2. Na verdade eu nunca fumei, embora tivesse na família vários fumantes (e convictos de que nada lhes aconteceria em razão do vício). Uma casa onde reinava a música (todos cantavam e tocavam alguns instrumentos), infelizmente o cigarro e umas cervejas pareciam não causar mal algum.
3. Minha mãe, em quem nunca vi qualquer defeito, infelizmente tinha esse vício, a quem aliás sempre recomendei com insistência que o largasse, para o bem de todos. Sentia que aquilo não iria terminar bem. Algo muito triste estava por vir em razão do cigarro. Mas o vício sempre falou mais alto e ela continuou dando suas baforadas com muito prazer.
4. Foram muitos momentos de prazer em razão do vício. Na verdade ela usava o cigarro para ser mais estratégica em suas decisões. Via que, durante uma boa tragada, ela pensava na melhor resposta, na melhor decisão. E assim foi por mais de 50 anos.
5. Claro que minha preocupação se atinha a um futuro provável sofrimento em razão do vício. Tinha convivido com um amigo em seus dias finais de vida e vivenciei o sofrimento de um paciente terminal por efisema pulmonar. Um horror!
6. Não chegava a imaginar aquilo tanto acontecendo exatamente com um ente muito querido. E eis que, infelizmente, nos seus mais de oitenta anos, as conseqüências nefastas começaram a surgir e passamos nós, filhos e demais entes queridos, a sofrer com o imenso sofrimento da mãe, exatamente pela efisema pulmonar provocada pelo vício de fumar.
7. Foi quando me revoltei, desacreditei de Deus (imagina?), pois exatamente ela, que em vida foi um modelo de bondade, de doação, tendo que passar por todas as formas de sofrimento, tanto em casa quanto num hospital, chegando à U.T.I. Só mesmo acreditando na explicação de que aqueles momentos ocorreram para que nós, que a amávamos tanto, tínhamos que nos preparar e aceitar a sua ida. Quando o sofrimento chegou ao seu ápice, minha querida mãe descansou e nós nos sentimos readquirindo a paz.
8. Foi a experiência mais sofrida de minha vida. Eu não desejo ao maior dos bandidos aquele sofrimento. O ar faltava à minha mãe, ela se via como debaixo d´água e as complicações conseqüentes iam surgindo, uma a uma. Hoje tenho muito respeito a profissionais que trabalham em U.T.Is. Sei o que eles passam e com o que convivem. Quantos casos iguais ao de minha mãe vivenciei em mais de 70 dias de luta.
9. Como era triste deixá-la lá, amarrada numa cama (prevenção para que não tirasse os necessários tubos). Como foi sofrido ver as escarras aparecendo e o ar sumindo. Sua angústia foi demais. E é para mim mais um sofrimento escrever sobre isso. Mas faço-o no afã de motivar fumantes a deixarem seus vícios. Se meu depoimento servir, já terá valido a pena esses minutos de dor que vivo ao montar esta apresentação.
10. Prefiro deixá-los com imagens belas de movimentação de um balé. Prefiro deixá-los com bons exemplos do que vem ser a vida em sua plenitude. Prefiro recomendar que amem e respeitem a vida. E que se cuidem ao máximo. Que tratem de seu corpo com o máximo de respeito e carinho. Ele é seu templo. O templo que carrega suas experiências, suas vivências, sua alma e seu espírito. Festeje a vida!