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CARTILHA DE CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA UMBANDISTA




    “Trate bem a Terra, ela não lhe foi dada pelos seus pais, Ela lhe foi emprestada pelos seus filhos.”
                                                    (Provérbio Ameríndio)




  “Trabalhamos pelo crescimento da consciência evolutiva, expressa através das mensagens de
                    nossas Entidades, sejam Caboclos ou Pretos-Velhos.”
   (Caboclo das Sete Encruzilhadas através do médium Zélio Fernandino de Moraes – Revista Espiritual de Umbanda, 20ª edição)




''O homem há de perceber sua essência e deixará de sentir-se individualista ou de criar rivalidades
  separando as pessoas através de classificações. Essa percepção acontecerá, tão logo, o homem
perceba o quanto ele está vendado pela ignobilidade do SER que compreende “civilizado". Passará
     ouvir com atenção a todos, e perceberá o quanto um sentido completa o outro, não mais
                                renegando sua própria espécie.''
                                                      (Yakuy Tupinambá)
“Os dramas humanos e as catástrofes ecológicas têm a mesma causa: o homem afastou-se do coração da natureza,
     que é também o seu coração. Esquecendo a vida sensível do mundo, ele acabou por esquecer a si mesmo. Os
Cheyennes das planícies sabiam que a perda do devido respeito a todas as formas vivas, humanas, animais e vegetais,
   conduziriam igualmente à perda do respeito devido ao próprio homem. Não tenhamos medo dos contrários, das
   oposições que dividem o mundo e criam a ilusão de acontecimentos separados. Esta visão é fonte de conflito, de
sofrimento e de luta perpétua. A noite não é inimiga do dia, assim como a morte não é inimiga da vida. É preciso haver
      o encontro do fogo e da água, do sol e da umidade para criar um arco-íris. Entendermos isto, fará com que
encontremos o equilíbrio em nós. Entendermos isto, fará com que haja harmonia com a Terra Mãe. Entendermos isto,
  fará com que entremos em linha de aproximação com o universo. Entendermos isto, fará com que um dia de fato,
                                                   sejamos irmãos.”
                                                    (Nuno Coelho)




         Em razão e homenagem a festa comemorativa dos 100 anos de anunciação e surgimento da genuína e
brasileira religião de Umbanda, em 15 de novembro de 1908 – RJ, juntamente com o dia 20 de janeiro, onde se
comemora anualmente a festa de Oxóssi/Caboclos, em nosso calendário umbandista e o feriado da Cidade de
São Sebastião do Rio de Janeiro, não obstante, ao dia 21 de janeiro que já fora estabelecido oficialmente como
“O Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa”, através da Lei nº 11.635, de 27/12/2007, viemos apresentar
este trabalho, inspirados por princípios que cremos ser urgente.

        Esta Cartilha é uma singela homenagem aos “Povos Originários de Nosso Brasil” [Pindorama], os nativos
indígenas, primeira raça formadora de nossa brasilidade, bem como, a todas as Etnias e Nações Indígenas das
Américas, que do Astral para o físico, estabeleceram as bases para o surgimento desta sagrada religião de
síntese universal, e que até hoje nos mantém sob sua supervisão.

        Cremos que por meio desta estaremos contribuindo com o Movimento Umbandista a tratar de um tema
tão atual, complexo e essencialmente necessário a todo ser vivente no mundo, sobretudo, aos irmãos de fé que
reverenciam as sagradas forças vivas e vibratórias da natureza e seus representantes oficiais, os nossos queridos
Orixás.

        Este trabalho não contém em si nenhuma pretensão de esgotar o tema diante os problemas nele
contidos ou trazer soluções imediatas, do ponto de vista coletivo, mas sim nos levar a uma reflexão profunda
quanto a nossa participação e responsabilidade individual, enquanto cidadãos brasileiros e umbandistas que
somos. Nossa experiência prática nos leva a conclusão que certos setores ainda necessitam de maiores
esclarecimentos, visando fortalecer uma cultura pedagogicamente voltada para questões que envolvam nossa
qualidade de vida e Meio-Ambiente como um todo, afim com os sublimes princípios e ensinamentos de
Umbanda, pois nossa religião preserva a vida e sua continuidade, bem como, a manifestação do Plano Divino em
todas as instâncias dos reinos naturais, que para nós é sagrada e deve ser preservada.


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Não pretendemos satisfazer todas as necessidades, preferências e opiniões, claro, pois a unanimidade é
utópica, mas sim comungarmos de uma “unidade na diversidade”, pela extensa complexidade do assunto.
Entendemos ser esta uma iniciativa básica, didática e positiva para nossas vidas, Religião e Ecossistema. Visamos
com isso estimular os estudos e o interesse do cidadão brasileiro, mas, sobretudo, aos irmãos da Sagrada
Religião de Umbanda, sendo esta originalmente constituída pelas culturas índio-afro-européia com influências
de filosofias orientalistas, que tanto nos enriquece o espírito e saber humano.

        Esta Cartilha visa nortear princípios básicos para uma visão mais adequada e politicamente correta do
ponto de vista ecológico, humano e social. Inspirada pelo “modo nativo de ser”, a cultura indígena, ancestrais
originários de nosso país pré-Cabral e Colombo que, em regra, nos serviram, e ainda nos servem, com exemplos
éticos de uma filosofia-prática intimamente afinada e harmonizada com princípios ecológicos, tão necessários
em nosso sistema. Se olharmos para a natureza e seus recursos como eixo central norteador de nossas vidas,
aprenderemos lições várias de espiritualização, interdependência, sustentabilidade, respeito, amor,
humanização, valorização da vida, etc.

        A natureza é, sem sombra de dúvidas, um espetáculo que deve ser contemplado com o coração sempre
em prece e agradecimento, com referência aos nossos nobres e honrados ancestrais indígenas, Guias e Orixás
em nossa sagrada e querida Umbanda. É nesse momento que Deus (Deus, Ñhanderú Eté, Tupã, Zambi, Olorum,
etc.) nos mostra o poder de Sua Criação, mais que uma esplendorosa Obra de Arquitetura Cósmica, sobretudo,
uma Criação repleta de Encanto, Mistério, Abundância, Beleza e Magia.

        O grande filósofo Immanuel Kant resumiu bem num simples pensamento refletido em sua frase: “Duas
coisas enchem minha alma de admiração e respeito: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim”.
Podemos identificar em sua fala uma profunda consciência que contempla e honra o Divino manifestado em
toda natureza, dentro e fora. Herdamos um rico paraíso de sons, formas, seres, alimentos e água potável, que
infelizmente sofre com a insalubridade e escassez no mundo, pois apenas 3% da água existente no planeta é
doce e própria ao consumo humano, sendo que 2/3 (dois terços) desse total estão presentes nas geleiras e
calotas polares, sobrando somente 1% (um por cento) para ser consumido em todo mundo. Somando-se a isso,
vazamentos de água de tubulações, por exemplo, seriam capazes de abastecer grande parte de toda Europa.
Pergunta-se: o que nós fazemos diante de tudo isso para minimizarmos os problemas e suas conseqüências?
Meditemos! Muitos ainda não sabem, mas os óleos de cozinha utilizados em frituras, também são motivos de
grande impacto no meio ambiente e que geralmente o jogamos em água corrente poluindo-a drasticamente,
pois 100ml de óleo de fritura contaminam cerca de 1 milhão de litros de água.

