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O homem do mato
A Pietà Arredio a tudo que lembrasse progresso, movimento intenso de pessoas, barulho em excesso, assim era ele.
Nada fazia com que se acostumasse com as coisas da cidade. O campo era seu mundo.
No campo ele se deliciava com as cores da natureza, com o brilho do sol entre as árvores, com os animais em passeio.
Lá era seu lugar e se ausentava apenas para as compras de gêneros básicos não produzidos por ele no próprio campo que habitava.
Tinha seu tempo ocupado, pois procurava ouvir cada novo cantar de um pássaro, cada novo  sinal de uma folha que caía. Era crédulo de que tudo aquilo tinha a mão de Deus.
Falava pouco, mas tratava a todos que o procuravam com muita atenção e sempre dizia palavras de muita sabedoria.
Sabedoria adquirida com o silêncio (aparente) e com os sinais emanados pela própria natureza.
Repetia sempre que nada acontece por acaso. E que nada acontece sem que seja da vontade Dele.
E pensando assim, vivendo assim, ia atraindo mais pessoas em busca de seus ensinamentos. Também não dava uma de humilde,  de quem nada sabia.  Valorizava seus ricos conhecimentos.
Era comum vê-lo sentado sobre as pernas debaixo de uma árvore, muito pensativo. Era quando ficava de « pouca prosa ».
Os que o conheciam, o respeitavam, pois sabiam que aquele era um dos importantes momentos de meditação. Provavelmente conversando com Deus.
Mas horas depois, ou no máximo no outro dia lá estava ele pronto a trocar idéias e mostrar algum aprendizado novo.
Dias mais claros deixavam-no mais solto, pois dizia que o sol estava querendo brincar. Era quando ele ensaiava alguns passos tímidos de dança e ficava muito feliz  quando alguém o acompanhava.
Andava leve e calmamente sob as árvores,  contemplando sua beleza. Procurava, quando em companhia, mostrar este ou aquele detalhe produzido « naturalmente ».
Pisava firme em terras úmidas. Dizia que por elas, sempre recebia uma boa forma de energização.
Aspirava com prazer o ar produzido ali, na fonte, pelas belas árvores, as quais apresentava como sua moradia.
Por um pequeno sinal, como uma virada de rumo do vento, por exemplo, sabia se ia chover, se ia aumentar o calor, ou se uma briza  suave viria visitá-lo.
Dizia que nunca estava só. Que suas companhias se apresentavam sob as mais diversas formas:  pela luz, pela chuva, pela brisa. E tinha fé de que aquelas eram formas de comunicação do Pai.
Nunca disse seu nome, e o que era mais estranho, nunca alguém quis sabê-lo. Homem natureza já bastava.
Sua mansidão, seu conselho de quem havia « bebido água na fonte » sua presdiposição no encaminhar os mais jovens, etc., eram como credenciais mais do que suficientes para que fosse reconhecido.
Ele e a natureza, na verdade, são  uma única pessoa. Que se completam com a presença do Pai.
 
Texto e apresentação por Renato Cardoso.
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O Homem Do Mato

  • 1. O homem do mato
  • 2. A Pietà Arredio a tudo que lembrasse progresso, movimento intenso de pessoas, barulho em excesso, assim era ele.
  • 3. Nada fazia com que se acostumasse com as coisas da cidade. O campo era seu mundo.
  • 4. No campo ele se deliciava com as cores da natureza, com o brilho do sol entre as árvores, com os animais em passeio.
  • 5. Lá era seu lugar e se ausentava apenas para as compras de gêneros básicos não produzidos por ele no próprio campo que habitava.
  • 6. Tinha seu tempo ocupado, pois procurava ouvir cada novo cantar de um pássaro, cada novo sinal de uma folha que caía. Era crédulo de que tudo aquilo tinha a mão de Deus.
  • 7. Falava pouco, mas tratava a todos que o procuravam com muita atenção e sempre dizia palavras de muita sabedoria.
  • 8. Sabedoria adquirida com o silêncio (aparente) e com os sinais emanados pela própria natureza.
  • 9. Repetia sempre que nada acontece por acaso. E que nada acontece sem que seja da vontade Dele.
  • 10. E pensando assim, vivendo assim, ia atraindo mais pessoas em busca de seus ensinamentos. Também não dava uma de humilde, de quem nada sabia. Valorizava seus ricos conhecimentos.
  • 11. Era comum vê-lo sentado sobre as pernas debaixo de uma árvore, muito pensativo. Era quando ficava de « pouca prosa ».
  • 12. Os que o conheciam, o respeitavam, pois sabiam que aquele era um dos importantes momentos de meditação. Provavelmente conversando com Deus.
  • 13. Mas horas depois, ou no máximo no outro dia lá estava ele pronto a trocar idéias e mostrar algum aprendizado novo.
  • 14. Dias mais claros deixavam-no mais solto, pois dizia que o sol estava querendo brincar. Era quando ele ensaiava alguns passos tímidos de dança e ficava muito feliz quando alguém o acompanhava.
  • 15. Andava leve e calmamente sob as árvores, contemplando sua beleza. Procurava, quando em companhia, mostrar este ou aquele detalhe produzido « naturalmente ».
  • 16. Pisava firme em terras úmidas. Dizia que por elas, sempre recebia uma boa forma de energização.
  • 17. Aspirava com prazer o ar produzido ali, na fonte, pelas belas árvores, as quais apresentava como sua moradia.
  • 18. Por um pequeno sinal, como uma virada de rumo do vento, por exemplo, sabia se ia chover, se ia aumentar o calor, ou se uma briza suave viria visitá-lo.
  • 19. Dizia que nunca estava só. Que suas companhias se apresentavam sob as mais diversas formas: pela luz, pela chuva, pela brisa. E tinha fé de que aquelas eram formas de comunicação do Pai.
  • 20. Nunca disse seu nome, e o que era mais estranho, nunca alguém quis sabê-lo. Homem natureza já bastava.
  • 21. Sua mansidão, seu conselho de quem havia « bebido água na fonte » sua presdiposição no encaminhar os mais jovens, etc., eram como credenciais mais do que suficientes para que fosse reconhecido.
  • 22. Ele e a natureza, na verdade, são uma única pessoa. Que se completam com a presença do Pai.
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