SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 8
Baixar para ler offline
A Afinação do Piano
Características Musicais e Acústicas
Francisco Motta – Técnico-afinador de Pianos
12/2008 - Belo Horizonte –MG - www.piano.kit.net
Ainda nas fases iniciais da aprendizagem de qualquer instrumento musical cedo ou tarde
haverá alguma menção sobre sua afinação. Aprender a afinar seu próprio instrumento como
um trompete ou violão representa um bom passo na conquista de seu domínio.
É bem verdade que na maioria dos instrumentos, na verdade não se afina propriamente. Os
instrumentos, em geral, já foram fabricados para emitirem todas as notas da escala em sua
extensão. O fabricante predefiniu a afinação tendo o instrumentista apenas que ajustar uma
ou mais notas iniciais que são base daquele sistema tonal pré-estabelecido.
Em geral, pianistas (e aqui é bom que se alerte para as devidas exceções) vêem a frente de seu
instrumento um grande abismo. A visão do teclado e dos pedais muitas vezes encerra o que se
sabe sobre ele. Para muitos se é um instrumento misterioso.
Por ser complexa e exaustiva, a afinação é realizada por profissional específico. Paradoxal é a
contratação do um serviço profissional de afinação de pianos, realizado na maioria das vezes
por um técnico não-músico.
Ser pianista não é quesito importante no currículo de um grande técnico-afinador. Renomados
profissionais regulam e afinam competentemente os pianos dos grandes instrumentistas sem
dominarem minimamente a técnica pianística ou as funções harmônicas. Há um projeto deste
técnico de investigar qual seria a colaboração de um diálogo mais profundo entre Técnica e
Tecnologia pianística.
Neste segundo texto desta série “Anotações sobre Tecnologia Pianística” vamos enumerar as
questões acústicas e metodológicas da afinação do piano como base para detectar as
fundamentais diferenças entre um piano ideal e o real.
Visão geral do sistema acústico de um piano
• Um piano possui em média 230 cordas entre fios de aço e bordões (que são os fios que
receberam rolamentos de cobre para aumentar seu peso). A espessura destes fios
varia de 0.75 a 1.65 milímetros.
• O encordoamento de um piano moderno é submetido a altas tensões que variam
entre 15 a 30 toneladas distribuídas pelos cavaletes, tampa harmônica e chapa de
ferro.
• As cordas do piano variam de 4,5 cm a 2,20 m de comprimento.
• Para cada nota musical pode-se utilizar de uma a três cordas afinadas em uníssono.
• As cordas são presas as cravelhas que, teoricamente, não podem ceder a tensão, ao
mesmo tempo em que tem de possibilitar ajustes finos.
O Fenômeno Inarmoni
Numa corda golpeada, a quantidade de tensão
restauradora que a faz oscilar.
do som.
Esta força restauradora recebe uma pequena, mas não desprezível
duro fio de aço carbono com os q
pequenos desvios inarmônicos alargando a série harmônica.
Em suma podemos dizer que a distorção inarmônica
espessura, tensão e comprimento da corda.
maiores os desvios, pois mais tensos serão aqueles seguimentos.
Reblitz (1976, p.53 tradução de Ricardo Goldenberg
“Pianos grandes têm cordas relativamente mais longas e menor
pequenos têm cordas cur
em conjunto com a intensidade relativa das
qualidade tonal de um piano. Esta é a causa dos graves pobres e pequenos de uma típica
espineta (pequenos pianos comuns na década de 60)
Este fenômeno dos inarmônicos incide principalmente no alargamento das
teclado. Se medirmos as freqüências após uma
acústico constataremos distorções possivelmente imensas em suas extremidades (até 50 cen
ou digamos, ½ semitom). A região média em geral se aproxima das intenções teóricas.
desvios são a mais nos agudo
contrabaixistas se mostram insatisfeitos com a afinação do piano nesta região).
Dois pianos iguais (mesmo modelo e idade) podem ter
que hoje, com a moderna fabricação
encontrar instrumentos praticamente idênticos.
Ricardo Goldemberg (2005) faz est
“Curiosamente, é justamente a “imperfeição” dos pianos um dos aspectos que os
transformaram num dos mais difundidos e aceitos instrumentos da cultura ocidental. A
Inarmonicidade
, a quantidade de tensão a ela submetida será a medida da força
restauradora que a faz oscilar. Ou seja, quanto maior a tensão maior será o tempo de duração
Esta força restauradora recebe uma pequena, mas não desprezível contribuição da rigidez do
duro fio de aço carbono com os quais são trefiladas as cordas. Esta colaboração provoca
pequenos desvios inarmônicos alargando a série harmônica.
Em suma podemos dizer que a distorção inarmônica de um piano resulta dos fatores:
espessura, tensão e comprimento da corda. Quanto menores as cordas e mais altas as parciais
maiores os desvios, pois mais tensos serão aqueles seguimentos.
tradução de Ricardo Goldenberg) comenta:
“Pianos grandes têm cordas relativamente mais longas e menor Inarmonicidade
pequenos têm cordas curtas e tenazes, com bastante Inarmonicidade. A Inarmonicidade
em conjunto com a intensidade relativa das várias parciais, determina, em grande parte, a
qualidade tonal de um piano. Esta é a causa dos graves pobres e pequenos de uma típica
(pequenos pianos comuns na década de 60), comparados aos graves ricos e
potentes de um piano de concerto.”
fenômeno dos inarmônicos incide principalmente no alargamento das sete
teclado. Se medirmos as freqüências após uma hipotética afinação perfeita de um piano
acústico constataremos distorções possivelmente imensas em suas extremidades (até 50 cen
A região média em geral se aproxima das intenções teóricas.
agudos a menos nos baixos (isto talvez explique porque tantos
contrabaixistas se mostram insatisfeitos com a afinação do piano nesta região).
Dois pianos iguais (mesmo modelo e idade) podem ter curvas de afinação diferentes. Mesmo
que hoje, com a moderna fabricação, extremamente fiel aos projetos de pianos
encontrar instrumentos praticamente idênticos.
Ricardo Goldemberg (2005) faz este comentário a respeito da personalidade de cada piano:
“Curiosamente, é justamente a “imperfeição” dos pianos um dos aspectos que os
transformaram num dos mais difundidos e aceitos instrumentos da cultura ocidental. A
submetida será a medida da força
Ou seja, quanto maior a tensão maior será o tempo de duração
contribuição da rigidez do
Esta colaboração provoca
de um piano resulta dos fatores:
e mais altas as parciais
Inarmonicidade. Pianos
Inarmonicidade,
várias parciais, determina, em grande parte, a
qualidade tonal de um piano. Esta é a causa dos graves pobres e pequenos de uma típica
, comparados aos graves ricos e
sete oitavas do
de um piano
acústico constataremos distorções possivelmente imensas em suas extremidades (até 50 cents
A região média em geral se aproxima das intenções teóricas. Os
(isto talvez explique porque tantos
contrabaixistas se mostram insatisfeitos com a afinação do piano nesta região).
curvas de afinação diferentes. Mesmo
extremamente fiel aos projetos de pianos, se possa
e comentário a respeito da personalidade de cada piano:
“Curiosamente, é justamente a “imperfeição” dos pianos um dos aspectos que os
transformaram num dos mais difundidos e aceitos instrumentos da cultura ocidental. A
Inarmonicidade das suas cordas é considerada uma qualidade desejada, comumente associada
com a idéia de “calor”. Sob este ponto de vista, o instrumento tem na sua “imperfeição” um
caráter distintivo que o aproxima da natureza humana e valoriza o seu poder de comunicação
Afinação através de Aparelhos Eletrônicos
O fenômeno da Inarmonicidade é que principalmente impede que a afinação do piano seja
realizada através de simples afinadores
Se o fizer a afinação será reta e se terá a impressão de que as regiões do teclado não estão
num mesmo diapasão. Não será possível
Como solução, alguns técnicos utilizam est
escala cromática, numa região central onde, como dissemos,
intenções teóricas, e em seguida alargam as oitavas e perfazem os uníssonos de forma Aural
(de ouvido).
No processo de fabricação do piano,
foram projetados para imprimir na afinação a curva adequada a cada modelo
Strobetuner).
Os primeiros aparelhos que surgiram para uso profissional (Acctuner, Yamaha PT
Verituner etc.) tinham a opção de sugestão de curvas de afinação hipotéticas que poderiam
amenizar problemas de inamornicidade sobretudo em pequenos pianos (no que a maioria dos
técnicos experientes acabava por entender que era mais prático continuar
Só recentemente foram inventadas soluções eletrônicas que tratam da questão da curva de
afinação de forma eficiente. São os
Ciber Tuner). Pode-se rapidamente realizar um processo no qual
amostras específicas do piano a se
personalizadas. Numa última atualização do “
conforme o “feeling” que o afinador que
associadas com a utilização de diversos tipos de
O uso destes dispositivos vem se tornando extremamente comum na Europa e Estados Unidos.
Apesar do alto custo para um Afinador de
