(1) O autor conversou com um amigo sobre seus relacionamentos e constataram que ambos sentem um "vazio sentimental" à espera de um grande amor para preenchê-lo. (2) Eles refletiram que essa espera por um amor idealizado está muito presente em sua geração, que se sente ansiosa para ser algo e precisa ter um relacionamento de sucesso para se sentir realizada. (3) No fim, o autor conclui que o verdadeiro "buraco" a ser preenchido é o amor-próprio, não

1. Divulgação
convidado
Colunista
Tatá Lopes*
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O vazio do mundo
Há um tempo atrás, era a carta que não gulhamos disso. Porque pensamos que para o
chegava. amor não há cura, porque não há doença.
Dia desses, a gente esperava o telefone tocar. Mas ainda assim, adultos que somos, idea-
E hoje em dia, a gente quase se mata na frente lizamos. Não é que eu espere pelo homem
do computador, esperando o objeto de desejo perfeito ou ele pela mulherzinha do lado. Nada
entrar no Facebook e trocar duas palavras que disso. Mas em cada um de nós existe um vazio,
sejam com a gente no chat. um grande buraco negro que fica à espera de A espera do
A eterna luta contra a espera. Ou pior, contra um amor ideal para preenchê-lo. Ou ainda nos
a doença da expectativa.
Dia desses, estava conversando com um
enchemos de Rivotril para não sentir esse vazio
porque é mais fácil, cômodo. É da minha
grande amor, me
grande amigo, e o papo enveredou para os
nossos relacionamentos (ou a ausência pelo
menos temporária deles), quando constatamos
a existência dos nossos grandes buracos sen-
timentais. Mais de duas horas de muitas teorias
(bate-papo) regadas a café e floral (ele com o
café, e eu com o floral), apenas debatendo
sobre nossas impossibilidades afetivas. Não só
nossas, minha e dele, mas as do mundo em
geral.
Ele dez anos mais velho que eu, com al-
gumas muitas namoradas. Eu 34 anos, um
casamento e meio, e muitas, muitas, muitas
paixões no currículo. Inclusive ele foi uma
delas (caso não soubesse, pronto, está aqui
dito). Nessa nossa diferença de idade somos
geração. A geração “panicada”, ansiosa para
ser algo. Porque nos é cobrado sermos algo.
Temos que ser, existir, e para isso não basta ter
sucesso profissional, e um carro na garagem.
Há que se ter um grande amor.
E nossa ficha foi caindo quanto a isso.
Nossos vazios precisam ser preenchidos por
nós, é claro. O.k., papinho de autoajuda e
terapia que todo mundo já sabe, vocês devem
estar pensando. Mas a espera do grande
amor, me desculpem os sabidinhos de plan-
tão, os que nunca amaram, os que nunca
esperaram um telefonema, os que nunca idea-
lizaram, está muito mais presente do que se
imagina. O nosso ideal de amor não tem a ver
com perfeição. O amor, esse que me faz me
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desculpem os
sabidinhos de
plantão, os que
nunca amaram,
está muito mais
presente do que
se imagina
33• REVISTA O GLOBO • 8 DE ABRIL DE 2012
parecidos em muitas coisas: temos o sonho da entupir de floral, esse que a gente imagina, é
casa própria, de um país igualitário e de um apenas um tapa-buraco.
cangote onde encostar nas noites de sábado. O buraco do amor-próprio é o grande
Sim, somos românticos incuráveis. E nos or- buraco do mundo.
O
*TatáLopeséatrizeacabadelançarolivro“Crônicasdeumblogabandonado”(editoraGiostri)