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SOFTWARE
                                                                                      AUTOMAÇÃO
                                                                                         AUTOMAÇÃO
                                                                                       SOFTWARE
                                                                                        ROBÓTICA

                           Inversores vetoriais:
                        Explorando
                          os fundamentos
                                                                 Alaor Mousa Saccomano

                                              Neste artigo, abordaremos o detalhamento do funcionamento
                                           de um inversor acionado por controle vetorial. Em uma perspec-
                                           tiva conceitual, para um assunto muito discutido e extremamente
  Rockwell/divulgação




                                           complexo, verificaremos o que acontece com o motor elétrico no
                                           ambiente do controlador e entender o significado dos eixos Q e D
                                           aplicados no processo de controle vetorial.


           s inversores de freqüência    a questão: como funciona o controle     cessitam, além do valor de sua in-


O          para acionamento de mo-
           tores de indução trifásicos
           são, sem sombra de dúvi-
da, alguns dos equipamentos mais
utilizados hoje na indústria, devido
                                         de um Inversor Vetorial?
                                             Vários ótimos livros têm sido es-
                                         critos, sempre na maior parte, senão
                                         em todos os casos, apresentando a
                                         abordagem matemática do assunto,
                                                                                 tensidade, definições mais específi-
                                                                                 cas quanto a direção (“de onde vem
                                                                                 e para onde vai”) e logicamente o sen-
                                                                                 tido (“está vindo ou indo?”). Estas
                                                                                 são ditas vetoriais. Lembrando da Ma-
às grandes facilidades encontradas       que é, por si só, extremamente com-     temática, um vetor é um segmento
nestes poderosos equipamentos,           plexa. Tentaremos, com o mínimo de      orientado que define intensidade, di-
quanto ao controle de velocidade e       abordagem matemática possível,          reção e sentido. Entre as inúmeras
torque, sentido de rotação, proteções    esclarecer os pontos de um modo         aplicações para vetores, temos as
internas contra faltas e erros de        mais conceitual.                        que definem força, velocidade e ace-
processamento, falhas de sobrecar-                                               leração. Veja na figura 1.
ga e sobretemperatura, possibilida-          VETORES E VETORES...                    Além disso, há todo um universo
de de conexões via redes industriais                                             matemático para atuação de vetores:
com outros dispositivos, sistemas de        Para entendermos o comporta-         adição de vetores, produto vetorial,
controles internos para aplicação em     mento do controle vetorial, inicial-    espaço e sub-espaço… que nós omi-
sistemas de controle de vazão e flu-     mente vamos tentar explorar o que       tiremos aqui, apesar de que com esse
xo… e poderíamos destacar outros         vem a ser um vetor. Os elementos        conhecimento tudo ficaria mais fácil.
inúmeros benefícios agregados a          que definem uma situação física, ca-    Bom, é só voltar aos livros de Geo-
este produto. Não há produtos mais       racterizando-a de modo completo é       metria Analítica…
confiáveis e de melhor resposta di-      denominado de grandeza, ou melhor,
nâmica (resposta rápida e de robus-      grandeza física. Esta, basicamente               MAIS CONCEITOS
ta estabilidade) do que os inverso-      pode ser definida quanto ao aspecto
res de freqüência.                       intensidade, isto é, definida apenas       Ainda visando facilitar ao leitor, al-
     Se, contudo, nos concentrarmos      em base numérica. Por exemplo, o        gumas definições devem ser enunci-
apenas no “inversor puro”, temos         tempo, área, volume, temperatura…       adas. Não podemos perder a oportu-
basicamente três pontos importan-        entre outros são exemplos de gran-      nidade de homenagear aqueles que
tes: a estrutura de potência, o          dezas que podem ser totalmente ca-      muito contribuíram para o nível do de-
controlador e a interface com o usuá-    racterizadas apenas com um valor        senvolvimento tecnológico que che-
rio. Diversos ótimos artigos já foram    numérico. Já, outras grandezas ne-      gamos, desde Faraday, Maxwell,
publicados a respeito de inversores,                                             Lenz, Henry, Ampère, Tesla, Gauss,
inclusive na revista Saber Eletrôni-                                             Volta, entre tantos outros. Alguns se-
ca. Nossa intenção é agregar algu-                                               rão diretamente citados, pois muitas
ma informação à já existente, contri-                                            das leis enunciadas/descobertas por
buindo para o desenvolvimento                                                    têm, com todo o direito, seus nomes.
tecnológico de todos. Na realidade,                                                 Lei de Lenz: O físico russo
o nosso objetivo é tentar responder                 Figura 1 - Vetor.            Heinrich Lenz estabeleceu a relação


