O documento discute a importância da contaminação cruzada por glúten e como ela pode afetar celíacos, mesmo quando eles seguem uma dieta livre de glúten. O caso da Beatriz é usado para ilustrar como pequenas exposições a glúten no dia a dia, como em casa, na escola e em outros ambientes, podem manter os sintomas ou danificar o intestino, apesar de seguir uma dieta. É importante que celíacos e seus cuidadores estejam atentos a possíveis fontes de contaminação cruzada.
Newsletter Grupo Viva sem Glúten Portugal nr 2 edic 1 fev 2014
1. debatido no grupo é o da con-
taminação cruzada. Aqui vos
deixo uma pequena história
para melhor ilustrar esta temáti-
ca, baseada em situações verí-
dicas embora com personagens
fictícias, que se passaram na
minha família ou foram discuti-
das no grupo. Este será segura-
mente um dos temas que aqui
continuaremos a apresentar
pela sua real importância, infe-
lizmente subestimada.
E mais um ano
começou! Balan-
ços passados e
promessas de
mudanças feitas!
Lançamos em
Janeiro a Newsletter e a rubri-
ca Sinais & Sintomas tendo
ambas as iniciativas despoleta-
do incentivos da vossa parte
para se manterem.
Na zona de Lisboa decorreu o
3º encontro entre membros do
grupo residentes nesta área e
as suas famílias, valendo para
troca de informações, contactos,
receitas, entre outros. Para
alguns dos pequenotes presen-
tes foi dia de muita brincadeira
e iniciação do palato a novos
sabores: algodão doce e pão
caseiro!
Foram várias as receitas publi-
cadas por vós no Grupo. Antó-
nio Santos foi um dos membros
mais atarefados na cozinha este
mês. Uma das suas receitas de
bacalhau foi escolhida para vos
ser aqui apresentada. Da mes-
ma maneira, Jorge Rocha traz
uma receita apta para autistas
e celíacos.
Um dos temas que mais preocu-
pa o celíaco e que mais é
EDITORIAL
O ESTADO DA ARTE- “Um dia e peras: contaminação cruzada
subestimada”
A Beatriz tem seis anos e sabe
que é celíaca desde há 11
meses. Vive com o irmão Martim
e seus pais que não são celía-
cos. Em casa da Beatriz apenas
ela cumpre dieta isenta de
glúten. A Beatriz tem o “seu
armário”. Apesar de ter aumen-
tado um pouco de peso (passou
do percentil 5 para o 15) e de
se sentir melhor, a sua médica
disse-lhe que os seus anticorpos
para a doença celíaca ainda
estavam positivos, embora
melhores.
Mas o que se está a passar
com a Beatriz? Porque não
negativaram já os anticorpos?
8h00, segunda – feira: a Bea-
triz toma o pequeno-almoço
junto do Martim. Beatriz come
um iogurte natural sem lactose
da Nutregi, cornflakes da Schar
e frutos secos Seeberger do
Pingo Doce. O Martim come
flocos de Nestúm com mel.
Seguem na carrinha particular
para a escola onde os seus
amigos costumam estar a comer
bolachinhas com glúten.
A meio da manhã, lancham no
refeitório da escola. Beatriz
partilha a mesa com os seus
colegas de turma. Enquanto ela
come um panini Schar, os outros
meninos comem pãezinhos de
trigo. A Dona Antónia, zelosa,
limpa todos os dias a mesa
comum com o seu pano cor-de-
laranja e, em especial, onde a
Beatriz come.
Seguem-se as aulas de portu-
guês, matemática e, nalguns
dias, inglês, artes plásticas,
música e ginástica.
Ao almoço, a
Dona Luísa pre-
para o almoço
da Beatriz com
o máximo cuida-
do, mas confessa
que não se sente muito à vonta-
de ao fazê-lo. O pior é à sexta
-feira quando faz empadão de
esparguete coberto de pão
ralado e bolinho de iogurte
para a sobremesa. Cozer dois
tipos de esparguete e usar duas
colheres ao mesmo tempo impli-
ca que se lembre constantemen-
te de não os trocar. Diz ficar
“stressada”.
