1. comunicação
C
Artigos
Canais locais de informação na TV paga:
TVCOM, um modelo de funcionamento
Eliane Corti Basso
A influência das chuvas na circulação dos
jornais de Manaus
Gilson Monteiro
Outdoor baiano: uma mídia que funciona
Maria Amélia Chagas Gaiarsa
Rock e música pop: espetáculo,
performance, corpo.
Herom Vargas
O cenário virtual televisivo: uma forma ano lll - n.o 5 - julho/dezembro 2002
específica de representação cenográfica ISSN 1518-5958
João Batista Cardoso
A crítica genética na propaganda
João Vicente Cegato Bertomeu
Estratégias retóricas para a restauração da
imagem quando sob ataque
Vilma Lemos
Sugestão Bibliográfica
Música caipira ou música sertaneja?
Fernando Pereira
Resenha
Ética e responsabilidade social nos negócios
Ana Claudia Marques Govatto
2. An d ii g o
Í rt ce
Artigos
Canais locais de informação na TV paga: TVCOM,
um modelo de funcionamento
Eliane Corti Basso ............................................................................................................... 04
A influência das chuvas na circulação dos jornais de Manaus
Gilson Monteiro .................................................................................................................. 12
Outdoor baiano: uma mídia que funciona
Maria Amélia Chagas Gaiarsa ............................................................................................ 19
Rock e música pop: espetáculo, performance, corpo.
Herom Vargas .................................................................................................................... 25
O cenário virtual televisivo: uma forma
específica de representação cenográfica
João Batista Cardoso .......................................................................................................... 33
A crítica genética na propaganda
João Vicente Cegato Bertomeu ........................................................................................... 41
Estratégias retóricas para a restauração da imagem quando sob ataque
Vilma Lemos ....................................................................................................................... 47
Sugestão Bibliográfica
Música caipira ou música sertaneja?
.ernando Pereira ................................................................................................................ 54
Resenha
Ética e responsabilidade social nos negócios
Ana Claudia Marques Govatto ............................................................................................ 57
C omunicação Expediente
Revista IMES Comunicação - Uma publicação do Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul
Ano lll - no 5 Coordenadores Editoriais Revisão Técnica
julho/dezembro-2002 Gino Giacomini .ilho Lídia Demboski
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Pró-Reitoria Comunitária e de Extensão Professores do Curso de concordar necessariamente com as
Coordenadoria de Comunicação Comunicação Social opiniões expressas.
3
julho/dezembro-2002
3. C omunicação Artigo
CANAIS LOCAIS
DE INFORMAÇÃO NA TV PAGA:
TVCOM, UM MODELO DE FUNCIONAMENTO
Eliane Corti Basso
Jornalista. Mestre e doutoranda em Comunicação Social pela UMESP. Docente nos cursos de
Comunicação Social do IMES, Anhembi Morumbi e FATEA (Faculdades Integradas Coração de Jesus).
R E S U M O ABSTRACT
Este trabalho procura mostrar um marco da This work tries to show a historical television
televisão dos anos 90: a introdução de canais mark of the nineties: the introduction of local
locais de informação na TV paga. O estudo tem information channels on paid TV. The study aims
como parâmetro mostrar o modelo de to show the local communication model adopted
comunicação local adotado pela TVCOM (TV by TVCOM (Community TV). An information
Comunidade). Um canal de informação 100% channel totally local (100%) implemented
local, implementado através da integração de through the integration of media and the other
mídias com os demais canais (meios de channels (means of communication) owned by
comunicação), pertencentes ao grupo RBS (Rede RBS group - Rede Brasil Sul de Comunicações
Brasil Sul de Comunicações), localizado em Porto (Net South Brazil of Communications), localized
Alegre, Rio Grande do Sul. O canal foi implantado in Porto Alegre, Rio Grande do Sul. The channel
em 1995 e sistematizou um modelo de comuni- was implemented in 1995 and it systematized a
cação local na televisão brasileira. A análise model of local communication on Brazilian
busca mostrar não só os fatores de sustentabi- television. The analysis aims to show the bearing
lidade, mas também a importância para a factors as well as its importance to the local
comunidade local onde atua. community where is performs.
PALAVRAS-CHAVE: TV paga, comunicação local, KEYWORDS: paid TV, local communication,
canais de informação. information channels.
4
julho/dezembro-2002
4. Artigo
INTRODUÇÃO para a divulgação das culturas tentativa de regular o serviço
locais. Na contramão, enfrentam denominado de cabodifusão. Um
A televisão é o serviço de dificuldades para manter uma decreto de 1975 enquadrava o
comunicação de massa mais produção de qualidade por causa serviço como especial, mas com
importante que se tem no Brasil. dos altos custos. os protestos da sociedade civil,
O país possui cerca de 45 O objetivo deste texto é através de manifestações de
milhões de domicílios, onde contribuir com os estudos sobre entidades não governamentais e
aproximadamente 85% contam os canais locais de informação na movimentos de discussões
pelo menos com um televisor. TV paga, mostrando um modelo alavancados nas Universidades, o
Mais de 92% recebem o sinal da de funcionamento. O estudo é decreto acabou sendo vetado
TV aberta.1 norteado pelo exemplo da TVCOM (Boffetti, 1999 p. 39-40).
A TV aberta garante uma – TV Comunidade, localizada em Em fevereiro de 1988, o
hegemonia sem parâmetros em Porto Alegre, Rio Grande do Sul e ministro das comunicações do
outros países. Em meio a esse integrante do sistema RBS – Rede governo Sarney, Antônio Carlos
mercado, surge a TV paga, Brasil Sul de Comunicações.4 Magalhães, baixou o Decreto n°
implantada há pouco mais de A TVCOM surgiu em maio de 95.744/88 regulamentando o
dez anos no país e que nasceu 1995 e sistematizou um modelo Serviço Especial de Televisão por
no início da década de 90 com novo de comunicação de infor- Assinatura, denominado TVA,
pouca expressão. De 1994 a mação 100% local através do destinado a distribuir sons e
1997, teve uma explosão pas- aproveitamento de mídias. É um imagens a assinantes, por meio
sando de 400 mil para 2 milhões modelo nos moldes da expe- de um único canal UH., através
de assinantes, mas desde 1998 riência dos Estados Unidos, que de sinais codificados que são
experimenta um mercado retraí- passou, a partir da década de 90, transportados por espectro
do e bem abaixo da expectativa a introduzir canais locais de radioelétrico, o mesmo utilizado
gerada para a virada da primeira notícias na TV paga. O modelo pelos canais comuns de televisão,
década. Enfrenta ainda um norte-americano é o tipo mais sendo permitida, a critério do
mercado arredio, atingindo cerca integral na perspectiva da poder concedente, a utilização
de 10% dos domicílios2. Não se economia de mercado e se parcial sem codificação.
tornou um hábito generalizado encaixou na proposta do grupo Com o decreto, abriu-se a
por razões culturais e econô- gaúcho. possibilidade, por meio da
micas. É, acima de tudo, elitizada operação em UH., da transmissão
para uma sociedade de quase 50 1 A HISTÓRIA de conteúdos locais, da qual faz
milhões de miseráveis (29,3%)3. parte o canal TVCOM de Porto
Por outro lado, existe uma parte Uma das mais significativas Alegre. A legislação de TV paga,
da população com poder aquisi- mudanças ocorridas na televisão no Brasil, começou a ser configu-
tivo que ainda não assina brasileira dos anos 90 foi à rada a partir desse painel, onde
nenhum sistema. Por isso, os introdução do jornalismo 24 horas foram entregues concessões para
canais pagos terão que oferecer através da TV paga. Em rede o funcionamento de canais em
atrativos para, então, criar o nacional, o marco é do canal Globo UH..
hábito de pagar para se ver TV. News, da Rede Globo, em 1996. Até o surgimento da Lei da TV
Chamar a atenção do assinante Em diversas cidades brasileiras, a Cabo, isto é, de 1989 a 1995,
para as informações da sua rua, com operação local, surgem os as operações que existiam eram
seu bairro, sua cidade ou região canais de informação. Em 1995, amparadas numa portaria de
é uma das fórmulas que as no Rio Grande do Sul, o Grupo RBS DisTV, Sistema de Distribuição
operadoras têm encontrado. implanta o canal TVCOM (TV de Sinais de TV por meio físico.
