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Narrador
   Geralmente, é heterodiegético (surge na
    terceira pessoa e não participa na ação)
   Porem, por vezes, assume o ponto de vista de
    algumas personagens (assumindo a primeira
    pessoa do singular e até do plural)
    homodiegético.
   «São pensamentos confusos que isto diriam
    se pudessem ser postos por ordem, aparados
    de excrescências, nem vale a pena
    perguntar, Em que estás a pensar, Sete-
    Sóis, porque ele responderia, julgando dizer
    a verdade, Em nada, e contudo já pensou
    tudo isto,»
   «Já lá vai pelo mar fora o Padre Bartolomeu
    Lourenço, e nós que iremos fazer agora, sem
    a próxima esperança do céu, pois vamos às
    touradas que é bem bom divertimento»
   Geralmente, o narrador assume uma
    focalização omnisciente

   Tem uma perspetiva transcendente em
    relação às personagens e move-se à vontade
    no tempo, saltando facilmente entre
    passado, presente e futuro.
   "Mas também não faltam lazeres, por isso,
    quando a comichão aperta, Baltasar pousa a
    cabeça no regaço de Blimunda e ela cata-lhe
    os bichos, que não é de espantar terem-nos
    os apaixonados e os construtores de
    aeronaves, se tal palavra já se diz nestas
    épocas, como se vai dizendo armistício em
    vez de pazes. "
Omnisciência do Narrador



          Perspetiva Temporal




Passado         Presente               Futuro


     Conhecimento Global da História
   Outras vezes, o narrador assume a perspetiva
    das personagens que vivem a ação,
    conferindo mais vivacidade e verosimilhança
    à narrativa.
   "Grita o povinho furiosos impropérios aos condenados, guincham as
    mulheres debruçadas dos peitoris, alanzoam os frades, a procissão é
    uma serpente enorme que não cabe direita no Rossio e por isso se vai
    curvando e recurvando como se determinasse chegar a toda a parte ou
    oferecer o espetáculo edificante a toda a cidade, aquele que ali vai é
    Simeão de Oliveira e Sousa, sem mester nem benefício, mas que do
    Santo Ofício declarava ser qualificador, e sendo secular dizia missa,
    confessava e pregava, e ao mesmo, tempo que isto fazia proclamava
    ser herege e judeu, raro se viu confusão assim, (...) por toda a vida, e
    esta sou eu, Sebastiana Maria de Jesus, um quarto de cristã-nova, que
    tenho visões e revelações, mas disseram-me no tribunal que era
    fingimento, que ouço vozes do céu, mas explicaram-me que era
    demoníaco, que sei que posso ser santa como os santos o são, ou ainda
    melhor, pois não alcanço diferença entre mim e eles, mas
    repreenderam-me de que isso é presunção insuportável e orgulho
    monstruoso, desafio a Deus, aqui vou blasfema, herética, temerária,
    amordaçada para que não me ouçam as temeridades, as heresias e as
    blasfémias, condenada a ser açoitada em público e a oito anos de
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Memorial do convento

  • 2. Geralmente, é heterodiegético (surge na terceira pessoa e não participa na ação)  Porem, por vezes, assume o ponto de vista de algumas personagens (assumindo a primeira pessoa do singular e até do plural) homodiegético.
  • 3. «São pensamentos confusos que isto diriam se pudessem ser postos por ordem, aparados de excrescências, nem vale a pena perguntar, Em que estás a pensar, Sete- Sóis, porque ele responderia, julgando dizer a verdade, Em nada, e contudo já pensou tudo isto,»
  • 4. «Já lá vai pelo mar fora o Padre Bartolomeu Lourenço, e nós que iremos fazer agora, sem a próxima esperança do céu, pois vamos às touradas que é bem bom divertimento»
  • 5. Geralmente, o narrador assume uma focalização omnisciente  Tem uma perspetiva transcendente em relação às personagens e move-se à vontade no tempo, saltando facilmente entre passado, presente e futuro.
  • 6. "Mas também não faltam lazeres, por isso, quando a comichão aperta, Baltasar pousa a cabeça no regaço de Blimunda e ela cata-lhe os bichos, que não é de espantar terem-nos os apaixonados e os construtores de aeronaves, se tal palavra já se diz nestas épocas, como se vai dizendo armistício em vez de pazes. "
  • 7. Omnisciência do Narrador Perspetiva Temporal Passado Presente Futuro Conhecimento Global da História
  • 8. Outras vezes, o narrador assume a perspetiva das personagens que vivem a ação, conferindo mais vivacidade e verosimilhança à narrativa.
  • 9. "Grita o povinho furiosos impropérios aos condenados, guincham as mulheres debruçadas dos peitoris, alanzoam os frades, a procissão é uma serpente enorme que não cabe direita no Rossio e por isso se vai curvando e recurvando como se determinasse chegar a toda a parte ou oferecer o espetáculo edificante a toda a cidade, aquele que ali vai é Simeão de Oliveira e Sousa, sem mester nem benefício, mas que do Santo Ofício declarava ser qualificador, e sendo secular dizia missa, confessava e pregava, e ao mesmo, tempo que isto fazia proclamava ser herege e judeu, raro se viu confusão assim, (...) por toda a vida, e esta sou eu, Sebastiana Maria de Jesus, um quarto de cristã-nova, que tenho visões e revelações, mas disseram-me no tribunal que era fingimento, que ouço vozes do céu, mas explicaram-me que era demoníaco, que sei que posso ser santa como os santos o são, ou ainda melhor, pois não alcanço diferença entre mim e eles, mas repreenderam-me de que isso é presunção insuportável e orgulho monstruoso, desafio a Deus, aqui vou blasfema, herética, temerária, amordaçada para que não me ouçam as temeridades, as heresias e as blasfémias, condenada a ser açoitada em público e a oito anos de degredo no reino de Angola (...)