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Luiz Fernando Veríssimo BENGALADAS
Com uma do passado:  “Estão voltando as flores”   Altemar Dutra.
Longe de mim estimular a violência no país, mas pensei o seguinte: deveria haver uma lei que permitisse a cada cidadão, ao chegar a determinada idade — digamos 70 anos — usar sua bengala contra quem quisesse, sem o risco de retaliação, reprimenda ou processo.
É claro que haveria uma regulamentação.
O cidadão não poderia simplesmente sair a dar bengaladas indiscriminadas. Teria uma quota anual de bengaladas livres que, se ultrapassada, aí sim lhe traria conseqüências legais.
Dentro da sua quota ele poderia bater em quem quisesse sem ser responsabilizado e sem ter nem que explicar por que batia. Mas se excedesse a quota permitida teria sua bengala confiscada.
Os critérios para bater seriam subjetivos: velhos desafetos e implicâncias, indignações passageiras, diferenças artísticas, políticas ou monetárias, ou a convicção que mesmo sem uma razão definível algumas pessoas pedem bengaladas, é ou não é?
Os cidadãos poderiam negociar suas quotas: quem já tivesse esgotado as suas mas ainda precisasse dar algumas boas bengaladas compraria quotas de outro, menos ativo.
Teria que ser encontrada uma maneira de evitar bengaladas em bando, vários cidadãos irados se reunindo para bater num só.
E casos de reincidência doméstica: velhos casais gastando suas quotas dando bengaladas um no outro o ano inteiro, só variando para acertar, por exemplo, um cunhado.
Acabaria o problema do que dar para pessoas de setenta anos no seu aniversário ou no Natal, além de meias e caixinhas de remédio. Bengalas! Com uma licença oficial para usá-las à vontade, dentro das regras estabelecidas e do bom senso, e com um hábeas-corpus preventivo para o caso de algum excesso de iniciante.
Alguém às vésperas de fazer 70 anos mal poderia esperar para, finalmente, pôr as mãos numa bengala e numa licença para bater.
Muitos já teriam uma lista de prioridades pronta para quando começassem a dar bengaladas — e treinado bengaladas certeiras em segredo, para não perder tempo quando começassem.
É difícil que a minha idéia pegue, mas, por via das dúvidas, leitor, faça desde já a sua lista: em quem você bateria se tivesse a sua bengala e a certeza da impunidade?
Na minha lista já tem dezessete.
Apresentação por Renato Cardoso Para meu cunhado Luiz Carlos Passarelli que anda meio impaciente. Ouça a música até seu final ou clique para sair.

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