul o fazia re-       Cristina Kirchner, recordou
continental                        cordar a primeira eleição de       que em seu país um chanceler
Entrada da Venezuela torna         Lula à presidência do Brasil,      dizia “para que ser sócio dos
Mercosul a quinta maior            pois ambos episódios “acelera-     pobres podendo ser sócio dos
economia do mundo                  ram a história” e marcaram um      ricos?”. Para evitar retrocessos
                                   novo período de integração         e para proteger-se da crise e-
                                   entre os países do continente.     conomia internacional, Cristi-
                                   Em sua chegada a Brasília,         na apontou como tarefa urgen-
                                   inclusive, Chávez, havia afir-     te a criação de instrumentos e
                                   mado que gostaria de ver o         instituições “que tornem indes-
                                   Mercosul englobando mais           trutíveis e indivisíveis esse no-
                                   países, como Equador e Bolí-       vo pólo de poder” configurado
                                   via.                               no Mercosul.
                                   Do ponto de vista econômico,       Paraguai
                                   Chavéz disse que a entrada da      Durante seu discurso na Cúpu-
                                   Venezuela no Mercosul signi-       la, Dilma ratificou que a sus-
                                   fica “a maior oportunidade his-    pensão do Paraguai se deu ex-
Vinicius Mansur*                   tórica que em 2o0 anos apare-      clusivamente pelo “compro-
No exercício da presidência        ceu no horizonte”, sobretudo       misso inequívoco com a de-
pro tempore do Mercosul até        para ajudá-los em um de seus       mocracia” e que as possibili-
dezembro deste ano, coube ao       grandes objetivos: diversificar    dades de retaliações econômi-
Brasil coordenar a cúpula ex-      o modelo econômico extre-          cas que possam causar prejuí-
traordinária do bloco, na terça-   mamente dependente do petró-       zo ao povo paraguaio estão
feira, que celebrou a entrada      leo e “imposto durante todo o      afastadas. A presidenta disse
de seu quinto membro, a Ve-        século XX”. “Não houve um          ainda que espera que o país
nezuela. “Estamos conscientes      só governo que tivesse preten-     normalize sua situação institu-
que o Mercosul inicia uma no-      dido de alguma maneira de-         cional interna para assim rea-
va etapa”, disse Dilma Rous-       senvolver um projeto nacional,     ver seus direitos plenos.
seff.                              independente, que não fosse        Acordos
A presidenta afirmou que a         derrubado. Todos foram, inclu-     Ainda nessa terça-feira (31),
entrada venezuelana tem signi-     indo o nosso, só que por três      alguns acordos bilaterais e ne-
ficado histórico por marcar a      dias, graças a resposta popular    gócios foram firmados. Entre
primeira ampliação do bloco        e das Forças Armadas”, sus-        eles está a venda de seis jatos
desde a sua criação em 1991,       tentou.                            modelo 190, por US$ 270 mi-
por estendê-lo da Patagônia até    Em um discurso profundo, o         lhões, pela Empresa Brasileira
o Caribe e por incrementar a       presidente do Uruguai, José        de Aeronáutica (Embraer) para
economia do Mercosul. “Con-        Mujica, recordou a mentalida-      o Consórcio Venezuelano de
siderando os 4 países mais ri-     de colonial que orientou a polí-   Indústrias Aeronáuticas (Con-
cos do mundo, EUA, China,          tica externa dos países da A-      viasa). O contrato prevê ainda
Alemanha e Japão, o Mercosul       mérica do Sul durante séculos      a opção de compra pela estatal
somado é a 5° força”, desta-       e a dívida social dela advinda.    venezuelana de mais 14 aero-
cou.                               “Esse é o preço que pagamos        naves, chegando a um preço
De acordo com dados do Ita-        ao longo de nossa história por-    total de US$ 900 milhões.
maraty, entre 2001 e 2010, o       que vivemos muito tempo o-         Já a Argentina assinou com a
comércio da Venezuela com os       lhando para o resto rico e sem     Venezuela um compromisso
países do Mercosul aumentou        olharmos entre nós”. Mas,          de aliança estratégica entre as
mais de 7 vezes, passando de       chamou atenção para o mo-          petrolíferas YPF e PDVSA.
cerca de US$ 1 bilhão para         mento especial vivido na regi-     Sem maiores detalhes, Chávez
US$ 7,5 bilhões. Com a entra-      ão. ”Existe vontade política de    afirmou que o acordo permitirá
da do país caribenho, o Merco-     integração, como nunca teve        a YPF explorar as jazidas ve-
sul representatá 70% da popu-      globalmente a América do Sul.      nezuelanas da Faixa do Orino-
lação da América do Sul (270       Eu repito: como nunca teve!        co e permitir que a PDVSA
milhões de habitantes), 83,2%      (...) E temos que ser conscien-    continue com sua presença na
de seu PIB (US$ 3,3 trilhões) e    tes: agora ou nunca!”, orien-      Argentina.
72% de seu território (12,7 mi-    tou.                               *Vinicius Mansur – Jornalista
lhões de km²).
Nós apoiamos o Projeto Livrai-Nos!
                                        Por que, diante de tão alto grau de analfabetismo funcional
                                     existente na sociedade, não se estimula a prática da leitura
                                     nem há incentivo à escrita e à difusão de textos? Por que a lei
                                     que instituiu o Dia Municipal da Leitura, definido como 30
                                     de setembro, não é cumprida?
                                        Na falta de respostas a essas perguntas brotou a ideia de
                                     criar um movimento social unindo autores de livros em torno
                                     da divulgação de seus textos. Surgiu assim o Projeto Livrai-
                                     Nos!, com o objetivo de reforçar a programação das bibliote-
                                     cas e as atividades desenvolvidas pela Academia Cascavelen-
                                     se de Letras, Clube dos Escritores de Cascavel, Confraria dos
                                     Poetas e outras iniciativas particulares e oficiais com ênfase
                                     na leitura.
                                     http://livrai-noscascavel.blogspot.com.br/p/projeto-livrai-nos.html
Edmilson Costa,                    do governo de Dilma Rousseff       Em princípio estas são as dife-
                                   e esteve apenas em uma parte       renças básicas.
entrevistado na                    do primeiro quadriênio do
Colômbia, explica                  mandato de Luiz Inácio Lula        - Vocês consideram que os
situação do Brasil                 da Silva, pois considera que o     governos de Lula e de Dilma
e do continente:                   anterior e o atual governos só     Rousseff propiciaram mudan-
                                   desenvolveram         “políticas   ças progressistas no Brasil?
“Chávez representa                 compensatórias de migalhas”        - Nós participamos do Gover-
a vitória de todos                 para os trabalhadores.             no Lula em seu primeiro man-
os povos da América                                                   dato durante três anos e depois
                                   Costa foi abordado por Parén-      abandonamos, pois vimos que
Latina”                            tesis , publicação colombiana,     Lula não cumpria mais o pro-
                                   por ocasião do XXI Congresso       grama pelo qual foi eleito. A
                                   do Partido Comunista Colom-        partir de então nós passamos a
                                   biano, no qual interveio para      fazer uma oposição indepen-
                                   registrar sua posição no semi-     dente: quando o Governo faz
                                   nário realizado com os delega-     uma coisa que consideramos
                                   dos internacionais presentes,      um acerto, então apoiamos;
                                   finalizado no domingo, 22 de       quando consideramos que é
Edmilson Costa                     julho, em Bogotá.                  ruim, criticamos. Por exemplo,
                                                                      apoiamos o Governo quando
“Nós caracterizamos a situa-       - Qual é a diferença entre o       permitiu que a Venezuela in-
ção brasileira como um capi-       Partido Comunista do Brasil e      gressasse no Mercosul, mas o
talismo monopolista”, diz          o Partido Comunista Brasilei-      criticamos duramente quando
Costa. “A crise econômica          ro?                                mandou tropas brasileiras para
dos países centrais está redu-     - O Partido Comunista Brasi-       o Haiti. Desde o ponto de vista
zindo a hegemonia dos Esta-        leiro é o partido histórico dos    econômico, consideramos que
dos Unidos”, acrescenta. “A        comunistas brasileiros, funda-     Lula e Dilma governaram para
América Latina está constru-       do em 1922, o partido que          o capital. Para os trabalhado-
indo um processo de luta po-       sempre esteve ligado à União       res, políticas compensatórias
pular, mas ainda não há uma        Soviética, era parte do movi-      de migalhas. Há um descon-
força política capaz de con-       mento comunista internacional      tentamento muito forte dos
duzir o povo para as trans-        desde toda a existência da         trabalhadores. Agora há milha-
formações de classe”.              URSS, e o PCdoB é uma dis-         res de trabalhadores em greve,
Luis Alfonso Mena*                 sidência nossa de 1962, que        os operários da construção ci-
                                   em seu primeiro momento foi        vil, os professores universitá-
“A luta de classes a nível         maoísta e depois ligou-se ao       rios todos estão em greve con-
mundial está mudando de cará-      Partido do Trabalho da Albâ-       tra a política do Governo. Este
ter e isto abre espaço para no-    nia. Esta é a diferença de ori-    também implementou várias
vas correlações de forças in-      gem. A diferença política é        políticas neoliberais, como a
ternacionais”, sustentou o diri-   que nós temos uma linha polí-      reforma da previdência que
gente do Partido Comunista         tica no Brasil que é muito dife-   prejudicou muito os trabalha-
Brasileiro, PCB, Edmilson          rente da linha do PCdoB, por-      dores. É um Governo que fi-
Costa, que afirmou que “aqui       que nós caracterizamos a situ-     nancia muito fortemente gru-
na América Latina há um re-        ação brasileira como um capi-      pos empresariais brasileiros e
nascimento da luta popular”.       talismo maduro, monopolista.       muitos desses grupos, hoje,
                                   Portanto, o caráter central da     estendem-se pela América La-
Costa, professor universitário     revolução é socialista e, se de-   tina e têm uma hegemonia e-
de economia, 62 anos, é o se-      ve ser a revolução socialista,     conômica também muito forte
cretário de Relações Interna-      nosso trabalho é no campo          na África e em alguns países
cionais do PCB, organização        proletário, o campo de todos       da Ásia. Tudo isso é muito ar-
política que ele identifica co-    os que são anticapitalistas. Os    ticulado e financiado pelo Go-
mo autêntica, fundada em           companheiros (do PCdoB) fa-        verno. Portanto, para nós, o
1922 e da qual se desprendeu o     zem uma aliança policlassista      parâmetro para avaliar um go-
PCdoB, em 1962.                    com o Governo Lula e com           verno é sua relação com os
                                   outros governos de centro-         trabalhadores, e neste sentido
Diferentemente do Partido          direita em várias regiões, en-     não é um governo dos traba-
Comunista do Brasil, seu ho-       quanto que nós decidimos que       lhadores.