        Vivemos em uma cultura e sistema que ainda negligenciam a poluição dos rios, cachoeiras, matas e
mares, sob a regência de um modelo de pensamento econômico de extrativismo selvagem, que não mediu as
conseqüências de suas próprias ações. Cortam-se árvores aos milhares, sem nenhuma consciência de
preservação e cuidado. Tudo que fora dado por amor às criaturas humanas que aqui estagiam, foi para que todos
pudessem viver de forma saudável e abundante e não somente uma minoria desfrutar desses benefícios, em
detrimento da esmagadora maioria. Desenvolvimento Sustentável também é matéria extremamente atual, pois
recentemente o ser humano passou a observar que o nosso Planeta vem adoecendo pelos maus-tratos em sua
ação predatória, acreditando que as riquezas naturais nunca se esgotariam, pois agora o Homem está sentindo
recair sobre si a “revolta” desta, ou seja, são os efeitos devastadores da ação natural que cada vez mais crescem,
devido ao desequilíbrio causado pela ação demasiadamente compulsiva, obstinada e abusiva do ser humano,
pela geração e acúmulo descomedido de riquezas, para saciar interesses pessoais e fomentar uma política-
econômica desenfreada.




                                                        3
“A Sabedoria dos homens sempre se coloca entre os meandros da sua crueldade e de sua ignorância. Será que
                 podemos desanimar-nos, sabendo que existe dentro deles, uma centelha de Luz?”
                                          (Citação dos índios da Tribo Cree)

        A palavra Ecologia entra no cenário planetário com grande força e maior visibilidade no Mundo
Contemporâneo em meio ao Terceiro Milênio, mas ainda distante de tornar–se sinônimo de “consciência ética”
dentre as nobres e pequeninas criaturas humanas. Os rios, atmosfera, cachoeiras, matas e mares estão sendo
cada vez mais transformado em canais de devastação, poluição e dejetos de todos os tipos; animais torturados e
extintos inescrupulosamente; lixo atômico; toneladas de gases tóxicos despejados no ar; morte prematura
gerada pela fome de indefesas criaturas provenientes do descaso e crueldade do seu próprio semelhante, etc.
Contamos também com as ações de alguns umbandistas, ainda desavisados e pouco esclarecidos da real e
gritante necessidade de uma consciência mais ecológica, pois precisamos rever alguns conceitos sobre
determinados materiais em oferenda-mágico-ritualística que alguns ainda persistem em utilizá-los e acabam
inconscientemente prejudicando a limpeza e harmonia do habitat natural, verdadeiros sítios sagrados, onde se
honram os seres e as energias da natureza, os elementais, os Ancestrais e/ou Orixás. Estes locais também
possuem registros de antigos rituais sagrados e sambaquis (cemitérios indígenas), pois estima-se bem mais de
10.000 (dez mil) anos a presença indígena em nosso Continente, cujo valor atribuído ao natural era de admirável
sabedoria e beleza.

          Hoje em dia poucos são os que chamam sua consciência à reflexão dos possíveis danos causados a
natureza, por determinados materiais deixados à revelia nas matas, cachoeiras, praias, etc. Muitos alguidares,
garrafas, copos de vidro e plástico, velas de parafina acesas em meio a locais que possam correr riscos de
incêndio, panos de murim, estátuas, materiais de louça, punhais, etc. que resistem ao tempo e permanecem lá
após o término do período necessário da atuação magística conduzida pelo presente instrumento. Não só geram
lixo físico e bacteriológico para natureza – como já não bastasse o lixo energético que a humanidade já produz –
mas põe em risco a integridade física de qualquer pessoa que possa vir a se machucar com os objetos ali
deixados, como por exemplo, uma taça de vidro, um punhal enferrujado, tornado-se ainda mais grave, quando
deixados em locais de difícil acesso para coleta de lixo urbano. É possível sim e muito mais correto, do ponto de
vista magístico e ecológico de nossa Umbanda, trabalharmos com as folhas, flores, frutos e alimentos naturais
de fácil decomposição e reciclagem natural (biodegradáveis), que não gerem nenhum dano a natureza, servindo
até, em última análise, de adubo para terra. Tudo isso só nos mostra o quanto ainda precisamos avançar e
despertar nossa consciência para a preservação de nosso Ecossistema, não obstante, de nossas próprias vidas e
espécie semelhante.

        O Planeta sofre as conseqüências da insana “arte predatória” humana. Nossa Terra-Mãe foi e é sempre
saqueada, poluída, agredida, explorada de todas as formas. Há centenas de anos “Ela chora” sob o domínio do
Homem e da cultura dominante que não consegue identificar aí sua própria origem e necessidade real para sua
existência. É o término da vida e o início da sobrevivência, como bem assinalou o Chefe indígena Seattle no séc.
XVIII, em sua carta ao presidente norte-americano.




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“Cada ser vivo e cada forma de vida representam mestres e amigos em potencial. Ao observarmos a natureza,
                         aprendemos as novas lições que ela está tentando nos transmitir.”
                                     (Jamie Sams - As Cartas do Caminho Sagrado)


        Os resultados dessa constante agressão, há tempos vem sendo apontada de forma preocupante por
muitos indígenas, cientistas, biólogos, ambientalistas, religiosos, naturalistas, etc. A reincidência predatória
humana tem intensificado o surgimento e ação dos Maremotos, Terremotos, Tornados, Tsunamis, surtos de
doenças desconhecidas ou raras, viroses, a escassez pela extinção de várias vidas animais e vegetais, a destruição
da camada de ozônio, o já tão conhecido Aquecimento Global, o derretimento das calotas polares e muito mais.
Temos ainda os problemas relativos à nossa Amazônia, a política e cultura indígenas, os problemas das minorias
que é maioria nesse país, tais como a fome, a pobreza, a desigualdade social, a miséria, o preconceito religioso,
étnico-racial, cultural e também os relativos à orientação sexual de cada indivíduo. Problemas que ainda se
arrastam e fazem parte desse cenário, que em plena Era de Aquário, neste Novo Milênio, precisam sofrer
profunda transformação para a resolução definitiva dos mesmos, mas sabemos que essa transformação é uma
reforma que precisa começar em nós e por nós, não obstante, aos dirigentes políticos e econômicos em nosso
país e no mundo, não obstante, aos dirigentes de instituições umbandistas (Federações, Templos, Tendas, etc.).

        Os resultados de nossa negligência, imprudência e imperícia fatalmente acabam se voltando contra nós
mesmos. Os fenômenos naturais nem sempre fazem do algoz sua própria vítima, mas cremos que a Justiça
Divina assim procederá. Ainda resistimos cegamente aos sinais que nos alertam, indicando que algo está
profundamente equivocado na forma de como nos relacionamos com todas as formas de vida existentes no
planeta. Então nos perguntamos: Como restaurar esse desequilíbrio? Como mudar esse quadro? Como
mudarmos esse modelo e padrão de pensamento instituído, gerador de tantos problemas? A resposta está na
própria conscientização e educação humana. É preciso uma profunda reflexão capaz de expandir nossa
percepção e mudar nossas ações a cerca destas questões, pois a natureza e a existência humana, dessa e das
próximas gerações, estão em jogo. É preciso que tenhamos uma vida naturalmente mais saudável, pois a busca
do ter pelo ser ganhou espaço maior que deveria no cenário mundial.

        A arte de nos auto-educar, pode ser a chave para que as futuras gerações tenham uma visão diferenciada
sobre a responsabilidade e o papel do ser humano a ser exercido na vida, em prol da sobrevivência do Planeta e
suas espécies interdependentes no ecossistema, da qual todos nós fazemos parte. Desta forma, possivelmente
garantiremos a sobrevivência e continuidade da vida em todas as esferas, inclusive a humana, dentro de um
planejamento mais harmônico, integrativo, natural e adequadamente mais espiritualizado.

         As sementes do amanhã, nossas crianças, dependerão direta e exclusivamente do nosso pensar e ações
no hoje, pois as mudanças há muito se fazem urgentes necessárias. É um sistema, autocondicionamentos e
estilos de vidas a serem modificados, é uma transformação profunda de paradigmas individuais, sociais, políticos
e econômicos que precisam iniciar no indivíduo e contagiar o coletivo, a sociedade. É nosso dever oferecer uma
consciência humana e espiritualmente mais digna, sobre a temática que envolve a preservação da vida e do
meio-ambiente. A sua desarmonia é o nosso próprio desequilíbrio, pois o nosso Planeta é a nossa morada maior.
As mudanças sinalizadas é a reforma íntima que já começa dentro de cada um, dentro dos nossos corações, em
nossas almas, na consciência espiritual de cada ser existente no Mundo.