eles acabam por serem muito vantajoso
• Possibilidade de registrar uma única vez o trabalho de medição da curva de
para todas as vezes que
das suas cordas é considerada uma qualidade desejada, comumente associada
com a idéia de “calor”. Sob este ponto de vista, o instrumento tem na sua “imperfeição” um
caráter distintivo que o aproxima da natureza humana e valoriza o seu poder de comunicação
e expressão artística.”
Típica Curva de Afinação de um pequeno piano Yamaha mod. C108
Afinação através de Aparelhos Eletrônicos
O fenômeno da Inarmonicidade é que principalmente impede que a afinação do piano seja
realizada através de simples afinadores eletrônicos fabricados para afinar outros instrumentos
Se o fizer a afinação será reta e se terá a impressão de que as regiões do teclado não estão
num mesmo diapasão. Não será possível ouvir oitavas consonantes.
Como solução, alguns técnicos utilizam estes aparelhos eletrônicos para dividir os semitons da
escala cromática, numa região central onde, como dissemos, em geral se aproximam mais das
, e em seguida alargam as oitavas e perfazem os uníssonos de forma Aural
so de fabricação do piano, os fabricantes dispõem de aparelhos especiais que já
para imprimir na afinação a curva adequada a cada modelo
Os primeiros aparelhos que surgiram para uso profissional (Acctuner, Yamaha PT
Verituner etc.) tinham a opção de sugestão de curvas de afinação hipotéticas que poderiam
amenizar problemas de inamornicidade sobretudo em pequenos pianos (no que a maioria dos
técnicos experientes acabava por entender que era mais prático continuar de forma Aural).
Só recentemente foram inventadas soluções eletrônicas que tratam da questão da curva de
afinação de forma eficiente. São os “Softwares Afinadores de Pianos” (Tunelab e Reyburn
se rapidamente realizar um processo no qual o software “escuta” e analisa
amostras específicas do piano a ser afinado em seguida propõe precisas curvas de afinação
. Numa última atualização do “Tunelab”, estas curvas podem ser ainda alteradas
conforme o “feeling” que o afinador quer imprimir, a partir de ênfases em certos intervalos
associadas com a utilização de diversos tipos de combinações de parciais.
O uso destes dispositivos vem se tornando extremamente comum na Europa e Estados Unidos.
Apesar do alto custo para um Afinador de Pianos profissional adquirir um destes dispositivos
muito vantajosos. Veja alguns benefícios:
Possibilidade de registrar uma única vez o trabalho de medição da curva de
todas as vezes que se vai afinar um mesmo piano;
das suas cordas é considerada uma qualidade desejada, comumente associada
com a idéia de “calor”. Sob este ponto de vista, o instrumento tem na sua “imperfeição” um
caráter distintivo que o aproxima da natureza humana e valoriza o seu poder de comunicação
O fenômeno da Inarmonicidade é que principalmente impede que a afinação do piano seja
outros instrumentos.
Se o fizer a afinação será reta e se terá a impressão de que as regiões do teclado não estão
es aparelhos eletrônicos para dividir os semitons da
em geral se aproximam mais das
, e em seguida alargam as oitavas e perfazem os uníssonos de forma Aural
de aparelhos especiais que já
para imprimir na afinação a curva adequada a cada modelo (p. ex.
Os primeiros aparelhos que surgiram para uso profissional (Acctuner, Yamaha PT-100,
Verituner etc.) tinham a opção de sugestão de curvas de afinação hipotéticas que poderiam
amenizar problemas de inamornicidade sobretudo em pequenos pianos (no que a maioria dos
de forma Aural).
Só recentemente foram inventadas soluções eletrônicas que tratam da questão da curva de
(Tunelab e Reyburn
o software “escuta” e analisa
afinado em seguida propõe precisas curvas de afinação
”, estas curvas podem ser ainda alteradas
a partir de ênfases em certos intervalos,
O uso destes dispositivos vem se tornando extremamente comum na Europa e Estados Unidos.
dquirir um destes dispositivos
Possibilidade de registrar uma única vez o trabalho de medição da curva de inarmonia
• Sempre proceder com a mesma “insistência” na afinação conservando o piano e
garantindo uma extrema qualidade;
• Ter um grande auxílio na ocasião da afinação quando não se tem um ambiente
propício (lugares cheios de ruídos e interferências, escolas de música) ou um tempo
hábil para a afinação Aural;
• Usufruir de diversos recursos como: auxílio na mudança de diapasão, pré-entonação
visual, utilização de temperamentos históricos, manutenção de uma “carta” de
clientes etc.
• Poder ser utilizados nos minúsculos “Laptops” disponíveis no mercado e em outros
dispositivos como “Palms” e até em telefones celulares (“Smartphones”).
É importante que se diga que esta explanação feita acima sobre os softwares afinadores não
significa nenhuma diminuição do trabalho dos técnicos que utilizam a afinação Aural como
único recurso. Na verdade saber afinar qualquer piano apenas com o diapasão inicial é um pré
requisito para qualquer afinador profissional. Ainda, uma afinação fina (para recital) nunca
excluirá a necessidade de correções aurais.
Diapasão e Temperamento
Os pianos são projetados para um diapasão e um temperamento pré-definidos. Mesmo que se
possa alterar minimamente a freqüência de afinação, as tensões desejadas são calculadas
através da interação entre esta freqüência, a “escala” de encordatura, as características físicas
do tipo de aço das cordas, associadas às dimensões das cordas e cavaletes (ainda com a
estrutura interna que irá suportar tal tensão). Alguns pianos, de alta performance, tem uma
tensão elevadíssima cujas cordas chegam a ficar a 5% do ponto de rompimento (quebra). (Isto
explica porque é comum se perderem cordas, sobretudo nos agudos, de um Steinway
moderno).
O diapasão calibrado com o lá4(5) em 440hz é uma convenção recente e aceita
internacionalmente. Apenas algumas instituições como a Filarmônica de Berlim (lá4 444hz) e
algumas orquestras russas (lá4 446hz) mantém diapasões diferentes (vide o trecho inicial “Um
Cacoete” do documentário “Nelson Freire” de João Moreira Salles - 2003). Muita confusão foi
(é) gerada a respeito deste assunto. Com o desenvolvimento do piano e da natural
concorrência industrial, muitas freqüências foram utilizadas. No sec. XIX, num espaço de
apenas trinta anos, o diapasão variou de 430 a 450 Hz (lá4).
Afinadores de pianos muitas vezes se vêem em dilemas causados na escolha do diapasão.
Cantores, pianistas, dirigentes de orquestras e fabricantes de antigos pianos nem sempre
exigem a mesma freqüência.
Tecnicamente, a decisão pela mudança do diapasão de um piano deve ser norteada pelas
seguintes orientações:
• Qual é o diapasão existente no momento da afinação.
Não se muda o diapasão de um piano impunemente. Quanto maior for o passo, maior
será o número de tentativas até se estabilizar a afinação.
• Qual é o estado de conservação do
Se houver problemas de conservação como, por exemplo, incompetência do
cravelhame (afinação cedendo), oxidação das cordas ou períodos muito longos sem
afinação (desafinação radical), a tentativa será catastrófica ou em vão.
• Para qual diapasão o pia
Muitos velhos instrumentos não suportam altas freqüências, e a insistência pode
trazer danos ao piano mesmo que a médio ou longo prazo.
diapasão inferir ao determinado
“esconda” seu potencial.
• Qual a real vantagem de se modificar a afinação.
Muitas vezes a opção por um diapasão diferente não passa de um “frisson” musical.
Este técnico já teve que fazer malabarismos
necessário alterar minimamente quatro cordinhas de um violino ou seis de um violão
(mesmo se tendo que custear a
Afinação Simples).
É importante ter como estratégia de conservação
manutenções periódicas, seja
Temperamento Igual
Até agora tratamos da freqüência base (ou da nota inicial) para a afinação. Sobre como serão
organizados os 12 semitons da escala
resumida a seguinte questão:
Historicamente a música ocidental foi convencionando diversos temperamentos diferentes
que atendiam as várias maneiras como o ouvido humano interpretava os intervalos musicais.
Pode-se dizer que cada temperamento servia
época (ou vice versa).
Se tomarmos um intervalo de quinta pura e perfe
qual, digamos, a quinta é exatamente a me
não será possível retornar a nota inicial.
Os temperamentos históricos são exatamente as soluções que resolviam este problema de
acordo com as aspirações musicais de cada época. Historicamente foram tendendo à solução
de ceder as dissonâncias necessárias em
Qual é o estado de conservação do piano.
Se houver problemas de conservação como, por exemplo, incompetência do
cravelhame (afinação cedendo), oxidação das cordas ou períodos muito longos sem
afinação (desafinação radical), a tentativa será catastrófica ou em vão.
Para qual diapasão o piano foi fabricado.
Muitos velhos instrumentos não suportam altas freqüências, e a insistência pode