mólogo, o PCB não participa        nosso caminho é à esquerda.
- Qual é a análise que vocês        - Em relação à Colômbia, que       te em várias partes do mundo.
fazem dos processos progres-        análise vocês fazem de nossa       Em toda a Europa os trabalha-
sistas na América Latina: na        situação?                          dores fazem greves, mobiliza-
Venezuela, na Bolívia, no           - Nós temos boas relações tan-     ções. No norte da África caí-
Equador, inclusive no Brasil?       to com o Partido Comunista         ram as ditaduras de Mubarak e
 - Nós pensamos que na Vene-        Colombiano como com a in-          Túnis. Mesmo nos Estados U-
zuela, na Bolívia e no Equador      surgência. No Brasil nós so-       nidos há uma luta embrionária
há um processo de luta social       mos o único partido que faz        dos jovens no Ocuppy Wall
mais avançado que em outros         ações públicas de solidarieda-     Street e dos trabalhadores de
países da América Latina. No        de com a guerrilha e que im-       Wisconsin. E aqui na América
entanto, na Venezuela existe        pulsiona um movimento de           Latina há um renascimento da
uma debilidade que é a pouca        solidariedade, porque enten-       luta popular. Portanto, na nos-
organização popular, é uma          demos que o problema da            sa avaliação a luta de classes a
revolução que depende muito         guerrilha não é militar. A guer-   nível mundial está mudando de
de uma pessoa. Entretanto nós       rilha tem uma origem nos pro-      caráter e isso abre espaço para
apoiamos agora a eleição de         blemas sociais, é uma base so-     novas correlações de forças
Chávez e é importante a vitória     cial muito forte e não se pode     internacionais.
de Chávez porque não só re-         resolver o problema pela via
presenta uma vitória do povo        militar. Nós defendemos a so-    - Vocês no Brasil participam
venezuelano, mas representa         lução política e justa para o    em algum nível do governo ou
também uma vitória para todos       conflito colombiano e espera-    estão totalmente fora? São a
os povos da América Latina.         mos que os novos movimen-        oposição?
Esta vitória também vai forta-      tos, tipo Marcha Patriótica,     - Nós não participamos de ne-
lecer as lutas sociais da Amé-      contribuam para forçar o Go-     nhum governo; nós trabalha-
rica Latina, esta vitória golpeia   verno a fazer uma negociação     mos de maneira independente
uma vez mais o imperialismo.        que abra espaço a uma Colôm-     e participamos normalmente
Na Bolívia há também um             bia democrática.                 das eleições. Eu sou candidato
processo muito complexo, pois                                        a vice-prefeito de São Paulo
há uma interferência muito           - Vocês acreditam que abriu- em uma coalizão de esquerda
forte do governo brasileiro em      se no mundo uma nova situa- com outro partido que se cha-
apoio aos grandes proprietários     ção que rompe com o unilate- ma Partido Socialismo e Li-
que são brasileiros e vivem no      ralismo, ou que tenham sur- berdade e temos candidatos
Uruguai. O governo brasileiro       gido novas hegemonias com nestas eleições de agora em
apóia estas pessoas, que são        China, Rússia e outros países todos os estados.
uma fonte permanente de ten-        como o Brasil?
são contra o Governo da Bolí-       - Não. Nós entendemos que - Sobre o Partido dos Traba-
via, já que tentaram separar        está mudando a situação mun- lhadores, de Lula e Rousseff,
parte do país do governo cen-       dial, porque a crise econômica vocês o identificam como um
tral da Bolívia. No Equador a       dos países centrais está ele- partido de centro, como um
situação também é difícil, por-     vando a redução da hegemonia partido social-democrata?
que não há um movimento de          dos Estados Unidos, e esta re- - É um partido de centro. Exis-
massas organizado e uma van-        dução abre espaço para novas tem algumas tendências inter-
guarda que lidere este movi-        nações, novos polos de poder. nas com as quais dialogamos,
mento. Portanto, dizemos que        Neste sentido, os BRICS, Bra- que são de centro-esquerda,
na América Latina está em           sil, China, Rússia, Índia, pos- porém a maioria é um partido
construção um processo de           suem um papel cada vez mais de centro, não é sequer social-
luta popular, mas ainda não há      importante no processo de cor- democrata.
uma força política capaz de         relação de forças políticas ____________________
conduzir o povo às transfor-        mundiais, mas também há uma *Luis Alfonso Mena* - Diretor
mações de classe.                   nova correlação de forças: a- do jornal PARÉNTESIS, de
                                    gora a luta popular está presen- Cali,               Colômbia.
Lembre-se: em Cascavel,
nós somos a Revolução!
Este espaço está sempre aberto para artigos
e manifestações da comunidade             Veja também o blog da Juventude
                                                  Comunista de Cascavel:
                                                  http://ujccascavel.blogspot.com
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                                A seguir, uma página cole-
                                cionável de O Capital em
                                quadrinhos e o boletim
                                Frente Anticapitalista
Lições de Comunismo
número 62




A cada edição do PerCeBer você terá uma nova
página colecionável de O Capital em quadrinhos
FrenteAnticapitalista
 N° 18 – 31.07.2012

Eleições e poder burguês
A ciência do marketing sabe
como manipular o eleitor, diz religioso
É ingenuidade pedir ao poder para se autorreformar. Poder e governo são que nem
feijão, só funcionam na panela de pressão. O fogo que o aquece e provoca modifi-
cações em seu conteúdo tem que vir de baixo. Da pressão popular.
Por Frei Betto, escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros
                                                parceria entre o público e o privado. Como se
                                                constata na CPI do Cachoeira e nos cuidados
                                                que os parlamentares tomam quando é citada a
                                                Construtora Delta.

                                                    A pasteurização da política faz com que ela
                                                    perca, a cada eleição, a sua natureza de mobili-
                                                    zação popular, para se transformar em um ne-
                                                    gócio administrado por marqueteiros e lideran-
                                                    ças partidárias. As “costuras” são feitas por ci-
                                                    ma; os princípios ideológicos escanteados; a
                                                    militância é substituída por cabos eleitorais re-
                                                    munerados; os acordos são fechados tendo em
                                                    vista fatias de poder, e não programas de go-
                                                    verno e metas administrativas.

Hoje, no Brasil, o deputado e senador que você      O eleitor é quem menos importa. Até porque a
ajudou a eleger pode votar a favor e declarar ter   ciência do marketing sabe como manipulá-lo.
votado contra. Por isso, o Congresso empurra        Todos sabemos que o marketing consegue in-
com a barriga a reforma política. Medo de que       duzir as pessoas a acreditarem que a roupa do
qualquer alteração nas atuais regras do jogo ve-    shopping é melhor do que a da costureira da
nha a diminuir o poder de quem agora ocupa o        esquina; refrigerante com gosto de sabão é me-
centro do palco político. Como está é ruim, mas     lhor que suco de frutas; sanduíche sabor isopor
como estará poderá ser pior para quem ousar         é melhor que um prato de saladas.
propor a reforma.                                   Do mesmo modo, os candidatos são maquiados,
                                                    treinados, orientados e produzidos para ocultar
Na falta de reforma política, o que vemos em        o que realmente pensam e planejam, e manifes-
torno não é nada animador. A democracia redu-       tar o que agrada aos olhos e ouvidos do merca-
zida a mero ritual delegatário, os partidos cada    do eleitoral.
vez mais parecidos entre si, os discursos cheios
de palavras vazias, e o eleitor votando em A        A falta de reforma política impede inclusive o
para eleger B, considerado o quociente eleitoral.   aprimoramento de nosso processo democrático.