Enquanto o esparguete coze,
rapidamente prepara a massa
para o bolo. A Beatriz não vai
poder comer este bolinho pois
leva farinha de trigo. Dão-lhe
um dos seus queques embala-
dos. Dona Luísa leva tudo ao
forno ao mesmo tempo. O
empadão da Beatriz é feito
com massa da Sam Mills e não
leva pão ralado por cima.
A Beatriz adora as aulas de
artes plásticas principalmente
quando usam plasticina. As
unhas ficam muito coloridas e as
mãos pegajosas, mas vale a
pena! Na escola usa a mesma
marca de plasticina que os
colegas.
A avó vai buscar os netos à
escola. Tem sempre Oreos para
o Martim e bolachas maria da
Schar para a Beatriz. A avó
bebe habitualmente o seu chá-
zinho de erva-príncipe e come
um pãozinho de centeio. A Bea-
triz começa a ter receio de
comer em casa da avó, pois a
mesa está sempre cheia de
migalhas com glúten.
(Continua na página seguinte)
Agradecimentos:
A TODOS OS PARTICIPANTES DO 3º
ENCONTRO DO GRUPO VIVA SEM
GLÚTEN, PORTUGAL DA ZONA DE
LISBOA.
ANA LETÍCIA BARRETO- LAYOUT E
TIPOGRAFIA
ANTÓNIO JOÃO PEREIRA – REVISÃO
CLÍNICA
ANTÓNIO SANTOS – RECEITA DO MÊS
AVELINO GUERREIRO – APOIO TÉCNICO
E INFORMÁTICO
CLÁUDIA MACEDO – REVISÃO ORTO-
GRÁFICA E TIPOGRÁFICA, LAYOUT
JORGE ROCHA – RECEITA DO MÊS
EDITORIAL 1
O ESTADO DA ARTE 1
ENTREVISTA 3
NOVIDADES 3
RECEITAS DO MÊS 4
ACTIVIDADES 4
INFO & DICAS 5
Neste número:
Fevereiro 2014Edição 1, Nº 2
G R UP O V I VA S E M G LÚT E N
P OR T U GA L
Newsletter
2. 2
Ao fim da tarde, os meninos
regressam a casa, iupi!!! Correm
para o cão “Trapalhão” e, entre
mil lambidelas nas mãos e caras,
lá conseguem dar-lhe a ração.
Seguem-se os peixinhos doura-
dos: mas que esfomeados! Tra-
balhos de casa, brincar com a
Wii e o kit de maquilhagem da
Hello Kitty fazem parte da roti-
na diária.
Ao jantar todos partilham o
mesmo menu com exceção do
pão. A mãe adora o seu enfari-
nhado do Continente e a Beatriz
come baguetes Auchan. Os
meninos levantam a mesa. A
Beatriz sacode a toalha para a
rua: adora fazê-lo pois pode
ver os ninhos das andorinhas nos
beirais e os pardalitos que acor-
rem a comer as migalhas.
Correm para a TV
para ver a “Violeta”
e são de novo horas
de ir dormir. Mas
hoje a Beatriz doí-
lhe ligeiramente a
barriguita e aquela está um
pouco inchada, sente frio em
redor do umbigo, a mãe ralhou
muito com ela e disse-lhe que
não percebia porque refilava
com tudo e todos, porque estava
tão irritada! Apareceu-lhe de
novo aquela marca vermelha em
redor da boca e, apesar de se
sentir cansada, não conseguia
adormecer. O que terá a Bea-
triz?
Vamos rever o dia da Beatriz!
Qual a eventual exposição ao
glúten que teve?
Pequeno-almoço: os frutos secos
da Seeberger são embalados
numa fábrica onde também
embalam cereais com glúten.
Apesar da descrição de ingre-
dientes não indiciar perigo, a
empresa que os produz não
garante não contaminação.
Será que a taça do pequeno-
almoço ou a colher que usou
poderão conter glúten? Afinal o
Martim come todos os dias flo-
cos de Nestúm com mel e coloca
a sua taça diretamente na
máquina de lavar a loiça. Será
esta lavagem suficiente para
retirar a “cola” que o glúten
representa?