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O Grande Espírito porém, nos deu a todos a possibilidade de estudar a Universidade da Natureza, das Florestas, dos
                       Rios, das Montanhas e dos animais, dos quais, todos fazemos parte.
                                             (Tatanga Mani, Índio Stoney)

         A estrutura bioquímica de nossos corpos físicos contém preciosos metais contidos na Natureza, por
analogia, nossos corpos físicos possuem em média, o mesmo percentual de água existente no mundo. A
Amazônia é o nosso pulmão, filtra o ar, armazena oxigênio e nos dá impulso vital. Somos um verdadeiro oceano
líquido. Rios percorrem em nossas veias e artérias. Quando ocorre a incineração do mesmo, reduzimo-lo a uma
pequenina quantidade de pó, por causa da evaporação líquida destes. Somos fogo, terra, água, ar e éter, pois
assim como o sol ilumina a Terra, nossa consciência espiritual nos anima, dá vida e luz a matéria orgânica de
nossos corpos físicos sob a égide do Grande Espírito Criador de todas as criaturas, pois o “lado de dentro”
(Esotérico) e o “lado de fora” (Exotérico) são faces de uma mesma moeda. A magia fenomênica da própria
natureza está presente em nossos corpos, que é a base que sustenta e alimenta a vida. Somos filhos da Mãe-
Terra, que por amor nos doa parte do seu corpo para as pequeninas criaturas viventes e a estes maltratamos.
Este dano é sentido por nós em nosso próprio sistema bio-psico-emocional, desintegra partes do ser e afeta
nosso campo espiritual. Nosso corpo também é o Dela, no momento de nosso desencarne, é para terra que
nossos corpos voltarão, para decomposição e alimentação de outras formas de vida, pois nada se perde, tudo se
transforma.

        Nós humanos dependemos diretamente da existência da natureza e não o contrário, pois a continuidade
e preservação da vida planetária seriam garantidas muito bem, com exceção dos fenômenos naturais, se aqui
não tivéssemos. Com tudo isso, fica claro entendermos que somos o reflexo da própria Criação e da Natureza
Divina. Respeitemos Sua Criação, que levara bilhares de anos para se desenvolver, para poder nos dar o alimento
e o sustento necessários de cada dia e para as futuras gerações, e estes, em tão poucos anos, a largos passos,
estão sendo destruídos. Somos filhos criados do mesmo Pai Céu, nosso espírito-consciência tem sua origem nas
Estrelas-Solares, nossa alma ainda inconsciente hiberna sob o olhar atento da Senhora Lua e nossos corpos,
provenientes do grande ventre materno, são constantemente alimentados e embalados pela nossa Terra-Mãe,
mas ainda assim, insistimos em cometer os mesmos danos, o homicídio materno e o genocídio de bilhares de
criaturas. Somos, portanto, o princípio da unidade indivisível, uma fração, uma parte do Todo e que está em
tudo. Concluímos que Deus-Homem-Natureza não caminham separadamente, pois não podem ser dissociados.

        Tudo faz parte de uma mesma teia-cósmica, uma mesma trama, pois os antigos nativos já afirmavam e a
ciência hoje começa a reconhecer esses fenômenos naturais, pois estamos retomando o curso natural em busca
da unidade, portanto, o mal que fizermos a um dos fios da teia, refletirá em toda teia. Ainda estamos
adormecidos no útero-sagrado de nossa Mãe, como crianças que ainda fantasiam e iludem a realidade.
Pensamos que já somos espiritualmente adultos, maduros, conscientes, autônomos, plenos de si e do que nos
cerca. Cremos que caminhamos em “terra firme”, com nossas próprias pernas, mas a grande maioria ainda
caminha a pequenos passos para esse re-despertar, para a nossa essência real, natural e verdadeira, pois muitos
ainda maltratam sua própria fonte originária, “andam de costas para luz”. É preciso urgentemente despertarmos
para a verdadeira semente que ainda adormece no mais íntimo e profundo do nosso ser. Não nos acomodemos
nesta ociosidade perniciosa de nossos devaneios, ilusões e na insanidade de nossos inflados egos vaidosos que
nos conduzem à cegueira, tornando-nos vítimas, juízes e réus de nós mesmos e de nosso semelhante, gerando
com isso obstáculos internos que nos impedem de viver a verdadeira vida, crescimento, liberdade, felicidade e
amor.


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“Ainda que estejamos em diferentes barcos, você no seu veleiro e nós na nossa canoa, dividimos o mesmo rio da vida.”
                                       (Chefe Oren Lyons, Nação Indígena Onandaga)

        É preciso conscientizar que ausentar-se da responsabilidade que cabe a cada um de cuidar e zelar pela
Natureza é decretar um futuro cruel para os nossos sucessores diretos e futuras gerações. O Homem só
conseguirá entender o profundo sentido da vida e existência quando entenderes a linguagem oculta contida em
cada ser vivo, aí sim ele honrará até a menor espécie vivente no reino natural e perceberá a si mesmo como uma
pequenina célula pertencente a este imenso organismo vivo. Todo ser vivente tem sua missão e razão de estar no
Planeta. Saiamos de nossas trincheiras internas que nos adoecem, dos barulhos ensurdecedores de nossas
mentes inquietas e das grandes cidades que tiram o silêncio do coração, que traz a verdade harmônica e essência
natural contida no ser. Precisamos perceber a conexão que existe em tudo que é vivo, a fim de distinguirmos o
canto alegre ou o lamento de um pássaro. Os índios muito aprenderam com os animais, plantas, árvores e
pedras, honravam toda vida existente, pois tudo tinha uma alma, uma contraparte espiritual, toda natureza se
comunicava e continha segredos do Criador.

        O ato de preservar não é somente um ato de amor e honra, mas também de bom senso, lógica e justiça,
assim garantiremos às gerações futuras a dádiva e a dignidade do bem-viver, porque este já é um direito
adquirido de todos. Uma consciência verdadeiramente comprometida com a vida e espiritualidade é capaz de
viver de maneira interdependente e interdisciplinar com todos os seres viventes, honrando toda Criação. Faz-se
urgente reformularmos o pensamento de um modelo que já se esgota e não consegue mais resolver os
problemas reais, humanos e sociais em nosso Planeta. Honrar a Criação é honrar seu Criador. Preservar a
natureza é honrar os nossos antepassados, nossos ancestrais e ainda garantirmos a sobrevivência das nossas
futuras e indefesas gerações.

        Não é necessário somente ensinarmos a reciclarmos o lixo que produzimos, mas sobretudo, é preciso que
aprendamos a reciclar nossos vícios, nossos egos, nossos pensamentos e ações negativas, tudo que agride a nós
e ao próximo, pois estes são os maiores dejetos e lixos altamente tóxicos para sobrevivência humana e natural.




    “Necessitamos muito mais do que reciclar materiais e reduzir a poluição. Existe uma necessidade de despertar o
   respeito a todos as criaturas vivas. Nós chegamos ao nosso fim lógico, que nos leva de volta para o início do nosso
Círculo de Vida, ou nas palavras do Chefe Seattle: ‘Tudo o que fizermos a Terra, estaremos fazendo a nós próprios, pois
                                                  nós somos a Terra’.”
                                            (Poncho – Secwepemc, Born 1896)




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A Umbanda comemora o seu centenário com muita alegria e felicidade. Cada vez mais nos fortalecemos
e nos auto-afirmamos enquanto uma identidade religiosa brasileira. Buscamos cada vez mais a unidade através
do amor-fraterno e respeito às diversidades. Essa cartilha tem como finalidade conscientizar cada vez mais
nossos irmãos umbandistas a cerca de temas tão inerentes a nossa sagrada religião. Esta revela uma maneira de
levar a compreensão de todos à iminente necessidade de um despertar cada vez maior de nossa consciência e de
nossa participação ativa enquanto indivíduos ou instituições, em pleno Terceiro Milênio, para dignificar e honrar
cada vez mais a nossa tão querida e Sagrada Lei de Umbanda. Devemos contribuir e projetá-la mais ainda ao
digno patamar que é inerente a Ela, não obstante, aos nossos Guias e Orixás, que coordenam esses “sítios
naturais” e de lá também sorvem energia para cura de todo tipo de malefício humano.