MECATRÔNICA ATUAL Nº 8 - FEVEREIRO/2003
MECATRÔNICA ATUAL Nº 9 - ABRIL/2003
                     5 - DEZEMBRO/2002                                                                                33
                                                                                                                      33
AUTOMAÇÃO

entre o sentido da corrente elétrica         Tensão induzida por movimen-              que é responsável pelo fluxo, e no-
induzida em um circuito e o campo        to relativo: Quando determinado con-          venta graus defasado deste, isto é,
magnético variável que a induziu. Ele    dutor atravessa ou se movimenta               em quadratura, o eixo de quadratura
observou que, ao induzirmos uma          (certamente com velocidade) sobre             que responde pelo torque.
corrente em um condutor ou grupo         um campo magnético, surge no mes-                  Assumiremos, a partir daqui, a
destes, ela criará um campo que se       mo certa f.e.m. (força eletromotriz)          figura 3 como nosso ponto de apoio.
oporá à variação do campo que a          induzida devido ao movimento, que             Temos nesta uma MI, especificamen-
produziu. Assim, em uma bobina,          pode ser dada por:                            te, um motor “gaiola de esquilo” isto
quando sujeita à ação de uma cor-                                                      é, no estator estão os enrolamentos
rente induzida, sempre aparecerá um          onde:                                     trifásicos defasados 120 o entre si e
campo que se oporá a qualquer varia-     B: densidade do fluxo                         no rotor apenas barras cur to-
ção de campo magnético sobre si.         q: cargas elétricas do condutor               circuitadas. Lembrando que utilizare-
Guardando as devidas proporções,         v: velocidade do movimento.                   mos como aproximação à conven-
podemos dizer que há uma certa                                                         ção do desacoplamento da MCC
inércia na bobina quando da forma-           O CONTROLE VETORIAL                       (máquina de corrente contínua), ou
ção de campo magnético.                                                                melhor dizendo, a idéia é demons-
     Tensão induzida ou indução             Para entendermos o controle                trar de um modo simples como po-
eletromagnética: Quando um ímã se        vetorial de campo, devemos lembrar            demos “modelar” um motor polifásico
move sobre um condutor ou próximo        que a idéia é controlar a velocidade          (no caso trifásico) em um sistema
(melhor, no interior) de uma bobina      e o torque de modo independente,              de dois eixos, sendo um deles o de
haverá a indução de um campo mag-        como em uma MCC (máquina de                   campo de excitação e o outro de
nético (tensão induzida) sobre a mes-    corrente contínua), só que aplicando          quadratura ou enrolamento de com-
ma. Cessado o movimento, também          o conceito em uma MI (máquina de              pensação. Consideraremos, com
cessa o efeito.                          indução, preferencialmente do tipo            muita aproximação, que o número de
     Campo magnético: Quando um          motor assíncrono trifásico). Na MCC,          espiras do enrolamento do estator é
condutor é percorrido por uma cor-       temos sempre um eixo do campo,                o mesmo do rotor. Isto se faz neces-
rente elétrica, surge em torno deste                                                   sário para simplificar os cálculos.
um campo magnético proporcional à                                                           Se a corrente iqs for repentinamen-
corrente. O sentido das linhas do cam-                                                 te injetada no enrolamento sQ, tere-
po magnético estabelecido pode ser                                                     mos, pela lei de Lenz, que a corren-
obtido pela famosa “ regra da mão                                                      te que irá fluir no rotor o fará causan-
direita”: segure o condutor com a sua                                                  do um fluxo que se oporá ao incre-
mão direita de maneira que o dedo                                                      mento da corrente no enrolamento
polegar aponte o sentido da corrente                                                   sQ. As direções das correntes estão
(figura 2). Os seus dedos apontarão                                                    marcadas na figura 3. O sentido de
no sentido das linhas de campo. Já                                                     i’r é oposto ao de iqs.
quanto a uma espira (bobina), o cam-                                                        O efeito da injeção de corrente no
po magnético gerado dependerá do                                                       estator pode ser mais bem explica-
raio da espira e da intensidade da                                                     do através de um diagrama espacial
corrente elétrica. Quanto maior a cor-                                                 vetorial (figura 4). As adições das
rente, maior o valor do campo. Quan-          Figura 2 - Regra da mão direita.         correntes ids e iqs geram a corrente
to maior o raio da espira, menor o                                                     estatórica, de modo que logo após a
valor do campo.                                                                        injeção da corrente, teremos:
     Intensidade de campo magné-
tico (H): É a força magnética dada                                                         Então, facilmente percebe-se que
por unidade de pólo magnético, co-                                                     a corrente que gera os pólos magné-
nhecida também como força                                                              ticos no enrolamento estatórico, dita
magnetizante.                                                                          corrente magnetizante, é a corrente
     Fluxo magnético (Φ): É o núme-                                                    do eixo D.
ro total de linhas de força, que for-                                                      Desse modo, temos que o rotor
mam um campo magnético.                                                                irá se movimentar. Mas suponhamos
     Densidade do fluxo magnético                                                      que o rotor seja mantido travado e,
(B): É o número de linhas de força                                                     não havendo movimente no rotor, não
que atravessam perpendicularmente                                                      há o aparecimento de f.e.m. de mo-
certa área.                                                                            vimento, levando a corrente a se des-
     Força magnetomotriz (f.m.m ou        Figura 3 - Diagrama conceitual de uma MI     vanecer, por causa da constante de
  ): É a força pontual ao longo do ca-        com o enrolamento estatórico em          tempo L/R do circuito do rotor. Isto é
minho do fluxo.                                          quadratura..
                                                                                       notado pelo decréscimo do vetor i’r.