Os canais locais têm não só Comunidade) que nasce com a O Brasil foi um dos últimos
mostrado, em muitos lugares, proposta de divulgar as realiza- países da América Latina a im-
um diferencial competitivo e ções da comunidade local. plantar a TV paga e a institucio-
importante para atrair os A Legislação sobre TV a Cabo nalizar a TV por cabos. Depois de
assinantes como também se no Brasil começou a ser im- um longo processo de discussão
constituem em novos espaços plantada na década de 70, com a (que contou com a participação
1
ABERT - Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão. Disponível em:<<http://www.abert.com.br>>. Acesso em: 26/07/2001.
2
GUIA de canais. Revista Pay TV. São Paulo, p.11, ago.2001.
3
O ESTADO DE S. PAULO. Reportagem citando a .undação Getúlio Vargas. São Paulo, 10 jul. 2001, p.8. Geral.
4
A RBS é um dos principais grupos de comunicação do Brasil que atua no Rio Grande do Sul e Santa Catarina com emissoras de rádio e televisão e jornais entre
outros serviços.
5
julho/dezembro-2002
5. C omunicação Artigo
inédita da sociedade civil, repre- com alcance de uma cidade ou mente, as formas de produção
sentada pelo .órum Nacional pela região formada por um grupo dos canais locais no Brasil variam
Democratização das Comunica- pequeno de cidades. entre as enxutas estruturas, pro-
ções e sob a liderança da .edera- Desde o início da década de 90, duções terceirizadas e soluções
ção Nacional dos Jornalistas), foi inúmeras emissoras de tevê a cabo híbridas, vendendo a maior parte
elaborada a Lei nº 8.977, de 6 de começaram a se instalar nas do tempo do canal para produ-
janeiro de 1995, mas, somente grandes cidades dos Estados toras independentes e exibindo
em 1997, a lei e a norma foram Unidos. Nesse sentido, dois alguns programas próprios, bus-
definitivamente publicadas. exemplos foram tomados por base cando nestes casos aproveitar o
A lei obrigou as operadoras, a para a implantação da TVCOM de canal como ferramenta de marke-
exemplo da lei norte-americana, Porto Alegre: a New York One (NY1) ting. Poucos são os modelos que
a disponibilizar seis canais de e a Chigaco Land TV. conseguem sobreviver com
acesso público e gratuito: sendo A New York One5 no ar desde qualidade estética e de conteúdo
três canais legislativos (Senado, 1992 e apontada como a pioneira na programação mantida local-
Câmara .ederal e um terceiro no telejornalismo regional, foi mente por causa dos altos custos.
compartilhado pela Assembléia criada pelo grupo Time-Warner. A TVCOM, inaugurada em
Legislativa - Câmara Municipal), É um canal de informações e 1995, no Rio Grande do Sul, se
um canal educativo-cultural, serviços que transmite 24 horas mostrou um dos modelos mais
reservado para utilização pelos diárias de programação voltada bem acabados por isso a impor-
órgãos dos governos federal, totalmente para a comunidade tância em descrevê-lo. É uma
estadual ou municipal que tratam nova-iorquina. Uma equipe de 25 emissora local de transmissão
de educação e cultura, um canal repórteres procura cobrir tudo o mista por UH. e pelo sistema pago
universitário, para uso comparti- que acontece na cidade, com a (cabo e MMDS), com abrangência
lhado das universidades localiza- agilidade próxima ao modelo de inicial de 10 municípios da
das na área de prestação do rádio. A NY1 implantou a figura grande Porto Alegre7, a quem o
serviço, um canal comunitário, polêmica do videojornalista, um grupo RBS classificou de primeira
aberto para utilização livre por profissional que dirige o carro, experiência comunitária do Brasil
entidades não governamentais e carrega a câmera e faz as denominado de Canal da Comuni-
sem fins lucrativos. A lei também entrevistas. dade8, e primeiro canal de infor-
determina que as operadoras A Chigaco Land TV 6 , no ar mação local.
devem manter dois canais para desde 1993, é uma emissora que A TVCOM foi projetada para ser
uso eventual, mediante aluguel. trabalha com conteúdo local, a emissora com programação
Atualmente, os canais locais mas que apresenta o diferencial segmentada e jornalística, voltada
podem ser de acesso público, de compartilhar informações para os acontecimentos da grande
como os comunitários e universi- com o rádio e o jornal do mesmo Porto Alegre, mas sem se fechar
tários, previstos em Lei, e grupo. num microcosmo local. Abriu com
No Brasil, a exemplo da a proposta de ser uma conexão da
comerciais, como é o caso da
experiência norte-americana, a tendência do mundo globalizado
TVCOM de Porto Alegre.
TV paga descobriu o potencial que se traduz na expressão
1.1 A Proliferação dos dos canais locais. Espalhados por ‘glocal’, oportunizando o debate
Canais Locais diversas operadoras, eles têm se de assuntos globais voltados à
tornando instrumento importante realidade local.
A década de 90 marca a na hora de oferecer o pacote de A idéia de colocar no ar algo
proliferação dos canais locais de programação para os assinantes. inédito no país, fez com que
informação na tevê paga, nos A televisão local vem despontando diversos profissionais da RBS TV
Estados Unidos e na Europa. O como uma alternativa ao modelo viajassem para os principais países
Brasil inicia as primeiras expe- nacional de redes implantado no com desenvolvimento avançado
riências com o advento da im- Brasil. em televisões comunitárias, locais
plantação do UH. e, posterior- Num levantamento realizado e com programação voltada para
mente, com as operações de nas principais operadoras de TV notícias, a fim de saber o que
MMDS e Cabo. São emissoras a Cabo, percebeu-se que, atual- estava sendo feito no mundo
5
NY1. Disponível em:<www.ny1.com <http://www.ny1.com>>. Acesso em 12/09/2001.
6
CHICAGO Land TV. Disponível em: <www.cltv/com/about/station <http://www.cltv/com/about/station>>. Acesso em 12/09/2001.
7
Além de Porto Alegre, o sinal chegava a Canoas, Gravataí, Viamão, São Leopoldo, Alvorada, Sapucaia do Sul, Cachoeirinha, Guaíba e Esteio.
8
Esse é um conceito de comunitário comercial empregado pela emissora. Não faz parte do conceito de canal comunitário previsto na Lei de TV a Cabo do Brasil.
6
julho/dezembro-2002
6. Artigo
nessa área. .oram analisadas as problemas que envolvem as Ao longo dos seus já quase
programações dos canais NY1, dos cidades da grande Porto Alegre, a oito anos de existência, a progra-
Estados Unidos; TN - Todo Notícias, TVCOM chegou a ser chamada de mação foi sendo experimentada
da Argentina; City TV, do Canadá; CNN gaúcha11. Mas a pretensão de e moldada pelo retorno da
LCI, da .rança; Channel One, da acabar sendo “o primeiro canal de comunidade e do mercado
Inglaterra; e a Land TV de Chicago notícias a funcionar 24 horas por publicitário.
para consolidar a idéia do canal. dia” não se concretizou. A emis- A TVCOM passou por três
A concepção foi de ser, a sora caracterizou-se por ser um grandes fases, denominadas pela
exemplo da NY1, um canal voltado canal de informação em diferentes pesquisa: implantação, renovação
à comunidade local, no caso da formatos. e consolidação. A programação
TVCOM voltada à comunidade O canal TVCOM foi autorizado inicial procurava o foco nas
porto-alegrense. Raul Costa Jr pelo Decreto n°. 95744 de 23 de problemáticas locais, com uma
fevereiro de 1988. A legislação formatação “popular” tentando
(2001) 9, diretor de telejornalismo
permite a utilização com sinal mostrar, com bastante ênfase, os
da RBS, salienta que, em relação
aberto com apenas 35% do problemas dos bairros (linhas de
à emissora norte-americana, “foi
tempo. O restante é codificado. ônibus, saneamento básico,
feita uma adaptação do conceito
Desta forma, das 24 horas de poluição, buracos nas ruas,
de news local para o conceito de
operação, apenas 8h podem ser escola, creche, lixo, iluminação
informação local”. disponibilizadas no sistema
Para colocar no ar a nova etc.), mas foi aos poucos sendo
aberto de televisão. deixada de lado, pela proposta de
emissora, foram montados dois A grade da programação
estúdios, o principal no Morro público alvo a que o canal
apresenta três tipos de for- começou a se destinar, focado nas
Santa Tereza, prédio onde matação: 1) programas inéditos
funciona a RBS TV e outro na classes A/B, com condições de
(17h às 01h - período em que o pagar uma assinatura de TV.