             “Quando mostramos respeito a todas as coisas vivas, estas respondem-nos com respeito.”
                                                 (Índios Arapaho)

       Logo abaixo trazemos informações ilustrativas a cerca do material e dejetos despejados na natureza pela
ação do Homem, bem como, seu tempo aproximado de decomposição natural:

Tempo médio de decomposição dos resíduos no meio natural:

Casca de frutas – 3 meses




Restos orgânicos – de 2 a 6 meses




Papel – de 3 a 6 meses




Pano – de 6 meses a 1 ano




                                                        8
Palito - 6 a 12 meses




Filtro de cigarro – 5 anos




Pastilha elástica – 5 anos




Madeira pintada – 13 anos




Nylon – de 30 a 40 anos




Lata de aço – 100 anos




Pilhas – de 100 a 500 anos




Tampas de garrafa – 100 a 500 anos

                                     9
Lata de alumínio – de 100 a 500 anos




Sacos e copos de plástico – de 200 a 450 anos




Fralda descartável – 450 a 600 anos




Vidro – tempo indeterminado




Pneu (borracha) – tempo indeterminado




Isopor – tempo indeterminado




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“Talvez se mais pessoas tocassem seus seres com os lagos, com as árvores, com a terra, não haveria tanta poluição e
 destruição espalhada como vemos atualmente. Eles sentiriam o elo precioso que os une e não estariam tão prontos a
            nela enterrar tanta química e lixo. Eles não mais ousariam ferir uma árvore com um canivete.”
                                  (trecho do livro de Mary Summer Rain, DREAMWALKER)

       É através destas informações que possibilitaremos uma maior conscientização por parte de todos, pois é
inconcebível justificarmos nosso amor e devoção às divindades do “ministério de Deus”, os Orixás, que
comandam estes habitats e sítios sagrados, com seus poderosos falangeiros-Guias e pequeninas consciências
vivas que estagiam nestes reinos naturais, zelando pelo equilíbrio dos mesmos, com ações infundadas e
incoerentes que só depredam e sujam física e vibratoriamente o ambiente sagrado, desestabilizando o equilíbrio
energético e paisagístico naturais.

        Precisamos assumir de vez a responsabilidade de construirmos um Planeta melhor para nós e nossos
sucessores, pois essa iniciativa começa em nós e por nós, independente da carência de informações nos meios de
comunicação, iniciativa pública ou privada. Não devemos criar sempre expectativas e dependências diretas,
colocando a iniciativa de nossas ações nas mãos de outros, pois já contemos informações básicas suficientes para
reformularmos alguns pensamentos e ações, nem tampouco incumbirmos somente aos Guias Espirituais a
responsabilidade de nosso despertar e o constante interceder por nós diante o “martelo dos justos”. Devemos
tomar para nós a parte que nos cabe e que já está sendo sinalizada, pois a urgência iminente de mudança
constitui o pilar que alicerça as bases de uma religião-Mãe em constante transformação e crescimento .

        A Umbanda está para todos e abriga seus filhos em seu ventre sagrado, nosso Planeta, alimentando-nos
como pequeninas crianças, ainda desprotegidas, em seu seio materno e acalentando-nos em vosso colo, mas
ainda insistimos em nos distanciarmos dessa realidade, pois ao entendermos a natureza como um ser, um
organismo vivo, nos colocaremos diante desta de maneira sensivelmente mais humana, sagrada, dando-nos a
oportunidade de recriarmos nossa realidade e despertarmos nossa consciência a partir do nobre e puro
sentimento de amor, compreensão, alegria e fé, abrindo-nos as portas do ser natural e para a divina realidade
humana. Será que já nos perguntamos alguma vez se Yara, Janaína, Jandira, Oxum ou Iemanjá ficam felizes em
ver suas águas cobertas de lixos provocados por resquícios da falta de consciência ecológica de seus filhos? Ou
será que Iemanjá se sente homenageada ao ver no mar garrafas e outros elementos que desarmonizam,
deterioram e intoxicam suas águas?

         É importante entendermos a relação alquímica-energética e a oferta espontânea contida nas oferendas-
rituais não como elementos extrínsecos, mágicos e meros utilitários imediatos das nossas supostas necessidades
humanas, mas sim como uma transformação de elementos naturais ali contidos para nosso reequilíbrio e
ressonância harmônica naturais, sobretudo, como um ato simbólico de alta relevância intrínseca e esotérica
capaz de alterar substancialmente nossa percepção cognitiva a cerca da vida, despertando e ampliando setores
da consciência que possivelmente nunca foram explorados e experienciados antes por nós.

       É imperativa a necessidade que todos sejam verdadeiros zeladores e fiscais de todo Ecossistema
Planetário, pois isso é sacerdócio, consciência, amor, respeito e cidadania planetária.




                                                         11
(Verificamos na foto abaixo, material plástico e garrafas de vidro incorretamente ofertados e deixados na natureza)




”Temos de proteger as florestas para nossos filhos, netos e para todos aqueles que ainda estão por nascer. Temos de
  proteger as florestas para aqueles que não podem falar por si próprios, como os pássaros, os animais, peixes e as
                                                      árvores.
                                                (Qwatsinas, Nuxalk Nation)




                                                  [na foto: Pajé Guarani]
                     "Unir-se é um bom começo, manter a união é um progresso e trabalhar em
                                             conjunto é a vitória"
                                        (Antonio Cabrera [Tupã Ñemboagueraviju])

 (abaixo: mesa ritual homenageando Oxóssi/Caboclos em jan/09 pela Tenda de Umbanda Xamânica Filhos do Vento, na
            Praia do Flamengo – Rio de janeiro/RJ. Após a ceia entre todos, tudo foi desfeito e o local limpo)




“Somos nós filhos de Umbanda e filhos de uma energia geradora, desde a água da nascente até o nascimento da lava
                 de um vulcão, responsáveis em transmitir o verdadeiro respeito ao Plano Divino.”
                                            (Caboclo Ventania/ Vento do Norte)




                                                            12
Hino da Umbanda:

                                                  (José Manoel Alves)


                                                  Refletiu a luz divina
                                               Com todo seu esplendor
                                                Vem do reino de Oxalá
                                                  Onde há paz e amor
                                               Luz que refletiu na Terra
                                                Luz que refletiu no mar
                                               Luz que veio de Aruanda
                                                  Para tudo iluminar
                                                Umbanda é paz e amor
                                                Um mundo cheio de luz
                                                É força que nos dá vida
                                               E a grandeza nos conduz
                                                  Avante, filhos de fé
                                                Como a nossa lei não há
                                              Levando ao mundo inteiro
                                                 A Bandeira de Oxalá !

 “Esperamos ter contribuído singelamente para soma das bases e o fortalecimento de nossa Sagrada Lei de
Umbanda, bem como, pelo serviço de utilidade pública planetária prestada. A Natureza, a Espiritualidade Maior
                 e a humanidade agradecem! Nosso fraternal Anauê e Saravá a todos!!!”
                                        [Hugo Acauã e Carla Sindhara]

   “Que o Grande-Espírito guie nossos passos sobre a Estrada da Vida. Respeitemos Sua Criação, nossa Mãe-Terra,
                                   preservando-a a fim de que Ela nos preserve.”