Na ida até à escola, os bancos
e cadeirinhas da carrinha estão
sempre pejados de migalhas
com glúten. Será que a Beatriz
inadvertidamente não leva as
mãos à boca?
Na mesa do refeitório, a Dona
Antónia, apesar de querida e
atenciosa, usa sempre o mesmo
pano para limpar as mesas
cheias de migalhas com glúten.
Será que uma breve passagem
deste por água é suficiente
para retirar o glúten do tampo
da mesa? No dia seguinte, os
talheres da Beatriz ficam direta-
mente em cima do tampo.
Será que na cozinha da escola
não há possibilidade de conta-
minação cruzada? Troca de
colheres ao cozinhar? Farinha de
trigo no ar e bancadas? Forno
partilhado para pratos com
glúten, nomeadamente com pão
ralado? A convexão de ar quen-
te no forno (mesmo com ventoi-
nha desligada) faz com que
todas as pequenas partículas
circulem.
E a plasticina conterá glúten?
Fica sempre debaixo das unhas!
A Beatriz ainda não conseguiu
ultrapassar o vício de roer as
unhas!
Migalhas com
glúten em casa da
avó? E na toalha
partilhada todas
as noites? Será que a farinha
dos enfarinhados da véspera
não se agarra aos talheres da
Beatriz?
Quer a ração do cão quer a dos
peixes contêm farinha de trigo.
As lambidelas do cão e o não
lavar as mãos após dar comida
aos peixes farão com que fique
com glúten nas suas mãos? E o
que acontecerá se as levar à
boca ou aos olhos?
Em todas as situações atrás
descritas poderá haver contami-
nação cruzada. Poderão isola-
damente ou em conjunto ser
aquelas responsáveis pelos sin-
tomas de “glutinização” que a
Beatriz manifesta?
Em relação à quantidade exata
de glúten que um celíaco pode
tolerar sem experimentar efeitos
adversos existem algumas publi-
cações científicas interessantes e
relevantes. Uma revisão sistemá-
tica de estudos publicados entre
1966 e 2007 determinou que a
quantidade de glúten tolerado
entre os celíacos varia. Enquanto
uns toleram 34 – 36 mg de
glúten diário, outros desenvol-
vem alterações da mucosa duo-
denal apenas sob 10 mg diários
daquele.1 Um importante estudo
de C. Catassi et al mostrou que
a quantidade mínima de glúten
ingerida via contaminação cru-
zada que provoca alterações
da mucosa intestinal é, em
média, 50 mg.2
Alguns celíacos
mantêm uma dieta
isenta de glúten
(DIG), contudo, os
seus sintomas e/ou atrofia das
vilosidades duodenais persistem.
Estes são considerados como
tendo doença celíaca refratária
(que não responde à terapêuti-
ca). Poderá, no entanto, a con-
taminação cruzada, mesmo que
não suspeita, ser responsável
por parte destes casos? A equi-
pa da “ University of Maryland
Center for Celiac Research in
Baltimore MD”, nos Estados Uni-
dos, procurou responder a esta
questão efetuando um estudo
retrospectivo dos registos de
pacientes entre 2005 a 2011
que demonstra bem que esta é
uma realidade.3
A reavaliação médica após
diagnóstico e início de dieta
isenta de glúten com pesquisa
de auto-anticorpos não é sensí-
vel na deteção de pequenos
graus de contaminação por
glúten. A negativação dos auto-
anticorpos específicos após DIG
não implica necessariamente a
cura do intestino, e apenas a
biópsia duodenal pode verificar
o seu sucesso.4 Neste contexto,
a monotorização da correta
manutenção da DIG e a sua
repercussão clínica no doente
celíaco é difícil, como tal o pró-
prio celíaco, com ajuda da equi-
pa clínica que o segue, deve ser
responsável pelo alcançar de
uma dieta o mais rigorosa possí-
vel.
A maioria dos celíacos obtém
melhoria clínica após o inico de
DIG. Mas muitas vezes a
O ESTADO DA ARTE- “Um dia e peras: contaminação cruzada subestimada” (cont.)