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SOFTWARE
                                                                                              AUTOMAÇÃO
                                                                                                 AUTOMAÇÃO
                                                                                               SOFTWARE
                                                                                                ROBÓTICA

Nesta situação, o vetor corrente           Denominaremos, como na maioria dos               A corrente de magnetização é
magnetizante e fluxo não coincidem         artigos acadêmicos, de ρ este ângu-           calculada a partir de:
com o eixo D.                              lo. Ele não pode ser medido diretamen-
    Para que o eixo d permaneça ali-       te, mas sim estimado. Um modo se-
nhado com o vetor corrente de              ria verificar a taxa de variação desse
magnetização, há a necessidade de          ângulo com o passar do tempo em                   Todas as variáveis das duas ex-
que o estator se movimente de um           função da corrente e velocidade de            pressões anteriores podem ser cal-
certo incremente (figura 5), que cha-      evolução do rotor. Assim, temos:              culadas a partir da velocidade an-
maremos de δµ m, em direção a i s.                                                       gular do motor e da corrente do
Porém como é sabido que o estator                                                        estator, tendo já as informações de
é fixo, quem se movimenta, em sen-                                                       indutância de magnetização, cons-
tido oposto, é o rotor. Havendo, en-             sendo:                                  tante rotórica, resistências de
tão, movimento relativo do rotor em        ω: a velocidade angular do eixo rotor         estator e rotor e indutância de rotor
relação ao estator, melhor dizendo,        isq: corrente estatórica referenciada ao      e estator, potência e velocidade no-
ao fluxo magnético do estator, ocor-       eixo q                                        minal. Em sistemas com realimen-
re que as barras do rotor cortam o         imr: corrente de magnetização                 tação via encoder, terá a medição
fluxo, tendo conseqüentemente ten-         tr: constante rotórica                        direta da velocidade angular do rotor.
são induzida nas barras. Observe                                                         Quanto aos sistemas em que a
que se tem tensão induzida de mo-                                                        mesma é estimada, tem-se a forma-
vimento relativo.                                                                        ção sensorless.
    Na figura 6, temos que ir conti-                                                         O processador do sistema deve-
nuará ortogonal (isto é, 90o defasa-                                                     rá decompor a corrente resultante do
dos) do fluxo magnetizante.                                                              estator, que na realidade é compos-
    Mantendo-se o fluxo constante,                                                       ta pelas correntes das fases R-S-T,
isto é, a parcela da corrente estatórica                                                 defasadas 120o elétricos e equilibra-
que se responsabiliza pela                                                               das em um sistema de dois eixos
magnetização da MI, isto é, a corren-                                                    ortogonais como nas MCC, mas ali-
te id deve ser mantida constante, o                                                      nhadas com o enrolamento do
torque se controlará pela parcela da                                                     estator. Essa “transformação de co-
                                              Figura 4 - Vetores espaciais da MI em
corrente excedente exigida para gerá-         quadratura, momentos após a injeção        ordenadas” é matematicamente pro-
lo. A corrente iq, que se pode dizer                       de corrente.                  cessada utilizando-se um sistema
que é controlada independentemente                                                       matricial de transformação:
no sistema, gerará torque elétrico (TE)
proporcional ao seu valor:

    Entre uma das muitas maneiras
de se calcular a constante k, pode-
                                                                                             Com os valores calculados de
ria ser:
                                                                                         isa e isb, e armazenados, o sistema
                                                                                         possibilita o cálculo do vetor fluxo.
                                                                                         A conversão inversa, ou transfor-
                                                                                         mação 2 para 3, calcula as corren-
   Quando se aplicam esses proce-                                                        tes do estator a partir das coorde-
dimentos em motores trifásicos, nor-          Figura 5 - Vetores da MI simulando o       nadas d e q referenciadas ao pró-
malmente escolhe-se um valor bási-                movimento nos eixos Q e D.
                                                                                         prio estator:
co de torque para que o sistema de
controle vetorial tenha por base em
seu sistema de controle. Na prática,
se ajusta o fluxo de modo que em re-
gime permanente tenha-se eficiência
máxima. A eficiência de torque será
máxima sempre que id for igual à iq.                                                         Na real validação para se obter
                                                                                         as correntes id e iq, com a posição
  UM POUCO DE MATEMÁTICA                                                                 do ângulo do fluxo magnético. Para
                                                                                         tanto, o processador do controle
   O conhecimento da posição do                                                          vetorial deverá calcular as coordena-
ângulo do fluxo magnético entre o rotor                                                  das do fluxo rotórico. A escolha das
                                            Figura 6 - Posição dos vetores da MI, após   coordenadas do fluxo rotórico ou
e o estator é fundamental para a                        rotação do estator.
implementação do controle vetorial.                                                      transformação e-jρ, é dado por:
                                                                                                          ρ




MECATRÔNICA ATUAL Nº 8 - FEVEREIRO/2003
MECATRÔNICA ATUAL Nº 9 - ABRIL/2003
                     5 - DEZEMBRO/2002                                                                                     35
                                                                                                                           35
AUTOMAÇÃO




                             Figura 7 - Diagrama de blocos do controle vetorial indireto do fluxo rotórico.


                                            processador já possui tabelas com-
                                            pletas de ρ, cos ρ e sin ρ, prontas
                                            para uso. A aplicação de proces-
                                            sadores digitais de sinais ou mi-
    E completando, a escolha das
                                            crocontroladores dedicado é impres-
coordenadas do fluxo estatórico, ou
                                            cindível para aplicações práticas e
transformação ejρ, será:
                ρ
                                            industriais nos inversores.

                                                          CONCLUSÃO

                                                 Nossa intenção foi municiar o lei-
        APLICANDO EM                        tor de informações mais “quentes”
         UM SISTEMA                         sem muito apelo matemático do fun-
         DE CONTROLE                        cionamento de um sistema de con-
      VETORIAL INDIRETO...                  trole vetorial. Em artigos futuros, se
                                            possível, abordaremos aspectos
   Apresentamos ao leitor que dese-         mais práticos do uso de inversores
ja uma implementação um sistema             escalares e vetoriais.
com Controle Indireto (figura 7). Nes-           Uma vasta bibliografia pode ser
te caso, o comando do torque será           utilizada por aqueles interessados em
função do sinal de erro de velocida-        se aprofundar mais no assunto, prin-
de, que é processado por um                 cipalmente os leitores que possuem
controlador do tipo PI, impondo cer-        algum domínio matemático e de pro-
to atraso compensado pelo                   gramação, e conhecimentos em ele-                   Figura 6 - Algoritmo para implementação de
processador (normalmente um DSP)                                                                          controle vetorial indireto.
                                            trônica de potência. Uma boa dica é
e evitando erros de ganho. Os valo-         olhar os applications notes do DSP
res de fluxo também podem ser im-           da Texas Instruments (família                       afoitos (e que dominam o inglês),
postos como função da velocidade            TMS320). Em termos de literatura,                   sugerimos procurar: Eletric Motor
nominal (fluxograma ao lado).               há uma excelente tradução do livro                  Drivers – Modeling , analysis and
   Observa-se que os cálculos de-           de Muhammad H. Rashid, cujo título                  control - do autor R. Krishnan e
vem ser feitos em alta velocidade,          é “Eletrônica de Potência”. O livro do              Control of Eletric Drives, de W.
gerando grande trabalho de                  Cyril Lander, segunda edição                        Leonhard. Por fim, para quem tem
processamento e necessidade de              traduzida em português, “Eletrônica                 acesso ao IEEE, é possível encon-
grandes espaços de memória no               Industrial”, também serve como ma-                  trar muitas informações abrangentes
processador. Em muitos casos, o             téria introdutória. Para os mais                    e completas.