                                 Disque óleo vegetal usado (soja, milho, girassol, etc.):
                                www.disqueoleo.com.br ou contato@disqueoleo.com.br
                                              (21) 2260 3386 / 78279446




                                                   Idealizadores:

   •   Carla Sindhara (médium-dirigente do Caboclo Ventania ou “Vento do Norte”, na Linha de Umbanda
       Xamânica ; Terapeuta Estética e Natural/Alternativa - carlasindhara@hotmail.com)

   •   Hugo Acauã (Ogã, Terapeuta Xamânico e pesquisador de culturas indígenas-xamânicas. Junto com Carla
       Sindhara dirigiu a JUMTEM/Juventude Umbandista do Terceiro Milênio e atualmente trabalha na linha
       de Umbanda Xamânica proposta pelo Caboclo Ventania - hugoacauan@yahoo.com.br)

                             Rio de Janeiro, 20 janeiro de 2009 (revisada em 06/10/11).
                                                           13

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Cartilha de Consciência Ecológica Umbandista

  • 1. CARTILHA DE CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA UMBANDISTA “Trate bem a Terra, ela não lhe foi dada pelos seus pais, Ela lhe foi emprestada pelos seus filhos.” (Provérbio Ameríndio) “Trabalhamos pelo crescimento da consciência evolutiva, expressa através das mensagens de nossas Entidades, sejam Caboclos ou Pretos-Velhos.” (Caboclo das Sete Encruzilhadas através do médium Zélio Fernandino de Moraes – Revista Espiritual de Umbanda, 20ª edição) ''O homem há de perceber sua essência e deixará de sentir-se individualista ou de criar rivalidades separando as pessoas através de classificações. Essa percepção acontecerá, tão logo, o homem perceba o quanto ele está vendado pela ignobilidade do SER que compreende “civilizado". Passará ouvir com atenção a todos, e perceberá o quanto um sentido completa o outro, não mais renegando sua própria espécie.'' (Yakuy Tupinambá)
  • 2. “Os dramas humanos e as catástrofes ecológicas têm a mesma causa: o homem afastou-se do coração da natureza, que é também o seu coração. Esquecendo a vida sensível do mundo, ele acabou por esquecer a si mesmo. Os Cheyennes das planícies sabiam que a perda do devido respeito a todas as formas vivas, humanas, animais e vegetais, conduziriam igualmente à perda do respeito devido ao próprio homem. Não tenhamos medo dos contrários, das oposições que dividem o mundo e criam a ilusão de acontecimentos separados. Esta visão é fonte de conflito, de sofrimento e de luta perpétua. A noite não é inimiga do dia, assim como a morte não é inimiga da vida. É preciso haver o encontro do fogo e da água, do sol e da umidade para criar um arco-íris. Entendermos isto, fará com que encontremos o equilíbrio em nós. Entendermos isto, fará com que haja harmonia com a Terra Mãe. Entendermos isto, fará com que entremos em linha de aproximação com o universo. Entendermos isto, fará com que um dia de fato, sejamos irmãos.” (Nuno Coelho) Em razão e homenagem a festa comemorativa dos 100 anos de anunciação e surgimento da genuína e brasileira religião de Umbanda, em 15 de novembro de 1908 – RJ, juntamente com o dia 20 de janeiro, onde se comemora anualmente a festa de Oxóssi/Caboclos, em nosso calendário umbandista e o feriado da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, não obstante, ao dia 21 de janeiro que já fora estabelecido oficialmente como “O Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa”, através da Lei nº 11.635, de 27/12/2007, viemos apresentar este trabalho, inspirados por princípios que cremos ser urgente. Esta Cartilha é uma singela homenagem aos “Povos Originários de Nosso Brasil” [Pindorama], os nativos indígenas, primeira raça formadora de nossa brasilidade, bem como, a todas as Etnias e Nações Indígenas das Américas, que do Astral para o físico, estabeleceram as bases para o surgimento desta sagrada religião de síntese universal, e que até hoje nos mantém sob sua supervisão. Cremos que por meio desta estaremos contribuindo com o Movimento Umbandista a tratar de um tema tão atual, complexo e essencialmente necessário a todo ser vivente no mundo, sobretudo, aos irmãos de fé que reverenciam as sagradas forças vivas e vibratórias da natureza e seus representantes oficiais, os nossos queridos Orixás. Este trabalho não contém em si nenhuma pretensão de esgotar o tema diante os problemas nele contidos ou trazer soluções imediatas, do ponto de vista coletivo, mas sim nos levar a uma reflexão profunda quanto a nossa participação e responsabilidade individual, enquanto cidadãos brasileiros e umbandistas que somos. Nossa experiência prática nos leva a conclusão que certos setores ainda necessitam de maiores esclarecimentos, visando fortalecer uma cultura pedagogicamente voltada para questões que envolvam nossa qualidade de vida e Meio-Ambiente como um todo, afim com os sublimes princípios e ensinamentos de Umbanda, pois nossa religião preserva a vida e sua continuidade, bem como, a manifestação do Plano Divino em todas as instâncias dos reinos naturais, que para nós é sagrada e deve ser preservada. 2
  • 3. Não pretendemos satisfazer todas as necessidades, preferências e opiniões, claro, pois a unanimidade é utópica, mas sim comungarmos de uma “unidade na diversidade”, pela extensa complexidade do assunto. Entendemos ser esta uma iniciativa básica, didática e positiva para nossas vidas, Religião e Ecossistema. Visamos com isso estimular os estudos e o interesse do cidadão brasileiro, mas, sobretudo, aos irmãos da Sagrada Religião de Umbanda, sendo esta originalmente constituída pelas culturas índio-afro-européia com influências de filosofias orientalistas, que tanto nos enriquece o espírito e saber humano. Esta Cartilha visa nortear princípios básicos para uma visão mais adequada e politicamente correta do ponto de vista ecológico, humano e social. Inspirada pelo “modo nativo de ser”, a cultura indígena, ancestrais originários de nosso país pré-Cabral e Colombo que, em regra, nos serviram, e ainda nos servem, com exemplos éticos de uma filosofia-prática intimamente afinada e harmonizada com princípios ecológicos, tão necessários em nosso sistema. Se olharmos para a natureza e seus recursos como eixo central norteador de nossas vidas, aprenderemos lições várias de espiritualização, interdependência, sustentabilidade, respeito, amor, humanização, valorização da vida, etc. A natureza é, sem sombra de dúvidas, um espetáculo que deve ser contemplado com o coração sempre em prece e agradecimento, com referência aos nossos nobres e honrados ancestrais indígenas, Guias e Orixás em nossa sagrada e querida Umbanda. É nesse momento que Deus (Deus, Ñhanderú Eté, Tupã, Zambi, Olorum, etc.) nos mostra o poder de Sua Criação, mais que uma esplendorosa Obra de Arquitetura Cósmica, sobretudo, uma Criação repleta de Encanto, Mistério, Abundância, Beleza e Magia. O grande filósofo Immanuel Kant resumiu bem num simples pensamento refletido em sua frase: “Duas coisas enchem minha alma de admiração e respeito: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim”. Podemos identificar em sua fala uma profunda consciência que contempla e honra o Divino manifestado em toda natureza, dentro e fora. Herdamos um rico paraíso de sons, formas, seres, alimentos e água potável, que infelizmente sofre com a insalubridade e escassez no mundo, pois apenas 3% da água existente no planeta é doce e própria ao consumo humano, sendo que 2/3 (dois terços) desse total estão presentes nas geleiras e calotas polares, sobrando somente 1% (um por cento) para ser consumido em todo mundo. Somando-se a isso, vazamentos de água de tubulações, por exemplo, seriam capazes de abastecer grande parte de toda Europa. Pergunta-se: o que nós fazemos diante de tudo isso para minimizarmos os problemas e suas conseqüências? Meditemos! Muitos