Newsletter
exposição continuada àquele,
mesmo que involuntária, é a
causa mais comum da persistên-
cia dos sintomas. As causas mais
comuns da exposição involuntá-
ria ao glúten são o conhecimento
insuficiente sobre produtos con-
tendo glúten, má rotulagem dos
alimentos, contaminação cruza-
da com alimentos contendo glú-
ten, quer em casa, quer no res-
taurante (escola).Na prática
atingir uma ingestão de 50 mg
de glúten/dia é muito fácil.5
A lista de poten-
ciais complicações
e de patologias
associadas à
doença celíaca é
grande e preocupante: cancro,
doenças endócrinas (diabetes,
alterações da tiroide, entre
outras), hepáticas, ósseas, psi-
quiátricas, neurológicas, infertili-
dade, cardíacas, nutricionais,
entre outras. A evidência mostra
que a adesão à DIG e a cura
da mucosa intestinal podem
prevenir e / ou diminuir algumas
daquelas complicações.5 Deve
ser então objetivo crucial para
todo o celíaco alcançar uma
dieta isenta de glúten rigorosa.
1. A. K. AKOBENG & A. G. THO-
MAS. Systematic review: tolerable
amount of gluten for people with
coeliac disease Aliment Pharmacol
Ther 27, 1044 – 1052.
2. Carlo Catassi et al. A prospective,
double-blind, placebo-controlled
trial to establish a safe gluten
threshold for patients with celiac
disease. Am J Clin Nutr
2007;85:160 – 6.
3. Hollon Justin R et al. Trace gluten
contamination may play a role in
mucosal and clinical recovery in a
subgroup of diet-adherent non-
responsive celiac disease patients.
BMC Gastroenterology 2013,
13:40. doi:10.1186/1471-230X-
13-40.
4. Am J Gastroenterol 2013;
108:656–676; doi: 10.1038/
ajg.2013.79; published online 16
April 2013.
5. M. L. HAINES, R. P. ANDERSON &
P. R. GIBSO Systematic review: the
evidence base for long-term mana-
gement of coeliac disease Aliment
Pharmacol Ther 28, 1042 – 1066.
ANA PIMENTA
3. 3
A entrevista deste mês foi con-
duzida por Cláudia Macedo,
membro do grupo Viva Sem
Glúten, Portugal. Ana Pimenta,
administradora do mesmo, médi-
ca, celíaca e mãe de menino
celíaco, presta-nos o seu teste-
munho face às questões que lhe
foram colocadas.
Como é que foi
diagnosticada?
Em 2011, surgiu-me
intolerância à lacto-
se durante a gravi-
dez. Esta quando
surge na idade adulta é habi-
tualmente secundária a uma
doença do intestino delgado.
Suspeitei assim de doença celía-
ca. Tinha queixas abdominais,
cansaço extremo e sinais neuro-
lógicos de neuropatia sensitivo-
motora com consequentes atro-
fias musculares graves. Os anti-
corpos específicos para o estudo
da doença celíaca foram nega-
tivos (já havia iniciado DIG) e a
biópsia duodenal positiva. Fui
mal informada de início, tendo-
me sido dito que até seis meses
após inico de DIG os anticorpos
seriam positivos. De facto, assim
pode ser, mas apenas se aque-
les forem muito elevados de
início ou se a dieta não for cor-
retamente efetuada.
Há mais celíacos na sua famí-
lia?
Tal como preconizam as guideli-
nes actuais, fizemos despiste nos
nossos filhos (anticorpos e tipa-
gem genética). Um deles tem
igualmente intolerância ao glú-
ten, sendo homozigótico para os
alelos DQ8. Iniciou aos 18 meses
DIG rigorosa e assim evitamos
possíveis complicações graves
(diabetes mellitus tipo 1, anemia
ferropénica).
Qual foi a sua maior dificulda-
de na adaptação à dieta?