Na verdade, nem é justo falar em democracia, e      No Congresso, em decisões importantes, como
sim em pecuniacracia, já que o dinheiro exerce,     cassação de mandatos, o voto é secreto. E isto é
somado ao tempo disponível na TV, poder de          absurdamente constitucional. Princípio que fere
eleger candidatos.                                  a própria natureza da democracia, que exige
Estimativas indicam que, na capital paulista,       transparência em todos os seus atos, já que os
apenas dois candidatos à prefeitura, Serra e        representados têm sempre o direito de saber
Haddad, gastarão, juntos, R$ 118 milhões.           como procedem seus representantes.

De onde jorram tantos recursos? É óbvio, de         Hoje, no Brasil, o deputado e senador que você
quem amealha grandes fortunas – bancos, em-         ajudou a eleger pode votar a favor e declarar ter
presas, empreiteiras, mineradoras etc. Cria-se,     votado contra. Mentir descaradamente. E agir
assim, o círculo vicioso: você investe em minha     segundo interesses escusos – tão frequentes
eleição, eu na sua proteção. Eis a verdadeira       nesse regime de pecuniacracia.
Uma sugestão ao eleitor(a): nessas eleições mu-
                                                     nicipais, escreva em um papel 10 ou 20 exigên-
                                                     cias ou propostas a quem você gostaria de ver
                                                     eleito vereador e prefeito. Analise quais priori-
                                                     dades merecem ser destacadas em seu municí-
                                                     pio: Saneamento? Educação? Saúde? Creches
                                                     em áreas carentes? Transporte coletivo? Áreas
                                                     de lazer e cultura?

                                                     Caso tenha contato direto com candidatos, per-
                                                     gunte a ele, sem mostrar o papel, se está de a-
Há, contudo, uma novidade que escapa ao con-         cordo com o que você propõe para melhorar o
trole dos marqueteiros e das lideranças partidá-     município. Se ele disser que sim, mostre o pa-
rias: as redes sociais. Através delas os eleitores   pel e peça que ele assine. Você verá o resultado.
deixam de ser passivos para se tornarem prota-
gonistas, opinativos, formadores de opinião.



Alba Roballo: os muros invisíveis da América Latina
Por Gilson Caroni Filho, jornalista e professor de Sociologia
                                   “As idéias são cárceres de longa duração”, di-
                                   zia Fernand Braudel. Cárceres que aprisionam
                                   geração após geração, e dos quais é muito difí-
                                   cil escapar, não só pela invisibilidade dos seus
                                   muros, mas também pela sua imperceptível
                                   reprodução.

                                 assassinados nas ruas de Mon-        de cassada lhe criou a angústia
Alba Roballo viveu no Uru- tevidéu por um regime que                  de ser morta em plena vida
guai, durante a ditadura que se implantou medidas de exceção          inquieta e combatente. Costu-
instalou naquele país até mea- e abriu caminho para o golpe           mava definir a condição de
dos da década de 80.             de estado.                           proscrita de forma cortante: “É
Quando os anos de ditadura                                            terrível, não a desejo para nin-
(1973-1985) fizeram com que A ditadura uruguaia respondeu             guém. Colocar um ser vivo no
os uruguaios, de alguma for- a uma política global do impe-           cal ou torná-lo cinza é um ato
ma, esquecessem ou perdes- rialismo norte-americano, que              de crueldade e de injustiça fe-
sem, em meio a tanto medo e tinha por objetivo reverter todo          roz e principalmente se não
repressão, aquele orgulho por o quadro político do continen-          fizemos nada para merecê-lo”
sua democracia, que era uma te, evitando que a democracia
parte integrante do próprio liberal – que em geral tinha              Mas a dirigente política jamais
“ser nacional”, uma mulher, estado associada aos sistemas             se permitiu ser pessimista.
entre tantos outros resistentes, vigentes – derivasse em regi-        Nem na inteligência nem na
se dispôs a reconstruir o ima- mes de conteúdo popular e ma-          vontade. A presença maciça do
ginário de uma sociedade civil tiz socialista. Militante e escri-     povo nas ruas, o avanço no
dinâmica, marcada , até a che- tora, a senadora sabia o signi-        acerto de ações comuns entre
gada dos militares ao poder, ficado mais profundo da Fren-            partidos políticos legais e os
pela convivência democrática, te Popular: um movimento an-            colocados na ilegalidade pelos
a livre exposição de ideias e ti-imperialista        e      anti-     militares, a unanimidade dos
uma poderosa organização par- oligárquico, um projeto que             dirigentes e das bases na exi-
tidária e sindical.              não se limitando a uma con-          gência de uma nova democra-
                                 juntura determinada, visava a        cia que permitisse à cidadania
Alba Roballo, senadora da uma nova opção de poder no                  uruguaia ser protagonista da
Frente Ampla, foi a primeira país.                                    própria história, eram o com-
mulher latino-americana a o-                                          bustível que alimentava sua
cupar um ministério (Cultura) Como escritora, a partir de             crença e sua poesia.
e dele saiu pouco antes de os 1973, viveu a anti-criação.
primeiros estudantes caírem Como política, sua condição
muitos outros, num claro sinal espanto desta triste América /
                                  de que o principal alvo da di- que está gritando aos quatro
                                  tadura era o movimento que, ventos do delírio”
                                  somente em 2004, após déca-
                                  das de um regime bipartidário Alba morreu em 1996. Não viu
                                  de tendência conservadora, Tabaré Vázquez e Pepe Mujica
                                  formado pelos partidos Colo- chegarem ao poder. Mas sem-
                                  rado e Nacional.                 pre soube que a Frente Ampla
                                                                   teria futuro. E nunca duvidou
                                  Autora de inúmeros livros, sua que seria um futuro de êxitos.
                                  obra poética era também um Não viveu para ver o general
Disco de poemas declamados
pela escritora Alba Roballo       compromisso político. Em Gregório Álvarez, ditador uru-
                                  “Tempo de Lobos” (1970) re- guaio de 1981 a 1985, ser con-
Sua motivação para seguir na      lata o terror e o sofrimento im- denado a 25 anos de prisão por
luta era o destino dos milhares   pingidos ao povo uruguaio du- ter participado de 35 execu-
de presos políticos, entre eles   rante o regime militar. Sua po- ções no regime militar. Mas os
Líber Seregni, presidente da      esia enfrenta o discurso com muros invisíveis contra os
Frente Ampla, preso em Mon-       armas desiguais: opõe síntese à quais lutou desmoronam um a
tevidéu desde 1974, Jaime Pé-     mentira, calor à loucura, sonho um no devir latino-americano.
rez, Massera, Pietrarroia e       à violência. Proclama “todo



A história da dívida pública europeia: como os bancos
privados enriqueceram às custas da população
Por Salim Lamrani, professor e jornalista francês, especialistas em assuntos americanos
                                 vidamento inferior a 60% do teridade promovidas pela Uni-
                                 PIB. De outro lado, estão os ão Europeia, Banco Central
                                 quatro “maus alunos”, cuja Europeu e Fundo Monetário
                                 dívida pública ultrapassa os Internacional, aplicadas no Ve-
                                 100% do PIB: Irlanda (108%), lho Continente, são economi-
                                 Portugal (108%), Itália (120%) camente ineficazes.
                                 e Grécia (180%). Entre esses
                                 dois extremos, residem os ou- Causam inclusive um efeito
                                 tros países da União Europeia, contrário, já que, longe de es-
                                 tais como França (86%), cuja timular o crescimento, a redu-
Governos insistem na austeri- dívida oscila entre 60% e ção de gastos, a diminuição
dade, mas se esquecem que já 100% do PIB.                         dos salários e das aposentado-
foi possível conviver com dé-                                     rias – além das catastróficas
ficit e crescimento ao mesmo Os governos europeus de filo- consequências sociais e huma-
tempo.                           sofia liberal, simbolizados pela nas que provocam – levam i-
Todos os países europeus en- Alemanha de Angela Merkel, nevitavelmente a uma retração
frentam o problema da dívida são unânimes quanto à impor- do consumo.
que afeta severamente as con- tância que se deve dedicar ao
tas públicas. A França, quinta "desendividamento” público, Com isso, as empresas são for-
potência mundial, também não aplicando políticas de austeri- çadas a reduzir a produção e os
escapa da crise que faz a feli- dade. Desta forma, Pierre salários, e até a demitir seus
cidade dos bancos privados.      Moscovici, embora seja minis- funcionários. Como conse-
                                 tro da Economia do governo quência, as receitas fiscais do
Nenhuma nação europeia es- socialista francês de François Estado diminuem, enquanto
capa do problema da dívida Hollande, estabeleceu como seus gastos – para atenuar os
pública, apesar da gravidade prioridade a “redução do défi- efeitos do desemprego – ex-
da crise diferir de um país para cit”, comprometendo-se a limi- plodem, criando assim um in-
outro. De um lado, encontram- tá-lo a 3% do PIB ao ano, en- terminável círculo vicioso, cu-
se os “bons alunos”, como tre outras coisas, por meio da jo símbolo é a crise grega. As-
Bulgária, Romênia, República redução das despesas públicas. sim, vários países europeus
Tcheca, Polônia, Eslováquia, No entanto, é de conhecimento estão em recessão.
seguidos pelos países bálticos público que as políticas de aus-
e escandinavos, com um endi-
tituições financeiras privadas,     mente punidos pela lei. Con-
                                  enquanto até 1973 podia criar       cretamente, leva aos mesmos
                                  moeda para equilibrar o orça-       resultados. A única diferença é
                                  mento pelo Banco Central. Os        que aqueles que dela se bene-
                                  bancos comerciais dispõem           ficiam são diferentes”.