ainda não sabem, mas os óleos de cozinha utilizados em frituras, também são motivos de grande impacto no meio ambiente e que geralmente o jogamos em água corrente poluindo-a drasticamente, pois 100ml de óleo de fritura contaminam cerca de 1 milhão de litros de água. Vivemos em uma cultura e sistema que ainda negligenciam a poluição dos rios, cachoeiras, matas e mares, sob a regência de um modelo de pensamento econômico de extrativismo selvagem, que não mediu as conseqüências de suas próprias ações. Cortam-se árvores aos milhares, sem nenhuma consciência de preservação e cuidado. Tudo que fora dado por amor às criaturas humanas que aqui estagiam, foi para que todos pudessem viver de forma saudável e abundante e não somente uma minoria desfrutar desses benefícios, em detrimento da esmagadora maioria. Desenvolvimento Sustentável também é matéria extremamente atual, pois recentemente o ser humano passou a observar que o nosso Planeta vem adoecendo pelos maus-tratos em sua ação predatória, acreditando que as riquezas naturais nunca se esgotariam, pois agora o Homem está sentindo recair sobre si a “revolta” desta, ou seja, são os efeitos devastadores da ação natural que cada vez mais crescem, devido ao desequilíbrio causado pela ação demasiadamente compulsiva, obstinada e abusiva do ser humano, pela geração e acúmulo descomedido de riquezas, para saciar interesses pessoais e fomentar uma política- econômica desenfreada. 3
  • 4. “A Sabedoria dos homens sempre se coloca entre os meandros da sua crueldade e de sua ignorância. Será que podemos desanimar-nos, sabendo que existe dentro deles, uma centelha de Luz?” (Citação dos índios da Tribo Cree) A palavra Ecologia entra no cenário planetário com grande força e maior visibilidade no Mundo Contemporâneo em meio ao Terceiro Milênio, mas ainda distante de tornar–se sinônimo de “consciência ética” dentre as nobres e pequeninas criaturas humanas. Os rios, atmosfera, cachoeiras, matas e mares estão sendo cada vez mais transformado em canais de devastação, poluição e dejetos de todos os tipos; animais torturados e extintos inescrupulosamente; lixo atômico; toneladas de gases tóxicos despejados no ar; morte prematura gerada pela fome de indefesas criaturas provenientes do descaso e crueldade do seu próprio semelhante, etc. Contamos também com as ações de alguns umbandistas, ainda desavisados e pouco esclarecidos da real e gritante necessidade de uma consciência mais ecológica, pois precisamos rever alguns conceitos sobre determinados materiais em oferenda-mágico-ritualística que alguns ainda persistem em utilizá-los e acabam inconscientemente prejudicando a limpeza e harmonia do habitat natural, verdadeiros sítios sagrados, onde se honram os seres e as energias da natureza, os elementais, os Ancestrais e/ou Orixás. Estes locais também possuem registros de antigos rituais sagrados e sambaquis (cemitérios indígenas), pois estima-se bem mais de 10.000 (dez mil) anos a presença indígena em nosso Continente, cujo valor atribuído ao natural era de admirável sabedoria e beleza. Hoje em dia poucos são os que chamam sua consciência à reflexão dos possíveis danos causados a natureza, por determinados materiais deixados à revelia nas matas, cachoeiras, praias, etc. Muitos alguidares, garrafas, copos de vidro e plástico, velas de parafina acesas em meio a locais que possam correr riscos de incêndio, panos de murim, estátuas, materiais de louça, punhais, etc. que resistem ao tempo e permanecem lá após o término do período necessário da atuação magística conduzida pelo presente instrumento. Não só geram lixo físico e bacteriológico para natureza – como já não bastasse o lixo energético que a humanidade já produz – mas põe em risco a integridade física de qualquer pessoa que possa vir a se machucar com os objetos ali deixados, como por exemplo, uma taça de vidro, um punhal enferrujado, tornado-se ainda mais grave, quando deixados em locais de difícil acesso para coleta de lixo urbano. É possível sim e muito mais correto, do ponto de vista magístico e ecológico de nossa Umbanda, trabalharmos com as folhas, flores, frutos e alimentos naturais de fácil decomposição e reciclagem natural (biodegradáveis), que não gerem nenhum dano a natureza, servindo até, em última análise, de adubo para terra. Tudo isso só nos mostra o quanto ainda precisamos avançar e despertar nossa consciência para a preservação de nosso Ecossistema, não obstante, de nossas próprias vidas e espécie semelhante. O Planeta sofre as conseqüências da insana “arte predatória” humana. Nossa Terra-Mãe foi e é sempre saqueada, poluída, agredida, explorada de todas as formas. Há centenas de anos “Ela chora” sob o domínio do Homem e da cultura dominante que não consegue identificar aí sua própria origem e necessidade real para sua existência. É o término da vida e o início da sobrevivência, como bem assinalou o Chefe indígena Seattle no séc. XVIII, em sua carta ao presidente norte-americano. 4
  • 5. “Cada ser vivo e cada forma de vida representam mestres e amigos em potencial. Ao observarmos a natureza, aprendemos as novas lições que ela está tentando nos transmitir.” (Jamie Sams - As Cartas do Caminho Sagrado) Os resultados dessa constante agressão, há tempos vem sendo apontada de forma preocupante por muitos indígenas, cientistas, biólogos, ambientalistas, religiosos, naturalistas, etc. A reincidência predatória humana tem intensificado o surgimento e ação dos Maremotos, Terremotos, Tornados, Tsunamis, surtos de doenças desconhecidas ou raras, viroses, a escassez pela extinção de várias vidas animais e vegetais, a destruição da camada de ozônio, o já tão conhecido Aquecimento Global, o derretimento das calotas polares e muito mais. Temos ainda os problemas relativos à nossa Amazônia, a política e cultura indígenas, os problemas das minorias que é maioria nesse país, tais como a fome, a pobreza, a desigualdade social, a miséria, o preconceito religioso, étnico-racial, cultural e também os relativos à orientação sexual de cada indivíduo. Problemas que ainda se arrastam e fazem parte desse cenário, que em plena Era de Aquário, neste Novo Milênio, precisam sofrer profunda transformação para a resolução definitiva dos mesmos, mas sabemos que essa transformação é uma reforma que precisa começar em nós e por nós, não obstante, aos dirigentes políticos e econômicos em nosso país e no mundo, não obstante, aos dirigentes de instituições umbandistas (Federações, Templos, Tendas, etc.). Os resultados de nossa negligência, imprudência e imperícia fatalmente acabam se voltando contra nós mesmos. Os fenômenos naturais nem sempre fazem do algoz sua própria vítima, mas cremos que a Justiça Divina assim procederá. Ainda resistimos cegamente aos sinais que nos alertam, indicando que algo está profundamente equivocado na forma de como nos relacionamos com todas as formas de vida existentes no planeta. Então nos perguntamos: Como restaurar esse desequilíbrio? Como mudar esse quadro? Como mudarmos esse modelo e padrão de pensamento instituído, gerador de tantos problemas? A resposta está na própria conscientização e educação humana. É preciso uma profunda reflexão capaz de expandir nossa percepção e mudar nossas ações a cerca destas questões, pois a natureza e a existência humana, dessa e das próximas gerações, estão em jogo. É preciso que tenhamos uma vida naturalmente mais saudável, pois a busca do ter pelo ser ganhou espaço maior que deveria no cenário mundial. A arte de nos auto-educar, pode ser a chave para que as futuras gerações tenham uma visão diferenciada sobre a responsabilidade e o papel do ser humano a ser exercido na vida, em prol da sobrevivência do Planeta e suas espécies interdependentes no ecossistema, da qual todos nós fazemos parte. Desta forma, possivelmente garantiremos a sobrevivência e continuidade da vida em todas as esferas, inclusive a humana, dentro de um planejamento mais harmônico, integrativo, natural e adequadamente mais espiritualizado. As sementes do amanhã, nossas crianças, dependerão direta e exclusivamente do nosso pensar e ações no hoje, pois as mudanças há muito se fazem urgentes necessárias. É um sistema, autocondicionamentos e estilos de vidas a serem modificados, é uma transformação profunda de paradigmas individuais, sociais, políticos e econômicos que precisam iniciar no indivíduo e contagiar o coletivo, a sociedade. É nosso dever oferecer uma consciência humana e espiritualmente mais digna, sobre a temática que envolve a preservação da vida e do meio-ambiente. A sua desarmonia é o nosso próprio desequilíbrio, pois o nosso Planeta é a nossa morada maior. As mudanças sinalizadas é a reforma íntima que já começa dentro de cada um, dentro dos nossos corações, em nossas almas, na consciência espiritual de cada ser existente no Mundo. 5