trazer danos ao piano mesmo que a médio ou longo prazo. Por outro lado um
diapasão inferir ao determinado pelo fabricante seguramente fará com que o piano
“esconda” seu potencial.
Qual a real vantagem de se modificar a afinação.
Muitas vezes a opção por um diapasão diferente não passa de um “frisson” musical.
já teve que fazer malabarismos num curto tempo para que não fosse
nimamente quatro cordinhas de um violino ou seis de um violão
(mesmo se tendo que custear a modificação – de 439 para 442 Hz - ao invés de uma
estratégia de conservação sempre exigir que o piano, em suas
periódicas, seja constantemente afinado num diapasão apropriado.
Até agora tratamos da freqüência base (ou da nota inicial) para a afinação. Sobre como serão
organizados os 12 semitons da escala cromática (temperamento) exponho de manei
a seguinte questão:
Historicamente a música ocidental foi convencionando diversos temperamentos diferentes
que atendiam as várias maneiras como o ouvido humano interpretava os intervalos musicais.
se dizer que cada temperamento servia ao tipo de música que era produzida em cada
Se tomarmos um intervalo de quinta pura e perfeita (p.e. la4 440hz e mi5 660hz
qual, digamos, a quinta é exatamente a metade do caminho para a oitava - no ciclo das quintas
será possível retornar a nota inicial.
Os temperamentos históricos são exatamente as soluções que resolviam este problema de
acordo com as aspirações musicais de cada época. Historicamente foram tendendo à solução
as dissonâncias necessárias em cada intervalo para se obter um todo
Se houver problemas de conservação como, por exemplo, incompetência do
cravelhame (afinação cedendo), oxidação das cordas ou períodos muito longos sem
afinação (desafinação radical), a tentativa será catastrófica ou em vão.
Muitos velhos instrumentos não suportam altas freqüências, e a insistência pode
Por outro lado um
pelo fabricante seguramente fará com que o piano
Muitas vezes a opção por um diapasão diferente não passa de um “frisson” musical.
tempo para que não fosse
nimamente quatro cordinhas de um violino ou seis de um violão
ao invés de uma
exigir que o piano, em suas
apropriado.
Até agora tratamos da freqüência base (ou da nota inicial) para a afinação. Sobre como serão
de maneira bem
Historicamente a música ocidental foi convencionando diversos temperamentos diferentes
que atendiam as várias maneiras como o ouvido humano interpretava os intervalos musicais.
ao tipo de música que era produzida em cada
ita (p.e. la4 440hz e mi5 660hz – 3:2) - na
no ciclo das quintas
Os temperamentos históricos são exatamente as soluções que resolviam este problema de
acordo com as aspirações musicais de cada época. Historicamente foram tendendo à solução
cada intervalo para se obter um todo homogêneo e
assim serem possíveis modulações e transposições com efeitos iguais (como pode ser
percebido no título dado por Bach ao “Cravo Bem Temperado”).
No Temperamento “Igual” todos os degraus da escala cromática têm uma rigorosa mesma
distância um do outro. Para tal as quintas são comprimidas e as quartas alargadas. As terças
então se tornam ásperas e vibrantes. Mas como esta “desafinação” é mínima, acaba passando
despercebida do ouvido musical que por outro lado pode usar qualquer tonalidade sem
preferência e realizar qualquer modulação sem nenhum prejuízo musical.
À distância entre dois semitons no Temperamento Igual se convencionou cem unidades (100
centésimos - cents).
Com a evolução do piano moderno e com Romantismo e seus cromatismos, o Temperamento
Igual se estabeleceu de forma generalizada.
A Afinação do Piano
As cravelhas do piano são extremamente duras. Cada corda reage diferentemente ao
tensionamento ou afrouxamento recebido. No entanto a afinação refere-se a micro ajustes
realizados num sistema que é ao mesmo tempo ultra sensível, instável e rude.
As ferramentas básicas são a chave de afinar, cunhas e tiras de borracha ou feltro para se
emudecer as cordas e o garfo diapasão.
A afinação é iniciada na região central onde se escolhe uma oitava para a divisão do
temperamento. Em seguida se expande as oitavas daquela seção, perfazendo os uníssonos e
enfim expandindo para todo o piano.
O que o afinador escuta são Batimentos (diferenças vibracionais tecnicamente evidenciadas). E
por comparação vai realizando testes com diversos intervalos até se obter o temperamento
desejado.
O tempo necessário para esta tarefa (se o piano estiver em boas condições e o ambiente for
propício) é de cerca de duas horas.
São problemas muito comuns que dificultam (impossibilitam) a qualidade da afinação:
• A presença de Falsos Batimentos.
Extremamente comuns nos pianos de média ou baixa qualidade, ou com
encordoamentos velhos, são oriundos de imperfeição na espessura da corda, gerados
por oxidação, erros na fabricação ou por mal acondicionamento da corda no cavalete;
• Ambientes com ruídos e interferências sonoras.
Sons de outros instrumentos, mesmo que em outras salas, ruídos de animais, água
saindo de torneiras, sacolas plásticas, baixas vibrações do trânsito nas ruas, ambientes
com muita reverberação (igrejas, alguns teatros vazios etc.);
• Piano com problemas de timbres.
Cujo som é exageradamente aberto (metálico) ou ao contrário, muito fechado.
Normalmente é preciso realizar uma pré-entonação mesmo que rudimentar.
• Pianos muito pequenos cuja curva de inarmonia é exageradamente protuberante.
• Situações de muita pressão psicológica e fadiga.
Tem-se pouco tempo para a tarefa, ou não sem tem clareza das possibilidades do
instrumento para certo evento, ou o contratante desconhece totalmente os processos
e tem expectativas muito acima das reais etc.
• Pianos com mecanismos desregulados ou com reparos pendentes. A afinação é um
serviço que finaliza os outros e não o contrário.
Existe necessidade de um melhor diálogo entre Técnica e Tecnologia
Pianística?
O afinador de pianos, em geral, tem sua função profissional pouco definida nas produções
musicais. Muitas vezes seu trabalho é encarado como um “serviço técnico” extremamente
externo ao processo musical. Muitas vezes este tem que seguir contrariado a orientações
extremamente subjetivas e proceder contra sua experiência e intimidade técnica com os
pianos. Muitas vezes sua opinião é levada para um patamar de ingenuidade musical - que de
fato possa ser verdadeira. Entretanto pode-se estar descartando 30, 40 ou 50 anos de
experiência profissional (temos por exemplo um colega altamente competente e experiente
que afinou piano para o lendário Horowitz e atendeu por vários anos Guiomar Novaes entre
outros grandes pianistas e orquestras).
É bem verdade que muitos pianistas sabem aproveitar as atribuições de um afinador de pianos
com muita sabedoria. Recentemente atendi um renomado pianista brasileiro. Foram 8 horas
de serviço em um Steinway B Hamburgo semi-novo. Ele acompanhou e participou
profundamente de parte das correções da regulagem e da entonação. Deu opiniões altamente
relevantes e construtivas mostrando sua grande experiência nos pianos de alta performance
pelo mundo. Sugeriu modificações, inclusive aquelas que saíam do padrão do fabricante, mas
que poderiam ser posteriormente revertidas. Contentou-se quando não podia atender a seu
pedido. Eu, em minha vez, o ajudei a posicionar o piano, servi de “dublê” para regulagem da
luz, marquei a posição da banqueta e até “assassinei” Mozart para que ele ouvisse o piano.
Durante o recital me pediu que permanecesse no teatro e que no intervalo corrigisse alguma
nota eventualmente desafinada.
Fui imensamente retribuído, junto com todos os presentes, naquela memorável apresentação
cujo programa possuía apenas duas Sonatas de Beethoven e as quatro Baladas de Chopin.
Perguntas que não sei responder:
• Diante do exposto, sobretudo no que se refere ao fenômeno da inamornicidade e
curvas de afinação com alteração de até 50 cents no agudo do piano, o que vem a ser
o tal “Ouvido Absoluto” ou “Perfeito”, que nunca se atentou para isto?
• O piano, que tem uma afinação imperfeita (face a Inarmonicidade e o temperamento
igual) e outros instrumentos pré afinados em temperamentos diferentes são afinados
e tocam juntos na mesma orquestra. É possível afinar uma orquestra?
• Porque tenho a impressão de que a necessidade de uma rigorosíssima afinação acaba
sucumbindo diante da profundidade de algum espetáculo musical, sendo o
absorvimento prejudicado apenas por relativas discrepâncias?
Referências Bibliográficas
REBLITZ, Arthur A., Piano Servicing, Tuning & Rebuilding, Vestal, NY: The Vestal Press, 1976.
SKUBIC, Michael, “Instruction Manual for Peterson AutoStrobe 490-ST Strobe Tuner”, Alsip, IL,
2002. Disponível na Internet: <www.petersontuners.com/support/pdfmanuals>
Goldemberg, Ricardo, “Aspectos Acústicos da Afinação de Pianos” – 2008: Apostila sobre o
tema
Matthias, Max. “Steinway Service Manual”; Berlim: E. Bochinsky, 1990

