2. Comemorações do Centenário de
Álvaro Cunhal
Álvaro Barreirinhas Cunhal nasceu em Coimbra,
na freguesia da Sé Nova, no dia 10 de Novembro
de 1913. Era o segundo filho do advogado Avelino
Henriques da Costa Cunhal e de Mercedes
Barreirinhas Cunhal.
O pai, liberal e republicano, era advogado de
província; nas horas livres, pintava e escrevia,
tendo mesmo publicado livros sob o pseudónimo
de Jorge Serôdio. Álvaro manteria viva esta
tradição cultural
4. Comemorações do Centenário de
Álvaro Cunhal
O pequeno Álvaro é baptizado em Seia, terra natural do pai, para onde
a família entretanto se mudara. Tem por madrinha de batismo Nossa
Senhora da Assunção e por padrinho, o irmão mais velho, António,
que haveria de morrer novo, tal como uma das duas irmãs. A outra,
Maria Eugénia, dez anos mais nova do que Cunhal, terá sido sempre a
mais próxima de Álvaro. É dela a única morada oficial que, durante
muitos anos, se conheceu ao líder comunista. O número 17 da lisboeta
Rua Sousa Martins ficava quase colado à antiga esquadra do
Matadouro, nas Picoas, de onde se vigiava permanentemente a casa
da família Cunhal.
6. Comemorações do Centenário de
Álvaro Cunhal
Com a mãe, católica fervorosa, a relação era
conflituosa em casa. Para provocar a mãe , o
jovem Álvaro chegava a andar de fato-macaco e,
um dia convenceu um amigo barbeiro a ensinarlhe a cortar o cabelo, porque queria ter "uma
profissão operária".
8. Comemorações do Centenário de
Álvaro Cunhal
[...] Ela (Eugénia Cunhal) salienta o seu
temperamento carinhoso e atencioso. Lembra o
cuidado que tinha com ela, ainda criança,
quando estava na prisão, como lhe enviava
histórias que ele próprio inventava e ilustrava
com desenhos. [...]
10. Comemorações do Centenário de
Álvaro Cunhal
[...] Secretário-geral do PCP durante mais de
meio século, nele militou desde os 17 anos,
quando entrou para a Faculdade de Direito de
Lisboa. Esteve preso várias vezes na
Penitenciária de Lisboa, no Aljube e no Forte
de Peniche, foi torturado e brutalmente
espancado pela PIDE, sujeito a muitos de
isolamento e incomunicabilidade [...]
12. Comemorações do Centenário de
Álvaro Cunhal
«Da fralda de uma camisa velha fêz um dia um
colarinho que substituiu outro demasiado
esgarçado. Talhou, remendou, cerziu o ‘novo’
colarinho na camisa já gasta. (...) Álvaro
Cunhal estava preso e não gostava (...) que lhe
levassem roupas novas, apenas as já usadas
do pai ou do cunhado (...) Adaptava-se sempre
a todas as circunstâncias, o necessário era ir
em frente. Tinha uma visão positiva da vida –
diz a sua irmã Maria Eugénia.»
13. Comemorações do Centenário de
Álvaro Cunhal
[...] O desenho era outro seu dom. [...]
Na prisão Álvaro Cunhal desenhou, sempre a
lápis, quando autorizaram que lhe levassem
folhas, que eram todas numeradas e assinaladas
pelo chefe dos guardas com o seu próprio nome.
Daí que muitos dos seus desenhos estivessem
assinados por ‘Lino’. [...]
Em todo o caso foram uma forma de intervenção,
de resistência, mas também de sobrevivência. [...]
18. Comemorações do Centenário de
Álvaro Cunhal
Amigo de Urbano Tavares Rodrigues, Álvaro
Cunhal foi leitor atento de Alves Redol, Soeiro
Pereira Gomes e Carlos de Oliveira.
[...] Não se quedou, porém, pelo gosto e pela
discussão das artes. Álvaro Cunhal desenhava e
escrevia ficção. Com o pseudónimo de Manuel
Tiago publicou em 1974 ‘Até amanhã, camaradas’
e ‘Cinco noites, cinco dias’ em 1975. [...]
A autoria destas obras permaneceu um segredo
bem guardado durante décadas.
19. Comemorações do Centenário de
Álvaro Cunhal
Cinco Dias, Cinco Noites é uma
novela que nos conta a história
de uma passagem de fronteira a
salto
durante
o
fascismo
salazarista. Escrita por Manuel
Tiago (Álvaro Cunhal), adaptada
com exemplar qualidade ao
cinema por José Fonseca e Costa,
este pequeno elogio da coragem,
no dizer do seu prefaciador,
Manuel Gusmão, viria a ser
classificado por Sophia Mello
Breyner Andresen como "um dos
melhores textos portugueses
narrativos deste século..."
21. Comemorações do Centenário de
Álvaro Cunhal
«O seu legado está à vista: alguma
literatura, muita arte, luta, resistência,
política, ética e estética. Um século
de convicções.»
- Maria Leonor Nunes
In Jornal das Letras, Artes e Ideias
22. Endereços eletrónicos e bibliografia
http://www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=15101
Jornal de Letras, Artes e Ideias – nº 1120 (4 a 17 de setembro), p. 7 – 15.