  • 6. O Grande Espírito porém, nos deu a todos a possibilidade de estudar a Universidade da Natureza, das Florestas, dos Rios, das Montanhas e dos animais, dos quais, todos fazemos parte. (Tatanga Mani, Índio Stoney) A estrutura bioquímica de nossos corpos físicos contém preciosos metais contidos na Natureza, por analogia, nossos corpos físicos possuem em média, o mesmo percentual de água existente no mundo. A Amazônia é o nosso pulmão, filtra o ar, armazena oxigênio e nos dá impulso vital. Somos um verdadeiro oceano líquido. Rios percorrem em nossas veias e artérias. Quando ocorre a incineração do mesmo, reduzimo-lo a uma pequenina quantidade de pó, por causa da evaporação líquida destes. Somos fogo, terra, água, ar e éter, pois assim como o sol ilumina a Terra, nossa consciência espiritual nos anima, dá vida e luz a matéria orgânica de nossos corpos físicos sob a égide do Grande Espírito Criador de todas as criaturas, pois o “lado de dentro” (Esotérico) e o “lado de fora” (Exotérico) são faces de uma mesma moeda. A magia fenomênica da própria natureza está presente em nossos corpos, que é a base que sustenta e alimenta a vida. Somos filhos da Mãe- Terra, que por amor nos doa parte do seu corpo para as pequeninas criaturas viventes e a estes maltratamos. Este dano é sentido por nós em nosso próprio sistema bio-psico-emocional, desintegra partes do ser e afeta nosso campo espiritual. Nosso corpo também é o Dela, no momento de nosso desencarne, é para terra que nossos corpos voltarão, para decomposição e alimentação de outras formas de vida, pois nada se perde, tudo se transforma. Nós humanos dependemos diretamente da existência da natureza e não o contrário, pois a continuidade e preservação da vida planetária seriam garantidas muito bem, com exceção dos fenômenos naturais, se aqui não tivéssemos. Com tudo isso, fica claro entendermos que somos o reflexo da própria Criação e da Natureza Divina. Respeitemos Sua Criação, que levara bilhares de anos para se desenvolver, para poder nos dar o alimento e o sustento necessários de cada dia e para as futuras gerações, e estes, em tão poucos anos, a largos passos, estão sendo destruídos. Somos filhos criados do mesmo Pai Céu, nosso espírito-consciência tem sua origem nas Estrelas-Solares, nossa alma ainda inconsciente hiberna sob o olhar atento da Senhora Lua e nossos corpos, provenientes do grande ventre materno, são constantemente alimentados e embalados pela nossa Terra-Mãe, mas ainda assim, insistimos em cometer os mesmos danos, o homicídio materno e o genocídio de bilhares de criaturas. Somos, portanto, o princípio da unidade indivisível, uma fração, uma parte do Todo e que está em tudo. Concluímos que Deus-Homem-Natureza não caminham separadamente, pois não podem ser dissociados. Tudo faz parte de uma mesma teia-cósmica, uma mesma trama, pois os antigos nativos já afirmavam e a ciência hoje começa a reconhecer esses fenômenos naturais, pois estamos retomando o curso natural em busca da unidade, portanto, o mal que fizermos a um dos fios da teia, refletirá em toda teia. Ainda estamos adormecidos no útero-sagrado de nossa Mãe, como crianças que ainda fantasiam e iludem a realidade. Pensamos que já somos espiritualmente adultos, maduros, conscientes, autônomos, plenos de si e do que nos cerca. Cremos que caminhamos em “terra firme”, com nossas próprias pernas, mas a grande maioria ainda caminha a pequenos passos para esse re-despertar, para a nossa essência real, natural e verdadeira, pois muitos ainda maltratam sua própria fonte originária, “andam de costas para luz”. É preciso urgentemente despertarmos para a verdadeira semente que ainda adormece no mais íntimo e profundo do nosso ser. Não nos acomodemos nesta ociosidade perniciosa de nossos devaneios, ilusões e na insanidade de nossos inflados egos vaidosos que nos conduzem à cegueira, tornando-nos vítimas, juízes e réus de nós mesmos e de nosso semelhante, gerando com isso obstáculos internos que nos impedem de viver a verdadeira vida, crescimento, liberdade, felicidade e amor. 6
  • 7. “Ainda que estejamos em diferentes barcos, você no seu veleiro e nós na nossa canoa, dividimos o mesmo rio da vida.” (Chefe Oren Lyons, Nação Indígena Onandaga) É preciso conscientizar que ausentar-se da responsabilidade que cabe a cada um de cuidar e zelar pela Natureza é decretar um futuro cruel para os nossos sucessores diretos e futuras gerações. O Homem só conseguirá entender o profundo sentido da vida e existência quando entenderes a linguagem oculta contida em cada ser vivo, aí sim ele honrará até a menor espécie vivente no reino natural e perceberá a si mesmo como uma pequenina célula pertencente a este imenso organismo vivo. Todo ser vivente tem sua missão e razão de estar no Planeta. Saiamos de nossas trincheiras internas que nos adoecem, dos barulhos ensurdecedores de nossas mentes inquietas e das grandes cidades que tiram o silêncio do coração, que traz a verdade harmônica e essência natural contida no ser. Precisamos perceber a conexão que existe em tudo que é vivo, a fim de distinguirmos o canto alegre ou o lamento de um pássaro. Os índios muito aprenderam com os animais, plantas, árvores e pedras, honravam toda vida existente, pois tudo tinha uma alma, uma contraparte espiritual, toda natureza se comunicava e continha segredos do Criador. O ato de preservar não é somente um ato de amor e honra, mas também de bom senso, lógica e justiça, assim garantiremos às gerações futuras a dádiva e a dignidade do bem-viver, porque este já é um direito adquirido de todos. Uma consciência verdadeiramente comprometida com a vida e espiritualidade é capaz de viver de maneira interdependente e interdisciplinar com todos os seres viventes, honrando toda Criação. Faz-se urgente reformularmos o pensamento de um modelo que já se esgota e não consegue mais resolver os problemas reais, humanos e sociais em nosso Planeta. Honrar a Criação é honrar seu Criador. Preservar a natureza é honrar os nossos antepassados, nossos ancestrais e ainda garantirmos a sobrevivência das nossas futuras e indefesas gerações. Não é necessário somente ensinarmos a reciclarmos o lixo que produzimos, mas sobretudo, é preciso que aprendamos a reciclar nossos vícios, nossos egos, nossos pensamentos e ações negativas, tudo que agride a nós e ao próximo, pois estes são os maiores dejetos e lixos altamente tóxicos para sobrevivência humana e natural. “Necessitamos muito mais do que reciclar materiais e reduzir a poluição. Existe uma necessidade de despertar o respeito a todos as criaturas vivas. Nós chegamos ao nosso fim lógico, que nos leva de volta para o início do nosso Círculo de Vida, ou nas palavras do Chefe Seattle: ‘Tudo o que fizermos a Terra, estaremos fazendo a nós próprios, pois nós somos a Terra’.” (Poncho – Secwepemc, Born 1896) 7