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Apostila-de-violao-avancado
Apostila-de-violao-avancadoApostila-de-violao-avancado
Apostila-de-violao-avancadoNando Costa
 
Apostila guto contra baixo n°vel 2
Apostila guto contra baixo n°vel 2Apostila guto contra baixo n°vel 2
Apostila guto contra baixo n°vel 2Silas Santana
 
Aula 1 - Flauta transversal - Nível 1 - Projeto Aprendiz VV - 2012
Aula 1 - Flauta transversal - Nível 1 - Projeto Aprendiz VV - 2012Aula 1 - Flauta transversal - Nível 1 - Projeto Aprendiz VV - 2012
Aula 1 - Flauta transversal - Nível 1 - Projeto Aprendiz VV - 2012Ramon Fávero
 
Apostila contra-baixo
Apostila contra-baixoApostila contra-baixo
Apostila contra-baixoeltoleon
 
Apostila de sonoplastia-2016_miqueas_almeida
Apostila de sonoplastia-2016_miqueas_almeidaApostila de sonoplastia-2016_miqueas_almeida
Apostila de sonoplastia-2016_miqueas_almeida7fire
 
Dez principios para um som melhor
Dez principios para um som melhorDez principios para um som melhor
Dez principios para um som melhorNeemias Moraes
 
Técnicas de registo áudio
Técnicas de registo áudioTécnicas de registo áudio
Técnicas de registo áudiospicy24
 
Apostila de saxofone
Apostila de saxofoneApostila de saxofone
Apostila de saxofoneSaulo Gomes
 
A prática do buzzing no ensino dos instrumentos de metal
A prática do buzzing no ensino dos instrumentos de metalA prática do buzzing no ensino dos instrumentos de metal
A prática do buzzing no ensino dos instrumentos de metalPartitura de Banda
 

Mais procurados (18)

19662014 saxofone-metodo-amadeu-russo
19662014 saxofone-metodo-amadeu-russo19662014 saxofone-metodo-amadeu-russo
19662014 saxofone-metodo-amadeu-russo
 
Apostila-de-violao-avancado
Apostila-de-violao-avancadoApostila-de-violao-avancado
Apostila-de-violao-avancado
 
Apostila guto contra baixo n°vel 2
Apostila guto contra baixo n°vel 2Apostila guto contra baixo n°vel 2
Apostila guto contra baixo n°vel 2
 
Sonoplastia
SonoplastiaSonoplastia
Sonoplastia
 
Som rouco
Som roucoSom rouco
Som rouco
 
Aula 1 - Flauta transversal - Nível 1 - Projeto Aprendiz VV - 2012
Aula 1 - Flauta transversal - Nível 1 - Projeto Aprendiz VV - 2012Aula 1 - Flauta transversal - Nível 1 - Projeto Aprendiz VV - 2012
Aula 1 - Flauta transversal - Nível 1 - Projeto Aprendiz VV - 2012
 
Apostila contra-baixo
Apostila contra-baixoApostila contra-baixo
Apostila contra-baixo
 
Apostila contra-baixo
Apostila contra-baixoApostila contra-baixo
Apostila contra-baixo
 
Apostila de sonoplastia-2016_miqueas_almeida
Apostila de sonoplastia-2016_miqueas_almeidaApostila de sonoplastia-2016_miqueas_almeida
Apostila de sonoplastia-2016_miqueas_almeida
 
Apt000007
Apt000007Apt000007
Apt000007
 
Estudos de bateria[0]
Estudos de bateria[0]Estudos de bateria[0]
Estudos de bateria[0]
 
Sonoridade _como_melhorar_meu_som.
Sonoridade  _como_melhorar_meu_som.Sonoridade  _como_melhorar_meu_som.
Sonoridade _como_melhorar_meu_som.
 
A Arte Da Mixagem Em Portugues
A Arte Da Mixagem Em PortuguesA Arte Da Mixagem Em Portugues
A Arte Da Mixagem Em Portugues
 
Dez principios para um som melhor
Dez principios para um som melhorDez principios para um som melhor
Dez principios para um som melhor
 
Apostiladeviolao
ApostiladeviolaoApostiladeviolao
Apostiladeviolao
 
Técnicas de registo áudio
Técnicas de registo áudioTécnicas de registo áudio
Técnicas de registo áudio
 
Apostila de saxofone
Apostila de saxofoneApostila de saxofone
Apostila de saxofone
 
A prática do buzzing no ensino dos instrumentos de metal
A prática do buzzing no ensino dos instrumentos de metalA prática do buzzing no ensino dos instrumentos de metal
A prática do buzzing no ensino dos instrumentos de metal
 

Destaque

2015-11-23-e-Citizens-eng
2015-11-23-e-Citizens-eng2015-11-23-e-Citizens-eng
2015-11-23-e-Citizens-engTomislav Vracic
 
Pie Chart Slides
Pie Chart SlidesPie Chart Slides
Pie Chart Slidesacanton1
 
DECCAN TEC INSULATION CONTRACTING L.L.C
DECCAN TEC INSULATION CONTRACTING L.L.CDECCAN TEC INSULATION CONTRACTING L.L.C
DECCAN TEC INSULATION CONTRACTING L.L.CChetna Sehra
 
Presentation about Starbucks
Presentation about StarbucksPresentation about Starbucks
Presentation about StarbucksLizun_Zu
 
Presentation 2012-10-12-13 Value Chain Management in Transportation System v1
Presentation 2012-10-12-13 Value Chain Management in Transportation System v1Presentation 2012-10-12-13 Value Chain Management in Transportation System v1
Presentation 2012-10-12-13 Value Chain Management in Transportation System v1Nopporn Thepsithar
 
Andrew_Flynn_Circuit_‌Info
Andrew_Flynn_Circuit_‌InfoAndrew_Flynn_Circuit_‌Info
Andrew_Flynn_Circuit_‌InfoAndrew Flynn
 

Destaque (13)

2015-11-23-e-Citizens-eng
2015-11-23-e-Citizens-eng2015-11-23-e-Citizens-eng
2015-11-23-e-Citizens-eng
 
Trevor final cv2
Trevor final cv2Trevor final cv2
Trevor final cv2
 
lacl (1)
lacl (1)lacl (1)
lacl (1)
 