                                  agora do poder de criação mo-
                                  netária mediante crédito, en-       Atualmente, a dívida da França
                                  quanto antes era uma prerroga-      equivale a mais de 1,7 trilhão
                                  tiva exclusiva do Banco Cen-        de euros. No entanto, entre
                                  tral, ou seja, do Estado, e enri-   1980 e 2010, o contribuinte
                                  quecem às custas dos contribu-      francês pagou mais de 1,4 tri-
                                  intes, em uma situação de qua-      lhão de euros aos bancos pri-
Como nasceu a dívida              se monopólio.                       vados apenas pelos juros da
pública da França                                                     dívida. Dessa forma, sem a lei
                                  Assim, os bancos privados po-       de 1973, o Tratado de Maastri-
Em 1973, a França não tinha       dem emprestar, graças aos sis-      cht e o Tratado de Lisboa, a
problema de dívida e o orça-      temas de reservas fracionárias,     dívida francesa seria de apenas
mento nacional estava equili-     mais de seis vezes a quantia        300 bilhões de euros.
brado. O Tesouro podia ser        que têm em moeda central. Em
financiado diretamente pelo       outras palavras, por cada euro      A França paga por ano 50 bi-
Banco da França para construir    que têm, podem emprestar até        lhões de euros de juros, o que
escolas, infraestrutura viária,   seis euros, graças à criação        coloca este pagamento em
portuária e aérea, hospitais e    monetária mediante crédito.         primeiro lugar no orçamento,
centros culturais, sem ter de     Como se não bastasse, podem         antes da Educação. Com a
pagar uma taxa de juros exor-     contratar junto ao Banco Cen-       mesma quantia, o governo po-
bitante, portanto, tinha apenas   tral todos os fundos necessá-       deria construir 500 mil casas
déficit.                          rios, muitas vezes com uma          de 100 mil euros ou criar 1,5
                                  taxa de 0%, com o objetivo de       milhões de postos de trabalho
No entanto, em 3 de janeiro de    emprestá-los em seguida aos         no serviço público (educação,
1973, o governo do presidente     Estados, com uma taxa de 3%         saúde, cultura, lazer) com um
Georges Pompidou, antigo di-      a 18%, como é o caso da Gré-        salário líquido mensal de 1.500
retor-geral do Banco Roths-       cia. Com isso, a criação mone-      euros. O contribuinte é despo-
child, influenciado pelo mundo    tária mediante crédito repre-       jado de 1 bilhão de euros por
financeiro, adotou a Lei n°73/7   senta 90% da massa monetária        semana em proveito dos ban-
sobre o Banco da França, ape-     em circulação na zona do euro.      cos privados.
lidada de “Lei Rothschild” pe-
la ala do setor bancário favo-  Maurice Allais, Prêmio Nobel          Portanto, a categoria mais rica
rável a sua adoção. Elaborada   de Economia francês, denun-           da população recebeu do Esta-
por Olivier Wormser, presi-     ciou esta situação e afirmou          do o grande privilégio de enri-
dente do Banco da França, e     que a criação monetária deve-         quecer às custas do contribuin-
Valéry Giscard d’Estaing, en-   ria ser uma prerrogativa do           te sem nenhuma contrapartida
tão ministro da Economia e      Estado e do Banco Central.            e sem o menor esforço.
das Finanças, a lei estipula em Segundo ele, “toda a criação          Além disso, este sistema per-
seu artigo 25 que "o Tesouro    monetária deve ser do Estado e        mite ao mundo financeiro
não pode ser recebedor de cré-  somente do Estado; toda cria-         submeter a classe política aos
ditos de seus próprios títulos  ção monetária diferente da            seus interesses e ditar a políti-
sacados junto ao Banco da       moeda da base do Banco Cen-           ca econômica através das a-
França”.                        tral deve ser impossibilitada,        gências de qualificação, elas
                                de modo que desapareçam os            próprias financiadas pelos
Em outras palavras, o Estado ‘falsos direitos’, que resultam          bancos privados. Ou seja, se
francês já não poderia financi- atualmente da criação monetá-         um governo adota uma política
ar o Tesouro contratando em- ria pelos bancos (...). Por es-          contrária aos interesses do
préstimos sem juros com o sência, a criação monetária ex              mercado financeiro, essas a-
Banco da França, mas teria de nihilo que praticam os bancos           gências baixam a nota do Es-
recorrer aos mercados finan- se assemelha – não hesito em             tado, tendo como efeito imedi-
ceiros. Dessa forma, o Estado dizê-lo para que as pessoas             ato o aumento das taxas de ju-
torna-se obrigado a pedir em- entendam bem o que está em              ros.
préstimos e pagar juros às ins- jogo – à fabricação de dinheiro
                                por falsificadores, acertada-
O sistema de crédito que se       tradução livre), Paris, Edições
                                estabeleceu na França desde       Estrella, 2011, com prólogo de
                                1973 e que foi sancionado nos     Wayne S. Smith e prefácio de
                                tratados de Maastricht e de       Paul Estrade.
                                Lisboa tem apenas um objeti-      Referências bibliográficas:
                                vo: enriquecer os bancos pri-     (1) Eurostat, « La dette publique des
                                                                  Etats membres », dezembro de
                                vados às custas dos contribuin-
                                                                  2011.(site consultado em12 de ju-
                                tes.                              nho de 2012).
                                É lastimável que não se abra      (2) Le Point, « Moscovici :
                                um debate sobre as origens da     l’Europe, dossier prioritaire, la dette
Ao mesmo tempo, quando o dívida pública da França na              publique est un ‘ennemi’ », 17 de
Estado e o Banco Central Eu- mídia ou no Parlamento. No           maio de 2012.
ropeu resgatam os bancos pri- entanto, bastaria devolver ao       (3) Loi du 3 janvier 1973 sur la
vados em dificuldade – isto é, Banco Central a exclusividade      Banque de France.(site consultado
                                                                  em 13 de junho de 2012)
procedem a sua estatização de da criação monetária para re-       (4) Maurice Allais, La crise mon-
fato, sem o benefício de qual- solver o problema da dívida.       diale d’aujourd’hui, Editions Clé-
quer vantagem, como por e- **                                     ment Juglar, 1999.
xemplo o poder decisório no [Seu livro mais recente é "Etat       (5) Une histoire de la dette, « Com-
Conselho de Administração –, de siège. Les sanctions éco-         prendre la dette publique », 7 de
o fazem com taxas de juros nomiques des Etats-Unis con-           outubro de 2011. (site acessado em
                                                                  13 de junho de2012);Sociétal, «
menores do que essas mesmas tre Cuba” ("Estado de sítio. As       L’arnaque de la dette publique »
instituições financeiras cobra- sanções econômicas dos Esta-      (site acessado em 13 de junho de
vam do Estado.                  dos Unidos contra Cuba”, em       2012).