36                                                                                   MECATRÔNICA ATUAL Nº 9 - ABRIL/2003

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Controle vetorial de motores de indução

  • 1. SOFTWARE AUTOMAÇÃO AUTOMAÇÃO SOFTWARE ROBÓTICA Inversores vetoriais: Explorando os fundamentos Alaor Mousa Saccomano Neste artigo, abordaremos o detalhamento do funcionamento de um inversor acionado por controle vetorial. Em uma perspec- tiva conceitual, para um assunto muito discutido e extremamente Rockwell/divulgação complexo, verificaremos o que acontece com o motor elétrico no ambiente do controlador e entender o significado dos eixos Q e D aplicados no processo de controle vetorial. s inversores de freqüência a questão: como funciona o controle cessitam, além do valor de sua in- O para acionamento de mo- tores de indução trifásicos são, sem sombra de dúvi- da, alguns dos equipamentos mais utilizados hoje na indústria, devido de um Inversor Vetorial? Vários ótimos livros têm sido es- critos, sempre na maior parte, senão em todos os casos, apresentando a abordagem matemática do assunto, tensidade, definições mais específi- cas quanto a direção (“de onde vem e para onde vai”) e logicamente o sen- tido (“está vindo ou indo?”). Estas são ditas vetoriais. Lembrando da Ma- às grandes facilidades encontradas que é, por si só, extremamente com- temática, um vetor é um segmento nestes poderosos equipamentos, plexa. Tentaremos, com o mínimo de orientado que define intensidade, di- quanto ao controle de velocidade e abordagem matemática possível, reção e sentido. Entre as inúmeras torque, sentido de rotação, proteções esclarecer os pontos de um modo aplicações para vetores, temos as internas contra faltas e erros de mais conceitual. que definem força, velocidade e ace- processamento, falhas de sobrecar- leração. Veja na figura 1. ga e sobretemperatura, possibilida- VETORES E VETORES... Além disso, há todo um universo de de conexões via redes industriais matemático para atuação de vetores: com outros dispositivos, sistemas de Para entendermos o comporta- adição de vetores, produto vetorial, controles internos para aplicação em mento do controle vetorial, inicial- espaço e sub-espaço… que nós omi- sistemas de controle de vazão e flu- mente vamos tentar explorar o que tiremos aqui, apesar de que com esse xo… e poderíamos destacar outros vem a ser um vetor. Os elementos conhecimento tudo ficaria mais fácil. inúmeros benefícios agregados a que definem uma situação física, ca- Bom, é só voltar aos livros de Geo- este produto. Não há produtos mais racterizando-a de modo completo é metria Analítica… confiáveis e de melhor resposta di- denominado de grandeza, ou melhor, nâmica (resposta rápida e de robus- grandeza física. Esta, basicamente MAIS CONCEITOS ta estabilidade) do que os inverso- pode ser definida quanto ao aspecto res de freqüência. intensidade, isto é, definida apenas Ainda visando facilitar ao leitor, al- Se, contudo, nos concentrarmos em base numérica. Por exemplo, o gumas definições devem ser enunci- apenas no “inversor puro”, temos tempo, área, volume, temperatura… adas. Não podemos perder a oportu- basicamente três pontos importan- entre outros são exemplos de gran- nidade de homenagear aqueles que tes: a estrutura de potência, o dezas que podem ser totalmente ca- muito contribuíram para o nível do de- controlador e a interface com o usuá- racterizadas apenas com um valor senvolvimento tecnológico que che- rio. Diversos ótimos artigos já foram numérico. Já, outras grandezas ne- gamos, desde Faraday, Maxwell, publicados a respeito de inversores, Lenz, Henry, Ampère, Tesla, Gauss, inclusive na revista Saber Eletrôni- Volta, entre tantos outros. Alguns se- ca. Nossa intenção é agregar algu- rão diretamente citados, pois muitas ma informação à já existente, contri- das leis enunciadas/descobertas por buindo para o desenvolvimento têm, com todo o direito, seus nomes. tecnológico de todos. Na realidade, Lei de Lenz: O físico russo o nosso objetivo é tentar responder Figura 1 - Vetor. Heinrich Lenz estabeleceu a relação MECATRÔNICA ATUAL Nº 8 - FEVEREIRO/2003 MECATRÔNICA ATUAL Nº 9 - ABRIL/2003 5 - DEZEMBRO/2002 33 33