Pie Chart Slides
Pie Chart SlidesPie Chart Slides
Pie Chart Slides
 
Liability Insurance
Liability InsuranceLiability Insurance
Liability Insurance
 
DECCAN TEC INSULATION CONTRACTING L.L.C
DECCAN TEC INSULATION CONTRACTING L.L.CDECCAN TEC INSULATION CONTRACTING L.L.C
DECCAN TEC INSULATION CONTRACTING L.L.C
 
Narrative
NarrativeNarrative
Narrative
 
Film distribution
Film distributionFilm distribution
Film distribution
 
Presentation about Starbucks
Presentation about StarbucksPresentation about Starbucks
Presentation about Starbucks
 
Presentation 2012-10-12-13 Value Chain Management in Transportation System v1
Presentation 2012-10-12-13 Value Chain Management in Transportation System v1Presentation 2012-10-12-13 Value Chain Management in Transportation System v1
Presentation 2012-10-12-13 Value Chain Management in Transportation System v1
 
Andrew_Flynn_Circuit_‌Info
Andrew_Flynn_Circuit_‌InfoAndrew_Flynn_Circuit_‌Info
Andrew_Flynn_Circuit_‌Info
 
Historia cr
Historia crHistoria cr
Historia cr
 
El capitán alatriste
El capitán alatristeEl capitán alatriste
El capitán alatriste
 

Semelhante a Afinação de pianos

Afinação do clarinete
Afinação do clarineteAfinação do clarinete
Afinação do clarinetedrmoreirasilva
 
Clarinete artigo - afinação e entonação - por eduardo weidner
Clarinete   artigo - afinação e entonação - por eduardo weidnerClarinete   artigo - afinação e entonação - por eduardo weidner
Clarinete artigo - afinação e entonação - por eduardo weidnerJosé Aparecido Sabaine
 
História do Registro do Som: Som Analógico
História do Registro do Som: Som AnalógicoHistória do Registro do Som: Som Analógico
História do Registro do Som: Som AnalógicoEmanuel Limeira
 
Apostila contra-baixo
Apostila contra-baixoApostila contra-baixo
Apostila contra-baixoMiranda Fase
 
Metodo Sax Porteghese
Metodo Sax PortegheseMetodo Sax Porteghese
Metodo Sax Portegheseguest26a46b
 
72254768 apostila-de-violao-avancado
72254768 apostila-de-violao-avancado72254768 apostila-de-violao-avancado
72254768 apostila-de-violao-avancadoGuilherme Silvestre
 
Fisica do violino
Fisica do violinoFisica do violino
Fisica do violinoSaulo Gomes
 
Apostila de-violao-avancado
Apostila de-violao-avancadoApostila de-violao-avancado
Apostila de-violao-avancadoSaulo Gomes
 
Saxofone método - amadeu russo
Saxofone   método - amadeu russoSaxofone   método - amadeu russo
Saxofone método - amadeu russoSaulo Gomes
 
Aclavemaio11 110729180841-phpapp01
Aclavemaio11 110729180841-phpapp01Aclavemaio11 110729180841-phpapp01
Aclavemaio11 110729180841-phpapp01Saulo Gomes
 
Fisica do violino (www.sheetmusic-violin.blogspot.com)
Fisica do violino (www.sheetmusic-violin.blogspot.com)Fisica do violino (www.sheetmusic-violin.blogspot.com)
Fisica do violino (www.sheetmusic-violin.blogspot.com)William Soph
 
Como tocar violão em 7 dias
Como tocar violão em 7 diasComo tocar violão em 7 dias
Como tocar violão em 7 diasSaulo Gomes
 
Clarinete método - aprendendo a tocar - por jorge nobre
Clarinete   método - aprendendo a tocar - por jorge nobreClarinete   método - aprendendo a tocar - por jorge nobre
Clarinete método - aprendendo a tocar - por jorge nobreSaulo Gomes
 
História da flauta apostila para flauta completa
História da flauta    apostila para flauta completa História da flauta    apostila para flauta completa
História da flauta apostila para flauta completa Abiderlan José Nogueira
 
Filarmónica XXI - 3.ª Edição
Filarmónica XXI - 3.ª EdiçãoFilarmónica XXI - 3.ª Edição
Filarmónica XXI - 3.ª EdiçãoRui Oliveira
 
Apresentação ot física
Apresentação ot   físicaApresentação ot   física
Apresentação ot físicaRonaldo Pimenta
 

Semelhante a Afinação de pianos (20)

Afinação do clarinete
Afinação do clarineteAfinação do clarinete
Afinação do clarinete
 
Clarinete artigo - afinação e entonação - por eduardo weidner
Clarinete   artigo - afinação e entonação - por eduardo weidnerClarinete   artigo - afinação e entonação - por eduardo weidner
Clarinete artigo - afinação e entonação - por eduardo weidner
 
História do Registro do Som: Som Analógico
História do Registro do Som: Som AnalógicoHistória do Registro do Som: Som Analógico
História do Registro do Som: Som Analógico
 
Instrumentos musicas
Instrumentos musicasInstrumentos musicas
Instrumentos musicas
 
Apostila contra-baixo
Apostila contra-baixoApostila contra-baixo
Apostila contra-baixo
 
Metodo Sax Porteghese
Metodo Sax PortegheseMetodo Sax Porteghese
Metodo Sax Porteghese
 
projeto
projetoprojeto
projeto
 
72254768 apostila-de-violao-avancado
72254768 apostila-de-violao-avancado72254768 apostila-de-violao-avancado
72254768 apostila-de-violao-avancado
 
Instrumentos musicais antigos
Instrumentos musicais antigosInstrumentos musicais antigos
Instrumentos musicais antigos
 
Fisica do violino
Fisica do violinoFisica do violino
Fisica do violino
 
Apostila de-violao-avancado
Apostila de-violao-avancadoApostila de-violao-avancado
Apostila de-violao-avancado
 
Saxofone método - amadeu russo
Saxofone   método - amadeu russoSaxofone   método - amadeu russo
Saxofone método - amadeu russo
 
Apostila 2
Apostila 2Apostila 2
Apostila 2
 
Aclavemaio11 110729180841-phpapp01
Aclavemaio11 110729180841-phpapp01Aclavemaio11 110729180841-phpapp01
Aclavemaio11 110729180841-phpapp01
 
Fisica do violino (www.sheetmusic-violin.blogspot.com)
Fisica do violino (www.sheetmusic-violin.blogspot.com)Fisica do violino (www.sheetmusic-violin.blogspot.com)
Fisica do violino (www.sheetmusic-violin.blogspot.com)
 
Como tocar violão em 7 dias
Como tocar violão em 7 diasComo tocar violão em 7 dias
Como tocar violão em 7 dias
 
Clarinete método - aprendendo a tocar - por jorge nobre
Clarinete   método - aprendendo a tocar - por jorge nobreClarinete   método - aprendendo a tocar - por jorge nobre
Clarinete método - aprendendo a tocar - por jorge nobre
 
História da flauta apostila para flauta completa
História da flauta    apostila para flauta completa História da flauta    apostila para flauta completa
História da flauta apostila para flauta completa
 
Filarmónica XXI - 3.ª Edição
Filarmónica XXI - 3.ª EdiçãoFilarmónica XXI - 3.ª Edição
Filarmónica XXI - 3.ª Edição
 
Apresentação ot física
Apresentação ot   físicaApresentação ot   física
Apresentação ot física
 