redação do Jornal Zero Hora e sinal está aberto); 2) jornal
Depois de dois anos e meio,
Rádio Gaúcha AM. Um terminal eletrônico 12 (01h às 8h) e 3)
chega ao fim à primeira fase da
ligado aos dois foi instalado para programas de reprise (8h às
TVCOM. .oi um período de
possibilitar o contato direto entre 17h) 13. A programação inclui
implantação, experimentação e
os apresentadores, viabilizando notícias e programas de jorna-
adaptação da nova forma de
assim a formatação da proposta lismo especializado para todo o
fazer televisão. Nesse período,
de integração de mídias. A tipo de público, explorando temas
o público viu desfilar pela tela
concepção do canal foi de como política, economia, mercado
programas que entravam e
aproveitamento de todas as imobiliário, consumidor, esportes,
saíam da grade conforme a
mídias do grupo RBS, formatando turismo, veículos etc., alguns com
público bem segmentado, procu- aceitação. Mudou o enfoque e o
assim uma integração da canal passou a ser visto como
produção de notícias e do parque rando atender ao perfil do
telespectador de tevê paga. negócio que precisava ser auto-
técnico do rádio, jornal e tevê, sustentável, algo que ainda não
otimizando custos e produção, Embora sendo um canal com
proposta de ser segmentado na tinha conseguido. A mudança de
como o modelo apresentado pela fase marcava uma renovação
informação, os formatos dos
Land TV de Chicago. estética e de programação.
programas da TVCOM procuram
A idéia de fazer tudo ao vivo, A TVCOM do início da segunda
atender a um público hetero-
em um estúdio só10, transformou etapa começa muito parecida
gêneo. Os programas de maior
a rotina de trabalho numa mara- destaque e apelo de audiência com o modelo de tevê tradicional,
tona e obrigou os profissionais estão distribuídos na grade mas muda rapidamente para
a adotarem a agilidade do rádio diária, ao vivo, com duração tornar-se um diferencial na
na condução dos programas. variável. Os demais se tornaram comunidade e ser mais rentável.
Pela forte abordagem jorna- semanais, com exibição aos A emissora levou quase quatro
lística, feita ao vivo e capaz de ser sábados ou domingos, sendo a anos para conseguir o equilíbrio
interrompida a qualquer momen- maior parte gravada com ante- financeiro. A consolidação culmi-
to para entradas externas, com cedência. nou com dois fatores importantes.
9
Entrevista concedida à pesquisa em agosto de 2001, Porto Alegre.
10
Os programas eram apresentados todos do estúdio localizado no prédio da RBS TV. O estúdio, montado no Jornal Zero Hora, servia apenas para o aproveitamento
de conteúdos dos profissionais do jornal e do rádio. Não era utilizado para a geração de um programa todo.
11
Essa denominação CNN Gaúcha foi encontrada em reportagem que saiu na Rede Globo, em 1995, no programa Vídeo Show.
12
Sem apresentadores e sem locução, o telejornal é um programa gráfico onde as informações são apresentadas através de textos e imagens.
13
Geralmente são reprisados os talk-show e todos os programas que passam no canal aberto da RBS.
7
julho/dezembro-2002
7. C omunicação Artigo
O primeiro foi à mudança de Herz, controla cerca de 80%15 das com o sistema de TV paga. O
enfoque com a forte abordagem verbas publicitárias através do canal trabalha com dois tipos de
dada à cobertura de eventos e seu complexo de mídia. Sua anunciantes: o pequeno que
coberturas ao vivo; o segundo inserção na cultura regional vem busca uma mídia mais acessível
com a distribuição do sinal no ano a ano se consolidando. A e empresas de grande porte que
interior do Rio Grande do Sul, estratégia é trabalhar com a buscam regionalizar sua marca.
aumentando com isso o número filosofia do localismo, chegando Diversos são os aspectos que
de telespectadores e melhorando cada vez mais próximo da fazem do canal local uma forma
a comercialização dos programas. comunidade e a TVCOM foi feita de comunicação diferenciada. No
A TVCOM de Porto Alegre é sob medida para atender a essa caso da TVCOM, a agenda é fle-
distribuída pelo sistema NET (cabo demanda. xível. Seus horários e programa-
e MMDS), para 300 mil assinantes No campo estrutural, o canal ções podem ser modificados em
no Rio Grande do Sul (150 mil na TVCOM, compartilha o parque função de necessidades emer-
grande Porto Alegre e 150 mil técnico da RBS TV, o que permite gentes de modo mais fácil e sim-
em 17 municípios do interior apresentar uma finalização de ples do que as redes de televisão.
gaúcho)14 e ainda para a cidade programas e exibição com Os programas são realizados
de Chapecó, Santa Catarina. A qualidade, uma vez que o grupo pelos departamentos de jorna-
distribuição também acontece busca uma constante atualização lismo e produção que trabalham
pelo sistema UH., na grande Porto dos lançamentos de equipamen- no mesmo espaço dentro da
Alegre. O público estimado é de tos do mercado. redação da RBS TV.
dois milhões e 100 mil telespecta- A concorrência da TVCOM no Com a RBS TV, a TVCOM divide
dores conforme mapa de distri- mercado de televisão de Porto ilhas de edição, links para
buição da emissora. Alegre já é indiscutivelmente entradas ao vivo e um helicóptero.
muito concreta. César .reitas16, A TVCOM possui um estúdio
2 .ATORES DE
gerente de Jornalismo, resume: principal para apresentação da
SUSTENTABILIDADE
A TVCOM é uma empresa do maioria dos programas e um
DA TVCOM
grupo RBS e, como empresa, busca estúdio para os programas de
O principal fator de sustenta- lucro. Mas ela vê o lucro advindo notícias. Esse funciona no último
bilidade da TVCOM é, sem da comunicação na prestação de andar do prédio da RBS TV, com
dúvida, a integração de mídias serviços no seu nicho de atuação fundo de vidro mostrando ao
onde se divide o parque técnico (...) Nós temos claro que, se nossos fundo uma panorâmica da cidade
e profissional com os demais serviços forem bem feitos, as de Porto Alegre. Além desses,
veículos do grupo RBS, maximi- pessoas vão pagar por eles. (...) A funciona ainda um terceiro na
zando os custos de operação e fórmula de sustentação passa pela redação do Jornal Zero Hora, nos
trabalhando com economia de maximização e otimização da mesmos moldes de quando o
escala, mas seu modelo de produção, passa pela possibilidade canal foi inaugurado em 1995.
funcionamento também se deve de utilizar o know-how de fazer O departamento de jornalismo
a um conjunto de circunstâncias, televisão adquirido pela RBS, as é o mais dependente da produção
algumas históricas-culturais e pessoas que fazem a TVCOM são de material do complexo de mídia
outras de mercado que foram pessoas com experiências nos da RBS. Os programas de notícias
sendo criadas. mais diferentes veículos da RBS é utilizam dois níveis diretos de
A TVCOM está no terceiro claro que a TVCOM assumiu o aproveitamento da infra-estrutura
melhor mercado publicitário do respeito publicitário do grupo, da empresa. O primeiro é a
país, perde apenas para São Paulo então ficou mais simples.(...) A produção de matérias da RBS TV,
e Rio de Janeiro. O jornalista TVCOM não saiu do zero, por trás do Jornal Zero Hora, da Rádio
Daniel Herz estima que o Estado já tinha um caminho andado pela Gaúcha e do portal de notícias Clic
abocanha 8% 15 do mercado RBS. RBS. O segundo nível se dá na
nacional, sendo potencialmente A receita da TVCOM tem utilização de equipes de repor-
bastante expressivo. O poder de origem em duas vertentes no tagem da RBS TV Porto Alegre e
fogo está com a RBS que, segundo contrato de comercialização e interior para a realização de
14
Dados fornecidos pela emissora em 2001.
15
Dado estimado com base em pesquisas realizadas por Daniel Herz e repassado a esta pesquisa.
Entrevista concedida em julho de 2001. Daniel Herz é diretor de relações Institucionais da
.ederação dos Jornalistas.
16
Entrevista concedida à pesquisa, julho de 2001.