  • 2. AUTOMAÇÃO entre o sentido da corrente elétrica Tensão induzida por movimen- que é responsável pelo fluxo, e no- induzida em um circuito e o campo to relativo: Quando determinado con- venta graus defasado deste, isto é, magnético variável que a induziu. Ele dutor atravessa ou se movimenta em quadratura, o eixo de quadratura observou que, ao induzirmos uma (certamente com velocidade) sobre que responde pelo torque. corrente em um condutor ou grupo um campo magnético, surge no mes- Assumiremos, a partir daqui, a destes, ela criará um campo que se mo certa f.e.m. (força eletromotriz) figura 3 como nosso ponto de apoio. oporá à variação do campo que a induzida devido ao movimento, que Temos nesta uma MI, especificamen- produziu. Assim, em uma bobina, pode ser dada por: te, um motor “gaiola de esquilo” isto quando sujeita à ação de uma cor- é, no estator estão os enrolamentos rente induzida, sempre aparecerá um onde: trifásicos defasados 120 o entre si e campo que se oporá a qualquer varia- B: densidade do fluxo no rotor apenas barras cur to- ção de campo magnético sobre si. q: cargas elétricas do condutor circuitadas. Lembrando que utilizare- Guardando as devidas proporções, v: velocidade do movimento. mos como aproximação à conven- podemos dizer que há uma certa ção do desacoplamento da MCC inércia na bobina quando da forma- O CONTROLE VETORIAL (máquina de corrente contínua), ou ção de campo magnético. melhor dizendo, a idéia é demons- Tensão induzida ou indução Para entendermos o controle trar de um modo simples como po- eletromagnética: Quando um ímã se vetorial de campo, devemos lembrar demos “modelar” um motor polifásico move sobre um condutor ou próximo que a idéia é controlar a velocidade (no caso trifásico) em um sistema (melhor, no interior) de uma bobina e o torque de modo independente, de dois eixos, sendo um deles o de haverá a indução de um campo mag- como em uma MCC (máquina de campo de excitação e o outro de nético (tensão induzida) sobre a mes- corrente contínua), só que aplicando quadratura ou enrolamento de com- ma. Cessado o movimento, também o conceito em uma MI (máquina de pensação. Consideraremos, com cessa o efeito. indução, preferencialmente do tipo muita aproximação, que o número de Campo magnético: Quando um motor assíncrono trifásico). Na MCC, espiras do enrolamento do estator é condutor é percorrido por uma cor- temos sempre um eixo do campo, o mesmo do rotor. Isto se faz neces- rente elétrica, surge em torno deste sário para simplificar os cálculos. um campo magnético proporcional à Se a corrente iqs for repentinamen- corrente. O sentido das linhas do cam- te injetada no enrolamento sQ, tere- po magnético estabelecido pode ser mos, pela lei de Lenz, que a corren- obtido pela famosa “ regra da mão te que irá fluir no rotor o fará causan- direita”: segure o condutor com a sua do um fluxo que se oporá ao incre- mão direita de maneira que o dedo mento da corrente no enrolamento polegar aponte o sentido da corrente sQ. As direções das correntes estão (figura 2). Os seus dedos apontarão marcadas na figura 3. O sentido de no sentido das linhas de campo. Já i’r é oposto ao de iqs. quanto a uma espira (bobina), o cam- O efeito da injeção de corrente no po magnético gerado dependerá do estator pode ser mais bem explica- raio da espira e da intensidade da do através de um diagrama espacial corrente elétrica. Quanto maior a cor- vetorial (figura 