2. Aqueles que optam por cuidar e serem cuidados
por um cachorro, sem perceber, apropriam-se do
verdadeiro significado de suas próprias vidas. O
dono acompanha todas as etapas da vida
daquele que depende inteiramente dele. Quando
pequeno, tem suas noites maldormidas, já que o
filhote sente muita falta de sua mãe.
3. Há o período de aclimatação e apresentação,
quando ambos começam a se entender e
perceber que a troca pode favorecer a ambos.
Logo, em seguida, mais à vontade, o novo peludo
e rechonchudo habitante da casa começa a roer
chinelos, fazer xixi fora do local estipulado, é a
vida que se principia.
4. Depois vem a adolescência, o cachorro quer
brincar, passear, rolar na grama, esquentar o pelo
no calor do sol e fugir do refresco do banho
depois. Nesse período, tudo é novidade e
descoberta. Começa a atração pelo sexo oposto.
E o dono tem que tomar uma decisão dura:
castrar ou não. Disso vai depender a qualidade
de vida futura do cão. Para aqueles que optarem
pela segunda opção, receberão mais uma marca
indelével da vida: a cria da sua cria.
5. Posteriormente acontece um fenômeno que não
temos a possibilidade de acompanhar como seres
humanos. Nem mesmo os pais - com a revelação
da concepção, criação e tutoria educacional -
podem passar por esse processo. Já que eles
criam os filhos para o mundo e depois ficam à
sombra daqueles, com a sensação de missão
cumprida.
6. Nesse caso da relação homem cão, o “pai” se
torna “filho”. As relações se invertem. Agora o
cãozinho inspira cuidados e preocupações.
Começam a aparecer bicos de papagaio, notam-
se agora as dificuldades para superar os degraus
das escadas, o sono aumentado, os pelos
brancos que aparecem principalmente na face, o
tempo que vai polindo o animalzinho conforme o
seu desejo.
7. A caminhada final são as preocupações naturais
do gostar. Algumas doenças senis caninas dão um
susto nos donos, mas os cães não desistem. O
melhor exemplo é o do Acidente Vascular
Encefálico (AVE), quando o cachorro é acometido
por essa doença tende a se recuperar melhor que
o ser humano. Neste ponto, o dono começa a
pensar na possibilidade do fim da parceria.
8. Aqui o homem se apropria da brevidade da vida,
da do animal e da sua própria. Aquele ser
querido é um reflexo do que vai se dar na sua
vida e na de tantos outros queridos familiares e
amigos. A vida é uma sucessão de bons e maus
momentos, até que se encontra o que os
jogadores procuram tanto nos games, o final.
9. Mas depois fica a presença eterna do animal. Sua
vida se modificou tanto. Aprendeu tanto com ele
e vice-versa, que é impossível excluí-lo para
sempre da memória. A morte nos rouba a
companheira, todavia não faz o mesmo com as
lembranças. Objetos, momentos, situações, tudo
faz pensar que valeu a pena. E que alma gigante
que ela tinha, o próprio Pessoa iria se
impressionar. Descanse em paz, querida Maggie,
pois seus últimos momentos foram duríssimos.
10.
11. Maggie
“De vira-lata a senhora de si que ensinou como a vida é bonita a
toda uma família”
01/09/1997 – 27/05/2013
Postado originalmente no blog
Surpresas Animais http://surpresasanimais.blogspot.com.br