A adaptação à DIG não foi
difícil na medida em que os
principais grupos de alimentos
nos são permitidos: carne, peixe,
legumes, fruta. A dieta mediter-
rânica, que sempre segui, é
perfeita para uma alimentação
sem glúten. O facto de, em ter-
mos legislativos, a rotulagem
dos alimentos ainda não obrigar
a mencionar isenção ou não de
glúten, constituiu uma barreira
quando necessitava de comprar
alimentos processados. Rapida-
mente aprendi a ler os rótulos e
a procurar informação junto das
empresas alimentícias para
evitar a contaminação cruzada
neste tipo de alimentos.
No pós-diagnóstico que tipo de
apoio é que encontrou?
Infelizmente, os apoios sociais,
psicológicos, financeiros, educa-
cionais e clínicos ainda são
escassos em Portugal. Dada a
minha formação na área da
saúde, aqueles não foram difí-
ceis em termos clínicos. Procurei
muita informação por mim mes-
ma (artigos científicos específi-
cos sobre a doença, a dieta e
cozinha sem glúten). Inscrevi-me
na APC e aderi ao grupo Viva
sem glúten Portugal que passei
a coadministrar com Susana
Fernandes. O apoio mútuo que
encontrei no blog “Vidas sem
g l ú t e n ” ( h t t p : / /
vidassemgluten.blogspot.pt/) foi
responsável por esta adesão, e
ainda hoje em dia colaboramos
para a “causa celíaca”, quer em
termos familiares, quer da comu-
nidade.
De que é que sente mais falta?
Há alguma receita que fazia
antes e que agora não consegue
fazer?
Sinto falta da liberdade de esco-
lha. Não sinto falta de nada em
particular. Pus mãos à obra, estu-
dei quer do ponto de vista cientí-
fico, quer leigo, as características
dos grãos e farinhas sem glúten,
bem como as propriedades físico
-químicas daquele. Assumi que
não tentarei reproduzir na ínte-
gra os alimentos com glúten.
Ingredientes diferentes dão sabo-
res e texturas diferentes, mas que
nada deixam a desejar.
Quais as difi-
culdades com
que se depara
quando vai a
um restaurante
ou viaja? Que
cuidados tem quando o faz?
Sempre que possível planeio
essas saídas. Mantenho-me fiel
aos restaurantes que me abrem a
cozinha. Sou o mais rigorosa
possível. Não complico. Explico
de antemão que tenho doença
celíaca e alergia ao glúten e o
que isso significa. Explico o que é
a contaminação cruzada e quais
os perigos que daí podem advir
para a minha saúde. Procuro
escolher um prato que seja natu-
ralmente isento de glúten. Procuro
saber junto do chefe quais os
ingredientes e marcas que usa.
Qual a perceção e cuidados que
têm em relação à DC aqueles
que a rodeiam (família, amigos,
colegas)?
O marido, pela sua formação na
Nesta última opção, poderão
usar a ferramenta de partilha
para alertarem amigos e fami-
liares. Desta forma, pretendemos
divulgar informação sobre a
doença celíaca abrangendo um
número cada vez maior de celía-
cos e não celíacos. Em Janeiro
falou-se de defeitos dentários e
infertilidade.
No mês de Janeiro, à laia do
que o blog “Celiac Diva” tem
vindo a fazer, lançamos a rubri-
ca Sinais & Sintomas de modo a
alertar para doenças e condi-
ções que se podem associar à
doença celíaca, mas que são ou
atípicas, ou menos valorizadas.
Convido-vos a participar quer
no grupo Viva sem glúten, Por-
tugal, quer no perfil de Face-
book, entretanto criado, sob a
designação e o logo do grupo.
Entrevista
NOVIDADES
Edição 1, Nº 2
área da saúde, compreende e
ajuda na questão da gestão do
dia-a-dia, mas, tal como com os
outros familiares, a questão de
eliminarmos ao máximo o glúten
de nossa casa foi sendo pro-
gressivamente trabalhada. Ami-
gos e colegas percebem a ques-
tão e combinamos com antece-
dência quais as medidas mais
seguras para cada situação.
Como vê o entendimento que a
s o c i e d a d e e m g e r a l
(profissionais de saúde, empre-
sas) tem da DC e da dieta sem
glúten?