Nas eleições municipais,
a opção anticapitalista está na
combinação destas siglas:

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Per ceber 270

  • 1. PerCeBer Partido Comunista Brasileiro www.pcb.org.br . N° 270 – 02.08.2012 para. A coligação Cascavel para os Trabalhado- Amanhã, o lançamento oficial res, que é a expressão político-eleitoral da Frente de Esquerda em Cascavel, progra- Cascavel para os mou o lançamento oficial das candidatu- ras à Prefeitura e à Câmara de Cascavel Trabalhadores: para esta sexta-feira, dia 3 de agosto, na área social do Edificio Felipe Adura, 1º Por que a coligação Andar, Rua Paraná, 2361, Centro. A coligação tem o nome de “Cascavel para tem esse nome? os Trabalhadores” para evitar que o parti- do traidor da classe trabalhadora utilize o Por que formar a nome dos trabalhadores indevidamente. Tem “Cascavel” no nome para marcar a Frente de Esquerda? vontade política da aliança de esquerda de que depois de 60 anos da primeira eleição Por que superar 50 anos municipal Cascavel possa finalmente co- meçar a ser governada por partidos que de prefeitos autocráticos? têm compromissos classistas, com os tra- balhadores e com o socialismo. Nas últimas cinco décadas, dualmente. Eles já estiveram entanto, as lideranças traba- Cascavel tem sido governada no poder em Cascavel e nada lhistas de então se dividiram exatamente da mesma forma. fizeram para alterar a forma de em duas partes: uma, a mais governança. progressista, procurava incli- Diversos partidos, com exce- A história narra que o antigo nar o partido para quilo que ção do PCB, e também do PTB reconquistou a Prefeitura depois viria a se chamar “re- PSOL e do PSTU, que são par- em 1960 e fez uma boa gestão formas de base”; a outra se tidos criados mais recentemen- na reconstrução da Prefeitura, rendeu à cooptação do gover- te, governaram Cascavel nesse que estava em cinzas na posse nador Ney Braga. período, em aliança ou indivi- do prefeito Octacílio Mion. No
  • 2. Quem já esteve no PCdoB (2005 a 2008) adiante apenas formalmente ou PDT coligado com esvaziados em pessoal e recur- poder municipal? PTB sos. PSDB PPS É uma situação que além dos PHS equívocos diários também PSL provoca escândalos semanais PTN que não provêm, como os a- DEM (2009 a 2012) rautos palacianos tentam des- qualificar, de calúnias oposi- Nenhum desses partidos que cionistas mal intencionadas. esteve no poder mudou o sis- São investigações concretas tema autocrático vigente nos levadas a efeito pelo Ministé- últimos 50 anos. rio Público. Que sistema é esse? É um sis- Além do descuido com o direi- tema baseado na eleição do to da população a receber polí- prefeito e no loteamento dos ticas públicas de qualidade, o cargos de secretários e inume- Município tem sido saqueado Governador Ney Braga conversa ráveis cargos “de confiança”, por gastos excessivos nas a- reservadamente na Prefeitura de entregues a partidários para quisições de produtos e servi- Cascavel com o prefeito Octacílio fazer uso da máquina pública ços, o que caracteriza falta de Mion, em 1962 em benefício da reprodução de rigor na aplicação dos recursos mandatos e submissão da Pre- públicos. Desde 1962, pelo menos, os feitura aos interesses respon- conchavos pelo alto levam o sáveis pelas campanhas. Por ineficácia ou desinteresse prefeito de plantão a designar na esfera jurídica, especial- secretários com base nos en- Para mudar isso mente nos últimos dez anos, o tendimentos ligados ao finan- Município também foi saquea- ciamento de campanha e aos é preciso instituir do em consequência de erros acordos no plano estadual. o Poder Popular judiciais causados por uma Nesses 50 anos, a Prefeitura Os partidos que já governaram ardilosa fraude e um incêndio esteve, pela ordem, sob o con- Cascavel mantiveram sempre o criminoso, caso do escandalo- trole dos seguintes partidos: mesmo sistema de gestão: pre- so, imoral e descabido paga- feito autocrático, secretários mento pela segunda vez dos PTB neysta – 1962 a 1966 nomeados segundo o lotea- imóveis da Praça Wilson Jof- Arena – 1966 a 1972 mento partidário, Câmara fre, que já haviam sido indeni- MDB – 1973 a 1976 submissa, dezenas de “cargos zados na década de 1960. Arena – 1976 a 1980 de confiança” exercidos por PDS – 1980 a 1982 elementos até bem-sucedidos É uma situação que se mantém PMDB – 1983 a 1996 em seus negócios, mas despre- inalterada por décadas a fio, PPB – 1997 a 2000 parados para o serviço público, embora todos os eleitos te- PDT coligado com e formalismo, artificialidade nham prometido mudanças PMDB ou ausência de mecanismos de para melhor. Só vai mudar PT participação popular. com a pressão popular. Por PSB isso, a coligação Cascavel para PL Esse errôneo sistema de gerên- os Trabalhadores não tem dú- PSC cia administrativa encaminhou vidas de que PSDB a situação municipal para a PPS dura realidade de hoje: pro- A resposta é: PHS blemas sociais enormes, am- PST plas carências infraestruturais, Poder Popular! PSL gastos desmedidos, licitações PSD suspeitas e, diariamente, sérias PSDC (2001 a 2004) trapalhadas administrativas, PPS coligado com como projetos ignorados, per- PHS da de recursos federais por fal- PRTB ta de uso, programas levados
  • 3. Um passo histórico Para o presidente venezuelano, Exemplificando a fala de Mu- Hugo Chávez, a entrada de seu jica, a presidenta argentina, para a integração país no Mercosul o fazia re- Cristina Kirchner, recordou continental cordar a primeira eleição de que em seu país um chanceler Entrada da Venezuela torna Lula à presidência do Brasil, dizia “para que ser sócio dos Mercosul a quinta maior pois ambos episódios “acelera- pobres podendo ser sócio dos economia do mundo ram a história” e marcaram um ricos?”. Para evitar retrocessos novo período de integração e para proteger-se da crise e- entre os países do continente. conomia internacional, Cristi- Em sua chegada a Brasília, na apontou como tarefa urgen- inclusive, Chávez, havia afir- te a criação de instrumentos e mado que gostaria de ver o instituições “que tornem indes- Mercosul englobando mais trutíveis e indivisíveis esse no- países, como Equador e Bolí- vo pólo de poder” configurado via. no Mercosul. Do ponto de vista econômico, Paraguai Chavéz disse que a entrada da Durante seu discurso na Cúpu- Venezuela no Mercosul signi- la, Dilma ratificou que a sus- fica “a maior oportunidade his- pensão do Paraguai se deu ex- Vinicius Mansur* tórica que em 2o0 anos apare- clusivamente pelo “compro- No exercício da presidência ceu no horizonte”, sobretudo misso inequívoco com a de- pro tempore do Mercosul até para ajudá-los em um de seus mocracia” e que as possibili- dezembro deste ano, coube ao grandes objetivos: diversificar dades de retaliações econômi- Brasil coordenar a cúpula ex- o modelo econômico extre- cas que possam causar prejuí- traordinária do bloco, na terça- mamente dependente do petró- zo ao povo paraguaio estão feira, que celebrou a entrada leo e “imposto durante todo o afastadas. A presidenta disse de seu quinto membro, a Ve- século XX”. “Não houve um ainda que espera que o país nezuela. “Estamos conscientes só governo que tivesse preten- normalize sua situação institu- que o Mercosul inicia uma no- dido de alguma maneira de- cional interna para assim rea- va etapa”, disse Dilma Rous- senvolver um projeto nacional, ver seus direitos plenos. seff. independente, que não fosse Acordos A presidenta afirmou que a derrubado. Todos foram, inclu- Ainda nessa terça-feira (31), entrada venezuelana tem signi- indo o nosso, só que por três alguns acordos bilaterais e ne- ficado histórico por marcar a dias, graças a resposta popular gócios foram firmados. Entre primeira ampliação do bloco e das Forças Armadas”, sus- eles está a venda de seis jatos desde a sua criação em 1991, tentou. modelo 190, por US$ 270 mi- por estendê-lo da Patagônia até Em um discurso profundo, o lhões, pela Empresa Brasileira o Caribe e por incrementar a presidente do Uruguai, José de Aeronáutica (Embraer) para economia do Mercosul. “Con- Mujica, recordou a mentalida- o Consórcio Venezuelano de siderando os 4 países mais ri- de colonial que orientou a polí- Indústrias Aeronáuticas (Con- cos do mundo, EUA, China, tica externa dos países da A- viasa). O contrato prevê ainda Alemanha e Japão, o Mercosul mérica do Sul durante séculos a opção de compra pela estatal somado é a 5° força”, desta- e a dívida social dela advinda. venezuelana de mais 14 aero- cou. “Esse é o preço que pagamos naves, chegando a um preço De acordo com dados do Ita- ao longo de nossa história por- total de US$ 900 milhões. maraty, entre 2001 e 2010, o que vivemos muito tempo o- Já a Argentina assinou com a comércio da Venezuela com os lhando para o resto rico e sem Venezuela um compromisso países do Mercosul aumentou olharmos entre nós”. Mas, de aliança estratégica entre as mais de 7 vezes, passando de chamou atenção para o mo- petrolíferas YPF e PDVSA. cerca de US$ 1 bilhão para mento especial vivido na regi- Sem maiores detalhes, Chávez US$ 7,5 bilhões. Com a entra- ão. ”Existe vontade política de afirmou que o acordo permitirá da do país caribenho, o Merco- integração, como nunca teve a YPF explorar as jazidas ve- sul representatá 70% da popu- globalmente a América do Sul. nezuelanas da Faixa do Orino- lação da América do Sul (270 Eu repito: como nunca teve! co e permitir que a PDVSA milhões de habitantes), 83,2% (...) E temos que ser conscien- continue com sua presença na de seu PIB (US$ 3,3 trilhões) e tes: agora ou nunca!”, orien- Argentina. 72% de seu território (12,7 mi- tou. *Vinicius Mansur – Jornalista lhões de km²).