8
julho/dezembro-2002
8. Artigo
entradas ao vivo. A emissora apre- arborização urbana, índice de o Canal 20, o Canal 14 - TV
senta um jornal diário de uma leitura de jornais em regiões Comunitária, e o Canal 15 - Uni-
hora de duração e boletins de um metropolitanas (76%, segundo a versitário, que transmitem con-
a três minutos, durante os inter- Marplan), compra de livros (em teúdo local. Na TV aberta, além
valos comerciais. Basicamente são nível estadual), assistência ao da RBS - TV, a TV Educativa, a
informativos de prestação de ser- cinema, consumo de produtos Bandeirantes, a Guaíba e a Rede
viços e de notícias do momento ligth/diet e uso de celulares. O PIB Pampa têm programação local.
denominados de hard news. do Estado está acima de todos os O vínculo da TVCOM com a
O departamento de produção países do Cone Sul, à exceção da comunidade se estabelece em
é responsável pela maior parte da Argentina. vários níveis: participação na
programação, incluindo progra- A posição, histórico-cultural e programação, exibição de pro-
mas diários, semanais, cobertu- política, mostra a formação de gramas de interesse para a comu-
ras e programas especiais. Cada um povo intelectualizado que nidade, cobertura dos eventos e
programa costuma ser formado gosta de debater e opinar, por realização de eventos e campa-
por uma dupla de um produtor e isso encontra campo fértil em nhas comunitárias. Através dessas
um editor/apresentador. muitos programas do canal ações, ocupa espaços, define
Além dos aspectos estruturais TVCOM que se caracterizam como hábitos, divulga fatos, envolve-
e de mercado, é preciso com- jornalismo opinativo e produções se com as problemáticas locais,
preender os aspectos culturais de especiais de cunho histórico. forma a opinião pública e serve
que também são bases de susten- Há uma preocupação muito forte como um instrumento mediador
tação do modelo de comunicação direcionada à valorização da importante na referência dos
local. Entre as particularidades da cultura local e à cobertura dos assuntos de interesse local.
população estão a forte abor- principais eventos que acontecem A TVCOM também procura,
dagem política, a valorização da através dos especiais, retratar na
no Estado.
cultura e a presença constante tela o resgate da trajetória histórico-
A análise do fator da identi-
dos contrários: uma dicotomia cultural do povo rio-grandense. Em
dade cultural permite a com-
que permanece até os dias atuais. julho de 2001, período em que esta
preensão da relação de valoriza-
Tais fatores têm explicação na pesquisa foi realizada, além de
ção que o público gaúcho mantém
história: o Rio Grande do Sul foi passar as séries Mundo Grande do
com seus canais locais de comuni-
formado por muitas guerras, Sul, Contos de Inverno e Curtas
cação como a TVCOM, que, por
desenvolvendo no povo gaúcho Gaúchos, abria espaço, aos sábados
uma forte identidade política e de apresentar uma programação à noite, para especiais de música
valorização cultural. Os reflexos voltada às características regio- voltada à bandas e músicos
da identidade cultural do Rio nais, assume um papel integrador gaúchos, com programas de duas
Grande do Sul desempenham um com a comunidade. É por isso que horas de duração.
papel relevante nos valores que os resultados da pesquisa enco- A TVCOM uma emissora local,
conservam, e apontam índices, mendada pela emissora em maio mas que procura se comunicar com
frutos da trajetória histórica, que de 2001, realizada pela .ocus os fatos de interesse da comuni-
fazem os gaúchos adotar uma Consultoria, apresentam os dade gaúcha onde quer que eles
postura de defesa e orgulho de seguintes dados: “Caráter local: estejam acontecendo. A emissora
seus valores regionais. Hoje, o Rio .ala de Porto Alegre e o que passou a enviar equipes comple-
Grande do Sul é o quarto maior acontece na cidade. Até a fala é tas para cobrir eventos fora da sua
Estado do País e lidera alguns dos mais do gaúcho. A TV do nosso cidade, do seu estado e mesmo
mais importantes índices sociais, estado, feita por pessoas do fora do país, para captar os fatos
conforme dados divulgados no nosso estado. Conteúdo: É uma com a visão local. Nesse sentido,
Jornal Meio & Mensagem (2000), TV culta. Sempre tem algo a emissora já foi à .rança fazer
em edição especial sobre os diferente para ver. Relação com reportagens sobre a vinicultura
gaúchos, entre eles estão: o cotidiano: Aborda assuntos da e ao Canadá e Nova Iorque para
alfabetização (72, 81%); mortali- comunidade, do dia-a-dia. Os fatos acompanhar missões empresariais.
dade infantil, expectativa de vida ocorrem hoje e hoje mesmo estão Realiza coberturas esportivas em
e ingresso de jovens no terceiro sendo debatidos.” todo o Brasil e está presente em
grau, por exemplo. Além disso, a Mas a TVCOM não está sozi- eventos de moda do país em que
capital, Porto Alegre, tem as nha no mercado de comunicação há representatividade da indús-
maiores taxas nacionais de local. Na TV paga existem ainda: tria gaúcha.
17
Entrevista concedida à pesquisa em agosto de 2001, Porto Alegre.
9
julho/dezembro-2002
9. C omunicação Artigo
Alexandre Oliveira (2001) 17 É através das operações de TV emissora com custos mais
gerente de Marketing da RBS TV paga que se abre a perspectiva baixos. Este apresenta uma
e TVCOM, enfatiza o enfoque da para incrementar a comunicação evolução planejada, guiada por
TVCOM com essas coberturas: das comunidades, tanto através diagnósticos do mercado, diretriz
“São curiosidades de interesse dos canais de acesso público básica que norteia a trajetória do
para todas as regiões do Estado quanto dos canais locais co- grupo RBS que firmou um
(...). Se tiver um evento mundial de merciais. conceito de comunicação local no
cerveja, provavelmente a TVCOM Do sul para o nordeste, mudam Rio Grande do Sul e em Santa
não vá porque nós não temos os costumes e o jeito de falar, mas Catarina. A empresa multimídia
grandes cervejarias no Rio Grande alguns canais de TV local estão é a base de viabilização ao mo-
do Sul, nós temos unidades fabris, conseguindo alçar vôos maiores, delo desenvolvido pela TVCOM.
não temos tradição, mas se tiver apostando na cultura regional. A A RBS aproveitou os anos 80 para
um de churrasco no Japão, nós existência desses canais é recente montar uma estrutura de rede
vamos”. Essa é a diferença entre e não se tem praticamente nada regional de informação eficiente
um conceito de localismo e o escrito. Não se sabe nem ao certo e com alto padrão de qualidade.
conceito comunitário. Um sim- quantos existem. Eles estão A TVCOM nasceu de uma
plesmente aborda assuntos da espalhados nas mais diversas vontade legítima da população de
comunidade, o outro busca o operadoras em todo o país. Porto Alegre, que se sentia ca-
conceito de atuação e envolvi- Um levantamento preliminar19 rente de informações locais nos
mento em todos os segmentos, apontou que existem várias telejornais da própria RBS TV e se
relacionando-se com todos os formas de funcionamento. A encaixou no projeto do grupo de
investir em emissoras pelo siste-
fatos de interesse. maioria dos canais locais comer-
ma UH. e por assinatura. Intera-
Por fim, o sucesso da TVCOM ciais é destinada à utilidade
ção e participação ativa da comu-
pode ser traduzido numa frase ‘caseira’, onde as operadoras
nidade fazem o canal prosperar.
citada pela coordenadora de aproveitam para comercializar
O foco é estar presente no dia-a-
produção do canal, Marlise os horários e aceitam materiais
dia das cidades que fazem parte
Salgado Aúde (2001) 18, aliás bem terceirizados. Poucas são as que
da atuação. É a TV participando
bairrista, característica da estão realmente estruturadas e da vida dos cidadãos. As ações
identidade cultural do Estado: “É conseguiram avançar na comer- comunitárias ajudam a criar um
o Rio Grande do Sul se olhando cialização além dos prejuízos. contato direto com o público e,
na tevê e é por isso que dá certo”. O grande desafio reside na nesse sentido, a emissora gaúcha
capacidade de conquistar a sabe muito bem como fazer.