Existe ainda muito trabalho a
realizar nesta área. Quer em
termos de formação geral, quer
em termos de compreensão e
gestão da questão da contami-
nação cruzada. Mas acho que o
celíaco não deve “esperar sen-
tado” e deve participar ativa-
mente nas questões que interfe-
rem negativamente com a sua
qualidade de vida. Quer recor-
rendo a segundas opiniões
medicas, inscrevendo-se numa
das associações dirigidas a
intolerâncias alimentares, procu-
rando informação correta e
divulgando-a.
Nem tudo são
dificuldades na
doença celíaca;
que melhorias
trouxe a dieta
sem glúten à
sua vida? Para além da óbvia
melhoria do estado de saúde,
serviu para estabelecer novas
amizades e contactos e fortale-
cer os laços familiares.
SABIA QUE?
A incidência das doenças auto-imunes na população em
geral é de 3,5% nos EUA. Num estudo de 1999, Ventura
descobriu que aqueles com um diagnóstico de doença
celíaca feito entre os 2-4 anos de idade, tinham uma
probabilidade de 10,5% de desenvolver uma outra
doença auto-imune. Esse valor aumenta para 16,7%
quando o diagnóstico é feito entre os 4-12 anos, para
27% dos 12 aos 20 anos, e para 34% acima dos 20
anos. O diagnóstico precoce é urgente!
In Jump Start Your Gluten Free Diet, do University of
Chicage Celiac Disease Center
4. 4
farinha (sem glúten), 50g de
manteiga de soja, 200g natas
de soja, sal, pimenta e noz-
moscada q.b.
Preparação do bacalhau:
Rale o pão (deixe de fora de
um dia para outro 3 fatias de
pão sem glúten e rale: toque no
turbo e programe 15 seg/ vel
9). Reserve.
Coloque no copo da Bimby a
cebola, os alhos, o azeite e
pique (5 seg/vel 5). Refogue (5
min/varoma/vel 1) - opcional.
Adicione a batata, o bacalhau
bem escorrido e faça uma coze-
dura (5 min/varoma/inverso
colher).
BACALHAU COM NATAS
Este mês foram escolhidas duas
receitas, um salgado e um doce,
para agradar a todos os pala-
tos! António Santos, cozinheiro
destemido, presenteou-nos com
uma receita de Bacalhau com
Natas na Bimby.
Ingredientes para o bacalhau:
Pão ralado q.b., 200g de cebo-
las, 2 dentes de alho, 50g de
azeite, 400g de bacalhau
demolhado e desfiado, 400g
batatas palha (ou batata cozi-
da).
Ingredientes para o molho
bechamel:
1000g de leite de soja, 100g
Coloque num pyrex alternada-
mente batata e bacalhau.
Preparação do bechamel:
Coloque todos os ingredientes
para Béchamel, exceto as natas.
Programe 8 min/ 90º graus/ vel
4.
Adicione as natas (2 min/ 90º
graus/ vel 4).
Montagem final:
Deite o molho por cima das
batatas e do bacalhau. Decore
com o pão ralado reservado e
leve ao forno a gratinar durante
20 minutos.
Receitas do Mês
VIVA SEM GLÚTEN PORTUGAL
PÃO DE LÓ
Por sua vez, Jorge Rocha sugeriu
-nos um belo pão-de-ló! Elabo-
rado com o intuito de cortar no
açúcar refinado, glúten e leite,
adequando-o, segundo algumas
correntes, a uma dieta adequa-
da ao autismo.
Ingredientes:
6 gemas de ovo
2 ovos
90 grs. de xilitol
50 grs. de farinha de arroz
integral
1 cc de canela moída
10 cl de vinho do porto (retirar
se receita para autista)
Preparação:
Reserve a farinha.
Junte os restantes ingredientes
junte na batedeira e bata
durante 10 minutos na velocida-
de máxima. Junte de seguida a
farinha lentamente e vá incorpo-
rando-a.