  • 4. Nós apoiamos o Projeto Livrai-Nos! Por que, diante de tão alto grau de analfabetismo funcional existente na sociedade, não se estimula a prática da leitura nem há incentivo à escrita e à difusão de textos? Por que a lei que instituiu o Dia Municipal da Leitura, definido como 30 de setembro, não é cumprida? Na falta de respostas a essas perguntas brotou a ideia de criar um movimento social unindo autores de livros em torno da divulgação de seus textos. Surgiu assim o Projeto Livrai- Nos!, com o objetivo de reforçar a programação das bibliote- cas e as atividades desenvolvidas pela Academia Cascavelen- se de Letras, Clube dos Escritores de Cascavel, Confraria dos Poetas e outras iniciativas particulares e oficiais com ênfase na leitura. http://livrai-noscascavel.blogspot.com.br/p/projeto-livrai-nos.html
  • 5. Edmilson Costa, do governo de Dilma Rousseff Em princípio estas são as dife- e esteve apenas em uma parte renças básicas. entrevistado na do primeiro quadriênio do Colômbia, explica mandato de Luiz Inácio Lula - Vocês consideram que os situação do Brasil da Silva, pois considera que o governos de Lula e de Dilma e do continente: anterior e o atual governos só Rousseff propiciaram mudan- desenvolveram “políticas ças progressistas no Brasil? “Chávez representa compensatórias de migalhas” - Nós participamos do Gover- a vitória de todos para os trabalhadores. no Lula em seu primeiro man- os povos da América dato durante três anos e depois Costa foi abordado por Parén- abandonamos, pois vimos que Latina” tesis , publicação colombiana, Lula não cumpria mais o pro- por ocasião do XXI Congresso grama pelo qual foi eleito. A do Partido Comunista Colom- partir de então nós passamos a biano, no qual interveio para fazer uma oposição indepen- registrar sua posição no semi- dente: quando o Governo faz nário realizado com os delega- uma coisa que consideramos dos internacionais presentes, um acerto, então apoiamos; finalizado no domingo, 22 de quando consideramos que é Edmilson Costa julho, em Bogotá. ruim, criticamos. Por exemplo, apoiamos o Governo quando “Nós caracterizamos a situa- - Qual é a diferença entre o permitiu que a Venezuela in- ção brasileira como um capi- Partido Comunista do Brasil e gressasse no Mercosul, mas o talismo monopolista”, diz o Partido Comunista Brasilei- criticamos duramente quando Costa. “A crise econômica ro? mandou tropas brasileiras para dos países centrais está redu- - O Partido Comunista Brasi- o Haiti. Desde o ponto de vista zindo a hegemonia dos Esta- leiro é o partido histórico dos econômico, consideramos que dos Unidos”, acrescenta. “A comunistas brasileiros, funda- Lula e Dilma governaram para América Latina está constru- do em 1922, o partido que o capital. Para os trabalhado- indo um processo de luta po- sempre esteve ligado à União res, políticas compensatórias pular, mas ainda não há uma Soviética, era parte do movi- de migalhas. Há um descon- força política capaz de con- mento comunista internacional tentamento muito forte dos duzir o povo para as trans- desde toda a existência da trabalhadores. Agora há milha- formações de classe”. URSS, e o PCdoB é uma dis- res de trabalhadores em greve, Luis Alfonso Mena* sidência nossa de 1962, que os operários da construção ci- em seu primeiro momento foi vil, os professores universitá- “A luta de classes a nível maoísta e depois ligou-se ao rios todos estão em greve con- mundial está mudando de cará- Partido do Trabalho da Albâ- tra a política do Governo. Este ter e isto abre espaço para no- nia. Esta é a diferença de ori- também implementou várias vas correlações de forças in- gem. A diferença política é políticas neoliberais, como a ternacionais”, sustentou o diri- que nós temos uma linha polí- reforma da previdência que gente do Partido Comunista tica no Brasil que é muito dife- prejudicou muito os trabalha- Brasileiro, PCB, Edmilson rente da linha do PCdoB, por- dores. É um Governo que fi- Costa, que afirmou que “aqui que nós caracterizamos a situ- nancia muito fortemente gru- na América Latina há um re- ação brasileira como um capi- pos empresariais brasileiros e nascimento da luta popular”. talismo maduro, monopolista. muitos desses grupos, hoje, Portanto, o caráter central da estendem-se pela América La- Costa, professor universitário revolução é socialista e, se de- tina e têm uma hegemonia e- de economia, 62 anos, é o se- ve ser a revolução socialista, conômica também muito forte cretário de Relações Interna- nosso trabalho é no campo na África e em alguns países cionais do PCB, organização proletário, o campo de todos da Ásia. Tudo isso é muito ar- política que ele identifica co- os que são anticapitalistas. Os ticulado e financiado pelo Go- mo autêntica, fundada em companheiros (do PCdoB) fa- verno. Portanto, para nós, o 1922 e da qual se desprendeu o zem uma aliança policlassista parâmetro para avaliar um go- PCdoB, em 1962. com o Governo Lula e com verno é sua relação com os outros governos de centro- trabalhadores, e neste sentido Diferentemente do Partido direita em várias regiões, en- não é um governo dos traba- Comunista do Brasil, seu ho- quanto que nós decidimos que lhadores. mólogo, o PCB não participa nosso caminho é à esquerda.
  • 6. - Qual é a análise que vocês - Em relação à Colômbia, que te em várias partes do mundo. fazem dos processos progres- análise vocês fazem de nossa Em toda a Europa os trabalha- sistas na América Latina: na situação? dores fazem greves, mobiliza- Venezuela, na Bolívia, no - Nós temos boas relações tan- ções. No norte da África caí- Equador, inclusive no Brasil? to com o Partido Comunista ram as ditaduras de Mubarak e - Nós pensamos que na Vene- Colombiano como com a in- Túnis. Mesmo nos Estados U- zuela, na Bolívia e no Equador surgência. No Brasil nós so- nidos há uma luta embrionária há um processo de luta social mos o único partido que faz dos jovens no Ocuppy Wall mais avançado que em outros ações públicas de solidarieda- Street e dos trabalhadores de países da América Latina. No de com a guerrilha e que im- Wisconsin. E aqui na América entanto, na Venezuela existe pulsiona um movimento de Latina há um renascimento da uma debilidade que é a pouca solidariedade, porque enten- luta popular. Portanto, na nos- organização popular, é uma demos que o problema da sa avaliação a luta de classes a revolução que depende muito guerrilha não é militar. A guer- nível mundial está mudando de de uma pessoa. Entretanto nós rilha tem uma origem nos pro- caráter e isso abre espaço para apoiamos agora a eleição de blemas sociais, é uma base so- novas correlações de forças Chávez e é importante a vitória cial muito forte e não se pode internacionais. de Chávez porque não só re- resolver o problema pela via presenta uma vitória do povo militar. Nós defendemos a so- - Vocês no Brasil participam venezuelano, mas representa lução política e justa para o em algum nível do governo ou também uma vitória para todos conflito colombiano e espera- estão totalmente fora? São a os povos da América Latina. mos que os novos movimen- oposição? Esta vitória também vai forta- tos, tipo Marcha Patriótica, - Nós não participamos de ne- lecer as lutas sociais da Amé- contribuam para forçar o Go- nhum governo; nós trabalha- rica Latina, esta vitória golpeia verno a fazer uma negociação mos de maneira independente uma vez mais o imperialismo. que abra espaço a uma Colôm- e participamos normalmente Na Bolívia há também um bia democrática. das eleições. Eu sou candidato processo muito complexo, pois a vice-prefeito de São Paulo há uma interferência muito - Vocês acreditam que abriu- em uma coalizão de esquerda forte do governo brasileiro em se no mundo uma nova situa- com outro partido que se cha- apoio aos grandes proprietários ção que rompe com o unilate- ma Partido Socialismo e Li- que são brasileiros e vivem no ralismo, ou que tenham sur- berdade e temos candidatos Uruguai. O governo brasileiro gido novas hegemonias com nestas eleições de agora em apóia estas pessoas, que são China, Rússia e outros países todos os estados. uma fonte permanente de ten- como o Brasil? são contra o Governo da Bolí- - Não. Nós entendemos que - Sobre o Partido dos Traba- via, já que tentaram separar está mudando a situação mun- lhadores, de Lula e Rousseff, parte do país do governo cen- dial, porque a crise econômica vocês o identificam como um tral da Bolívia. No Equador a dos países centrais está ele- partido de centro, como um situação também é difícil, por- vando a redução da hegemonia partido social-democrata? que não há um movimento de dos Estados Unidos, e esta re- - É um partido de centro. Exis- massas organizado e uma van- dução abre espaço para novas tem algumas tendências inter- guarda que lidere este movi- nações, novos polos de poder. nas com as quais dialogamos, mento. Portanto, dizemos que Neste sentido, os BRICS, Bra- que são de centro-esquerda, na América Latina está em sil, China, Rússia, Índia, pos- porém a maioria é um partido construção um processo de suem um papel cada vez mais de centro, não é sequer social- luta popular, mas ainda não há importante no processo de cor- democrata. uma força política capaz de relação de forças políticas ____________________ conduzir o povo às transfor- mundiais, mas também há uma *Luis Alfonso Mena* - Diretor mações de classe. nova correlação de forças: a- do jornal PARÉNTESIS, de gora a luta popular está presen- Cali, Colômbia.
  • 7.