CONCLUSÃO comunidade, refletindo e melho- A TVCOM nasceu com a
rando seu cotidiano, aspectos característica de ser uma emissora
A sociedade planetária tem que transcendem a telinha. Mas, de jornalismo comunitário, nem
levado as pessoas cada vez mais acima de tudo, precisam atrair tanto mostrando, mas debatendo
à fragmentação, à solidão e à empresas locais e verbas regio- os problemas estruturais. Com o
separação, mas, contraditoria- nais de grandes anunciantes tempo, mudou o enfoque para um
mente, essa revolução científico- para sobreviverem. O principal conceito local, mais adequado ao
tecnológica gera os meios para obstáculo é a operação em rede, seu tipo de funcionamento,
criar um tipo de individualidade formatação da televisão brasi- visando atingir o público da TV
mais rica e, ao mesmo tempo, mais leira, que drena os recursos pu- paga, classificado prioritaria-
coletiva. Ela tanto pode separar blicitários para a comercializa- mente nas classes A/B.
como unificar, integrar. Uma TV ção e produção no eixo Rio - São Apesar da forte abordagem
local pode fazer o movimento Paulo. dos programas informativos,
contrário a essa solidão do mundo O canal TVCOM de Porto jornalismo opinativo e serviços,
moderno, porque integra com a Alegre, objeto deste estudo, tem a emissora não se considera
comunidade, gera uma dinâmica um modelo considerado de apenas classificada no gênero de
da cidadania, gera disputas excelência dentro das condições informação, mas também no de
democráticas, colocando no palco existentes no país e consegue, entretenimento, isso porque apre-
pontos de vista diferentes a através do aparato de mídias do senta programas que misturam
respeito de tudo. grupo RBS, fazer funcionar a informação com descontração.
18
Entrevista concedida à pesquisa, julho de 2001.
19
Levantamento feito em algumas operadoras de TV a Cabo e junto ao material publicado no artigo: POSSEBON, S.; RAMOS, R. Tornar canal local atraente é
deságio para novos players. Revista Pay-TV. São Paulo, v. 7, n. 74, set. 2000.
10
julho/dezembro-2002
10. Artigo
É uma emissora que não cobre rentes setores sociais, consti- estabelecer laços de afeição com
somente os fatos que acontecem tuindo-se uma arma de valoriza- a comunidade. De outro lado, é
no Estado, mas também procura ção da identidade cultural local. mais um negócio que já tem o
informar os gaúchos dos aconte- Através da sua programação, tamanho de um mercado, já
cimentos relativos à sua econo- consegue respeitar as caracterís- competindo em faturamento com
mia e sua cultura, provenientes ticas culturais locais, proporcio- algumas das emissoras de sinal
de onde estiver a notícia. nando mais espaço para o aberto de Porto Alegre.
Pela observação direta na aprofundamento das questões. O A comunicação local, seja ela
programação, foi possível detectar grande diferencial está na disponibilizada pelo acesso aos
que a identidade cultural local, seja liberdade de ter à disposição 24 canais públicos ou pelos comer-
ela expressa através da música, da horas de programação, podendo ciais, em geral, tem representado
arte, da política, da economia, do realizar programas e coberturas um ganho nas comunidades
esporte, é retratada na TVCOM. em que as outras redes ficam locais. Mas é como Daniel Herz,
Muitos são os programas que limitadas pelo tipo de funciona- em entrevista, colocou: não é a
buscam dar espaço e abordagem mento. A programação difere na alternativa, é uma das alterna-
a esses aspectos. abordagem, mas não na apuração, tivas para o planejamento equili-
A emissora não é comunitária isso porque é realizada por brado da comunicação no Brasil:
na acepção da lei e nem no que profissionais multimídias e segue A comunicação local não é uma
se refere aos fatores sociológicos as orientações básicas para todos panacéia que vai resolver o pro-
porque limita o acesso e a partici- os veículos do complexo RBS. blema da comunicação no país ou
pação, mas cumpre com sua pro- Verificou-se, ainda que empiri- que vai democratizar a comuni-
posta de ser comunitária no que camente, que o canal é um forte cação. O ideal é formatar um
pode se referir a uma emissora instrumento de reforço institu- equilíbrio entre as emissoras com
comercial. Ela atende a uma cional da imagem da empresa programações nacional, regional
comunidade geográfica, abrindo perante o mercado. A filosofia de e local (...). É preciso ter janelas
espaço para a expressão dos dife- valorização do local colabora para para a rua e para o mundo.
RE.ERÊNCIAS BIBLIOGRÁ.ICAS
AZEVEDO, T. Gaúchos: a fisionomia ESPECTADOR quer ver a comunidade PERUZZO, C. M. K. Globalização da
social do Rio Grande do Sul. 2. ed. na tevê. Zero Hora, Porto Alegre, 21 mídia e a comunicação
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U.ES, Vitória, v. 1, n. 1, p. 59-64.
HOINE.., N. A nova televisão: mar. 1996.
BO..ETTI, V. A. Canais desmassificação e o impasse das
comunitários: construindo a grandes redes. Rio de Janeiro: TVCOM entra hoje no ar. Zero
democracia na TV a cabo.1999. Hora, Porto Alegre, 15 mai. 1995,
Comunicação Alternativa : Dumará,
Dissertação (Mestrado em p. 1. Segundo Caderno.
1996.
Comunicação Social) - ESPECTADOR quer ver a
Universidade Metodista de São LOPES, V. TV comunitária vai ao ar comunidade na tevê. Zero Hora,
Paulo, São Paulo, 1999. em maio. Zero Hora, Porto Alegre, Porto Alegre, 21 jun. 1995, p. 59.
18 abr. 1995, p. 4. Geral.
ENCONTRO discute o futuro da MEIO & MENSAGEM. Gaúchos ENCONTRO discute o futuro da
televisão. Zero Hora, Porto Alegre, projetam 2001. São Paulo, 11 dez. televisão. Zero Hora, Porto Alegre,
31 mai. 2000. p. 40. 2000. Edição especial. 31 mai. 2000, p. 40.
11
julho/dezembro-2002
11. C omunicação Artigo
A INFLUÊNCIA DAS CHUVAS NA
CIRCULAÇÃO DOS JORNAIS DE MANAUS
Gilson Monteiro
Professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), mestre (FEA-USP) e doutor (ECA-USP).
Autor do livro “(Des)vantagem competitiva e (In)diferenciação estratégica”
(São Paulo: Edicon, 1999), dentre outros.
R E S U M O ABSTRACT
Este artigo é a síntese de um dos capítulos da This article is the synthesis of the one of the
tese “Por um clique: o desafio das empresas chapters of the thesis “.or a click: the challenge
jornalísticas tradicionais no mercado da of the traditional journalistic companies in the
informação – Um estudo sobre o posicionamento information market – A study about journalistic
das empresas jornalísticas e a prática do companies position and jornalism practice the
practice of the journalism in nets, in Manaus”, it
jornalismo em redes, em Manaus”, defendida em
was defended in March of 2003, in the Escola de
março de 2003, na Escola de Comunicações e
Comunicações e Artes da Universidade de São
Artes da Universidade de São Paulo. O capítulo
Paulo. The chapter was increased to the thesis
foi acrescentado à tese por se tratar de uma because it deals about the most interesting
descoberta de pesquisa das mais interessantes: research discovery: the rains get to tempt the
as chuvas chegam a provocar a diminuição de decrease up to 40% in the circulation of the
até 40% na circulação dos jornais. newspapers.
PALAVRAS-CHAVE: jornalismo, marketing em KEYWORDS: journalism, marketing in journalism,
jornalismo, logística. logistics.
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julho/dezembro-2002
12. Artigo
1 INTRODUÇÃO Benchimol (1977) chama a Com esse tipo de vivência, o
atenção para o regime de en- caboclo que mora no Amazonas
A logística, estrutura básica que chente e vazantes, conhecido na torna-se capaz até de conhecer o
garante a circulação de jornais, no região como “regime das águas”, comportamento do clima na
Amazonas, é mais complicada que que determina, basicamente, a região. Assim, sabe que de julho
em qualquer outra região do País. ocupação das áreas e o trabalho a dezembro é a época de vazante
O ciclo das águas é determinante desenvolvido pelo homem ama- do rio. E em época de vazante do
para garantir uma estrutura de zônico. O que o autor não vislum- rio, é, também, a época do verão
transporte mais eficiente ao brou à época, e nem poderia, era amazônico. Logicamente, na
homem da Amazônia. A água é de que o regime das águas, que tem época do verão, as chuvas são
suma importância, não apenas relação com as épocas de chuvas mínimas. Ora, quando o tempo
como elemento essencial à vida. e secas na região, também teria muda, na época do verão, na noite
No Amazonas, a água é parte da influência na atividade empresa- anterior, é possível que se acerte
vida não apenas como alimento. A rial jornalística na região. Para ele, se vai chover ou não no dia
função do rio, por exemplo, não é o homem da região “aproveita e seguinte. No entanto, essa não é
apenas garantir a sobrevivência do se acomoda à falta de um uma verdade absoluta. Pode-se
Amazônia, através da pesca, mas, equipamento cultural civilizador,
afirmar, porém, que o homem
ou de uma técnica adiantada de
sobretudo, interligar-se numa amazônico tem consciência da
exploração ou de economia para
malha de transporte, se não rápida, importância de se conhecer o ciclo
reagir às sugestões e imposições
mas eficiente, pois interliga todos das águas para a economia do
do meio”.