4). As adições das rente, maior o valor do campo. Quan- Figura 2 - Regra da mão direita. correntes ids e iqs geram a corrente to maior o raio da espira, menor o estatórica, de modo que logo após a valor do campo. injeção da corrente, teremos: Intensidade de campo magné- tico (H): É a força magnética dada Então, facilmente percebe-se que por unidade de pólo magnético, co- a corrente que gera os pólos magné- nhecida também como força ticos no enrolamento estatórico, dita magnetizante. corrente magnetizante, é a corrente Fluxo magnético (Φ): É o núme- do eixo D. ro total de linhas de força, que for- Desse modo, temos que o rotor mam um campo magnético. irá se movimentar. Mas suponhamos Densidade do fluxo magnético que o rotor seja mantido travado e, (B): É o número de linhas de força não havendo movimente no rotor, não que atravessam perpendicularmente há o aparecimento de f.e.m. de mo- certa área. vimento, levando a corrente a se des- Força magnetomotriz (f.m.m ou Figura 3 - Diagrama conceitual de uma MI vanecer, por causa da constante de ): É a força pontual ao longo do ca- com o enrolamento estatórico em tempo L/R do circuito do rotor. Isto é minho do fluxo. quadratura.. notado pelo decréscimo do vetor i’r. 34 MECATRÔNICA ATUAL Nº 9 - ABRIL/2003
  • 3. SOFTWARE AUTOMAÇÃO AUTOMAÇÃO SOFTWARE ROBÓTICA Nesta situação, o vetor corrente Denominaremos, como na maioria dos A corrente de magnetização é magnetizante e fluxo não coincidem artigos acadêmicos, de ρ este ângu- calculada a partir de: com o eixo D. lo. Ele não pode ser medido diretamen- Para que o eixo d permaneça ali- te, mas sim estimado. Um modo se- nhado com o vetor corrente de ria verificar a taxa de variação desse magnetização, há a necessidade de ângulo com o passar do tempo em Todas as variáveis das duas ex- que o estator se movimente de um função da corrente e velocidade de pressões anteriores podem ser cal- certo incremente (figura 5), que cha- evolução do rotor. Assim, temos: culadas a partir da velocidade an- maremos de δµ m, em direção a i s. gular do motor e da corrente do Porém como é sabido que o estator estator, tendo já as informações de é fixo, quem se movimenta, em sen- indutância de magnetização, cons- tido oposto, é o rotor. Havendo, en- sendo: tante rotórica, resistências de tão, movimento relativo do rotor em ω: a velocidade angular do eixo rotor estator e rotor e indutância de rotor relação ao estator, melhor dizendo, isq: corrente estatórica referenciada ao e estator, potência e velocidade no- ao fluxo magnético do estator, ocor- eixo q minal. Em sistemas com realimen- re que as barras do rotor cortam o imr: corrente de magnetização tação via encoder, terá a medição fluxo, tendo conseqüentemente ten- tr: constante rotórica direta da velocidade angular do rotor. são induzida nas barras. Observe Quanto aos sistemas em que a que se tem tensão induzida de mo- mesma é estimada, tem-se a forma- vimento relativo. ção sensorless. Na figura 6, temos que ir conti- O processador do sistema deve- nuará ortogonal (isto é, 90o defasa- rá decompor a corrente resultante do dos) do fluxo magnetizante. estator, que na realidade é compos- Mantendo-se o fluxo constante, ta pelas correntes das fases R-S-T, isto é, a parcela da corrente estatórica defasadas 120o elétricos e equilibra- que se responsabiliza pela das em um sistema de dois eixos magnetização da MI, isto é, a corren- ortogonais como nas MCC, mas ali- te id deve ser mantida constante, o nhadas com o enrolamento do torque se controlará pela parcela da estator. Essa “transformação de co- Figura 4 - Vetores espaciais da MI em corrente excedente exigida para gerá- quadratura, momentos após a injeção ordenadas” é matematicamente pro- lo. A corrente iq, que se pode dizer de corrente. cessada utilizando-se um sistema que é controlada