O artigo discute como o amor pode florescer no carnaval, apesar da ideia comum de que é um período sem compromissos. Ele conta a história de um casal que se conheceu durante a folia e agora está casado com uma filha, mostrando como relacionamentos duradouros podem começar no carnaval.
Amores de Carnaval... Quem foi que disse que não existe?
1. Amor de Carnaval... Quem foi que disse que não existe?
http://www.nitportalsocial.com.br/2015/02/nit-portal-social-artigo-amor-de.html
Bonito mesmo é quando a Colombina encontra seu Pierrot. Ou seu Arlequim. Afinal, ela gostava
de um, mas os dois gostavam dela. Pelo menos é o que diz o clássico da comedia dell’arte
italiana. O emocionante do carnaval é quando vingam as histórias de amor depois da folia.
Apesar de o mundo dizer o contrário nessa época do ano. Uma vez romântica, sempre
romântica, fazer o quê?
Convenhamos. A ideia de que “ninguém é de ninguém” já começa um pouquinho antes dos dias
de festa. O clima eufórico está presente nas semanas quentes de verão regadas a caipirinha e
samba alto. É só sobre o hedonismo que escutamos quando os blocos saem e a cachaça, o suor
e a serpentina tomam conta das ruas. É carnaval. Subtexto? “Amor sem compromisso.” Mas é
preciso dizer que, entre o “vem ni mim que eu to facinho” e a ressaca dos confetes, há sempre
um momento em que uma Colombina ou um Pierrot pensa: “Hum… daqui poderia nascer algo a
mais”. Ou não? Existe espaço para um amor no carnaval? Ou relacionamentos duradouros só
começam com as águas de março?
Chico Buarque matou a charada nos versos de Noite dos Mascarados. Ele fala sobre como o
anonimato é promessa de liberdade efêmera: “Mas é carnaval/ Não me diga mais quem é você/
Amanhã tudo volta ao normal/ Deixa a festa acabar/ Deixa o barco correr/ Deixa o dia raiar, que
hoje eu sou/ Da maneira que você me quer/ O que você pedir eu lhe dou/ Seja você quem for/
Seja o que Deus quiser!” Cada um, escondido em seus adereços e fantasias, deixa sair o bufão
que existe dentro de si. No bloco na Vila Madalena, mulheres adultas brincavam de atirar água e
espuma, umas nas outras, como se fossem crianças. Leves e alegres. Será que, como Chico disse,
as pessoas “desatinam” quando a brincadeira acaba e “toda cidade anda esquecida da falsa vida
da avenida”? Não sei. Mas que é bonito quando um amor vinga no carnaval, é. Conheço um
casal muito lindo e querido que se conheceu no meio da folia. Ela dizia “imagina que ele vai me
ligar”; e ele pensou “imagina que ela vai se lembrar de mim”. Aí… que ele ligou. E ela se
lembrou. E, este ano, eles levaram a Isabela, de 6 meses de idade, a seu primeiro bloco de
carnaval.
As batidas do bloco de samba ou batuque de axé viraram uma macia bossa-nova. As fantasias
estão no porta-retrato na sala de estar. A bebedeira e a intensidade daquele carnaval deram
espaço para a calmaria. Os dois mascarados viraram namorados. E a história, mesmo sem Chico
Buarque, é bonita de contar.
Marilia Neustein