os 62 municípios do Estado. Mas, Amazonas. Benchimol (1995,
No caso das empresas jornalís-
qual a relação dos rios, das águas, p.71) diz que o ciclo das águas
ticas, ainda que haja técnicas
com a circulação de jornais em avançadas de análise e observações determina até questões ligadas ao
Manaus e no Amazonas? climáticas, o regime das águas é vocabulário: “O ciclo geográfico
Por se tratar de um produto fator determinante na circulação que o rio atravessa, marcado pelo
perecível, cuja durabilidade de jornais: enquanto uma das nível das águas, repiquetes,
máxima é de 24h, o jornal não se empresas jornalísticas de Manaus enchentes, alagações, vazantes:
beneficia muito da malha fluvial usa um software interconectado água-nova, meia água, água-
do Amazonas. A distribuição de ao Instituto Nacional de Meteoro- curta, água-seca influencia e
jornais, basicamente, é feita aos logia (INMET) para determinar a transforma o comportamento de
municípios que possuem acesso diminuição ou não do número de todas as atividades da hinter-
através de transporte terrestre jornais que vai para as ruas, em lândia. Não só do homem do
ou aéreo. Dessa forma, as outra empresa, o responsável pela interior, a cidade também a ela
empresas jornalísticas pouco circulação “olha para cima”, na está sujeita quando sente a falta
podem se beneficiar do navio, noite anterior, e sabe se vai da água na torneira, porque o rio
por exemplo, considerado por chover ou não no dia seguinte. ficou abaixo da tomada da água
Samuel Benchimol (1995), de do bombeamento, ou porque a
importância tão ímpar que o 2 A CULTURA DA chuva e a cheia alargaram o
homem do Norte, talvez, seja PREVISÃO DO TEMPO igarapé e encharcaram as suas
incapaz de viver sem ele: “Navio casas, desabaram o barranco e as
Aos olhos de quem vive fora
é como gente. Tem nome, enxurradas afundaram o leito das
da região, prever o tempo apenas
número e domicílio. Sendo como suas ruas e becos”.
ao olhar para as nuvens pode
gente, navio tem também vida, Ele continua: “A própria terra
parecer absurdo. No entanto, há
com direito a batismo, padrinho, uma explicação sociológico- arranjou uma nomenclatura que se
enredo, romance e drama. E cultural para esse tipo de acomoda a esse regime: várzea e
mais: como ´persona nauta´ é comportamento na Amazônia. igapós, terra inundada, tesa e terra
valente nas tormentas e procelas, Benchimol (1977, p.88) reitera firme. O próprio rio, também,
prudente nas águas fundas e que para conhecer o caboclo “é participa dessa toponímia: altos,
mansas para ter direito a ventos preciso ter uma íntima associação médios e baixos-rios a denunciar o
favoráveis, bom destino e porto com sua cultura, morar na sua nível da terra em função da altura
seguro. Dependendo do tamanho casa, dormir em sua rede, dançar e do alcance das grandes cheias e
e das acomodações, qualifica-se nas suas festas, ver o seu das praias das longas secas de
segundo a sua classe, uso e trabalho, respirar o mesmo ar, verão. ‘Águas de março’, ‘abril-
destino, longo curso, cabotagem, comer da sua cozinha e até amar chuvas mil’, agosto, mês de
navegação lacustre e fluvial”. as suas garotas”. calorão e desgosto”.
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julho/dezembro-2002
13. C omunicação Artigo
3 A CHUVA COMO Manaus, até como fonte de em torno de 7 a 8%. Mas o ideal,
PROTAGONISTA DA “abastecimento” de uma coluna para qualquer circulação do Brasil,
NOTÍCIA diária. Curiosamente, porém, é que você trabalhe com 9%”. O
No Amazonas, o ciclo das águas nunca se estudou ou se ensinou, gerente de circulação diz que
determina o que se vai plantar, o nos cursos de Comunicação alcança esse objetivo, nem que
que se vai comer e os trabalhos Social, em Manaus, que o ciclo das para isso tenha que trabalhar o
que podem ser feitos. A chuva, em águas também determina a encalhe nos outros dias. “Lógico
Manaus, tem tanta importância e quantidade de jornais que vai que tem aquele dia, por exemplo,
influencia sobremaneira o compor- circular no dia seguinte. Esse fato que choveu. Aí o encalhe vai dar
tamento dos habitantes da cidade revelou-se uma importante desco- 15%, 16%. Aí, nos outros dias, eu
que se transformar em notícia, berta de pesquisa. vou ter que trabalhar o encalhe,
ainda que seja amena. No dia 21 O gerente de circulação do que a gente chama de trabalhar o
de outubro de 2002, por exemplo, jornal A Crítica, Herval Tapajós encalhe para reduzir. Reduzir para
na coluna Sim e Não, o jornal A .olhadela (2002), revela que a a média geral do mês”.
Crítica publicou a nota “Chuva e empresa não possui nenhum tipo Em outro momento, .olhadela
paz” que dizia: “O fim de semana de software para gerenciar a reduziu para 10% o encalhe nos
em Manaus foi marcado pela previsão do tempo, mas diz que dias de chuva. “Por exemplo, a
chuva intermitente e clima todo dia verifica qual é a previsão nossa tiragem é 27 mil, eu vou
ameno. Poucas pessoas se do tempo para o dia seguinte: tirar uma base de 3 mil jornais.
aventuraram a sair de casa, “Por exemplo, nessa época, nem Lógico que a assinatura é fixa. A
temendo os humores do clima. A tanto, porque essa época é verão, assinatura são 7 mil fixos. Mas
solidão das ruas trouxe paz para então, praticamente, até agora eu fico trabalhando nesse percen-
a cidade. A não ser por um ou não teve nenhum dia de chuva. tual, 10%, pela pouca experiência
outro caso fortuito, reinou a Então, eu não me preocupo muito que eu tenho, é o ideal”. O jornal
tranqüilidade. Em dez delega- com isso nessa época. Agora A Crítica não possui um software
cias de polícia ouvidas pela repor- naquela época ali, de Abril, de gerenciamento das chuvas,
tagem de A Crítica, a resposta Junho, que é o período de chuva, mas tem um software próprio de
era a mesma: “Tá tudo tranqüilo. aí sim, você trabalha a tiragem. acompanhamento da circulação,
É por causa da chuva. Parodiando Não adianta você colocar o jornal que auxilia nas tomadas de deci-
o célebre poema de Thiago de na rua em dia de chuva que você sões relacionadas à diminuição
Melo, podemos dizer: ´.az chuva, sabe que esse jornal vai voltar de do número de jornais que irá cir-
mas eu canto´”. encalhe”. cular, em função das chuvas.
Como se percebe pela nota, a Para .olhadela, o jornal, em .olhadela não faz um acompa-
chuva interfere até nas ações dos dias de chuvas, aumenta o nhamento detalhado do clima.
marginais quanto mais na encalhe independentemente da Ele explica: “O que eu estou
circulação de jornais. No dia 25
manchete. Ele explica o procedi- fazendo é justamente assim. O
de outubro de 2002, nova nota
mento nos dias de chuva: “Você sistema GEAC proporcionou, aqui
sobre a chuva. Dessa vez, porém,
vai e diminui um pouco. Agora, para a Gerência de Circulação,
com um título diferente: “Chuva
lógico que é muito difícil você ter buscar como foi o mês de março
e frio”. No dia 16 de novembro de
um acompanhamento correto, às de 2001. Aí eu vou pegar aquele
2002, outra vez a chuva é a
vezes a previsão é de chuva mapa e vou verificar quantos dias
principal fonte da notícia. Dessa
vez, em uma matéria publicada na amanhã, mas isso não quer dizer no mês de março choveu. É mais
página de “Cidades”, cujo título que vai chover de manhã. E a ou menos esse acompanhamento
era “.eriado com chuva desanima força da venda do jornal é que nós temos hoje. Agora, um
manauenses”. O curioso é que a justamente de 6h às 10h da acompanhamento assim mais
matéria registra “A forte chuva manhã. É nesse período que você detalhado fica mesmo só em
que atingiu Manaus...” e “O céu vende jornal. É lógico que tem torno da previsão do tempo, se vai
nublado e a chuva deixou...” mas banca que fica até 10h , meia- chover, se não vai”.
