(1) A certificação aumenta a renda dos cafeicultores em R$2.412 por hectare devido ao aumento da produtividade e manutenção dos custos de produção; (2) A certificação melhora a gestão, saúde, segurança e condições de trabalho dos funcionários, além de promover benefícios sociais e ambientais; (3) Pequenos produtores podem obter a certificação, que oferece acesso a novos mercados e preços premium.
1. Benefícios da certificação incidem no aumento da renda do cafeicultor
Por: Alessandra Morgado
Como qualquer outro negócio, o sucesso na cafeicultura depende de uma série de
fatores, sendo que alguns deles podem ser controlados e harmonizados com uma boa
gestão e a racionalização de procedimentos, uso de tecnologia de ponta e insumos
adequados, além da observância às normas legais. Ter a casa arrumada pode parecer
complicado inicialmente e/ou gerar gastos, mas ao longo do tempo vira rotina e facilita
manutenção e a visão equivocada de ‘gastos’ passa a ser encarada como investimentos
em melhorias de processos e capacitação de pessoal, gerando resultados positivos no
rendimento da propriedade.
Pelo uso de boas práticas agrícolas, ações sociais e ambientais e uma nova postura de
gestão porteira adentro, os princípios da certificaçãoRainforest Alliance
CertifiedTM resultam em ganhos para a propriedade, os gestores, trabalhadores, a
comunidade e o ambiente em geral. Se todos ganham, o maior beneficiado é mesmo o
consumidor tem a opção de um produto ambientalmente e socialmente corretos.
Muitos produtores brasileiros ainda desconhecem os benefícios da certificação que já
existe há uma década no país, mas o estudo Certificação Socioambiental é Vantagem
Econômica dentro da Fazenda esclarece de vez esse imbróglio.
Resultado da tese de doutorado de Dienice Bini, da Esalq/USP (Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo), o trabalho comprova que as
fazendas de café certificadas tiveram aumento renda de R$ 2.412 por hectare, após a
certificação, em relação às fazendas não certificadas, o que impactou positivamente a
receita bruta. A diferença vem do aumento na produtividade das fazendas certificadas
– 9,4 sacas/ha contra 2,5 saca/ha das não certificadas–, sendo que não houve
mudança no custo de produção e nem no preço do café certificado.
Tharic Galuchi, coordenador de certificação do Imaflora® (Instituto de Manejo e
Certificação Florestal e Agrícola), a primeira certificadora brasileira do
Rainforest Alliance Certified™, destaca que a norma avalia parâmetros de gestão,
sociais, ambientais e o uso de boas práticas agrícolas. Sendo que na gestão estão
incluídos procedimentos administrativos, registros, plano de atividade, rastreabilidade,
treinamentos, entre outros. “Isso é possível de ser feito por todo tipo de produtor. No
mundo, aproximadamente 80% dos produtores certificados são pequenos, com mão
de obra familiar”, diz Galuchi.
Com a certificação ocorre o aprimoramento da gestão com um olhar atento à
legislação trabalhista e foco na conscientização da equipe sobre higiene, saúde e meio
ambiente. Sob a orientação da norma NR-31 e a observância do uso de EPIs
(Equipamentos de Proteção Individual), administradores e trabalhadores têm
condições de trabalho e infraestrutura adequadas melhorando o rendimento da
equipe.
“Na área de saúde e segurança são verificados os cuidados com o uso adequado de
agroquímicos e a realização de exames médicos regulares, além de infraestrutura.
Tudo isso ajuda a reduzir riscos e desperdícios tanto na fertilização do solo quanto na
proteção da lavoura”, afirma Galuchi.
Fazer diferença
2. Além de segurança e saúde, deixar um legado, uma marca positiva, é um dos ganhos
impalpáveis da certificação, que olha a propriedade como parte de um organismo
maior. O negócio deve participar do desenvolvimento e da melhoria da vida da
comunidade em que está inserido, ou seja, ser bom vizinho, promover a qualificação
da mão de obra local, utilizar serviços e profissionais da vizinhança e apoiar a
educação. “As fazendas têm que ter um projeto social que deixe benefícios na
sociedade em que está localizada”, diz Galuchi.
No quesito gestão da certificação ainda são observados planos de atividades anuais,
expectativas, rastreabilidade, treinamento de pessoal, controles e procedimentos e os
registros. Ou seja, o negócio deve ter uma administração profissionalizada.
A conservação do ecossistema, sem desmate; a adequação ao Código Florestal, o uso
racional e não contaminação da água, proteção e recuperação solo e o tratamento de
resíduos são vistoriados periodicamente pela certificadora, assim como os outros
itens. Finalizando, a certificação também garante que o produtor utilize boas práticas
agrícolas, seja recuperando a fertilidade do solo e de matas, usando adequadamente
os agroquímicos e mantendo a biodiversidade.
Atualmente, no Sul de Minas existem 41 produtores certificados que somam
(10.765ha), sendo que no país são 179.113 hectares de café certificados RAS/
Rainforest Alliance. O setor tem grande potencial de crescimento e os diferenciais
podem influenciar no aumento das vendas e ajudar a conquistar nichos do mercado,
como o europeu.
Fazenda Sete Cachoeiras: foco na gestão
Na Fazenda Sete Cachoeiras Estate Coffee, certificada desde 2004, os 800ha produzem
em média 23 mil sacas de café. São 135 funcionários, entre trabalhadores rurais,
tratoristas, mecânico, eletricista, soldador, almoxarife e administrador. Na fazenda
moram 11 famílias, sendo que 22 de seus membros trabalham no local.
O proprietário Marcelo Renato Brito afirma que o grande benefício da certificação foi
manter a equipe focada nos vários aspectos da gestão, o que fortaleceu
procedimentos de rotina e controle em geral.
“A certificação contribuiu para uma gestão sistêmica da propriedade com
padronização, treinamento e controle das atividades, além de reflexos positivos na
organização, limpeza e redução de retrabalho e desperdícios”, afirma Brito.
Externamente, a Fazenda Sete Cachoeiras Estate Coffee ganhou visibilidade e
confiança do mercado e, em particular, dos clientes. Brito afirma que a certificação
oferece diferencial em relação às fazendas não certificadas, com a qualificação do
negócio para uma concorrência saudável em seu nicho de mercado, que exige cada vez
mais práticas sustentáveis de produção. “Eu não só indico como recomendo aos
produtores que busquem a certificação”, resume o produtor.
Pelas mãos da diretora administrativa Carmem Lúcia Chaves de Brito as Fazendas
Caxambu e Aracaçu conquistaram a certificação Rainforest Alliance Certified há um
ano. A propriedade tem 42 funcionários e pertence a cinco irmãos, que são a terceira
geração da família ligada à terra e ao café.
Para a administradora, a certificação é um compromisso assumido com seus clientes e
uma postura ética, social e ambientalmente correta diante do mercado. “A gente que
3. nasceu debaixo de pé de café tem muito amor à natureza e à terra, por isso a
certificação demonstra nossa filosofia de negócio: ser responsável pelo que se
produz.”
Essas fazendas mineiras tinham um contexto diferenciado com 210ha de café numa
área de 368 hectares cheia de nascentes. Do total da área, 50 hectares são de APPs
(áreas de proteção permanente) numa região entre 960 e 1200m de altitude. O
desafio era atender à norma e não deixar o negócio inviável do ponto de vista
econômico, mas Carmem e os irmãos tinham como meta o selo e seguiram em frente.
“Foi um processo que começou na mente e no coração nosso e de nossos funcionários,
somente depois na propriedade. Eu sempre tive para mim que, apesar das outras
certificações, faltava Rainforest, que conseguimos há um ano”, explica ela.
Num cenário em que qualidade, responsabilidade e confiança são essenciais, a
certificação é caminho sem volta em que os vários participantes da cadeia cafeicultora,
que termina na xícara do consumidor, contribuem com seu quinhão para que a única
coisa amarga e sempre da melhor qualidade seja a bebida, mas que os resultados de
sua produção, industrialização, venda e consumo sejam sempre doces para todos.
Box
Sebrae é parceiro de quem quiser se certificar
A caminhada para a certificação na Região do Cerrado Mineiro – região representa
12,7% da produção nacional e 25,4% da mineira- conta com instituições como o
Sebrae-MG, que dá apoio financeiro e técnico para grupos de produtores interessados
no selo.
Por meio da metodologia Educampo, modelo de assistência gerencial e tecnológica
intensiva, os produtores trocam experiências, discutem a atividade, entendem as
deficiências e potencialidades da produção de café e acesso a novas tecnologias.
A analista de negócios do Sebrae-MG, Naiara Rodrigues Marra destaca que
essas ações levaram a primeira certificação agrícola dos grupos de cafeicultores da
região em 2009, em parceria com a Expocaccer (Cooperativa de Cafeicultores do
Cerrado).
“A certificação, apesar dos custos associados, permite que pequenos produtores
participem do mercado de cafés diferenciados. O consumidor está cada vez mais
exigente e quer qualidade, origem e, principalmente, saber se o cultivo respeitou as
boas práticas agrícolas. Contudo, ele não consegue distinguir, mesmo após saborear a
bebida, se ela possui os atributos desejados. A certificação atesta os atributos contidos
no selo impresso na embalagem”, destaca a técnica.
Somente no ano passado cinco grupos de produtores da região foram certificados,
com apoio das associações e cooperativas em Monte Carmelo, Araxá, Carmo do
Paranaíba e Patrocínio.
O potencial da região é muito grande porque os 55 municípios reúnem 3.500
cafeicultores em 4.500 propriedades, que estão distribuídas em 200 mil hectares de
café. A produção da safra 15/16 foi de 7 milhões de sacas, o que torna a região
referência mundial do café de alta qualidade, também denominada Região Demarcada
como Denominação de Origem.