Afinação de pianos

  • 1. A Afinação do Piano Características Musicais e Acústicas Francisco Motta – Técnico-afinador de Pianos 12/2008 - Belo Horizonte –MG - www.piano.kit.net Ainda nas fases iniciais da aprendizagem de qualquer instrumento musical cedo ou tarde haverá alguma menção sobre sua afinação. Aprender a afinar seu próprio instrumento como um trompete ou violão representa um bom passo na conquista de seu domínio. É bem verdade que na maioria dos instrumentos, na verdade não se afina propriamente. Os instrumentos, em geral, já foram fabricados para emitirem todas as notas da escala em sua extensão. O fabricante predefiniu a afinação tendo o instrumentista apenas que ajustar uma ou mais notas iniciais que são base daquele sistema tonal pré-estabelecido. Em geral, pianistas (e aqui é bom que se alerte para as devidas exceções) vêem a frente de seu instrumento um grande abismo. A visão do teclado e dos pedais muitas vezes encerra o que se sabe sobre ele. Para muitos se é um instrumento misterioso. Por ser complexa e exaustiva, a afinação é realizada por profissional específico. Paradoxal é a contratação do um serviço profissional de afinação de pianos, realizado na maioria das vezes por um técnico não-músico. Ser pianista não é quesito importante no currículo de um grande técnico-afinador. Renomados profissionais regulam e afinam competentemente os pianos dos grandes instrumentistas sem dominarem minimamente a técnica pianística ou as funções harmônicas. Há um projeto deste técnico de investigar qual seria a colaboração de um diálogo mais profundo entre Técnica e Tecnologia pianística. Neste segundo texto desta série “Anotações sobre Tecnologia Pianística” vamos enumerar as questões acústicas e metodológicas da afinação do piano como base para detectar as fundamentais diferenças entre um piano ideal e o real. Visão geral do sistema acústico de um piano • Um piano possui em média 230 cordas entre fios de aço e bordões (que são os fios que receberam rolamentos de cobre para aumentar seu peso). A espessura destes fios varia de 0.75 a 1.65 milímetros. • O encordoamento de um piano moderno é submetido a altas tensões que variam entre 15 a 30 toneladas distribuídas pelos cavaletes, tampa harmônica e chapa de ferro. • As cordas do piano variam de 4,5 cm a 2,20 m de comprimento. • Para cada nota musical pode-se utilizar de uma a três cordas afinadas em uníssono. • As cordas são presas as cravelhas que, teoricamente, não podem ceder a tensão, ao mesmo tempo em que tem de possibilitar ajustes finos.
  • 2. O Fenômeno Inarmoni Numa corda golpeada, a quantidade de tensão restauradora que a faz oscilar. do som. Esta força restauradora recebe uma pequena, mas não desprezível duro fio de aço carbono com os q pequenos desvios inarmônicos alargando a série harmônica. Em suma podemos dizer que a distorção inarmônica espessura, tensão e comprimento da corda. maiores os desvios, pois mais tensos serão aqueles seguimentos. Reblitz (1976, p.53 tradução de Ricardo Goldenberg “Pianos grandes têm cordas relativamente mais longas e menor pequenos têm cordas cur em conjunto com a intensidade relativa das qualidade tonal de um piano. Esta é a causa dos graves pobres e pequenos de uma típica espineta (pequenos pianos comuns na década de 60) Este fenômeno dos inarmônicos incide principalmente no alargamento das teclado. Se medirmos as freqüências após uma acústico constataremos distorções possivelmente imensas em suas extremidades (até 50 cen ou digamos, ½ semitom). A região média em geral se aproxima das intenções teóricas. desvios são a mais nos agudo contrabaixistas se mostram insatisfeitos com a afinação do piano nesta região). Dois pianos iguais (mesmo modelo e idade) podem ter que hoje, com a moderna fabricação encontrar instrumentos praticamente idênticos. Ricardo Goldemberg (2005) faz est “Curiosamente, é justamente a “imperfeição” dos pianos um dos aspectos que os transformaram num dos mais difundidos e aceitos instrumentos da cultura ocidental. A Inarmonicidade , a quantidade de tensão a ela submetida será a medida da força restauradora que a faz oscilar. Ou seja, quanto maior a tensão maior será o tempo de duração Esta força restauradora recebe uma pequena, mas não desprezível contribuição da rigidez do duro fio de aço carbono com os quais são trefiladas as cordas. Esta colaboração provoca pequenos desvios inarmônicos alargando a série harmônica. Em suma podemos dizer que a distorção inarmônica de um piano resulta dos fatores: espessura, tensão e comprimento da corda. Quanto menores as cordas e mais altas as parciais maiores os desvios, pois mais tensos serão aqueles seguimentos. tradução de Ricardo Goldenberg) comenta: “Pianos grandes têm cordas relativamente mais longas e menor Inarmonicidade pequenos têm cordas curtas e tenazes, com bastante Inarmonicidade. A Inarmonicidade em conjunto com a intensidade relativa das várias parciais, determina, em grande parte, a qualidade tonal de um piano. Esta é a causa dos graves pobres e pequenos de uma típica (pequenos pianos comuns na década de 60), comparados aos graves ricos e potentes de um piano de concerto.” fenômeno dos inarmônicos incide principalmente no alargamento das sete teclado. Se medirmos as freqüências após uma hipotética afinação perfeita de um piano acústico constataremos distorções possivelmente imensas em suas extremidades (até 50 cen A região média em geral se aproxima das intenções teóricas. agudos a menos nos baixos (isto talvez explique porque tantos contrabaixistas se mostram insatisfeitos com a afinação do piano nesta região). Dois pianos iguais (mesmo modelo e idade) podem ter curvas de afinação diferentes. Mesmo que hoje, com a moderna fabricação, extremamente fiel aos projetos de pianos encontrar instrumentos praticamente idênticos. Ricardo Goldemberg (2005) faz este comentário a respeito da personalidade de cada piano: “Curiosamente, é justamente a “imperfeição” dos pianos um dos aspectos que os transformaram num dos mais difundidos e aceitos instrumentos da cultura ocidental. A submetida será a medida da força Ou seja, quanto maior a tensão maior será o tempo de duração contribuição da rigidez do Esta colaboração provoca de um piano resulta dos fatores: e mais altas as parciais Inarmonicidade. Pianos Inarmonicidade, várias parciais, determina, em grande parte, a qualidade tonal de um piano. Esta é a causa dos graves pobres e pequenos de uma típica , comparados aos graves ricos e sete oitavas do de um piano acústico constataremos distorções possivelmente imensas em suas extremidades (até 50 cents A região média em geral se aproxima das intenções teóricas. Os (isto talvez explique porque tantos contrabaixistas se mostram insatisfeitos com a afinação do piano nesta região). curvas de afinação diferentes. Mesmo extremamente fiel aos projetos de pianos, se possa e comentário a respeito da personalidade de cada piano: “Curiosamente, é justamente a “imperfeição” dos pianos um dos aspectos que os transformaram num dos mais difundidos e aceitos instrumentos da cultura ocidental. A
  • 3. Inarmonicidade das suas cordas é considerada uma qualidade desejada, comumente associada com a idéia de “calor”. Sob este ponto de vista, o instrumento tem na sua “imperfeição” um caráter distintivo que o aproxima da natureza humana e valoriza o seu poder de comunicação Afinação através de Aparelhos Eletrônicos O fenômeno da Inarmonicidade é que principalmente impede que a afinação do piano seja realizada através de simples afinadores Se o fizer a afinação será reta e se terá a impressão de que as regiões do teclado não estão num mesmo diapasão. Não será possível Como solução, alguns técnicos utilizam est escala cromática, numa região central onde, como dissemos, intenções teóricas, e em seguida alargam as oitavas e perfazem os uníssonos de forma Aural (de ouvido). No processo de fabricação do piano, foram projetados para imprimir na afinação a curva adequada a cada modelo Strobetuner). Os primeiros aparelhos que surgiram para uso profissional (Acctuner, Yamaha PT Verituner etc.) tinham a opção de sugestão de curvas de afinação hipotéticas que poderiam amenizar problemas de inamornicidade sobretudo em pequenos pianos (no que a maioria dos técnicos experientes acabava por entender que era mais prático continuar Só recentemente foram inventadas soluções eletrônicas que tratam da questão da curva de afinação de forma eficiente. São os Ciber Tuner). Pode-se rapidamente realizar um processo no qual amostras específicas do piano a se personalizadas. Numa última atualização do “ conforme o “feeling” que o afinador que associadas com a utilização de diversos tipos de O uso destes dispositivos vem se tornando extremamente comum na Europa e Estados Unidos. Apesar do alto custo para um Afinador de eles acabam por serem muito vantajoso • Possibilidade de registrar uma única vez o trabalho de medição da curva de para todas as vezes que das suas cordas é considerada uma qualidade desejada, comumente associada com a idéia de “calor”. Sob este ponto de vista, o instrumento tem na sua “imperfeição” um caráter distintivo que o aproxima da natureza humana e valoriza o seu poder de comunicação e expressão artística.” Típica Curva de Afinação de um pequeno piano Yamaha mod. C108 Afinação através de Aparelhos Eletrônicos O fenômeno da Inarmonicidade é que principalmente impede que a afinação do piano seja realizada através de simples afinadores eletrônicos fabricados para afinar outros instrumentos Se o fizer a afinação será reta e se terá a impressão de que as regiões do teclado não estão num mesmo diapasão. Não será possível ouvir oitavas consonantes. Como solução, alguns técnicos utilizam estes aparelhos eletrônicos para dividir os semitons da escala cromática, numa região central onde, como dissemos, em geral se aproximam mais das , e em seguida alargam as oitavas e perfazem os uníssonos de forma Aural so de fabricação do piano, os fabricantes dispõem de aparelhos especiais que já para imprimir na afinação a curva adequada a cada modelo Os primeiros aparelhos que surgiram para uso profissional (Acctuner, Yamaha PT Verituner etc.) tinham a opção de sugestão de curvas de afinação hipotéticas que poderiam amenizar problemas de inamornicidade sobretudo em pequenos pianos (no que a maioria dos técnicos experientes acabava por entender que era mais prático continuar de forma Aural). Só recentemente foram inventadas soluções eletrônicas que tratam da questão da curva de afinação de forma eficiente. São os “Softwares Afinadores de Pianos” (Tunelab e Reyburn se rapidamente realizar um processo no qual o software “escuta” e analisa amostras específicas do piano a ser afinado em seguida propõe precisas curvas de afinação . Numa última atualização do “Tunelab”, estas curvas podem ser ainda alteradas conforme o “feeling” que o afinador quer imprimir, a partir de ênfases em certos intervalos associadas com a utilização de diversos tipos de combinações de parciais. O uso destes dispositivos vem se tornando extremamente comum na Europa e Estados Unidos. Apesar do alto custo para um Afinador de Pianos profissional adquirir um destes dispositivos muito vantajosos. Veja alguns benefícios: Possibilidade de registrar uma única vez o trabalho de medição da curva de todas as vezes que se vai afinar um mesmo piano; das suas cordas é considerada uma qualidade desejada, comumente associada com a idéia de “calor”. Sob este ponto de vista, o instrumento tem na sua “imperfeição” um caráter distintivo que o aproxima da natureza humana e valoriza o seu poder de comunicação O fenômeno da Inarmonicidade é que principalmente impede que a afinação do piano seja outros instrumentos. Se o fizer a afinação será reta e se terá a impressão de que as regiões do teclado não estão es aparelhos eletrônicos para dividir os semitons da em geral se aproximam mais das , e em seguida alargam as oitavas e perfazem os uníssonos de forma Aural de aparelhos especiais que já para imprimir na afinação a curva adequada a cada modelo (p. ex. Os primeiros aparelhos que surgiram para uso profissional (Acctuner, Yamaha PT-100, Verituner etc.) tinham a opção de sugestão de curvas de afinação hipotéticas que poderiam amenizar problemas de inamornicidade sobretudo em pequenos pianos (no que a maioria dos de forma Aural). Só recentemente foram inventadas soluções eletrônicas que tratam da questão da curva de (Tunelab e Reyburn o software “escuta” e analisa afinado em seguida propõe precisas curvas de afinação ”, estas curvas podem ser ainda alteradas a partir de ênfases em certos intervalos, O uso destes dispositivos vem se tornando extremamente comum na Europa e Estados Unidos. dquirir um destes dispositivos Possibilidade de registrar uma única vez o trabalho de medição da curva de inarmonia
  • 4. • Sempre proceder com a mesma “insistência” na afinação conservando o piano e garantindo uma extrema qualidade; • Ter um grande auxílio na ocasião da afinação quando não se tem um ambiente propício (lugares cheios de ruídos e interferências, escolas de música) ou um tempo hábil para a afinação Aural; • Usufruir de diversos recursos como: auxílio na mudança de diapasão, pré-entonação visual, utilização de temperamentos históricos, manutenção de uma “carta” de clientes etc. • Poder ser utilizados nos minúsculos “Laptops” disponíveis no mercado e em outros dispositivos como “Palms” e até em telefones celulares (“Smartphones”). É importante que se diga que esta explanação feita acima sobre os softwares afinadores não significa nenhuma diminuição do trabalho dos técnicos que utilizam a afinação Aural como único recurso. Na verdade saber afinar qualquer piano apenas com o diapasão inicial é um pré requisito para qualquer afinador profissional. Ainda, uma afinação fina (para recital) nunca excluirá a necessidade de correções aurais. Diapasão e Temperamento Os pianos são projetados para um diapasão e um temperamento pré-definidos. Mesmo que se possa alterar minimamente a freqüência de afinação, as tensões desejadas são calculadas através da interação entre esta freqüência, a “escala” de encordatura, as características físicas do tipo de aço das cordas, associadas às dimensões das cordas e cavaletes (ainda com a estrutura interna que irá suportar tal tensão). Alguns pianos, de alta performance, tem uma tensão elevadíssima cujas cordas chegam a ficar a 5% do ponto de rompimento (quebra). (Isto explica porque é comum se perderem cordas, sobretudo nos agudos, de um Steinway moderno). O diapasão calibrado com o lá4(5) em 440hz é uma convenção recente e aceita internacionalmente. Apenas algumas instituições como a Filarmônica de Berlim (lá4 444hz) e algumas orquestras russas (lá4 446hz) mantém diapasões diferentes (vide o trecho inicial “Um Cacoete” do documentário “Nelson Freire” de João Moreira Salles - 2003). Muita confusão foi (é) gerada a respeito deste assunto. Com o desenvolvimento do piano e da natural concorrência industrial, muitas freqüências foram utilizadas. No sec. XIX, num espaço de apenas trinta anos, o diapasão variou de 430 a 450 Hz (lá4). Afinadores de pianos muitas vezes se vêem em dilemas causados na escolha do diapasão. Cantores, pianistas, dirigentes de orquestras e fabricantes de antigos pianos nem sempre exigem a mesma freqüência. Tecnicamente, a decisão pela mudança do diapasão de um piano deve ser norteada pelas seguintes orientações: • Qual é o diapasão existente no momento da afinação. Não se muda o diapasão de um piano impunemente. Quanto maior for o passo, maior será o número de tentativas até se estabilizar a afinação.
  • 5. • Qual é o estado de conservação do Se houver problemas de conservação como, por exemplo, incompetência do cravelhame (afinação cedendo), oxidação das cordas ou períodos muito longos sem afinação (desafinação radical), a tentativa será catastrófica ou em vão. • Para qual diapasão o pia Muitos velhos instrumentos não suportam altas freqüências, e a insistência pode trazer danos ao piano mesmo que a médio ou longo prazo. diapasão inferir ao determinado “esconda” seu potencial. • Qual a real vantagem de se modificar a afinação. Muitas vezes a opção por um diapasão diferente não passa de um “frisson” musical. Este técnico já teve que fazer malabarismos necessário alterar minimamente quatro cordinhas de um violino ou seis de um violão (mesmo se tendo que custear a Afinação Simples). É importante ter como estratégia de conservação manutenções periódicas, seja Temperamento Igual Até agora tratamos da freqüência base (ou da nota inicial) para a afinação. Sobre como serão organizados os 12 semitons da escala resumida a seguinte questão: Historicamente a música ocidental foi convencionando diversos temperamentos diferentes que atendiam as várias maneiras como o ouvido humano interpretava os intervalos musicais. Pode-se dizer que cada temperamento servia época (ou vice versa). Se tomarmos um intervalo de quinta pura e perfe qual, digamos, a quinta é exatamente a me não será possível retornar a nota inicial. Os temperamentos históricos são exatamente as soluções que resolviam este problema de acordo com as aspirações musicais de cada época. Historicamente foram tendendo à solução de ceder as dissonâncias necessárias em Qual é o estado de conservação do piano. Se houver problemas de conservação como, por exemplo, incompetência do cravelhame (afinação cedendo), oxidação das cordas ou períodos muito longos sem afinação (desafinação radical), a tentativa será catastrófica ou em vão. Para qual diapasão o piano foi fabricado. Muitos velhos instrumentos não suportam altas freqüências, e a insistência pode trazer danos ao piano mesmo que a médio ou longo