a fotografia é de mulheres noite e você vai deixar o teu .olhadela diz que o ideal seria
tomando banho de sol. jornal lá também”. a empresa possuir um software
Em A Crítica, nos dias normais, de gerenciamento do clima:
4 A CHUVA E A o encalhe é de 7 a 8%. “O ideal é “É o ideal. Isso aí seria o ideal.
CIRCULAÇÃO DOS JORNAIS que dê sempre menos de 9%. Eu Porque você evita estragar papel,
Como se vê, a chuva é de suma trabalho com um encalhe, eu ainda mais que o papel é em
importância para o jornalismo em como Gerente, Herval, trabalho dólar, então, quanto mais encalhe
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julho/dezembro-2002
14. Artigo
voltar para dentro da empresa é trabalha, basicamente, com assina- que é o Instituto Nacional de
porque você está estragando turas, de acordo com o Secretário Meteorologia. Nós trabalhamos
papel. Esse é o papel principal do de Redação do jornal, Eustáquio muito com ele para trabalhar com
gerente de circulação: é controlar Libório Gomes (2002). O jornal a circulação no dia posterior.
o encalhe. Tentar vender a maior Diário do Amazonas, que não tem Então, dependendo do que vem a
quantidade possível de jornais, na site na Internet, levou em conta ser a previsão do tempo, nós
rua, mas não perder de foco o até a questão do inverno amazô- aumentamos ou diminuímos a
encalhe”. nico para adiar o retorno do site à circulação”.
O jornal Amazonas em Tempo Internet, como explica seu vice- De acordo com seu vice-
também não possui um software presidente, .rancisco Cirilo Anun- presidente, o jornal Diário do
para gerenciar a questão climá- ciação Neto (2002): Amazonas circula, em média,
tica, ou seja, da previsão do “Quando foi a época, nós entre 18 e 22 mil jornais, nos dias
tempo. O Supervisor de Circulação estamos agora em maio, quando de semana. Nos dias de chuva, a
do jornal, Aderaldo Vasconcelos foi a época de novembro, dezem- tiragem do jornal cai 30%, indo de
.erreira (2002), revela que o bro, nós decidimos colocar o site e 15 a 17 mil jornais. Mas esse não
gerenciamento foi todo progra- tal, fizemos contrato com o Portal é o único problema provocado
mado por ele. “É porque a minha Amazônia para colocarmos o site, pela chuva, segundo Anunciação
área é processamento de dados. entretanto tivemos um receio. Nós Neto: “É o seguinte, a chuva não
Então, eu tenho o meu sistema. estávamos no inverno amazônico. atrapalha só a venda, ela atrapa-
Então, eu controlo tudo. É meu. Eu Você sabe que os jornais em lha também a distribuição. Nós
criei o software: tem planilha, janeiro, fevereiro e março têm temos uma circulação hoje, no jor-
tudo, gráfico. Antes isso aqui não uma retração nas suas vendas. nal, voltada muito para a diminui-
era informatizado. Eu informatizei Natural, em decorrência das ção de custos e trabalhada muito
tudinho”. chuvas. Da época de chuvas. Então, em cima de geoprocessamento.
O controle da chuva não é feito nós ficamos com uma outra Então, nós trabalhamos hoje com
questão também que não tínha- 34 rotas de distribuição do jornal
através de nenhum software nem
mos como avaliar: se a entrada em motos. Nós não temos distri-
com base em nenhum convênio
do site na Internet diminuiria o buição em Kombis, em carros, em
com instituto. É feito somente
nosso público-alvo, ou seja, vendas nenhum tipo de veículo de quatro
com base nos conhecimentos do
em bancas”. rodas. Nós trabalhamos apenas
próprio Supervisor de Circulação
Anunciação Neto explica que com motos, por causa do custo. O
do jornal. É “na minha tese mesmo.
nos meses de janeiro, fevereiro nosso jornal é R$ 0,50 e, então,
Porque eu já conheço o tempo. Por
e março há uma retração natural isso dificulta para o distribuidor,
exemplo, aqui, Gilson, só para te
nas vendas dos jornais, em que ganha apenas 10% em cima
dizer, à noite, a gente olha para o
bancas, em função das chuvas. do jornal”.
céu e já sabe quando vai chover,
Essa retração nas vendas varia de Ele acrescenta: “Há de se
quando não vai. Você, já acostu- 10 a 25%. “Você conhece o nosso salientar que a gente faz o jornal
mado aqui, trabalho, aquela rotina aspecto climático, aqui. Sabe que, mais barato do país em termos de
de trabalho, já conhece”. Ele re- às vezes, quando cai uma tempes- qualidade e tiragem. Vou te dar só
velou que quando sabe que em tade muito forte, é impossível até um exemplo: o Liberal, de Belém,
um bairro está chovendo, trans- você sair de casa. Quanto mais está trabalhando com o preço de
fere a circulação de jornais para comprar o jornal. E você tem um capa de R$ 1,70. E o nosso projeto
outros bairros. problema muito grave: a maioria é um projeto popular, um projeto
Nos dias normais, o encalhe do das chuvas dessa época está em todo mundo, e isso eu vou falar
jornal Amazonas em Tempo varia localizada no período de 2h até às também para ti, no âmbito
de 28 a 30%. Nos dias de chuva, a 10h da manhã”. Internet, para colocar uma outra
circulação diminui entre 12 e 15%. O executivo acrescenta que o pulga atrás da tua orelha, pra tu
.erreira comenta: “Eu diminuo acompanhamento do clima e dos também fazeres um outro tipo de
entre 12 e 15%. Porque são aqueles impactos desse na circulação do pesquisa, mas no jornal popular,
pontos em que as pessoas ficam jornal é feito diariamente e com uma das características principais
nos cruzamentos. Aí, puxa, eu não base em pesquisa: dele e está 50% do preço de capa
vou colocar gente pegando chuva “Nós temos pesquisas para mais barato do que o jornal dito
direto, vendendo jornal”. isso. A pesquisa que a gente faz tradicional. No caso aqui, nós temos
O Jornal do Commercio não disso daí é o acompanhamento hoje um concorrente nosso que é A
gerencia a questão da chuva, pois diário da circulação e do INMET, Crítica. A Crítica hoje está R$ 1,00
15
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15. C omunicação Artigo
e os jornais do resto do país estão inverno amazônico, aí já vamos “Principalmente em Brasília, que
trabalhando, no mínimo, com a entrando, mês de maio é o último nós temos uma sucursal, com
faixa de R$ 1,50. Tu tens aí o mês de chuvas. Na metade de repórter, com diretor. Então, lá tem
Liberal, já do lado, a R$ 1,70. Dado junho para lá você já vai ter nosso que ter A Crítica para distribuir
aí a última taxa de aumento do insuportável verão amazônico que para os gabinetes dos políticos. É
dólar, o dólar nos últimos semes- aí as chuvas já são extremamente justamente para isso. O impor-
tres influi diretamente no papel, na escassas”. tante não é nem a venda. O
chapa e no filme. Tinta, químicos Percebe-se que o ciclo das importante é A Crítica estar lá”.
são os insumos básicos para a águas não influencia apenas a Só nas bancas de Manaus, de
produção gráfica do jornal. Então, produção, a cultura e a economia acordo com .olhadela, o jornal A
eles têm uma incidência desigual”. do homem que habita o beiradão Crítica venderia entre 18 e 20 mil
O desafio do jornal Diário do dos rios. Com a escassez das exemplares por dia. Ao falar sobre
Amazonas, então, é manter o chuvas, a partir de maio, o mer- as máquinas do jornal, o Diretor
preço. Mas, como manter o preço? cado de jornais começa a viver o Industrial de A Crítica, Aroldo
A resposta é dada pelo próprio momento de reaquecimento das Caminha (2002), contribuiu para
Anunciação Neto: “Como manter vendas. Esse reaquecimento das ressaltar a contração entre os
o preço? Aí é uma das nossas vendas em bancas, porém, não
número da circulação do jornal:
técnicas. Nós temos hoje uma faixa significa muito no faturamento
“A Crítica chegou a vender 87 mil
de encalhe de 6% apenas de jornal. das empresas.
jornais aos domingos e vendia 36
Nós trabalhamos com um software, mil na semana. Quando essa
o mesmo software do jornal O
5 SEGREDOS E
CONTRADIÇÕES máquina entrou aqui (a nova
Globo e da maioria dos grandes máquina), ainda vendia 32 mil
jornais do País, que é o software O reaquecimento do mercado jornais na semana. Agora está
Circulação 2000, fabricado por de jornais, em Manaus, não vendendo 22 mil”.
uma empresa chamada CWA, que significa transparência em relação O diálogo a seguir, travado
é de programadores do próprio O à circulação. Os números reais entre o pesquisador, o Superinten-
Globo, e esse software faz uma sobre a circulação de jornais dente da Rede Calderaro de
tiragem extremamente técnica, parecem ser um segredo de Comunicação, João Bosco Bezerra
calculada com base nas vendas do estado, ou o são, no mínimo, de Araujo (2002) e a vice-
jornal e no encalhe de jornais. contraditórios. Em primeiro lugar, presidente da Rede Calderaro de
Então, ele faz um trabalho todo de nenhum jornal é associado ao Comunicação, Tereza Cristina
estatística em cima desse software, Instituto Verificador de Circulação Calderado Corrêa (2002), ilustra
aliado com outros fatores como (IVC) ou a qualquer outro instituto bem a dissonância entre os
matérias de maior impacto que vão que fiscalize a circulação com a números da circulação dentro da
ser lançadas na edição, bem como isenção necessária. Com isso, fica-
própria empresa.
o aspecto climático”. se sem saber em quem acreditar.
