O documento descreve o Prisma, um aparelho desenvolvido por estudantes da Poli-USP para ajudar pessoas com deficiência visual. O Prisma identifica as cores de cédulas e fala o valor em voz alta, permitindo que cegos e pessoas com baixa visão manuseiem dinheiro de forma independente. Atualmente os pesquisadores buscam apoio para produzir o Prisma em escala industrial e doá-lo para instituições que auxiliam deficientes visuais.
1. II – São Paulo, 121 (107) Diário Oficial Poder Executivo - Seção I quarta-feira, 8 de junho de 2011
Geraldo Alckmin - Governador
Volume 121 • Número 107 • São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 2011 www.imprensaoficial.com.br
Engenheiros
de visão
Aparelho criado na Poli-USP identifica Com apenas 2 botões, um
cédulas pela cor e fala o valor para pessoas das cores, outro para o
dinheiro, o Prisma cabe na
com limitações visuais palma da mão
A
creditar na boa-fé das pessoas.
FOTOS: FERNANDES DIAS PEREIRA
Assim é o dia a dia da maioria dos
deficientes visuais no Brasil.
Reginaldo Prado, que há 28 anos
convive com essa limitação, sente a
dificuldade toda vez que necessita ir
ao supermercado ou utilizar um
táxi. A dúvida é sempre a mesma:
“Será que recebi o troco correta-
mente?”, questiona. Pensando
numa solução para as pessoas com apenas duas pilhas alcalinas e possui dois de novos investidores para a produção em dos uma pessoa se torna cega no mundo.
baixa visão, os engenheiros da botões: um das cores, outro para o dinhei- escala industrial. Do total de casos de cegueira, 90% ocorrem
Politécnica da Universidade de São ro. Ambas as funções são narradas pelo A Auire Tecnologias Acessivas (empresa nos países em desenvolvimento e subde-
Paulo, Fernando Gil e Nathalia alto-falante. criadora do Prisma) fará doação de 150 equi- senvolvidos. Até 2020, o número de defi-
Patrício, criaram equipamento que Na opinião de Reginaldo, o aparelho pamentos para a Fundação Dorina Nowill e cientes visuais poderá dobrar no mundo.
permite identificar cores e, por meio seria uma ferramenta importante para as para a Associação Brasileira de Assistência As principais causas no Brasil são catarata;
delas, o valor das cédulas de real. pessoas com deficiência visual, pois além ao Deficiente Visual Laramara. Para isso, glaucoma; retinopatia diabética; cegueira
A ideia surgiu em 2006, nas de identificar o dinheiro também serviria espera arrecadar R$ 60 mil com doações infantil e degeneração macular.
aulas de engenharia mecânica. Eles para dizer a cor das roupas. “Nem todos dos internautas nos próximos 30 dias. Basta
participavam do Projeto Poli-cidadã, têm uma pessoa 24 horas por dia ao seu colaborar, acesse o site www.benfeitoria. Anderson Moriel Mattos
programa criado em 2004. Em lado. Tenho certeza que facilitaria a minha com e participe da plataforma colaborativa Da Agência Imprensa Oficial
algumas disciplinas, os alunos são vida”, pensa. pioneira que apoia projetos sociais no Brasil.
desafiados pelos professores para O Prisma desenvolvido na Poli depende Todos os recursos empregados no desenvol-
desenvolverem novas propostas essencialmente de um led (pequena lâmpa- vimento do aparelho vieram de doações e
sustentáveis e acessíveis em edu- da) e três sensores ópticos. O led é respon- dos próprios pesquisadores.
cação, saúde, lazer, entre outras sável por fazer incidir sobre a superfície do
áreas. As atividades têm caráter objeto um flash de luz, que reflete de volta Números – Segundo o censo do
social, com a missão de aproximar a para o aparelho e chega até os três sensores Instituto Brasileiro de Geografia e
Universidade da sociedade. ópticos. Cada sensor é responsável por iden- Estatística (IBGE) de 2010 há no Brasil
A invenção de Nathalia e tificar uma das três cores básicas: vermelha, mais de 16,5 milhões de pessoas com algu-
Fernando saiu dos bancos esco- verde e azul (um sensor para cada cor). ma deficiência visual. Desse total, 148 mil
lares em 2006 e ganhou corpo têm perda total da visão; 2,5 milhões apre-
depois que eles participaram de Escala industrial – Fernando sentam grande dificuldade permanente de
feiras nos Estados Unidos. Lá, conta com o apoio de organizações nacio- enxergar (baixa visão ou visão subnormal);
conheceram um equipamento nais e internacionais como Unreasonable 14 milhões têm alguma dificuldade perma-
criado por pesquisadores ameri- Institute (empresa que apoia empreende- nente de enxergar, ainda que usando ócu-
canos, capaz de apenas identificar dores) TEDx (entidade que promove encon- los ou lentes.
cédulas de dólar, pela cor verde – tro de pensadores e inventores), Fundação Dados da Organização Mundial da
não dava para determinar o valor. Dorina Nowill, a Associação Brasileira de Saúde (OMS) indicam que a cada 5 segun-
A inovação uspiana vai além: iden- Assistência ao Deficiente Visual Laramara
tifica até 50 variações de cores e e USP.
todas as cédulas de real em circu- “Os deficientes visuais são o foco da
lação, incluindo as mais recentes. nossa pesquisa, pois além de melhorar a
O modelo criado pelos engenhei- autoestima deles, ainda há a recuperação
ros é o único disponível no Brasil. da autoconfiança em qualquer atividade
exercida.” Cada aparelho produzido custa-
Na palma da mão – Cha- rá, em média, R$ 450,00.
mado de Prisma, o primeiro pro- A invenção não tem patente. Está regis-
tótipo era grande demais e só fun- trada na plataforma de código livre (Open
cionava interligado a um computa- Source). “O código livre permitirá a qual- Aparelho identifica todas
dor. A versão final cabe na palma quer interessado pelo projeto o aperfeiçoa- as cédulas de real em
da mão. Mede 40 centímetros qua- mento sem problema de direitos autorais”, circulação, diz Fernando,
um de seus criadores
drados, é portátil, funciona com conta Fernando, que ainda aguarda o apoio