prazo. Por outro lado um diapasão inferir ao determinado pelo fabricante seguramente fará com que o piano “esconda” seu potencial. Qual a real vantagem de se modificar a afinação. Muitas vezes a opção por um diapasão diferente não passa de um “frisson” musical. já teve que fazer malabarismos num curto tempo para que não fosse nimamente quatro cordinhas de um violino ou seis de um violão (mesmo se tendo que custear a modificação – de 439 para 442 Hz - ao invés de uma estratégia de conservação sempre exigir que o piano, em suas periódicas, seja constantemente afinado num diapasão apropriado. Até agora tratamos da freqüência base (ou da nota inicial) para a afinação. Sobre como serão organizados os 12 semitons da escala cromática (temperamento) exponho de manei a seguinte questão: Historicamente a música ocidental foi convencionando diversos temperamentos diferentes que atendiam as várias maneiras como o ouvido humano interpretava os intervalos musicais. se dizer que cada temperamento servia ao tipo de música que era produzida em cada Se tomarmos um intervalo de quinta pura e perfeita (p.e. la4 440hz e mi5 660hz qual, digamos, a quinta é exatamente a metade do caminho para a oitava - no ciclo das quintas será possível retornar a nota inicial. Os temperamentos históricos são exatamente as soluções que resolviam este problema de acordo com as aspirações musicais de cada época. Historicamente foram tendendo à solução as dissonâncias necessárias em cada intervalo para se obter um todo Se houver problemas de conservação como, por exemplo, incompetência do cravelhame (afinação cedendo), oxidação das cordas ou períodos muito longos sem afinação (desafinação radical), a tentativa será catastrófica ou em vão. Muitos velhos instrumentos não suportam altas freqüências, e a insistência pode Por outro lado um pelo fabricante seguramente fará com que o piano Muitas vezes a opção por um diapasão diferente não passa de um “frisson” musical. tempo para que não fosse nimamente quatro cordinhas de um violino ou seis de um violão ao invés de uma exigir que o piano, em suas apropriado. Até agora tratamos da freqüência base (ou da nota inicial) para a afinação. Sobre como serão de maneira bem Historicamente a música ocidental foi convencionando diversos temperamentos diferentes que atendiam as várias maneiras como o ouvido humano interpretava os intervalos musicais. ao tipo de música que era produzida em cada ita (p.e. la4 440hz e mi5 660hz – 3:2) - na no ciclo das quintas Os temperamentos históricos são exatamente as soluções que resolviam este problema de acordo com as aspirações musicais de cada época. Historicamente foram tendendo à solução cada intervalo para se obter um todo homogêneo e
  • 6. assim serem possíveis modulações e transposições com efeitos iguais (como pode ser percebido no título dado por Bach ao “Cravo Bem Temperado”). No Temperamento “Igual” todos os degraus da escala cromática têm uma rigorosa mesma distância um do outro. Para tal as quintas são comprimidas e as quartas alargadas. As terças então se tornam ásperas e vibrantes. Mas como esta “desafinação” é mínima, acaba passando despercebida do ouvido musical que por outro lado pode usar qualquer tonalidade sem preferência e realizar qualquer modulação sem nenhum prejuízo musical. À distância entre dois semitons no Temperamento Igual se convencionou cem unidades (100 centésimos - cents). Com a evolução do piano moderno e com Romantismo e seus cromatismos, o Temperamento Igual se estabeleceu de forma generalizada. A Afinação do Piano As cravelhas do piano são extremamente duras. Cada corda reage diferentemente ao tensionamento ou afrouxamento recebido. No entanto a afinação refere-se a micro ajustes realizados num sistema que é ao mesmo tempo ultra sensível, instável e rude. As ferramentas básicas são a chave de afinar, cunhas e tiras de borracha ou feltro para se emudecer as cordas e o garfo diapasão. A afinação é iniciada na região central onde se escolhe uma oitava para a divisão do temperamento. Em seguida se expande as oitavas daquela seção, perfazendo os uníssonos e enfim expandindo para todo o piano. O que o afinador escuta são Batimentos (diferenças vibracionais tecnicamente evidenciadas). E por comparação vai realizando testes com diversos intervalos até se obter o temperamento desejado. O tempo necessário para esta tarefa (se o piano estiver em boas condições e o ambiente for propício) é de cerca de duas horas. São problemas muito comuns que dificultam (impossibilitam) a qualidade da afinação: • A presença de Falsos Batimentos. Extremamente comuns nos pianos de média ou baixa qualidade, ou com encordoamentos velhos, são oriundos de imperfeição na espessura da corda, gerados por oxidação, erros na fabricação ou por mal acondicionamento da corda no cavalete; • Ambientes com ruídos e interferências sonoras. Sons de outros instrumentos, mesmo que em outras salas, ruídos de animais, água saindo de torneiras, sacolas plásticas, baixas vibrações do trânsito nas ruas, ambientes com muita reverberação (igrejas, alguns teatros vazios etc.); • Piano com problemas de timbres. Cujo som é exageradamente aberto (metálico) ou ao contrário, muito fechado. Normalmente é preciso realizar uma pré-entonação mesmo que rudimentar. • Pianos muito pequenos cuja curva de inarmonia é exageradamente protuberante.
  • 7. • Situações de muita pressão psicológica e fadiga. Tem-se pouco tempo para a tarefa, ou não sem tem clareza das possibilidades do instrumento para certo evento, ou o contratante desconhece totalmente os processos e tem expectativas muito acima das reais etc. • Pianos com mecanismos desregulados ou com reparos pendentes. A afinação é um serviço que finaliza os outros e não o contrário. Existe necessidade de um melhor diálogo entre Técnica e Tecnologia Pianística? O afinador de pianos, em geral, tem sua função profissional pouco definida nas produções musicais. Muitas vezes seu trabalho é encarado como um “serviço técnico” extremamente externo ao processo musical. Muitas vezes este tem que seguir contrariado a orientações extremamente subjetivas e proceder contra sua experiência e intimidade técnica com os pianos. Muitas vezes sua opinião é levada para um patamar de ingenuidade musical - que de fato possa ser verdadeira. Entretanto pode-se estar descartando 30, 40 ou 50 anos de experiência profissional (temos por exemplo um colega altamente competente e experiente que afinou piano para o lendário Horowitz e atendeu por vários anos Guiomar Novaes entre outros grandes pianistas e orquestras). É bem verdade que muitos pianistas sabem aproveitar as atribuições de um afinador de pianos com muita sabedoria. Recentemente atendi um renomado pianista brasileiro. Foram 8 horas de serviço em um Steinway B Hamburgo semi-novo. Ele acompanhou e participou profundamente de parte das correções da regulagem e da entonação. Deu opiniões altamente relevantes e construtivas mostrando sua grande experiência nos pianos de alta performance pelo mundo. Sugeriu modificações, inclusive aquelas que saíam do padrão do fabricante, mas que poderiam ser posteriormente revertidas. Contentou-se quando não podia atender a seu pedido. Eu, em minha vez, o ajudei a posicionar o piano, servi de “dublê” para regulagem da luz, marquei a posição da banqueta e até “assassinei” Mozart para que ele ouvisse o piano. Durante o recital me pediu que permanecesse no teatro e que no intervalo corrigisse alguma nota eventualmente desafinada. Fui imensamente retribuído, junto com todos os presentes, naquela memorável apresentação cujo programa possuía apenas duas Sonatas de Beethoven e as quatro Baladas de Chopin. Perguntas que não sei responder: • Diante do exposto, sobretudo no que se refere ao fenômeno da inamornicidade e curvas de afinação com alteração de até 50 cents no agudo do piano, o que vem a ser o tal “Ouvido Absoluto” ou “Perfeito”, que nunca se atentou para isto? • O piano, que tem uma afinação imperfeita (face a Inarmonicidade e o temperamento igual) e outros instrumentos pré afinados em temperamentos diferentes são afinados e tocam juntos na mesma orquestra. É possível afinar uma orquestra? • Porque tenho a impressão de que a necessidade de uma rigorosíssima afinação acaba sucumbindo diante da profundidade de algum espetáculo musical, sendo o absorvimento prejudicado apenas por relativas discrepâncias?
  • 8. Referências Bibliográficas REBLITZ, Arthur A., Piano Servicing, Tuning & Rebuilding, Vestal, NY: The Vestal Press, 1976. SKUBIC, Michael, “Instruction Manual for Peterson AutoStrobe 490-ST Strobe Tuner”, Alsip, IL, 2002. Disponível na Internet: <www.petersontuners.com/support/pdfmanuals> Goldemberg, Ricardo, “Aspectos Acústicos da Afinação de Pianos” – 2008: Apostila sobre o tema Matthias, Max. “Steinway Service Manual”; Berlim: E. Bochinsky, 1990