A questão climática, no Diário O gerente de Circulação do – Quanto A Crítica circula? São
do Amazonas, determina até a jornal A Crítica, Herval Tapajós números que podem ser
entrada em vigor das promoções: .olhadela, por exemplo, revela: divulgados?
“Nós acompanhamos todo dia aí o “A nossa tiragem hoje, dia de – (João Bosco) Divulga, Cristina?
INMET para saber a questão semana, de segunda a sábado, fica, – (Cristina) Terça-feira, 25 mil,
climática. Há de se salientar que em média, 25 a 27 mil. Sendo que é o dia mais fraco, depois, nos
o INMET acerta aí em torno de 90% 70 a 80%, dependendo muito da três dias da semana ficam
dos seus prognósticos. É uma manchete, fica todo aqui na capital, entre 28 e 29 mil, depen-
ferramenta importantíssima. E em Manaus. Nós temos, dentro dendo.
também um fator que nós usamos desses 27 mil, 7 mil assinantes e o – (João Bosco) Trinta.
mais em um jornal popular que é que sobra e distribuído para o
a questão das promoções. Nós interior e para os outros estados. É – (Cristina) Hoje, por exemplo,
estamos hoje vivendo a promoção pouquinho. Nos outros estados fica nós aumentamos 60% na
“Na Copa com o Diário”, que é levar em torno de 1 mil jornais, divididos tiragem. No domingo, 50, 55
mil.
um leitor nosso à Copa. Então, entre São Paulo, Rio, Brasília,
naturalmente, nós fizemos essa .ortaleza e Boa Vista”. – Esse aumento é em função do
promoção já em cima do nosso Os 1.000 jornais enviados a fato jornalístico?
cronograma que já é do reaque- outros estados, segundo o – (Cristina) Até o tempo.
cimento. Nós estamos no final do gerente, são para marcar presença. Climático.
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julho/dezembro-2002
16. Artigo
– (João Bosco) Se não chove, a iluminar a escuridão relativa à Gazeta Mercantil, de um total
manchete. circulação de jornais em Manaus. geral de 6.224 exemplares. .oram
– (Cristina) Agora, Semana da As pesquisas foram realizadas vendidos 2.400 exemplares do
Pátria, edições um pouco pela empresa Perspectiva no dia jornal A Crítica, 2.187 do jornal
mais reduzidas. Por quê? 19 de junho, uma terça-feira, e no Diário do Amazonas, 225 do jornal
Porque tem .ecani (.estival dia 16 de julho, uma segunda- Amazonas em Tempo, 40 do Jornal
da Canção de Itacoatiara), feira. Há que se esclarecer ainda do Commercio e 12 do jornal
.estival de Verão em que, na segunda-feira, o jornal A Gazeta Mercantil.
Manacapuru. Crítica não circulava há anos e o Esses números revelam que
Já o diálogo com o Supervisor jornal Amazonas em Tempo o jornal A Crítica vendeu 80,7%
de Circulação do jornal Amazonas mantém a tradição de não circular. dos exemplares deixados nos
em Tempo, Aderaldo Vasconcelos De terça-feira a domingo todos os pontos de vendas; o jornal Diário
.erreira (2002) revela que jornais que fazem parte desta do Amazonas vendeu 78,1%; o
naquela empresa os números da pesquisa circulam normalmente. Amazonas em Tempo vendeu
circulação são tratados como Os dados aqui apresentados não 70,8%; o Jornal do Commercio
segredos de estado. desvendam os segredos nem são vendeu 59,7% e o jornal Gazeta
capazes de dirimir as dúvidas e Mercantil, 52,2%. Isso significa
– E quanto circula: venda contradições a respeito da que, no dia 19 de junho de 2001,
avulsa, assinatura? Tu podes
circulação de jornais em Manaus. o encalhe de cada um dos jornais
me dar esses dados?
No entanto, apontam indicadores que fazem parte desta tese, foi
– (Aderaldo) Não. Esses dados, do comportamento das vendas muito maior do que o que
não. Em termos assim de dos jornais em pontos de vendas revelaram seus executivos.
tiragem não. Aí tens que falar fixos. Naquela data, por exemplo, o
com a diretoria. Eu não estou Na pesquisa referente ao dia encalhe de A Crítica foi de 19,3%,
autorizado a passar isso. 19 de junho de 2001,* seis o do Diário do Amazonas foi de
– Não dá para passar esse pesquisadores da empresa Pers- 21,9%; o do Jornal do Commercio
número da circulação. pectiva estiveram em 167 pontos de 40,3% e da Gazeta Mercantil de
– (Aderaldo) Não. Esse, não. fixos de vendas de jornais em 47,8%. Dos 6.224 exemplares
seis zonas da cidade de Manaus. recebidos nos pontos de vendas,
– Tem que falar com a
Os pesquisadores tinham uma foram vendidos 4.894 exemplares.
Hermengarda?
planilha preparada especifica- Em números percentuais, foram
– (Aderaldo) Isso. mente para anotar quantos vendidos 78,6% dos exemplares
Segundo Anunciação Neto exemplares dos jornais A Crítica, recebidos de todos os jornais. Isso
(2002) o jornal Diário do Diário do Amazonas, Amazonas significa que o encalhe médio de
Amazonas circula de 18 a 22 mil em Tempo, Jornal do Commercio todos os jornais de Manaus nos
jornais durante a semana. Quem e Gazeta Mercantil eram pontos de vendas, naquele dia
garante, porém, que todos os recebidos nesses pontos de ven- pesquisado, foi de 21,4%, número
números relativos à circulação de das. Depois, anotavam quantos quase três vezes maior do que o
jornais, em Manaus, não estejam exemplares dos respectivos encalhe médio de 6 a 9% revelados
inflados? Durango Duarte, jornais foram vendidos. Para pelos executivos das empresas
diretor-presidente da empresa de efeito de pesquisa, a empresa jornalísticas de Manaus.
pesquisa Perspectiva diz que, tomou como pontos fixos de Para efeito de projeção, a
juntos, os quatro jornais de vendas as lojas de conveniência, empresa Perspectiva calcula que
Manaus não chegam a circular os pontos de vendas avulsas e as todos os jornais de Manaus,
com 50 mil exemplares durante bancas de jornais. Não fizeram juntos, nos pontos fixos de
a semana. Aliás, para efeito de parte da amostra os jornais vendas na cidade, vendem, diaria-
pesquisas relativas ao market vendidos pelos jornaleiros, no mente, 25 mil exemplares. Com
share, a Perspectiva trabalha trânsito, nem as assinaturas. base nesse número, pode dizer
sempre com a projeção de que Os pontos de vendas rece- que, de terça-feira a sábado, o
todos jornais de Manaus, em beram 2.975 exemplares do jornal jornal A Crítica venderia, nos
conjunto, nos dias de semana, A Crítica, 2.799 do jornal Diário pontos fixos, 12.250 exemplares,
vendem 25 mil exemplares. do Amazonas, 360 do jornal o Diário do Amazonas, 11.175; o
Duas pesquisas realizadas pela Amazonas em Tempo, 67 do Amazonas em Tempo, 1.300; o
empresa Perspectiva podem Jornal do Commercio e 23 da Jornal do Commercio, 200 e o
* Os dados aqui apresentados foram gentilmente cedidos pela empresa de pesquisa de Mercado Perspectiva e fazem parte do seu banco de dados.
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