independentemente matricial de transformação: no sistema, gerará torque elétrico (TE) proporcional ao seu valor: Entre uma das muitas maneiras de se calcular a constante k, pode- Com os valores calculados de ria ser: isa e isb, e armazenados, o sistema possibilita o cálculo do vetor fluxo. A conversão inversa, ou transfor- mação 2 para 3, calcula as corren- Quando se aplicam esses proce- tes do estator a partir das coorde- dimentos em motores trifásicos, nor- Figura 5 - Vetores da MI simulando o nadas d e q referenciadas ao pró- malmente escolhe-se um valor bási- movimento nos eixos Q e D. prio estator: co de torque para que o sistema de controle vetorial tenha por base em seu sistema de controle. Na prática, se ajusta o fluxo de modo que em re- gime permanente tenha-se eficiência máxima. A eficiência de torque será máxima sempre que id for igual à iq. Na real validação para se obter as correntes id e iq, com a posição UM POUCO DE MATEMÁTICA do ângulo do fluxo magnético. Para tanto, o processador do controle O conhecimento da posição do vetorial deverá calcular as coordena- ângulo do fluxo magnético entre o rotor das do fluxo rotórico. A escolha das Figura 6 - Posição dos vetores da MI, após coordenadas do fluxo rotórico ou e o estator é fundamental para a rotação do estator. implementação do controle vetorial. transformação e-jρ, é dado por: ρ MECATRÔNICA ATUAL Nº 8 - FEVEREIRO/2003 MECATRÔNICA ATUAL Nº 9 - ABRIL/2003 5 - DEZEMBRO/2002 35 35
  • 4. AUTOMAÇÃO Figura 7 - Diagrama de blocos do controle vetorial indireto do fluxo rotórico. processador já possui tabelas com- pletas de ρ, cos ρ e sin ρ, prontas para uso. A aplicação de proces- sadores digitais de sinais ou mi- E completando, a escolha das crocontroladores dedicado é impres- coordenadas do fluxo estatórico, ou cindível para aplicações práticas e transformação ejρ, será: ρ industriais nos inversores. CONCLUSÃO Nossa intenção foi municiar o lei- APLICANDO EM tor de informações mais “quentes” UM SISTEMA sem muito apelo matemático do fun- DE CONTROLE cionamento de um sistema de con- VETORIAL INDIRETO... trole vetorial. Em artigos futuros, se possível, abordaremos aspectos Apresentamos ao leitor que dese- mais práticos do uso de inversores ja uma implementação um sistema escalares e vetoriais. com Controle Indireto (figura 7). Nes- Uma vasta bibliografia pode ser te caso, o comando do torque será utilizada por aqueles interessados em função do sinal de erro de velocida- se aprofundar mais no assunto, prin- de, que é processado por um cipalmente os leitores que possuem controlador do tipo PI, impondo cer- algum domínio matemático e de pro- to atraso compensado pelo gramação, e conhecimentos em ele- Figura 6 - Algoritmo para implementação de processador (normalmente um DSP) controle vetorial indireto. trônica de potência. Uma boa dica é e evitando erros de ganho. Os valo- olhar os applications notes do DSP res de fluxo também podem ser im- da Texas Instruments (família afoitos (e que dominam o inglês), postos como função da velocidade TMS320). Em termos de literatura, sugerimos procurar: Eletric Motor nominal (fluxograma ao lado). há uma excelente tradução do livro Drivers – Modeling , analysis and Observa-se que os cálculos de- de Muhammad H. Rashid, cujo título control - do autor R. Krishnan e vem ser feitos em alta velocidade, é “Eletrônica de Potência”. O livro do Control of Eletric Drives, de W. gerando grande trabalho de Cyril Lander, segunda edição Leonhard. Por fim, para quem tem processamento e necessidade de traduzida em português, “Eletrônica acesso ao IEEE, é possível encon- grandes espaços de memória no Industrial”, também serve como ma- trar muitas informações abrangentes processador. Em muitos casos, o téria introdutória. Para os mais e completas. 36 MECATRÔNICA ATUAL Nº 9 - ABRIL/2003