Aqueça a máquina de fazer
pão (MFP) ligando-a no progra-
ma “cozer” e “cor escura”, sem o
respetivo recipiente. Deixe-a a
funcionar durante 5 minutos
antes de colocar o recipiente.
No recipiente da MFP coloque
papel manteiga (ou vegetal).
Depois da massa estar bem
mexida, coloque-a no recipiente
da MFP.
Coza durante 15 minutos na cor
escura. Quando terminar retire o
recipiente da máquina e deixe
arrefecer 1 hora. Retire do reci-
piente puxando pelo papel
manteiga. Sirva ou coma à
colher.
ACTIVIDADES 3º Encontro do Grupo Viva sem Glúten Portugal, Lisboa
No dia 12 de Janeiro de 2014
decorreu em Carnaxide, num
simpático local gentilmente cedi-
do por Inês Serrano, o 3º Encon-
tro do Grupo Viva sem Glúten,
Portugal dos seus membros resi-
dentes na zona de Lisboa.
Nem a chuva nem o frio demo-
veram as 8 famílias presentes.
Entre o menu preparado pelos
participantes encontraram-se
salgados (quiche), pão com
sorgo, pães-de-leite, doces
(tarte de maçã, bolo de choco-
late, bolo de iogurte, bolo de
limão, brigadeiros de colher,
areias e bolachas de amendoim,
entre outros). Nem gomas e
chocolates, pipocas e o algo-
dão doce faltaram para delírio
dos mais pequenos.
Serviu o presente para estreitar
e estabelecer contactos e rela-
ções, discutir temas tão perti-
nentes como a obtenção
de abono complementar, reali-
zação de refeições sem glúten
nas escolas, sintomatologia
apresentada pelas crianças
aquando de episódio de
"glutinização", receitas de pão,
entre outros. Entre cantares,
danças, brincadeiras e correrias
(continua na página seguinte)
Newsletter
5. 5
houve tempo para um pequeno
concurso dirigido aos pequeno-
tes. As duas equipas lideradas,
pelas já "veteranas" de encon-
tros para crianças e adolescen-
tes na APC, Filipa Serrano e Bia
Venturi, portaram-se brilhante-
mente identificando os vários
alimentos apresentados como
FOTOS NO GRUPO
Deseja carregar fotos
na página do grupo?
Procura uma receita
de pão? Vai procurar
entre 1300 fotos?
Não! Procure e orga-
nize as suas fotos nos álbuns de
fotos. Saiba como fazê-lo.
No topo da página inicial do
grupo encontra o botão: fotos
Já na página das fotos, logo no
topo, encontra os álbuns: pão,
salgados, bolos e bolinhos,
bolachas, encontros, bimby,
produtos sem glúten, natal, pas-
coa, entre outros. Abra o respe-
tivo álbum e adicione as suas
fotos.
Mesmo que queira partilhar
uma receita e não a consiga
escrever no momento pode fazê
-lo num segundo tempo ou ape-
nas se alguém a pedir. De outra
forma não é possível organizar
este tipo de informação.
Obrigada a todos pelas vossas
partilhas. Em caso de dúvida,
envie, por favor, mensagem
privada para Ana Pimenta ou
Susana Fernandes.
“Com organização e tempo,
acha-se o segredo de fazer tudo
e bem feito”.
Ana Pimenta
SORGO, CEREAL SEM GLÚTEN
O sorgo é um cereal que teve
origem em África, há cerca de
5000 anos atrás, onde continua
a ser uma importante fonte
INFO & DICAS
ACTIVIDADES 3º Encontro do Grupo Viva sem Glúten Portugal, Lisboa (Cont.)
podendo conter ou não glúten.
Com idades compreendidas
entre os 2 anos e os 16 todos
contribuíram positivamente e
todos receberam as merecidas
guloseimas como prémio final.
Um Domingo bem passado, sem
dúvida alguma!
alimentar. A farinha de sorgo não
contém glúten.