  • 8. Lembre-se: em Cascavel, nós somos a Revolução!
  • 9. Este espaço está sempre aberto para artigos e manifestações da comunidade Veja também o blog da Juventude Comunista de Cascavel: http://ujccascavel.blogspot.com Na Internet, acompanhe o blog ujccascavel@gmail.com do PCB de Cascavel: http://pcbcascavel.wordpress.com Twitter: PCB do Paraná: http://twitter.com/pcbparana Juventude Comunista de Cascavel: http://twitter.com/#!/j_comunista A seguir, uma página cole- cionável de O Capital em quadrinhos e o boletim Frente Anticapitalista
  • 10. Lições de Comunismo número 62 A cada edição do PerCeBer você terá uma nova página colecionável de O Capital em quadrinhos
  • 11. FrenteAnticapitalista N° 18 – 31.07.2012 Eleições e poder burguês A ciência do marketing sabe como manipular o eleitor, diz religioso É ingenuidade pedir ao poder para se autorreformar. Poder e governo são que nem feijão, só funcionam na panela de pressão. O fogo que o aquece e provoca modifi- cações em seu conteúdo tem que vir de baixo. Da pressão popular. Por Frei Betto, escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros parceria entre o público e o privado. Como se constata na CPI do Cachoeira e nos cuidados que os parlamentares tomam quando é citada a Construtora Delta. A pasteurização da política faz com que ela perca, a cada eleição, a sua natureza de mobili- zação popular, para se transformar em um ne- gócio administrado por marqueteiros e lideran- ças partidárias. As “costuras” são feitas por ci- ma; os princípios ideológicos escanteados; a militância é substituída por cabos eleitorais re- munerados; os acordos são fechados tendo em vista fatias de poder, e não programas de go- verno e metas administrativas. Hoje, no Brasil, o deputado e senador que você O eleitor é quem menos importa. Até porque a ajudou a eleger pode votar a favor e declarar ter ciência do marketing sabe como manipulá-lo. votado contra. Por isso, o Congresso empurra Todos sabemos que o marketing consegue in- com a barriga a reforma política. Medo de que duzir as pessoas a acreditarem que a roupa do qualquer alteração nas atuais regras do jogo ve- shopping é melhor do que a da costureira da nha a diminuir o poder de quem agora ocupa o esquina; refrigerante com gosto de sabão é me- centro do palco político. Como está é ruim, mas lhor que suco de frutas; sanduíche sabor isopor como estará poderá ser pior para quem ousar é melhor que um prato de saladas. propor a reforma. Do mesmo modo, os candidatos são maquiados, treinados, orientados e produzidos para ocultar Na falta de reforma política, o que vemos em o que realmente pensam e planejam, e manifes- torno não é nada animador. A democracia redu- tar o que agrada aos olhos e ouvidos do merca- zida a mero ritual delegatário, os partidos cada do eleitoral. vez mais parecidos entre si, os discursos cheios de palavras vazias, e o eleitor votando em A A falta de reforma política impede inclusive o para eleger B, considerado o quociente eleitoral. aprimoramento de nosso processo democrático. Na verdade, nem é justo falar em democracia, e No Congresso, em decisões importantes, como sim em pecuniacracia, já que o dinheiro exerce, cassação de mandatos, o voto é secreto. E isto é somado ao tempo disponível na TV, poder de absurdamente constitucional. Princípio que fere eleger candidatos. a própria natureza da democracia, que exige Estimativas indicam que, na capital paulista, transparência em todos os seus atos, já que os apenas dois candidatos à prefeitura, Serra e representados têm sempre o direito de saber Haddad, gastarão, juntos, R$ 118 milhões. como procedem seus representantes. De onde jorram tantos recursos? É óbvio, de Hoje, no Brasil, o deputado e senador que você quem amealha grandes fortunas – bancos, em- ajudou a eleger pode votar a favor e declarar ter presas, empreiteiras, mineradoras etc. Cria-se, votado contra. Mentir descaradamente. E agir assim, o círculo vicioso: você investe em minha segundo interesses escusos – tão frequentes eleição, eu na sua proteção. Eis a verdadeira nesse regime de pecuniacracia.
  • 12. Uma sugestão ao eleitor(a): nessas eleições mu- nicipais, escreva em um papel 10 ou 20 exigên- cias ou propostas a quem você gostaria de ver eleito vereador e prefeito. Analise quais priori- dades merecem ser destacadas em seu municí- pio: Saneamento? Educação? Saúde? Creches em áreas carentes? Transporte coletivo? Áreas de lazer e cultura? Caso tenha contato direto com candidatos, per- gunte a ele, sem mostrar o papel, se está de a- Há, contudo, uma novidade que escapa ao con- cordo com o que você propõe para melhorar o trole dos marqueteiros e das lideranças partidá- município. Se ele disser que sim, mostre o pa- rias: as redes sociais. Através delas os eleitores pel e peça que ele assine. Você verá o resultado. deixam de ser passivos para se tornarem prota- gonistas, opinativos, formadores de opinião. Alba Roballo: os muros invisíveis da América Latina Por Gilson Caroni Filho, jornalista e professor de Sociologia “As idéias são cárceres de longa duração”, di- zia Fernand Braudel. Cárceres que aprisionam geração após geração, e dos quais é muito difí- cil escapar, não só pela invisibilidade dos seus muros, mas também pela sua imperceptível reprodução. assassinados nas ruas de Mon- de cassada lhe criou a angústia Alba Roballo viveu no Uru- tevidéu por um regime que de ser morta em plena vida guai, durante a ditadura que se implantou medidas de exceção inquieta e combatente. Costu- instalou naquele país até mea- e abriu caminho para o golpe mava definir a condição de dos da década de 80. de estado. proscrita de forma cortante: “É Quando os anos de ditadura terrível, não a desejo para nin- (1973-1985) fizeram com que A ditadura uruguaia respondeu guém. Colocar um ser vivo no os uruguaios, de alguma for- a uma política global do impe- cal ou torná-lo cinza é um ato ma, esquecessem ou perdes- rialismo norte-americano, que de crueldade e de injustiça fe- sem, em meio a tanto medo e tinha por objetivo reverter todo roz e principalmente se não repressão, aquele orgulho por o quadro político do continen- fizemos nada para merecê-lo” sua democracia, que era uma te, evitando que a democracia parte integrante do próprio liberal – que em geral tinha Mas a dirigente política jamais “ser nacional”, uma mulher, estado associada aos sistemas se permitiu ser pessimista. entre tantos outros resistentes, vigentes – derivasse em regi- Nem na inteligência nem na se dispôs a reconstruir o ima- mes de conteúdo popular e ma- vontade. A presença maciça do ginário de uma sociedade civil tiz socialista. Militante e escri- povo nas ruas, o avanço no dinâmica, marcada , até a che- tora, a senadora sabia o signi- acerto de ações comuns entre gada dos militares ao poder, ficado mais profundo da Fren- partidos políticos legais e os pela convivência democrática, te Popular: um movimento an- colocados na ilegalidade pelos a livre exposição de ideias e ti-imperialista e anti- militares, a unanimidade dos uma poderosa organização par- oligárquico, um projeto que dirigentes e das bases na exi- tidária e sindical. não se limitando a uma con- gência de uma nova democra- juntura determinada, visava a cia que permitisse à cidadania Alba Roballo, senadora da uma nova opção de poder no uruguaia ser protagonista da Frente Ampla, foi a primeira país. própria história, eram o com- mulher latino-americana a o- bustível que alimentava sua cupar um ministério (Cultura) Como escritora, a partir de crença e sua poesia. e dele saiu pouco antes de os 1973, viveu a anti-criação. primeiros estudantes caírem Como política, sua condição