  • 8. A Umbanda comemora o seu centenário com muita alegria e felicidade. Cada vez mais nos fortalecemos e nos auto-afirmamos enquanto uma identidade religiosa brasileira. Buscamos cada vez mais a unidade através do amor-fraterno e respeito às diversidades. Essa cartilha tem como finalidade conscientizar cada vez mais nossos irmãos umbandistas a cerca de temas tão inerentes a nossa sagrada religião. Esta revela uma maneira de levar a compreensão de todos à iminente necessidade de um despertar cada vez maior de nossa consciência e de nossa participação ativa enquanto indivíduos ou instituições, em pleno Terceiro Milênio, para dignificar e honrar cada vez mais a nossa tão querida e Sagrada Lei de Umbanda. Devemos contribuir e projetá-la mais ainda ao digno patamar que é inerente a Ela, não obstante, aos nossos Guias e Orixás, que coordenam esses “sítios naturais” e de lá também sorvem energia para cura de todo tipo de malefício humano. “Quando mostramos respeito a todas as coisas vivas, estas respondem-nos com respeito.” (Índios Arapaho) Logo abaixo trazemos informações ilustrativas a cerca do material e dejetos despejados na natureza pela ação do Homem, bem como, seu tempo aproximado de decomposição natural: Tempo médio de decomposição dos resíduos no meio natural: Casca de frutas – 3 meses Restos orgânicos – de 2 a 6 meses Papel – de 3 a 6 meses Pano – de 6 meses a 1 ano 8
  • 9. Palito - 6 a 12 meses Filtro de cigarro – 5 anos Pastilha elástica – 5 anos Madeira pintada – 13 anos Nylon – de 30 a 40 anos Lata de aço – 100 anos Pilhas – de 100 a 500 anos Tampas de garrafa – 100 a 500 anos 9
  • 10. Lata de alumínio – de 100 a 500 anos Sacos e copos de plástico – de 200 a 450 anos Fralda descartável – 450 a 600 anos Vidro – tempo indeterminado Pneu (borracha) – tempo indeterminado Isopor – tempo indeterminado 10
  • 11. “Talvez se mais pessoas tocassem seus seres com os lagos, com as árvores, com a terra, não haveria tanta poluição e destruição espalhada como vemos atualmente. Eles sentiriam o elo precioso que os une e não estariam tão prontos a nela enterrar tanta química e lixo. Eles não mais ousariam ferir uma árvore com um canivete.” (trecho do livro de Mary Summer Rain, DREAMWALKER) É através destas informações que possibilitaremos uma maior conscientização por parte de todos, pois é inconcebível justificarmos nosso amor e devoção às divindades do “ministério de Deus”, os Orixás, que comandam estes habitats e sítios sagrados, com seus poderosos falangeiros-Guias e pequeninas consciências vivas que estagiam nestes reinos naturais, zelando pelo equilíbrio dos mesmos, com ações infundadas e incoerentes que só depredam e sujam física e vibratoriamente o ambiente sagrado, desestabilizando o equilíbrio energético e paisagístico naturais. Precisamos assumir de vez a responsabilidade de construirmos um Planeta melhor para nós e nossos sucessores, pois essa iniciativa começa em nós e por nós, independente da carência de informações nos meios de comunicação, iniciativa pública ou privada. Não devemos criar sempre expectativas e dependências diretas, colocando a iniciativa de nossas ações nas mãos de outros, pois já contemos informações básicas suficientes para reformularmos alguns pensamentos e ações, nem tampouco incumbirmos somente aos Guias Espirituais a responsabilidade de nosso despertar e o constante interceder por nós diante o “martelo dos justos”. Devemos tomar para nós a parte que nos cabe e que já está sendo sinalizada, pois a urgência iminente de mudança constitui o pilar que alicerça as bases de uma religião-Mãe em constante transformação e crescimento . A Umbanda está para todos e abriga seus filhos em seu ventre sagrado, nosso Planeta, alimentando-nos como pequeninas crianças, ainda desprotegidas, em seu seio materno e acalentando-nos em vosso colo, mas ainda insistimos em nos distanciarmos dessa realidade, pois ao entendermos a natureza como um ser, um organismo vivo, nos colocaremos diante desta de maneira sensivelmente mais humana, sagrada, dando-nos a oportunidade de recriarmos nossa realidade e despertarmos nossa consciência a partir do nobre e puro sentimento de amor, compreensão, alegria e fé, abrindo-nos as portas do ser natural e para a divina realidade humana. Será que já nos perguntamos alguma vez se Yara, Janaína, Jandira, Oxum ou Iemanjá ficam felizes em ver suas águas cobertas de lixos provocados por resquícios da falta de consciência ecológica de seus filhos? Ou será que Iemanjá se sente homenageada ao ver no mar garrafas e outros elementos que desarmonizam, deterioram e intoxicam suas águas? É importante entendermos a relação alquímica-energética e a oferta espontânea contida nas oferendas- rituais não como elementos extrínsecos, mágicos e meros utilitários imediatos das nossas supostas necessidades humanas, mas sim como uma transformação de elementos naturais ali contidos para nosso reequilíbrio e ressonância harmônica naturais, sobretudo, como um ato simbólico de alta relevância intrínseca e esotérica capaz de alterar substancialmente nossa percepção cognitiva a cerca da vida, despertando e ampliando setores da consciência que possivelmente nunca foram explorados e experienciados antes por nós. É imperativa a necessidade que todos sejam verdadeiros zeladores e fiscais de todo Ecossistema Planetário, pois isso é sacerdócio, consciência, amor, respeito e cidadania planetária. 11
  • 12. (Verificamos na foto abaixo, material plástico e garrafas de vidro incorretamente ofertados e deixados na natureza) ”Temos de proteger as florestas para nossos filhos, netos e para todos aqueles que ainda estão por nascer. Temos de proteger as florestas para aqueles que não podem falar por si próprios, como os pássaros, os animais, peixes e as árvores. (Qwatsinas, Nuxalk Nation) [na foto: Pajé Guarani] "Unir-se é um bom começo, manter a união é um progresso e trabalhar em conjunto é a vitória" (Antonio Cabrera [Tupã Ñemboagueraviju]) (abaixo: mesa ritual homenageando Oxóssi/Caboclos em jan/09 pela Tenda de Umbanda Xamânica Filhos do Vento, na Praia do Flamengo – Rio de janeiro/RJ. Após a ceia entre todos, tudo foi desfeito e o local limpo) “Somos nós filhos de Umbanda e filhos de uma energia geradora, desde a água da nascente até o nascimento da lava de um vulcão, responsáveis em transmitir o verdadeiro respeito ao Plano Divino.” (Caboclo Ventania/ Vento do Norte) 12
  • 13. Hino da Umbanda: (José Manoel Alves) Refletiu a luz divina Com todo seu esplendor Vem do reino de Oxalá Onde há paz e amor Luz que refletiu na Terra Luz que refletiu no mar Luz que veio de Aruanda Para tudo iluminar Umbanda é paz e amor Um mundo cheio de luz É força que nos dá vida E a grandeza nos conduz Avante, filhos de fé Como a nossa lei não há Levando ao mundo inteiro A Bandeira de Oxalá ! “Esperamos ter contribuído singelamente para soma das bases e o fortalecimento de nossa Sagrada Lei de Umbanda, bem como, pelo serviço de utilidade pública planetária prestada. A Natureza, a Espiritualidade Maior e a humanidade agradecem! Nosso fraternal Anauê e Saravá a todos!!!” [Hugo Acauã e Carla Sindhara] “Que o Grande-Espírito guie nossos passos sobre a Estrada da Vida. Respeitemos Sua Criação, nossa Mãe-Terra, preservando-a a fim de que Ela nos preserve.” Disque óleo vegetal usado (soja, milho, girassol, etc.): www.disqueoleo.com.br ou contato@disqueoleo.com.br (21) 2260 3386 / 78279446 Idealizadores: • Carla Sindhara (médium-dirigente do Caboclo Ventania ou “Vento do Norte”, na Linha de Umbanda Xamânica ; Terapeuta Estética e Natural/Alternativa - carlasindhara@hotmail.com) • Hugo Acauã (Ogã, Terapeuta Xamânico e pesquisador de culturas indígenas-xamânicas. Junto com Carla Sindhara dirigiu a JUMTEM/Juventude Umbandista do Terceiro Milênio e atualmente trabalha na linha de Umbanda Xamânica proposta pelo Caboclo Ventania - hugoacauan@yahoo.com.br) Rio de Janeiro, 20 janeiro de 2009 (revisada em 06/10/11). 13