O sorgo tem uma composição
nutricional semelhante à do milho,
embora seja maior em proteína e
gordura e mais baixo em vitami-
na A. Um quarto de chávena de
sorgo tem menos calorias, três
vezes mais fibra e duas vezes
mais proteína que a farinha de
arroz. No entanto, tal como o
milho, o sorgo é uma fonte de
proteína incompleta. Não fornece
as quantidades adequadas de
lisina, um importante aminoácido
essencial. O corpo necessita de
lisina para o crescimento e saúde
óssea, e para a conversão de
gorduras em energia.
Utilizações para a farinha de sor-
go
Tradicionalmente, esta farinha
tem sido usada como um cereal
para fazer panquecas, papas e
tortilhas em diferentes culturas,
como, por exemplo, o roti
jowar na Índia.
A farinha de sorgo é um substitu-
to comum para a farinha de trigo
nas dietas sem glúten. Tem um
sabor agradável que é benéfico
ao preparar alimentos. Quando
cozinhar com a farinha de sorgo
enquanto substituto directo da
farinha de trigo, deve adicionar
outros ingredientes para com-
pensar a consistência seca que
deixa.
Para substituir, a farinha de trigo
pela farinha de sorgo na maioria
das receitas comuns, faça:
- Adicione meia colher de sopa
de maizena por cada 140 gra-
mas de farinha de sorgo nas
suas receitas, com a excepção
do pão;
- Ou adicione uma colher de
sopa de maizena por cada 140
gramas de farinha de sorgo se
estiver a fazer pão.
- Depois, adicione 1,25 vezes
mais a quantidade de gordura
(óleo ou manteiga) que a receita
pede. Isto fará com que o item
em questão fique mais húmido.
- De seguida, adicione 1,25
vezes mais a quantidade de
substância levedante que a
receita pede. Isso irá garantir
que a receita aumenta na quan-
tidade desejada.
Cláudia Macedo
NOVOS TESTES EM ENSAIO
PARA DETECÇÃO DE DOENÇA
CELÍACA
A doença celíaca (DC) é uma
doença autoimune mediada por
linfócitos T (glóbulos brancos T) e
diagnosticada pela presença de
inflamação intestinal dependen-
te do glúten (biópsia duodenal)
e pesquisa de anticorpos especí-
ficos (serologia). Muitos doentes
não podem ser diagnosticados
através daqueles exames, pois
já iniciaram dieta isenta de glú-
ten (DIG) antes de chegarem ao
consultório médico.1 Estes casos
requerem reintrodução de glúten
com consequente regresso de
sintomas, por vezes graves. 1,2 O
facto de ser difícil determinar
quanto tempo é necessário para
positivarem os exames diagnós-
ticos sob DIG torna ainda mais
preocupante esta situação.
A re-introdução de glúten mobili-
za linfócitos T reactivos que liber-
tam citoquinas (substâncias infla-
matórias), como o interferão γ e
IP-10, mensuráveis por imunoen-
saios (IFN-γ ELISA, ELISPOT, IP-10
ELISA), com sensibilidade entre
85% - 94% e 100% específicos.
1
Segundo o investigador Dr. Jason
Tye-Din, os testes em investigação
podem dar resultados apenas
após três dias de dieta com glú-
ten, com elevado valor preditivo
nos doentes celíacos HLA-
DQ2·5+. Muito importante é
ainda o facto de serem negativos
nos indivíduos sem doença celía-
ca. 2
Estes testes necessitam
ainda de mais investi-
gação, mas serão
muito úteis melhoran-
do a bateria de exa-
mes diagnósticos para
esta doença. 1,2
1 - N. Ontiveros et al. 'Ex-vivo whole
blood secretion of interferon (IFN)-γ
and IFN-γ-inducible protein-10 measu-
red by enzyme-linked immunosorbent
assay are as sensitive as IFN-γ enzyme-
linked immunospot for the detection of
gluten-reactive T cells in human leu-
cocyte antigen (HLA)-DQ2·5+-
a s s o c i a t e d c o e l i a c d i s e a -
se', Clinical&Experimental Immunology.
Vol 175, Issue 2, Feb 2014; 305–
315.
2 - http://www.science20.com/
n e w s _ a r t i c l e s /
new_blood_test_could_simplify_diagno
sis_celiac_disease-127656
ANA PIMENTA