  • 13. muitos outros, num claro sinal espanto desta triste América / de que o principal alvo da di- que está gritando aos quatro tadura era o movimento que, ventos do delírio” somente em 2004, após déca- das de um regime bipartidário Alba morreu em 1996. Não viu de tendência conservadora, Tabaré Vázquez e Pepe Mujica formado pelos partidos Colo- chegarem ao poder. Mas sem- rado e Nacional. pre soube que a Frente Ampla teria futuro. E nunca duvidou Autora de inúmeros livros, sua que seria um futuro de êxitos. obra poética era também um Não viveu para ver o general Disco de poemas declamados pela escritora Alba Roballo compromisso político. Em Gregório Álvarez, ditador uru- “Tempo de Lobos” (1970) re- guaio de 1981 a 1985, ser con- Sua motivação para seguir na lata o terror e o sofrimento im- denado a 25 anos de prisão por luta era o destino dos milhares pingidos ao povo uruguaio du- ter participado de 35 execu- de presos políticos, entre eles rante o regime militar. Sua po- ções no regime militar. Mas os Líber Seregni, presidente da esia enfrenta o discurso com muros invisíveis contra os Frente Ampla, preso em Mon- armas desiguais: opõe síntese à quais lutou desmoronam um a tevidéu desde 1974, Jaime Pé- mentira, calor à loucura, sonho um no devir latino-americano. rez, Massera, Pietrarroia e à violência. Proclama “todo A história da dívida pública europeia: como os bancos privados enriqueceram às custas da população Por Salim Lamrani, professor e jornalista francês, especialistas em assuntos americanos vidamento inferior a 60% do teridade promovidas pela Uni- PIB. De outro lado, estão os ão Europeia, Banco Central quatro “maus alunos”, cuja Europeu e Fundo Monetário dívida pública ultrapassa os Internacional, aplicadas no Ve- 100% do PIB: Irlanda (108%), lho Continente, são economi- Portugal (108%), Itália (120%) camente ineficazes. e Grécia (180%). Entre esses dois extremos, residem os ou- Causam inclusive um efeito tros países da União Europeia, contrário, já que, longe de es- tais como França (86%), cuja timular o crescimento, a redu- Governos insistem na austeri- dívida oscila entre 60% e ção de gastos, a diminuição dade, mas se esquecem que já 100% do PIB. dos salários e das aposentado- foi possível conviver com dé- rias – além das catastróficas ficit e crescimento ao mesmo Os governos europeus de filo- consequências sociais e huma- tempo. sofia liberal, simbolizados pela nas que provocam – levam i- Todos os países europeus en- Alemanha de Angela Merkel, nevitavelmente a uma retração frentam o problema da dívida são unânimes quanto à impor- do consumo. que afeta severamente as con- tância que se deve dedicar ao tas públicas. A França, quinta "desendividamento” público, Com isso, as empresas são for- potência mundial, também não aplicando políticas de austeri- çadas a reduzir a produção e os escapa da crise que faz a feli- dade. Desta forma, Pierre salários, e até a demitir seus cidade dos bancos privados. Moscovici, embora seja minis- funcionários. Como conse- tro da Economia do governo quência, as receitas fiscais do Nenhuma nação europeia es- socialista francês de François Estado diminuem, enquanto capa do problema da dívida Hollande, estabeleceu como seus gastos – para atenuar os pública, apesar da gravidade prioridade a “redução do défi- efeitos do desemprego – ex- da crise diferir de um país para cit”, comprometendo-se a limi- plodem, criando assim um in- outro. De um lado, encontram- tá-lo a 3% do PIB ao ano, en- terminável círculo vicioso, cu- se os “bons alunos”, como tre outras coisas, por meio da jo símbolo é a crise grega. As- Bulgária, Romênia, República redução das despesas públicas. sim, vários países europeus Tcheca, Polônia, Eslováquia, No entanto, é de conhecimento estão em recessão. seguidos pelos países bálticos público que as políticas de aus- e escandinavos, com um endi-
  • 14. tituições financeiras privadas, mente punidos pela lei. Con- enquanto até 1973 podia criar cretamente, leva aos mesmos moeda para equilibrar o orça- resultados. A única diferença é mento pelo Banco Central. Os que aqueles que dela se bene- bancos comerciais dispõem ficiam são diferentes”. agora do poder de criação mo- netária mediante crédito, en- Atualmente, a dívida da França quanto antes era uma prerroga- equivale a mais de 1,7 trilhão tiva exclusiva do Banco Cen- de euros. No entanto, entre tral, ou seja, do Estado, e enri- 1980 e 2010, o contribuinte quecem às custas dos contribu- francês pagou mais de 1,4 tri- intes, em uma situação de qua- lhão de euros aos bancos pri- Como nasceu a dívida se monopólio. vados apenas pelos juros da pública da França dívida. Dessa forma, sem a lei Assim, os bancos privados po- de 1973, o Tratado de Maastri- Em 1973, a França não tinha dem emprestar, graças aos sis- cht e o Tratado de Lisboa, a problema de dívida e o orça- temas de reservas fracionárias, dívida francesa seria de apenas mento nacional estava equili- mais de seis vezes a quantia 300 bilhões de euros. brado. O Tesouro podia ser que têm em moeda central. Em financiado diretamente pelo outras palavras, por cada euro A França paga por ano 50 bi- Banco da França para construir que têm, podem emprestar até lhões de euros de juros, o que escolas, infraestrutura viária, seis euros, graças à criação coloca este pagamento em portuária e aérea, hospitais e monetária mediante crédito. primeiro lugar no orçamento, centros culturais, sem ter de Como se não bastasse, podem antes da Educação. Com a pagar uma taxa de juros exor- contratar junto ao Banco Cen- mesma quantia, o governo po- bitante, portanto, tinha apenas tral todos os fundos necessá- deria construir 500 mil casas déficit. rios, muitas vezes com uma de 100 mil euros ou criar 1,5 taxa de 0%, com o objetivo de milhões de postos de trabalho No entanto, em 3 de janeiro de emprestá-los em seguida aos no serviço público (educação, 1973, o governo do presidente Estados, com uma taxa de 3% saúde, cultura, lazer) com um Georges Pompidou, antigo di- a 18%, como é o caso da Gré- salário líquido mensal de 1.500 retor-geral do Banco Roths- cia. Com isso, a criação mone- euros. O contribuinte é despo- child, influenciado pelo mundo tária mediante crédito repre- jado de 1 bilhão de euros por financeiro, adotou a Lei n°73/7 senta 90% da massa monetária semana em proveito dos ban- sobre o Banco da França, ape- em circulação na zona do euro. cos privados. lidada de “Lei Rothschild” pe- la ala do setor bancário favo- Maurice Allais, Prêmio Nobel Portanto, a categoria mais rica rável a sua adoção. Elaborada de Economia francês, denun- da população recebeu do Esta- por Olivier Wormser, presi- ciou esta situação e afirmou do o grande privilégio de enri- dente do Banco da França, e que a criação monetária deve- quecer às custas do contribuin- Valéry Giscard d’Estaing, en- ria ser uma prerrogativa do te sem nenhuma contrapartida tão ministro da Economia e Estado e do Banco Central. e sem o menor esforço. das Finanças, a lei estipula em Segundo ele, “toda a criação Além disso, este sistema per- seu artigo 25 que "o Tesouro monetária deve ser do Estado e mite ao mundo financeiro não pode ser recebedor de cré- somente do Estado; toda cria- submeter a classe política aos ditos de seus próprios títulos ção monetária diferente da seus interesses e ditar a políti- sacados junto ao Banco da moeda da base do Banco Cen- ca econômica através das a- França”. tral deve ser impossibilitada, gências de qualificação, elas de modo que desapareçam os próprias financiadas pelos Em outras palavras, o Estado ‘falsos direitos’, que resultam bancos privados. Ou seja, se francês já não poderia financi- atualmente da criação monetá- um governo adota uma política ar o Tesouro contratando em- ria pelos bancos (...). Por es- contrária aos interesses do préstimos sem juros com o sência, a criação monetária ex mercado financeiro, essas a- Banco da França, mas teria de nihilo que praticam os bancos gências baixam a nota do Es- recorrer aos mercados finan- se assemelha – não hesito em tado, tendo como efeito imedi- ceiros. Dessa forma, o Estado dizê-lo para que as pessoas ato o aumento das taxas de ju- torna-se obrigado a pedir em- entendam bem o que está em ros. préstimos e pagar juros às ins- jogo – à fabricação de dinheiro por falsificadores, acertada-
  • 15. O sistema de crédito que se tradução livre), Paris, Edições estabeleceu na França desde Estrella, 2011, com prólogo de 1973 e que foi sancionado nos Wayne S. Smith e prefácio de tratados de Maastricht e de Paul Estrade. Lisboa tem apenas um objeti- Referências bibliográficas: vo: enriquecer os bancos pri- (1) Eurostat, « La dette publique des Etats membres », dezembro de vados às custas dos contribuin- 2011.(site consultado em12 de ju- tes. nho de 2012). É lastimável que não se abra (2) Le Point, « Moscovici : um debate sobre as origens da l’Europe, dossier prioritaire, la dette Ao mesmo tempo, quando o dívida pública da França na publique est un ‘ennemi’ », 17 de Estado e o Banco Central Eu- mídia ou no Parlamento. No maio de 2012. ropeu resgatam os bancos pri- entanto, bastaria devolver ao (3) Loi du 3 janvier 1973 sur la vados em dificuldade – isto é, Banco Central a exclusividade Banque de France.(site consultado em 13 de junho de 2012) procedem a sua estatização de da criação monetária para re- (4) Maurice Allais, La crise mon- fato, sem o benefício de qual- solver o problema da dívida. diale d’aujourd’hui, Editions Clé- quer vantagem, como por e- ** ment Juglar, 1999. xemplo o poder decisório no [Seu livro mais recente é "Etat (5) Une histoire de la dette, « Com- Conselho de Administração –, de siège. Les sanctions éco- prendre la dette publique », 7 de o fazem com taxas de juros nomiques des Etats-Unis con- outubro de 2011. (site acessado em 13 de junho de2012);Sociétal, « menores do que essas mesmas tre Cuba” ("Estado de sítio. As L’arnaque de la dette publique » instituições financeiras cobra- sanções econômicas dos Esta- (site acessado em 13 de junho de vam do Estado. dos Unidos contra Cuba”, em 2012).
  • 16. Nas eleições municipais, a opção anticapitalista está na combinação destas siglas: