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Herbert Marcuse faz uma análise do novo homem que surge no mundo pós-moderno como
produto de todas as tendências que regeram sua desumanização. Em seu livro “Der
eindimensionale Mensch”, o homem unidimensional, Marcuse nos mostra como o homem
acabou por abstrair-se de sua capacidade analítica para tornar-se um ser essencialmente
técnico e prático – um executor de tarefas. Mas como a humanidade chegou a esse ponto?
Na verdade, o poder tecnocrata começou a recrutar indivíduos que desenvolvessem o
conhecimento prático ao máximo, acabando por excluir aqueles de mente mais analítica. Esse
conceito do ser prático - já que o analítico não satisfazia a visão produtiva de uma sociedade
que se tornava cada vez mais imediatista – rebaixou o homem à noção de produto e não de
processo.
Mas vejamos como essa tendência influenciou o trabalho e a educação humana: hoje em dia
as pessoas querem atingir o ponto máximo, que beira ao sobre-humano, de performance em
todos os campos de atuação, inclusive o sexual, o qual delegou sua afetividade a um plano
secundário – e o desenvolvimento da pornografia é apanágio dessa realidade. Na Educação, os
estudantes não querem desenvolver suas habilidades reflexivas e de raciocino, pois tais
implicam uma abordagem processual, e não de produto como se requer nos dias de hoje.
Segundo Marcuse, esse aprofundamento empurrou a sociedade dentro de um abismo
existencial.
Vejamos por quê: qualquer tendência que consiga modificar o pensamento humano
modificará também seu caráter e conduta. A exacerbação do imediatismo e noção de produto
tornou a mente humana tão prática que questões envolvendo a própria VIDA HUMANA a
tornaram descartável. O ponto neufrágico de toda relação humana ainda é, e sempre será,
ANALÍTICO.
O conceito de análise infere algo que está em transformação, enquanto que o de produto
infere uma definição. Ora, como podemos definir o homem? Maurice Clavel (filósofo francês)
em seu livro “Qui est aliéne” defini o homem com um ser transitório, porque ele muda tanto
em seu aspecto físico como mental. O perigo, voltando para Marcuse, de ver o homem como
produto é de rejeitar qualquer forma de mudança que extrapole o STATUS QUO que lhe dá
conforto e ILUSÃO DE AUTONOMIA.
A consequência será a elevação dos INSTINTOS E VÍCIOS HUMANOS à posição DEMIURGA
(quase divina) em detrimento de sua RACIONALIDADE E CAPACIDADE ANÁLITICA.

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  • 1. Herbert Marcuse faz uma análise do novo homem que surge no mundo pós-moderno como produto de todas as tendências que regeram sua desumanização. Em seu livro “Der eindimensionale Mensch”, o homem unidimensional, Marcuse nos mostra como o homem acabou por abstrair-se de sua capacidade analítica para tornar-se um ser essencialmente técnico e prático – um executor de tarefas. Mas como a humanidade chegou a esse ponto? Na verdade, o poder tecnocrata começou a recrutar indivíduos que desenvolvessem o conhecimento prático ao máximo, acabando por excluir aqueles de mente mais analítica. Esse conceito do ser prático - já que o analítico não satisfazia a visão produtiva de uma sociedade que se tornava cada vez mais imediatista – rebaixou o homem à noção de produto e não de processo. Mas vejamos como essa tendência influenciou o trabalho e a educação humana: hoje em dia as pessoas querem atingir o ponto máximo, que beira ao sobre-humano, de performance em todos os campos de atuação, inclusive o sexual, o qual delegou sua afetividade a um plano secundário – e o desenvolvimento da pornografia é apanágio dessa realidade. Na Educação, os estudantes não querem desenvolver suas habilidades reflexivas e de raciocino, pois tais implicam uma abordagem processual, e não de produto como se requer nos dias de hoje. Segundo Marcuse, esse aprofundamento empurrou a sociedade dentro de um abismo existencial. Vejamos por quê: qualquer tendência que consiga modificar o pensamento humano modificará também seu caráter e conduta. A exacerbação do imediatismo e noção de produto tornou a mente humana tão prática que questões envolvendo a própria VIDA HUMANA a tornaram descartável. O ponto neufrágico de toda relação humana ainda é, e sempre será, ANALÍTICO. O conceito de análise infere algo que está em transformação, enquanto que o de produto infere uma definição. Ora, como podemos definir o homem? Maurice Clavel (filósofo francês) em seu livro “Qui est aliéne” defini o homem com um ser transitório, porque ele muda tanto em seu aspecto físico como mental. O perigo, voltando para Marcuse, de ver o homem como produto é de rejeitar qualquer forma de mudança que extrapole o STATUS QUO que lhe dá conforto e ILUSÃO DE AUTONOMIA. A consequência será a elevação dos INSTINTOS E VÍCIOS HUMANOS à posição DEMIURGA (quase divina) em detrimento de sua RACIONALIDADE E CAPACIDADE ANÁLITICA.